06.01.2015 Views

Revista Brasileira de Ornitologia - Sociedade Brasileira de Ornitologia

Revista Brasileira de Ornitologia - Sociedade Brasileira de Ornitologia

Revista Brasileira de Ornitologia - Sociedade Brasileira de Ornitologia

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>Revista</strong><br />

<strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Ornitologia</strong><br />

ISSN 0103-5657<br />

VOLUME 15, NÚMERO 4 – DEZEMBRO DE 2007<br />

PUBLICADA PELA<br />

SOCIEDADE BRASILEIRA DE ORNITOLOGIA<br />

São Paulo, SP


<strong>Revista</strong><br />

<strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Ornitologia</strong><br />

EDITOR: Luís Fábio Silveira, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, São Paulo, SP (lfsilvei@usp.br).<br />

EDITORES DE ÁREA: Ecologia: James J. Roper, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná, Curitiba, PR e Pedro F. Develey, BirdLife/Save Brasil,<br />

São Paulo, SP. Comportamento: Marcos Rodrigues, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais, Belo Horizonte, MG e Regina H. F. Macedo,<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília, Brasília, DF. Sistemática, Taxonomia e Distribuição: Alexandre Aleixo, Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém,<br />

PA e Luiz Antônio Pedreira Gonzaga, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro, Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ.<br />

CONSELHO EDITORIAL: Edwin O. Willis, Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista, Rio Claro, SP; Enrique Buscher, Universidad Nacional <strong>de</strong><br />

Córdoba, Argentina; Jürgen Haffer, Essen, Alemanha; Richard O. Bierregaard, Jr., University of North Caroline, Estados Unidos; José Maria<br />

Cardoso da Silva, Conservação Internacional do Brasil, Belém, PA; Miguel Ângelo Marini, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília, Brasília, DF; Luiz<br />

Antônio Pedreira Gonzaga, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro, Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ.<br />

SOCIEDADE BRASILEIRA DE ORNITOLOGIA<br />

(Fundada em 1987)<br />

www.ararajuba.org.br<br />

PRESIDENTE:<br />

Diretoria<br />

(2007-2009)<br />

Iury <strong>de</strong> Almeida Accordi, Comitê Brasileiro <strong>de</strong> Registros Ornitológicos (presi<strong>de</strong>ncia.sbo@ararajuba.org.br).<br />

1° SECRETÁRIO: Leonardo Vianna Mohr, Instituto Chico Men<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação da Biodiversida<strong>de</strong>, Ministério do Meio Ambiente<br />

(secretaria.sbo@ararajuba.org.br).<br />

2° SECRETÁRIO: Marcio Amorim Efe (marcio_efe@yahoo.com.br).<br />

1° TESOUREIRO: Jan Karel Félix Mähler Jr. (jancibele@via-rs.net).<br />

2° TESOUREIRO: Claiton Martins Ferreira (claiton.ferreira@ufrgs.br).<br />

Conselho Deliberativo<br />

2006-2010: Marcos Rodrigues, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais; Fábio Olmos, Comitê Brasileiro <strong>de</strong> Registros Ornitológicos; Rafael<br />

Dias, Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Pelotas.<br />

2004-2008: Rudi Ricardo Laps, Universida<strong>de</strong> Regional <strong>de</strong> Blumenau; Joaquim Olinto Branco, Universida<strong>de</strong> do Vale do Itajaí.<br />

Conselho Fiscal<br />

(2006-2008)<br />

Paulo Sérgio Moreira da Fonseca, Banco Nacional <strong>de</strong> Desenvolvimento Econômico e Social; Celine Melo, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Uberlândia;<br />

Sérgio Pacheco, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Viçosa.<br />

A <strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> (ISSN 0103-5657) é editada sob a responsabilida<strong>de</strong> da Diretoria e do Conselho Deliberativo da Socieda<strong>de</strong><br />

<strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, com periodicida<strong>de</strong> trimestral, e tem por finalida<strong>de</strong> a publicação <strong>de</strong> artigos, notas curtas, resenhas, comentários,<br />

revisões bibliográficas, notícias e editoriais versando sobre o estudo das aves em geral, com ênfase nas aves neotropicais. A assinatura anual<br />

da <strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> custa R$ 50,00 (estudantes <strong>de</strong> nível médio e <strong>de</strong> graduação), R$ 75,00 (estudantes <strong>de</strong> pós-graduação),<br />

R$ 100,00 (individual), R$ 130,00 (institucional), US$ 50,00 (sócio no exterior) e US$ 100,00 (instituição no exterior), pagável em cheque<br />

ou <strong>de</strong>pósito bancário à Socieda<strong>de</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> (ver www.ararajuba.org.br). Os sócios quites com a SBO recebem gratuitamente<br />

a <strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>. Correspondência relativa a assinaturas e outras matérias não editoriais <strong>de</strong>ve ser en<strong>de</strong>reçada a Leonardo<br />

Vianna Mohr (secretaria.sbo@ararajuba.org.br) ou (61) 8142-1206).<br />

Projeto Gráfico: Cecília Banhara Marigo<br />

Diagramação: Airton <strong>de</strong> Almeida Cruz (airtoncruz@hotmail.com)<br />

Capa: bicudinho-do-brejo macho (Stymphalornis acutirostris) (veja Reinert et al., pp. 493 a 519). Foto: Ricardo Belmonte-Lopes.<br />

Cover: male of Marsh Antwren (Stymphalornis acutirostris) (see Reinert et al., pp. 493 to 519). Photo: Ricardo Belmonte-Lopes.


<strong>Revista</strong><br />

<strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Ornitologia</strong><br />

VOLUME 15, NÚMERO 4 – DEZEMBRO DE 2007<br />

PUBLICADA PELA<br />

SOCIEDADE BRASILEIRA DE ORNITOLOGIA<br />

São Paulo, SP


<strong>Revista</strong><br />

<strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Ornitologia</strong><br />

Artigos publicados na <strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> são in<strong>de</strong>xados por:<br />

Biological Abstract e Zoological Record.<br />

Tiragem: 400 exemplares<br />

FICHA CATALOGRÁFICA<br />

REVISTA BRASILEIRA DE ORNITOLOGIA<br />

(Socieda<strong>de</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>)<br />

São Paulo, Brasil, 1990-<br />

1990-2006, 1-14<br />

2007, 15 (4)<br />

Trimestral<br />

ISSN 0103-5657 CDU598.2<br />

Distribuído em julho <strong>de</strong> 2008


<strong>Revista</strong><br />

<strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Ornitologia</strong><br />

Volume 15 – Número 4 – Dezembro <strong>de</strong> 2007<br />

SUMÁRIO<br />

ARTIGOS<br />

Bianca Luiza Reinert, Marcos Ricardo Bornschein e Carlos Firkowski<br />

Distribuição, tamanho populacional, hábitat e conservação do bicudinho-do-brejo Stymphalornis acutirostris Bornschein, Reinert e Teixeira, 1995<br />

(Thamnophilidae)................................................................................................................................................................................................................... 493-519<br />

Distribution, population size, habitat and conservation of the Marsh Antwren, Stymphalornis acutirostris Bornschein, Reinert e Teixeira, 1995<br />

(Thamnophilidae).<br />

Maria Antonietta Castro Pivatto, José Sabino, Silvio Favero e Ido Luiz Michels<br />

Perfil e viabilida<strong>de</strong> do turismo <strong>de</strong> observação <strong>de</strong> aves no Pantanal Sul e Planalto da Bodoquena (Mato Grosso do Sul) segundo interesse dos visitantes 520-529<br />

Profile and viability of birdwatching tourism in the South Pantanal and Bodoquena Plateau (Mato Grosso do Sul) according to visitors’ interests.<br />

Leonardo Esteves Lopes e Vívian S. Braz<br />

Aves da região <strong>de</strong> Pedro Afonso, Tocantins, Brasil............................................................................................................................................................... 530-537<br />

Birds of Pedro Afonso region, Tocantins, Brazil.<br />

Luiza Angelini Leal Domingues e Marcos Rodrigues<br />

Área <strong>de</strong> uso e aspectos da territorialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Schistochlamys ruficapillus (Thraupidae) em seu período não-reprodutivo.................................................. 538-542<br />

Areas of use and territoriality of Schistochlamys ruficapilus (Thraupidae) during its non-breeding season.<br />

Francisco Voeroes Dénes, Caio José Carlos and Luís Fábio Silveira<br />

The albatrosses of the genus Diome<strong>de</strong>a Linnaeus, 1758 (Procellariiformes: Diome<strong>de</strong>idae) in Brazil.................................................................................. 543-550<br />

Os albatrozes do gênero Diome<strong>de</strong>a Linnaeus, 1758 (Procellariiformes: Diome<strong>de</strong>idae) no Brasil.<br />

Robson Silva e Silva e Fábio Olmos<br />

A<strong>de</strong>ndas e registros significativos para a avifauna dos manguezais <strong>de</strong> Santos e Cubatão, SP.............................................................................................. 551-560<br />

New and important records from the mangroves of Santos and Cubatão, SP.<br />

Beatriz A. Ribeiro, Lucas A. Carrara, Fabrício R. Santos and Marcos Rodrigues<br />

Sex-biased help and possible facultative control over offspring sex ratio in the Rufous-fronted Thornbird, Phacellodomus rufifrons............................... 561-568<br />

Possível controle facultativo na razão sexual <strong>de</strong> ajudantes no joão-graveto, Phacellodomus rufifrons.<br />

Nadinni Oliveira <strong>de</strong> Matos Sousa e Miguel Ângelo Marini<br />

Biologia <strong>de</strong> Culicivora caudacuta (Aves: Tyrannidae) no Cerrado, Brasília, DF................................................................................................................. 569-573<br />

Life history aspects of Culicivora caudacuta (Tyrannidae) in Brazilian Central Cerrado (Brasília, DF).<br />

Alexandre Curcino, Carlos Eduardo R. <strong>de</strong> Sant’Ana e Nean<strong>de</strong>r Marcel Heming<br />

Comparação <strong>de</strong> três comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aves na região <strong>de</strong> Niquelândia, GO............................................................................................................................ 574-584<br />

Comparison of three bird communities near Niquelândia, in the state of Goias.<br />

Shayana <strong>de</strong> Jesus e Emygdio Leite <strong>de</strong> Araujo Monteiro-Filho<br />

Frugivoria por aves em Schinus terebinthifolius (Anacardiaceae) e Myrsine coriacea (Myrsinaceae)................................................................................. 585-591<br />

Frugivory by birds in Schinus terebinthifolius (Anacardiaceae) and Myrsine coriacea (Myrsinaceae).<br />

Ivan Sazima<br />

The jack-of-all-tra<strong>de</strong>s raptor: versatile foraging and wi<strong>de</strong> trophic role of the Southern Caracara (Caracara plancus) in Brazil, with comments on<br />

feeding habits of the Caracarini.............................................................................................................................................................................................. 592-597<br />

O raptor pau-para-toda-obra: forrageio versátil e ampla função trófica do caracará (Caracara plancus) no Brasil, com comentários sobre hábitos<br />

alimentares <strong>de</strong> Caracarini.<br />

NOTAS<br />

Daniel Tourem Gressler and Miguel Ângelo Marini<br />

Nest, eggs and nestling of the Collared Crescentchest Melanopareia torquata in the Cerrado region, Brazil..................................................................... 598-600<br />

Ninho, ovos e ninhego <strong>de</strong> Melanopareia torquata (Melanopareiidae) na região do Cerrado, Brasil.<br />

Túlio Dornas e Renato Torres Pinheiro<br />

Predação <strong>de</strong> Opisthocomus hoazin por Spizaetus ornatus e <strong>de</strong> Bubulcus ibis por Bubo virginianus em Tocantins, Brasil.................................................. 601-604<br />

Predation of Cattle Egret by the Great Horned Owl and Hoazin by the Ornate Hawk-Eagle in western Tocantins State, Brazil.


Adrian Eisen Rupp, Cláudia Sabrine Brandt, Daniela Fink, Gregory Thom e Silva, Rudi Ricardo Laps e Carlos Eduardo Zimmermann<br />

Registros <strong>de</strong> Caprimulgiformes e a primeira ocorrência <strong>de</strong> Caprimulgus sericocaudatus (bacurau-rabo-<strong>de</strong>-seda) no Estado <strong>de</strong> Santa Catarina, Brasil.... 605-608<br />

Records of Caprimulgiforms and the first occurrence of Caprimulgus sericocaudatus (Silky-tailed Nightjar) in Santa Catarina State, Brazil.<br />

Ana Cristina Venturini e Pedro Rogerio <strong>de</strong> Paz<br />

Variação <strong>de</strong> cores da plumagem em indivíduos <strong>de</strong> Nemosia rourei com indicação <strong>de</strong> juvenis............................................................................................. 609-610<br />

Diversification of the colors in Nemosia rourei plumage with indication of young birds.<br />

Ivan Sazima<br />

Frustrated fisher: geese and tilapias spoil bait-fishing by the Green Heron (Butori<strong>de</strong>s striata) in an urban park in Southeastern Brazil............................ 611-614<br />

Pescador frustrado: gansos e tilápias prejudicam pesca com isca do socozinho (Butori<strong>de</strong>s striata) num parque urbano no su<strong>de</strong>ste do Brasil.<br />

Charles Duca and Wellington Mo<strong>de</strong>sto<br />

Spi<strong>de</strong>r web as a natural trap for small birds........................................................................................................................................................................... 615-616<br />

Teia <strong>de</strong> aranha como uma armadilha natural para aves pequenas.<br />

Ivan Sazima<br />

From carrion-eaters to bathers’ bags plun<strong>de</strong>rers: how Black Vultures (Coragyps atratus) could have found that plastic bags may contain food.............. 617-620<br />

De necrófagos a saqueadores <strong>de</strong> sacolas <strong>de</strong> banhistas: como urubus-<strong>de</strong>-cabeça-preta (Coragyps atratus) po<strong>de</strong>m ter <strong>de</strong>scoberto que sacos plásticos<br />

conteriam alimento.<br />

RESENHA<br />

Albatrosses, petrels and shearwaters of the world<br />

Caio J. Carlos.......................................................................................................................................................................................................................... 621-622<br />

CONGRESSOS<br />

2009 - Animal Behavior Society Meeting<br />

2010 - 25th International Ornithological Congress................................................................................................................................................................ 623-624<br />

NORMAS PARA PUBLICAÇÃO<br />

Instruções aos Autores............................................................................................................................................................................................................ 625-626<br />

Instrucciones a los Autores..................................................................................................................................................................................................... 627-628<br />

Instructions to Authors........................................................................................................................................................................................................... 629-630


ARTIGO<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> 15(4):493-519<br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007<br />

Distribuição, tamanho populacional, hábitat e conservação<br />

do bicudinho-do-brejo Stymphalornis acutirostris Bornschein,<br />

Reinert e Teixeira, 1995 (Thamnophilidae)<br />

Bianca Luiza Reinert 1 , Marcos Ricardo Bornschein 2 e Carlos Firkowski 3<br />

1. Pós-Graduação em Ciências Biológicas, Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista “Júlio <strong>de</strong> Mesquita Filho” e Mater Natura,<br />

Instituto <strong>de</strong> Estudos Ambientais. Avenida Senador Souza Naves, 701, Apto. 191, 80050‐040, Curitiba, PR, Brasil.<br />

E‐mail: biancareinert@yahoo.com.br<br />

2. Comitê Brasileiro <strong>de</strong> Registros Ornitológicos e Liga Ambiental.<br />

Rua Olga <strong>de</strong> Araújo Espíndola, 1380, Bloco N, Apto. 31, 81050‐280, Curitiba, PR, Brasil. E‐mail: mbr@bbs2.sul.com.br<br />

3. Departamento <strong>de</strong> Ciências Florestais, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná.<br />

Rua Prefeito Ângelo Lopes, 565/11, 80050‐330, Curitiba, PR, Brasil. E‐mail: firko@ufpr.br<br />

Recebido em 21 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2005; aceito em 25 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2006.<br />

Abstract: Distribution, population size, habitat and conservation of the Marsh Antwren, Stymphalornis acutirostris Bornschein, Reinert e Teixeira,<br />

1995 (Thamnophilidae). The Marsh Antwren (Stymphalornis acutirostris) is restricted to the lowlands between Antonina Bay, in the coastal plain of<br />

the state of Paraná, and Itapocu river, in the northern coastal plain of the state of Santa Catarina (from 0 to c. 5 m a.s.l.). It doesn’t occur continuously in<br />

this region, being found in eight populations that span over an total area of about 6,060 ha (= area of occupancy; 4,856.67 in Paraná and c. 1,200 in Santa<br />

Catarina). Nine habitat types used by the Marsh Antwren were <strong>de</strong>fined, based on vegetation physiognomy, localization, dominancy of botanical species,<br />

dominant life-form and history of the region. Five of these are herbaceous (marshes), while four have an upper arboreal stratum and an herbaceous lower<br />

stratum with marsh plants. According to the classification criteria of the Brazilian vegetation proposed by the Radambrasil Project, they were classified as<br />

Pioneering Formation of Fluvial Influence, Pioneering Formation of Fluvial-marine Influence, and/or Pioneering Formation of Lacustrine Influence. They<br />

occur as patches or narrow strips ranging from 0.001 to 203.0 ha in the state of Paraná. They are found mainly in the interior of bays, in the lower courses of<br />

rivers that drain into bays, in alluvial plains, and between sand dunes in the coastal plain. Characteristic herbaceous species are cattail (Typha domingensis),<br />

bulrush (Scirpus californicus), Crinum salsum, Panicum sp. cf. P. mertensii, saw grass (Cladium mariscus) and Fuirena spp. Hibiscus pernambucensis<br />

is the characteristic bush species, and Calophyllum brasiliense, Tabebuia cassinoi<strong>de</strong>s, Annona glabra and Laguncularia racemosa are the characteristic<br />

arboreal species. The Marsh Antwren lives in herbaceous vegetation, but also uses bushes and branches of small tress. It has low flight capacity and a single<br />

flight of more than 25 m was never recor<strong>de</strong>d. Territories of 0.25 ha were estimated in one kind of habitat (“tidal marsh”) (= 8 individuals per hectare) and of<br />

3.2 ha in another one (“saw grass marsh”) (= 0.62 individual per hectare). The global population estimate is of about 17,700 mature individuals (13,700 in<br />

Paraná and 4,000 in Santa Catarina). The species is really un<strong>de</strong>r threat of extinction, mainly because of it’s restricted geographical distribution and habitat<br />

loss by human activities and biological contamination caused by invasion of exotic grasses (Urochloa arrecta and Brachiaria mutica).<br />

Key-words: Stymphalornis acutirostris, Marsh Antwren, habitat, geographic distribution, area of occupancy, territory, population, conservation.<br />

Resumo: O bicudinho-do-brejo (Stymphalornis acutirostris) é restrito à planície litorânea entre a baía <strong>de</strong> Antonina, no Paraná, e o rio Itapocu, em<br />

Santa Catarina (<strong>de</strong> 0 a c. 5 m s.n.m.), sul do Brasil. Não ocorre continuamente nessa região, e sim em oito populações, cujas distribuições geográficas<br />

totalizaram uma área <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 6.060 ha (= área <strong>de</strong> ocupação; 4.856,67 no Paraná e cerca <strong>de</strong> 1.200 em Santa Catarina). Consi<strong>de</strong>rando-se a fisionomia,<br />

localização, dominância <strong>de</strong> espécies botânicas, forma biológica dominante e histórico da região, <strong>de</strong>finiu-se nove ambientes habitados por S. acutirostris,<br />

sendo cinco herbáceos (brejos) e quatro que possuem um estrato superior arbóreo e um inferior herbáceo com espécies características dos brejos.<br />

Denominam-se como Formação Pioneira <strong>de</strong> Influência Fluvial, Formação Pioneira <strong>de</strong> Influência Fluviomarinha e/ou Formação Pioneira <strong>de</strong> Influência<br />

Lacustre, conforme os critérios da proposta <strong>de</strong> classificação da vegetação brasileira do Projeto Radambrasil. Ocorrem principalmente como manchas ou<br />

faixas estreitas e que no Paraná variaram <strong>de</strong> 0,001 a 203,0 ha. Estão localizadas principalmente no interior <strong>de</strong> baías e nos trechos mais a jusante <strong>de</strong> rios<br />

que nelas <strong>de</strong>ságuam, em planícies aluviais e entre cordões <strong>de</strong> dunas em planície costeira. Herbáceas características são a taboa (Typha domingensis), piri<br />

(Scirpus californicus), cebolama (Crinum salsum), capim-pernambuco (Panicum sp. cf. P. mertensii), capim-serra (Cladium mariscus) e Fuirena spp.<br />

Arbustiva característica é a uvira (Hibiscus pernambucensis) e as arbóreas características são o guanandi (Calophyllum brasiliense), caxeta (Tabebuia<br />

cassinoi<strong>de</strong>s), ariticum-do-brejo (Annona glabra) e mangue-vermelho (Laguncularia racemosa). Stymphalornis acutirostris vive na vegetação herbácea,<br />

freqüentando também arbustos e galhos <strong>de</strong> árvores. Tem limitada capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vôo; não se registrou um único vôo <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 25 m. Estimaram-se<br />

territórios <strong>de</strong> 0,25 ha em um ambiente (brejo <strong>de</strong> maré) (= 8 indivíduos por hectare) e <strong>de</strong> 3,2 ha em outro (brejo <strong>de</strong> capim-serra) (= 0,62 indivíduo por<br />

hectare). A estimativa populacional é <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 17.700 indivíduos maduros (13.700 no Paraná e 4.000 em Santa Catarina). A espécie é realmente<br />

ameaçada <strong>de</strong> extinção, principalmente pela reduzida distribuição geográfica e perda <strong>de</strong> ambientes, que é causada pelo homem e, sobretudo, por<br />

contaminação biológica <strong>de</strong>corrente da invasão <strong>de</strong> capins exóticos (Urochloa arrecta e Brachiaria mutica).<br />

Palavras-chave: Stymphalornis acutirostris, ambiente, distribuição geográfica, área <strong>de</strong> ocupação, território, população, conservação.<br />

O bicudinho-do-brejo (Stymphalornis acutirostris), único Thamnophilidae<br />

estritamente palustre (Zimmer e Isler 2003: 492),<br />

foi <strong>de</strong>scrito como espécie nova em um gênero novo no final<br />

<strong>de</strong> 1995 (Bornschein et al. 1995) (capa, figura 1). Foi <strong>de</strong>scoberto<br />

em um fragmento <strong>de</strong> brejo em área bastante urbanizada<br />

e distante cerca <strong>de</strong> 80 m <strong>de</strong> uma rodovia no balneário Ipaca-


494 Bianca Luiza Reinert, Marcos Ricardo Bornschein e Carlos Firkowski<br />

Figura 1. Macho (esquerda) e fêmea (direita) do bicudinho-do-brejo (Stymphalornis acutirostris). Fotos: B.L.R.<br />

Figure 1. Male (left) and female (right) of Marsh Antwren (Stymphalornis acutirostris). Photos: B.L.R.<br />

ray, litoral do Estado do Paraná (Bornschein et al. 1995). Pesa<br />

em torno <strong>de</strong> 10 g <strong>de</strong> massa corporal, me<strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 14 cm <strong>de</strong><br />

comprimento (Bornschein et al. 1995) e apresenta dimorfismo<br />

sexual: o ventre é cinza-anegrado no macho adulto e manchado<br />

<strong>de</strong> branco e preto na fêmea (Reinert e Bornschein 1996).<br />

Logo após a <strong>de</strong>scrição, várias ações visando a conservação da<br />

espécie foram iniciadas. Dentre elas, solicitou-se sua inclusão<br />

na lista <strong>de</strong> fauna ameaçada <strong>de</strong> extinção no Brasil, o que se<br />

concretizou mediante a publicação da Portaria no. 62, <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong><br />

junho <strong>de</strong> 1997, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos<br />

Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) (vi<strong>de</strong> Paiva 1999).<br />

Além da <strong>de</strong>scrição original, baseada em uma fêmea e<br />

macho jovem (Bornschein et al. 1995), e da <strong>de</strong>scrição do<br />

macho adulto (Reinert e Bornschein 1996), há informações<br />

gerais sobre a espécie em Sick (1997), BirdLife International<br />

(2000), Zimmer e Isler (2003) e Straube et al. (2004), on<strong>de</strong> ela<br />

foi consi<strong>de</strong>rada ameaçada <strong>de</strong> extinção no Paraná. Brooks et al.<br />

(1999) a consi<strong>de</strong>raram endêmica do bioma Floresta Atlântica<br />

e Naka et al. (2000) divulgaram duas localida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> registro<br />

no litoral norte <strong>de</strong> Santa Catarina. Luiz P. Gonzaga efetuou<br />

seu doutoramento com a filogenia <strong>de</strong> Formicivora a partir <strong>de</strong><br />

dados morfológicos e vocais, incluindo Stymphalornis. Na<br />

publicação <strong>de</strong> um resumo do seu estudo, citou, entre algumas<br />

conclusões, que Stymphalornis <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado sinônimo<br />

<strong>de</strong> Formicivora (Gonzaga 2001). Na ausência <strong>de</strong> uma publicação<br />

formal, com a necessária discussão acerca dos elementos<br />

que sustentariam essa conclusão, o tratamento taxonômico<br />

aqui utilizado segue Zimmer e Isler (2003) e Comitê Brasileiro<br />

<strong>de</strong> Registros Ornitológicos (2005), que consi<strong>de</strong>raram o arranjo<br />

proposto na <strong>de</strong>scrição original da espécie.<br />

Diversas informações sobre a espécie foram divulgadas por<br />

B.L.R. e M.R.B. em livros <strong>de</strong> resumos <strong>de</strong> congressos, artigos<br />

<strong>de</strong> divulgação científica e livro <strong>de</strong> divulgação (Corrêa 2005),<br />

sendo parte <strong>de</strong>ssas fontes a origem <strong>de</strong> muitas das informações<br />

gerais citadas nas obras mencionadas anteriormente. Estudos<br />

com a espécie ainda foram o tema da dissertação <strong>de</strong> mestrado<br />

<strong>de</strong> B.L.R. (Reinert 2001), e dados sobre ela foram utilizados<br />

na <strong>de</strong> M.R.B. (Bornschein 2001). Gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>ssas informações<br />

é alvo do presente trabalho, no qual se aborda a distribuição<br />

geográfica, tamanho da área <strong>de</strong> ocorrência, território,<br />

estimativa populacional e caracterização dos ambientes <strong>de</strong><br />

ocorrência <strong>de</strong> S. acutirostris.<br />

Material e Métodos<br />

Em concordância com o termo popular adotado em muitas<br />

regiões brasileiras e com a terminologia apresentada nos<br />

resultados, os ambientes pioneiros em estágio herbáceo serão<br />

<strong>de</strong>nominados, doravante, <strong>de</strong> brejos, quando não houver necessida<strong>de</strong><br />

do uso <strong>de</strong> termos técnicos. Esses, por sua vez, citados<br />

em maiúsculo, são aqueles propostos pelo Projeto Radambrasil<br />

(in Veloso et al. 1991, IBGE 1992).<br />

Distribuição geográfica e ambientes <strong>de</strong> ocorrência. Do final<br />

<strong>de</strong> 1995 a 1997, realizaram-se diversas campanhas no litoral<br />

do Paraná e do norte <strong>de</strong> Santa Catarina visando-se conhecer os<br />

ambientes <strong>de</strong> vida e novas áreas <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> S. acutirostris.<br />

Procurou-se por ele em Formação Pioneira <strong>de</strong> Influência<br />

Fluvial, Formação Pioneira <strong>de</strong> Influência Lacustre, Formação<br />

Pioneira <strong>de</strong> Influência Fluviomarinha e Formação Pioneira <strong>de</strong><br />

Influência Marinha nos estágios herbáceo, herbáceo-arbóreo<br />

e arbóreo, em Floresta Ombrófila Densa das Terras Baixas e<br />

em Floresta Ombrófila Densa Aluvial. De 1998 a 2000, realizaram-se<br />

12 campanhas <strong>de</strong> busca pela espécie e caracterização<br />

dos seus ambientes <strong>de</strong> ocorrência, as quais totalizaram<br />

84 dias em campo, distribuídas do litoral sul <strong>de</strong> São Paulo ao<br />

do norte <strong>de</strong> Santa Catarina. Nessas, procurou-se pela espécie<br />

apenas nos ambientes anteriormente i<strong>de</strong>ntificados como sendo<br />

<strong>de</strong> sua ocorrência (Formações Pioneiras <strong>de</strong> Influência Fluvial,<br />

Lacustre e Fluviomarinha nos estágios herbáceo e herbáceoarbóreo).<br />

A região dos rios Una da Al<strong>de</strong>ia, Suá Mirim, Peropava,<br />

da Ribeira do Iguape e da Momuna, entre outros, município<br />

<strong>de</strong> Iguape, São Paulo, constitui o extremo norte traba-


Distribuição, tamanho populacional, hábitat e conservação do bicudinho-do-brejo<br />

Stymphalornis acutirostris Bornschein, Reinert e Teixeira, 1995 (Thamnophilidae)<br />

495<br />

lhado (c. 24°30’S, 47°30’W), ao passo que os rios Camboriú<br />

e Peroba, nos municípios <strong>de</strong> Camboriú e balneário Camboriú,<br />

em Santa Catarina, o extremo sul (c. 27°00’S, 48°38’W). Em<br />

cada ponto <strong>de</strong> amostragem, realizou-se 5 min <strong>de</strong> playback em<br />

intervalos regulares <strong>de</strong> pausa, perfazendo cerca <strong>de</strong> 9 min <strong>de</strong><br />

espera por ponto. Também procurou-se pela espécie nas várzeas<br />

do rio Paraná, especificamente no Parque Nacional <strong>de</strong> Ilha<br />

Gran<strong>de</strong> e arredores, oeste do Paraná e su<strong>de</strong>ste do Mato Grosso<br />

do Sul (novembro e <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1995, janeiro <strong>de</strong> 1996, junho<br />

<strong>de</strong> 1997, maio a junho <strong>de</strong> 1999, novembro <strong>de</strong> 2002 e fevereiro<br />

<strong>de</strong> 2003), e no litoral sul <strong>de</strong> Santa Catarina (julho <strong>de</strong> 2003).<br />

Os locais <strong>de</strong> pesquisa foram acessados a pé, por veículo e,<br />

principalmente, por barco. Auxiliou no acesso a eles estudos<br />

fitogeográficos, imagens <strong>de</strong> satélites, fotografias aéreas, base<br />

cartográfica em diferentes escalas, entrevistas com moradores<br />

locais e contratação <strong>de</strong> guias. De cada local amostrado, tomaram-se<br />

as coor<strong>de</strong>nadas geográficas mediante o uso <strong>de</strong> GPS e<br />

i<strong>de</strong>ntificou-se e <strong>de</strong>screveu-se o tipo <strong>de</strong> ambiente (vi<strong>de</strong> abaixo).<br />

Outras anotações também foram feitas, como localida<strong>de</strong>, data,<br />

condições do tempo, croqui esquemático da paisagem, aves<br />

observadas e a presença ou não <strong>de</strong> S. acutirostris, incluindo<br />

modo <strong>de</strong> contato (visual e/ou auditivo), tempo <strong>de</strong> resposta ao<br />

playback e o número, sexo e ida<strong>de</strong> dos indivíduos registrados.<br />

Os ambientes foram i<strong>de</strong>ntificados conforme os critérios para<br />

a classificação da vegetação brasileira propostos pelo Projeto<br />

Radambrasil (in Veloso et al. 1991, IBGE 1992).<br />

Território e população. Estimou-se a área (em ha) ocupada por<br />

nove casais da espécie em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1998 (= território, tipo<br />

“Breeding Territory”, “A”, <strong>de</strong> Pettingill 1985), conforme Silva<br />

(1988). Depois <strong>de</strong> acompanhados, os casais foram capturados<br />

com auxílio <strong>de</strong> re<strong>de</strong> ornitológica e marcados com anilhas coloridas<br />

e metálicas (conforme IBAMA 1994), essas do Centro <strong>de</strong><br />

Pesquisa para a Conservação das Aves Silvestres (CEMAVE).<br />

A marcação com anilhas coloridas seguiu um código <strong>de</strong> cores<br />

visando o reconhecimento individual das aves no campo. Uma<br />

semana após o anilhamento, acompanharam-se novamente os<br />

mesmos casais para a conferência dos perímetros dos territórios,<br />

os quais tiveram a área estimada após medição em campo<br />

auxiliada por uma trena (50 m). A <strong>de</strong>terminação dos territórios<br />

foi facilitada pela escolha dos locais (margem dos rios São<br />

João e Boguaçu, município <strong>de</strong> Guaratuba, Paraná), os quais se<br />

caracterizavam por faixas estreitas <strong>de</strong> brejo em meio a outros<br />

ambientes não utilizados pela espécie. Avaliou-se o tamanho<br />

<strong>de</strong> territórios em dois ambientes (“brejo <strong>de</strong> maré”, n = 6<br />

casais, e “brejo <strong>de</strong> capim-serra”, n = 3 casais), consi<strong>de</strong>rados<br />

representativos <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> ambientes on<strong>de</strong> S. acutirostris<br />

é comum e <strong>de</strong> outro on<strong>de</strong> ele é raro.<br />

Para estimar o tamanho populacional <strong>de</strong> S. acutirostris,<br />

tomaram-se os valores médios <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>s (indivíduos por<br />

hectare) obtidas em cada ambiente. Cada qual foi multiplicado<br />

pela área total do grupo <strong>de</strong> ambientes que representavam: <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><br />

no brejo <strong>de</strong> maré por grupo <strong>de</strong> ambientes on<strong>de</strong> a espécie<br />

é comum e <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> no brejo <strong>de</strong> capim-serra por grupo<br />

