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R$ 5,90 - Roteiro Brasília

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Ano IX • nº 187<br />

Dezembro de 2010<br />

<strong>R$</strong> 5,<strong>90</strong>


em poucas palavras<br />

Quanto mais percorremos os deliciosos caminhos da<br />

gastronomia brasiliense, mais nos encantamos com a diversidade<br />

de boas opções que nossa cidade nos apresenta, principalmente<br />

de uns dez anos para cá. Até para nós, que estamos<br />

sempre em contato com as novidades divulgadas na revista,<br />

fica difícil escolher uma entre tantas opções de casas que<br />

surgem e outras que se reinventam ao longo do tempo.<br />

Como paulistana que sou, cresci ouvindo maravilhas<br />

sobre a gastronomia de excelência do restaurante Fasano.<br />

Não tinha, na época, condições de frequentar o sofisticado<br />

endereço da Rua Vieira de Carvalho, bem no centro da<br />

capital paulista, mas sonhava um dia conhecê-lo. Em meados<br />

dos anos <strong>90</strong>, quando o Fasano abriu o Gero, um bistrô com<br />

preços mais acessíveis, pude finalmente conferir a gastronomia<br />

do grupo e, como era de se esperar, me encantar com<br />

a delicadeza e o sabor inconfundível da culinária praticada ali.<br />

Pois agora o Gero chega à cidade que escolhi para morar,<br />

com seu batalhão de mais de uma centena de pessoas, e se<br />

instala no shopping Iguatemi. Foi com muita alegria, claro,<br />

que estivemos no almoço oferecido à imprensa e pudemos,<br />

a seguir, fazer uma entrevista exclusiva com ninguém menos<br />

que Rogério Fasano, o executivo do grupo. Ele é neto de Ruggero<br />

Fasano, o italiano que em 1<strong>90</strong>2 abriu sua Brasserie Paulista<br />

e deu início a mais de um século de tradição em matéria<br />

de boa gastronomia. Leia o relato de Adriano Lopes de Oliveira<br />

e a entrevista com Rogério a partir da página 4.<br />

Voltando ao encantamento citado no início, registro três<br />

outros temas da seção Água na Boca, todos a comprovar o<br />

crescimento da nossa gastronomia: a volta do Cafeicultura,<br />

agora rebatizado de Café 33 (página 8 ), a última novidade<br />

do chef Arri Coser, do Fogo de Chão, que anuncia um novo<br />

e delicioso corte de carne (página 11) e a comida caseira e<br />

barata da Confraria do Chico Mineiro, recomendada por<br />

sugerida nosso assinante Luiz Freire (página 10).<br />

Finalmente, recomendo a leitura da matéria “Só sei<br />

bordar”, de Lúcia Leão, que conta a história de Dona<br />

Antonia Dumont, chef de um clã de bordadeiras talentosas<br />

que tem até uma versão do mural Guerra e paz, de Portinari,<br />

que ficará exposto no Rio de Janeiro a partir do dia 20<br />

e poderá ser visto por aqui em 2011 (página 24).<br />

Boa leitura.<br />

Maria Teresa Fernandes<br />

Editora<br />

28<br />

luzcâmeraação<br />

O filme infantil Uma árvore mágica será exibido dia<br />

12 no Festival de Cinema Polonês, no Cine Brasília<br />

4<br />

12<br />

14<br />

16<br />

20<br />

24<br />

26<br />

águanaboca<br />

picadinho<br />

garfadas&goles<br />

pão&vinho<br />

diaenoite<br />

artepopular<br />

graves&agudos<br />

Divulgação<br />

2<br />

ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora <strong>Roteiro</strong> Ltda | SHS, Ed. Brasil 21, Bloco E, Sala 1208 – CEP 70322-915 – Tel: 3964.0207<br />

Fax: 3964.0207 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Redação roteirobrasilia@alo.com.br | Editora Maria Teresa Fernandes | Capa Carlos<br />

Roberto Ferreira, foto de Rodrigo Oliveira| Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Reportagem Akemi Nitahara, Alexandre Marino, Alexandre dos<br />

Santos Franco, Ana Cristina Vilela, Beth Almeida, Bruno Henrique Peres, Eduardo Oliveira, Guilherme Guedes, Heitor Menezes, Lúcia Leão, Luiz<br />

Recena, Quentin Geenen de Saint Maur, Reynaldo Domingos Ferreira, Sérgio Moriconi, Silio Boccanera, Súsan Faria e Vicente Sá | Fotografia Eduardo<br />

Oliveira, Rodrigo Oliveira e Sérgio Amaral | Para anunciar Ivone Carmargo (3349.5061 / 9666.7755) e Ronaldo Cerqueira (8217.8474) | Assinaturas<br />

