mercado de créditos de carbono - Revista O Papel
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Segundo Nassar, um mecanismo<br />
<strong>de</strong> <strong>mercado</strong> permitiria aos produtores<br />
atuar <strong>de</strong> duas formas: alugando áreas<br />
com vegetação nativa em proprieda<strong>de</strong>s<br />
privadas em montante superior à<br />
reserva legal individual e investindo<br />
em restauro florestal em outras proprieda<strong>de</strong>s<br />
rurais. “Assim, produtores<br />
com excesso <strong>de</strong> reserva legal e com<br />
áreas não utilizadas para produção<br />
ou com baixa produtivida<strong>de</strong> seriam<br />
os ofertantes, e os produtores com<br />
'passivo ambiental' ou interessados<br />
em abrir suas áreas além do teto individual<br />
seriam os compradores <strong>de</strong><br />
reserva legal”, explica.<br />
A obrigação individual com as áreas<br />
<strong>de</strong> preservação permanente continuaria<br />
existindo. O custo <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> manter a vegetação nativa é elevado,<br />
diz Nassar, seja porque o produtor está<br />
<strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> produzir, seja porque o<br />
custo do restauro por hectare é muito<br />
maior do que a rentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> qualquer<br />
produto agropecuário. Assim,<br />
o surgimento do <strong>mercado</strong> <strong>de</strong> reserva<br />
legal pressupõe uma diluição <strong>de</strong> custos,<br />
enquanto se mantém para o produtor a<br />
obrigação da conservação.”<br />
A criação <strong>de</strong>sse <strong>mercado</strong> teria<br />
diversas vantagens sobre o sistema<br />
atual. “A mais importante é que, se<br />
construído sem distorções políticas,<br />
promoveria uma alocação mais eficiente<br />
no uso da terra. Áreas apropriadas<br />
para produção agropecuária<br />
seriam usadas para este fim, e áreas<br />
menos apropriadas seriam as candidatas<br />
aos projetos <strong>de</strong> restauro florestal”,<br />
pontua Nassar.<br />
Outra vantagem: a diminuição das<br />
restrições atuais associadas à compensação<br />
e à servidão florestal seria acompanhada<br />
por um massivo programa <strong>de</strong><br />
restauro florestal, que, sem dúvida,<br />
traria vários benefícios ambientais<br />
e <strong>de</strong> biodiversida<strong>de</strong> aos fragmentos<br />
<strong>de</strong> vegetação nativa existentes. Por<br />
fim, um <strong>mercado</strong> para reserva legal<br />
estimularia os produtores rurais a, em<br />
vez <strong>de</strong> manterem-se na <strong>de</strong>fensiva, se<br />
engajarem nos temas ambientais.<br />
Para Flavio Gazani, presi<strong>de</strong>nte da<br />
Associação das Empresas do Mercado<br />
<strong>de</strong> Carbono (Abemc), a solução<br />
é atrelar capital privado ao fomento<br />
<strong>de</strong> uma economia florestal, integrando<br />
as comunida<strong>de</strong>s locais. A i<strong>de</strong>ia<br />
foi <strong>de</strong>fendida por Gazani no Fórum<br />
Internacional <strong>de</strong> Sustentabilida<strong>de</strong>,<br />
realizado no último mês <strong>de</strong> março em<br />
Manaus (AM), com a presença <strong>de</strong> Al<br />
Gore, ex-vice-presi<strong>de</strong>nte dos Estados<br />
Unidos; Thomas Lovejoy, especialista<br />
em biodiversida<strong>de</strong>, e James Cameron,<br />
diretor <strong>de</strong> cinema, entre outros.<br />
Isso porque o <strong>de</strong>smatamento<br />
representa, hoje, cerca <strong>de</strong> 20% das<br />
emissões <strong>de</strong> gases poluentes causadores<br />
do aquecimento global. Nesse contexto,<br />