<strong>de</strong> ambientes on<strong>de</strong> ela é rara (vi<strong>de</strong> “Estimativa <strong>de</strong> áreas, território<br />

e população” abaixo). Para a estimativa da área dos<br />

ambientes ocupados pela espécie, vi<strong>de</strong> “I<strong>de</strong>ntificação e quantificação<br />

dos ambientes <strong>de</strong> ocorrência”, adiante.<br />

Caracterização da vegetação. Efetuaram-se caracterizações<br />

quali-quantitativas da vegetação <strong>de</strong> ambientes <strong>de</strong> ocorrência<br />

<strong>de</strong> S. acutirostris. A dos brejos foi efetuada conforme<br />

Braun-Blanquet (1979). Utilizaram-se parcelas <strong>de</strong> 1 m 2 , que<br />

foram <strong>de</strong>limitadas por um gabarito colocado sobre a vegetação<br />

ao longo <strong>de</strong> um transecto guiado por uma trena <strong>de</strong> 50 m<br />

<strong>de</strong> comprimento. Cada parcela <strong>de</strong> amostragem foi espaçada<br />

da outra por 1 m. Utilizou-se um total <strong>de</strong> 50 parcelas por<br />

ambiente trabalhado, valor <strong>de</strong>terminado por meio <strong>de</strong> curva <strong>de</strong><br />

esforço amostral. As transeções (100 m) incluíram a zonação<br />

eventualmente observada no brejo. Anotaram-se as espécies<br />

registradas por parcela, suas alturas máximas, formas biológicas<br />

e respectivos valores <strong>de</strong> cobertura e sociabilida<strong>de</strong>, que<br />

foram estimados conforme os seguintes intervalos, adaptados<br />

<strong>de</strong> Braun-Blanquet (1979). Cobertura: R = espécie rara,<br />

com cobertura inferior a 1%; 1 = cobertura entre 1 e 5%;<br />

2 = cobertura entre 5 e 25%; 3 = cobertura entre 25 e 50%;<br />

4 = cobertura entre 50 e 75%; e 5 = cobertura superior a 75%.<br />

Sociabilida<strong>de</strong>: 1 = indivíduos ou fustes isolados; 2 = indivíduos<br />

formando pequenos grupos; 3 = indivíduos formando<br />

gran<strong>de</strong>s grupos; 4 = indivíduos formando gran<strong>de</strong>s massas; e<br />

5 = população contínua. A cobertura indica a proporção <strong>de</strong><br />

área ocupada pela projeção da porção aérea dos indivíduos <strong>de</strong><br />

cada espécie no trecho amostrado (Matteucci e Colma 1982)<br />

e a sociabilida<strong>de</strong> a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong>sses indivíduos<br />

(Braun-Blanquet 1979).<br />

A caracterização qualitativa das arbóreas dos ambientes<br />

on<strong>de</strong> havia um estrato superior arbóreo e um inferior herbáceo,<br />

com espécies características <strong>de</strong> brejos, efetuou-se com a<br />

alocação <strong>de</strong> parcelas <strong>de</strong> 100 m 2 <strong>de</strong>marcadas com estacas e distribuídas<br />

sistematicamente ao longo <strong>de</strong> uma linha-mestra <strong>de</strong><br />

100 m paralela ao curso d’água (exceto no “manguezal com<br />

herbáceas”; vi<strong>de</strong> abaixo). Incluiu-se na amostragem indivíduos<br />

com perímetro do(s) tronco(s), a 1,3 m do solo, igual ou<br />

superior a 15 cm, dos quais se registrou a espécie, altura total<br />

e perímetro na altura do peito (PAP), entre outras observações.<br />

No “guanandizal com herbáceas” alocou-se 20 parcelas e no<br />

“caxetal com herbáceas” 30 (vi<strong>de</strong> “RESULTADOS” abaixo).<br />

Nos mesmos locais on<strong>de</strong> se realizou a amostragem <strong>de</strong> arbóreas<br />

realizou-se a <strong>de</strong> herbáceas, tal qual efetuada nos brejos.<br />

O método <strong>de</strong> parcelas <strong>de</strong> 1 m 2 não foi aplicável para amostrar<br />

o estrato herbáceo <strong>de</strong> um ambiente com cobertura arbórea,<br />

o “manguezal com herbáceas” (vi<strong>de</strong> “RESULTADOS”<br />

abaixo), <strong>de</strong>vido à gran<strong>de</strong> altura <strong>de</strong> uma arbustiva. Por isso,<br />

a caracterização qualitativa <strong>de</strong>sse ambiente, tanto do estrato<br />

arbóreo quanto herbáceo, foi efetuada com a utilização do<br />

método <strong>de</strong> “linha <strong>de</strong> interceptação”, conforme Brower e Zar<br />

(1984). Esse método consiste na amostragem <strong>de</strong> todos os<br />

indivíduos que apresentam a projeção da cobertura das partes<br />

aéreas sobre uma linha marcada com auxílio <strong>de</strong> uma trena<br />

(transeção). Demarcou-se três linhas perpendiculares ao curso


496 Bianca Luiza Reinert, Marcos Ricardo Bornschein e Carlos Firkowski<br />

d’água (duas com 30 m e uma com 40 m <strong>de</strong> extensão), totalizando<br />

100 m <strong>de</strong> amostragem.<br />

Não foram amostrados qualitativamente dois ambientes<br />

com ocorrência <strong>de</strong> S. acutirostris (“brejo <strong>de</strong> meandro” e<br />

“ariticunzal com herbáceas”; vi<strong>de</strong> “RESULTADOS” abaixo).<br />

Muitas outras áreas além daquelas trabalhadas por meio <strong>de</strong><br />

parcelas ou transeções foram avaliadas quanto aos parâmetros<br />

fitossociológicos cobertura e sociabilida<strong>de</strong>, conforme a adaptação<br />

<strong>de</strong> Braun-Blanquet (1979) <strong>de</strong>talhada anteriormente, mas<br />

levando-se em consi<strong>de</strong>ração as espécies vegetais dominantes<br />

encontradas.<br />

Para permitir e/ou comprovar a i<strong>de</strong>ntificação das plantas<br />

observadas, realizou-se coleta <strong>de</strong> espécimes férteis. O material<br />

botânico foi preparado em campo e, posteriormente, exsicatado<br />

em conformida<strong>de</strong> com as técnicas <strong>de</strong> herborização <strong>de</strong>scritas<br />

em Fidalgo e Bononi (1984) e IBGE (1992). As exsicatas<br />

foram <strong>de</strong>positadas nos herbários do Departamento <strong>de</strong> Botânica<br />

(UPCB – Universida<strong>de</strong> Paraná Ciências Biológicas) e <strong>de</strong> Ciências<br />

Florestais (EFC – Escola <strong>de</strong> Florestas <strong>de</strong> Curitiba) da Universida<strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral do Paraná. I<strong>de</strong>ntificaram o material botânico<br />

coletado diversos especialistas, a saber: A. O. S. Vieira<br />

(Onagraceae), A. D. Faria (Eleocharis spp. – Cyperaceae),<br />

C. Kozera (Cyperaceae e Poaceae), I. Boldrini (Poaceae), M.<br />

Sobral (Myrtaceae), M. Kaheler (Bromeliaceae), R. Gol<strong>de</strong>nberg<br />

(Melastomataceae), V. A. O. Dittrich (Pteridophyta),<br />

S. Menezes-Silva (diversas famílias) e M. Borgo (diversas<br />

famílias). Esses dois últimos também i<strong>de</strong>ntificaram espécies<br />

observadas em campo. A classificação botânica está <strong>de</strong> acordo<br />

com a proposta <strong>de</strong> Cronquist (1988), para Magnoliophyta, e<br />

Tryon e Tryon (1982), para Pteridophyta. A forma biológica<br />

das espécies foi <strong>de</strong>finida em campo e, eventualmente, obtida<br />

da literatura.<br />

I<strong>de</strong>ntificação e quantificação dos ambientes <strong>de</strong> ocorrência.<br />

Em fotoíndices, selecionaram-se as fotografias aéreas (pancromáticas)<br />

que tinham ou supostamente tinham os ambientes<br />

<strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> S. acutirostris na região <strong>de</strong> sua distribuição<br />

geográfica (apêndice 1). Do Paraná, utilizaram-se fotografias<br />

do vôo <strong>de</strong> 1980 e escala 1:25.000, reveladas para o estudo. De<br />

Santa Catarina, utilizou-se <strong>de</strong> fotos já reveladas da Fundação<br />

do Meio Ambiente (FATMA), vôo <strong>de</strong> 1978 e escala 1:25.000,<br />

disponíveis na Secretaria do Mercosul, em Florianópolis.<br />

Todas as fotografias aéreas foram digitalizadas com resolução<br />

<strong>de</strong> 600 dpi.<br />

Foi feita interpretação da cobertura vegetal das fotografias<br />

(fotointerpretação) comparando-se a posição, textura, impressões<br />

<strong>de</strong> altura e nuanças <strong>de</strong> coloração. Para auxiliar nesse processo,<br />

efetuou-se, em campo, anotações sobre a ocorrência dos<br />

ambientes em fotografias aéreas e <strong>de</strong>scrições (com documentação<br />

fotográfica) <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 100 pontos georreferenciados. As<br />

fotografias aéreas do Paraná foram fotointerpretadas mediante<br />

observação direta auxiliada por lupa (20x) e na tela do computador,<br />

on<strong>de</strong> cada foto foi ampliada até aproximadamente a<br />

escala 1:8.000. As <strong>de</strong> Santa Catarina foram fotointerpretadas<br />

com a sua ampliação na tela do computador. Foi feita conferência<br />

em campo da fotointerpretação, constatando-se acurácia<br />

<strong>de</strong> quase 100%.<br />

Ambientes foram i<strong>de</strong>ntificados e <strong>de</strong>finidos, primariamente,<br />

pelos seguintes atributos: forma biológica dominante (herbácea<br />

ou arbórea), fisionomia (campestre ou florestal), localização<br />

(em região com influência direta ou indireta do nível <strong>de</strong><br />

água pelo regime das marés; entre manguezal e floresta; entre<br />

cordões <strong>de</strong> dunas; em meandros abandonados; ou sem correlação<br />

com as formações vegetacionais do entorno), histórico<br />

(no caso <strong>de</strong> brejo secundário) e dominância <strong>de</strong> espécie botânica<br />

(no caso dos ambientes com estrato superior arbóreo).<br />

Para nomear esses ambientes, uma vez que não se encontrou<br />

uma nomenclatura totalmente aplicável, criaram-se termos e,<br />

da literatura, tomaram-se alguns literalmente e adaptaram-se<br />

outros.<br />

Brejo secundário foi consi<strong>de</strong>rado para fotointerpretação<br />

somente quando se localizava próximo dos <strong>de</strong>mais ambientes<br />

avaliados (distantes até cerca <strong>de</strong> 8 km). Tratou-se como<br />

tal brejo surgido após a interferência humana em <strong>de</strong>terminado<br />

local ou que se tornou expressivo após a erradicação<br />

<strong>de</strong> cobertura arbórea <strong>de</strong> ambientes on<strong>de</strong> antes não existia ou<br />

estava oculto pelo sombreamento (e.g. sucessão regressiva <strong>de</strong><br />

caxetal, explorado, em brejo secundário). Não sendo possível<br />

distingui-lo <strong>de</strong> brejo primário na fotointerpretação, o seu reconhecimento<br />

foi feito somente pelo histórico da área.<br />

Sobre os arquivos digitais das fotografias aéreas, utilizouse<br />

do programa Auto CAD R14 para realizar a <strong>de</strong>marcação<br />

(vetorização) dos perímetros das manchas <strong>de</strong> cada ambiente<br />

fotointerpretado (polígonos). Posteriormente, os arquivos das<br />

fotos e os das vetorizações foram georreferenciados no programa<br />

ENVI 3.2, utilizando-se um mínimo <strong>de</strong> três pontos<br />

notáveis, cujas coor<strong>de</strong>nadas UTM foram tomadas mediante<br />

leitura em base cartográfica (apêndice 2). Após o georreferenciamento,<br />

efetuou-se a mosaicagem das fotografias e seus<br />

respectivos vetores, utilizando os programas ENVI 3.2 para o<br />

mosaico das fotos (base <strong>de</strong> dados Raster) e ArcView 3.2 para<br />

o mosaico dos dados vetoriais. Ainda com o uso <strong>de</strong>sse programa,<br />

realizou-se o processo <strong>de</strong> edição, que consistiu em dar<br />

integrida<strong>de</strong> e a correta atribuição quanto ao tipo <strong>de</strong> ambiente<br />

a todos os polígonos vetorizados. A partir <strong>de</strong> então, obteve-se<br />

a área (em ha) <strong>de</strong>sses polígonos. Esses processos foram feitos<br />

apenas com o material do Paraná e <strong>de</strong> uma reduzida área adjacente<br />

em Santa Catarina (rio São João).<br />

Utilizando-se do programa ArcView 3.2, editou-se o<br />

mosaico <strong>de</strong> fotografias aéreas e respectivos vetores do Paraná<br />

e <strong>de</strong> uma reduzida área adjacente em Santa Catarina (rio São<br />

João) para impressão em papel formato A‐3, ampliado na<br />

escala 1:20.000 (fotocarta). Impressas, as fotocartas foram<br />

dispostas em seqüência para possibilitar a análise da distribuição,<br />

posição e dimensão (obtida em metros a partir da escala)<br />

dos distintos ambientes. Nas fotocartas ainda <strong>de</strong>limitou-se a<br />

efetiva área <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> S. acutirostris, uma vez que se<br />

fotointerpretou ambientes que se verificaram sem registro da<br />

espécie. Feito isso, restringiu-se o levantamento da área <strong>de</strong><br />

ambientes para aqueles ocupados ou supostamente ocupados


Distribuição, tamanho populacional, hábitat e conservação do bicudinho-do-brejo<br />

Stymphalornis acutirostris Bornschein, Reinert e Teixeira, 1995 (Thamnophilidae)<br />

497<br />

pela espécie, obtendo-se a “área <strong>de</strong> ocupação” no Paraná (area<br />

of occupancy, sensu BirdLife International 2000).<br />

O levantamento da área <strong>de</strong> ocupação <strong>de</strong> S. acutirostris em<br />

Santa Catarina, igualmente restringido conforme os resultados<br />

sobre a distribuição da espécie no estado, estimou-se a partir<br />

da inferência do percentual ocupado pelos ambientes fotointerpretados<br />

em cada fotografia aérea analisada.<br />

As ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fotointerpretação e vetorização foram efetuadas<br />

por M.R.B., enquanto que as <strong>de</strong>mais, acima mencionadas,<br />

o foram por técnicos contratados (vi<strong>de</strong> “Agra<strong>de</strong>cimentos”).<br />

A distribuição dos locais <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> S. acutirostris,<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte dos tipos <strong>de</strong> ambientes, foi esquematizada em<br />

acetato sobre cartas topográficas na escala 1:250.000, visandose<br />

gerar os menores polígonos que englobassem toda a região<br />

<strong>de</strong> dispersão da espécie. Esses polígonos e aquelas cartas foram<br />

digitalizados com o uso do programa Spring e, com o uso do<br />

programa Microstation, quantificou-se a área dos polígonos,<br />

gerando-se o dado “extensão <strong>de</strong> ocorrência” da espécie (extent<br />

of occurrence, sensu BirdLife International 2000).<br />

Definição do status <strong>de</strong> conservação. Confrontaram-se informações<br />

sobre a distribuição geográfica <strong>de</strong> S. acutirostris, área<br />

<strong>de</strong> ocupação, extensão <strong>de</strong> ocorrência, ambientes <strong>de</strong> ocorrência,<br />

estimativa populacional e impactos observados com os critérios<br />

para a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> espécies ameaçadas <strong>de</strong> extinção da<br />

União Internacional para a Conservação da Natureza – UICN<br />

(in BirdLife International 2000). Atentou-se para a presença<br />

<strong>de</strong> impactos nas áreas <strong>de</strong> ocorrência da espécie, tanto naturais<br />

quanto <strong>de</strong> origem antrópica. Havendo presença <strong>de</strong> espécies<br />

exóticas, o nível <strong>de</strong> contaminação biológica foi avaliado<br />

da seguinte forma: percentual do ambiente invadido, valores<br />

dos parâmetros fitossociológicos cobertura e sociabilida<strong>de</strong> das<br />

exóticas, conforme a adaptação <strong>de</strong> Braun-Blanquet (1979),<br />

<strong>de</strong>talhada anteriormente, e intensida<strong>de</strong> do impacto. Informações<br />

sobre impactos foram colhidas em campo até 2005.<br />

Resultados<br />

Ambientes <strong>de</strong> ocorrência. Confrontando observações <strong>de</strong><br />

campo, informações da literatura e resultantes <strong>de</strong> fotointerpretação,<br />

distinguiram-se oito ambientes primários ocupados<br />

por S. acutirostris, dos quais quatro são herbáceos (brejos) e<br />

quatro apresentam um estrato superior arbóreo e um inferior<br />

herbáceo com espécies características <strong>de</strong> brejos. Conhecendo<br />

o histórico <strong>de</strong> certos locais alterados pela ação humana, incorporou-se,<br />

como um nono ambiente ocupado pela espécie, uma<br />

formação herbácea secundária (brejo secundário). Segundo os<br />

critérios para a classificação da vegetação brasileira do Projeto<br />

Radambrasil (in Veloso et al. 1991, IBGE 1992), caracterizam-se<br />

como Formação Pioneira <strong>de</strong> Influência Fluvial, Formação<br />

Pioneira <strong>de</strong> Influência Fluviomarinha e/ou Formação<br />

Pioneira <strong>de</strong> Influência Lacustre (tabela 1).<br />

Os nove ambientes ocupados por S. acutirostris ocorrem<br />

como manchas ou faixas estreitas, que, no Paraná, variaram<br />

<strong>de</strong> 0,001 a 203,0 ha. No Paraná, totalizaram 4.856,67 ha, dos<br />

quais 1.607,82 ha <strong>de</strong> ambientes herbáceos (33,1% do total no<br />

estado) e 3.248,85 ha <strong>de</strong> ambientes com estrato superior arbóreo<br />

e inferior herbáceo com espécies <strong>de</strong> brejos (66,9% do total<br />

no estado; tabela 2). Localizam-se principalmente no interior<br />

<strong>de</strong> baías e nos trechos a jusante <strong>de</strong> rios que nelas <strong>de</strong>ságuam,<br />

em planícies aluviais inundadas e entre cordões <strong>de</strong> dunas em<br />

planície quaternária costeira.<br />

Naqueles nove ambientes, na região <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong><br />

S. acutirostris, registrou-se 134 espécies botânicas pertencentes<br />

a 60 famílias (vi<strong>de</strong> listagem em Reinert 2001), <strong>de</strong>ntre as<br />

quais Cyperaceae foi representada por 25 espécies, Poaceae<br />

por 14, Asteraceae por nove, Fabaceae por seis e Myrtaceae<br />

por cinco espécies. Quanto à forma biológica, 96 espécies<br />

são herbáceas, 22 são arbóreas, 13 são trepa<strong>de</strong>iras e três são<br />

arbustivas. Nos ambientes herbáceos (brejos), registraram-se<br />

125 espécies botânicas (93% do total). Naqueles com estrato<br />

superior arbóreo e inferior herbáceo com espécies <strong>de</strong> brejos,<br />

registrou-se 46 espécies botânicas (34% do total) pertencentes<br />

a 26 famílias, <strong>de</strong>ntre as quais Cyperaceae foi representada por<br />

11 espécies, Poaceae por oito e Myrtaceae por quatro espécies.<br />

Dessas, 23 são herbáceas, 13 são arbóreas, três são arbustivas<br />

e três são trepa<strong>de</strong>iras.<br />

Stymphalornis acutirostris não foi registrado em locais,<br />

próximos a manguezais, vegetados somente pela cebolama<br />

(Crinum salsum) ou praturá (Spartina alterniflora), esses<br />

<strong>de</strong>nominados <strong>de</strong> marismas e campo salino (Veloso et al. 1991,<br />

Angulo 1992, IBGE 1992). Também não foi registrado em<br />

manguezais contendo somente as herbáceas C. salsum, outra<br />

Tabela 1. Ambientes ocupados pelo bicudinho-do-brejo (Stymphalornis<br />

acutirostris) e suas <strong>de</strong>nominações segundo os critérios para a classificação<br />

da vegetação brasileira propostos pelo Projeto Radambrasil (in Veloso et al.<br />

1991, IBGE 1992).<br />

Table 1. Habitats with occurrence of the Marsh Antwren (Stymphalornis<br />

acutirostris) and its <strong>de</strong>nomination according to the classification criteria of the<br />

Brazilian vegetation, proposed by the Radambrasil Project (in Veloso et al.<br />

1991, IBGE 1992).<br />

Termo nesse estudo 1<br />

Brejo <strong>de</strong> capim-serra<br />

Brejo <strong>de</strong> maré<br />

Brejo intercordão<br />

Brejo <strong>de</strong> meandro<br />

Manguezal com<br />

herbáceas<br />

Guanandizal com<br />

herbáceas<br />

Caxetal com herbáceas<br />

Ariticunzal com<br />

herbáceas<br />

Termo segundo o Projeto Radambrasil<br />

Formação Pioneira <strong>de</strong> Influência Fluviomarinha<br />

Formação Pioneira <strong>de</strong> Influência Fluviomarinha<br />

Formação Pioneira <strong>de</strong> Influência Fluvial<br />

Formação Pioneira <strong>de</strong> Influência Lacustre<br />

Formação Pioneira <strong>de</strong> Influência Fluvial<br />

Formação Pioneira <strong>de</strong> Influência Lacustre<br />

Formação Pioneira <strong>de</strong> Influência Fluviomarinha<br />

Formação Pioneira <strong>de</strong> Influência Fluviomarinha<br />

Formação Pioneira <strong>de</strong> Influência Lacustre<br />

Formação Pioneira <strong>de</strong> Influência Fluvial<br />

Formação Pioneira <strong>de</strong> Influência Lacustre<br />

Formação Pioneira <strong>de</strong> Influência Fluviomarinha 2<br />

Formação Pioneira <strong>de</strong> Influência Fluvial<br />

1<br />

“Brejo secundário”, citado no estudo, po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>nominado pelos critérios do<br />

Projeto Radambrasil consi<strong>de</strong>rando-se os locais on<strong>de</strong> se formaram.<br />

2<br />

De ocorrência muito local.


498 Bianca Luiza Reinert, Marcos Ricardo Bornschein e Carlos Firkowski<br />

Tabela 2. Área <strong>de</strong> ocupação 1 do bicudinho-do-brejo (Stymphalornis acutirostris) por ambiente <strong>de</strong> ocorrência nas cinco populações da espécie no Estado do<br />

Paraná (sul do Brasil).<br />

Table 2. Area of occupancy of the Marsh Antwren (Stymphalornis acutirostris) per habitat of occurrence in the five populations of the species in Paraná state<br />

(southern Brazil).<br />

Ambiente<br />

baía <strong>de</strong><br />

Antonina<br />

rio<br />

Nhundiaquara<br />

Área por população (ha)<br />

rio<br />

Guaraguaçu<br />

balneário<br />

Flórida<br />

baía <strong>de</strong><br />

Guaratuba<br />

Área por<br />

ambiente (ha)<br />

(herbáceo)<br />

Brejo <strong>de</strong> capim-serra 0,0 0,0 38,47 0,0 122,58 161,05<br />

Brejo <strong>de</strong> maré 396,21 222,34 29,48 0,0 667,43 1.315,46<br />

Brejo intercordão 0,0 0,0 0,0 6,38 0,0 6,38<br />

Brejo <strong>de</strong> meandro 29,38 9,39 0,0 0,0 66,51 105,28<br />

Brejo secundário 0,0 14,26 0,11 0,0 5,28 19,65<br />

(com um estrato superior arbóreo e um inferior herbáceo com espécies dos brejos)<br />

Manguezal com herbáceas 305,64 93,55 55,51 0,0 848,51 1.302,23<br />

Guanandizal com herbáceas 560,97 208,28 0,0 0,0 327,85 1.098,08<br />

Caxetal com herbáceas 38,87 0,0 7,64 0,0 793,87 840,38<br />

Ariticunzal com herbáceas 0,0 0,0 0,0 0,0 8,16 8,16<br />

Área <strong>de</strong> ambientes herbáceos 425,59 245,99 68,06 6,38 861,80 —<br />

Área <strong>de</strong> ambientes arbóreos com herbáceas 905,48 301,83 63,15 0,0 1.978,39 —<br />

Área total por população 1.331,07 547,82 131,21 6,38 2.840,19 —<br />

Área total <strong>de</strong> ambientes herbáceos das cinco populações 1.607,82<br />

Área total <strong>de</strong> ambientes com um estrato superior arbóreo e um inferior herbáceo das cinco populações 3.248,85<br />

Área total <strong>de</strong> todos os ambientes das cinco populações 4.856,67<br />

1<br />

Área efetivamente habitada (area of occupancy) por uma <strong>de</strong>terminada espécie <strong>de</strong>ntro da extensão <strong>de</strong> ocorrência (extent of occurrence).<br />

espécie <strong>de</strong> praturá (S. <strong>de</strong>nsiflora) ou samambaia-do-mangue<br />

(Acrostichum danaefolium) no estrato inferior (para complementações<br />

a respeito, vi<strong>de</strong> “Brejo <strong>de</strong> maré” e “Manguezal<br />

com herbáceas” abaixo). A seguir, os nove ambientes <strong>de</strong><br />

ocorrência <strong>de</strong> S. acutirostris são <strong>de</strong>finidos e <strong>de</strong>scritos quanto a<br />

alguns aspectos. As <strong>de</strong>scrições, distribuições, áreas e riquezas<br />

florísticas apresentadas referem-se ao observado na região <strong>de</strong><br />

distribuição geográfica da espécie.<br />

Brejo <strong>de</strong> capim-serra. Formação aberta dominada por herbáceas<br />

situada entre floresta e manguezal (figuras 2 e 3),<br />

na forma <strong>de</strong> longas e estreitas faixas. Não apresenta coluna<br />

d’água, exceto quando ocorrem marés altas <strong>de</strong> sizígia e <strong>de</strong><br />

tormenta. Apresenta elevada <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> indivíduos, cobre<br />

quase sempre 100% da superfície do solo e me<strong>de</strong> entre 0,7 e<br />

2,5 m <strong>de</strong> altura. No sentido da floresta ao manguezal, a vegetação<br />

<strong>de</strong>cresce em altura e <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>. O capim-serra (Cladium<br />

mariscus) é a espécie dominante. São comuns samambaiado-brejo<br />

(Blechnum serrulatum), paina (Corta<strong>de</strong>ria selloana)<br />

próxima à floresta, Fimbristylis spadicea próximo ao manguezal,<br />

arbustos <strong>de</strong> uvira (Hibiscus pernambucensis), arvoretas <strong>de</strong><br />

ariticum-do-brejo (Annona glabra), capororoquinha (Rapanea<br />

parvifolia), aroeira (Schinus terebinthifolius) e jerivá (Syagrus<br />

romanzoffiana). O termo foi adaptado do “zona <strong>de</strong> Cladium”,<br />

<strong>de</strong> Angulo (1990) e Angulo e Müller (1990).<br />

Ocorre disperso no Paraná e em Santa Catarina, normalmente<br />

na forma <strong>de</strong> faixas que atingem mais <strong>de</strong> 1 km <strong>de</strong><br />

extensão e, conforme medição em campo no Paraná, apenas<br />

1 m <strong>de</strong> largura. Na região <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> S. acutirostris no<br />

Paraná, ocupou uma área <strong>de</strong> 161,05 ha (3,3% <strong>de</strong> todos os nove<br />

ambientes e 10,0% dos herbáceos no estado; tabela 2). Nesse<br />

ambiente, registraram-se 41 espécies botânicas pertencentes a<br />

25 famílias, das quais Cyperaceae foi representada por sete<br />

espécies, Myrtaceae por quatro e Asteraceae por três. Quanto à<br />

forma biológica, 17 espécies são herbáceas, 16 arbóreas, cinco<br />

trepa<strong>de</strong>iras e três são arbustivas.<br />

Brejo <strong>de</strong> maré. Formação aberta dominada por herbáceas<br />

(figura 4) localizada em regiões que sofrem influência direta<br />

ou indireta do nível d’água <strong>de</strong>vido ao regime das marés. A<br />

vegetação <strong>de</strong>senvolve-se on<strong>de</strong> a presença <strong>de</strong> coluna d’água<br />

é constante, periódica (<strong>de</strong> acordo com as marés) ou eventual<br />

Figura 2. Vista aérea <strong>de</strong> brejo <strong>de</strong> capim-serra (A), entre manguezal (B) e<br />

floresta (C) (município <strong>de</strong> Paranaguá, Paraná). Foto: T. <strong>de</strong> Mesquita Fialho.<br />

Figure 2. Aerial view of saw grass marsh (A), between mangrove (B) and<br />

forest (C) (municipality of Paranaguá, Paraná state). Photo: T. <strong>de</strong> Mesquita<br />

Fialho.