(3964.0207) | Impressão Gráfica Charbel | Tiragem 10.000 exemplares.<br />

www.roteirobrasilia.com.br


água na boca<br />

Marri Nogueira<br />

Para poucos<br />

Com<br />

a chegada do Gero,<br />

Brasília ingressa de vez no<br />

mundo da alta gastronomia<br />

por adriano lopes de oliveira<br />

Eis que, para surpresa geral, lá vem<br />

ele, ralador na mão, a despejar fatias<br />

extras de trufas brancas sobre<br />

os pratos dos comensais. Surpresa plenamente<br />

justificada, claro, por tratar-se de<br />

ninguém menos que o empresário Rogério<br />

Fasano, comandante do império hoteleiro/gastronômico<br />

da família Fasano e,<br />

segundo a revista Época, um dos cem brasileiros<br />

mais influentes.<br />

A cena se passou durante a apresentação<br />

à imprensa brasiliense do mais novo<br />

empreendimento do grupo Fasano: o restaurante<br />

Gero do shopping Iguatemi, no<br />

Lago Norte. Nos dias seguintes, Rogério<br />

pôde ser visto recebendo amigos, empresários,<br />

políticos e donos de restaurantes da<br />

capital, dando palpites na decoração da casa<br />

e passando instruções a seu batalhão de<br />

uma centena de profissionais, quase todos<br />

vindos de São Paulo (apenas 20% foram<br />

recrutados aqui, e para funções auxiliares).<br />

Esse extremo cuidado com cada detalhe<br />

ajuda a explicar o sucesso dos empreendimentos<br />

do grupo Fasano: três hotéis<br />

cinco estrelas (em São Paulo, Rio e Punta<br />

del Este), oito restaurantes igualmente estrelados,<br />

dois bares, um café, um bufê e<br />

quatro lojas de vinhos. Vir para Brasília<br />

foi inevitável, segundo Rogério: há muito<br />

tempo ele era pressionado por amigos<br />

brasilienses que frequentam seus restaurantes<br />

em São Paulo e no Rio, entre eles o<br />

tricampeão mundial de Fórmula 1 Nélson<br />

Piquet. Quando surgiu o convite do<br />

Iguatemi, não houve como recusar.<br />

Ocupando uma área de mais de 500<br />

m 2 no térreo do shopping, o Gero desembarca<br />

em Brasília com a proposta de servir<br />

“uma cozinha italiana clássica, de qualidade,<br />

feita com técnicas modernas, sem<br />

abrir muito o leque”, como define Rogério<br />

Fasano em entrevista exclusiva à <strong>Roteiro</strong><br />

(leia nas páginas seguintes). Fundado<br />

em 1995, na rua Haddock Lobo, em São<br />

Paulo, o Gero é, na verdade, uma versão<br />

simplificada e mais informal do mítico<br />

restaurante Fasano, mas com preços menos<br />

salgados.<br />

A filial brasiliense chega com nove<br />

anos de atraso em relação à carioca, que<br />

funciona desde 2001 em Ipanema. O projeto<br />

de decoração, do arquiteto Aurélio<br />

Martinez Flores, tem como marca principal<br />

a utilização de tijolinhos de demolição,<br />

que revestem praticamente todo o interior<br />

do restaurante, assim como em São Paulo e<br />

no Rio. O diferencial é um grande painel,<br />

localizado na parede bem à entrada do restaurante,<br />

com imagens de Brasília captadas<br />

pelo fotógrafo francês Marcel Gautherot.<br />

A culinária do italiano Salvatore Loi,<br />

chef executivo dos restaurantes da grife<br />

Fasano (eleito o melhor do ano pela revista<br />

Veja em 2001 e 2004 e pela revista Gula<br />

em 2002), caracteriza-se pelo uso de ingredientes<br />

e pratos clássicos da cozinha<br />

italiana, como risotos, massas, carnes e<br />

peixes. Salvatore vai ficar apenas três semanas<br />

em Brasília. A partir da segunda<br />

3


quinzena de dezembro, a cozinha do Gero<br />

– onde são produzidas todas as massas,<br />

pães, sobremesas e petit fours servidos aos<br />

clientes – ficará sob o comando do chef<br />

paranaense Alessandro Oliveira, que veio<br />

do Parigi, outro restaurante do grupo Fasano<br />

em São Paulo.<br />

Obviamente, o Gero não é para todos<br />

os bolsos. Mas os preços do cardápio não<br />

diferem muito dos praticados em outros<br />

restaurantes da cidade focados no nicho<br />

de consumidores de maior poder aquisitivo.<br />

Os 14 antepastos custam entre <strong>R$</strong> 32<br />

(carpaccio de filé mignon com molho de<br />

mostarda) e <strong>R$</strong> 53 (salada mista com lula,<br />

camarão e lagostim ao vapor). Das 11 opções<br />

de massas frescas, a mais barata sai<br />

por <strong>R$</strong> 49 (raviolini de mussarela ao pomodoro<br />

fresco) e a mais cara por <strong>R$</strong> 64<br />

(agnolotti recheado com alcachofra, pomodoro<br />

fresco e lagostim). Os risotos custam<br />

entre <strong>R$</strong> 66 e <strong>R$</strong> 82, e o prato mais<br />

caro do cardápio não chega aos três dígitos:<br />

haddock defumado ao molho de limão<br />

com purê de batata (<strong>R$</strong> 99).<br />

Mais difícil é encontrar algum vinho<br />

com preço de dois dígitos. Ainda assim, localizamos<br />

cinco, dos quais o mais barato é<br />

o toscano Chianti Parri 2007 (<strong>R$</strong> 80). Dos<br />

141 rótulos da carta de vinhos assinada pelo<br />

sommelier Manoel Beato, por muitos<br />

considerado o melhor do Brasil, a maior<br />

parte situa-se na faixa dos três dígitos e apenas<br />

onze chegam aos quatro, começando<br />

pelo champanhe Dom Perignon 2000<br />

(<strong>R$</strong> 1.150) e fechando com o Château<br />

Margot 1999 (<strong>R$</strong> 3.550). Entre os vinhos<br />

vendidos em taças, os preços oscilam de<br />

<strong>R$</strong> 25 (o chileno Chardonay Reserva Tres<br />

Palacios, da Maipo) a <strong>R$</strong> 85 (o champanhe<br />

Moet & Chandon Rosé). É possível<br />

também degustar a meia garrafa do Château<br />

D’Yquem 1997 por <strong>R$</strong> 1.295.<br />

Gero<br />

Shopping Iguatemi Brasília, térreo (3577.5220)<br />

Almoço: diariamente a partir das 12h;<br />

jantar: de domingo a quarta, das 19 às 24h:<br />

de 5ª a sábado, das 19 à 1h. Capacidade de<br />

atendimento: 100 pessoas.<br />

“Sou italiano demais para<br />

tomar sorvete de bacon”<br />

Entrevista a Maria Teresa Fernandes e Adriano Lopes de Oliveira<br />

O que trouxe o Grupo Fasano a Brasília<br />

Sempre nos pediram para fazer algo aqui.<br />

Alguns brasilienses que são nossos clientes<br />

em São Paulo viviam sugerindo que<br />

viéssemos para cá. Entre eles o Nélson<br />

Piquet, que é meu amigo. “Vamos lá”,<br />

ele dizia. Mas, como começamos a construir<br />

hotéis, ficamos muito atarefados.<br />

Desde a inauguração do hotel do Rio<br />

nós demos uma parada e decidimos não<br />

abrir mais nada. De um ano para cá, entretanto,<br />

resolvemos voltar a crescer. A<br />

gente já tinha Brasília em nossos planos,<br />

e aí veio o convite irrecusável do Iguatemi.<br />

Foi um passo natural: primeiro São<br />

Paulo, depois o Rio e agora Brasília.<br />

Vocês fizeram pesquisa de mercado,<br />

antes de tomar essa decisão<br />

Nunca fizemos pesquisa.<br />

Foi pura intuição, então<br />

Neste caso, não foi só nossa<br />

intuição, porque tem muito<br />

da intuição do Iguatemi<br />

também. Se o Iguatemi<br />

acreditou no investimento,<br />

vamos lá também.<br />

Você tem algum<br />

conhecimento da<br />

gastronomia brasiliense<br />

Fui várias vezes ao<br />

Piantella, ao Original<br />

Shundi, e estive<br />

nos restaurantes da<br />

chef Mara Alcamim<br />

e na Trattoria da Rosário.<br />

Me levaram<br />

também para conhecer<br />

um que só abre no final de semana<br />

(refere-se ao Aquavit, do chef Simon<br />

Lau).<br />

Qual é a sua opinião sobre o que você<br />

experimentou aqui<br />

Eu tive bons momentos, mas foram momentos,<br />

eu não poderia falar desse ou daquele<br />

chef ou restaurante. O que eu sinto<br />

é que Brasília está com a tendência de fazer<br />

cozinha autoral. Já nossa linha é uma<br />

cozinha clássica feita com técnicas modernas.<br />

Essa é a nossa visão de modernidade.<br />

Uma cozinha leve, mas uma cozinha italiana.<br />

Eu costumo dizer que a gastronomia<br />

tem fronteiras: acabou Portugal, começa<br />

a Espanha; acabou a Espanha, começa<br />

a França; acabou a<br />

França, começa a Itália;<br />

acabou a Itália, começa a<br />

Grécia. Nós não temos<br />

essa tendência à cozinha<br />

de fusão. Somos mui-<br />

Maria Teresa Fernandes<br />

4


água na boca<br />

Filetto di manzo alla<br />

Rossini, com trufa preta<br />

e fígado de ganso (<strong>R$</strong> 91)<br />

tos específicos. Vamos atacar o mercado<br />

de Brasília com uma cozinha italiana de<br />

qualidade, com uma linha muito fixa.<br />

Nós não abrimos muito o leque. Hoje,<br />

em São Paulo, por exemplo, não me lembro<br />

de haver mais um restaurante de cozinha<br />

internacional. Há fusion cuisine, cozinha<br />

autoral, mas você não vê aquela cozinha<br />

muito comum nos anos 70, 80, a<br />

chamada cozinha internacional.<br />

Nessa visão de modernidade, onde você<br />

situaria as cozinhas ditas experimentais<br />

Eu tive uma péssima experiência com a<br />

cozinha molecular. Foi uma experiência<br />

estranhíssima. A cada prato que chegava à<br />

mesa, eu recebia junto um I Pod. Eu tinha<br />

que saborear o prato ouvindo aquela música.<br />

Aí eu já acho que a coisa começa a<br />

tomar uma proporção um pouco exagerada.<br />

Eu sou italiano demais para tomar um<br />

sorvete de bacon. Eu não encaro. Costumo<br />

até brincar que a nossa cozinha ainda<br />

tem fogão.<br />

Não seria tradicionalismo de sua parte<br />

Não é uma questão de ser tradicionalista.<br />

Mas você não precisa brincar com uma<br />

cozinha italiana, por exemplo, que é tão<br />

rica, tão vasta, tão regional. Em cada região<br />

da Itália você pode fazer um livro de<br />

gastronomia com mil páginas. No fundo,<br />

tem muita cozinha dita autoral, mas as<br />

pessoas bebem de outras fontes. Fica uma<br />

coisa tipo: eu também sou Ferran Adriá<br />

(refere-se ao chef catalão que pratica a cozinha<br />

molecular no mítico restaurante El<br />

Bulli). O cara é um gênio, sem dúvida,<br />

mas o “eu também sou” costuma me incomodar<br />

um pouco.<br />

Quais seriam, então, suas admirações<br />

na gastronomia internacional<br />

Gostava muito do Claude Terrail, dono<br />

do tradicional Tour D´Argent, de Paris,<br />

não apenas pela comida, mas por vê-lo<br />

sempre, mesmo em seus últimos anos de<br />

vida, caminhando entre as mesas, perguntando<br />

a cada cliente se havia comido bem.<br />

Aqui temos o nosso Salvatore, o Lorenzo,<br />

o Bruno Frederico. Também gosto muito<br />

dos restaurantes de peixe da Itália. Peixe<br />

de água fria é outra coisa. Na França eu<br />

não conheço muito.<br />

Gosta da cozinha espanhola tradicional<br />

Eu gosto muito, embora ache que eles<br />

põem muito alho e muita cebola em sua<br />

culinária. Nós usamos esses ingredientes<br />

com muita parcimônia. Há uma tendência<br />

de trattorias e cantinas usarem alho em<br />

excesso. Na Itália se usa o alho inteiro e<br />

Rodrigo Oliveira<br />

depois se retira. O excesso do alho e da cebola<br />

é muito indigesto.<br />

E no Brasil, quais são suas admirações<br />

Na culinária japonesa tem o restaurante<br />

paulista Jun Sakamoto, que eu adoro.<br />

Gosto do Antiquarius (Rio e São Paulo) e<br />

também dessa linha da cozinha criativa do<br />

Salvatore Loi, nosso chef executivo.<br />

Qual a diferença da culinária entre os<br />

restaurantes do grupo<br />

Quando o Gero nasceu, em frente ao Fasano<br />

(na rua Hadock Lobo, em São Paulo),<br />

tinha só massa. Depois introduzimos<br />

os risotos. Quando abrimos o Gero do<br />

Rio, ele avançou um pouquinho e trouxe<br />

os pratos do Parigi (outro restaurante paulistano<br />

do grupo, localizado no Itaim Bibi).<br />

Em Brasília vamos ter alguns pratos<br />

do Fasano. Sempre com esse jeito de ser<br />

muito elegante, porém descontraído, do<br />

Gero.<br />

O Gero de Brasília tem mais afinidade<br />

com o do Rio ou com o de São Paulo<br />

São todos irmãos. Não acho que tenha<br />

graça ficar repetindo. Se você pegar os três<br />

menus, nenhum deles vai ser igual. Vai<br />

ser 60% igual e 40% em que a gente fez<br />

um diferencial.<br />

Qual é sua opinião sobre essa tendência<br />

de experimentação com ingredientes regionais<br />

da Amazônia e do Cerrado, por<br />

exemplo<br />

É uma cozinha criativa, autoral, que ja-<br />

O chef italiano Salvatore Loi: cozinha criativa<br />

Marri Nogueira<br />

5


água na boca<br />

Charme e simpatia<br />

Café 33 reproduz atmosfera alegre e acolhedora do Cafeicultura<br />

texto e fotos Akemi Nitahara<br />

A<br />

coluna decorada chama a atenção<br />

de quem passa pela 402/403 Sul.<br />

Muitas cores e figuras em painéis<br />

que complementam a charmosa fachada<br />

do Café 33. No lado de dentro, a meia luz<br />

e os painéis no teto, com desenhos de talheres<br />

retorcidos vindos diretamente do<br />

mundo de Escher, completam o ambiente<br />

acolhedor.<br />

O projeto arquitetônico é obra dos<br />

artistas plásticos Paulino Aversa e Andréa<br />

Couto, responsáveis também pela<br />

decoração do Dona Lenha, do antigo<br />

Gate’s Pub e do extinto Cafeicultura,<br />

dos mesmos donos do Café 33, Rafael e<br />

Sílvia Badra, que funcionou entre 1996<br />

e 2002 na 403 Sul.<br />

A inspiração, Paulino conta que veio<br />

de Athos Bulcão, Artur Bispo do Rosário,<br />

Roy Lichtenstein e pintura rupestre: “Misturei<br />

uma série de imagens ícones. A coluna<br />

é uma síntese da modernidade, com<br />

uma série de imagens famosas que quase<br />

todo mundo já viu. É alegre e moderna,<br />

sem ser high tech”.<br />

Mais do que um café convencional, a<br />

proposta do 33 é ser um “café bistrô”, segundo<br />

os propreitários. “A ideia é ser um<br />

lugar onde você pode ir a qualquer hora<br />

do dia. Quem quiser pode esticar o almoço<br />

até mais tarde, quando já começam a<br />

chegar as senhoras para o chá da tarde”,<br />

explica Sílvia Badra.<br />

Aberto do meio-dia à meia-noite (exceto<br />

às segundas-feiras), o Café 33 serve no<br />

almoço pratos executivos que o cliente pode<br />

montar a seu gosto. O preço do grelhado<br />

varia de <strong>R$</strong> 15,<strong>90</strong> a coxa de frango a<br />

<strong>R$</strong> 20,<strong>90</strong> o filé mignon, mais um molho,<br />

dois acompanhamentos e bufê de salada<br />

à vontade. “Queremos oferecer ao pessoal<br />

que trabalha nas redondezas, como no<br />

Setor de Autarquias e Setor Bancário Sul,<br />

um almoço mais elaborado”, diz Silvia.<br />