mecanismos financeiros como<br />
a Redução <strong>de</strong> Emissões por Desmatamento<br />
e Degradação (REDD+) teriam<br />
o potencial <strong>de</strong> reduzir as emissões <strong>de</strong><br />
países em <strong>de</strong>senvolvimento, como<br />
o Brasil, em até 39%. “O Manejo<br />
Florestal Sustentável, como meio <strong>de</strong><br />
conservação, é o mais viável para<br />
preservar a floresta e conter o <strong>de</strong>smatamento,<br />
pois traz uma ativida<strong>de</strong><br />
econômica que gera empregos e renda<br />
para a comunida<strong>de</strong> local.”<br />
A pura conservação f lorestal,<br />
mesmo que subsidiada pelos governos,<br />
não é sustentável. A real sustentabilida<strong>de</strong><br />
atenta para três pilares: ambiental,<br />
social e econômico. Para que haja<br />
investimentos suficientes para preservarmos<br />
as florestas remanescentes<br />
no mundo, precisamos fazer com que<br />
a ‘floresta em pé’ seja um negócio<br />
lucrativo”, alertou Gazani.<br />
A presença <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> manejo<br />
sustentável no Brasil ainda é tímida,<br />
mas mecanismos como o REDD+,<br />
atrelados ao capital privado, po<strong>de</strong>rão<br />
multiplicar o número <strong>de</strong> projetos,<br />
fomentando a ativida<strong>de</strong> econômica<br />
das comunida<strong>de</strong>s locais, capacitando<br />
mão <strong>de</strong> obra e preservando florestas<br />
<strong>de</strong> forma contínua. “Apesar <strong>de</strong> novo<br />
e sem regulamentação ainda estruturada,<br />
o mecanismo <strong>de</strong> REDD+ já está<br />
se estabelecendo no Brasil. Como o<br />
Divulgação/CTA<br />
Para Amyra, seqüestro <strong>de</strong> <strong>carbono</strong><br />
precisa ser entendido como<br />
processo, não como commodity<br />
maior <strong>de</strong>tentor das florestas tropicais<br />
remanescentes e com um favorável<br />
clima <strong>de</strong> investimentos, o País <strong>de</strong>ve<br />
assumir papel <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança no sentido<br />
<strong>de</strong> incentivar tal mecanismo, incorporando<br />
o capital privado”, acredita<br />
o presi<strong>de</strong>nte da Abemc.<br />
Commodity x processo<br />
Nem tudo, porém, é <strong>mercado</strong> no<br />
controle da emissão <strong>de</strong> gases do efeito<br />
estufa. É o que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a economista<br />
Amyra El Khalili, presi<strong>de</strong>nte da organização<br />
não governamental Consultant,<br />
Tra<strong>de</strong>r and Adviser (CTA), que<br />
questiona o uso do termo “commodity<br />
ambiental” para o crédito <strong>de</strong> <strong>carbono</strong>.<br />
“Commodity é <strong>mercado</strong>ria, e o <strong>carbono</strong><br />
não po<strong>de</strong> ser encarado <strong>de</strong>ssa forma,<br />
porque as suas emissões têm <strong>de</strong> ser<br />
reduzidas. Se fosse uma commodity, o<br />
<strong>carbono</strong> teria <strong>de</strong> visar ao lucro, e, para<br />
tanto, sua emissão <strong>de</strong>veria ser incentivada.<br />
Quanto mais toneladas <strong>de</strong> <strong>carbono</strong><br />
fossem emitidas, maior seria o seu preço<br />
<strong>de</strong> <strong>mercado</strong>”, explica.<br />
Por isso, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que o sequestro<br />
<strong>de</strong> <strong>carbono</strong> precisa ser entendido como<br />
processo, e não commodity. “Só vamos<br />
conseguir fazer uma commodity ambiental<br />
quando resolvermos o problema<br />
O PAPEL - Abril Julho 2006 2010<br />
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