Distribuição, tamanho populacional, hábitat e conservação do bicudinho-do-brejo<br />

Stymphalornis acutirostris Bornschein, Reinert e Teixeira, 1995 (Thamnophilidae)<br />

499<br />

Figura 3. Fotocarta do interior da baía <strong>de</strong> Guaratuba, Paraná, com a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> cinco dos nove ambientes <strong>de</strong> ocorrência do bicudinho-do-brejo (Stymphalornis<br />

acutirostris): brejo <strong>de</strong> maré (vermelho), brejo <strong>de</strong> capim-serra (azul), brejo secundário (ver<strong>de</strong>-escuro), manguezal com herbáceas (amarelo) e guanandizal com<br />

herbáceas (ver<strong>de</strong>-claro).<br />

Figure 3. Map of the interior of the Guaratuba Bay, Paraná state, with the i<strong>de</strong>ntification of five of the nine Marsh Antwren (Stymphalornis acutirostris)<br />

occurrence habitats: tidal marsh (red), saw grass marsh (blue), “secondary marsh” (dark green), mangrove with herbaceous plants (yellow) and “guanandizal”<br />

with herbaceous plants (light green).<br />

Figura 4. Brejo <strong>de</strong> maré, localmente dominado por piri (Scirpus californicus)<br />

e cebolama (Crinum salsum) (base) (baía <strong>de</strong> Guaratuba, Paraná). Foto:<br />

M.R.B.<br />

Figure 4. Tidal marsh, locally dominated by bulrush (Scirpus californicus)<br />

and Crinum salsum (bottom) (Guaratuba Bay, Paraná state). Photo:<br />

M.R.B.<br />

(como conseqüência <strong>de</strong> enchentes, no caso <strong>de</strong> brejos <strong>de</strong> maré<br />

totalmente flutuantes). Apresenta <strong>de</strong> baixa à elevada <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> indivíduos, cobre entre 80 e 100% da superfície do<br />

solo e me<strong>de</strong> entre 0,5 e 3 m <strong>de</strong> altura. Domina uma ou algumas<br />

espécies, como piri (Scirpus californicus), Crinum salsum,<br />

chapéu-<strong>de</strong>-couro (Echinodorus grandiflorus), capim-pernambuco<br />

(Panicum sp. cf. P. mertensii), milho-d’água (Zizaniopsis<br />

microstachya) e a exótica braquiária (Urochloa arrecta =<br />

Brachiaria subquadripara). É esperado que em locais on<strong>de</strong><br />

o ambiente esteja se formando, possa haver outras espécies<br />

dominando e com alturas inferiores ao citado. Ocorre com<br />

certa expressivida<strong>de</strong>, pontualmente, Cladium mariscus, Acrostichum<br />

danaefolium, arbustos <strong>de</strong> Hibiscus pernambucensis e<br />

árvores ou arvoretas <strong>de</strong> mangue-vermelho (Laguncularia<br />

racemosa), guanandi (Calophyllum brasiliense), Annona glabra<br />

e caxeta (Tabebuia cassinoi<strong>de</strong>s). O termo “brejo <strong>de</strong> maré”<br />

foi criado por Angulo (1990) e Angulo e Müller (1990).<br />

Pela presente <strong>de</strong>finição, o brejo <strong>de</strong> maré <strong>de</strong>ve ter pelo<br />

menos duas espécies vegetais, ou uma só <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que locais com


500 Bianca Luiza Reinert, Marcos Ricardo Bornschein e Carlos Firkowski<br />

duas ou mais ocorram nas proximida<strong>de</strong>s. Assim, não se enquadram<br />

como brejo <strong>de</strong> maré áreas associadas a manguezais, e<br />

sem registro <strong>de</strong> S. acutirostris, on<strong>de</strong> ocorre apenas Spartina<br />

alterniflora ou Crinum salsum. Essas áreas observaram-se nas<br />

porções mais exteriores das baías, muito distantes <strong>de</strong> locais<br />

com pelo menos duas espécies <strong>de</strong> herbáceas.<br />

O brejo <strong>de</strong> maré ocorre no interior das baías (figura 3) e<br />

em praticamente todas as áreas on<strong>de</strong> existem rios <strong>de</strong> água doce<br />

ou salobra (vi<strong>de</strong> Jakobi 1953), no Paraná e em Santa Catarina.<br />

Apresenta-se como manchas ou faixas <strong>de</strong> diferentes tamanhos,<br />

sendo que, como manchas, aparece muitas vezes na margem<br />

<strong>de</strong> agradação dos rios e, como faixas, nas margens <strong>de</strong> rios<br />

sinuosos, morfologia típica que assumem os rios influenciados<br />

pelo regime das marés (Angulo 1992). Na região <strong>de</strong> ocorrência<br />

<strong>de</strong> S. acutirostris no Paraná, ocupou uma área <strong>de</strong> 1.315,46 ha<br />

(27,1% <strong>de</strong> todos os nove ambientes e 81,8% dos herbáceos<br />

no estado; tabela 2). Registraram-se 85 espécies botânicas no<br />

ambiente, pertencentes a 47 famílias, das quais Cyperaceae<br />

foi representada por 12 espécies, Poaceae por nove, Asteraceae<br />

por cinco e Fabaceae por quatro. Sessenta e duas espécies<br />

são herbáceas, 12 arbóreas, nove trepa<strong>de</strong>iras e duas são<br />

arbustivas.<br />

Rumo ao interior dos estuários e à montante dos rios, os<br />

brejos <strong>de</strong> maré sofrem um crescente incremento na riqueza <strong>de</strong><br />

espécies botânicas e, também, na <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vegetação. Em<br />

uma análise florística realizada no interior da baía <strong>de</strong> Guaratuba<br />

(ilha do Chapeuzinho, 25°52’00.4”S, 48°43’25.9”W),<br />

<strong>de</strong>tectaram-se apenas cinco espécies, tendo ocorrido <strong>de</strong> uma<br />

a quatro por parcela <strong>de</strong> 1 m 2 . Já a 5 km <strong>de</strong>ste local (ilha do<br />

Jundiaquara, 25°52’27.9”S, 48°45’33.1”W), à montante no rio<br />

São João, registraram-se 12 espécies, tendo ocorrido <strong>de</strong> uma<br />

a oito por parcela <strong>de</strong> 1 m 2 . Mais à montante ainda no rio São<br />

João (ponte da SANEPAR, 25°55’19.8”S, 48°46’57.0”W),<br />

registraram-se 26 espécies, tendo ocorrido <strong>de</strong> cinco a 17 por<br />

parcela <strong>de</strong> 1 m 2 . Local pobre em espécies botânicas dominado<br />

por Scirpus californicus, como no interior das baías, recebe o<br />

nome popular <strong>de</strong> “pirizal”.<br />

Brejo intercordão. Formação aberta dominada por herbáceas,<br />

localizada na planície costeira entre cordões <strong>de</strong> dunas <strong>de</strong> origem<br />

marinha, on<strong>de</strong> acumula água pluvial raramente drenada<br />

por riachos temporários ou mesmo perenes, e que não sofrem<br />

influência do nível d’água pelo regime das marés. Desenvolve-se<br />

on<strong>de</strong> a presença <strong>de</strong> coluna <strong>de</strong> água é constante, sazonal<br />

(no período das chuvas) ou eventual (como conseqüência<br />

<strong>de</strong> enchentes). Essa última situação, na qual normalmente<br />

inexiste coluna <strong>de</strong> água superficial, ocorre quando o brejo<br />

intercordão é flutuante. Apresenta elevada <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> indivíduos,<br />

cobre normalmente 100% da superfície do solo e apresenta<br />

entre 1,5 e 3 m <strong>de</strong> altura. Compõe-se por uma ou várias<br />

espécies dominantes, como taboa (Typha domingensis), Cladium<br />

mariscus, Fuirena umbellata, Blechnum serrulatum e a<br />

exótica braquiária (Brachiaria mutica). Quando esse ambiente<br />

está se formando, é usual haver o domínio <strong>de</strong> outras espécies,<br />

como Eleocharis interstincta e E. mutata, que po<strong>de</strong>m apresentar<br />

médias <strong>de</strong> altura inferiores ao citado. Árvores <strong>de</strong> Tabebuia<br />

cassinoi<strong>de</strong>s e arvoretas <strong>de</strong> Annona glabra, Schinus terebinthifolius<br />

e araçá (Psidium cattleianum), entre outras, muitas vezes<br />

acham-se presentes. O termo brejo intercordão foi criado por<br />

Angulo (1992), embora <strong>de</strong>sacompanhado <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>finição<br />

propriamente dita.<br />

Brejo intercordão, na região <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> S. acutirostris,<br />

ocorre ao longo dos cerca <strong>de</strong> 35 km <strong>de</strong> costa entre Pontal<br />

do Sul e Matinhos, Paraná. Distribui-se na forma <strong>de</strong> manchas<br />

e, principalmente, <strong>de</strong> longas e estreitas faixas. Originalmente,<br />

a maior atingia 13,5 km (M.R.B. e B.L.R., inf. pess.; vi<strong>de</strong><br />

Angulo 1992). Em 1980, a maior mediu 3,3 km <strong>de</strong> comprimento<br />

por 80 m <strong>de</strong> largura máxima. Uma outra mais curta,<br />

no entanto, a superou em largura, medindo 140 m. Totalizava,<br />

originalmente, uma área <strong>de</strong> 274,74 ha (M.R.B. e B.L.R., inf.<br />

pess.), reduzidos por ocupação urbana a 127,83 ha em 1980.<br />

Dos quase 275 ha, supostamente ocupados por S. acutirostris<br />

no passado, atualmente há ocorrência da espécie em 6,38 ha<br />

(0,1% <strong>de</strong> todos os nove ambientes e 0,4% dos herbáceos no<br />

Paraná; tabela 2) (vi<strong>de</strong> “População do balneário Flórida”<br />

abaixo). Registraram-se 54 espécies botânicas pertencentes a<br />

29 famílias no brejo intercordão, <strong>de</strong>ntre as quais Cyperaceae<br />

foi representada por 12 espécies, Asteraceae por cinco e Poaceae<br />

por quatro. Quarenta espécies são herbáceas, oito são trepa<strong>de</strong>iras<br />

e seis são arbóreas.<br />

Brejo <strong>de</strong> meandro. Formação aberta dominada por herbáceas<br />

que ocorre em meandros e canais abandonados; por estarem<br />

isolados, eles não recebem aporte <strong>de</strong> água do rio <strong>de</strong> origem,<br />

exceto quando esse extrapola o seu leito em períodos <strong>de</strong> cheia.<br />

A presença <strong>de</strong> coluna <strong>de</strong> água na vegetação é sazonal, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo<br />

da pluviosida<strong>de</strong>, ou eventual, como conseqüência <strong>de</strong><br />

enchentes em brejos <strong>de</strong> meandro flutuantes (nessa situação, não<br />

há coluna d’água superficial). Apresenta elevada <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

indivíduos, cobre normalmente 100% da superfície do solo e<br />

tem entre 1,5 e 2,5 m <strong>de</strong> altura. Como espécies dominantes<br />

tem-se Typha domingensis, Eleocharis interstincta, a exótica<br />

Urochloa arrecta e o exótico lírio-do-brejo (Hedychium coronarium).<br />

O termo brejo <strong>de</strong> meandro é aqui proposto.<br />

O ambiente ocorre em meandros <strong>de</strong> rios como o Pequeno,<br />

Cachoeira (município <strong>de</strong> Antonina), Nhundiaquara (município<br />

<strong>de</strong> Morretes), Cubatãozinho e Cubatão (município <strong>de</strong><br />

Guaratuba), no Paraná, São João (municípios <strong>de</strong> Guaratuba e<br />

Garuva), no Paraná e em Santa Catarina, e Itapocu (municípios<br />

<strong>de</strong> Araquari, São João do Itaperiú e Barra Velha, pelo menos),<br />

em Santa Catarina. Na região <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> S. acutirostris<br />

no Paraná, totalizou-se 105,28 ha <strong>de</strong> brejo <strong>de</strong> meandro (2,2%<br />

<strong>de</strong> todos os nove ambientes e 6,6% dos herbáceos no estado;<br />

tabela 2). Registraram-se 13 espécies botânicas pertencentes a<br />

nove famílias no ambiente, das quais 11 são herbáceas e duas<br />

são trepa<strong>de</strong>iras.<br />

Brejo secundário. Desenvolve-se da mesma maneira que os<br />

brejos primários, tanto em composição <strong>de</strong> espécies como em<br />

cobertura e altura. Por esse motivo, o seu reconhecimento é


Distribuição, tamanho populacional, hábitat e conservação do bicudinho-do-brejo<br />

Stymphalornis acutirostris Bornschein, Reinert e Teixeira, 1995 (Thamnophilidae)<br />

501<br />

feito apenas pelo histórico da área. I<strong>de</strong>ntificaram-se locais<br />

dispersos com esse ambiente no Paraná e em Santa Catarina<br />

(figura 3), como nos leitos retificados da foz dos rios Sapetanduva<br />

(divisa dos municípios <strong>de</strong> Antonina e Morretes) e Sagrado<br />

(município <strong>de</strong> Morretes), no Paraná. Na região <strong>de</strong> ocorrência<br />

<strong>de</strong> S. acutirostris nesse estado, totalizou-se 19,65 ha <strong>de</strong> brejo<br />

secundário (0,4% <strong>de</strong> todos os nove ambientes e 1,2% dos herbáceos<br />

no Paraná; tabela 2).<br />

Na Fazenda Estrela (município <strong>de</strong> Guaratuba, Paraná),<br />

registrou-se S. acutirostris em 1996 e 1997 em um brejo<br />

secundário originado pelo corte <strong>de</strong> uma floresta e parcial alagamento<br />

provocado pela drenagem <strong>de</strong>ficitária do terreno em<br />

conseqüência do aterro <strong>de</strong> uma estrada. A partir <strong>de</strong> 1998, a<br />

espécie não foi mais registrada no local, possivelmente porque<br />

as herbáceas do ambiente rarearam em função do sombreamento<br />

ocasionado pelas arbóreas, já muito abundantes e<br />

<strong>de</strong>senvolvidas na ocasião dos registros.<br />

Brejos secundários se formaram após 1980 ao longo <strong>de</strong> um<br />

trecho da PR 412 no município <strong>de</strong> Guaratuba (Paraná), quase<br />

na divisa com o município <strong>de</strong> Itapoá (Santa Catarina). Até<br />

1980, ocorriam somente algumas gran<strong>de</strong>s manchas <strong>de</strong> caxetal<br />

com herbáceas próximas da PR 412 (vi<strong>de</strong> “Caxetal com herbáceas”<br />

abaixo). Provavelmente parte <strong>de</strong>sse ambiente e mesmo<br />

trechos <strong>de</strong> floresta adjacente sofreram sucessão regressiva<br />

para brejo secundário pela extração <strong>de</strong> Tabebuia cassinoi<strong>de</strong>s<br />

e pela construção <strong>de</strong> estradas, as quais certamente alteraram a<br />

drenagem do local. Stymphalornis acutirostris ocorre em parte<br />

dos brejos secundários daquele trecho da PR 412, como em<br />

Olaria (c. 25°58’S, 48°41’W).<br />

Manguezal com herbáceas. Formação fechada caracterizada<br />

por arbóreas típicas <strong>de</strong> manguezal no estrato superior e pela<br />

existência <strong>de</strong> um estrato inferior <strong>de</strong> herbáceas e arbustivas,<br />

localizada em terrenos que sofrem inundações regulares <strong>de</strong><br />

acordo com o regime das marés. As árvores apresentam o dossel<br />

entre cerca <strong>de</strong> 3 e 5 m <strong>de</strong> altura e cobrem normalmente<br />

100% da superfície do solo, mas em certos locais acham-se algo<br />

espaçadas ou mesmo isoladas, cobrindo percentuais menores.<br />

O estrato inferior tem em torno <strong>de</strong> 0,5 a 1,8 m <strong>de</strong> altura, mas<br />

por vezes os arbustos, apoiados nas árvores, me<strong>de</strong>m até 3,5 m.<br />

Compõe-se <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> indivíduos isolados uns dos outros<br />

por até alguns metros, ou mais a<strong>de</strong>nsados, quando cobrem até<br />

aproximadamente 50% da superfície do solo, consi<strong>de</strong>rando<br />

a área ocupada pelos grupos. Em algumas situações, on<strong>de</strong> a<br />

cobertura arbórea é menor, ocorrem concentrações <strong>de</strong> herbáceas<br />

e arbustivas, que chegam a cobrir 100% do solo. Os elementos<br />

arbóreos são mangue-preto (Avicennia schaueriana),<br />

canapuva (Rhizophora mangle) e Laguncularia racemosa, que<br />

é dominante. As herbáceas dominantes são Acrostichum danaefolium<br />

e Crinum salsum, e a arbustiva dominante é Hibiscus<br />

pernambucensis. O estrato inferior <strong>de</strong>ve ter pelo menos duas<br />

espécies, ou uma só <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que locais com duas ou mais ocorram<br />

nas proximida<strong>de</strong>s. O termo manguezal com herbáceas foi<br />

adaptado do “manguezal com Acrostichum e Hibiscus”, criado<br />

por Angulo (1990) e Angulo e Müller (1990).<br />

Em <strong>de</strong>corrência da <strong>de</strong>finição, não se consi<strong>de</strong>rou como<br />

manguezal com herbáceas os manguezais com estrato inferior<br />

composto apenas por Acrostichum danaefolium, Spartina <strong>de</strong>nsiflora<br />

ou Crinum salsum. As situações com essas duas últimas<br />

espécies ocorrem em alguns pontos mais para o exterior<br />

das baías, enquanto que as com a primeira em locais situados<br />

mais para o interior das baías.<br />

Esse ambiente distribui-se principalmente na forma <strong>de</strong><br />

manchas ou áreas mais contínuas na confluência dos rios do<br />

Neves e Nhundiaquara (divisa dos municípios <strong>de</strong> Antonina e<br />

Morretes) e no interior das baías <strong>de</strong> Antonina e <strong>de</strong> Guaratuba<br />

(figura 3), no Paraná, e na baía da Babitonga (ou <strong>de</strong> São Francisco),<br />

em Santa Catarina. Na região <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> S. acutirostris<br />

no Paraná, totalizou-se 1.302,23 ha <strong>de</strong> manguezal com<br />

herbáceas (26,8% <strong>de</strong> todos os nove ambientes e 40,1% dos<br />

arbóreos com herbáceas no estado; tabela 2). Registraram-se<br />

14 espécies botânicas pertencentes a 11 famílias no ambiente,<br />

<strong>de</strong>ntre as quais Cyperaceae foi representada por três espécies e<br />

Poaceae por duas. Sete espécies são herbáceas, cinco arbóreas<br />

e duas são arbustivas.<br />

Guanandizal com herbáceas. Formação fechada caracterizada<br />

pela arbórea Calophyllum brasiliense e pela existência <strong>de</strong><br />

estrato inferior dominado por herbáceas e arbustivas (figura 5),<br />

principalmente Cladium mariscus, Crinum salsum, Panicum<br />

sp. cf. P. mertensii e Hibiscus pernambucensis. Calophyllum<br />

brasiliense quase sempre é a única arbórea existente, mas por<br />

vezes ocorre com outras, das quais se <strong>de</strong>staca Annona glabra.<br />

As árvores apresentam dossel entre cerca <strong>de</strong> 3,5 e 8 m e suas<br />

copas po<strong>de</strong>m estar isoladas umas das outras, embora próximas,<br />

ou tocando-se parcial ou totalmente, situação que con-<br />

Figura 5. Guanandizal com herbáceas. Observa-se uvira (Hibiscus<br />

pernambucensis), piri (Scirpus californicus), cebolama (Crinum salsum),<br />

capim-milhã-do-brejo (Hymenachne donacifolia) e troncos <strong>de</strong> guanandi<br />

(Calophyllum brasiliense) (rio São Joãozinho Feliz, município <strong>de</strong> Antonina,<br />

Paraná). Foto: B.L.R.<br />

Figure 5. “Guanandizal” with herbaceous plants. It’s noted Hibiscus<br />

pernambucensis, bulrush (Scirpus californicus), Crinum salsum, Hymenachne<br />

donacifolia and Calophyllum brasiliense trunks (São Joãozinho Feliz river,<br />

municipality of Antonina, Paraná stare). Photo: B.L.R.


502 Bianca Luiza Reinert, Marcos Ricardo Bornschein e Carlos Firkowski<br />

fere uma cobertura <strong>de</strong> 100% ou pouco menos da superfície<br />

do solo. O estrato inferior apresenta grupos <strong>de</strong> indivíduos que<br />

po<strong>de</strong>m estar isolados uns dos outros por curtas distâncias, ou<br />

bem a<strong>de</strong>nsados, cobrindo normalmente entre 20 e 50% ou até<br />

100% da superfície do solo, e tem cerca <strong>de</strong> 1 a 2 m <strong>de</strong> altura. O<br />

ambiente normalmente ocorre em terrenos que sofrem inundações<br />

regulares <strong>de</strong> acordo com o regime das marés, mas também<br />

em meandros abandonados <strong>de</strong> rios. O termo guanandizal com<br />

herbáceas substitui o “pântano <strong>de</strong> maré” <strong>de</strong> Angulo (1990) e<br />

Angulo e Müller (1990).<br />

Ocorre ao longo das margens <strong>de</strong> muitos rios, na forma <strong>de</strong><br />

manchas <strong>de</strong> diferentes tamanhos, ocupando uma posição intermediária<br />

entre manguezais com herbáceas (mais a jusante) e<br />

florestas (mais a montante) (figura 3). Ocorre, ainda, em alguns<br />

meandros abandonados <strong>de</strong> rios. Os principais locais <strong>de</strong> ocorrência<br />

do ambiente situam-se no interior da baía <strong>de</strong> Antonina<br />

(foz dos rios Cachoeira, Barrela, Lagoinha, Cacatu, do Meio,<br />

das Pedras, da Moenda e Curitibaíba), na região da foz do rio<br />

São Joãozinho Feliz e confluência dos rios do Neves e Nhundiaquara<br />

(municípios <strong>de</strong> Antonina e Morretes), no interior da<br />

baía <strong>de</strong> Guaratuba (rio São João <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua porção inferior<br />

até a foz, incluindo pequenos afluentes, e ilhas do Chapéu e<br />

do Chapeuzinho) e no interior da baía da Babitonga (rio Palmital<br />

no município <strong>de</strong> Garuva). Essa última área situa-se em<br />

Santa Catarina e as <strong>de</strong>mais no Paraná. Na região <strong>de</strong> ocorrência<br />

<strong>de</strong> S. acutirostris no Paraná, totalizou-se 1.098,08 ha <strong>de</strong> guanandizal<br />

com herbáceas (22,6% <strong>de</strong> todos os nove ambientes<br />

e 33,8% dos arbóreos com herbáceas no estado; tabela 2).<br />

Registraram-se 19 espécies botânicas pertencentes a 13 famílias<br />

no ambiente, <strong>de</strong>ntre as quais Cyperaceae foi representada<br />

por quatro espécies, Poaceae por três e Myrtaceae por duas.<br />

Dez espécies são herbáceas, seis arbóreas, duas arbustivas e<br />

uma é trepa<strong>de</strong>ira.<br />

Caxetal com herbáceas. Formação fechada que se caracteriza<br />

pela arbórea Tabebuia cassinoi<strong>de</strong>s, no estrato superior, e pela<br />

dominância <strong>de</strong> herbáceas e arbustivas no estrato inferior, como<br />

Rhynchospora sp. cf. R. corymbosa, Panicum sp. cf. P. mertensii,<br />

Scleria sp., capororoca (Rapanea sp.) e Typha domingensis.<br />

Além <strong>de</strong> T. cassinoi<strong>de</strong>s, outras arbóreas muitas vezes<br />

acham-se presentes, como Annona glabra, cambuí (Myrcia<br />

multiflora) e guamirim-do-brejo (Gomi<strong>de</strong>sia palustris). As<br />

árvores po<strong>de</strong>m estar isoladas por curtas distâncias ou até a<strong>de</strong>nsadas<br />

a ponto <strong>de</strong> cobrir 100% ou pouco menos da superfície do<br />

solo, tendo o dossel entre 4 e 8 m <strong>de</strong> altura, aproximadamente.<br />

O estrato inferior, com altura variando entre 0,8 e 1,5 m, apresenta<br />

grupos <strong>de</strong> indivíduos isolados uns dos outros por curtas<br />

distâncias, como mais a<strong>de</strong>nsados, cobrindo normalmente<br />

entre 20 e 50% ou até 100% da superfície do solo. O ambiente<br />

<strong>de</strong>senvolve-se em terrenos que sofrem alagamento <strong>de</strong> acordo<br />

com os níveis <strong>de</strong> pluviosida<strong>de</strong>, ocorrendo na margem <strong>de</strong> rios,<br />

em planícies <strong>de</strong> inundação e em <strong>de</strong>pressões entre cordões<br />

<strong>de</strong> dunas litorâneas. O termo caxetal com herbáceas foi aqui<br />

proposto; local dominado por T. cassinoi<strong>de</strong>s é popularmente<br />

<strong>de</strong>signado <strong>de</strong> “caxetal”.<br />

O ambiente é mais representativo no rio Copiúva (município<br />

<strong>de</strong> Antonina), em afluentes do médio rio Guaraguaçu<br />

(município <strong>de</strong> Paranaguá) e em três setores próximos da<br />

baía <strong>de</strong> Guaratuba. O primeiro situa-se na região da lagoa do<br />

Parado (município <strong>de</strong> Guaratuba), incorporando as lagoas do<br />

Parado, do rio Preto e do Furta-maré, e os rios Furta-maré,<br />

Rasgadinho e da Palha. O segundo inclui locais a montante do<br />

rio Água Vermelha e Boguaçu, e arredores (município <strong>de</strong> Guaratuba,<br />

próximo da PR 412 e da localida<strong>de</strong> Olaria). O último<br />

setor localiza-se na região dos rios do Gelo e São João (município<br />

<strong>de</strong> Guaratuba) e da vila São João Abaixo (município <strong>de</strong><br />

Garuva). Exceto Garuva, que se situa em Santa Catarina, os<br />

<strong>de</strong>mais municípios mencionados situam-se no Paraná. Em<br />

locais com ocorrência <strong>de</strong> S. acutirostris, totalizou-se 840,38 ha<br />

<strong>de</strong> caxetal com herbáceas (17,3% <strong>de</strong> todos os nove ambientes<br />

e 25,9% dos arbóreos com herbáceas no Paraná; tabela 2), que<br />

ocorre na forma <strong>de</strong> manchas com tamanhos muito discrepantes.<br />

Registraram-se 32 espécies botânicas pertencentes a 19<br />

famílias no ambiente, das quais Cyperaceae foi representada<br />

por nove espécies, Poaceae por cinco e Myrtaceae por duas.<br />

Vinte e uma espécies são herbáceas, sete arbóreas, três trepa<strong>de</strong>iras<br />

e uma é arbustiva.<br />

Ariticunzal com herbáceas. Formação fechada caracterizada<br />

por Annona glabra e pela presença <strong>de</strong> estrato inferior composto<br />

por herbáceas, das quais a dominante é Panicum sp.<br />

cf. P. mertensii. Raros indivíduos <strong>de</strong> Tabebuia cassinoi<strong>de</strong>s<br />

também po<strong>de</strong>m ser encontrados. O dossel apresenta cerca <strong>de</strong><br />

4 m <strong>de</strong> altura e cobre 100% da superfície do solo; o estrato<br />

inferior apresenta entre 0,6 e 1,5 m <strong>de</strong> altura, sendo composto<br />

por grupos <strong>de</strong> indivíduos isolados ou algo agrupados, quando<br />

cobrem aproximadamente entre 10 e 30% da superfície do<br />

solo. O ambiente sofre diferentes níveis <strong>de</strong> inundação <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo<br />

da pluviosida<strong>de</strong>. O termo ariticunzal com herbáceas é<br />

aqui proposto.<br />

Ocorre apenas na lagoa do Parado (município <strong>de</strong> Guaratuba),<br />

Paraná, on<strong>de</strong> ocupou 8,16 ha (0,2% <strong>de</strong> todos os nove<br />

ambientes e igualmente 0,2% dos arbóreos com herbáceas no<br />

estado; tabela 2). Registraram-se apenas cinco espécies botânicas<br />

pertencentes a quatro famílias no ambiente. Poaceae<br />

foi representada por duas espécies e as <strong>de</strong>mais por uma. Três<br />

espécies são herbáceas e duas são arbóreas.<br />

O uso dos ambientes. Stymphalornis acutirostris vive em vegetação<br />

herbácea e arbustiva. Nos ambientes com estrato superior<br />

arbóreo, o seu local <strong>de</strong> permanência é o estrato inferior<br />

herbáceo. Desloca-se pela vegetação herbácea e arbustiva com<br />

vôos curtos e pequenos saltos, parando em caules, folhas, folíolos,<br />

brácteas, pecíolos, inflorescências, ramos, galhos, etc.,<br />

tanto em posição vertical, inclinada quanto horizontal. Ramos<br />

e galhos (até 4‐5 m) <strong>de</strong> árvores são usualmente freqüentados,<br />

principalmente para a emissão <strong>de</strong> vocalizações. Ainda <strong>de</strong>slocase<br />

aos pulos no solo e sobre <strong>de</strong>tritos <strong>de</strong> vegetação flutuante na<br />

lâmina d’água. No entanto, o <strong>de</strong>slocamento é concentrado na<br />

faixa com maior <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vegetação, normalmente entre


Distribuição, tamanho populacional, hábitat e conservação do bicudinho-do-brejo<br />

Stymphalornis acutirostris Bornschein, Reinert e Teixeira, 1995 (Thamnophilidae)<br />

503<br />

20‐40 cm e 50‐90 cm sobre o solo, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do tipo <strong>de</strong><br />

ambiente, composição florística e época do ano. Nessa faixa,<br />

também é concentrada a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alimentação. A porção<br />

acima da faixa <strong>de</strong> maior <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>, normalmente até 2 m sobre<br />

o solo, mas po<strong>de</strong>ndo chegar até 3 m, é usada principalmente<br />

para <strong>de</strong>slocamento com vôos mais longos, disputa territorial<br />

e emissão <strong>de</strong> vocalizações; raras vezes para a alimentação.<br />

Nunca foi observado alçando longos vôos acima da vegetação.<br />

Captura pequenos artrópo<strong>de</strong>s como aranhas, mariposas e<br />

moscas expostos sobre a vegetação, ocultos na vegetação e no<br />

ar. Captura os ocultos vasculhando a porção imbricada entre<br />

folhas e caules e entre bainhas e caules, bem como o interior<br />

retorcido <strong>de</strong> folhas mortas, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> comumente retira aranhas.<br />

Constrói o ninho (n = 5) em plantas herbáceas e em arbóreas<br />

<strong>de</strong> pequeno porte, normalmente abaixo <strong>de</strong> 1 m sobre o solo.<br />

Folhas e brácteas da vegetação herbácea são o principal material<br />

nidular utilizado.<br />

Distribuição geográfica. Trabalhando-se do litoral sul <strong>de</strong> São<br />

Paulo ao litoral norte <strong>de</strong> Santa Catarina, além <strong>de</strong> algumas<br />

outras áreas no sul, su<strong>de</strong>ste e centro-oeste do Brasil, <strong>de</strong>tectou-se<br />

a espécie na faixa costeira <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a baía <strong>de</strong> Antonina,<br />

no Paraná, ao rio Itapocu, em Santa Catarina, em altitu<strong>de</strong>s<br />

variando do nível do mar até cerca <strong>de</strong> 5 m. Nessa região, efetuou-se<br />

o “mapeamento” dos nove ambientes <strong>de</strong> ocorrência<br />

da espécie (escala 1:25.000). Confrontando os resultados da<br />

distribuição <strong>de</strong>sses ambientes com os da procura pela espécie,<br />

i<strong>de</strong>ntificaram-se zonas sem registros, as quais se consi<strong>de</strong>raram<br />

sem presença da espécie. Assim, a área <strong>de</strong> dispersão <strong>de</strong><br />

S. acutirostris está fragmentada em oito populações isoladas.<br />

No mapa elaborado (figura 6), as distintas populações foram<br />

representadas em duas cores. Uma indica local on<strong>de</strong> se registrou<br />

a espécie e a outra local sem registro, mas on<strong>de</strong> a ocorrência<br />

é provável <strong>de</strong>vido à existência <strong>de</strong> ambiente a<strong>de</strong>quado contínuo<br />

com ou próximo <strong>de</strong> local on<strong>de</strong> a espécie foi registrada. A<br />

ausência <strong>de</strong> registros, nesses casos, <strong>de</strong>ve-se exclusivamente à<br />

falta <strong>de</strong> amostragens.<br />

Alguns ambientes daqueles <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> S. acutirostris<br />

também existem ao norte e a sul dos limites estabelecidos<br />

como <strong>de</strong> distribuição geográfica da espécie (B.L.R. e M.R.B.,<br />

obs. pess.). Rumo a norte, por exemplo, ocorre brejo <strong>de</strong> maré<br />

e <strong>de</strong> capim-serra em alguns locais nos municípios <strong>de</strong> Paranaguá<br />

e Guaraqueçaba e brejo intercordão na ilha <strong>de</strong> Superagui<br />

(município <strong>de</strong> Guaraqueçaba), no Paraná. No litoral sul <strong>de</strong> São<br />

Paulo, por exemplo, ocorre brejo intercordão na ilha Comprida<br />

(município <strong>de</strong> Ilha Comprida) e brejo <strong>de</strong> maré e <strong>de</strong> capimserra<br />

em alguns locais <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Cananéia até Iguape, pelo menos.<br />

Rumo a sul, por exemplo, ocorre brejo <strong>de</strong> maré e <strong>de</strong> capimserra<br />

do rio Itapocu até Camboriú, pelo menos, em Santa Catarina.<br />

Alguns ambientes daqueles <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> S. acutirostris<br />

também existem entre as populações da espécie, o que será<br />

comentado adiante, nas <strong>de</strong>scrições <strong>de</strong>ssas populações.<br />

População da baía <strong>de</strong> Antonina. Ocorre no interior da baía<br />

<strong>de</strong> Antonina (município <strong>de</strong> Antonina, Paraná), Paraná, por<br />

exemplo, nos rios Cachoeira, Cacatu, do Meio, das Pedras e<br />

Curitibaíba (figura 6). O limite norte situa-se em meandros do<br />

rio Pequeno (25°15’15.2”S, 48°41’43.9”W; registro inferido),<br />

afluente da margem esquerda do rio Cachoeira, o oeste no rio<br />

Xaxim (25°22’54.2”S, 48°46’49.3”W), afluente do rio Curitibaíba,<br />

o sul em um afluente da margem direita do rio Curitibaíba<br />

(25°24’41.8”S, 48°44’56.10”W; registro inferido),<br />

próximo da sua foz e o leste no rio Taquari (25°20’57.4”S,<br />

48°41’18.2”W; registro inferido), afluente da margem esquerda<br />

do rio Cachoeira. O local que congrega a maior área contínua<br />

<strong>de</strong> ambientes <strong>de</strong> ocorrência da espécie na população situase<br />

na confluência do rio do Meio no Cacatu e, <strong>de</strong>ste ponto,<br />

à leste até o rio Cachoeira (c. 25°21’29.9”S, 48°43’46.0”W).<br />

Totalizou-se 1.331 ha <strong>de</strong> ambientes <strong>de</strong> ocorrência da espécie<br />

nessa população, sendo 561 ha <strong>de</strong> guanandizal com herbáceas,<br />

396 ha <strong>de</strong> brejo <strong>de</strong> maré, 305 ha <strong>de</strong> manguezal com herbáceas,<br />

39 ha <strong>de</strong> caxetal com herbáceas e 29 ha <strong>de</strong> brejo <strong>de</strong> meandro<br />

(tabela 2). A população está per<strong>de</strong>ndo área principalmente <strong>de</strong><br />

brejos <strong>de</strong> maré e <strong>de</strong> meandro por conseqüência da invasão <strong>de</strong><br />

capins africanos (vi<strong>de</strong> “Impactos” abaixo). Acredita-se que o<br />

limite norte, inferido a partir da situação ambiental <strong>de</strong> 1980<br />

(vi<strong>de</strong> “Distribuição” abaixo), atualmente <strong>de</strong>va ser mais ao sul.<br />

O limite norte <strong>de</strong>tectado situa-se no rio Cachoeira on<strong>de</strong> ele é<br />

cortado pela PR 405 (25°21’29.8”S, 48°43’46.0”W).<br />

Florestas em planícies e em serras limitam a distribuição<br />

geográfica da população em todo o setor setentrional e oeste.<br />

No setor meridional, ocorre floresta em altitu<strong>de</strong> mínima <strong>de</strong><br />

cerca <strong>de</strong> 20 m que isola essa população da do rio Nhundiaquara.<br />

No setor leste, há ambientes propícios nos quais não<br />

se registrou a espécie até o rio Faisqueira, a cerca <strong>de</strong> 6 km<br />

<strong>de</strong> distância do ponto mais próximo com presença inferida<br />

<strong>de</strong> S. acutirostris. Nesse rio, é possível que a espécie ocorra<br />

e tenha sido subestimada em campo (vi<strong>de</strong> “Distribuição”<br />

abaixo). À leste do rio Faisqueira até a enseada do Itaqui, contornando<br />

a baía <strong>de</strong> Paranaguá, ocorrem pequenas manchas <strong>de</strong><br />

brejo, mas na enseada do Benito e baía <strong>de</strong> Guaraqueçaba, a<br />

nor<strong>de</strong>ste, eles são abundantes (figura 6). Stymphalornis acutirostris<br />

não ocorre nessas regiões, fato que se acredita ser inexplicável<br />

com base no relevo e cobertura vegetal atual (vi<strong>de</strong><br />

“Distribuição” abaixo).<br />

População do rio Nhundiaquara. Ocorre ao longo <strong>de</strong> parte<br />

do rio Nhundiaquara e em alguns <strong>de</strong> seus afluentes, como o<br />

São Joãozinho Feliz, Sapetanduva e do Neves (ou Francês)<br />

(municípios <strong>de</strong> Morretes e Antonina, Paraná; figura 6). O<br />

limite norte situa-se no rio São Joãozinho Feliz (25°26’58.8”S,<br />

48°45’05.7”W; registro inferido), o oeste em meandros do rio<br />

Nhundiaquara (25°29’07.6”S, 48°49’23.9”W; registro inferido),<br />

o sul em pequeno afluente da margem direita do rio do<br />

Neves (25°30’13.1”S, 48°45’50.8”W) e o leste em um afluente<br />

da margem esquerda do rio Nhundiaquara (25°28’23.1”S,<br />

48°43’23.4”W; registro inferido). O local que congrega a<br />

maior área contínua <strong>de</strong> ambientes <strong>de</strong> ocorrência da espécie na<br />

região situa-se na confluência do rio do Neves no Nhundiaquara<br />

(c. 25°28’57.0”S, 48°44’13.4”W). Totalizou-se 548 ha


504 Bianca Luiza Reinert, Marcos Ricardo Bornschein e Carlos Firkowski<br />

Figura 6. Mapa esquemático da distribuição geográfica do bicudinho-do-brejo (Stymphalornis acutirostris), com a localização das oito populações da espécie,<br />

das quais a mais ao norte situa-se na região da baía <strong>de</strong> Antonina, Paraná, e a mais ao sul na região do rio Itapocu, Santa Catarina (escala original 1:250.000). Em<br />

rosa têm-se áreas on<strong>de</strong> se efetuou registros da espécie e em ver<strong>de</strong> áreas sem registros, mas on<strong>de</strong> a ocorrência é provável <strong>de</strong>vido a existência <strong>de</strong> ambiente a<strong>de</strong>quado<br />

contínuo com ou próximo <strong>de</strong> locais on<strong>de</strong> a espécie foi registrada.<br />

Figure 6. Schematic map of the Marsh Antwren’s (Stymphalornis acutirostris) geographic distribution, illustrating the localization of the eight populations of<br />

the species, the northernmost which occurs in the Antonina Bay region, state of Paraná, and the southernmost in the Itapocu river region, state of Santa Catarina<br />

(original scale 1:250.000). Areas with records of the species are represented in pink, whereas areas without records but where its occurrence is presumable owing<br />

to the existence of continuous a<strong>de</strong>quate habitats with or near sites were the species was recor<strong>de</strong>d is <strong>de</strong>picted in green.