Fora essa opção, disponível apenas<br />

nos dias úteis, o cardápio montado pelo<br />

casal Badra e executado pelo chef venezuelano<br />

Miguel Ojeda conta com pratos<br />

quentes, saladas, sanduíches de pão árabe,<br />

de forma ou ciabata no forno à lenha,<br />

bruschetas e pizzas quadradas. Para completar,<br />

três dicas do chef por semana, fora<br />

do cardápio.<br />

Na cafeteria, drinks quentes e frios<br />

com café, chocolates e chás. Sem esquecer<br />

o bom e velho espresso. O café escolhido é<br />

o Cristina, já conhecido do público brasiliense<br />

apreciador do grão. O chá completo,<br />

com torradas, geleia, pão de queijo, torta<br />

e uma bebida quente, sai por <strong>R$</strong> 19,<strong>90</strong>.<br />

Sanduíche de forno: pão ciabata, salame hamburguês,<br />

creme de parmesão, tomate e orégano (<strong>R$</strong> 18,70)<br />

Café 33<br />

402 Sul – Bloco C (3226.0333)<br />

De 3ª feira a domingo, das 12 às 24h<br />

7


água na boca<br />

Saborosa,<br />

leve e<br />

barata<br />

Na 104 Norte, uma comidinha<br />

caseira que não pesa nem no<br />

estômago nem no bolso<br />

Por Vicente Sá<br />

Fotos Rodrigo Oliveira<br />

No Brasil Colônia, as confrarias,<br />

associações que se reuniam para<br />

promover o culto a um santo,<br />

ajudaram muito na difusão tanto da religião<br />

católica quanto, depois, com os negros,<br />

do sincretismo religioso. A Confraria<br />

do Chico Mineiro nunca se propôs a<br />

tanto, mas no seu primeiro ano de vida<br />

tem feito muitos fiéis e ajudado bastante<br />

no sincretismo gastronômico de Brasília.<br />

As sócias Carol e Meg: pelo prazer de cozinhar<br />

Ela nasceu numa arejada esquina da 104<br />

Norte com a proposta do casal Meg Suda<br />

e Geraldo Araújo de servir aos amigos<br />

uma comida simples e gostosa como a feita<br />

em casa, mas sem o trabalho de pilotar<br />

o fogão e lavar pratos.<br />

A administração ficou por conta de<br />

Geraldo, mineiro de tudo e amigo de todos,<br />

que se encarrega de deixar os clientes<br />

à vontade, apreciando uma pinguinha de<br />

alambique ou uma cerveja bem gelada. E<br />

a cozinha ficou sob a batuta de Meg, uma<br />

descendente de japoneses nascida no Paraná,<br />

com mãos de fada e muito respeito pelas<br />

comidas regionais do Brasil. À dupla<br />

veio se juntar Carol Abe-Sáber, mineirinha<br />

de Lavras com vários cursos de culinária e<br />

passagem por escolas argentinas. Estava<br />

formado o trio que iria modificar a relação<br />

entre boa comida e custos na Asa Norte.<br />

De longe, parece um restaurante comum,<br />

mas de perto os diferenciais são<br />

muitos. Para começar, o cardápio é semanal<br />

e enviado aos clientes mais chegados<br />

por e-mail ainda no final de semana. São<br />

preparados dois pratos executivos por dia,<br />

um de carne vermelha e outro de peixe ou<br />

carne branca, todos precedidos de uma<br />

entrada que varia entre salada, quiche e<br />

bruschetta. O preço é sempre o mesmo:<br />

apenas <strong>R$</strong> 14. As deliciosas sobremesas,<br />

como o manjar branco com calda de ameixa<br />

e o pudim de leite condensado, não estão<br />

incluídas, mas custam em média <strong>R$</strong> 4.<br />

“É uma comida leve, saborosa demais<br />

e que não pesa nem no estômago nem no<br />

bolso”, garante Luiz Freire, funcionário<br />

aposentado do Banco Central que não<br />

deixa de ir com a família à Confraria pelo<br />

menos duas vezes por semana. Para Meg,<br />

o segredo está na qualidade dos produtos:<br />

“Eu me recuso a usar genérico. Aqui o filé<br />

é filé mesmo, o feijão é mineiro e o óleo é<br />

de girassol”, garante.<br />

A sócia Carol atribui ao prazer de cozinhar<br />

que as duas têm uma boa parte do sucesso<br />

do restaurante. “Nós adoramos meter<br />

a mão na massa e fazer nós mesmas as comidas.<br />

Depois, saímos para conversar com<br />

os clientes, ver e ouvir o resultado de nosso<br />

trabalho”, completa. Geraldo também é responsável<br />

por essa pesquisa que tem ajudado<br />

a indicar os rumos do cardápio.<br />

A feijoada é outro atrativo da Confraria<br />

do Chico Mineiro. Mesmo quem ainda<br />

não comeu já ouviu falar, como o casal<br />

Viriato e Eliane Caram, frequentadores<br />

contumazes que ainda não puderam vir<br />

9


Divulgação<br />

aos sábados para provar, mas garantem<br />

que, se mantiver a mesma linha do almoço<br />

executivo, com certeza é uma delícia.<br />

“Nós não aguentamos mais comer em<br />

self service, por isso estamos adorando a<br />

comida da Confraria, que é suave, feita<br />

com cuidado e carinho. Lembra a comida<br />

feita em casa”, afirma Viriato.<br />

Outro ponto que tem fidelizado os<br />

clientes é a presteza das chefs: se telefonar<br />

com um dia de antecedência, o cliente<br />

pode, dependendo da facilidade de<br />

aquisição dos ingredientes, sugerir ou<br />

encomendar um determinado prato para<br />

o dia seguinte. “Nós recebemos muitas<br />

ligações e e-mails de clientes que pedem<br />

yakisoba, bacalhau espiritual ou<br />

mesmo panqueca, e nós, sempre que<br />

possível, atendemos”, afirma Meg.<br />

Os donos do restaurante acreditam<br />

que, graças à intensa divulgação boca a boca<br />

que vem sendo feita pelos clientes, terão<br />

muitos pedidos de bufês neste final de<br />

ano. E apostam que, sendo uma “confraria”<br />

que atende tão bem aos pedidos de<br />

um dia para o outro, uma encomenda<br />

antecipada será sucesso de paladar e de<br />

preço, com toda certeza.<br />

Confraria do Chico Mineiro<br />

104 Norte - Bloco D (3963.1956)<br />

De 3ª a sábado, das 12 às 24h; domingo,<br />

das 13 às 21h.<br />

Luiz Freire e a filha Marina: duas vezes por semana<br />

Novo corte na Fogo de Chão<br />

Por Beth Almeida<br />

Até há bem pouco tempo, falar em<br />

churrasco de cortes bovinos dianteiros<br />

era praticamente uma heresia.<br />

Com exceção do cupim, que exige précozimento<br />

antes de ir à brasa, os cortes recomendados<br />

eram traseiros, como a picanha,<br />

a maminha, a ponta de agulha e a<br />

fraldinha, entre outros.<br />

Pois a última novidade lançada pela<br />

rede de churrascarias Fogo de Chão é o<br />

shoulder steak (bife do ombro, numa tradução<br />

literal do inglês), corte extraído do<br />

meio da paleta bovina, com fibras mais finas,<br />

o que o torna mais macio e, o que é<br />

melhor, menos calórico do que a picanha.<br />

Lançada nas lojas de São Paulo no mês de<br />

outubro, o novo corte desembarcou na<br />

Fogo de Chão brasiliense em novembro.<br />

Ele é resultado de uma parceria da rede<br />

com a Marfino, para desenvolvimento<br />

de uma linha própria. Para Arri Coser,<br />

um dos proprietários da Fogo de Chão, a<br />

novidade deve contribuir para a descoberta<br />

de novos cortes, ainda não explorados.<br />

“Com as novas técnicas genéticas, podemos<br />

aproveitar partes jamais imaginadas”,<br />

explica Coser, que espera repetir o<br />

sucesso do último lançamento da marca,<br />

há dois anos: a costela premium, extraída<br />

das cinco primeiras vértebras bovinas.<br />

A preocupação com a carne servida<br />

nas 20 casas da rede – 14 delas em cidades<br />

norte-americanas – é constante para<br />

os irmãos Arri e Jair Coser. Afinal de contas,<br />

eles são responsáveis pela comercialização<br />

de nada menos que 100 toneladas<br />

de carnes por mês. Por isso mesmo, fazem<br />

questão de acompanhar todas as etapas da<br />

produção, do abate à mesa do cliente.<br />

Fogo de Chão<br />

SHS Quadra 5 – Bloco E (3322.4666)<br />

De 2ª a 6ª feira, das 12 às 16 e das 18 às<br />

24h; sábados, das 12 às 24h; domingos e<br />

feriados, das 12 às 22h30.<br />

10


picadinho<br />

Doces, pães e quitutes<br />

O Nippon Gourmet, da 207 Sul,<br />

está aceitando encomendas para<br />

as confraternizações de fim de ano.<br />

Entre os produtos oferecidos, um<br />

dos destaques é o Recife, mousse<br />

de chocolates preto, branco, café<br />

e pedaços de maçã que pode ser<br />

comprado em unidades (<strong>R$</strong> 5) ou<br />

em formato de tortas de tamanhos<br />

variados (<strong>R$</strong> 60 a <strong>R$</strong> 70). Além dos<br />

doces, o Nippon oferece grande<br />

variedade de pães, feitos sem aditivos<br />

químicos e com ingredientes exclusivos,<br />

e ainda quitutes franceses como<br />

as famosas madeleines, éclairs,<br />

tartaletes, jésuites e croissants.<br />

Encomendas pelo telefone<br />

3244.2477.<br />

Ceia de primeira<br />

O restaurante Fatto (QI 9 do Lago<br />

Sul) também aceitará encomendas de<br />

ceias natalinas. A casa oferece grande<br />

variedade de saladas, assados e<br />

acompanhamentos com preços a<br />

partir de <strong>R$</strong> 21,30. Entre as opções<br />

de assados, peito de peru recheado<br />

com terrine de frango e nozes ao<br />

molho de tangerina com ervas, pernil<br />

desossado e marinado com especiarias<br />

ao molho de aceto com cassis,<br />

Brito Junior<br />

Divulgação<br />

paleta de cordeiro assada ao molho<br />

de hortelã e alecrim, bacalhau nas<br />

natas e salmão ao molho de limão<br />

e lichia. As encomendas podem ser<br />

feitas até o dia 22.<br />

Sucesso<br />

internacional<br />

O espumante brasileiro<br />

Gran Legado<br />

Moscatel acaba de<br />

receber medalha de<br />

prata no Concurso<br />

Internacional de Vinos<br />

e Espirituosos<br />

2010, realizado de 10<br />

a 12 de novembro<br />

em Sevilla, na Espanha.<br />

Um júri internacional<br />

formado por 20<br />

especialistas avaliou as amostras<br />

inscritas.<br />

Sucesso<br />

internacional (2)<br />

Os espumantes brasileiros<br />

fizeram bonito<br />

também no país do<br />

champanhe. Seis<br />

medalhas foram<br />

conquistadas no<br />

concurso Effervescents<br />

du Monde, sendo uma<br />

de ouro, para o Garibaldi<br />

Moscatel, e cinco<br />

de prata: Amante<br />

Rosé 2009, Aurora<br />

Moscatel Branco,<br />

Bueno Cuvée Prestige<br />

Brut 2008, Casa Valduga Premium<br />

Brut 2006 e Gran Legado Champenoise<br />

Brut. O concurso, que avalia<br />

somente amostras de espumantes,<br />

foi realizado em Dijon, na França,<br />

de 17 a 19 de novembro. Cerca de<br />

100 degustadores internacionais<br />

Divulgação<br />

experimentaram mais de 500 amostras<br />

de 24 países.<br />

Aniversário solidário<br />

Para comemorar seu quarto aniversário,<br />

a Valentina oferecerá descontos<br />

de 10% nas pizzas promocionais para<br />

os clientes que forem à pizzaria nos<br />

dias 6, 13 e 20 de dezembro. Nesses<br />

dias, 10% do faturamento das pizzas<br />

em promoção serão arrecadados e<br />

doados para o abrigo Casas Lares<br />

Rebecca Jenkins, localizado na Cidade<br />

Ocidental. No dia 22, data do<br />

aniversário da pizzaria, o desconto<br />

será em todo os itens da casa e 10%<br />

do faturamento do dia serão doados<br />

ao abrigo.<br />

Tempo de sorvete<br />

Uma boa dica de verão para quem<br />

gosta de uma sobremesa de sorvete<br />

bem caprichada é o Outback Steakhouse<br />

(Parkshopping e Igutemi).<br />

A casa conta, em seu cardápio, com<br />

combinações como o Cinnamon<br />

Oblivion – composto de sorvete de<br />

creme, chantilly, maçã com canela,<br />

croutons de canela – e o Chocolate<br />

Thunder – uma montagem de<br />

brownie com sorvete de creme,<br />

coberta com calda quente de chocolate,<br />

chantilly e chocolate ralado.<br />

Bem acompanhado<br />

A doceria O Melhor Bolo de Chocolate<br />

do Mundo criou uma nova versão<br />

de seu cobiçado bolo feito com<br />

camadas de merengue intercaladas<br />

com mousse de chocolate. Agora,<br />

ele pode vir com uma calda extra<br />

de chocolate quente e uma bola de<br />

sorvete de creme. A nova delícia sai<br />

por <strong>R$</strong> 15,<strong>90</strong> (fatias do tradicional ou<br />

meio amargo) ou <strong>R$</strong> 18 (fatia de zero<br />

açúcar). Outra novidade do cardápio<br />

11


da rede é o blend de chá desenvolvido<br />

exclusivamente pela Loja do Chá<br />

Tee Gschwender. Com sabor de<br />

menta marroquina e frutas cítricas,<br />

ele harmoniza perfeitamente com<br />

o bolo.<br />

Bodega Austral<br />

Pronto para a Copa<br />

Já começaram os treinamentos<br />

do Bem Receber Copa - Bares e<br />

Restaurantes. O projeto é uma<br />

iniciativa do Ministério do Turismo em<br />

parceria com a Associação Brasileira<br />

de Bares e Restaurantes (Abrasel) e<br />

visa qualificar serviços e preparar o<br />

setor de alimentação fora do lar para<br />

atender melhor os turistas da Copa<br />

de Mundo de 2014. Até o momento,<br />

mais de 600 empresas já se inscreveram.<br />

Cerca de 20 turmas foram<br />

concluídas e mais de 20 estão em<br />

processo de treinamento. No total,<br />

são mais de 400 profissionais treinados<br />

e mais de 500 em processo de<br />

qualificação. Os cursos foram iniciados<br />

no mês passado nas 12 cidadessede<br />

dos jogos do Mundial.<br />

A distribuidora de vinhos Bodega<br />

Austral acaba de inaugurar um<br />

showroom na 112 Norte, onde<br />

oferece uma extensa variedade de<br />

rótulos escolhidos pessoalmente pelo<br />

sommelier e proprietário da loja,<br />

Alexandre Reis. “Buscamos trazer<br />

vinhos exclusivos para atacadistas<br />

e varejistas do Brasil. Tudo isso com<br />

qualidade e bom preço”, explica<br />

Alexandre. Por isso, cada garrafa<br />

encontrada na Bodega Austral vem<br />

de vinícolas com produção artesanal,<br />

denominadas boutiques. São mais de<br />

150 títulos de vários países, entre eles<br />

Chile, Argentina, Brasil, França, Itália<br />

e Portugal.<br />

Festival equatoriano<br />

Ainda dá tempo de apreciar o Festival<br />

Gastronômico Equatoriano, que a<br />

Embaixada do Equador, o Brasil 21<br />

Gastronomia e a rede de hotéis Meliá<br />

realizam até este domingo, dia 5. Um<br />

bufê com cerca de 20 pratos típicos<br />

foi criado pela chef Verónica Costales,<br />

que veio do Equador especialmente<br />

para comandar a cozinha do restaurante<br />

Dalí, no Complexo Brasil 21.<br />

Preço: <strong>R$</strong> 79 por pessoa.<br />

Fotos: Divulgação<br />

12


GARFADAS & GOLES<br />

Luiz Recena<br />

garfadas&goles@alo.com.br<br />

A vida é um sonho<br />

Meus queridos editores,<br />

Seguem estas linhas a partir de um primeiro adágio: “Não há mal que sempre dure”. Os pessimistas, sempre eles, tentaram completar<br />

