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O trabalho infantil no quadro da Revista Nova Escola (RNE).

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montagem de prendedores de roupas, plantio e corte de pinus, isto mencionando-se apenas a Região Sul.<br />

Percorrendo as páginas <strong>da</strong> <strong>RNE</strong> , percebe-se que em 13, desses 20 a<strong>no</strong>s de publicação, o tema em pauta<br />

teve seu espaço garantido. O <strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong> aparece nas marcenarias, na pesca, na agricultura (lavouras de milho,<br />

feijão, cana-de-açúcar, café, soja, horta, pomares),na construção civil, carvoarias, nas ruas entre outros e escorre<br />

por praticamente todo o mapa do Brasil : PA, MS, BA, PE, CE,SP, MG, RJ, SC e RS.<br />

Alguns números apresentam tentativas de conciliação escola e <strong>trabalho</strong>, através <strong>da</strong>s escolas-produção,<br />

escola- fazen<strong>da</strong> (n.15 set./87 e n.57, maio/92), escolas para crianças trabalhadoras (n. 22, jun/88), escola rural com<br />

ensi<strong>no</strong> por módulos, para filhos de agricultores (n.36, dez/89), escolas técnicas com introdução a algumas profissões<br />

para atrair alu<strong>no</strong>s de famílias de baixa ren<strong>da</strong> (n.53, <strong>no</strong>v. 91), propostas de educação pelo <strong>trabalho</strong> (n.60,set./92) e ao<br />

mesmo tempo que mostram estas iniciativas para tirar as crianças do <strong>trabalho</strong>, apresenta seus equívocos e desvios,<br />

entre tantos de quem formula as políticas educacionais. Nesta direção apresenta sugestões de obras que podem<br />

aju<strong>da</strong>r a melhor compreender a relação educação e <strong>trabalho</strong>, assim como entrevistam intelectuais <strong>da</strong> área para<br />

sinalizar as fragili<strong>da</strong>des destas propostas, conforme entrevista feita a Luiz Antonio de Carvalho Franco (<strong>RNE</strong> ,n.15,<br />

set./87, p.31) que adverte:<br />

Em <strong>no</strong>me <strong>da</strong> preparação para o <strong>trabalho</strong> elas oferecem um ensi<strong>no</strong> básico de péssima quali<strong>da</strong>de[...] e em<br />

na<strong>da</strong> contribuem para alterar a reali<strong>da</strong>de do ensi<strong>no</strong> de 1º grau: evasão e repetência (e) surgem <strong>no</strong> Brasil<br />

<strong>no</strong> início do século XIX [...] destina<strong>da</strong>s a recuperar socialmente por meio <strong>da</strong> educação e do <strong>trabalho</strong>,<br />

massas de desvalidos, desempregados e negros libertos que incomo<strong>da</strong>vam as classes dominantes.<br />

Outras experiências trazi<strong>da</strong>s pela revista como o Projeto Axé em Salvador (BA) (<strong>RNE</strong>, n.79, out./1994)<br />

destinado a tirar as crianças <strong>da</strong> rua, embora coloque na ordem do dia o debate <strong>da</strong>s contradições sociais expressas na<br />

multiplicação <strong>da</strong> miséria, representa muito pouco, considerando a leva de meni<strong>no</strong>s e meninas que chegam às ruas<br />

cotidianamente e como coloca Forrester, (1997, p.15)<br />

Tantas vi<strong>da</strong>s encurrala<strong>da</strong>s, manieta<strong>da</strong>s, tortura<strong>da</strong>s, que se desfazem, tangentes a uma socie<strong>da</strong>de que se<br />

retrai.[...] E como são [...] mais apagados, riscados, escamoteados dessa socie<strong>da</strong>de, eles são chamados<br />

de excluídos. Mas, ao contrário, eles estão lá, apertados, encarcerados, (incluídos até a medula!)Eles são<br />

absorvidos, devorados, relegados para sempre, deportados, repudiados, banidos, submissos e<br />

decaídos, mas tão incômodos:uns chatos! [...]Incluídos, demasiado incluídos, e em descrédito.<br />

É essa reali<strong>da</strong>de que a <strong>RNE</strong> acaba por trazer aos seus leitores. A reportagem “Meninas prostituí<strong>da</strong>s”<br />

(<strong>RNE</strong>, n. 62, <strong>no</strong>v.1992, p.33) mostra muito bem a reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> troca de sexo por dinheiro, assim como outras<br />

crianças que habitam “O vale <strong>da</strong> miséria” (<strong>RNE</strong>, n.63, dez.92)<strong>no</strong> Alto, Médio e Baixo Jequitinhonha, uma <strong>da</strong>s mais<br />

pobres do mundo e de onde extraem-se por a<strong>no</strong> 250 mil quilates de diamante, sem deixar outros rastros na região<br />

além <strong>da</strong> miséria e devastação. Esses menininhos que se espalham mapa afora <strong>no</strong> mundo do <strong>trabalho</strong>, nas carvoarias,<br />

ruas, becos e vielas também são assim fotografados por Ronald Claver (1988,p.3) em “Os menininhos do Brasil”<br />

São milhares. Milhões. Multidão que escorre pelo mapa do Brasil.<br />

Habitam o <strong>no</strong>rtedocentro, o suldo<strong>no</strong>rte, o <strong>no</strong>rdestedoleste,o oestedosudoeste, o altodoplanalto, o<br />

liso<strong>da</strong>planície, o buracodoabismo, lonjuras, vielas,becos, viadutos, marquises, esquinas, favelas.<br />

Não dormem cedo. Nem tarde. Ficam na rua. Não fazem o ‘para casa’, não decoram tabua<strong>da</strong>s. Não<br />

precisam comer de boca fecha<strong>da</strong>, tomar banho, escovar dentes, calçar sapatos apertados.

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