Distribuição, tamanho populacional, hábitat e conservação do bicudinho-do-brejo<br />

Stymphalornis acutirostris Bornschein, Reinert e Teixeira, 1995 (Thamnophilidae)<br />

505<br />

<strong>de</strong> ambientes <strong>de</strong> ocorrência da espécie nessa população, sendo<br />

222 ha <strong>de</strong> brejo <strong>de</strong> maré, 208 ha <strong>de</strong> guanandizal com herbáceas,<br />

94 ha <strong>de</strong> manguezal com herbáceas, 14 ha <strong>de</strong> brejo secundário<br />

e 9 ha <strong>de</strong> brejo <strong>de</strong> meandro (tabela 2). A população está per<strong>de</strong>ndo<br />

área principalmente <strong>de</strong> brejos <strong>de</strong> maré e <strong>de</strong> meandro por<br />

conseqüência da invasão <strong>de</strong> capins africanos (vi<strong>de</strong> “Impactos”<br />

abaixo). Acredita-se que o limite oeste, inferido a partir<br />

da situação ambiental <strong>de</strong> 1980 (vi<strong>de</strong> “Distribuição” abaixo),<br />

atualmente <strong>de</strong>va ser algo mais à leste.<br />

Planícies florestadas limitam a distribuição geográfica da<br />

população a oeste e sudoeste, enquanto que a norte áreas florestadas<br />

com altitu<strong>de</strong> mínima <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 20 m são o limite (vi<strong>de</strong><br />

acima). Na planície a sul e su<strong>de</strong>ste existem rios com ambientes<br />

propícios até próximo da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paranaguá (figura 6), mas<br />

nos quais não se registrou a espécie. Não se <strong>de</strong>scarta a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> que ela ocorra em alguns <strong>de</strong>sses rios e tenha sido<br />

subestimada em campo.<br />

População do rio Guaraguaçu. Distribui-se ao longo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

parte do rio Guaraguaçu e em alguns <strong>de</strong> seus afluentes, como<br />

o rio Vermelho (municípios <strong>de</strong> Paranaguá, Pontal do Paraná e<br />

Matinhos, Paraná; figura 7). Os limites norte e leste situamse<br />

no sul da ilha Guaraguaçu (25°35’13.8”S, 48°27’52.9”W;<br />

registro inferido), o sul no rio Indaial ou Sertão Gran<strong>de</strong><br />

Figura 7. Planície <strong>de</strong> maré no rio Nhundiaquara, próximo da confluência com<br />

o rio do Neves (A), com guanandizal com herbáceas (B), manguezal com<br />

herbáceas (C) e brejo <strong>de</strong> maré (D), cujas bordas escuras referem-se a locais<br />

on<strong>de</strong> o piri (Scirpus californicus) é alto e dominante (E). A letra “F” indica<br />

floresta. Na ilha (do Pirizal, “G”) não há ocorrência do bicudinho-do-brejo<br />

(Stymphalornis acutirostris), possivelmente por ele não ter podido colonizála<br />

(27 m é a menor distância que a separa da margem do Nhundiaquara)<br />

(divisa dos municípios <strong>de</strong> Antonina e Morretes, Paraná). Foto: T. <strong>de</strong> Mesquita<br />

Fialho.<br />

Figure 7. Tidal flat in Nhundiaquara river, near of the river of Neves<br />

confluence (A), with “guanandizal” with herbaceous plants (B), mangrove<br />

with herbaceous plants (C) and tidal marsh (D), whose dark bor<strong>de</strong>rs are<br />

related to places where the bulrush (Scirpus californicus) is high and dominant<br />

(E). “F” indicates forest. In the island (Pirizal island, “G”) Marsh Antwren<br />

(Stymphalornis acutirostris) do not occur, maybe by it incapacity to colonize<br />

them (27 m is the minor distance between the island and Nhundiaquara river<br />

margin) (boundary of the Antonina and Morretes municipalities, Paraná state).<br />

Photo: T. <strong>de</strong> Mesquita Fialho.<br />

(25°46’32.3”S, 48°33’24.0”W; registro inferido) e o oeste no<br />

rio do Meio (25°45’55.0”S, 48°34’10.0”W; registro inferido).<br />

Totalizou-se 131 ha <strong>de</strong> ambientes <strong>de</strong> ocorrência da espécie<br />

na região <strong>de</strong>ssa população, sendo 55 ha <strong>de</strong> manguezal com<br />

herbáceas, 38 ha <strong>de</strong> brejo <strong>de</strong> capim-serra, 29 ha <strong>de</strong> brejo <strong>de</strong><br />

maré, 8 ha <strong>de</strong> caxetal com herbáceas e menos <strong>de</strong> 1 ha <strong>de</strong> brejo<br />

secundário (tabela 2). Não há um local que congregue expressiva<br />

área contínua <strong>de</strong>sses ambientes na população. A população<br />

está per<strong>de</strong>ndo área <strong>de</strong> brejos <strong>de</strong> maré por conseqüência da<br />

invasão <strong>de</strong> capins africanos (vi<strong>de</strong> “Impactos” abaixo).<br />

A distribuição geográfica da espécie é limitada a sul por<br />

montanhas que atingem a linha da costa na parte externa da<br />

baía <strong>de</strong> Guaratuba. Acredita-se que a leste a distribuição geográfica<br />

da espécie foi retraída por ações <strong>de</strong> origem antrópica<br />

(vi<strong>de</strong> “Impactos” abaixo). Originalmente, é possível que a<br />

presente população fosse contínua com a do balneário Flórida<br />

(vi<strong>de</strong> adiante). Na planície costeira a oeste e noroeste do limite<br />

oeste mencionado existem rios com ambientes propícios até<br />

próximo da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paranaguá (figura 6), mas nos quais não<br />

se registrou a espécie (vi<strong>de</strong> acima e “Distribuição” abaixo).<br />

Não se <strong>de</strong>scarta a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que ela ocorra em alguns<br />

<strong>de</strong>sses rios e tenha sido subestimada em campo.<br />

População do balneário Flórida. Essa é a menor (6 ha;<br />

tabela 2) e mais ameaçada população <strong>de</strong> S. acutirostris. Praticamente<br />

cercada por loteamentos, ocupa uma pequena faixa<br />

<strong>de</strong> brejo intercordão no balneário Flórida (c. 25°46’39.0”S,<br />

48°31’06.9”W; município <strong>de</strong> Matinhos, Paraná; figura 6),<br />

com 1.080 m <strong>de</strong> comprimento por até 100 m <strong>de</strong> largura. É a<br />

única das populações da espécie on<strong>de</strong> há brejo intercordão.<br />

Acredita-se que essa população fosse contínua com a do rio<br />

Guaraguaçu (vi<strong>de</strong> acima), mas retraída por aterros e outros<br />

impactos <strong>de</strong> origem antrópica (vi<strong>de</strong> “Impactos” abaixo). O<br />

brejo intercordão do balneário Ipacaray (localida<strong>de</strong>-tipo da<br />

espécie), outrora contínuo com o do balneário Flórida, não foi<br />

incluído na presente população, pois a espécie está extinta no<br />

local.<br />

População da baía <strong>de</strong> Guaratuba. Maior e mais importante das<br />

populações da espécie, ocorre ao longo da baía <strong>de</strong> Guaratuba<br />

e prolonga-se nos terços médios e inferiores <strong>de</strong> rios que nela<br />

confluem (municípios <strong>de</strong> Guaratuba, Paraná, e Garuva, Santa<br />

Catarina), por exemplo, no rio Preto, Cubatãozinho, Cubatão,<br />

São João, Descoberto e Boguaçu (figura 6). O limite norte<br />

situa-se em meandros abandonados do rio Cubatãozinho, na<br />

Fazenda Estrela (25°43’32.9”S, 42°44’22.0”W), o sul em uma<br />

mancha <strong>de</strong> caxetal com herbáceas próxima da margem direita<br />

do rio São João (25°59’48.5”S, 42°49’34.2”W; registro inferido),<br />

o oeste próximo <strong>de</strong>sse ponto em meandros do mesmo<br />

rio, em sua margem esquerda (25°59’43.1”S, 42°50’23.9”W;<br />

registro inferido), e o leste na ilha do Veiga (25°49’45.0”S,<br />

42°35’23.6”W). Totalizou-se 2.840 ha <strong>de</strong> ambientes <strong>de</strong> ocorrência<br />

da espécie nessa população, sendo 848 ha <strong>de</strong> manguezal<br />

com herbáceas, 794 ha <strong>de</strong> caxetal com herbáceas, 667 ha<br />

<strong>de</strong> brejo <strong>de</strong> maré, 326 ha <strong>de</strong> guanandizal com herbáceas,


506 Bianca Luiza Reinert, Marcos Ricardo Bornschein e Carlos Firkowski<br />

123 ha <strong>de</strong> brejo <strong>de</strong> capim-serra, 66 ha <strong>de</strong> brejo <strong>de</strong> meandro,<br />

8 ha <strong>de</strong> ariticunzal com herbáceas e 5 ha <strong>de</strong> brejo secundário<br />

(tabela 2). Os locais com mais área contínua <strong>de</strong> ambientes<br />

<strong>de</strong> ocorrência da espécie situam-se nas ilhas do Chapeuzinho<br />

e Ricardo (c. 25°51’13.2”S, 42°43’12.2”W) e na lagoa do<br />

Parado (25°44’59.3”S, 42°49’1.4”W). Esse local é uma gran<strong>de</strong><br />

planície <strong>de</strong> inundação vegetada por brejo <strong>de</strong> maré, caxetal com<br />

herbáceas e ariticunzal com herbáceas com cerca <strong>de</strong> 600 ha.<br />

Devido ao isolamento natural, sofreu poucos impactos, sendo<br />

uma das áreas mais preservadas com ocorrência <strong>de</strong> S. acutirostris.<br />

Principalmente por isso e mais pela área consi<strong>de</strong>ravelmente<br />

vasta, consi<strong>de</strong>ra-se o local <strong>de</strong> maior importância para a<br />

conservação da espécie.<br />

Áreas florestadas em serras limitam a distribuição geográfica<br />

da população em todo o setor setentrional e oeste, enquanto<br />

que áreas florestadas em planície a limitam no setor meridional.<br />

Nesse setor existem ambientes propícios para a espécie no<br />

rio Saí-guaçu, que se situa próximo das populações da baía <strong>de</strong><br />

Guaratuba e <strong>de</strong> Itapoá e on<strong>de</strong> não há registros da espécie. A<br />

sua ausência nesse rio se acredita ser inexplicável com base no<br />

relevo e cobertura vegetal atual (vi<strong>de</strong> “Distribuição” abaixo).<br />

A área <strong>de</strong> ocupação <strong>de</strong> S. acutirostris na presente população<br />

po<strong>de</strong> estar se ampliando para o sul, em conseqüência da<br />

formação <strong>de</strong> brejo secundário ao longo <strong>de</strong> estradas e rodovias<br />

(e.g. PR 412; vi<strong>de</strong> “Brejo secundário” acima). Com o passar<br />

do tempo po<strong>de</strong> acontecer da espécie atingir o rio Saí-guaçu,<br />

on<strong>de</strong> não havia registros <strong>de</strong>la pelo menos até 1998.<br />

População <strong>de</strong> Itapoá. Consiste <strong>de</strong> duas pequenas áreas <strong>de</strong><br />

formações pioneiras, que totalizam menos <strong>de</strong> 50 ha. A maior<br />

<strong>de</strong>las localiza-se no rio Braço do Norte (26°05’36.3”S,<br />

48°38’56.4”W), Reserva Particular do Patrimônio Natural<br />

Fazenda Palmital (também <strong>de</strong>nominada como Reserva Volta<br />

Velha), e a menor na se<strong>de</strong> da adjacente Fazenda Palmital<br />

(26°05’02.6”S, 48°38’34.9”W) (município <strong>de</strong> Itapoá, Santa<br />

Catarina; figura 6). A menor área caracteriza-se por uma mancha<br />

<strong>de</strong> brejo secundário on<strong>de</strong>, inclusive, outros pesquisadores<br />

reportaram a ocorrência da espécie (Naka et al. 2000, como<br />

“Volta Velha, Itapoá”; vi<strong>de</strong> “Ambientes e sucessão vegetacional”<br />

abaixo). No rio Braço do Norte a espécie foi registrada<br />

em um ambiente algo distinto dos <strong>de</strong>mais anteriormente<br />

<strong>de</strong>scritos. Caracteriza-se por arbustivas (c. 2‐2,5 m <strong>de</strong> altura),<br />

algumas arbóreas e umas poucas aglomerações <strong>de</strong> herbáceas<br />

típicas <strong>de</strong> brejos. Provavelmente esse ambiente se tratava <strong>de</strong><br />

uma floresta (Floresta Ombrófila Densa das Terras Baixas)<br />

que sofreu sucessão regressiva talvez pela queda <strong>de</strong> árvores,<br />

vindo a assemelhar-se ao guanandizal com herbáceas (vi<strong>de</strong><br />

“Ambientes e sucessão vegetacional” abaixo).<br />

O isolamento <strong>de</strong>sta população ocorre pela falta <strong>de</strong> ambientes<br />

propícios para a espécie no entorno, predominantemente<br />

vegetado por floresta (Floresta Ombrófila Densa das Terras<br />

Baixas). Acredita-se que essa população seja relictual e<br />

que esteja naturalmente em vias <strong>de</strong> extinção pela sucessão<br />

dos ambientes <strong>de</strong> ocorrência da espécie para floresta (vi<strong>de</strong><br />

“Ambientes e sucessão vegetacional” abaixo).<br />

População da baía da Babitonga. Distribui-se ao longo da<br />

baía da Babitonga, Santa Catarina, abrangendo diversos<br />

municípios, a saber: Garuva, Joinville, Araquari e balneário<br />

Barra do Sul (figura 6). O limite norte situa-se no rio Palmital<br />

(26°02’36.1”S, 48°48’37.7”W; município <strong>de</strong> Garuva;<br />

registro inferido), o leste próximo da foz do rio Perequê<br />

(26°27’25.2”S, 48°36’50.9”W; município <strong>de</strong> balneário Barra<br />

do Sul; registro inferido), o sul mais a montante do mesmo rio<br />

Perequê (26°28’04.6”S, 48°38’41.2”W; município <strong>de</strong> balneário<br />

Barra do Sul; registro inferido) e o oeste no rio Cavalinho<br />

(26°06’29.0”S, 48°50’06.9”W; município <strong>de</strong> Garuva; registro<br />

inferido). Dos ambientes <strong>de</strong> ocorrência da espécie, tem-se<br />

brejo <strong>de</strong> maré, brejo <strong>de</strong> capim-serra, manguezal com herbáceas<br />

e guanandizal com herbáceas. O local com mais área contínua<br />

<strong>de</strong> ambientes <strong>de</strong> ocorrência da espécie situa-se no interior da<br />

baía da Babitonga (rio Palmital e afluentes, c. 26°04’09.4”S,<br />

48°48’58.9”W). A população está per<strong>de</strong>ndo área por conseqüência<br />

da invasão <strong>de</strong> capins africanos, aterro e retificação<br />

<strong>de</strong> rios (vi<strong>de</strong> “Impactos” abaixo), mas os limites geográficos<br />

estabelecidos para a população não <strong>de</strong>vem ter se alterado, à<br />

exceção do limite leste, que atualmente acredita-se estar situado<br />

um pouco mais a oeste. Áreas florestadas em planície limitam<br />

a distribuição geográfica da população.<br />

População do rio Itapocu. Distribui-se ao longo <strong>de</strong> parte dos<br />

rios Itapocu e Piraí e no rio Poço Gran<strong>de</strong> (municípios <strong>de</strong> Joinville,<br />

Guaramirim, Araquari, São João do Itaperiú e Barra<br />

Velha, Santa Catarina; figura 6). O limite norte situa-se em um<br />

meandro do rio Piraí (26°22’45.7”S, 48°52’43.9”W; município<br />

<strong>de</strong> Joinville; registro inferido), o sul na margem direita do<br />

rio Itapocu, quase na sua foz (26°36’00.4”S, 48°43’01.8”W;<br />

município <strong>de</strong> Barra Velha; registro inferido), o leste próximo<br />

<strong>de</strong>sse ponto, igualmente na margem direita do rio Itapocu,<br />

junto à sua foz nas lagoas do Norte e do Sul (26°34’37.4”S,<br />

48°40’47.8”W; município <strong>de</strong> Barra Velha; registro inferido)<br />

e o oeste em um meandro do rio Itapocu, próximo da confluência<br />

do rio Poço Gran<strong>de</strong> (26°31’14.5”S, 48°53’58.6”W;<br />

município <strong>de</strong> Guaramirim; registro inferido). Dentre os<br />

ambientes <strong>de</strong> ocorrência da espécie, há naquela região brejo<br />

<strong>de</strong> maré e, principalmente, brejo <strong>de</strong> meandro. Está ocorrendo<br />

forte subtração <strong>de</strong> área <strong>de</strong>ssa população por conseqüência da<br />

invasão <strong>de</strong> capins africanos, aterro e drenagens (vi<strong>de</strong> “Impactos”<br />

abaixo), po<strong>de</strong>ndo a distribuição geográfica atual da espécie,<br />

nessa população, estar muito retraída. Foram efetuados<br />

somente dois pontos <strong>de</strong> registro <strong>de</strong> S. acutirostris nessa população,<br />

ambos em meandros abandonados na margem esquerda<br />

do rio Itapocu (município <strong>de</strong> Araquari), um próximo da BR<br />

101 (26°35’48.0”S, 48°43’01.8”W) e outro próximo da lagoa<br />

Itaum (26°31’27.6”S, 48°46’19.8”W). Em maio <strong>de</strong> 2005,<br />

B.L.R. e M.R.B. retornaram a esses dois pontos e percorreram<br />

boa parte do trecho do rio Itapocu inserido na área <strong>de</strong> ocupação<br />

da presente população, mas não encontraram S. acutirostris<br />

(vi<strong>de</strong> “Impactos” abaixo).<br />

Áreas florestadas em planície limitam a distribuição geográfica<br />

da população, exceto no sul, on<strong>de</strong> se verifica locais


Distribuição, tamanho populacional, hábitat e conservação do bicudinho-do-brejo<br />

Stymphalornis acutirostris Bornschein, Reinert e Teixeira, 1995 (Thamnophilidae)<br />

507<br />

com ambientes propícios para S. acutirostris ao menos até o<br />

município <strong>de</strong> Camboriú. A espécie po<strong>de</strong> ter sido extinta recentemente<br />

<strong>de</strong>ssa região, em função da forte <strong>de</strong>gradação <strong>de</strong> origem<br />

antrópica (vi<strong>de</strong> “Distribuição” abaixo).<br />

Estimativa <strong>de</strong> áreas, território e população. No Paraná, estimou-se<br />

a área <strong>de</strong> ocupação <strong>de</strong> S. acutirostris em 4.856,67 ha<br />

(48 km²), dos quais 1.331,07 ha na população da baía <strong>de</strong> Antonina,<br />

547,82 ha na do rio Nhundiaquara, 131,21 ha na do rio<br />

Guaraguaçu, 6,38 ha na do balneário Flórida e 2.840,19 ha na<br />

da baía <strong>de</strong> Guaratuba (tabela 2). Em Santa Catarina, estimouse<br />

a área <strong>de</strong> ocupação da espécie em prováveis 1.200 ha, totalizando<br />

uma área <strong>de</strong> ocupação global <strong>de</strong> 6.056,67 ha (60 km²).<br />

A extensão <strong>de</strong> ocorrência da espécie, levantada unicamente<br />

para comparações na discussão, foi estimada em aproximadamente<br />

43.200 ha (430 km²) (vi<strong>de</strong> “Distribuição” abaixo).<br />

A espécie não ocorre com a mesma abundância em todos<br />

os ambientes. A partir da análise do tempo <strong>de</strong> resposta ao playback<br />

e do número <strong>de</strong> registros e não-registros em locais inseridos<br />

nos limites geográficos das populações <strong>de</strong> S. acutirostris<br />

no Paraná e Santa Catarina, reconheceram-se duas categorias<br />

<strong>de</strong> ambientes: uma on<strong>de</strong> a espécie é comum e outra on<strong>de</strong> é<br />

rara. On<strong>de</strong> ela é comum, houve registro em 72,6% dos pontos<br />

<strong>de</strong> amostragem (n = 62) e o tempo <strong>de</strong> resposta ao playback foi<br />

<strong>de</strong> 5,2 min, em média (n = 45). On<strong>de</strong> ela é rara, houve registro<br />

em 47,1% dos pontos <strong>de</strong> amostragem (n = 51) e o tempo<br />

<strong>de</strong> resposta ao playback foi <strong>de</strong> 7,5 min, em média (n = 24). O<br />

número <strong>de</strong> indivíduos registrados em cada local normalmente<br />

foi dois. Os ambientes on<strong>de</strong> S. acutirostris é comum são o<br />

brejo <strong>de</strong> maré, brejo secundário, brejo <strong>de</strong> meandro e brejo<br />

intercordão; no manguezal com herbáceas, guanandizal com<br />

herbáceas, caxetal com herbáceas, ariticunzal com herbáceas<br />

e brejo <strong>de</strong> capim-serra a espécie é rara. Os brejos <strong>de</strong> meandro<br />

e intercordão foram consi<strong>de</strong>rados como sendo ambientes on<strong>de</strong><br />

a espécie é comum por causa da semelhança fitofisionômica<br />

com certos brejos <strong>de</strong> maré, uma vez que foram poucos os locais<br />

<strong>de</strong>sses ambientes avaliados quanto à ocorrência <strong>de</strong> S. acutirostris<br />

(vi<strong>de</strong> “População do balneário Flórida” acima). O ariticunzal<br />

com herbáceas, igualmente pouco avaliado em campo,<br />

foi consi<strong>de</strong>rado como sendo um ambiente on<strong>de</strong> a espécie é rara<br />

por conter um estrato superior arbóreo, tal qual o manguezal,<br />

guanandizal e caxetal com herbáceas.<br />

No brejo <strong>de</strong> maré, representativo do grupo <strong>de</strong> ambientes<br />

on<strong>de</strong> a espécie é comum, <strong>de</strong>tectaram-se casais ocupando territórios<br />

<strong>de</strong> 0,25 ha (n = 6) (= 8 indivíduos maduros por hectare).<br />

No brejo <strong>de</strong> capim-serra, representativo do grupo <strong>de</strong> ambientes<br />

on<strong>de</strong> a espécie é rara, <strong>de</strong>tectaram-se casais ocupando territórios<br />

<strong>de</strong> 3,2 ha (n = 3) (= 0,62 indivíduo maduro por hectare).<br />

Da área <strong>de</strong> ocupação <strong>de</strong> S. acutirostris no Paraná por tipo <strong>de</strong><br />

ambiente (tabela 2), cerca <strong>de</strong> 1.447 ha são do grupo <strong>de</strong> ambientes<br />

on<strong>de</strong> ele é comum e 3.410 ha on<strong>de</strong> é raro. Dos cerca <strong>de</strong><br />

1.200 ha <strong>de</strong> ocorrência da espécie em Santa Catarina, cerca <strong>de</strong><br />

440 ha são do grupo <strong>de</strong> ambientes on<strong>de</strong> ela é comum e cerca<br />

<strong>de</strong> 760 ha on<strong>de</strong> é rara. Tomando-se as <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>s obtidas e<br />

multiplicando cada qual pela área total do grupo <strong>de</strong> ambientes<br />

que representam, tem-se a extrapolação <strong>de</strong> quase 13.700<br />

indivíduos da espécie no Paraná e quase 4.000 em Santa Catarina,<br />

resultando numa população global estimada em cerca <strong>de</strong><br />

17.700 indivíduos maduros. Por população no Paraná, tem-se<br />

a estimativa <strong>de</strong> 3.966 indivíduos na da baía <strong>de</strong> Antonina, 2.155<br />

na do rio Nhundiaquara, 300 na do rio Guaraguaçu, 51 na do<br />

balneário Flórida e 7.217 na da baía <strong>de</strong> Guaratuba (tabela 3).<br />

Potencial <strong>de</strong> vôo. Várias vezes observaram-se S. acutirostris<br />

voando distâncias <strong>de</strong> até 10 m e raras vezes distâncias em<br />

torno <strong>de</strong> 15 m. Em uma ocasião, observou-se um indivíduo,<br />

excitado por playback, voar cerca <strong>de</strong> 25 m <strong>de</strong> um brejo a um<br />

arbusto sobre uma pastagem. Foram feitas tentativas para atrair<br />

indivíduos <strong>de</strong> um brejo a outro separado por estradas ou rios<br />

mediante playback, não sendo observado distâncias maiores<br />

do que 15 m cruzadas.<br />

Na ilha do Pirizal, no rio Nhundiaquara (divisa dos municípios<br />

<strong>de</strong> Antonina e Morretes, Paraná), com 6,4 ha, vegetada<br />

por brejo <strong>de</strong> maré e distante 25 m da margem (menor distância;<br />

figura 7), não ocorre S. acutirostris. Presente nas duas<br />

margens do rio, ele aparentemente não foi capaz <strong>de</strong> colonizar<br />

aquela ilha, que tem área suficiente para abrigar vários indivíduos<br />

da espécie. Embora a distância entre ela e a margem seja<br />

Tabela 3. Estimativa populacional do bicudinho-do-brejo (Stymphalornis acutirostris) nas cinco populações da espécie no Estado do Paraná (sul do Brasil).<br />

Table 3. Population estimates of the Marsh Antwren (Stymphalornis acutirostris) in the five populations of the species in Paraná state (southern Brazil).<br />

População Grupo <strong>de</strong> ambientes on<strong>de</strong> a espécie é comum e rara Área (ha) Estimativa populacional 1 Total 1<br />

Baía <strong>de</strong> Antonina<br />

comum 425,59 3.405<br />

rara 905,48 561<br />

3.966<br />

Rio Nhundiaquara<br />

comum 245,99 1.968<br />

rara 301,83 187<br />

2.155<br />

Rio Guaraguaçu<br />

comum 29,59 237<br />

rara 101,62 63<br />

300<br />

Balneário Flórida<br />

comum 6,38 51<br />

rara 0,0 —<br />

51<br />

Baía <strong>de</strong> Guaratuba<br />

comum 739,22 5.914<br />

rara 2.100,97 1.303<br />

7.217<br />

Total geral 1 13.689<br />

1<br />

Número <strong>de</strong> indivíduos maduros.


508 Bianca Luiza Reinert, Marcos Ricardo Bornschein e Carlos Firkowski<br />

a mesma da maior distância que se mediu para um vôo contínuo<br />

da espécie, esse vôo foi feito sobre áreas vegetadas. Stymphalornis<br />

acutirostris tem limitado potencial <strong>de</strong> vôo, ao menos<br />

se comparado com a maioria das espécies com quem coexiste<br />

(vi<strong>de</strong> “Comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aves” abaixo). Como conseqüência,<br />

sugere-se que tenha limitada capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dispersão.<br />

Impactos. A invasão <strong>de</strong> vegetais exóticos é o mais comum e<br />

mais preocupante impacto registrado, incidindo em ambientes<br />

com ocorrência <strong>de</strong> S. acutirostris em todas as populações da<br />

espécie. É muito freqüente em brejo intercordão, <strong>de</strong> meandro e<br />

em brejo <strong>de</strong> maré localizado em região com menor influência<br />

do nível <strong>de</strong> água pelo regime das marés, sendo incomum em<br />

caxetal, guanandizal e manguezal com herbáceas. As exóticas<br />

invasoras registradas são Hedychium coronarium, originário<br />

da Ásia, e os capins africanos Brachiaria mutica e Urochloa<br />

arrecta. Hedychium coronarium é mais agressivo em<br />

brejo intercordão e <strong>de</strong> meandro, U. arrecta é mais agressiva<br />

em brejo <strong>de</strong> meandro e B. mutica é mais agressiva em brejo<br />

intercordão.<br />

Urochloa arrecta e B. mutica espalham-se pelos brejos e<br />

tornam-se cada vez mais abundantes, a ponto <strong>de</strong> restringirem<br />

e, com o tempo, impedirem o <strong>de</strong>senvolvimento das plantas<br />

nativas, aparentemente pela falta <strong>de</strong> espaço e sombreamento<br />

provocado pelas inúmeras camadas acumuladas <strong>de</strong> estolões<br />

e folhas. Urochloa arrecta ainda avança sobre a água como<br />

um banco <strong>de</strong> vegetação parcialmente flutuante, que, às vezes,<br />

é arrancado pelas enchentes e levado para outras áreas ainda<br />

livres da sua presença. Na região <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> S. acutirostris,<br />

essa espécie nunca foi observada como abundante na<br />

parte inferior da zona entre marés, ou seja, em regiões com<br />

maior influência das marés, sugerindo que a maior salinida<strong>de</strong><br />

seja um fator <strong>de</strong> restrição. No entanto, próximo da foz do rio<br />

Ribeira <strong>de</strong> Iguape, em São Paulo, observou-se um manguezal<br />

cujo solo estava completamente tomado por U. arrecta.<br />

Hedychium coronarium <strong>de</strong>senvolve-se diferentemente dos<br />

capins, com crescimento vertical. Assim, compacta menos<br />

a vegetação nativa, em um primeiro momento. No entanto,<br />

quando se torna abundante também limita o crescimento das<br />

nativas, mas aparentemente não <strong>de</strong> U. arrecta. Em situações<br />

extremas <strong>de</strong> invasão, H. coronarium forma <strong>de</strong>nsas massas<br />

monoespecíficas, situação na qual o solo fica completamente<br />

tomado por seus rizomas e raízes.<br />

Brejos muito invadidos por aquelas três exóticas (normalmente<br />

em agrupamentos monoespecíficos) tornam-se inabitáveis<br />

para S. acutirostris. As causas são o <strong>de</strong>saparecimento da<br />

estratificação para <strong>de</strong>slocamento e forrageio, <strong>de</strong>saparecimento<br />

<strong>de</strong> espécies fornecedoras <strong>de</strong> material nidular, <strong>de</strong>saparecimento<br />

<strong>de</strong> espécies que são usadas como suporte para a construção<br />

do ninho e o empobrecimento da riqueza <strong>de</strong> espécies vegetais<br />

nas quais S. acutirostris encontra seu alimento. Em meio às<br />

exóticas, S. acutirostris se <strong>de</strong>sloca e, mesmo, obtém alimento,<br />

particularmente lagartas capturadas nas folhas <strong>de</strong> capins africanos,<br />

mas isso em situações on<strong>de</strong> essas plantas não são muito<br />

abundantes.<br />

Como a contaminação biológica pelas exóticas po<strong>de</strong> culminar<br />

na eliminação <strong>de</strong> S. acutirostris <strong>de</strong> brejos on<strong>de</strong> antes<br />

ele existia, consi<strong>de</strong>ra-se esse impacto como supressor <strong>de</strong> área.<br />

A redução <strong>de</strong> áreas por contaminação biológica é o principal<br />

impacto sobre S. acutirostris. Perda <strong>de</strong> área por essa causa<br />

só não se registrou na população <strong>de</strong> Itapoá; na população do<br />

balneário Flórida, esse impacto é menos importante do que o<br />

aterro (vi<strong>de</strong> adiante). Nas <strong>de</strong>mais populações da espécie, esse<br />

impacto está retraindo a distribuição geográfica <strong>de</strong> S. acutirostris<br />

(vi<strong>de</strong> “Distribuição” abaixo). Em particular nas populações<br />

da baía <strong>de</strong> Antonina, do rio Nhundiaquara, da baía <strong>de</strong><br />

Guaratuba e no trecho norte da população da baía da Babitonga,<br />

a distribuição geográfica da espécie está gradualmente<br />

restringindo-se aos locais on<strong>de</strong> há gran<strong>de</strong> influência do regime<br />

das marés (vi<strong>de</strong> “Conservação” na “Discussão”, abaixo).<br />

O capim-elefante (Pennisetum sp. cf. P. purpureum), outra<br />

espécie exótica africana, tem se tornado cada vez mais abundante<br />

em regiões quentes do Su<strong>de</strong>ste e sul do Brasil. De terrenos<br />

secos, aparentemente está se adaptando a terrenos úmidos,<br />

havendo registros em brejos nos Estados <strong>de</strong> São Paulo e Santa<br />

Catarina (M.R.B. obs. pess.). É incomum no litoral do Paraná<br />

e abundante ao menos no litoral centro-norte <strong>de</strong> Santa Catarina.<br />