com um “nem bem que nunca se acabe”. Nunca entenderam que um bem, quando se acaba, já entrou na categoria do primeiro<br />

pensamento, quer dizer, é um “mal” que já vai se acabar. Pobres moços, não viverão, não curtirão o acabar dos males. Tudo<br />

isso para informar que foram quebrados os grilhões que pesavam no pé do colunista. E a cerveja voltou. Não mais em hectolitros<br />

ao pés das barracas da praia, mas em níveis suficientes para sintonizar o olhar com o balanço das ondas... “Barracas não há mais”,<br />

resmunga aquele que aprendeu a ler poesia em livros de Carlos Drummond de Andrade. Não há mesmo. Mas a vida se faz em resistências.<br />

Na verdade, a vida é um sonho. “La vida es sueño / y los sueños, sueños son”. O espanhol Pedro Calderon de la Barca<br />

era um seiscentista total: nasceu no 00 (zero-zero) e morreu no 81. Tirou todo o leite bom da poderosa vaca espanhola daquele<br />

Século XVII. É dele também a outra, do mesmo poema: “Todo em la vida / Es verdad / ni es mentira / segun el color del cristal porque<br />

se mira”. Em tradução livre fica fácil: o espelho que você olha diz o que você quer. Nem a verdade nem a mentira estão no espelho.<br />

Só eu. Só você. Só nós. A orla de Salvador, agora, é um espelho ou uma mentira.<br />

Resistência – 1<br />

No espelho do mar está a resistência. Onde eram barracas, hoje<br />

resistem um guarda-sol, uma mesa e quatro cadeiras. Alguém<br />

cuida de tudo isso. E a prefeitura do prefeito evangélico persegue<br />

todos eles, confiscando, prendendo, “orando”. Não se sabe para<br />

qual Deus. Só não é para o Deus dos desgraçados.<br />

Resistência – 2<br />

Há vários pontos na orla que, nos fins de semana, reaparecem<br />

com a cara parecida das barracas antigas. É o que já foi dito:<br />

uma mesa, quatro cadeiras, um guarda-sol. E, “enquanto seu<br />

lobo da Prefeitura não vem”, curte-se o mar da Bahia, aquele<br />

que nem a guarda velha baiana, que curte o mar em praias<br />

privadas, conseguiu fechar para o acesso do povão e dos<br />

turistas, aqui incluídos baianos, brasileiros e gringos em geral,<br />

que movimentam a economia local sem petróleo nem subsídio.<br />

Não vale, aqui, dedurar ninguém. A resistência continua:<br />

no pasarán!<br />

Resistência – 3<br />

O velho Mistura, restaurante mais antigo, na praia de Itapuã,<br />

perto da praça do poeta Vinícius, com estrelas de todos os<br />

especialistas de publicações, segue vivo. E bom. João Prestes e<br />

Jô Braska passaram pelo local, para conferir o conselho. Não<br />

deu outra: Garfadas & Goles continua acertando. Não vale<br />

dizer que o casal, que mora no coração do colunista, só<br />

elogiou por isso. Os lagostins e camarões estavam tão perfeitos<br />

que dispensaram politicagens ou compra de votos (elogios).<br />

Amigos de tempos moscovitas, fazia parte do cerimonial que,<br />

antes das cervejas, geladíssimas, fossem homenageadas<br />

algumas vodkas de lei. Saúde! Salud! Nazdaróvia!<br />

Resistência – 4<br />

O povo não é bobo. E o capital muito menos. A velha roda<br />

da história, que às vezes parece parada, mas que continua<br />

andando sempre para frente, mandou o recado: os profissionais<br />

estão chegando, ou melhor, voltando. Quem tinha bala na<br />

agulha está investindo em casas além dos metros, aqueles<br />

metros alegados pela prefeitura evangélica e pela justiça federal<br />

que decretou o massacre das barracas, para tudo destruir.<br />

Em breve, no verão do caos soteropolitano, belas novidades<br />

surgirão. Si el sueño de la vida continuar, contaremos<br />

tudo. Com cerveja na mão e mirando-nos nos cristais<br />

dos espelhos.<br />

13


Divulgação<br />

Galeto a San Marino<br />

-<br />

Receita do chef José Edilson de Oliveira Sousa, da pizzaria e restaurante San Marino<br />

Ingredientes<br />

• 1 galeto médio cortado nas juntas<br />

• 2 dentes de alho<br />

• 1 colher de sopa de margarina<br />

• 1/2 colher de sal<br />

• 1/2 xícara de chá de vinho branco<br />

• 1/2 xícara de chá de azeite<br />

• 1 colher de chá de orégano desidratado<br />

• 1 colher de chá de manjericão desidratado<br />

• 1 colher de chá de tomilho desidratado<br />

• 1 colher de chá de alecrim desidratado<br />

• 1 colher de chá de salsa desidratada<br />

• 1 colher de chá de sálvia desidratada<br />

• 1 folha de louro<br />

Modo de preparo<br />

Misturar todos os temperos e deixar o galeto<br />

marinar por uma hora. Grelhar o galeto até ficar<br />

bem dourado, no ponto.<br />

Polenta<br />

• 1 colher ( sopa ) de sal<br />

• 2 colheres (sopa) de manteiga<br />

• 400 g de fubá mimoso<br />

Modo de preparo<br />

Colocar a água para ferver e acrescentar<br />

sal e manteiga. Assim que iniciar<br />

a fervura, acrescentar o fubá aos<br />

poucos, mexendo sem parar para não<br />

deixar empelotar. Posto todo o fubá,<br />

continuar mexendo regularmente por<br />

aproximadamente 30 minutos, em fogo<br />

baixo. Despejar numa forma e cortar em<br />

pedaços pequenos. Levar para a fritura.<br />

Arroz<br />

• 1 xícara de arroz<br />

• 1 xícara de água fervente<br />

• 1 colher de óleo<br />

• 1 dente de alho socado<br />

• sal a gosto<br />

Modo de preparo<br />

Refogar o arroz no óleo, alho e sal,<br />

acrescentar água e deixar cozinhar<br />

por aproximadamente 15 minutos<br />

em fogo baixo.<br />

Espaguete<br />

• 400 g de espaguete cozido<br />

al dente<br />

• 1 colher de azeite<br />

• 4 dentes de alho<br />

Modo de preparo<br />

Fritar o alho no azeite e misturar ao<br />

espaguete cozido.<br />

14


PÃO & VINHO<br />

ALEXANDRE FRANCO<br />

pao&vinho@alo.com.br<br />

La vie en rose<br />

A inesquecível Piaf imortalizou “a vida em cor de rosa”<br />

como a vida da paixão, das palavras de amor que, sussurradas<br />

ao ouvido, “dizem” o necessário para penetrar o coração<br />

e trazer felicidade, apagar aborrecimentos e tristezas e<br />

nos deixar felizes. É essa sensação sublime que alguns vinhos<br />

– poucos, é verdade – têm a capacidade de nos proporcionar,<br />

mas temo que poucas vezes isso ocorra com os<br />

“cor de rosa”.<br />

Os rosés, que já estiveram em moda no passado e haviam<br />

sido relegados ao “submundo” dos vinhos de baixa<br />

qualidade, há algum tempo renasceram e passaram a arrebanhar<br />

novos e antigos fãs. No Brasil, o movimento nesse<br />

sentido ainda é tímido, mas já ocorre. Não há dúvida de<br />

que as vinícolas redescobriram esse mercado e passaram a<br />

desenvolver novos rosés de qualidade média muito superior<br />

à que existia no passado. São exemplares portugueses,<br />

espanhóis, argentinos, chilenos, enfim, das mais diversas<br />

procedências.<br />

Para mim, o rosé bem feito, longe de atingir o nirvana<br />

proposto por Edith, vai muito bem para acompanhar pratos<br />

leves de verão, como peixes brancos grelhados, saladas e<br />

outros, especialmente á beira da piscina – o que eu costumo<br />

chamar de “vinho de piscina”. A exceção é o espumante rosé,<br />

inclusive o champanhe. Aqui a história é outra, pois eles<br />

são comumente superiores aos brancos, e quase sempre<br />

mais caros. Assim, ao menos às vezes, parece que “a vida<br />

em cor de rosa” se faz ver e sentir.<br />

Recentemente fui convidado para uma degustação organizada<br />

pelo Club of Provence Brasil para mostrar vinhos<br />

rosés oriundos da região francesa da Provence e disponíveis<br />

no Brasil. Essa é a região com mais tradição em todo o<br />

mundo na produção dos rosés, e em minha opinião a mais<br />

competente. É de lá que vejo sairem os melhores exemplares<br />

dessa bela cor.<br />

Mas a regra básica não se modificou: o melhor exemplar<br />

apresentado, aquele que conduziu minha imaginação a uma<br />

vida em cor de rosa, foi o único espumante que degustei.<br />

Trata-se do vintage 2009 Duc de Raybaud, de um lindo e<br />

profundo rosa intenso, 100% Pinot Noir, aromático à morangos<br />

e frutas vermelhas, com fantástica cremosidade.<br />

Gastronômico, por certo, mas também excelente em voo<br />

solo. Um dos bons espumantes que já provei, ao preço mais<br />

do que justo de <strong>R$</strong> 60 para o consumidor final, revelou-se<br />

ótima opção, inclusive para as festividades de fim de ano.<br />

Dos secos, os que mais apreciei foram, em geral, os da<br />

subrregião de Saint Tropez, onde os vinhos ganham uma<br />

mineralidade especial que lhes transmite caráter e os transforma<br />

em vinhos gastronômicos por excelência. No total,<br />

oito vinícolas foram apresentadas, presentes em onze importadores<br />

do Brasil. Cito as que considerei as melhores: a<br />

Vins Breban, representada pela KB-Vinrose (21-3474.5459),<br />

com o espumante comentado anteriormente; a Maîtres Vignerons<br />

de Saint Tropez, representada pela Celebrity Importadora<br />

(41-3024.4048) e pela Le Tire-Bouchon(11-3822.0515),<br />

com o Cuvée Cep d’Or 2009 a <strong>R$</strong> 75, agradável ao nariz e<br />

ao palato, mineral, muito próprio à culinária mediterrânea;<br />

a Cellier Saint Sidoine, representada pela Del Maipo<br />

(61-33638779), com o ótimo Saint Sidoine Rosé 2009, de<br />

grande caráter e mineralidade marcante; e finalmente aquele<br />

que considerei, depois do espumante, a grande revelação<br />

do dia: o Chateau Ferry Lacombe Clos La Neuve, representada<br />

pela Mercovino (16-36355412), que apresentou o Clos<br />

La Neuve – Cuvée Désiré 2009, o melhor da mostra entre os<br />

vinhos tranquilos, com 60% de Syrah, 30% de Grenache e<br />

10% de Cabernet Sauvignon. Um vinho excelente, pelo preço<br />

de barganha entre <strong>R$</strong> 45 e <strong>R$</strong> 50.<br />

15


DIA E NOITE<br />

Nayara Lucide<br />

forró-bodó<br />

Dia 19 tem forró de graça no Museu da República. Isso mesmo. A partir das 16 horas<br />

de domingo, Elza Soares vai cantar só sucessos do rei do forró, Luiz Gonzaga. Intitulado<br />