É uma invasora cuja dispersão sobre brejos na região <strong>de</strong><br />

ocorrência <strong>de</strong> S. acutirostris necessita ser observada.<br />

Canais para a drenagem <strong>de</strong> brejos observaram-se na região<br />

<strong>de</strong> quase todas as populações <strong>de</strong> S. acutirostris, especialmente<br />

na da baía da Babitonga e do rio Itapocu, em Santa Catarina<br />

(vi<strong>de</strong> Bornschein e Reinert 1997). Na região da população da<br />

baía <strong>de</strong> Guaratuba, Paraná, em uma planície <strong>de</strong> inundação na<br />

margem direita do rio Cubatãozinho (Fazenda Estrela), foi<br />

feita uma gran<strong>de</strong> obra <strong>de</strong> drenagem a fim <strong>de</strong> secar a lagoa do<br />

Furta-maré e ambientes úmidos marginais, visando ampliar a<br />

área <strong>de</strong> pastagem para búfalos, cujos efeitos não pu<strong>de</strong>ram ser<br />

avaliados pelos autores. Canais <strong>de</strong> drenagem provocam escoamento<br />

<strong>de</strong> água, po<strong>de</strong>ndo eliminar a água superficial e, por<br />

conseqüência, alterar profundamente a comunida<strong>de</strong> biótica.<br />

Normalmente, drenam-se áreas úmidas para formar pastagem<br />

ou preparar o terreno para aterro. Inúmeros brejos intercordões<br />

na faixa costeira entre Pontal do Sul e Matinhos, sem ocorrência<br />

<strong>de</strong> S. acutirostris, foram drenados e, quando secaram,<br />

foram aterrados. Dois, não aterrados, foram queimados. De<br />

um <strong>de</strong>les, a vegetação tombou antes da queima, provavelmente<br />

pela perda <strong>de</strong> sustentação dada pelos aerênquimas nas porções<br />

submersas das plantas (vi<strong>de</strong> Mo<strong>de</strong>sto e Siqueira 1981). Outro<br />

foi incendiado, tendo queimado em algumas horas as folhas e<br />

caules e, durante três dias, as raízes e rizomas da vegetação.<br />

Um ano <strong>de</strong>pois, espécies <strong>de</strong> rápido crescimento <strong>de</strong> ambos os<br />

brejos já estavam crescidas, mas não se formou mais coluna<br />

d’água superficial (ao menos até 11 anos <strong>de</strong>pois).<br />

Aterro é o mais grave impacto <strong>de</strong> subtração <strong>de</strong> brejo intercordão<br />

(vi<strong>de</strong> Bornschein et al. 1995, Bornschein e Reinert 1997).<br />

Na região <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> S. acutirostris, esse ambiente existe<br />

quase que exclusivamente ao longo da faixa costeira <strong>de</strong> 35 km<br />

entre Pontal do Sul e Matinhos, Paraná. Embora a ocorrência<br />

<strong>de</strong> S. acutirostris nessa região limite-se a somente um ponto


Distribuição, tamanho populacional, hábitat e conservação do bicudinho-do-brejo<br />

Stymphalornis acutirostris Bornschein, Reinert e Teixeira, 1995 (Thamnophilidae)<br />

509<br />

(= população do balneário Flórida; vi<strong>de</strong> acima), é provável<br />

que no passado fosse contínua. Naqueles 35 km <strong>de</strong> costa, em<br />

1953, brejo intercordão ocorria ao longo <strong>de</strong> 33,5 km ocupando<br />

274,74 ha distribuídos em 32 manchas <strong>de</strong> ambiente, com 0,19<br />

a 80,73 ha (média <strong>de</strong> 8,59 ha), das quais a maior tinha 13,5 km<br />

<strong>de</strong> comprimento (estimativa <strong>de</strong> área por M.R.B. e B.L.R. a<br />

partir <strong>de</strong> mapeamento <strong>de</strong> R. J. Angulo, na escala aproximada<br />

<strong>de</strong> 1:31.000, efetuado com base em fotografias aéreas <strong>de</strong> 1953,<br />

provavelmente na escala 1:25.000). Naquela época, a subtração<br />

<strong>de</strong> área era inexistente ou insignificante, <strong>de</strong> modo que os<br />

quase 300 ha estimados po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>rados o que existia<br />

originalmente do ambiente na região (R. J. Angulo com.<br />

pess., 1997). Em 1980, brejo intercordão, na região, ocorria<br />

ao longo <strong>de</strong> 29,5 km <strong>de</strong> costa ocupando 127,83 ha distribuídos<br />

em 81 manchas <strong>de</strong> ambiente, com 0,026 a 17,09 ha (média<br />

<strong>de</strong> 1,58 ha), das quais a maior tinha 3,3 km <strong>de</strong> comprimento.<br />

A subtração <strong>de</strong> área, no período, foi <strong>de</strong> 51,9% (não se contabilizou<br />

14,03 ha <strong>de</strong> brejo intercordão do “mapeamento” <strong>de</strong><br />

1953, pois no <strong>de</strong> 1980 eles foram consi<strong>de</strong>rados como outro<br />

ambiente; não se contabilizou 2,47 ha <strong>de</strong> brejo intercordão do<br />

“mapeamento” <strong>de</strong> 1980, pois eles não foram i<strong>de</strong>ntificados no<br />

<strong>de</strong> 1953). Um estudo inédito <strong>de</strong> M.R.B. e B.L.R., com interpretação<br />

da cobertura vegetal em fotografias aéreas <strong>de</strong> 1995,<br />

permitiu evi<strong>de</strong>nciar que a subtração <strong>de</strong> brejo intercordão na<br />

região continuou muito acentuada, tendo-se perdido mais <strong>de</strong><br />

50% do que existia em 1980. A significativa subtração, redução<br />

e fragmentação <strong>de</strong> brejo intercordão ocorreram por conseqüência<br />

<strong>de</strong> aterros para a especulação imobiliária. Aterros<br />

também vêm alterando manguezais com herbáceas na baía da<br />

Babitonga, Santa Catarina (e.g. nas proximida<strong>de</strong>s da marina<br />

das Garças; população da baía da Babitonga).<br />

Na faixa costeira <strong>de</strong> 35 km entre Pontal do Sul e Matinhos,<br />

Paraná, brejos intercordões são queimados regularmente,<br />

especialmente no inverno (vi<strong>de</strong> Bornschein et al.<br />

1995, 1998, Bornschein e Reinert 1997). Acredita-se que<br />

esse impacto, associado com a subtração e fragmentação <strong>de</strong><br />

brejos por aterros (vi<strong>de</strong> acima), limitaram a distribuição geográfica<br />

<strong>de</strong> S. acutirostris, naquela região, à população do balneário<br />

Flórida. Na localida<strong>de</strong> tipo <strong>de</strong> S. acutirostris, outrora<br />

com brejo intercordão contínuo com o do balneário Flórida,<br />

e on<strong>de</strong> a espécie extinguiu-se, incêndios queimaram parte do<br />

brejo algumas vezes entre 1995 e 1997, pelo menos. Queimadas<br />

ainda ocorrem em brejo <strong>de</strong> capim-serra e manguezal<br />

com herbáceas na região da população da baía da Babitonga,<br />

Santa Catarina. O fogo tem sido usado para “limpar” locais<br />

<strong>de</strong> “cobras e ratos” e, em Santa Catarina, também para expor<br />

animais alvo <strong>de</strong> caça (e.g. capivara Hydrochaeris hydrochaeris).<br />

Provoca a eliminação temporária da vegetação herbácea<br />

e arbustiva, ocasião em que se reduz ou mesmo elimina,<br />

conforme o caso, território(s) <strong>de</strong> S. acutirostris. Herbáceas <strong>de</strong><br />

rápido crescimento, como Typha domingensis, crescem novamente<br />

em uma área on<strong>de</strong> foram queimadas em poucos meses.<br />

No entanto, ao menos em brejo intercordão, po<strong>de</strong> <strong>de</strong>morar três<br />

anos para que a vegetação se torne tão <strong>de</strong>nsa quanto antes, ou<br />

próximo disso.<br />

Pastoreio registrou-se em caxetal com herbáceas e em<br />

todos os tipos <strong>de</strong> brejo <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> S. acutirostris ao<br />

longo <strong>de</strong> quase toda a sua distribuição geográfica. É impacto<br />

grave na população da baía da Babitonga e muito grave na<br />

do rio Itapocu, on<strong>de</strong> brejos <strong>de</strong> meandro têm sido parcial ou<br />

totalmente <strong>de</strong>scaracterizados por bovinos e, em menor escala,<br />

eqüinos. Búfalos têm impactado brejos <strong>de</strong> maré e caxetais com<br />

herbáceas localmente na população da baía <strong>de</strong> Guaratuba. Até<br />

pelo menos 2003, S. acutirostris ocorria em um brejo na margem<br />

esquerda do rio Itapocu, próximo da sua foz e da BR 101<br />

(26°35’48.0”S, 48°43’01.8”W; município <strong>de</strong> Araquari). Em<br />

2005, o brejo estava todo alterado por gado bovino e S. acutirostris<br />

não se achava presente. Salienta-se que esse local era<br />

um entre dois únicos com registro da espécie na população<br />

do rio Itapocu. O pisoteio e pastoreio causado pela pecuária<br />

reduzem a riqueza <strong>de</strong> plantas herbáceas e arbustivas, favorece<br />

a instalação <strong>de</strong> plantas ru<strong>de</strong>rais resistentes, em <strong>de</strong>trimento<br />

<strong>de</strong> outras, e, principalmente, reduz a cobertura e <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><br />

da vegetação, diminuindo e até eliminando a capacida<strong>de</strong> do<br />

ambiente em suportar S. acutirostris. Áreas pastoreadas ainda<br />

ten<strong>de</strong>m a ser contaminadas por capins exóticos, particularmente<br />

Urochloa arrecta.<br />

Em 16 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2001, 52 mil litros <strong>de</strong> óleo vazaram<br />

<strong>de</strong> um duto na serra do Mar, escoaram por um rio e, por<br />

<strong>de</strong>corrência da variação das marés, espalharam-se por quase<br />

toda a área <strong>de</strong> ocupação <strong>de</strong> S. acutirostris na população do<br />

rio Nhundiaquara. O óleo a<strong>de</strong>riu no solo e na vegetação.<br />

Dias após, a vegetação afetada ficou “queimada” e, posteriormente,<br />

as herbáceas e alguns arbustos e árvores <strong>de</strong> pequeno<br />

porte secaram e morreram (informação obtida localmente por<br />

B.L.R. e M.R.B.). Quase 100 dias após, a vegetação herbácea<br />

já tinha crescido novamente (B.L.R. e M.R.B., obs. pess.). Em<br />

12 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2001, 15 mil litros <strong>de</strong> óleo diesel vazaram em<br />

Corupá, Santa Catarina. O óleo atingiu o rio Itapocu e foi por<br />

ele conduzido até a região <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> uma das populações<br />

da espécie. Por intermédio <strong>de</strong> rios e/ou regime das marés,<br />

vazamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivados <strong>de</strong> petróleo, bem como <strong>de</strong> outros produtos<br />

químicos, po<strong>de</strong> atingir parte <strong>de</strong> sete das oito populações<br />

<strong>de</strong> S. acutirostris (exclui-se a menor <strong>de</strong>las).<br />

Extração <strong>de</strong> vegetais nativos foi verificada em pequena<br />

escala em alguns pontos em brejo <strong>de</strong> maré nas populações da<br />

baía <strong>de</strong> Antonina e da Babitonga. Limita-se à coleta <strong>de</strong> Scirpus<br />

californicus e Typha domingensis para a confecção <strong>de</strong> esteiras.<br />

Na região da população da baía <strong>de</strong> Guaratuba, segundo<br />

informações <strong>de</strong> moradores locais, houve intensa exploração <strong>de</strong><br />

S. californicus há 20 anos.<br />

A construção <strong>de</strong> atracadouros e a operação <strong>de</strong> extração<br />

<strong>de</strong> areia causam a <strong>de</strong>scaracterização pontual <strong>de</strong> brejos <strong>de</strong><br />

maré e <strong>de</strong> meandro em todas as populações <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong><br />

S. acutirostris, exceto na do balneário Flórida e <strong>de</strong> Itapoá. Na<br />

região da população da baía da Babitonga, esses impactos são<br />

freqüentes. Como conseqüência, tem-se a subtração <strong>de</strong> áreas<br />

<strong>de</strong> brejo e <strong>de</strong>scaracterização <strong>de</strong> outras, nas quais a invasão <strong>de</strong><br />

capins exóticos torna-se comum. No rio São João (população<br />

da baía <strong>de</strong> Guaratuba), dragas retiram areia adjacente ao brejo


510 Bianca Luiza Reinert, Marcos Ricardo Bornschein e Carlos Firkowski<br />

<strong>de</strong> maré, o que po<strong>de</strong> provocar o <strong>de</strong>smoronamento <strong>de</strong> trechos<br />

da margem do rio e <strong>de</strong> ilhas, suprimindo áreas com ambiente<br />

<strong>de</strong> S. acutirostris.<br />

Acúmulo <strong>de</strong> lixo, como material plástico (garrafas, potes,<br />

etc.) e utensílios domésticos (móveis, bicicletas, refrigeradores,<br />

etc.), foi observado em todas as populações <strong>de</strong> S. acutirostris,<br />

exceto na <strong>de</strong> Itapoá. É freqüente em todos os tipos <strong>de</strong> brejos<br />

<strong>de</strong> ocorrência da espécie quando próximos <strong>de</strong> habitações e<br />

incomum em áreas <strong>de</strong> brejo <strong>de</strong> maré no interior das baías, on<strong>de</strong><br />

o lixo é levado pela maré. O acúmulo <strong>de</strong> lixo por vezes elimina<br />

a vegetação herbácea localmente.<br />

Rajadas <strong>de</strong> vento tombam gran<strong>de</strong>s extensões <strong>de</strong> brejo <strong>de</strong><br />

maré, ao menos na população <strong>de</strong> S. acutirostris da baía <strong>de</strong><br />

Guaratuba e da Babitonga. Moradores do município <strong>de</strong> Guaratuba<br />

informaram que isso ocorre anualmente nessa região,<br />

po<strong>de</strong>ndo intensificar-se em certos anos por conseqüência <strong>de</strong><br />

períodos <strong>de</strong> estiagem durante o inverno. Comentam que a<br />

redução do volume <strong>de</strong> água doce dos rios do interior da baía<br />

<strong>de</strong> Guaratuba ocasiona o aumento da salinida<strong>de</strong> da água, causando<br />

a morte <strong>de</strong> algumas espécies <strong>de</strong> plantas, especialmente<br />

Scirpus californicus, o que facilita o tombamento da vegetação<br />

pela ação do vento.<br />

Conservação. Pelos critérios da UICN (in BirdLife International<br />

2000), S. acutirostris enquadra-se como ameaçado <strong>de</strong><br />

extinção na categoria “em perigo” (= Endangered), tal como<br />

foi alocado em outras publicações (vi<strong>de</strong> “Conservação” na<br />

“Discussão”, abaixo).<br />

Das áreas com ocorrência <strong>de</strong> S. acutirostris, aquelas situadas<br />

na parte inferior da zona entre marés, ou seja, em regiões<br />

com maior influência das marés (= “planície <strong>de</strong> maré”;<br />

vi<strong>de</strong> adiante), estão entre as mais importantes para a conservação<br />

da espécie. Isso porque é nelas on<strong>de</strong> se formam novos<br />

brejos, ao menos com uma velocida<strong>de</strong> que permitiu constatar<br />

isso em 10 anos <strong>de</strong> observações, porque estão menos<br />

pressionadas pela especulação imobiliária e porque estão<br />

pouco contaminadas por vegetais exóticos. Além do mais,<br />

outras aves ameaçadas <strong>de</strong> extinção no Paraná (Straube et al.<br />

2004) ocorrem, como espécies resi<strong>de</strong>ntes, somente nessa<br />

região (bate-bico Phleocryptes melanops e papa-piri Tachuris<br />

rubrigastra; M.R.B. e B.L.R., inf. pess.). Planícies <strong>de</strong><br />

maré com presença <strong>de</strong> S. acutirostris ocorrem no interior<br />

das baías <strong>de</strong> Antonina (c. 25°21’29.9”S, 48°43’46.0”W), <strong>de</strong><br />

Guaratuba (c. 25°51’13.2”S, 42°43’12.2”W) e da Babitonga<br />

(c. 26°04’09.4”S, 48°48’58.9”W) e na confluência dos rios<br />

do Neves e Nhundiaquara (população do rio Nhundiaquara;<br />

c. 25°28’57.0”S, 48°44’13.4”W). Pelo tamanho e estado <strong>de</strong><br />

conservação, uma outra área <strong>de</strong>staca-se como importante para<br />

a conservação da espécie, a lagoa do Parado (25°44’59.3”S,<br />

42°49’1.4”W) (vi<strong>de</strong> “População da baía <strong>de</strong> Guaratuba”<br />

acima).<br />

Stymphalornis acutirostris ocorre em três unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação<br />

<strong>de</strong> proteção integral: Parque Estadual do Boguaçu,<br />

Estação Ecológica do Guaraguaçu e Reserva Particular do<br />

Patrimônio Natural Fazenda Palmital. A primeira engloba<br />

apenas uma ínfima parte da população da baía <strong>de</strong> Guaratuba.<br />

A Estação Ecológica do Guaraguaçu engloba a melhor área da<br />

população do rio Guaraguaçu, mas essa população é pequena<br />

(tabela 2) e muitas manchas <strong>de</strong> brejo <strong>de</strong> maré da unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

conservação estão bastante invadidas por capins exóticos. A<br />

Reserva Particular do Patrimônio Natural Fazenda Palmital<br />

engloba a maior parte da população <strong>de</strong> Itapoá, mas ela é bem<br />

pequena e aparentemente acha-se em processo natural <strong>de</strong> extinção<br />

(vi<strong>de</strong> “População <strong>de</strong> Itapoá” acima). A Reserva Natural<br />

do Cachoeira, <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> da Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pesquisa em<br />

Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), engloba uma<br />

pequena parte da população da baía <strong>de</strong> Antonina. Essa área<br />

<strong>de</strong>verá ser titulada como Reserva Particular do Patrimônio<br />

Natural e talvez também seja ampliada, po<strong>de</strong>ndo vir a englobar<br />

área ainda maior com ocorrência da espécie.<br />

A lagoa do Parado é limítrofe ao recém criado Parque<br />

Nacional Saint-Hilaire/Lange, que engloba florestas acima <strong>de</strong><br />

20 m s.n.m. e campo <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>. A lei <strong>de</strong> criação <strong>de</strong>sse parque<br />

prevê a sua re<strong>de</strong>limitação, o que motivou inúmeros esforços<br />

para que fosse ampliado até o nível do mar, englobando a<br />

lagoa do Parado, mas que resultaram infrutíferos até o presente<br />

(e.g. Siedlecki et al. 2003).<br />

Como ações e estudos objetivando a proteção da espécie,<br />

mesmo que indiretos, sugerem-se os que seguem.<br />

1) Criar pelo menos uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação <strong>de</strong> proteção<br />

integral que inclua parcela significativa <strong>de</strong> uma população<br />

da espécie em área importante para a sua conservação (vi<strong>de</strong><br />

acima). Em or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> importância, essas áreas são a lagoa<br />

do Parado e as planícies <strong>de</strong> maré da baía <strong>de</strong> Guaratuba, baía<br />

da Babitonga, baía <strong>de</strong> Antonina e confluência dos rios do<br />

Neves e Nhundiaquara.<br />

2) Implantar programa contínuo e ininterrupto <strong>de</strong> controle <strong>de</strong><br />

vegetais exóticos invasores <strong>de</strong> brejos na região <strong>de</strong> ocorrência<br />

<strong>de</strong> S. acutirostris. Sugere-se que inicie na baía <strong>de</strong><br />

Guaratuba, pois é on<strong>de</strong> existe a maior população da espécie<br />

e on<strong>de</strong> se localizam as duas áreas mais importantes para a<br />

sua conservação.<br />

3) Intensificar a fiscalização para evitar a subtração, drenagem<br />

e uso (e.g. para pastoreio) <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> preservação<br />

permanente na região <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> S. acutirostris.<br />

4) Atualizar a quantificação da área <strong>de</strong> ocupação da espécie,<br />

utilizando-se <strong>de</strong> fotografias aéreas ou imagens <strong>de</strong> satélite<br />

atuais. Prioritariamente, <strong>de</strong>ve-se rever a área <strong>de</strong> ocupação<br />

em Santa Catarina. O estudo <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>talhado o suficiente<br />

para se i<strong>de</strong>ntificar e <strong>de</strong>scartar áreas contaminadas por plantas<br />

exóticas que outrora eram brejo. Ainda se recomenda<br />

que trabalhos <strong>de</strong> campo complementem o estudo, para que<br />

se <strong>de</strong>scarte da quantificação <strong>de</strong> áreas locais com ambiente<br />

propício sem registro e se adicione brejos secundários com<br />

registro da espécie.<br />

5) Reavaliar o tamanho da população <strong>de</strong> S. acutirostris,<br />

<strong>de</strong>terminando-se a área <strong>de</strong> territórios da espécie em cada<br />

ambiente <strong>de</strong> ocorrência.<br />

6) Estudar a ecologia da espécie.


Distribuição, tamanho populacional, hábitat e conservação do bicudinho-do-brejo<br />

Stymphalornis acutirostris Bornschein, Reinert e Teixeira, 1995 (Thamnophilidae)<br />

511<br />

7) Efetuar estudo genético para se verificar a variabilida<strong>de</strong><br />

genética das populações <strong>de</strong> S. acutirostris.<br />

Essas propostas, das quais as duas primeiras são prioritárias,<br />

po<strong>de</strong>m compor um plano <strong>de</strong> conservação da espécie,<br />

que <strong>de</strong>ve ser proposto e viabilizado em conjunto com ações<br />

<strong>de</strong> cunho social <strong>de</strong> longo prazo dirigidas para comunida<strong>de</strong>s da<br />

região <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> S. acutirostris.<br />

Discussão<br />

Ambientes e sucessão vegetacional. Os Thamnophilidae são<br />

pouco freqüentes em brejos (Willis 1985), sendo S. acutirostris<br />

o único <strong>de</strong>ssa família que os têm como ambiente preferencial<br />

(Zimmer e Isler 2003). Outras espécies da família que<br />

B.L.R. e M.R.B. observaram em brejos, no Paraná, são o papaformiga-vermelho<br />

(Formicivora rufa), choca-barrada (Thamnophilus<br />

doliatus), choca-da-mata (T. caerulescens) e choca<strong>de</strong>-chapéu-vermelho<br />

(T. ruficapillus), essa com freqüência.<br />

As menções <strong>de</strong> que S. acutirostris “eventualmente ocorre...<br />

em capoeiras ou vegetações pioneiras em recomposição” e <strong>de</strong><br />

que “eventualmente <strong>de</strong>ixa [áreas alagadas] e freqüenta... áreas<br />

<strong>de</strong> restinga” (Straube et al. 2004) são imprecisas e vagas. Não<br />

se <strong>de</strong>scarta que esses registros em supostos ambientes distintos<br />

dos aqui <strong>de</strong>scritos como <strong>de</strong> ocorrência da espécie tenham<br />

se baseado em indivíduos atraídos <strong>de</strong> seus locais <strong>de</strong> vida por<br />

playback. O brejo on<strong>de</strong> se registrou S. acutirostris em “Volta<br />

Velha, Itapoá”, Santa Catarina (Naka et al. 2000), citado como<br />

distinto, é um brejo secundário com muitos arbustos (B.L.R. e<br />

M.R.B., obs. pess., 1998). Nele, B.L.R. e M.R.B. assinalaram<br />

a presença <strong>de</strong> um casal da espécie e, <strong>de</strong>ntre as plantas, várias<br />

herbáceas (e.g. Fuirena robusta, Eleocharis flavescens, Cyperus<br />

haspan, Urochloa arrecta, Corta<strong>de</strong>ria selloana, Blechnum<br />

brasiliense e Thelypteris interrupta), arbustivas (e.g. carqueja<br />

Baccharis trimera, Baccharis sp., assa-peixe Vernonia beyrichii,<br />

tucum Bactris setosa) e algumas arbóreas. A ocorrência<br />

<strong>de</strong> S. acutirostris nesse ambiente não causa surpresa.<br />

O fato <strong>de</strong> a espécie viver unicamente em ambientes pioneiros<br />

resulta em gran<strong>de</strong>s implicações na sua conservação e,<br />

possivelmente, na sua distribuição geográfica pretérita. Sendo<br />

pioneiros, esses ambientes são temporários, “preparando” um<br />

<strong>de</strong>terminado local para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> outros tipos <strong>de</strong><br />

ambientes. Surgem iniciando a ocupação <strong>de</strong> solo exposto e/ou<br />

água e “<strong>de</strong>saparecem” ce<strong>de</strong>ndo lugar à floresta, etapa final do<br />

processo <strong>de</strong> sucessão vegetacional. Isso, por sua vez, implica<br />

não existiam anos atrás nos lugares on<strong>de</strong> hoje se encontram<br />

e que neles não existirão no futuro. Situação mais ou menos<br />

similar ocorre com as espécies que vivem em manguezais e<br />

ambientes primários tal qual capoeiras que se formam na beira<br />

<strong>de</strong> rios em conseqüência do dinamismo fluvial, por exemplo.<br />

Com base no exposto acima, assume-se que todos os<br />

ambientes da espécie se transformarão em Floresta Ombrófila<br />

Densa das Terras Baixas sob o atual padrão climático. Os<br />

ambientes herbáceos, exceto o brejo <strong>de</strong> capim-serra, passam<br />

antes por um estágio com estrato superior arbóreo e inferior<br />

herbáceo com espécies <strong>de</strong> brejos. À medida que a sucessão<br />

avança, o maior sombreamento vai rareando as espécies <strong>de</strong><br />

brejos, tipicamente heliófilas, e inicia a entrada <strong>de</strong> elementos<br />

tipicamente florestais no ambiente. Ao se formar um estrato<br />

vegetacional intermediário, o ambiente já po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado<br />

florestal.<br />

A velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formação e o tempo <strong>de</strong> sucessão <strong>de</strong><br />

ambientes pioneiros são assuntos pouco conhecidos e, igualmente,<br />

importantes para a conservação e entendimento da<br />

distribuição geográfica <strong>de</strong> S. acutirostris. Confirmou-se o surgimento<br />

<strong>de</strong> manchas <strong>de</strong> manguezal com herbáceas em áreas<br />

<strong>de</strong> brejo <strong>de</strong> maré comparando-se fotografias aéreas <strong>de</strong> 1980 e<br />

1996 (ilha do Chapeuzinho, baía <strong>de</strong> Guaratuba), como também<br />

uma fotografia aérea <strong>de</strong> 1980 em campo, em 2001 (ilha do<br />

Pirizal, rio Nhundiaquara). Manguezais a<strong>de</strong>nsados <strong>de</strong> Laguncularia<br />

racemosa po<strong>de</strong>m levar cinco anos do surgimento até<br />

a altura <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 3‐3,5 m, e mais outros cinco anos para<br />

que o ambiente assuma uma forma mais típica, com árvores<br />

mais robustas, esgalhadas e menos a<strong>de</strong>nsadas, o que ocorre<br />

com a morte <strong>de</strong> indivíduos menores (M.R.B. e B.L.R., obs.<br />

pess., baía <strong>de</strong> Guaratuba). Um caxetal que foi cortado, virando<br />

brejo secundário (sucessão regressiva), voltou a ser caxetal em<br />

oito anos, embora com altura menor e as árvores <strong>de</strong> Tabebuia<br />

cassinoi<strong>de</strong>s perfilhadas (município <strong>de</strong> Morretes, Paraná). A<br />

extração <strong>de</strong>ssa espécie na lagoa do Parado (município <strong>de</strong> Guaratuba)<br />

ampliou, igualmente por sucessão regressiva, a área<br />

<strong>de</strong> caxetal com herbáceas do local, conforme se <strong>de</strong>duziu em<br />

fotografias aéreas <strong>de</strong> 1980. Com o encerramento da exploração<br />

comercial daquela espécie no início da década <strong>de</strong> 1980,<br />

o componente arbóreo do ambiente se a<strong>de</strong>nsou, conforme se<br />

avaliou em fotografias aéreas <strong>de</strong> 1996. Quatorze hectares <strong>de</strong><br />

brejo intercordão, consi<strong>de</strong>rados como tal a partir da análise <strong>de</strong><br />

fotografias aéreas <strong>de</strong> 1953 (por R. J. Angulo), foram consi<strong>de</strong>rados<br />

como caxetal com herbáceas a partir da análise <strong>de</strong> fotografias<br />

aéreas <strong>de</strong> 1980 (por M.R.B.). Em um local do acrescido<br />

<strong>de</strong> marinha em Pontal do Sul (município <strong>de</strong> Pontal do Paraná,<br />

Paraná), transcorreram quatro anos entre o surgimento dos primeiros<br />

indivíduos <strong>de</strong> Typha domingensis até a formação <strong>de</strong> um<br />

brejo propriamente dito (no caso, brejo intercordão). Brejos<br />

secundários, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo das condições, po<strong>de</strong>m se formar em<br />

apenas dois anos. Isso indica que ambientes pioneiros po<strong>de</strong>m<br />

surgir e se modificar muito rapidamente, mas não quer dizer<br />

que milhares <strong>de</strong> anos não sejam eventualmente necessários<br />

para algumas transformações.<br />

Ainda ocorrem modificações, em curto prazo <strong>de</strong> tempo, na<br />

riqueza e domínio <strong>de</strong> espécies botânicas nos brejos in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

do processo <strong>de</strong> sucessão vegetacional. Já mencionado, é<br />

o caso das invasoras exóticas. Brejos intercordões em Pontal<br />

do Sul (município <strong>de</strong> Pontal do Paraná, Paraná; sem ocorrência<br />

<strong>de</strong> S. acutirostris), muito queimados, tiveram aumento do<br />

domínio da nativa Typha domingensis em <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> Cladium<br />

mariscus (M.R.B. e B.L.R., obs. pess.). Ao menos os brejos<br />

<strong>de</strong> maré, intercordão e <strong>de</strong> meandro são ocupados por inúmeras<br />

espécies herbáceas e arbustivas ru<strong>de</strong>rais quando áreas


512 Bianca Luiza Reinert, Marcos Ricardo Bornschein e Carlos Firkowski<br />

marginais são convertidas em paisagens antropizadas, como<br />

pastagens e zonas <strong>de</strong> plantios. Brejos do planalto paranaense,<br />

particularmente os situados na região dos Campos Gerais,<br />

estão sendo rapidamente alterados pela invasão <strong>de</strong> T. domingensis,<br />

outrora ausente ou pelo menos muito local naqueles<br />

brejos. Isso é um impacto para o recém <strong>de</strong>scrito macuquinhoda-várzea<br />

(Scytalopus iraiensis) (vi<strong>de</strong> Bornschein et al. 1998),<br />

que não sobrevivem nos locais invadidos por aquela planta<br />

(M.R.B. e B.L.R., obs. pess.). De brejos estudados em 1997 e<br />

1998, com ocorrência <strong>de</strong> S. iraiensis, pelo menos dois foram<br />

invadidos por T. domingensis e dois tiveram a área invadida<br />

aumentada oito anos <strong>de</strong>pois. Outros inúmeros brejos do planalto<br />

paranaense, sem ocorrência <strong>de</strong> S. iraiensis, foram invadidos<br />

nos últimos anos. Isso <strong>de</strong>nota a suscetibilida<strong>de</strong> a alterações<br />

e conseqüente fragilida<strong>de</strong> dos brejos, o que, por sua vez, também<br />

implica na conservação <strong>de</strong> S. acutirostris.<br />

Planície <strong>de</strong> maré. Analisando o manguezal como unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

mapeamento, principalmente em cartas geológicas do litoral<br />

do Paraná, Angulo (1990) constatou que o que se <strong>de</strong>nominou<br />

como tal, incluía, no estado, pelo menos sete ambientes (manguezal,<br />

marismas, bancos arenosos e areno-argilosos, manguezal<br />

com Acrostichum e Hibiscus, zona <strong>de</strong> Cladium, pântano<br />

<strong>de</strong> maré e brejo <strong>de</strong> maré). Por isso, consi<strong>de</strong>rou ina<strong>de</strong>quada<br />

a <strong>de</strong>nominação manguezal nas cartas geológicas, a não ser<br />

quando utilizada em mapas cuja escala <strong>de</strong> trabalho permitisse<br />

separar esse ambiente dos <strong>de</strong>mais envolvidos. Para quando<br />

não for necessário ou quando a escala pequena impossibilite<br />

a separação dos distintos ambientes, o autor sugeriu a utilização<br />

<strong>de</strong> um termo que os inclua, propondo “planície <strong>de</strong> maré”.<br />

Referenciando outra obra, citou que esse termo “caracteriza<br />

áreas <strong>de</strong>senvolvidas entre marés, em costas <strong>de</strong> baixo <strong>de</strong>clive,<br />

com marcado ciclo <strong>de</strong> marés, com suficiente sedimento disponível<br />

e sem forte ação das ondas” (vi<strong>de</strong> CNPq 1987). No<br />

contexto <strong>de</strong> S. acutirostris (e da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aves), a planície<br />

<strong>de</strong> maré <strong>de</strong>signa uma região com inúmeras particularida<strong>de</strong>s<br />

em comum (e.g. questões ecológicas e conservacionistas),<br />

motivo pelo qual se sugere o emprego do termo em assuntos<br />

alusivos à espécie. Ambientes <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> S. acutirostris<br />

que se situam em planície <strong>de</strong> maré são o brejo <strong>de</strong> maré (em<br />

parte), brejo <strong>de</strong> capim-serra, manguezal com herbáceas e guanandizal<br />

com herbáceas (em parte). Na figura 7, apresenta-se<br />

uma vista aérea <strong>de</strong> uma planície <strong>de</strong> maré, que já constou em<br />

mapeamentos como sendo constituída apenas por manguezal<br />

(e.g. Herz 1991).<br />

Comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aves. A comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aves dos ambientes<br />

herbáceos (brejos) <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> S. acutirostris no Paraná,<br />

alvo <strong>de</strong> um estudo futuro, compõe-se por mais <strong>de</strong> 100 espécies,<br />

as quais apresentam diferentes hábitos, status <strong>de</strong> ocorrência<br />

e distribuições na região. Há espécies que vivem na<br />

proximida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água parada (e.g. freirinha Arundinicola leucocephala),<br />

na vegetação herbácea <strong>de</strong>nsa (e.g. joão-teneném<br />

Synallaxis spixi) ou on<strong>de</strong> há reduzida <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vegetação,<br />

alguma salinida<strong>de</strong> e maior tempo <strong>de</strong> inundação pelo regime<br />

<strong>de</strong> marés. Esse é o caso <strong>de</strong> Phleocryptes melanops, Tachuris<br />

rubrigastra e sargento (Agelasticus thilius), que ocorrem<br />

junto com S. acutirostris, mas têm distribuições geográficas<br />

muito mais reduzidas na região. Outras aves que convivem<br />

com S. acutirostris são o socoí-vermelho (Ixobrychus exilis),<br />

socoí-amarelo (I. involucris), saracura-matraca (Rallus longirostris),<br />

sanã-parda (Laterallus melanophaius), saracura-sanã<br />

(Pardirallus nigricans), joão-pobre (Serpophaga nigricans),<br />

amarelinho-do-junco (Pseudocolopteryx flaviventris) e carretão<br />

(Agelasticus cyanopus), por exemplo.<br />

Distribuição. Como resultados do presente estudo, <strong>de</strong>tectou-se<br />

S. acutirostris ao sul do registro mais austral prévio e<br />

a sua distribuição geográfica foi <strong>de</strong>terminada e reconhecida<br />

como dividida em oito populações. A extensão <strong>de</strong> ocorrência<br />

da espécie foi estimada em 1.850 km² (BirdLife International<br />

2000), certamente tendo-se consi<strong>de</strong>rado toda a área compreendida<br />

entre os registros extremos citados em Bornschein e<br />

Reinert (1997). Esse valor é muito acima dos 430 km² estimados,<br />

nesse estudo, como extensão <strong>de</strong> ocorrência da espécie,<br />

o qual também é muito acima dos 60 km² estimados, igualmente<br />

nesse estudo, como área <strong>de</strong> ocupação da espécie. Os<br />

três valores apresentados são muito discrepantes e <strong>de</strong>stacam o<br />

quanto po<strong>de</strong> não ser realista a estimativa da área <strong>de</strong> extensão<br />

<strong>de</strong> ocorrência (vi<strong>de</strong> Fraga 2003). Mesmo tendo-se partido da<br />

área <strong>de</strong> ocupação <strong>de</strong> S. acutirostris para estimar a extensão <strong>de</strong><br />

ocorrência, e tendo sido feita fotointerpretação e mapeamento<br />

na escala 1:25.000, a menor extensão <strong>de</strong> ocorrência que se<br />

conseguiu estimar resultou 717% maior do que área <strong>de</strong> ocupação<br />

da espécie. No caso, a extensão <strong>de</strong> ocorrência estimada <strong>de</strong><br />

S. acutirostris incluiu superfície d’água, florestas, manguezais<br />

e usos do solo on<strong>de</strong> não há ocorrência da espécie (e.g. áreas<br />

<strong>de</strong> agricultura).<br />

Stymphalornis acutirostris é um dos Thamnophilidae com<br />

menor distribuição geográfica (Zimmer e Isler 2003). A área<br />

<strong>de</strong> ocupação da espécie representa 3,3% da área do Parque<br />

Nacional do Iguaçu, no oeste do Paraná, menos do que o dobro<br />

da área do Parque Nacional da Tijuca, no Rio <strong>de</strong> Janeiro, e um<br />

pouco mais do que o dobro da área da Ilha do Mel, no litoral<br />

do Paraná, por exemplo. A área da extensão <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong><br />

S. acutirostris é comparada com a das 1.186 espécies ameaçadas<br />

<strong>de</strong> extinção no mundo (BirdLife International 2000) na<br />

tabela 4, na qual se agrupou os valores das áreas fornecidas<br />

em intervalos. Somente 29% <strong>de</strong> todas as aves ameaçadas <strong>de</strong><br />

extinção do mundo têm uma extensão <strong>de</strong> ocorrência menor ou<br />

semelhante à <strong>de</strong> S. acutirostris. A área da extensão <strong>de</strong> ocorrência<br />

<strong>de</strong> todas as aves do mundo não é conhecida. Sendo o<br />

reduzido tamanho <strong>de</strong> distribuição um critério da UICN, mas<br />

não único, para consi<strong>de</strong>rar espécies como ameaçadas <strong>de</strong> extinção,<br />

supõem-se que todas as aves que têm pequenas distribuições,<br />

como a <strong>de</strong> S. acutirostris, sejam ameaçadas e constem<br />

em BirdLife International (2000). Logo, as espécies não ameaçadas<br />

provavelmente têm extensão <strong>de</strong> ocorrência pelo menos<br />

maior do que 501 km², conforme intervalo <strong>de</strong> área apresentado<br />

na tabela 4. Assim, das 9.797 espécies <strong>de</strong> aves do mundo


Distribuição, tamanho populacional, hábitat e conservação do bicudinho-do-brejo<br />

Stymphalornis acutirostris Bornschein, Reinert e Teixeira, 1995 (Thamnophilidae)<br />

513<br />

(BirdLife International 2000), apenas 3,5% <strong>de</strong>las teriam extensão<br />

<strong>de</strong> ocorrência menor ou semelhante à <strong>de</strong> S. acutirostris.<br />

A área <strong>de</strong> ocupação <strong>de</strong> S. acutirostris foi estimada a partir<br />

da realida<strong>de</strong> ambiental <strong>de</strong> 1978, em Santa Catarina, atual,<br />

na faixa costeira entre Pontal do Sul e Matinhos (Paraná), e<br />

<strong>de</strong> 1980, no resto do Paraná (os anos referem-se aos da realização<br />

das fotografias aéreas utilizadas na fotointerpretação).<br />

Devido à escala <strong>de</strong> trabalho (1:25.000), a estimativa <strong>de</strong> área<br />

certamente foi em algo subestimada pela dificulda<strong>de</strong>, senão<br />

impossibilida<strong>de</strong>, em <strong>de</strong>tectar faixas <strong>de</strong> brejos com até 1 m <strong>de</strong><br />

largura na fotointerpretação. Por outro lado, a estimativa foi<br />

superestimada pela impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> distinguir, na fotointerpretação,<br />

locais tomados por capins exóticos que eram<br />

brejos. Acredita-se que a área <strong>de</strong> ocupação da espécie, até os<br />

anos da realização das fotografias aéreas, foi superestimada<br />

em cerca <strong>de</strong> 3 a 5%. De 1978 e 1980 para o presente, houve<br />

perda <strong>de</strong> área <strong>de</strong> ocupação, principalmente em Santa Catarina,<br />

e ampliação da área <strong>de</strong> ocupação em um local, pela formação<br />

e colonização pela espécie <strong>de</strong> brejos secundários. No período,<br />

<strong>de</strong>scontado o acréscimo, acredita-se que houve perda <strong>de</strong> área<br />

<strong>de</strong> ocupação da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 7 a 15%. Desse modo, projeta-se que<br />

a área <strong>de</strong> ocupação <strong>de</strong> 6.060 ha <strong>de</strong> S. acutirostris possa ser, nos<br />

dias atuais, entre cerca <strong>de</strong> 10 e 20% menor.<br />

É possível que S. acutirostris ocorresse mais ao sul do que<br />

<strong>de</strong>tectado por esse estudo. Várias áreas visitadas, ao menos<br />

até o município <strong>de</strong> Camboriú, têm ambientes propícios para<br />

a espécie, porém, muito alterados por impactos <strong>de</strong> origem<br />

antrópica. Não se <strong>de</strong>scarta que a espécie tenha se extinguido<br />

recentemente <strong>de</strong> locais mais austrais do que o rio Itapocu, ou<br />

que ela ainda venha a ser registrada, ao sul <strong>de</strong>sse rio, em algum<br />

local mais protegido. Straube et al. (2004) mencionaram como<br />

provável que existam populações não <strong>de</strong>tectadas <strong>de</strong> S. acutirostris<br />

no litoral norte do Paraná, na região <strong>de</strong> Guaraqueçaba,<br />

ao norte do limite estabelecido nesse estudo. Embora haja<br />

ambientes propícios nessa região (vi<strong>de</strong> “População da baía <strong>de</strong><br />

Tabela 4. Extensão <strong>de</strong> ocorrência das 1.186 espécies <strong>de</strong> aves ameaçadas <strong>de</strong><br />

extinção no mundo, segundo BirdLife International (2000).<br />

Table 4. Extent of occurrence of the 1,186 threatened bird species in the<br />

world, according to BirdLife International (2000).<br />

Número <strong>de</strong> espécies<br />

Extensão <strong>de</strong> ocorrência (km²)<br />

73 1 – 10<br />

96 11 – 50<br />

49 51 – 100<br />

123* 101 – 500<br />

64 501 – 1.000<br />

86** 1.001 – 2.000<br />

313 2.001 – 20.000<br />

337 > 20.001<br />

45 <strong>de</strong>sconhecida<br />

* O bicudinho-do-brejo (Stymphalornis acutirostris) <strong>de</strong>veria ser alocado<br />

neste grupo, segundo a estimativa do presente estudo. Observação: a área<br />

<strong>de</strong> ocupação da espécie é <strong>de</strong> 60 km² (vi<strong>de</strong> “Estimativa <strong>de</strong> áreas, território e<br />

população” e “Distribuição”).<br />

** Stymphalornis acutirostris foi alocado neste grupo em BirdLife International<br />

(2000).<br />

Antonina” acima), o gran<strong>de</strong> esforço <strong>de</strong> procura realizado por<br />

B.L.R. e M.R.B. na região refuta a suspeita daqueles autores.<br />

Outro local com possível ocorrência <strong>de</strong> S. acutirostris é o rio<br />

Faisqueira, na baía <strong>de</strong> Antonina, município <strong>de</strong> Antonina. Se<br />

confirmada a ocorrência da espécie no local, on<strong>de</strong> B.L.R. e<br />

M.R.B. estiveram presentes, mas em condições climáticas <strong>de</strong>sfavoráveis,<br />

se projetaria para leste a área geográfica da população<br />

da baía <strong>de</strong> Antonina.<br />

Das duas localida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> registro <strong>de</strong> S. acutirostris em<br />

Santa Catarina <strong>de</strong> Naka et al. (2000), uma se insere na população<br />

<strong>de</strong> Itapoá. No ponto exato do registro <strong>de</strong>ssa localida<strong>de</strong>,<br />

inclusive, B.L.R. e M.R.B. observaram a espécie um ano antes<br />

(vi<strong>de</strong> “População <strong>de</strong> Itapoá” acima). A outra localida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

registros foi citada como “...few metres [sic] from the Paraná<br />

bor<strong>de</strong>r (at 25°59´S 48°42´W), ...along the road from Garuva to<br />

Itapoá, in different patches of Typha”. A coor<strong>de</strong>nada geográfica<br />

indicada situa a localida<strong>de</strong> em Santa Catarina, mas a 600 m<br />

da rodovia. Brejos <strong>de</strong> Typha ao longo da rodovia (PR 412)<br />

ocorrem logo à nor<strong>de</strong>ste do ponto da coor<strong>de</strong>nada (c. <strong>de</strong> 6 km),<br />

como em Olaria, só que no Paraná e não em Santa Catarina.<br />

Acreditamos que essa localida<strong>de</strong> <strong>de</strong> registros <strong>de</strong> Naka et al.<br />

(2000) tenha sido efetuada na região <strong>de</strong> Olaria, Paraná, e equivocadamente<br />

atribuída como situada em Santa Catarina. Olaria,<br />

on<strong>de</strong> há registros da espécie por B.L.R. e M.R.B., se insere<br />

na população <strong>de</strong> Guaratuba (vi<strong>de</strong> “Brejo secundário” acima).<br />

Naka et al. (2000) ainda se equivocaram ao mencionar que<br />

S. acutirostris ocorre na bacia hidrográfica do rio Paraná.<br />

A distribuição <strong>de</strong> S. acutirostris em populações isoladas e<br />

a sua ausência em locais com ambiente propício entre essas<br />

populações, e mesmo pouco além <strong>de</strong>las, <strong>de</strong>ve estar relacionada,<br />

ao menos em parte, com as variações do nível médio<br />

do mar ocorridas nos últimos milhares <strong>de</strong> anos. Nas regressões<br />

marinhas, rios po<strong>de</strong>m ter formado <strong>de</strong>ltas, espraiando-se<br />

e até conectando-se com outros sobre o que hoje é a plataforma<br />

continental. Nesse cenário, é possível que vastos brejos<br />

tenham se formado e permitido que S. acutirostris expandisse<br />

a sua distribuição geográfica. Por outro lado, nas transgressões<br />

marinhas po<strong>de</strong> ter havido eliminação <strong>de</strong> brejos. Com os<br />

níveis médios do mar acima dos atuais os brejos po<strong>de</strong>m ter<br />

“migrado” a locais propícios gradualmente mais elevados,<br />

mas também <strong>de</strong>saparecido, o que provavelmente ocorreu nos<br />

setores on<strong>de</strong> a linha <strong>de</strong> costa margeou encostas, por exemplo.<br />

Ocorrendo isso, supõe-se que a espécie tenha se extinguido <strong>de</strong><br />

certas áreas. Com o subseqüente abaixamento do nível médio<br />

do mar, brejos po<strong>de</strong>m ter se formado novamente nessas áreas,<br />

mas <strong>de</strong>ssa vez distantes o suficiente <strong>de</strong> populações <strong>de</strong> S. acutirostris<br />

para impedir que fossem por ele colonizadas.<br />

“O abaixamento o nível do mar durante as épocas glaciais<br />

do Pleistoceno expôs amplas extensões da plataforma continental.<br />

...Durante as épocas interglaciais o levantamento no<br />

nível do mar originou uma transgressão marinha que inundou<br />

novamente as áreas anteriormente emersas da plataforma continental...”<br />

(Bigarella et al. 1978). Segundo estudos <strong>de</strong> Fairbridge,<br />

o nível do mar variou <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 100 a pouco mais <strong>de</strong><br />

10 m abaixo do atual <strong>de</strong> 20.000 até 6.000 anos atrás (Bigarella


514 Bianca Luiza Reinert, Marcos Ricardo Bornschein e Carlos Firkowski<br />

e Sanches 1966). No Paraná, o nível marinho do Pleistoceno,<br />

bem documentado, mais elevado é <strong>de</strong> 12 a 13 m acima do atual<br />

(Bigarella et al. 1978). Numa tentativa <strong>de</strong> correlação dos dados<br />

<strong>de</strong> Fairbridge para o litoral do Su<strong>de</strong>ste e Sul do Brasil nos últimos<br />

6.000 anos (Bigarella 1964, Bigarella e Sanches 1966),<br />

<strong>de</strong>monstrou-se que o nível do mar alternou-se ciclicamente<br />

acima e abaixo do atual. Entre 6.000 e 4.000 anos atrás, chegou<br />

até cerca <strong>de</strong> 3,5 m abaixo e 3 m acima do atual; após, as<br />

variações foram gradualmente menores (Bigarella 1964, Bigarella<br />

e Sanches 1966). Em oposição, estudos recentes no litoral<br />

<strong>de</strong> São Paulo ao <strong>de</strong> Santa Catarina, compilados em Angulo e<br />

Giannini (1996), <strong>de</strong>monstraram que nos últimos 7.000 anos<br />

houve somente ciclos <strong>de</strong> níveis do mar mais altos do que o<br />

atual, e que eles foram cada vez mais baixos (o maior foi inferior<br />

a 4 m). Inúmeros estudos <strong>de</strong> <strong>de</strong>pósitos arenosos, sambaquis<br />

e conchas, entre outros elementos, ainda foram efetuados<br />

no litoral Su<strong>de</strong>ste e Sul do Brasil visando estimar a altura e<br />

época <strong>de</strong> níveis pretéritos do mar (vi<strong>de</strong> compilações <strong>de</strong>sses<br />

estudos em Bigarella 1964, Bigarella et al. 1978, Angulo<br />

1994, Angulo e Giannini 1996, Angulo e Souza 2004).<br />

A variação pretérita do nível do mar também foi relacionada<br />

com a distribuição <strong>de</strong> peixes. Menezes (1988) apontou<br />

que a distribuição <strong>de</strong> Oligosarcus hepsetus po<strong>de</strong> ter sido<br />

limitada na altura do Cabo <strong>de</strong> Santa Marta, Santa Catarina,<br />

por conseqüência da Transgressão Flandriana ocorrida entre<br />

10.000 e 6.000 anos atrás. Como nos paralelos 24 a 27°S a plataforma<br />

continental brasileira é larga e nela se formou extensa<br />

re<strong>de</strong> <strong>de</strong> drenagem enquanto permaneceu emersa no último<br />

máximo glacial, Grando (1999) sugeriu que um canal extravasor<br />

comum uniu as bacias hidrográficas da vertente leste da<br />

Serra do Mar naquela região e, conseqüentemente, populações<br />

ictíicas hoje isoladas.<br />

As áreas <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> S. acutirostris situam-se sobre<br />

<strong>de</strong>pósitos sedimentares recentes (Holoceno), tratando-se <strong>de</strong><br />

“sedimentos arenosos <strong>de</strong> origem marinha”, “aluviões” e “manguezais”,<br />

conforme <strong>de</strong>nominação no Paraná (Fuck et al. 1969),<br />

e <strong>de</strong> <strong>de</strong>pósitos marinhos, aluvionares e mistos, conforme <strong>de</strong>nominação<br />

em Santa Catarina (Santa Catarina 1986). No Paraná,<br />

a espécie distribui-se em planície costeira e em planícies aluviais,<br />

conforme Angulo (2004).<br />

Densida<strong>de</strong> e população. A pouca <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> S. acutirostris<br />

nos ambientes com estrato superior arbóreo explica-se pelo<br />

fato <strong>de</strong> que o sombreamento das árvores limita o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

da heliófila vegetação herbácea do estrato inferior, que<br />

é on<strong>de</strong> a espécie vive. O sombreamento reduz o nível <strong>de</strong> cobertura<br />

do solo (vi<strong>de</strong> as <strong>de</strong>finições <strong>de</strong>sses ambientes acima) e a<br />

<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> da vegetação, o que foi medido em análises fitossociológicas.<br />

Assim, existe menos biomassa vegetal disponível<br />

para alimentação, reprodução e proteção <strong>de</strong> S. acutirostris,<br />

implicando redução <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>. A menor insolação também<br />

po<strong>de</strong>ria influenciar reduzindo a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alimento<br />

disponível. Aves tipicamente florestais que se registrou nos<br />

ambientes com estrato superior arbóreo alimentam-se nesse<br />

estrato da vegetação, além dos troncos das árvores (não há<br />

estrato médio), o que <strong>de</strong>scarta a eventual possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

competição com S. acutirostris.<br />

Dentre os ambientes herbáceos, S. acutirostris também é<br />

pouco <strong>de</strong>nso no brejo <strong>de</strong> capim-serra. Esse ambiente localizase<br />

na parte superior da região entre marés, aproximadamente<br />

entre o nível médio <strong>de</strong> maré alta e maré alta <strong>de</strong> sizígia, e tem<br />

uma freqüência <strong>de</strong> inundação menor que a do manguezal,<br />

sendo inundado apenas pelas marés altas <strong>de</strong> sizígia e <strong>de</strong> tormenta<br />

(Angulo 1990). Assim, normalmente é <strong>de</strong>sprovido <strong>de</strong><br />

coluna d’água, fato que po<strong>de</strong>ria influenciar na oferta <strong>de</strong> alimento.<br />

Acredita-se que esse ambiente também é limitante para<br />

outras aves, pois muitas espécies comuns nos <strong>de</strong>mais tipos <strong>de</strong><br />

brejos são raras ou mesmo ausentes no brejo <strong>de</strong> capim-serra<br />

(vi<strong>de</strong> Bornschein 2001).<br />

A <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> estimada da espécie no ponto com brejo <strong>de</strong><br />

maré não é a mesma em todos os lugares <strong>de</strong>sse ambiente. Nas<br />

áreas da planície <strong>de</strong> maré com maior tempo e altura <strong>de</strong> alagamento,<br />

a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> da espécie é menor, conforme sugerem<br />

observações em campo. Isso era esperável, uma vez que a<br />

altura <strong>de</strong> vegetação emersa durante as marés altas nesses locais<br />

é bem menor do que a do ponto on<strong>de</strong> se realizou a avaliação da<br />

<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> da espécie no brejo <strong>de</strong> maré. Já a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> estimada<br />

da espécie no brejo <strong>de</strong> capim-serra talvez seja menor do que a<br />

<strong>de</strong> certos ambientes com estrato superior arbóreo, como o guanandizal<br />

com herbáceas. A primeira situação revela que houve<br />

superestimação da população <strong>de</strong> S. acutirostris e a segunda,<br />

se confirmada, implicaria subestimação. Também implicou<br />

subestimação da população da espécie o fato <strong>de</strong> não terem sido<br />

contabilizados juvenis e adultos não pareados, assim como<br />

implicou superestimação a consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> uma área global<br />

<strong>de</strong> ocorrência, para fins <strong>de</strong> cálculo, que se avalia estar <strong>de</strong> 10 a<br />

20% menor atualmente (vi<strong>de</strong> “Distribuição” acima).<br />

A estimativa da população <strong>de</strong> S. acutirostris entre 2.500 e<br />

10.000 indivíduos maduros (BirdLife International 2000), foi<br />

arbitrada.<br />

Em Thamnophilidae, os tamanhos dos territórios estudados<br />

<strong>de</strong> Myrmotherula fulviventris e papa-formiga-<strong>de</strong>-bando<br />

(Microrhopias quixensis), na ilha <strong>de</strong> Barro Colorado, Zona do<br />

Canal do Panamá, foram <strong>de</strong> 1,5 ha, em média, na estação chuvosa<br />

(Skutch 1996). Na estação seca, po<strong>de</strong>m chegar a 3,2 ha<br />

(Skutch 1996). Na mesma ilha, os territórios da choquinha-<strong>de</strong>flanco-branco<br />

(Myrmotherula axillaris) variam <strong>de</strong> 1,5 a 4.5 ha<br />

(2,5 ha em média) (Skutch 1996), os <strong>de</strong> casais <strong>de</strong> Hylophylax<br />

naevioi<strong>de</strong>s, na década <strong>de</strong> 1960, foram <strong>de</strong> aproximadamente<br />

4,7 ha (Willis 1972), e os <strong>de</strong> casais da choca-bate-cabo (Thamnophilus<br />

punctatus), em 1969, foram pouco menores do que<br />

1 ha (Oniki 1975). No Panamá, <strong>de</strong>tectaram-se territórios do formigueiro-<strong>de</strong>-barriga-branca<br />

(Myrmeciza longipes) <strong>de</strong> 0,73 ha,<br />

em média, em local com gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> 2,38 ha, em<br />

média, em local com baixa <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> territórios (Fedy e<br />

Stutchbury 2004). No mesmo país, 10 territórios do chororáescuro<br />

(Cercomacra tyrannina) mediram, em média, 0,30 ha,<br />

enquanto que outros três foram maiores, medindo 1,2 ha, em<br />

média (a média dos 13 territórios foi <strong>de</strong> 0,49 ha) (Gorrell et al.<br />

2005). No Pará, territórios <strong>de</strong> casais do papa-formiga-pardo


Distribuição, tamanho populacional, hábitat e conservação do bicudinho-do-brejo<br />

Stymphalornis acutirostris Bornschein, Reinert e Teixeira, 1995 (Thamnophilidae)<br />

515<br />

(Formicivora grisea) mediram <strong>de</strong> 2,14 a 2,65 ha (média <strong>de</strong><br />

2,49 ha) (Silva 1988). Em Barro Colorado, a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> média<br />

<strong>de</strong> Hylophylax naevioi<strong>de</strong>s foi <strong>de</strong> 0,41 indivíduo adulto por<br />

hectare, entre 1961 e 1970 (Willis 1974). No mesmo local e<br />

período, Willis (1974) <strong>de</strong>tectou redução populacional em duas<br />

espécies <strong>de</strong> Thamnophilidae, Gymnopithys bicolor e Phaenostictus<br />

mcleannani. A <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas espécies foi <strong>de</strong> 0,06 e<br />

0,04 indivíduo adulto por hectare, respectivamente, em 1961;<br />

após, as <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ambas reduziram gradualmente pelo<br />

menos até 1970 (Willis 1974). A <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> da mãe-<strong>de</strong>-taoca<br />

(Phlegopsis nigromaculata), no Pará, variou <strong>de</strong> 0,10 a 0,17<br />

indivíduo adulto por hectare (Willis 1979). Comparando-se<br />

esses valores com os estimados para S. acutirostris (casais<br />

com território <strong>de</strong> 3,2 e 0,25 ha; <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 0,62 e 8 indivíduos<br />

maduros por hectare), <strong>de</strong>staca-se o quanto são díspares<br />

os tamanhos <strong>de</strong> territórios nessa espécie e quanto eles po<strong>de</strong>m<br />

ser pequenos (semelhantes apenas aos menores territórios <strong>de</strong><br />

C. tyrannina).<br />

Conservação. Logo após a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> S. acutirostris, B.L.R.<br />

e M.R.B. <strong>de</strong>ram início a várias ações visando à conservação<br />

da espécie. Dentre elas, instrumentou-se dois processos que<br />

foram protocolados no órgão ambiental do Estado do Paraná<br />

(Instituto Ambiental do Paraná – IAP). Um objetivava a proteção<br />

<strong>de</strong> remanescentes <strong>de</strong> ambientes litorâneos na faixa costeira<br />

<strong>de</strong> 35 km <strong>de</strong> extensão entre Pontal do Sul e Matinhos,<br />

incluindo áreas <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> S. acutirostris, e o outro a<br />

inclusão da espécie na lista <strong>de</strong> fauna paranaense ameaçada <strong>de</strong><br />

extinção (protocolos 2.891.653‐1 e 2.891.654‐0). Na época,<br />

vigia a lei estadual nº 11067, <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1995,<br />

que previa a inclusão <strong>de</strong> espécies na lista estadual <strong>de</strong> fauna<br />

ameaçada <strong>de</strong> extinção mediante manifesto da comunida<strong>de</strong><br />

científica, nos termos da respectiva lei, o que foi atendido no<br />

processo mediante o posicionamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> pesquisadores.<br />

Inúmeras tentativas foram feitas no intuito <strong>de</strong> obter-se o<br />

<strong>de</strong>ferimento dos processos (vi<strong>de</strong> Bornschein e Reinert 1997),<br />

mas não se obteve qualquer posicionamento do IAP. Stymphalornis<br />

acutirostris extinguiu-se na localida<strong>de</strong>-tipo, a maior<br />

parte das áreas propostas para conservação foram <strong>de</strong>struídas e<br />

a espécie foi consi<strong>de</strong>rada oficialmente ameaçada <strong>de</strong> extinção<br />

pelo IBAMA (vi<strong>de</strong> abaixo).<br />

Stymphalornis acutirostris foi primeiramente consi<strong>de</strong>rado<br />

ameaçado <strong>de</strong> extinção pelo IBAMA (portaria nº 62 do<br />

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais<br />

Renováveis, <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1997), sem indicação<br />

<strong>de</strong> categoria <strong>de</strong> ameaça, o que foi resultado <strong>de</strong> um processo<br />

aberto por solicitação <strong>de</strong> B.L.R. e M.R.B. junto a esse órgão<br />

(nº 02001.000454/96‐30). Posteriormente, foi apontado como<br />

ameaçado <strong>de</strong> extinção na lista <strong>de</strong> aves ameaçadas do mundo<br />

(BirdLife International 2000, 2004), na nova lista <strong>de</strong> fauna<br />

ameaçada do Brasil (Instrução Normativa nº 3 do Ministério<br />

do Meio Ambiente, <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2003) e na nova lista <strong>de</strong><br />

fauna ameaçada do Paraná (Mikich e Bérnils 2004). Nessas<br />

listas, S. acutirostris foi consi<strong>de</strong>rado como ameaçado na categoria<br />

“em perigo” (= Endangered), o que concorda com resultados<br />

do presente estudo (vi<strong>de</strong> “Conservação” nos “Resultados”<br />

acima).<br />

Das ações <strong>de</strong> âmbito global para a conservação da espécie<br />

apontadas em Birdlife International (2000), resta, em nada<br />

atendida, a proteção <strong>de</strong> áreas, especialmente em Guaratuba, o<br />

que concorda com a principal reivindicação do presente estudo.<br />

Como ações para a conservação da espécie no Paraná, Straube<br />

et al. (2004) indicaram “fiscalização e criação <strong>de</strong> novas unida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> conservação”, o que também está <strong>de</strong> acordo com o<br />

presente estudo. Esses autores, no entanto, comentaram que<br />

ambas são as “únicas alternativas viáveis para salvaguardar<br />

as últimas populações <strong>de</strong>sta espécie”, o que não é respaldado<br />

pelo presente estudo. Straube et al. (2004) também apontaram<br />

como possíveis ações para a conservação da espécie as propostas<br />

sugeridas por Bornschein e Reinert (1997), mas elas não<br />

se aplicam pois referem-se à proteção <strong>de</strong> uma área <strong>de</strong> 100 ha<br />

no acrescido <strong>de</strong> marinha <strong>de</strong> Pontal do Sul, on<strong>de</strong> S. acutirostris<br />

não ocorre. Straube et al. (2004) ainda indicaram o Parque<br />

Nacional Saint-Hilaire/Lange como provável local <strong>de</strong> registro<br />

<strong>de</strong> S. acutirostris, mas essa unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação não<br />

inclui altitu<strong>de</strong>s inferiores a 20 m s.n.m., on<strong>de</strong> se localizam os<br />

ambientes <strong>de</strong> ocorrência da espécie.<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

Franklin Galvão, Miguel Â. Marini e Sandro Menezes-<br />

Silva foram co-orientadores <strong>de</strong> B.L.R. enquanto ela <strong>de</strong>senvolveu<br />

parte <strong>de</strong>ste estudo como dissertação <strong>de</strong> mestrado,<br />

pelo Curso <strong>de</strong> Pós-Graduação em Engenharia Florestal, da<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná (UFPR), recebendo bolsa do<br />

Conselho Nacional <strong>de</strong> Desenvolvimento Científico e Tecnológico<br />

(CNPq). Aspectos botânicos e <strong>de</strong> mapeamento foram<br />

alvo da dissertação <strong>de</strong> mestrado <strong>de</strong> M.R.B., sob orientação <strong>de</strong><br />

Franklin Galvão, igualmente pelo Curso <strong>de</strong> Pós-Graduação<br />

em Engenharia Florestal, da UFPR, para a qual obteve bolsa<br />

da Fundação Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Aperfeiçoamento <strong>de</strong> Pessoal <strong>de</strong><br />

Nível Superior (CAPES). B.L.R. recebe bolsa <strong>de</strong> doutorado<br />

da Fundação <strong>de</strong> Amparo à Pesquisa do Estado <strong>de</strong> São Paulo<br />

(FAPESP) (Processo 04/13274‐20).<br />

Estudos com S. acutirostris tiveram o patrocínio da Fundação<br />

O Boticário <strong>de</strong> Proteção à Natureza (dois projetos), Fundação<br />

MacArthur, American Bird Conservancy e Fundo Nacional<br />

do Meio Ambiente (FNMA). O projeto sob esse último<br />

patrocinador foi acompanhado por Ruy A. N. Machado Filho.<br />

Mater Natura – Instituto <strong>de</strong> Estudos Ambientais, por meio <strong>de</strong><br />

Paulo A. Pizzi, e Liga Ambiental, por meio <strong>de</strong> José Álvaro Carneiro,<br />

Shirlei Neundorf e Cilmar A<strong>de</strong>r, prestaram toda a forma<br />

<strong>de</strong> auxílios para o bom andamento do projeto patrocinado pelo<br />

FNMA. Maximino Gondro, Ana Maria <strong>de</strong> Oliveira, Ernesto e<br />

Priscila <strong>de</strong> Veer e Irmanda<strong>de</strong> Evangélica Betânia forneceram<br />

acolhida durante os primeiros estudos com a espécie no litoral<br />

do Paraná. José e Ivone Ananias dos Santos apoiaram muitos<br />

dos estudos em Guaratuba (PR), inclusive fornecendo barco e<br />

alojamento. Nesse mesmo município, também se obteve apoio


516 Bianca Luiza Reinert, Marcos Ricardo Bornschein e Carlos Firkowski<br />

para alojamento do Corpo <strong>de</strong> Bombeiros <strong>de</strong> Guaratuba. Guadalupe<br />

Vivecananda autorizou as pesquisas no Parque Nacional<br />

<strong>de</strong> Superagui (PR). Lúcio A. Machado apoiou as pesquisas<br />

no município <strong>de</strong> Itapoá (SC). O Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Meio<br />

Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA)<br />

apoiou os trabalhos em Guaraqueçaba (PR).<br />

Sandro Menezes-Silva, Marília Borgo e Ingo Isernhagen<br />

auxiliaram nos trabalhos botânicos e análises fitossociológicas.<br />

Eloy J. Allegretti auxiliou na obtenção <strong>de</strong> fotografias aéreas do<br />

litoral do Paraná, disponíveis na AEROSUL – Levantamentos<br />

Aeroespaciais e Consultoria S.A. (Curitiba). Amilton do<br />

Nascimento e Aida R. Zappellini auxiliaram na obtenção <strong>de</strong><br />

fotografias aéreas do litoral <strong>de</strong> Santa Catarina, disponíveis<br />

na Secretaria do Mercosul (Florianópolis). Beloni T. Pauli<br />

Marterer <strong>de</strong>scobriu e forneceu o contato para a obtenção das<br />

fotografias <strong>de</strong>sse estado. Luíz F. Silva da Rocha auxiliou no<br />

uso <strong>de</strong> programa <strong>de</strong> computador para a vetorização <strong>de</strong> fotografias<br />

aéreas. Maciel Paludo, Aurélio Suguimatti, Juliano<br />

P. Kappeller e Paulo César Folli, da Senografia – Sensoriamento<br />

Remoto, auxiliaram na elaboração do mapa na escala<br />

1:250.000. Rodolfo J. Angulo emprestou o seu mapa geológico<br />

do litoral do Paraná para a elaboração <strong>de</strong> fotocópia, ce<strong>de</strong>u<br />

um estudo inédito <strong>de</strong> sua autoria sobre a distribuição dos “brejos<br />

intercordões” paranaenses, prestou esclarecimentos sobre a<br />

i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> ambientes incluídos em sua tese e incentivou<br />

os estudos no litoral. Franco Amato e Maria L. Sugamosto, utilizando-se<br />

do laboratório da Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pesquisa em Vida<br />

e Educação Ambiental (SPVS), efetuaram os serviços cartográficos,<br />

a quem <strong>de</strong>vemos especiais agra<strong>de</strong>cimentos, notadamente<br />

ao primeiro.<br />

Miguel S. Milano, Armando C. Cervi e André M. P. Carvalhaes<br />

revisaram os primórdios do manuscrito, enquanto dissertação<br />

<strong>de</strong> B.L.R. Franklin Galvão orientou a execução da<br />

parte botânica e cartográfica do trabalho, cujos textos revisou<br />

enquanto dissertação <strong>de</strong> M.R.B. Franco Amato revisou a parte<br />

cartográfica do material e métodos. Rafael A. Dias, Giovanni<br />

N. Maurício e Marco A. Pizo Ferreira revisaram o manuscrito<br />

em sua versão final. Mauro Pichorim, Carlos V. Ro<strong>de</strong>rjan,<br />

Yoshiko S. Kuniyoshi e Adalberto K. Miura auxiliaram com<br />

críticas e sugestões a diversos aspectos temáticos do presente<br />

estudo. Hostília R. G. <strong>de</strong> Araujo Gussoni revisou as legendas<br />

traduzidas para o inglês. Célio F. B. Haddad, do laboratório<br />

<strong>de</strong> herpetologia da Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista “Júlio <strong>de</strong><br />

Mesquita Filho”, disponibilizou o scanner para sli<strong>de</strong>s. Jorge<br />

Tavares Lucas, barqueiro em Guaratuba, prestou enorme apoio<br />

como guia paciente e <strong>de</strong> muita presteza. Zig Koch, Roberto<br />

Bóçon, Tom Grando-Jr., Luiz Gonzaga dos Santos Neto, Tiaraju<br />

<strong>de</strong> Mesquita Fialho, Antônio Carlos Cor<strong>de</strong>iro da Silva,<br />

Ricardo Belmonte-Lopes e diversas outras pessoas, com certeza<br />

omitidas por lapso, colaboraram <strong>de</strong> diversas formas em<br />

campo, ce<strong>de</strong>ndo fotos, propiciando equipamento e/ou orientando,<br />

por exemplo.<br />

A Miguel S. Milano, pelo gran<strong>de</strong> incentivo na realização<br />

dos estudos com S. acutirostris, Sandro Menezes-Silva, que<br />

acompanhou muitos dos trabalhos <strong>de</strong> campo pelo projeto<br />

patrocinado pelo FNMA, e a Bret M. Whitney, André M.<br />

P. Carvalhaes e Mauro Pichorim, pelas valiosas sugestões e<br />

amiza<strong>de</strong>, somos imensamente gratos. B.L.R. e M.R.B. ainda<br />

agra<strong>de</strong>cem especialmente a Fred R. Bornschein e Anna L.<br />

Bornschein pelo incansável apoio às suas pesquisas e amiza<strong>de</strong><br />

incondicional.<br />

Referências<br />

Angulo, R. J. (1990) O manguezal como unida<strong>de</strong> dos mapas<br />

geológicos, p. 54‐62. Em: II Simpósio <strong>de</strong> Ecossistemas<br />

da Costa Sul e Su<strong>de</strong>ste <strong>Brasileira</strong>: Estrutura, Função e<br />

Manejo, Vol. 2. Anais... Águas <strong>de</strong> Lindóia: Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong><br />

Ciências do Estado <strong>de</strong> São Paulo.<br />

Angulo, R. J. (1992) Geologia da planície costeira do Estado<br />

do Paraná. Tese <strong>de</strong> doutorado. São Paulo: Instituto <strong>de</strong><br />

Geociências da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo.<br />

Angulo, R. J. (1994) Indicadores morfológicos e sedimentológicos<br />

<strong>de</strong> paleoníveis marinhos quaternários na costa paranaense.<br />

Boletim Paranaense <strong>de</strong> Geociências 42:185‐202.<br />

Angulo, R. J. (2004) Mapa do Cenozóico do litoral do Estado do<br />

Paraná. Boletim Paranaense <strong>de</strong> Geociências 55:25‐42.<br />

Angulo, R. J. e P. C. F. Giannini (1996) Variação do nível<br />

relativo do mar nos últimos dois mil anos na Região Sul<br />

do Brasil: uma discussão. Boletim Paranaense <strong>de</strong> Geociências<br />

44:67‐75.<br />

Angulo, R. J. e A. C. <strong>de</strong> P. Müller (1990) Preliminary characterization<br />

of some tidal flat ecossystems [sic] of the state<br />

of Paraná, Brasil [sic], p. 158‐168. Em: II Simpósio <strong>de</strong><br />

Ecossistemas da Costa Sul e Su<strong>de</strong>ste <strong>Brasileira</strong>: Estrutura,<br />

Função e Manejo, Vol. 2. Anais... Águas <strong>de</strong> Lindóia:<br />

Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Ciências do Estado <strong>de</strong> São Paulo.<br />

Angulo, R. J. e M. C. <strong>de</strong> Souza (2004) Mapa geológico da planície<br />

costeira entre o rio Saí-guaçu e a baía <strong>de</strong> São Francisco,<br />

litoral norte do Estado <strong>de</strong> Santa Catarina. Boletim<br />

Paranaense <strong>de</strong> Geociências 55:9‐23.<br />

Bigarella, J. J. (1964) Variações climáticas no Quaternário e<br />

suas implicações no revestimento florístico do Paraná.<br />

Boletim Paranaense <strong>de</strong> Geografia 10‐15:211‐231.<br />

Bigarella, J. J. e J. Sanches (1966) Contribuição ao estudo dos<br />

sedimentos praiais recentes. V – praia suspensa do Saco<br />

da Tambarutaca, município <strong>de</strong> Paranaguá (Pr.). Boletim<br />

Paranaense <strong>de</strong> Geografia 18‐20:151‐175.<br />

Bigarella, J. J., R. D. Becker, D. J. <strong>de</strong> Matos e A. Werner (eds.)<br />

(1978) A Serra do Mar e a porção oriental do Estado


Distribuição, tamanho populacional, hábitat e conservação do bicudinho-do-brejo<br />

Stymphalornis acutirostris Bornschein, Reinert e Teixeira, 1995 (Thamnophilidae)<br />

517<br />

do Paraná... Um problema <strong>de</strong> segurança ambiental e<br />

nacional. (Contribuições à geografia, geologia e ecologia<br />

regional). Curitiba: Governo do Paraná; Secretaria <strong>de</strong><br />

Estado do Planejamento; Associação <strong>de</strong> Defesa e Educação<br />

Ambiental – ADEA.<br />

BirdLife International (2000) Threatened birds of the word.<br />

Barcelona e Cambridge, UK: Lynx Edicions e BirdLife<br />

International.<br />

BirdLife International (2004) Threatened birds of the<br />

world 2004. CD‐Rom. Cambridge, U.K.: BirdLife<br />

International.<br />

Bornschein, M. R. (2001). Formações pioneiras do litoral<br />

centro-sul do Paraná: i<strong>de</strong>ntificação, quantificação <strong>de</strong><br />

áreas e caracterização ornitofaunística. Dissertação <strong>de</strong><br />

mestrado. Curitiba: Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná.<br />

Bornschein, M. R. e B. L. Reinert (1997) Acrescido <strong>de</strong> marinha<br />

em Pontal do Paraná: uma área a ser conservada<br />

para a manutenção das aves dos campos e banhados<br />

do litoral do Paraná, Sul do Brasil, p. 875‐889. Em:<br />

Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação,<br />

Vol. II: Trabalhos Técnicos. Anais... Curitiba: Instituto<br />

Ambiental do Paraná – IAP, Universida<strong>de</strong> Livre do Meio<br />

Ambiente – UNILIVRE e Re<strong>de</strong> Nacional Pró Unida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> Conservação.<br />

Bornschein, M. R., B. L. Reinert e M. Pichorim (1998) Descrição,<br />

ecologia e conservação <strong>de</strong> um novo Scytalopus (Rhinocryptidae)<br />

do Sul do Brasil, com comentários sobre a<br />

morfologia da família. Ararajuba 6(1):3‐36.<br />

Bornschein, M. R., B. L. Reinert e D. M. Teixeira (1995) Um<br />

novo Formicariidae do sul do Brasil (Aves, Passeriformes).<br />

Publicação Técnico-Centífica do Instituto Iguaçu <strong>de</strong><br />

Pesquisa e Preservação Ambiental, n. 1. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Instituto Iguaçu <strong>de</strong> Pesquisa e Preservação Ambiental.<br />

Braun-Blanquet, J. (1979) Fitosociologia: bases para el estudio<br />

<strong>de</strong> las comunida<strong>de</strong>s vegetales. Madrid: H. Blume<br />

Ediciones.<br />

Brooks, T., J. Tobias e A. Balmford (1999) Deforestation and<br />

bird extinctions in the Atlantic Forest. Animal Conservation<br />

2:211‐222.<br />

Brower, J. E. e J. H. Zar (1984) Field & laboratory methods for<br />

general ecology. 2ª Ed. New York: W.C.B. Publishers.<br />

CNPq (1987) Glossário <strong>de</strong> ecologia. São Paulo: Conselho<br />

Nacional <strong>de</strong> Desenvolvimento Científico e Tecnológico<br />

– CNPq, Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Ciências do Estado <strong>de</strong> São<br />

Paulo, Fundação <strong>de</strong> Amparo à Pesquisa do Estado <strong>de</strong> São<br />

Paulo e Secretaria da Ciência e Tecnologia. (Publicação<br />

ACIESP nº 57).<br />

Comitê Brasileiro <strong>de</strong> Registros Ornitológicos (2005) Lista das<br />

aves do Brasil. – Comitê Brasileiro <strong>de</strong> Registros Ornitológicos<br />

Versão 1/2/2005. Disponível em . Acesso em: 29 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2005.<br />

Corrêa, M. Sá (2005) Sinais da vida: algumas histórias <strong>de</strong><br />

quem cuida da natureza no Brasil. São Paulo: Fundação<br />

O Boticário <strong>de</strong> Proteção à Natureza.<br />

Cronquist, A. (1988) The evolution and classification of flowering<br />

plants. New York: New York Botanical Gar<strong>de</strong>n.<br />

Fedy, B. C. e B. J. M. Stutchbury (2004) Territory switching<br />

and floating in White-bellied Antbird (Myrmeciza<br />

longipes), a resi<strong>de</strong>nt tropical passerine in Panama. Auk<br />

121(2):486‐496.<br />

Fidalgo, O. e V. L. R. Bononi (1984) Técnicas <strong>de</strong> coleta, preservação<br />

e herborização <strong>de</strong> material botânico. São Paulo:<br />

Instituto <strong>de</strong> Botânica <strong>de</strong> São Paulo. (Manual nº 4).<br />

Fraga, R. M. (2003) Distribution, natural history and conservation<br />

of the Black-and-white Monjita (Heteroxolmis<br />

dominicana) in Argentina, a species vulnerable to extinction.<br />

<strong>Ornitologia</strong> Neotropical 14(2):145‐156.<br />

Fuck, R. A., E. Trein, A. Muratori e J.-C. Rivereau (1969)<br />

Mapa geológico preliminar do litoral, da Serra do Mar e<br />

parte do primeiro planalto no Estado do Paraná. Boletim<br />

Paranaense <strong>de</strong> Geociências 27:123‐152.<br />

Gonzaga, L. P. (2001) Análise filogenética do gênero Formicivora<br />

Swainson, 1825 (Aves: Passeriformes, Thamnophilidae)<br />

baseada em caracteres morfológicos e vocais.<br />

[Resumo <strong>de</strong> tese]. Atualida<strong>de</strong>s Ornitológicas 102:2.<br />

Gorrell, J. V., G. Ritchison e E. S. Morton (2005) Territory<br />

size and stability in a se<strong>de</strong>ntary Neotropical passerine:<br />

is resource partitioning a necessary condition J. Field<br />

Ornithol. 76(4):395‐401.<br />

Grando Jr., E. S. (1999) Riqueza e distribuição <strong>de</strong> Siluriformes<br />

(Pisces, Ostariophysi) das bacias hidrográficas <strong>de</strong> Paranaguá<br />

e Guaratuba no Estado do Paraná. Dissertação <strong>de</strong><br />

Mestrado. Curitiba: Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná.<br />

Herz, R. (1991) Manguezais do Brasil. São Paulo: Universida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> São Paulo.<br />

IBAMA (1994) Manual <strong>de</strong> anilhamento <strong>de</strong> aves silvestres.<br />

Brasília: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos<br />

Recursos Naturais Renováveis.


518 Bianca Luiza Reinert, Marcos Ricardo Bornschein e Carlos Firkowski<br />

IBGE (1992) Manual técnico da vegetação brasileira. Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro: Fundação Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e<br />

Estatística.<br />

Jakobi, H. (1953) Sôbre a distribuição da salinida<strong>de</strong> e do pH<br />

na baía <strong>de</strong> Guaratuba. Arquivos do Museu Paranaense<br />

10(1):3‐35.<br />

Matteucci, S. D. e A. Colma (1982) Metodologia para el estudio<br />

<strong>de</strong> la vegetacion. Washington: General Secretarial of<br />

the Organization of American States.<br />

Menezes, N. A. (1988) Implications of the distribution patterns<br />

of the species of Oligosarcus (Teleostei, Characidae)<br />

from central and southern South America, p. 295‐304.<br />

Em: P. E. Vanzolini e W. R. Heyer (eds.) Proceedings of<br />

a workshop on Neotropical distribution patterns. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: Aca<strong>de</strong>mia <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Ciências.<br />

Mikich, S. B. e R. S. Bérnils (eds.) (2004) Livro vermelho da<br />

fauna ameaçada no Estado do Paraná. Curitiba: Instituto<br />

Ambiental do Paraná.<br />

Mo<strong>de</strong>sto, Z. M. M. e N. J. B. Siqueira (1981) Botânica.<br />

São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária Ltda.<br />

(E.P.U.).<br />

Naka, L. N, J. M. Barnett, G. M. Kirwan, J. A. Tobias e M. A. G.<br />

Azevedo (2000) New and noteworthy bird records from<br />

Santa Catarina state, Brazil. Bull. B.O.C. 120:237‐250.<br />

Oniki, Y. (1975) The behavior and ecology of Slaty Antshrikes<br />

(Thamnophilus punctatus) on Barro Colorado<br />

Island, Panamá Canal Zone. An. Acad. brasil. Ciênc.<br />

47(3/4):477‐515.<br />

Paiva, M. P. (1999) Conservação da fauna brasileira. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: Editora Interciência Ltda.<br />

Pettingill, Jr., O. S. (1985) Ornithology in laboratory and field.<br />

5ª Ed. San Diego: Aca<strong>de</strong>mic Press.<br />

Reinert, B. L. (2001) Distribuição geográfica, caracterização<br />

dos ambientes <strong>de</strong> ocorrência e conservação do bicudinho-do-brejo<br />

(Stymphalornis acutirostris Bornschein,<br />

Reinert & Teixeira, 1995 – Aves, Formicariidae). Dissertação<br />

<strong>de</strong> mestrado. Curitiba: Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do<br />

Paraná.<br />

Reinert, B. L. e M. R. Bornschein (1996) Descrição do macho<br />

adulto <strong>de</strong> Stymphalornis acutirostris (Aves: Formicariidae).<br />

Ararajuba 4(2):103‐105.<br />

Santa Catarina (1986) Atlas <strong>de</strong> Santa Catarina. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Aerofoto Cruzeiro.<br />

Sick, H. (1997) <strong>Ornitologia</strong> brasileira. Edição revisada por<br />

José Fernando Pacheco. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Editora Nova<br />

Fronteira.<br />

Siedlecki, K. N., M. C. <strong>de</strong> O. Portes e R. Cielo Filho (2003)<br />

Proposta <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quação dos limites do Parque Nacional<br />

Saint-Hilaire/Lange (Serra da Prata) – Estado do<br />

Paraná, p. 213‐220. Em: A. Bager (coord.) 2º Simpósio<br />

<strong>de</strong> Áreas Protegidas: Conservação no Âmbito do Cone<br />

Sul. Anais... CD‐Rom. Pelotas: Universida<strong>de</strong> Católica<br />

<strong>de</strong> Pelotas.<br />

Silva, J. M. C. da (1988) Aspectos da ecologia e comportamento<br />

<strong>de</strong> Formicivora g. grisea (Boddaert, 1789) (Aves:<br />

Formicariidae) em ambientes amazônicos. Rev. Brasil.<br />

Biol. 48(4):797‐805.<br />

Skutch, A. F. (1996) Antbirds & ovenbirds. Austin: University<br />

of Texas Press.<br />

Straube, F. C., A. Urben-Filho e D. Kajiwara (2004) Aves,<br />

p. 145‐496. Em: S. B. Mikich e R. S. Bérnils (eds.) Livro<br />

vermelho da fauna ameaçada no Estado do Paraná.<br />

Curitiba: Instituto Ambiental do Paraná.<br />

Tryon, R. M. e A. F. Tryon (1982) Ferns and allied plants<br />

with special reference to Tropical America. New York:<br />

Springer-Verlag.<br />

Veloso, H. P., A. L. R. Rangel-Filho e J. C. A. Lima (1991)<br />

Classificação da vegetação brasileira, adaptada a um<br />

sistema universal. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Fundação Instituto<br />

Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística.<br />

Willis, E. O. (1972) The behavior of Spotted Antbirds. Ornithological<br />

Monographs 10:1‐162.<br />

Willis, E. O. (1974) Populations and local extinctions of birds<br />

on Barro Colorado Island, Panamá. Ecological Monographs<br />

44(2):153‐169.<br />

Willis, E. O. (1979) Comportamento e ecologia da mãe<strong>de</strong>-taoca,<br />

Phlegopsis nigromaculata (D’Orbigny &<br />

Lafresnaye) (Aves, Formicariidae). Rev. Brasil. Biol.<br />

39(1):117‐159.<br />

Willis, E. O. (1985) Antbird, p. 17‐18. Em: B. Campbell e E.<br />

Lack (eds.) A dictionary of birds. London: British Ornithologists<br />

Union.<br />

Zimmer, J. K. e M. L. Isler (2003) Family Thamnophilidae<br />

(typical antbirds), p. 448‐681. Em: J. <strong>de</strong>l Hoyo, A.<br />

Elliott e D. A. Christie (eds.) Handbook of the birds of<br />

the world. Volume 8. Broadbills to tapaculos. Barcelona:<br />

Lynx Edicions.


Distribuição, tamanho populacional, hábitat e conservação do bicudinho-do-brejo<br />

Stymphalornis acutirostris Bornschein, Reinert e Teixeira, 1995 (Thamnophilidae)<br />

519<br />

Apêndice 1. Fotografias aéreas fotointerpretadas que propiciaram a cobertura<br />

vegetal mínima necessária para englobar toda a distribuição geográfica do<br />

bicudinho-do-brejo (Stymphalornis acutirostris) no Paraná e no extremo norte<br />

<strong>de</strong> Santa Catarina (sul do Brasil).<br />

Appendix 1. Aerial photographs used for photointerpretation that propitiate the<br />

minimal vegetative cover necessary to globe all the geographic distribution<br />

of the Marsh Antwren (Stymphalornis acutirostris) in Paraná state and in the<br />

extreme north of Santa Catarina state (southern Brazil).<br />

Paraná (vôo <strong>de</strong> 1980, escala 1:25.000)<br />

51310 51312 51313 51315 51342<br />

51344 51378 51380 51382 51406<br />

51408 51409 51411 51413 51450<br />

51452 51454 51456 51457 51459<br />

51461 51470 51472 51518 51520<br />

51522 51524 51529 51531 53625<br />

53646 55207 55209 55211 55215<br />

55236 55239 55241 55243 55249<br />

55251 55253 55255 55279 55281<br />

55283 55285 55292 55293 55295<br />

55298 55327 55334 55343 55349<br />

55351 55381 55383 55435 55629<br />

55631 55633 55634 55876 55878<br />

Santa Catarina (vôo <strong>de</strong> 1978, escala 1:25.000)<br />

12927<br />

Apêndice 2. Base cartográfica utilizada para o georreferenciamento das<br />

fotografias aéreas do litoral centro-sul do Paraná e do extremo norte <strong>de</strong> Santa<br />

Catarina (sul do Brasil).<br />

Appendix 2. Cartographic base used to geo-referencing the aerial photographs<br />

from the central-south littoral of Paraná state and the extreme north of Santa<br />

Catarina state (southern Brazil).<br />

Paraná (IBGE, 1992, escala 1:50.000)<br />

Morretes, MI‐2843/3<br />

Antonina, MI‐2843/4<br />

Mundo Novo, MI‐2858/1 Pedra Branca do Araraquara, MI‐2858/3<br />

Guaratuba, MI‐2858/4<br />

Paraná (IBGE, 1998, escala 1:25.000)<br />

Alexandra, MI‐2858/2‐NO Paranaguá, MI‐2858/2‐NE<br />

Serra da Prata, MI‐2858/2‐SO Colônia Pereira, MI‐2858/2‐SE<br />

Santa Catarina (IBGE, 1981, escala 1:50.000)<br />

Garuva, MI‐2870/1


ARTIGO 520 Maria Antonietta Castro Pivatto, José Sabino, Silvio Favero e Ido Luiz <strong>Revista</strong> Michels<strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> 15(4):520-529<br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007<br />

Perfil e viabilida<strong>de</strong> do turismo <strong>de</strong> observação <strong>de</strong> aves no<br />

Pantanal Sul e Planalto da Bodoquena (Mato Grosso do Sul)<br />

segundo interesse dos visitantes<br />

Maria Antonietta Castro Pivatto 1,2,3 , José Sabino 1 , Silvio Favero 1 e Ido Luiz Michels 1<br />

1. Mestrado em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional, Universida<strong>de</strong> para o Desenvolvimento do<br />

Estado e da Região do Pantanal, Rua Ceará 333, 79003‐010, Campo Gran<strong>de</strong>, MS. E‐mail: cmdr@uni<strong>de</strong>rp.br<br />

2. Instituto das Águas da Serra da Bodoquena, Rua Pilad Rebuá, 1186, 79290‐000, Bonito, MS.<br />

E‐mail: tietta.pivatto@gmail.com<br />

3. Autor para correspondência.<br />

Recebido em 25 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2006; aceito em 19 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2007.<br />

Abstract: Profile and viability of birdwatching tourism in the South Pantanal and Bodoquena Plateau (Mato Grosso do Sul) according to<br />

visitors’ interests. The Pantanal Floodplain and the Bodoquena Plateau (Mato Grosso do Sul, Brazil) support a highly diverse avifauna and a relevant<br />

potential for bird watching. In or<strong>de</strong>r to analyze the viability and interest in <strong>de</strong>veloping such activity in those regions, questionnaires were submitted to<br />

tour gui<strong>de</strong>s and birdwatchers. Submissions were done via specialized websites and associations, besi<strong>de</strong>s printed copies distributed at tourism facilities<br />

visited by target costumers. Results were then quantitatively analyzed. A total of 105 answered questionnaires was returned, being 57 from Brazilian<br />

and foreigner bird watchers, 15 from Brazilian and foreigner specialized tour gui<strong>de</strong>s and 33 from local gui<strong>de</strong>s in Bonito. The analysis and comparison of<br />

results has confirmed the region’s potential for the activity; 119 species were mentioned as of major interest for observations by the repliers, particularly<br />

Harpia harpyja, Anodorhynchus hyacinthinus, Trogon curucui, Momotus momota, Ara chloropterus, Ramphastos toco, Sarcoramphus papa, Antilophia<br />

galeata, Pyrrhura <strong>de</strong>villei e Pyro<strong>de</strong>lus scutatus. A need was i<strong>de</strong>ntified to advertise the region and its species through the media normally used by bir<strong>de</strong>rs,<br />

with itineraries suited for such public, given that 75,8% of the foreigner repliers claim never having heard of the Bodoquena Plateau. Investments in<br />

<strong>de</strong>veloping this segment may result in conservation efforts, consi<strong>de</strong>ring that 52% of the bird watchers and 73% of the specialized tour gui<strong>de</strong>s <strong>de</strong>clared<br />

to prefer visiting areas where conservation actions are being held.<br />

Key-words: Avifauna, birdwatching, ecotourism, conservation, regional <strong>de</strong>velopment.<br />

Resumo: O Pantanal e o Planalto da Bodoquena, no Mato Grosso do Sul, apresentam gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> avifauna e relevante potencial para o turismo<br />

<strong>de</strong> observação <strong>de</strong> aves. Para i<strong>de</strong>ntificar a viabilida<strong>de</strong> e o interesse em <strong>de</strong>senvolver esta ativida<strong>de</strong> na região, foram distribuídos questionários para guias<br />

<strong>de</strong> turismo e observadores <strong>de</strong> aves por meio <strong>de</strong> sites especializados e associações, além <strong>de</strong> cópias impressas disponibilizadas em pontos visitados<br />

pelo público-alvo, sendo os resultados analisados quantitativamente. Foram recebidos 105 questionários respondidos, sendo 57 por observadores <strong>de</strong><br />

aves brasileiros e estrangeiros, 15 por guias especialistas brasileiros e estrangeiros e 33 por guias locais <strong>de</strong> Bonito. Com a análise e comparação<br />

dos resultados, confirmou-se o potencial <strong>de</strong>sta região com 119 espécies citadas pelos entrevistados como <strong>de</strong> maior interesse para observação, em<br />

especial Harpia harpyja, Anodorhynchus hyacinthinus, Trogon curucui, Momotus momota, Ara chloropterus, Ramphastos toco, Sarcoramphus papa,<br />

Antilophia galeata, Pyrrhura <strong>de</strong>villei e Pyro<strong>de</strong>lus scutatus. Foi i<strong>de</strong>ntificada a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> divulgação da região e das espécies presentes nos meios <strong>de</strong><br />

comunicação utilizados pelos observadores <strong>de</strong> aves e em roteiros especializados, visto que 75,8% dos entrevistados estrangeiros afirmaram nunca terem<br />

ouvido falar do Planalto da Bodoquena. Investimentos no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste segmento po<strong>de</strong>m resultar em ações conservacionistas, consi<strong>de</strong>rando<br />

que 52% dos observadores <strong>de</strong> aves e 73% dos guias especialistas afirmaram ter preferência por visitar áreas on<strong>de</strong> existem ações <strong>de</strong> conservação.<br />

Palavras-chave: Avifauna, observadores <strong>de</strong> aves, ecoturismo, conservação, <strong>de</strong>senvolvimento regional.<br />

As características naturais do Pantanal tornam este ambiente<br />

favorável para uma gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fauna, notadamente<br />

aves, sendo uma das regiões mais procuradas por cientistas<br />

e observadores <strong>de</strong> fauna para a prática <strong>de</strong>sta modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

turismo (Tubelis e Tomas 2003). São conhecidas 463 espécies<br />

<strong>de</strong> aves no Pantanal (Tubelis e Tomas 2003), o que correspon<strong>de</strong><br />

a 25% do número total das espécies citadas pelo Comitê<br />

Brasileiro <strong>de</strong> Registros Ornitológicos – CBRO (2006) para o<br />

Brasil. Para o Planalto da Bodoquena, os levantamentos <strong>de</strong><br />

avifauna estão restritos a menções <strong>de</strong> certos táxons registrados<br />

no passado por naturalistas viajantes ou por citações inseridas<br />

em estudos gerais da região (e.g., Braz 2003). São conhecidas<br />

atualmente 353 espécies para a região do Planalto da Bodo‐<br />

quena, sendo algumas <strong>de</strong> relevante interesse turístico (Pivatto<br />

et al. 2006).<br />

A partir da década <strong>de</strong> 1970 a exploração econômica baseada<br />

em <strong>de</strong>smatamentos e queimadas na região Pantaneira e<br />

arredores, incluindo o Planalto da Bodoquena, reduziu suas<br />

áreas <strong>de</strong> vegetação natural (Antas 2004). Desse modo, a busca<br />

por alternativas sustentáveis para a exploração econômica da<br />

região torna-se importante para auxiliar na conservação <strong>de</strong><br />

seus remanescentes florestais.<br />

A observação <strong>de</strong> vida selvagem é, atualmente, um rentável<br />

produto em muitas regiões do planeta, pois um número<br />

significativo <strong>de</strong> pessoas paga valores expressivos pela oportunida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> observar <strong>de</strong>terminadas espécies (Tapper 2006).


Perfil e viabilida<strong>de</strong> do turismo <strong>de</strong> observação <strong>de</strong> aves no Pantanal Sul e Planalto da<br />

Bodoquena (Mato Grosso do Sul) segundo interesse dos visitantes<br />

521<br />

Segundo este autor, um em cada cinco norte-americanos<br />

indica a observação <strong>de</strong> aves como uma <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

lazer, e quase 40% viajam para observar aves. A National Survey<br />

on Recreation and the Environment – NSRE (2000) indica<br />

que em 1996, 77 milhões <strong>de</strong> norte-americanos participaram<br />

em alguma forma <strong>de</strong> lazer relacionado com a vida silvestre,<br />

gerando US$ 100 bilhões em vendas <strong>de</strong> equipamento, transporte,<br />

licenças, hospedagem, alimentação e outras <strong>de</strong>spesas<br />

relacionadas (Yourth 2001). Em outro levantamento, a U.S.<br />

Fish & Wildlife Service (USFWS 2001) indica que observadores<br />

<strong>de</strong> aves gastaram aproximadamente 32 bilhões <strong>de</strong> dólares<br />

com esta ativida<strong>de</strong> nos Estados Unidos em 2001. Cerca <strong>de</strong> 1<br />

milhão <strong>de</strong> britânicos também praticam regularmente esta ativida<strong>de</strong>,<br />

sendo consi<strong>de</strong>rada a terceira maior categoria <strong>de</strong> lazer<br />

daquele país (Yourth 2001).<br />

De acordo Antas (2004), o <strong>de</strong>senvolvimento do turismo<br />

<strong>de</strong> natureza, em mol<strong>de</strong>s controlados, torna a ativida<strong>de</strong> um<br />

importante aliado para a conservação dos recursos naturais do<br />

Pantanal e arredores. Diversas operadoras <strong>de</strong> turismo especializadas<br />

oferecem pacotes para observação <strong>de</strong> aves na região<br />

do Pantanal (Bird Quest 2006, Field Gui<strong>de</strong>s 2006, Tropical<br />

Birding 2006), porém não estão disponíveis informações sobre<br />

a <strong>de</strong>manda <strong>de</strong>ste mercado. Whitney (2006) estima em cerca <strong>de</strong><br />

600 turistas vindo ao Brasil anualmente para observar aves.<br />

Segundo Matos (2004), atualmente os principais guias especialistas<br />

em observação <strong>de</strong> aves que visitam o Pantanal são<br />

ornitólogos vindos <strong>de</strong> outros Estados, especialistas estrangeiros<br />

e integrantes <strong>de</strong> Clubes <strong>de</strong> Observadores <strong>de</strong> Aves.<br />

Wheatley (1995) lista 29 localida<strong>de</strong>s brasileiras com<br />

gran<strong>de</strong> vocação para observação <strong>de</strong> aves, sendo o Pantanal<br />

uma das melhores regiões brasileiras para a prática <strong>de</strong>sta ativida<strong>de</strong><br />

(Dias 2001). A conspicuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> muitas das espécies<br />

registradas nesta região facilita sua observação e aumenta o<br />

interesse turístico. As imediações da Rodovia MT‐060 (Transpantaneira)<br />

é amplamente divulgada em guias para observadores<br />

(Wheatley 1995) e páginas da Internet específicas sobre<br />

o assunto, encontrando-se, entretanto, poucas referências ao<br />

Pantanal <strong>de</strong> Mato Grosso do Sul (Grosset 2006) e nenhuma<br />

para o Planalto da Bodoquena, cujas ativida<strong>de</strong>s turísticas<br />

exploram principalmente o turismo <strong>de</strong> natureza e aventura,<br />

divulgado em páginas da Internet direcionadas a um público<br />

mais generalista.<br />

O incremento do turismo <strong>de</strong> observação <strong>de</strong> aves no Pantanal<br />

sul e sua viabilização na região da Serra da Bodoquena<br />

po<strong>de</strong>rão complementar a exploração econômica sustentável<br />

do ambiente natural, como tem sido feito em outras regiões.<br />

A criação <strong>de</strong> um roteiro que possa unir sítios turísticos<br />

no Pantanal Sul, ainda pouco explorado por esta ativida<strong>de</strong>, à<br />

região da Bodoquena, conhecida basicamente pela beleza <strong>de</strong><br />

seus ambientes naturais aquáticos e cavernícolas, po<strong>de</strong>ria contribuir<br />

para a consolidação do projeto <strong>de</strong> criação do Pólo <strong>de</strong><br />

Ecoturismo da Serra da Bodoquena, conforme propõe Magalhães<br />

(2001a, b). A vocação para o turismo <strong>de</strong> natureza <strong>de</strong>stas<br />

regiões justifica esta opção turística ainda pouco difundida no<br />

Brasil, sendo uma ferramenta para a preservação <strong>de</strong> duas áreas<br />

consi<strong>de</strong>radas prioritárias para a conservação e utilização sustentável<br />

no Brasil (PROBIO 2003).<br />

Assim, o objetivo <strong>de</strong>ste estudo é i<strong>de</strong>ntificar o perfil do<br />

turista <strong>de</strong> observação <strong>de</strong> aves, seu interesse e disposição em<br />

visitar o Planalto da Bodoquena e sul do Pantanal para observação<br />

<strong>de</strong> aves. As informações po<strong>de</strong>rão ser utilizadas no planejamento<br />

<strong>de</strong> políticas públicas setoriais, estratégias e roteiros<br />

turísticos para viabilizar a ativida<strong>de</strong> na região estudada,<br />

como forma <strong>de</strong> exploração sustentável dos recursos naturais<br />

existentes, além <strong>de</strong> ferramenta para conservação e educação<br />

ambiental.<br />

Material e Métodos<br />

Para i<strong>de</strong>ntificar o perfil do observador <strong>de</strong> aves e seu interesse<br />

pela região estudada, foram elaborados questionários,<br />

adaptados do mo<strong>de</strong>lo utilizado pela American Bird Association<br />

– ABA (1996) e Matos (2004), para os seguintes segmentos:<br />

1. Observador <strong>de</strong> aves brasileiro; 2. Observador <strong>de</strong> aves<br />

estrangeiro (texto em inglês); 3. Guia especializado em observação<br />

<strong>de</strong> aves brasileiro; 4. Guia especializado em observação<br />

<strong>de</strong> aves estrangeiro (texto em inglês) e 5. Guias <strong>de</strong> turismo<br />

local do município <strong>de</strong> Bonito.<br />

Os questionários foram distribuídos entre maio e outubro<br />

<strong>de</strong> 2005, enviados diretamente para 83 páginas na Internet<br />

direcionadas aos observadores <strong>de</strong> aves. O mesmo também<br />

ficou disponível durante todo o período da pesquisa nas listas<br />

<strong>de</strong> discussão na Internet Ornitobr, Birdwatchingbr e Observadores<br />

<strong>de</strong> Aves, além dos sites Fotograma e Fatbir<strong>de</strong>r. A<br />

versão impressa foi distribuída para observadores <strong>de</strong> aves e<br />

guias especialistas hospedados no Refúgio Ecológico Caiman<br />

(Miranda, MS), local <strong>de</strong> visitação turística por parte <strong>de</strong>ste<br />

público na região do Pantanal Sul.<br />

Para os guias <strong>de</strong> turismo do município <strong>de</strong> Bonito (Guias <strong>de</strong><br />

Turismo Regional especializados em Atrativo Natural) foi distribuída<br />

uma versão impressa na região, disponibilizada para<br />

os mesmos nos seguintes sítios turísticos entre maio e outubro<br />

<strong>de</strong> 2005: Gruta do Lago Azul, Estância Mimosa Ecoturismo e<br />

Aquário Natural Baía Bonita em Bonito (MS), Recanto Ecológico<br />

Rio da Prata em Jardim (MS).<br />

As respostas dos observadores <strong>de</strong> aves estrangeiros e brasileiros<br />

foram tabuladas em separado em algumas questões ou<br />

unificadas quando os resultados foram semelhantes. O mesmo<br />

procedimento foi aplicado às respostas dos guias especialistas,<br />

<strong>de</strong> forma a analisar as diferentes necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada público.<br />

Nem todas as questões foram respondidas pelos participantes,<br />

resultando em variação no número <strong>de</strong> respostas.<br />

Para a questão 8 do questionário (ver Figura 2) direcionado<br />

aos observadores <strong>de</strong> aves foi adotada uma nota <strong>de</strong> 1 a<br />

5 para o valor das respostas, <strong>de</strong> forma a i<strong>de</strong>ntificar os itens<br />

mais relevantes <strong>de</strong>ntro da questão proposta. Esta nota foi<br />

somada ao número <strong>de</strong> vezes em que foi indicada, eliminando<br />

diferenças quando esta questão era escolhida, mas não recebia<br />

nota.