Elza respeita januários, o show da cantora faz parte do projeto Forró-Bodó, criado para<br />

homenagear o compositor e cantor pernambucano que nasceu num 13 de dezembro e a<br />

data acabou virando Dia Nacional do Forró. As bandas da cidade Pé de Cerrado e Lorota<br />

Boa abrem a festa, junto com Chico Ribeiro e os Cabras de Mateus, Toró de Palpite e<br />

Trio Nordestino. “Cantar forró, para mim, é muito prazeroso, pois é um gênero que<br />

convida as pessoas a dançar, paquerar e levantar a poeira. Quero ver meu público amado<br />

de Brasília dançando e cantando xote, baião e pé de serra”, propõe a cantora, que interpretará<br />

os clássicos de Gonzagão Vida de viajante, Vem morena e Xote das meninas.<br />

festakinda<br />

Toda quinta-feira é dia – ou melhor, noite – de Festa Kinda no Heat, o restô-lounge do Espaço<br />

Ecco. A festa foi idealizada pelo DJ Biondo e pelo produtor e DJ Willy, que buscaram inspiração<br />

nas baladas mais refinadas do Rio e de São Paulo. “Nosso cardápio musical prima pelo bom<br />

gosto, sem deixar de ser vibrante. O house é caracterizado como o estilo preferencial dos clubes<br />

mais requisitados, mas recusamos rótulos. Nossa intenção é oferecer uma batida dançante,<br />

palatável e melodiosa, fugindo do óbvio do bate-estaca”, explica Willy. Durante a festa, a casa<br />

terá cardápio especial de drinks elaborados com espumante. Informações: 3541.23<strong>90</strong>.<br />

Raquel Jorge<br />

drigo Vazquez<br />

princesinhadagorjeta<br />

Esse foi o apelido que a alemã Dota Kehr ganhou quando cantava pelas ruas<br />

de Berlim, acompanhada de seu violão. Bem antes disso, a jovem de 28 anos já<br />

conhecia música brasileira, que lhe foi apresentada por sua babá. Depois, ouviu<br />

músicos de rua no Equador que também cantavam MPB e seu interesse só<br />

aumentou. A ponto de, em 2003, conseguir um belo feito: lançou seu primeiro<br />

CD gravado em Fortaleza. Na ocasião, Dota Kehr conheceu Chico César e nunca<br />

mais perdeu contato. Tanto é que, quatro anos depois, ela voltou ao Brasil para<br />

gravar em São Paulo com a participação do cantor. Quem já ouviu Dota interpretar, em alemão,<br />

À primeira vista, sucesso de Chico César, garante que ela arrasa. Dia 6, às 20h30, ela estará no C’est<br />

si bon (213 Norte) para mostrar seu talento. Não só em alemão, mas também em português quase<br />

sem sotaque. Uma palinha É só acessar o link http://www.youtube.com/watchv=6slFFhK5klQ.<br />

músicarenascentista<br />

Os 500 anos de nascimento do compositor espanhol Diego Ortiz serão celebrados num<br />

concerto que acontece dia 10, às 20 h, na Casa Thomas Jefferson da Asa Norte (SGAN<br />

606). Os instrumentistas Ana Cecília Tavares (cravo), Guilherme de Camargo (cordas<br />

dedilhadas antigas) e Cecília Aprigliano (viola da gamba) vão homenagear o compositor<br />

que tem obras até hoje celebradas por profissionais da música antiga. Ortiz<br />

escreveu, em 1553, o Tratado de glosas sobre clausulas y otros gêneros de puntos em<br />

la musica de violones, livro considerado eterna fonte de referência para quem toca<br />

instrumentos de cordas, especificamente a viola da gamba. Entrada franca.<br />

Gê Orthof<br />

seujorge<br />

O vozeirão inconfundível<br />

desse cantor estará dia 5<br />

no Ópera Hall (SHTN,<br />

Trecho 2, Conjunto 5) para<br />

show que terá participação<br />

especial de Mart’nália. Na<br />

abertura, os brasilienses<br />

do grupo instrumental<br />

Marambaia apresentam<br />

repertório de composições<br />

inéditas e de Jacob do<br />

Bandolim e Gilberto Gil. O<br />

show encerra evento do<br />

programa Eu faço cultura,<br />

que propõe a participação<br />

de pessoas físicas na Lei<br />

Rouanet de incentivo à<br />

cultura. Ingressos entre <strong>R$</strong><br />

25 e <strong>R$</strong> 40, à venda na Setemares<br />

e Academia Nad’art.<br />

Informações: 3347.7234.<br />

18


Rodrigo Oliveira<br />

vamosouvirmúsica<br />

Ana Cláudia Brito, André Kacowicz, Jaci Toffano, Soledade Arnaud, Guilherme Montenegro<br />

e muitos outros bons pianistas da cidade são presença confirmada no festival anual<br />

de piano da professora Neusa França (foto). No repertório, clássicos de Lizt, Mozart,<br />

Chopin e Ernerto Nazareth. Será dia 9, às 17h30, na Sala Martins Penna do Teatro<br />

Nacional, com entrada franca. Ótima oportunidade de prestigiar os talentos locais<br />

do piano e ainda abraçar a professora que há décadas forma músicos da cidade e estará,<br />

no dia 7, completando <strong>90</strong> anos. Parabéns, professora!<br />

André Amaro<br />

prefixodacomédia<br />

Já que a onda do stand up comedy veio pra ficar, a boate Hill (QI 9 do Lago Sul)<br />

decidiu implantar um dia da semana para apresentar a chamada comédia de cara limpa.<br />

O projeto Zero meia um, o prefixo da comédia, vai trazer a cada terça feira comediantes<br />

candangos e de outros estados para apresentações que começam às 21 horas. O mestre<br />

de cerimônias escalado é Ricardo Pipo. Ingressos a <strong>R$</strong> 30. Informações: 7813.5548.<br />

dicavalcantiinédito<br />

Muitas vezes, os desenhos fazem parte da fase preparatória de<br />

uma obra de arte. Mas também podem se tornar uma obra de<br />

arte em si. A exposição Di Cavalcanti desenhista mostra justamente<br />

esses dois aspectos do trabalho do artista plástico carioca<br />

que viveu entre 1897 e 1914. São 120 desenhos e 15 telas relacionadas<br />

a eles, todos inéditos e oriundos da Coleção Funkelstein.<br />

Com curadoria de Romaric Buel, a mostra pretende enfatizar<br />

que o desenho, vertente pouco destacada da obra de Di, é<br />

essencial para os artistas de formação acadêmica. Na Caixa<br />

Cultural, entre 8 deste mês e 16 de janeiro. Diariamente, de 9 às 21h, na Caixa Cultural.<br />

garcíalorca<br />

Antes de ser fuzilado, aos 38 anos, pelas tropas fascistas de<br />

Francisco Franco, o dramaturgo espanhol Federico García<br />

Lorca escondeu-se num quarto secreto, onde tentou finalizar<br />

sua última peça de teatro. Como devem ter sido seus últimos<br />

dias É essa a pergunta que o texto do carioca Antonio Roberto<br />

Gerin pretende responder na peça Última cena para<br />

Lorca, em cartaz no Teatro Caleidoscópio (102 Sudoeste).<br />

Ao contrário do que se espera, o texto de Gerin não mostra episódios biográficos da vida do<br />

escritor espanhol, mas revela a paixão de Lorca pelo teatro e pela natureza humana diante de situações<br />

de cerceamento da sua liberdade. Dirigida por André Amaro, a peça fica em cartaz a<br />

té o dia 12. Sextas e sábados, às 21 horas, e domingos, às 20 horas. Ingressos a <strong>R$</strong> 40 e <strong>R$</strong> 20.<br />

Informações: 9213 1616 e no blog teatrocaleidoscopio.blogspot.com.<br />

Divulgação<br />

papainoeldebicicleta<br />

Sabe aquela sua magrela que foi<br />

substituída por uma mais<br />

moderna, mas ainda está em bom<br />

estado e só ocupa espaço em<br />

casa Pois ela pode concretizar o<br />

sonho de uma criança neste<br />

Natal. A ONG Rodas da Paz está<br />

recolhendo bicicletas novas e<br />

usadas em postos montados nos<br />

Eixões Norte e Sul, entre as<br />

quadras 207/208, todos os<br />

domingos, até o dia 15. No ano<br />

passado foram recolhidas 419<br />

bicicletas encaminhadas a escolas<br />

rurais do DF e a crianças que<br />

escreveram para o Papai Noel<br />

dos Correios. Se preferir que a<br />

ONG busque a bicicleta em sua<br />

casa, é só ligar para 3481.3060<br />

ou escrever para o e-mail<br />

doebicileta@gmail.com e<br />

agendar data e horário para o<br />

recolhimento. Simples assim!<br />

Divulgação<br />

19


DIA E NOITE<br />

brasíliailuminada<br />

Geógrafo e produtor premiado no cinema e em vídeo, Bento Viana é um fotógrafo<br />

com mais de 20 anos de experiência que agora apresenta sua viagem<br />

pelas obras do arquiteto Oscar Niemeyer. “São imagens que mostram aos<br />

visitantes o múltiplo universo do arquiteto, visto nas vibrações das superfícies<br />

do concreto e na robustez da massa edificada no cerrado”, explica Viana, cuja<br />

exposição original foi exibida pela primeira vez em 2008, em comemoração<br />

aos 100 anos do arquiteto. Com curadoria do poeta Tetê Catalão, a exposição<br />

Brasília iluminada fica em cartaz até o dia 7 no Instituto Cervantes<br />

(707/<strong>90</strong>7 Sul). De segunda a sexta, das 9 às 20h, e sábado, das 9 às 12h.<br />

Bento Viana<br />

encontrorural<br />

Uma feira que está virando tradição é o Roça Cult, já em sua terceira edição. A proposta dos<br />

organizadores é reunir artes visuais, música e gastronomia rural “em um oásis do cerrado”,<br />

mais precisamente a Chácara Santa Rita de Cássia, em São Sebastião. Na programação da<br />

feira, que acontece nos dias 11 e 12, estão oficinas e passeios por trilhas. No ateliê/galeria<br />

algumas obras de artistas locais estarão à venda. E no restaurante, claro, a típica gastronomia<br />

rural, com opções vegetarianas, sucos e bebidas especiais, além de bolos e cafés com<br />

sabor da roça. Para as crianças, será uma boa oportunidade de conhecer um pouco da vida<br />

rural e das belezas do cerrado. Sábado e domingo, das 10 às 20h. Informações: 9994.2825.<br />

rostosfotografados<br />

O homem retratado nesta foto é Orosino de Lima Ribas, um soldador que<br />

trabalha no Paranoá. Seu rosto e os de outras pessoas comuns foram fotografados<br />

em seu cotidiano por Waleska Reuter e podem ser conhecidos na<br />

exposição Galeria de nulidades. O trabalho da fotógrafa afirma o caráter<br />

individual de cada rosto “acentuado pelo tom mudo de suas expressões<br />

faciais, assim como o peso e a densidade de seus universos”. Até dia 15,<br />

no Espaço Cultural do STJ, com entrada franca. Informações: 3319.8460.<br />

umolharestrangeiro<br />

A partir do dia 7, o Museu Nacional<br />

do Conjunto Cultural da República<br />

receberá a exposição China – um<br />

olhar estrangeiro, com fotografias<br />

de Graça Seligman e curadoria de<br />

Graça Ramos. A mostra contará com<br />

aproximadamente 600 fotos exibidas<br />

em telões, como se fossem um slide<br />

show, mostrando peculiaridades de<br />

Xangai, Pequim, da Cidade Proibida<br />

e da Muralha da China. Outras<br />

35 fotos impressas completam<br />

o ambiente. A mostra ficará em<br />

cartaz até 30 de janeiro.<br />

Graça Seligman<br />

entreamigas<br />

Quando começou, há doze 12, a Arte do encontro e outras artes era uma reunião de<br />

amigas que tinham em comum a paixão por artesanato e a necessidade<br />

de comercializar seus trabalhos. O tempo foi passando e a<br />

iniciativa virou uma feira tradicional, que tem como característica<br />

mostrar a boa produção artesanal da cidade. A 30ª edição<br />

reunirá 40 expositores nos dias 3, 4 e 5, no Lago Norte<br />

(QI 14, conjunto 8, casa 23). Sexta-feira, das 17 às 22h;<br />

sábado, das 11 às 22h; e domingo, das 11 às 20h.<br />

Informações: 3368.1257.<br />

Divulgação<br />

20<br />

Júlio Acevedo<br />

olagodoscisnes<br />

O grupo baiano Dimenti vem a Brasília para apresentar a sua versão desse clássico do balé.<br />

O espetáculo infanto-juvenil Chuá estará em cartaz na Caixa Cultural nos dias 4 e 5, às 17 horas.<br />

Fundado em 1998, o Dimenti desenvolve uma pesquisa de linguagem que realiza articulações<br />

com profissionais de formações variadas (dança, teatro, letras, comunicação, administração,<br />

psicologia). Em Chuá desenvolve essas ideias tomando o cartum como forte referência na<br />

construção corporal dos intérpretes. Ingressos a <strong>R$</strong> 10 e <strong>R$</strong> 5. Bilheteria: 3206.6456.


arte POPULAR<br />

É o que faz, há 70 anos, a matriarca da família Dumont,<br />

de Pirapora, que transmitiu sua técnica às filhas e netas<br />

22<br />

“<br />

Por Lúcia Leão<br />

Fotos Rodrigo Oliveira<br />

Ganhe um chocotone em lindas<br />

latas colecionáveis”. A voz aveludada<br />

do ator Paulo Goulart anuncia<br />

com retidão e clareza, nas peças publicitárias,<br />

o brinde que o ParkShopping<br />

preparou para atrair clientes<br />

nas compras deste Natal.<br />

Mas, sinceramente, diz<br />

pouco. Não diz, por exemplo,<br />

que a beleza das latas<br />

colecionáveis nasceu de<br />

uma tradição familiar quase<br />

secular transmutada pela<br />

ousadia e criatividade de<br />

três gerações de artistas;<br />

que começou num delica-<br />

do ponto corrente na cambraia de linho<br />

de uma peça de enxoval, na mineira Pirapora,<br />

e ganhou mundo em telas de tecidos<br />

e fios de todo tipo; e que não se contentou<br />

com o pano, foi para o papel e<br />

agora aquece a frieza do metal.<br />

É, Paulo Goulart não fala que as latas<br />

colecionáveis que embalam os panetones<br />

são decoradas com telas<br />

criadas e bordadas pelo grupo<br />

Matizes Dumont. Nem que<br />

os felizardos colecionadores<br />

poderão se orgulhar de possuir<br />

a reprodução de uma<br />

obra dos mesmos artistas que,<br />

também neste Natal, estarão<br />

ao lado de Cândido Portinari<br />

numa das mostras mais aguardadas<br />

pelo país nas últimas décadas,<br />

a do mural Guerra e paz.<br />

Pela primeira vez o enorme painel que<br />

decora a entrada da sede da Organização<br />

das Nações Unidas sairá de Nova York e<br />

será apresentado ao público brasileiro. Para<br />

celebrar o evento, o filho do pintor,<br />

João Candido Portinari, pediu a vários<br />

artistas que fizessem releituras da obra.<br />

Coube à família Dumont reproduzir, em<br />

bordado, os estudos feitos por Portinari<br />

para a realização do mural.<br />

“Já faz alguns anos que conhecemos o<br />

João Cândido. Ele veio aqui me visitar,<br />

trazido por um amigo, e ficou encantado<br />

com nossos bordados. Até comprou um<br />

quadro de uma santa que eu tinha na parede.<br />

Naquela ocasião, ele já sugeriu que<br />

bordássemos os estudos do Guerra e paz,<br />

mas a ideia não foi adiante. Agora, com a


exposição, ele voltou a nos procurar para<br />

fazermos as telas”, conta Antonia Zulmira<br />

Diniz Dumont, a matriarca, ou melhor, a<br />

matriz do grupo Matizes Dumont.<br />

A exposição começa pelo Rio de Janeiro,<br />

dia 20 de dezembro, mas somente chega<br />

ao Museu da República, em Brasília,<br />

em meados de 2011. Mas é aqui, numa<br />

casa do Lago Norte, que os Dumont dão<br />

os últimos pontos e fazem os arremates<br />

nas tapeçarias que reproduzem com fidelidade<br />

os traços de 16 estudos selecionados<br />

entre os mais de 150 realizados por Portinari<br />

durante o processo de criação do mural,<br />

em 1955.<br />

A formação atual do Matizes Dumont<br />

conta, além de dona Antonia, com as filhas<br />

Ângela, Marilu, Martha e Sávia, o filho<br />

Demóstenes e as netas Luana, Tainah,<br />

Maria Helena Paula e Luiza. Normalmente,<br />

Demóstenes cria os desenhos, Marilu<br />

reproduz os traços para os tecidos e<br />

todo o grupo borda. Ao final, o trabalho<br />

ganha uma única assinatura: Dumont.<br />

Mas tudo começou há mais 70 anos com<br />

a serelepe menina Antonia aprendendo<br />

bordado com as tias para se acalmar. E foi<br />

bordando nas varandas de Pirapora, junto<br />

com as amigas e ouvindo Emilinha e Marlene<br />

na Rádio Nacional, que Antonia descobriu<br />

que era aquilo que gostava mesmo<br />

de fazer na vida.<br />

“Não sei costurar nem gosto de entrar<br />

na cozinha. Só sei bordar”, orgulha-se a<br />

matriarca Dumont, que, seguindo a tradição<br />

da família, iniciou filhas e netas nas<br />

lides das agulhas e linhas. E ensinou também<br />

que a técnicas andam de mãos dadas<br />

com a criação. “Ela nos ensinou a bordar<br />

e também a observar o mundo e a natureza,<br />

que tem relevo e movimento. Então,<br />

nós fomos saindo daqueles traços, que<br />

normalmente eram importados, para desenhar<br />

e bordar motivos brasileiros, da<br />

nossa paisagem e da nossa cultura”, conta<br />

Marilu.<br />

Foi, portanto, a própria dona Antonia<br />

quem descobriu e ensinou aos filhos<br />

que o bordado podia e devia transcender<br />

o papel decorativo de peças de vestuário<br />

e enxovais e ser aplicado também<br />

como técnica de artes plásticas, com potencial<br />

de reproduzir as matizes de uma<br />

aquarela e as sensações visuais dos pincéis<br />

impressionistas. Por iniciativa de<br />

Demóstenes, o único Dumont com formação<br />

acadêmica em artes visuais, o<br />

bordado foi parar na ilustração de livros,<br />

de lá chegou às latas decoradas e poderá<br />

ir até onde a imaginação levar.<br />

E assim se multiplicando a família ficou<br />

pequena para a ciência e a arte dos<br />

bordadeiros Dumont. Dona Antônia, os<br />

filhos e netos hoje espalham Brasil afora<br />

os saberes de Pirapora através de oficinas<br />

de formação promovidas pelo Instituto<br />

de Promoção Cultural Antônia Diniz<br />

Dumont e do Armazém de Artes e Ofícios,<br />

que também apoia a comercialização<br />

das peças produzidas pelos quase dez mil<br />

novos artistas do bordado já formados pelo<br />

grupo.<br />

“Realizamos oficinas em todo canto<br />

do País e ensinamos tudo que sabemos especalmente<br />

para pessoas de comunidades<br />

carentes. Além de ofercer para essas pessoas<br />

uma alternativa de aumentar a renda<br />

Dona Antonia e a filha Marilu:<br />

técnicas de mãos dadas com a criação<br />

das família ainda garantimos que a prática<br />

do bodado, que estava se perdendo nas últimas<br />

décadas em função das mudanças<br />

na formação das mulheres - as meninas<br />

não aprendem mais bordado na escola,<br />

como era obrigatório há cinquenta anos.<br />

É uma parte importante da cultura brasileira<br />

que estamos resgatando”, orgulha-se<br />

Marilu Dumont.<br />

23


graves & agudos<br />

Poderosa viola<br />

24<br />

Por Heitor Menezes<br />

“Quem tem a viola / Prá se<br />

acompanhar / Não vive sozinho /<br />

Nem pode penar / Tem som de rio /<br />

Numa corda de metal / Tem o mar<br />

num acorde final”<br />

(Zé Renato/Claudio Nucci/Xico Chaves/Juca Filho)<br />

Esses versos, tão simples, de uma<br />

canção conhecida do Boca Livre,<br />

dizem muito a respeito da viola,<br />

também conhecida como viola brasileira;<br />

isso, aquela comumente associada à música<br />

sertaneja. Pois a viola, que tanto serve<br />

de consolo e alegria para músicos e ouvintes,<br />

é a grande estrela de um evento que<br />

mostra o tamanho de sua importância para<br />

a música brasileira.<br />

Carina Zaratin<br />

Com a ajuda da internet e depois de<br />

shows que passaram por Recife, Belo Horizonte<br />

e São Paulo, o projeto Voa Viola –<br />

Festival Nacional de Viola finaliza parte de<br />

seus trabalhos em Brasília com a promessa<br />

de apresentar ao público uma amostra<br />

do incrível, e sempre em expansão, universo<br />

violeiro do Brasil.<br />

Na sexta-feira, 17 de dezembro, na Sala<br />

Villa-Lobos do Teatro Nacional Cláudio<br />

Santoro, acontece a grande final do<br />

projeto (que na verdade continua na internet),<br />

com um show reunindo Renato “Romaria”<br />

Teixeira, Roberto Corrêa (o grande<br />

mentor e curador do projeto), Ricardo<br />

Vignini e três artistas escolhidos em votação<br />

popular: Bruna Viola (MT), Duo de<br />

Viola e Acordeon (RS) e Duo Viola e Cravo<br />

(SP).<br />

Lançado em julho, com um edital sob<br />

os auspícios da Caixa Econômica Federal,<br />

o Voa Viola nasceu com uma cara meio<br />

concurso de novos talentos da viola, meio<br />

rede social na internet. A proposta: mapear<br />

Brasil afora a música que tenha a viola<br />

como protagonista ou coadjuvante, seja<br />

como manifestação tradicional ou contemporânea.<br />

Os números do projeto surpreendem:<br />

12 mil membros inscritos no site www.<br />

voaviola.com.br, 200 cidades brasileiras<br />

participantes, 700 músicas, 750 vídeos e<br />

1.500 fotografias coletados. O endereço virtual,<br />

que vale a pena ter nos “favoritos” do<br />

computador, nasceu junto com o projeto e<br />

acabou se transformando num verdadeiro<br />

centro cultural dos violeiros no Brasil.<br />

De acordo com a proposta, foram selecionados<br />

pela comissão organizadora 24<br />

trabalhos (a partir de 389 inscrições), depois<br />

submetidos a votação popular pelos<br />

internautas. Desses, passaram 12 artistas,<br />

divididos em três para cada cidade que recebeu<br />

ou receberá a visita do projeto (Recife,<br />

Belo Horizonte, São Paulo e Brasília).<br />

Nas três primeiras etapas, os selecionados<br />

dividiram o palco com artistas como<br />

Antônio Nóbrega, Lenine e Mônica<br />

Salmaso. Agora, em Brasília, prepare o<br />

seu o coração: o Voa Viola apresenta mais<br />

três finalistas que bem resumem a diversidade<br />

encontrada. A matogrossense Bruna<br />

Viola tem apenas 17 anos e toca viola caipira<br />

como gente grande (já até apareceu<br />

em novela da Globo). Também é o seguinte:<br />

tem alguma coisa mágica no Mato<br />

Grosso e no Mato Grosso do Sul que faz<br />

com que as crianças já nasçam talentosas<br />

e com uma viola na mão. E tem o espírito<br />

da Helena Meireles vagando sobre as<br />

águas do Pantanal...<br />

Do Rio Grande do Sul vem o Duo de<br />

Viola e Acordeon. Aqui, o domínio é a<br />

música instrumental gaúcha. Valdir Verona<br />

e Rafael de Boni prometem virtuosismo<br />

em temas que misturam o folclore e a<br />

erudição. O público será brindado com<br />

milongas, chamarras, tangos, chamamés,<br />

choros e outros encantos dos pampas.<br />

O terceiro finalista é o Duo Viola e<br />

Cravo, formado por Ricardo Matsuda e<br />

Patricia Gatti, de Campinas (SP). Vejam,<br />

viola e cravo são dois instrumentos aparentemente<br />

distintos. O primeiro é tido<br />

como rude, não tão formoso como o violão.<br />

O outro parece apenas associado à<br />

música erudita antiga. Da mistura saem<br />

contrapontos intrincados, de efeitos incríveis.<br />

É música barroca É música contemporânea<br />

Certas horas, dizem, ninguém<br />

sabe quem é viola ou quem é cravo. Ilusão<br />

e ouvidos agradecem.<br />

Seja no rasqueado (rasgado), seja no<br />

dedilhado, qualquer que seja a afinação,<br />

venha de onde vier, a viola tem dado longa<br />

contribuição à nossa música. Com ela,<br />

surgem diferentes sotaques e diferentes<br />

maneiras de expressar a alma do povo brasileiro.<br />

É para ouvir (e ver) sem bairrismos,<br />

sem preconceitos. Só a música tem<br />

esse poder.<br />

Voa Viola – Festival Nacional da Viola<br />

17/12, às 21h, na Sala Villa-Lobos do Teatro<br />

Nacional Cláudio Santoro.<br />

Anfitrião: Roberto Corrêa; violeiro<br />

convidado: Ricardo Vignini (SP); atração<br />

nacional: Renato Teixeira (SP); escolhidos<br />

em votação popular: Bruna Viola (MT),<br />

Duo de Viola e Acordeon (RS) e Duo Viola<br />

e Cravo (SP). Ingressos a <strong>R$</strong> 10 e <strong>R$</strong> 5.<br />

Mais informações: 3325.6256. Classificação<br />

indicativa: livre.


luz câmera ação<br />

Um homem<br />

que grita<br />

Por Reynaldo Domingos Ferreira<br />

Prêmio Especial do Júri do Festival de<br />

Cannes deste ano, Um homem que<br />

grita, de Mahamat-Saleh Haroun, é<br />

um filme excepcional porque, além de<br />

ter apurada linguagem cinematográfica,<br />

de estilo clássico, foi rodado no Chade,<br />

país africano submetido a uma incessante<br />

guerra civil desde sua independência,<br />

na década de 60 do século passado.<br />

Haroun, de 50 anos, nascido em<br />

Abéché, no Chade, mas que estudou cinema<br />

e jornalismo na França, para onde se<br />

mudou ainda jovem, já havia recebido<br />

também o Prêmio Especial do Júri do Festival<br />

de Veneza por Darath, estação seca,<br />

em 2006. Em 1999, ele rodou seu primeiro<br />

filme, Bye bye Africa, um documentário.<br />

E em 2002 mostrou, na Quinzena dos<br />

Realizadores de Cannes, Abouna, drama<br />

familiar em que dois irmãos se veem privados<br />

da proteção do pai, que abandona<br />

o lar.<br />

Um homem que grita é, assim, o quarto<br />

longa-metragem de Haroun, que também<br />

escreveu o roteiro, inspirado, ao<br />

que se deduz, no episódio bíblico (Antigo<br />

testamento) do sacrifício de Abraão,<br />

posto à prova, por determinação divina,<br />

de oferecer em holocausto seu único<br />

filho, Isaac.<br />

Como em Darath, Estação seca e<br />

Abouna, a história se passa no Chade,<br />

nos dias atuais. Adam (Youssouf Djaoro),<br />

de 60 anos, antigo campeão de natação,<br />

é professor na piscina de um hotel em<br />

N’Djamena. Com a repentina compra<br />

do hotel por investidores chineses, muitas<br />

mudanças ocorrem na administração<br />

do estabelecimento, que começa a despedir<br />

empregados como Davi (Marius<br />

Yelolo), antigo e experiente cozinheiro.<br />

É do diálogo de Adam com Davi que se<br />

extrai a referência direta ao texto bíblico,<br />

quando o segundo, instado pelo primeiro<br />

a lutar para permanecer no emprego,<br />

lhe responde: “Embora sendo Davi, eu<br />

não tenho forças para lutar contra esse<br />

Golias!...”<br />

Não vai tardar muito para que Adam<br />

receba também a informação de que deverá<br />

ceder seu lugar de professor ao filho<br />

Abdel (Dioucounda Koma), ficando ele<br />

como guarda do portão do hotel, encarregado<br />

de levantar ou baixar a cancela para<br />

entrada ou saída de veículos do estacionamento<br />

central diante do edifício. Cioso<br />

de sua condição de campeão de natação,<br />

Adam vê nisso um desmerecimento,<br />

ou pior, sua degradação no plano social.<br />

A guerra civil se intensifica no país.<br />

Fotos: divulgação<br />

26 26


Divulgação<br />

Os rebeldes ameaçam o poder. Em reação,<br />

o governo, pelo rádio, apela à população<br />

para que colabore com o “esforço<br />

de guerra”, o que significa contribuição<br />

em dinheiro ou oferecimento de filho<br />

em idade de ir para a frente de combate.<br />

Forçado pelo líder de seu bairro (Emile<br />

Abossolo M’bo) a colaborar, Adam, sem<br />

ter dinheiro, entrega o filho e, de imediato,<br />

reassume, na piscina, o seu lugar de<br />

professor.<br />

Como explicou Haroun na Embaixada<br />

da França em Brasília, onde seu filme<br />

foi exibido em sessão especial, nos países<br />

africanos os filhos pertencem não aos<br />

pais, mas à comunidade, o que de certa<br />

forma explica, mas não justifica, a atitude<br />

de Adam, pois o grito dele é de culpabilidade.<br />

Para nós, brasileiros, o tema não é<br />

novo, já que foi tratado por Machado de<br />

Assis no romance Yayá Garcia, que Haroun<br />

não deve conhecer. Durante a<br />

Guerra do Paraguai, Valéria, viúva de<br />

um desembargador, ao pressentir o seu<br />

fim próximo, e percebendo que seu filho<br />

Jorge, desmotivado com a profissão de<br />

advogado, tornou-se um desocupado,<br />

inútil, um dandi da Rua do Ouvidor, não<br />

vê outra saída senão induzi-lo a se alistar,<br />

como voluntário, para combater em Assunção.<br />

No caso, Valéria joga com a sorte:<br />

se o filho morresse na guerra, ela também<br />

já estaria morta, ou, se ele se salvasse,<br />

teria uma carreira de prestígio social a<br />

seguir, a de militar, o que acontece.<br />

O que é notável na película de Haroun<br />

é o tom de despojamento e, antes de<br />

tudo, de sinceridade com que foi rodada,<br />

numa linguagem clássica de uso de longos<br />

planos-sequência e travellings como instrumentos<br />

de narrativa, esta pontuada mais<br />

pelo silêncio, que substitui a música, por<br />

ele parcialmente empregada – de autoria<br />

de Wasis Diop –, como na magnífica cena<br />

final em que se conjuga com uma expressiva<br />

mudança na tonalidade da fotografia<br />

de Laurent Brunet. Dos atores, pode-se<br />

dizer que, dadas as circunstâncias<br />

em que vivem e em que atuam, todos,<br />

embora primários, conseguem transferir<br />

muito sentido dramático (ou mesmo trágico)<br />

para suas respectivas personagens.<br />

O homem que grita (Um homme qui crie)<br />

França/Chade/Bélgica/2010, 92min. <strong>Roteiro</strong><br />

e direção: Mahamat-Saleh Haroun. Com<br />

Youssouf Djaoro, Dioucounda Koma, Emile<br />

Abossolo M´bo, Hadje Fatime N´Goua,<br />

Marius Yelolo e Djénéba Koné.<br />

Comunismo<br />

e consumismo<br />

Absurdos do passado e do presente na<br />

temática do Festival de Cinema Polonês<br />

Por Júlia Viegas<br />

Para o grande público, cinema<br />

polonês é sinônimo de Kieslowski,<br />

Wajda, Polanski. Mas nos últimos<br />

tempos a produção cinematográfica independente<br />

cresceu surpreendentemente na<br />

Polônia. Uma nova geração de realizadores<br />

entrou em cena, pronta para satirizar o<br />

período em que o país viveu sob o domínio<br />

soviético, para olhar com generosidade<br />

e também com humor para os costumes<br />

do povo polonês, para abordar, com muita<br />

liberdade, os dramas que afetam o país.<br />

São jovens cineastas praticamente desconhecidos<br />

no Brasil que estão na programação<br />

do Festival de Cinema Polonês, de<br />

8 a 14 deste mês, no Cine Brasília.<br />

Serão exibidos somente filmes inéditos,<br />

todos recentes, produzidos entre<br />

2004 e 2009, e percorrendo todos os<br />

A Reserva<br />

gêneros, de sátiras políticas a produção<br />

infantil. Ao longo de uma semana, em<br />

duas sessões diárias, com entrada franca,<br />

será possível conhecer nove filmes, contando<br />

com a exibição de um clássico polonês<br />

de 1980 – a comédia Ursinho – que<br />

zomba do sistema político da época,<br />

mostrando absurdos do dia a dia dos<br />

anos 70/80 na Polônia.<br />

O festival vai circular pelo Brasil –<br />

além de Brasília, passará por Belo Horizonte,<br />

Salvador, São Paulo, Curitiba, Porto<br />

Alegre e Rio de Janeiro. Na tela, a diversidade<br />

e a qualidade do cinema polonês<br />

contemporâneo, começando com um filme<br />

romântico, Quanto pesa um cavalo de<br />

Troia, que brinca com a história, fazendo<br />

a protagonista voltar no tempo e corrigir<br />

alguns “equívocos” do passado. Assim,<br />

vemos a Polônia nos últimos anos de domínio<br />

soviético. 27 27


luz câmera ação<br />

Vários outros títulos se apoiam nas difíceis<br />

relações entre a Polônia e a extinta<br />

União Soviética. Nos dramas Pequena<br />

Moscou, do premiado Waldemar Krzystek,<br />

e General Nil, do veterano Ryszard<br />

Bugajski (que tem mais de 25 filmes no<br />

currículo), o assunto é abordado em histórias<br />

que voltam aos anos de dominação.<br />

Mas há também discursos que apresentam<br />

a Polônia dos dias de hoje.<br />

Garotas de shopping, da jovem diretora<br />

Katarzyna Roslaniec, enfia o dedo na ferida<br />

da sociedade polonesa contemporânea,<br />

ao mostrar meninas da classe média<br />

que se prostituem para poder comprar o<br />

que querem – o consumismo avançando<br />

no país, 20 anos depois da queda do comunismo.<br />

A reserva, do também jovem<br />

iniciante Luksz Palkowski, promove uma<br />

viagem a locais pouco conhecidos da cidade<br />

de Varsóvia, que certamente não figurariam<br />

em nenhum guia turístico.<br />

Mas há muito mais: a produção infantil<br />

Uma árvore mágica, o romance O jardim<br />

de Luíza, a comédia de humor negro A festa<br />

de casamento (três prêmios no Festival<br />

de Cinema Polonês) e Ursinho, o filme<br />

mais antigo da mostra, de 1980, um clássico<br />

ainda inédito no Brasil.<br />

Festival de Cinema Polonês<br />

De 8 a 14/12 no Cine Brasília. Sessões<br />

às 19 e 21h, com entrada franca. Mais<br />

informações: www.brazylia.polemb.net<br />

A festa de casamento<br />

O jardim de Luíza<br />

Quanto pesa um cavalo de troia<br />

Garotas de shopping<br />

A pequena Moscou<br />

Fotos: divulgação Embaixada da Polônia<br />

28


luz câmera ação<br />

As inquietações de<br />

Tsai Ming-Liang<br />

No CCBB, a mais completa retrospectiva do premiado diretor taiwanês<br />

Por Sérgio Moriconi<br />

Sem dúvida um dos expoentes do novo<br />

e excitante cinema que surgiu em<br />

Taiwan como consequência direta<br />

do processo de abertura e independência<br />

política da ilha chinesa, Tsai Ming-Liang<br />

fez questão de comparecer à abertura da<br />

mostra de 21 de seus filmes (longas e curtas-metragens),<br />

quase todos inéditos no<br />

circuito comercial brasileiro, em cartaz no<br />

CCBB/Brasília até o dia 19. Embora nascido<br />

na Malásia, Tsai foi muito jovem estudar<br />

cinema em Taipei. Muito influenciado<br />

pelo cinema europeu, em especial<br />

por diretores como Tarkovski, Antonioni,<br />

Fassbinder, Bresson e Truffaut, esse<br />

filho de fazendeiros criou uma obra tão<br />

pessoal que é simplesmente impossível<br />

ignorá-lo.<br />

Premiadíssimos nos principais festivais<br />

europeus, os filmes de Tsai Ming-Liang<br />

são contemplativos, como se seguissem o<br />

plácido fluxo de um rio, e requerem do<br />

espectador total disponibilidade e entrega<br />

para que ele possa experimentar, perceber<br />

e penetrar uma outra vida. Mas esse<br />

outro lado não é em nada apaziguador.<br />

Revela o profundo mal-estar existencial,<br />

a angústia, a solidão e a alienação de indivíduos<br />

perdidos no vácuo melancólico<br />

das paisagens urbanas contemporâneas.<br />

No cinema de Tsai, tormentosos sentimentos<br />

muitas vezes são metaforizados<br />

por doenças físicas ou mazelas devastadoras,<br />

como é o caso de O rio e The hole,<br />

respectivamente.<br />

Em vários de seus filmes, mas especialmente<br />

em The hole, o diretor nos oferece<br />

uma deprimente visão do futuro. O<br />

presente, porém, está longe de ser melhor,<br />

como, aliás, nos deixa claro o painel<br />

de isolamento e desilusão da Taipei moderna<br />

de Vive l’amour. Seria essa uma das<br />

razões para que os distribuidores brasileiros<br />

evitem lançar seus filmes Paradoxalmente,<br />

Tsai Ming-Liang busca como<br />

uma possível saída “escapista” (num sentido<br />

elevado e nada hollywoodiano) o<br />

próprio cinema. Em Goodbye dragon in,<br />

ele faz uma nostálgica, poética e agridoce<br />

homenagem a outros diretores que o influenciaram,<br />

entre eles o chinês King Hu<br />

(mestre de filmes de artes marciais) e o<br />

sutil diretor/ator francês Jacques Tati.<br />

Assim como Antonioni e Wim Wenders,<br />

Tsai Ming-Liang costuma ser visto<br />

como “um artista do desenraizamento”.<br />

Seus filmes seriam a expressão da crise de<br />

identidade dos indivíduos das grandes<br />

metrópoles urbanas contemporâneas,<br />

muitos deles migrantes ou imigrantes.<br />

Taiwan seria para o jovem diretor a expressão<br />

máxima, e mesmo simbólica, do<br />

morboso estado de anomia das personagens<br />

que viria a criar em Vive l’amour,<br />

29


O rio e O sabor da melancia, para citar<br />

aqui apenas três de suas obras. Num plano<br />

mais particular, Taipei, a capital híbrida,<br />

submetida à homogeneidade e indiferenciação<br />

do moderno, e ao mesmo<br />

tempo à milenar cultura da China continental,<br />

é observada “de fora” por Tsai<br />

Ming-Liang. Seus filmes nos passam a<br />

impressão de um olhar estrangeiro. São<br />

o registro de um mal estar existencial de<br />

suas personagens e dele próprio.<br />

Considerado também de um ponto<br />

do vista da tradição do cinema taiwanês<br />

que ganhou visibilidade e consideração<br />

por plateias e críticos internacionais a<br />

partir dos anos <strong>90</strong>, Tsai Ming-Liang também<br />

parece deslocado ou, no mínimo,<br />

em desacordo. Naturais da China, Hou<br />

Hsiao Hsien e Eward Yang, de uma geração<br />

imediatamente anterior, estariam<br />

muito mais comprometidos com uma estética<br />

realista “pura”, se é que podemos<br />

colocar assim. O crítico Eduardo A. Russo<br />

argumenta com muita propriedade<br />

que, enquanto Hou Hsiao Hsien e Yang<br />

apresentam em suas obras um substrato<br />

social, “uma consciência do grupal e do<br />

coletivo” muito clara, Tsai Ming-Liang lidaria<br />

apenas com os demônios e as inquietações<br />

dos indivíduos.<br />

De fato, a universalidade da angústia<br />

existencial das personagens de Tsai Ming-<br />

Liang é um atributo psíquico igualmente<br />

experimentado por indivíduos de diferentes<br />

continentes e se deve ao cada vez<br />

mais acelerado processo de mundialização.<br />

Embora as nações e seus mais variados<br />

agrupamentos humanos urbanos vivam<br />

tempos históricos assimétricos, de<br />

alguma maneira elas se afetam e interagem<br />

mutuamente. Esta é uma das razões<br />

por que plateias do mundo todo tenham<br />

se identificado com o elegíaco universo<br />

simbólico de Goodbye dragon inn. Claro,<br />

desde que tenham frequentado alguma<br />

vez na vida as sessões duplas de filmes B<br />

dos velhos, em outrora suntuosos cinemas<br />

dos centros de suas cidades.<br />

Em Goodbye dragon inn, Tsai Ming-<br />

Liang faz então sua homenagem a King<br />

Hu, uma das referências incontornáveis<br />

de filmes B de artes marciais, ao ambientar<br />

seu filme num desses velhos e decadentes<br />

cinemas onde se exibe, como o título deixa<br />

claro, Dragon inn, clássico wuxia (gênero<br />

de artes marciais de época) de Hu. Mas o<br />

interesse de Tsai Ming-Liang está fora da<br />

tela. Ele observa funcionários e frequentadores,<br />

desde a turista ocasional que entra<br />

no teatro para se abrigar da chuva até a bilheteira,<br />

o projecionista e toda uma galeria<br />

Fotos: Divulgação<br />

de indivíduos, solitários, indiferentes, que<br />

entram e saem da sala, encontram-se pelos<br />

corredores e halls, gente muito menos interessada<br />

no filme do que na possibilidade<br />

de encontrar alguém, algum eventual parceiro<br />

algum sexual. Essa plateia desinteressada<br />

faz um irônico contraponto com<br />

aquelas plateias de amantes do cinema ao<br />

redor do mundo (as nossas incluídas, claro)<br />

que acompanham Tsai Ming-Liang e<br />

seus filmes, contraditoriamente, como<br />

agentes apaziguadores de suas almas.<br />

Tsai Ming-Liang, o homem do tempo<br />

Até 19/12 no cinema do CCBB. Sessões às<br />

18h30 e 20h30 (aos sábados e domingos,<br />

também às 16h30. Ingressos: <strong>R$</strong> 4 e <strong>R$</strong> 2.<br />

Mais informações: 3310.7087<br />

30


luz câmera ação<br />

O homem misterioso<br />

31<br />

Por Reynaldo Domingos Ferreira<br />

Ambientado, em grande parte, em<br />

Castel Del Monte, tido como um<br />

dos vilarejos medievais mais belos<br />

da Itália, O homem misterioso, de Anton<br />

Corbijn, é um thriller de linguagem europeia<br />

que relata a tardia decisão de um matador<br />

profissional de renegar seu passado e<br />

mudar de vida pelo amor de uma mulher.<br />

O roteiro, de Rowan Joffe, baseado na<br />

novela A very private gentleman, de Martin<br />

Booth, acerta na dosagem dos diálogos,<br />

mas erra no emprego de simbologias descabidas,<br />

que nem sempre são adequadas à<br />

natureza da história. Sobre esse roteiro,<br />

Corbijn, afamado fotógrafo holandês, em<br />

seu segundo trabalho como diretor (o primeiro<br />

foi Control, filme sobre Ian Curtis,<br />

vocalista da banda Joy Division, que se suicidou),<br />

impõe uma narrativa metódica e fria,<br />

ao estilo dos franceses, conseguindo apurar<br />

alguns bons momentos de suspense.<br />

No prólogo, Jack (George Clooney),<br />

um assassino a soldo, está descansando<br />

com sua amante Ingrid<br />

(Irina<br />

Björklund) numa<br />

cabana, no<br />

interior da<br />

Suécia.<br />

Ao caminhar<br />

sobre<br />

um<br />

lago<br />

congelado,<br />

Jack<br />

iden tifica a<br />

presença, na<br />

montanha, de<br />

um atirador,<br />

que abre fogo<br />

contra o casal.<br />

Ato contínuo, Jack,<br />

munido de arma<br />

de alta precisão,<br />

mata o atirador e atinge,<br />

inexplicavelmente,<br />

com um tiro, a cabeça<br />

de Ingrid. Logo de-<br />

pois, na estrada, mata outro homem armado.<br />

Jack voa então para Roma, onde, por<br />

telefone, faz contato com Pavel (Johan<br />

Leysen), que o aconselha a não ficar na<br />

cidade, mas a apanhar um carro estacionado<br />

nas adjacências do aeroporto e viajar<br />

de imediato para Castelvecchio, um<br />

vilarejo encravado nas montanhas de<br />

Abruzzo, região que ainda se recupera de<br />

forte abalo sísmico sofrido recentemente.<br />

Ao chegar lá, nervoso por não saber<br />

usar o celular, ele decide ir à vizinha Castel<br />

Del Monte, onde conhece o padre Benedetto<br />

(Paolo Bonacelli), a quem se<br />

apresenta sob o nome de Edward, fotógrafo.<br />

É como Edward que ele conhece Clara<br />

(Violante Placido), uma prostituta por<br />

quem se afeiçoa, mas em quem não confia,<br />

pois se sente ameaçado por elementos<br />

estranhos – como Mathilde (Thekla<br />

Reuten), negociante de armas – que a cada<br />

passo surgem, de forma inesperada,<br />

no seu encalço. Os becos e as vielas que<br />

serpenteiam os morros do vilarejo são, a<br />

esse propósito, explorados por Corbijn<br />

como metáfora para expressar a situação<br />

desesperadora de Jack, escravo de uma<br />

organização criminosa à qual presta serviços,<br />

mas que, ao mesmo tempo, planeja<br />

eliminá-lo por ser ele um especialista<br />

na montagem de armas de alta precisão.<br />

Se o roteiro é falho e o argumento do<br />

livro de Booth não tem originalidade alguma,<br />

a linguagem de Corbijn é envolvente<br />

e chega, em certos momentos, a criar impacto,<br />

como o do prólogo, em que o enquadramento<br />

fotográfico ganha destaque<br />

por ser o único e eficiente condutor da<br />

ação. Corbijn, como não poderia deixar<br />

de ser, demonstra absoluto controle da<br />

imagem. Além disso, a trilha sonora, de<br />

Herbert Grönemeyer, que pontua com o<br />

tema principal a evolução da narrativa, é<br />

composta de peças como Un vel di vedremo,<br />

de Puccini, e Ave Maria, de Gounod.<br />

Clooney investiu bom dinheiro na<br />

produção porque se interessou em mudar<br />

a linha das personagens que vem interpretando.<br />

Jack/Edward, o protagonista,<br />

é um assassino frio, que age sob silêncio<br />

e paranoia. É um papel denso, que<br />

exige do ator não os recursos por ele usados<br />

em personagens que o vinham identificando<br />

com o estilo interpretativo de<br />

Cary Grant. Foi um desafio que Clooney<br />

enfrentou e do qual se saiu razoavelmente<br />

bem, pois criou um indivíduo sombrio<br />

e, às vezes, cáustico e irônico, como<br />

se mostra Jack nos diálogos com o padre<br />

Benedetto, que lhe cobra a opção de trilhar<br />

os caminhos do bem. Para contrastar<br />

com a figura penumbrosa do protagonista,<br />

foram escolhidas três atrizes – Irina,<br />

Tekla e Violante – que se destacam<br />

Um homem misterioso (The american)<br />

EUA/2010, 105min. Direção: Anton Corbijn.<br />

<strong>Roteiro</strong>: Rowan Joffe, com base na novela<br />

A very private gentleman, de Martin Booth.<br />

Com George Clooney, Irina Björklund, Johan<br />

Leysen, Paolo Bonacelli, Thekla Reuten,<br />

Violante Placido, Giorgio Gobbi e Filippo Timi.<br />

Fotos: Divulgação<br />

Fotos: Divulgação<br />

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