522 Maria Antonietta Castro Pivatto, José Sabino, Silvio Favero e Ido Luiz Michels<br />

Uma lista com 49 espécies <strong>de</strong> aves ocorrentes na região<br />

do Planalto da Bodoquena (Pivatto et al. 2006) foi disponibilizada<br />

para que os observadores <strong>de</strong> aves e guias especializados<br />

entrevistados selecionassem aquelas que em sua opinião fossem<br />

mais relevantes, motivando sua visita à região, <strong>de</strong> forma<br />

a valorar o grau <strong>de</strong> atrativida<strong>de</strong> das mesmas. A seleção <strong>de</strong>stas<br />

espécies foi baseada nas seguintes características: (i) espécies<br />

carismáticas; (ii) não ocorrentes no Pantanal ou <strong>de</strong> difícil<br />

visualização neste ambiente e (iii) características da Serra da<br />

Bodoquena. O objetivo era indicar ao entrevistado algumas<br />

aves possíveis <strong>de</strong> serem observadas, facilitando o preenchimento<br />

dos questionários, especialmente para aqueles que não<br />

conhecessem a região.<br />

Também foi solicitado aos guias especialistas que indicassem<br />

as <strong>de</strong>z espécies mais procuradas pelos observadores <strong>de</strong><br />

aves. As respostas foram pontuadas <strong>de</strong> acordo com sua colocação<br />

na lista (10 pontos para a espécie citada como primeira,<br />

01 ponto para a última) e acrescentando 01 ponto para cada<br />

vez que foi citada na lista. Aos guias locais, solicitou-se que<br />

indicassem quais as espécies mais importantes em sua região,<br />

sendo os dados tratados da mesma forma.<br />

Os resultados <strong>de</strong>stas questões foram analisados em conjunto.<br />

O número <strong>de</strong> indicações para cada espécie foi i<strong>de</strong>ntificado<br />

por categoria <strong>de</strong> grupo (observadores <strong>de</strong> aves, guias<br />

especialistas e guias locais), sendo que o total <strong>de</strong> indicações<br />

foi transformado em um número correspon<strong>de</strong>nte à porcentagem<br />

<strong>de</strong>ntro do total <strong>de</strong> entrevistados por categoria. Para<br />

i<strong>de</strong>ntificar seu valor como atrativo para os observadores <strong>de</strong><br />

aves, estas quatro categorias foram transformadas em um<br />

valor médio, correspon<strong>de</strong>nte à relevância <strong>de</strong>sta espécie para<br />

os entrevistados.<br />

Resultados e Discussão<br />

Foram recebidos 105 questionários, sendo 57 por observadores<br />

<strong>de</strong> aves (22 brasileiros e 35 estrangeiros), 15 por guias<br />

especializados (10 brasileiros e 5 estrangeiros) e 33 por guias<br />

locais do município <strong>de</strong> Bonito.<br />

Com relação à participação estrangeira, embora a maioria<br />

<strong>de</strong> respostas norte-americanas corroborem o maior interesse<br />

<strong>de</strong>ste público pela ativida<strong>de</strong> (USFWS 2001), os resultados<br />

po<strong>de</strong>m ter sido afetados pela participação <strong>de</strong> grupos americanos<br />

hospedados no Refúgio Ecológico Caiman, que participaram<br />

<strong>de</strong>sta pesquisa no mesmo período.<br />

A faixa etária predominante dos 57 participantes da pesquisa<br />

ficou entre 21 a 40 anos para brasileiros e 41 a 60 anos<br />

para estrangeiros. Em Ornitobr (2006) 57% dos participantes<br />

também pertencem a esta faixa etária. Na pesquisa realizada<br />

pela ABA (1996) e pela USFWS (2001) este público correspondia<br />

a aproximadamente 60% e 54% dos entrevistados respectivamente.<br />

Estes resultados mostram um perfil mais jovem<br />

dos observadores <strong>de</strong> aves brasileiros entrevistados.<br />

Os observadores estrangeiros praticam esta ativida<strong>de</strong> há<br />

um tempo muito mais longo e constante que os brasileiros<br />

(Figura 1). Este resultado está diretamente relacionado ao perfil<br />

etário dos entrevistados e a maior tradição da prática <strong>de</strong>sta<br />

ativida<strong>de</strong> no exterior, visto que os observadores <strong>de</strong> aves brasileiros<br />

têm menos tempo <strong>de</strong> experiência com a ativida<strong>de</strong>.<br />

A maior parte dos observadores <strong>de</strong> aves tem formação<br />

superior (95% dos brasileiros e 87% dos estrangeiros entrevistados),<br />

o que po<strong>de</strong> indicar um grau <strong>de</strong> exigência maior quanto<br />

à qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informações e serviços prestados durante a ativida<strong>de</strong><br />

turística.<br />

Apenas seis dos 22 brasileiros entrevistados fizeram viagens<br />

ao exterior nos últimos cinco anos, concentrando suas<br />

observações no Brasil. Por outro lado, 31 estrangeiros observaram<br />

aves em outros países <strong>de</strong>ntre 35 entrevistados. Dados da<br />

USFWS (2001) indicam que 40% dos entrevistados viajaram<br />

para observação <strong>de</strong> aves em 2001, enquanto a pesquisa da ABA<br />

(1996) indica que 49% <strong>de</strong> seus associados viajaram para fora<br />

dos Estados Unidos. Estes resultados refletem a maior disponibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ste público para viagens <strong>de</strong> longa distância para<br />

observação <strong>de</strong> aves, enquanto que os resultados para o público<br />

brasileiro refletem principalmente as dificulda<strong>de</strong>s com custos,<br />

conforme análise posterior. Também po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado que<br />

a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sítios com alta riqueza <strong>de</strong> espécies po<strong>de</strong><br />

ser um fator relevante na escolha <strong>de</strong> viagens para observação<br />

<strong>de</strong> aves <strong>de</strong>ntro do Brasil.<br />

O tempo médio <strong>de</strong>dicado a estas viagens varia entre 1 a<br />

5 dias para brasileiros e 6 a 10 dias para estrangeiros. Consi<strong>de</strong>rando<br />

as longas distâncias que os estrangeiros costumam<br />

<strong>de</strong>slocar-se para praticar esta ativida<strong>de</strong>, este período<br />

torna-se a<strong>de</strong>quado para permitir melhor aproveitamento da<br />

viagem.<br />

Observadores <strong>de</strong> aves - há quanto tempo praticam a ativida<strong>de</strong><br />

20<br />

15<br />

brasileiros<br />

estrangeiros<br />

Observadores <strong>de</strong> aves<br />

freqüência<br />

10<br />

5<br />

0<br />

1 a 10 11 a 20 21 a 30 31 a 40 41 a 50<br />

anos<br />

Figura 1. Tempo <strong>de</strong>dicado para turismo <strong>de</strong> Observação <strong>de</strong> Aves por 22<br />

observadores brasileiros e 35 estrangeiros entrevistados entre maio e outubro<br />

<strong>de</strong> 2005, em estudo <strong>de</strong> caso para a região do Pantanal e Planalto da Bodoquena,<br />

Mato Grosso do Sul.<br />

Figure 1. Time <strong>de</strong>dicated to bird watching by 22 Brazilian and 35 foreigner<br />

bird watchers interviewed between May and October 2005, in a case study<br />

for the region of the Pantanal and the Bodoquena Plateau, Mato Grosso do<br />

Sul, Brazil.


Perfil e viabilida<strong>de</strong> do turismo <strong>de</strong> observação <strong>de</strong> aves no Pantanal Sul e Planalto da<br />

Bodoquena (Mato Grosso do Sul) segundo interesse dos visitantes<br />

523<br />

Os entrevistados brasileiros viajam acompanhados <strong>de</strong> no<br />

máximo até cinco pessoas, enquanto os estrangeiros variam<br />

entre 3 a 15 pessoas no grupo. Isto reflete a tendência brasileira<br />

<strong>de</strong> viajar em família ou entre amigos, organizando a viagem<br />

por conta própria (83%), enquanto estrangeiros procuram<br />

por operadoras especializadas (45%).<br />

Os principais equipamentos utilizados em campo são binóculos<br />

(26%), livros <strong>de</strong> campo (21%), câmera fotográfica (21%)<br />

e listas <strong>de</strong> aves (18%). Não houve gran<strong>de</strong> diferença entre<br />

estrangeiros e brasileiros, com exceção da luneta, indicada por<br />

43% dos estrangeiros e apenas uma vez por brasileiros. O gravador,<br />

indicado por 50% dos brasileiros e nenhuma por estrangeiros,<br />

po<strong>de</strong> estar associado à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> registros sonoros<br />

em trabalhos <strong>de</strong> pesquisa, <strong>de</strong>senvolvidos por alguns dos<br />

entrevistados. Existe resistência por parte dos estrangeiros em<br />

utilizar este último equipamento em locais <strong>de</strong> visitação constante<br />

para observação <strong>de</strong> aves, <strong>de</strong>vido aos impactos associados<br />

ao uso freqüente <strong>de</strong> playback (Pivatto e Sabino 2005). Estes<br />

resultados po<strong>de</strong>m direcionar investimentos na aquisição <strong>de</strong><br />

equipamentos disponíveis nos sítios turísticos ou nas pousadas<br />

para os visitantes, visto que muitos observadores não costumam<br />

trazer livros e equipamentos maiores durante as viagens<br />

<strong>de</strong>vido ao peso da bagagem (F. P. Melo com. pess., 2006).<br />

Em relação aos fatores que levam o entrevistado a escolher<br />

<strong>de</strong>terminada região ou roteiro para sua viagem <strong>de</strong> observação<br />

<strong>de</strong> aves, a característica mais citada e mais valorizada para<br />

os dois grupos foi a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> avifauna na região. Já a<br />

segunda característica mais citada pelos estrangeiros foi a segurança<br />

e atendimento <strong>de</strong> emergência, enquanto que para os brasileiros<br />

foi o custo total da viagem (Figura 2). Embora custos<br />

<strong>de</strong> viagem tenham sido indicados também pelos estrangeiros,<br />

estes se referem a viagens internacionais, enquanto que para o<br />

brasileiro é uma <strong>de</strong>spesa alta mesmo em viagens regionais. A<br />

questão <strong>de</strong> segurança po<strong>de</strong> estar associada à ida<strong>de</strong> média dos<br />

entrevistados estrangeiros e também pela pouca informação<br />

sobre os recursos <strong>de</strong> localida<strong>de</strong>s distantes que preten<strong>de</strong>m visitar.<br />

O perfil mais velho dos entrevistados estrangeiros sugere<br />

mais tempo para acúmulo <strong>de</strong> bens materiais e também pessoas<br />

já aposentadas, com mais tempo disponível para viagens,<br />

inclusive em períodos <strong>de</strong> baixa temporada turística.<br />

Um fato relevante foi o baixo número <strong>de</strong> entrevistados<br />

que indicaram a presença <strong>de</strong> um guia especialista como fator<br />

<strong>de</strong>terminante na escolha <strong>de</strong> roteiros. Isto po<strong>de</strong> estar relacionado<br />

ao fato <strong>de</strong> que 32% dos turistas estrangeiros costumam<br />

viajar acompanhados <strong>de</strong> guias das próprias operadoras (ABA<br />

1996), enquanto que para os brasileiros ainda existe a falta <strong>de</strong><br />

hábito <strong>de</strong> se contratar este profissional, tanto pelo custo extra<br />

como pela pouca oferta <strong>de</strong>stes profissionais especializados no<br />

mercado (F. P. Melo com. pess., 2006).<br />

As dificulda<strong>de</strong>s com custos <strong>de</strong> viagem são endossadas com<br />

a preferência dos brasileiros por viagens que tenham <strong>de</strong>spesas<br />

até R$ 1.000,00 (44%), enquanto que para os estrangeiros estes<br />

valores variam entre US$ 2,000.00 até US$ 3,999.00 (51%).<br />

A compra <strong>de</strong> suvenires <strong>de</strong> viagem é motivada principalmente<br />

pela originalida<strong>de</strong> do objeto (52%), sendo que 28% afirmam<br />

gostar <strong>de</strong> colecionar lembranças <strong>de</strong> viagem. Este dado é relevante<br />

para o planejamento <strong>de</strong> roteiros nos quais se permita<br />

o giro <strong>de</strong> capital em diversos setores da economia local, não<br />

apenas hospedagem e transporte, mas também o comércio <strong>de</strong><br />

artesanatos, camisetas e alimentação, entre outros.<br />

A relevância da observação <strong>de</strong> aves em locais com adoção<br />

<strong>de</strong> práticas <strong>de</strong> mínimo impacto ambiental mostrou-se equilibrada<br />

quanto às escolhas dos dois grupos, com preferência<br />

para a questão que indica a visita <strong>de</strong> uma área sem cuidados<br />

ambientais apenas no caso da presença <strong>de</strong> espécies mais valorizadas<br />

(52%). Este dado po<strong>de</strong> ser comparado à disponibili‐<br />

Observadores <strong>de</strong> aves - principais características para a escolha <strong>de</strong> um roteiro<br />

conhecer novas culturas<br />

ações locais <strong>de</strong> conservação ambiental<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> observar outros animais<br />

indicação <strong>de</strong> amigos<br />

novo local para observação <strong>de</strong> aves<br />

facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso<br />

custo total da viagem<br />

referência em guias e sites especializados<br />

diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aves<br />

segurança e atendimento <strong>de</strong> emergência<br />

guia especializado e bilíngüe no local<br />

paisagem natural<br />

conforto e facilida<strong>de</strong>s durante a<br />

hospedagem<br />

distância do ponto <strong>de</strong> origem<br />

3<br />

0<br />

17<br />

17<br />

14<br />

19<br />

22<br />

38<br />

32<br />

32<br />

37<br />

40<br />

24<br />

33<br />

51<br />

47<br />

61<br />

64<br />

67<br />

58<br />

62<br />

79<br />

77<br />

80<br />

98<br />

99<br />

122<br />

135<br />

0 20 40 60 80 100 120 140 160<br />

relevância<br />

estrangeiros<br />

brasileiros<br />

Figura 2. Características <strong>de</strong>terminantes na escolha <strong>de</strong> roteiros e localida<strong>de</strong>s<br />

para observação <strong>de</strong> aves por observadores brasileiros e estrangeiros.<br />

Resultados obtidos entre maio e outubro <strong>de</strong> 2005 em estudo <strong>de</strong> caso para a<br />

região do Pantanal e Planalto da Bodoquena, Mato Grosso do Sul. O valor<br />

final atribuído a cada item pelos entrevistados aparece indicado nas barras<br />

correspon<strong>de</strong>ntes do gráfico.<br />

Figure 2. Determinant attributes for the choice of itineraries and localities<br />

for watching birds by Brazilian and foreigner bird watchers. Results obtained<br />

between May and October 2005, in a case study for the region of the Pantanal<br />

and the Bodoquena Plateau, Mato Grosso do Sul, Brazil. The final value<br />

ascribed to each item by interviewees is shown in the corresponding bars at<br />

the chart.


524 Maria Antonietta Castro Pivatto, José Sabino, Silvio Favero e Ido Luiz Michels<br />

da<strong>de</strong> que 81% dos alemães têm em pagar mais para auxiliar<br />

na conservação <strong>de</strong> espaços naturais que visitavam (Lachiondo<br />

2000) e dos 83% <strong>de</strong> americanos que pagariam até 6,2% a mais<br />

por serviços e produtos <strong>de</strong> viagem ambientalmente responsáveis<br />

(Yourth 2001). Estes dados indicam a importância da<br />

conservação ambiental em roteiros para observação <strong>de</strong> aves,<br />

visto que estes ambientes abrigam as espécies <strong>de</strong>sejadas pelos<br />

observadores.<br />

Houve pouca variação entre as respostas <strong>de</strong> brasileiros e<br />

estrangeiros em relação ao número <strong>de</strong> espécies que se espera<br />

avistar durante um dia <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> (Figura 3). Um entrevistado<br />

indica que o número <strong>de</strong> observações esperadas varia conforme<br />

o roteiro visitado, enquanto que outro afirma que este<br />

valor não tem importância, priorizando a experiência durante<br />

a ativida<strong>de</strong>.<br />

Para o número <strong>de</strong> novas espécies encontradas em um novo<br />

roteiro, os entrevistados brasileiros esperam encontrar em<br />

sua maioria até 20 espécies, enquanto que a expectativa dos<br />

estrangeiros é para um número superior a 60 novas espécies.<br />

Esta expectativa po<strong>de</strong> estar relacionada à gran<strong>de</strong> diferença <strong>de</strong><br />

biodiversida<strong>de</strong> existente entre os países do hemisfério norte e<br />

as regiões tropicais e também pela originalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espécies<br />

esperadas em um continente diferente. Wheatley (1995) consi<strong>de</strong>ra<br />

a América do Sul como o continente das aves, sendo que<br />

o Brasil é atualmente o terceiro maior em riqueza <strong>de</strong> espécies<br />

<strong>de</strong> aves, <strong>de</strong>pois da Colômbia e Peru (Sabino e Prado 2006).<br />

As localida<strong>de</strong>s mais citadas por aqueles que já visitaram<br />

a região pantaneira foram Miranda, rodovia Transpantaneira,<br />

Poconé, Aquidauana, Estrada Parque e Serra da Bodoquena<br />

(Tabela 1). As poucas respostas estrangeiras po<strong>de</strong>m estar associadas<br />

à dificulda<strong>de</strong> em se lembrar do nome correto da região<br />

visitada. Embora não pertencente ao Pantanal, a Chapada dos<br />

Tabela 1. Regiões pantaneiras visitadas pelos observadores <strong>de</strong> aves brasileiros<br />

e estrangeiros entrevistados. Resultados obtidos entre maio e outubro <strong>de</strong> 2005<br />

em estudo <strong>de</strong> caso para a região do Pantanal e Planalto da Bodoquena, Mato<br />

Grosso do Sul.<br />

Table 1. Pantanal regions visited by the interviewed Brazilian and foreigner<br />

bird watchers. Results obtained between May and October 2005, in a case<br />

study for the region of the Pantanal and the Bodoquena Plateau, Mato Grosso<br />

do Sul, Brazil.<br />

Regiões visitadas<br />

Observadores<br />

Brasileiros<br />

Observadores<br />

Estrangeiros<br />

Aquidauana 8<br />

Barão <strong>de</strong> Melgaço 1<br />

Cáceres 2<br />

Chapada dos Guimarães 3 2<br />

Corumbá 4<br />

Estrada-parque 5<br />

Miranda 8 11<br />

Passo do Lontra 1<br />

Poconé 7<br />

Rio Negro 1<br />

Rio Paraguai 5<br />

Rodovia Transpantaneira 7 2<br />

Serra da Bodoquena/Bonito 8 1<br />

Guimarães foi inserida na questão por constar com freqüência<br />

nestes roteiros. Já a Serra da Bodoquena foi inserida para<br />

verificar o conhecimento <strong>de</strong>sta localida<strong>de</strong> pelos observadores<br />

<strong>de</strong> aves. As principais justificativas citadas pelos entrevistados<br />

que não visitaram a região do Pantanal foram os custos <strong>de</strong> viagem<br />

(36%), falta <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> (23%) e distância do local<br />

<strong>de</strong> origem (15%).<br />

Quando perguntados se conheciam a região da Serra da<br />

Bodoquena ou Bonito, 75,8% dos estrangeiros disseram nunca<br />

Observadores <strong>de</strong> aves - número <strong>de</strong> espécies esperadas por dia<br />

12<br />

total <strong>de</strong> entrevistados<br />

10<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

20 40 60 80 100 120 acima <strong>de</strong> 120<br />

número <strong>de</strong> espécies<br />

Figura 3. Número <strong>de</strong> espécies que observadores <strong>de</strong> aves brasileiros e estrangeiros esperam observar durante um dia em campo. Resultados obtidos entre maio e<br />

outubro <strong>de</strong> 2005 em estudo <strong>de</strong> caso para a região do Pantanal e Planalto da Bodoquena, Mato Grosso do Sul.<br />

Figure 3. Number of species that Brazilian and foreigner bird watchers expect to see during one day in the field. Results obtained between May and October<br />

2005, in a case study for the region of the Pantanal and the Bodoquena Plateau, Mato Grosso do Sul, Brazil.


Perfil e viabilida<strong>de</strong> do turismo <strong>de</strong> observação <strong>de</strong> aves no Pantanal Sul e Planalto da<br />

Bodoquena (Mato Grosso do Sul) segundo interesse dos visitantes<br />

525<br />

motivação<br />

Observadores <strong>de</strong> aves - motivação para visitar a região da<br />

Serra da Bodoquena<br />

facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso aos locais <strong>de</strong><br />

observação <strong>de</strong> aves<br />

existência <strong>de</strong> roteiros organizados por<br />

operadoras especializadas<br />

existência <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação<br />

na região<br />

pouco aumento nos custos totais da<br />

viagem<br />

boa infra-estrutura hoteleira<br />

acompanhamento <strong>de</strong> guias bilíngües<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> partcipar <strong>de</strong> outras<br />

ativida<strong>de</strong>s turísticas na região<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> observar aves diferentes<br />

das observadas no Pantanal<br />

adoção <strong>de</strong> práticas <strong>de</strong> mínimo impacto<br />

em ambiente natural<br />

existência <strong>de</strong> uma lista <strong>de</strong> aves locais<br />

facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso à região<br />

proximida<strong>de</strong> com o Pantanal<br />

1<br />

2<br />

3<br />

3<br />

5<br />

6<br />

7<br />

6<br />

6<br />

7<br />

7<br />

9<br />

9<br />

10<br />

10<br />

10<br />

11<br />

12<br />

10<br />

11<br />

13<br />

14<br />

estrangeiros<br />

brasileiros<br />

18<br />

19<br />

0 5 10 15 20<br />

total<br />

Figura 4. Principais motivações para que os observadores <strong>de</strong> aves entrevistados<br />

visitem o Planalto da Bodoquena para observação <strong>de</strong> aves. Resultados obtidos<br />

entre maio e outubro <strong>de</strong> 2005 em estudo <strong>de</strong> caso para a região do Pantanal e<br />

Planalto da Bodoquena, Mato Grosso do Sul. O total <strong>de</strong> indicações para cada<br />

item aparece na frente das barras correspon<strong>de</strong>ntes.<br />

Figure 4. Major motivating factors for the interviewed bird watchers to visit<br />

the Bodoquena Plateau for bird watching. Results obtained between May and<br />

October 2005, in a case study for the region of the Pantanal and the Bodoquena<br />

Plateau, Mato Grosso do Sul, Brazil. The total of indications for each item is<br />

shown in front of the corresponding bars.<br />

ter ouvido falar, enquanto 24,2% afirmaram terem ouvido<br />

falar, mas não conheciam (para brasileiros, esta resposta foi<br />

<strong>de</strong> 50%), e apenas um entrevistado já esteve na região para<br />

observação <strong>de</strong> aves. Estes dados indicam que, para a implantação<br />

<strong>de</strong> um roteiro para observação <strong>de</strong> aves, será necessário um<br />

investimento em divulgação e informação sobre os atrativos<br />

<strong>de</strong>sta região, em especial nos meios <strong>de</strong> comunicação utilizados<br />

por este público.<br />

As principais motivações que levariam os entrevistados<br />

estrangeiros a visitar a região <strong>de</strong> Bonito/Serra da Bodoquena<br />

seriam principalmente a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> observar aves diferentes<br />

daquelas observadas no Pantanal, boa estrutura hoteleira<br />

e a prática <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> mínimo impacto ambiental. Para<br />

os brasileiros seria a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> participar <strong>de</strong> outras ativida<strong>de</strong>s<br />

turísticas, proximida<strong>de</strong> com o Pantanal e também a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> observar aves diferentes <strong>de</strong>sta região (Figura 4).<br />

Estes dados indicam que um roteiro com facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

acesso, pouco aumento <strong>de</strong> custos e boa oferta <strong>de</strong> espécies complementares<br />

às ressaltadas no Pantanal seria bem aceito pelo<br />

público estrangeiro. Para os entrevistados brasileiros, a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> participar <strong>de</strong> outras ativida<strong>de</strong>s turísticas indica um<br />

perfil não exclusivamente entusiasta <strong>de</strong> aves, mas com interesses<br />

mais generalistas, conforme apontam Tourism Queenland<br />

(2000) e Matos (2004). Esta possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> roteiros complementares<br />

possibilita que pessoas do grupo que não queiram<br />

apenas observar aves possam participar <strong>de</strong>stas outras ativida<strong>de</strong>s,<br />

contribuindo para a diversificação <strong>de</strong> recursos financeiros<br />

em outros setores.<br />

Guias especializados em observação <strong>de</strong> aves<br />

Dez guias especialistas brasileiros e cinco estrangeiros<br />

respon<strong>de</strong>ram ao questionário, sendo onze homens e quatro<br />

mulheres, com faixa etária predominante entre 21 a 30 anos.<br />

Todos os guias especialistas entrevistados possuíam formação<br />

superior, sendo que <strong>de</strong>stes, 20% possuíam pós-graduação<br />

e 33% eram mestres. Dos entrevistados, 53% praticam<br />

esta ativida<strong>de</strong> há até 10 anos, 7% entre 11 e 20 anos, 20%<br />

entre 21 e 30 anos, 7% entre 31 e 40 anos e 13% entre 41 e 50<br />

anos. O número <strong>de</strong> viagens ao exterior conduzindo grupos <strong>de</strong><br />

observadores <strong>de</strong> aves é <strong>de</strong> 1 a 10 (60%) sendo que o número<br />

<strong>de</strong> pessoas varia entre 6 a 10 em cada grupo. A formação técnica<br />

especializada e o tempo <strong>de</strong> experiência são fatores importantes<br />

e valorizados pelos observadores <strong>de</strong> aves, que esperam<br />

informações precisas sobre as aves e os ambientes visitados<br />

(Mourão 1999).<br />

A relevância da observação <strong>de</strong> aves em locais com adoção<br />

<strong>de</strong> práticas <strong>de</strong> mínimo impacto ambiental apontou uma preferência<br />

para a conservação ambiental, com 40% dos entrevistados<br />

afirmando jamais visitar uma área sem cuidados<br />

ambientais e 33% só visitariam uma área com estas características<br />

se houvesse a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> observar uma espécie<br />

importante. Com estes resultados, observa-se que a maioria<br />

dos guias especialistas <strong>de</strong>monstra preocupação com práticas<br />

conservacionistas.<br />

As regiões mais citadas por aqueles que já visitaram o<br />

Pantanal foram Miranda, Chapada dos Guimarães, Poconé<br />

e Estrada Parque. Apenas quatro guias nunca estiveram na<br />

região, e as justificativas mais citadas foram os custos da viagem<br />

e a distância do seu local <strong>de</strong> origem.<br />

Quando perguntados se conheciam a região da Serra da<br />

Bodoquena ou Bonito, 19% disseram nunca ter ouvido falar,<br />

27% afirmaram terem ouvido falar, mas não conheciam (apenas<br />

um guia brasileiro optou por esta resposta), 27% já visitou<br />

e 27% visitaram para observação <strong>de</strong> aves. Aqui novamente<br />

aponta-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> maior divulgação <strong>de</strong> roteiros <strong>de</strong><br />

observação <strong>de</strong> aves para esta região, visto que parte dos guias<br />

que já visitaram a região para a ativida<strong>de</strong> resi<strong>de</strong>m em Mato<br />

Grosso do Sul.<br />

As principais motivações que levariam os guias especialistas<br />

estrangeiros a visitar a região <strong>de</strong> Bonito/Serra da Bodoquena<br />

seriam principalmente a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> observar espé‐


526 Maria Antonietta Castro Pivatto, José Sabino, Silvio Favero e Ido Luiz Michels<br />

cies diferentes das observadas no Pantanal e a facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

acesso aos locais <strong>de</strong> observação <strong>de</strong> aves. Para os guias brasileiros<br />

a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> observar espécies diferentes das encontradas<br />

no Pantanal também foi a principal resposta, seguida<br />

da existência <strong>de</strong> uma lista <strong>de</strong> aves locais e da proximida<strong>de</strong> do<br />

Pantanal (Figura 5).<br />

Guias <strong>de</strong> turismo local<br />

Ao investigar o perfil dos guias locais, buscou-se informações<br />

sobre o interesse dos mesmos em especializar-se em<br />

observação <strong>de</strong> aves <strong>de</strong>vido ao número reduzido <strong>de</strong>stes profissionais<br />

disponíveis no mercado. Assim, as questões foram<br />

direcionadas às suas ativida<strong>de</strong>s principais, seu conhecimento e<br />

interesse pelas aves da região.<br />

Dos 33 guias <strong>de</strong> turismo local que respon<strong>de</strong>ram ao questionário,<br />

22 eram homens e 11 mulheres, sendo que 49% do<br />

total têm ida<strong>de</strong> entre 21 a 30 anos, 42% entre 31 e 40 anos e<br />

9% entre 41 e 50 anos. Destes, 58% possuem apenas o ensino<br />

médio/técnico em guia <strong>de</strong> turismo, 36% possuem formação<br />

motivação<br />

Guias especialistas - motivação para visitar a região da<br />

Serra da Bodoquena/Bonito<br />

proximida<strong>de</strong> com o Pantanal<br />

facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso à região<br />

existência <strong>de</strong> uma lista <strong>de</strong> aves locais<br />

adoção <strong>de</strong> práticas <strong>de</strong> mínimo impacto em<br />

ambiente natural<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> observar aves diferentes das<br />

observadas no Pantanal<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> partcipar <strong>de</strong> outras ativida<strong>de</strong>s<br />

turísticas na região<br />

acompanhamento <strong>de</strong> guias bilíngües<br />

boa infra-estrutura hoteleira<br />

pouco aumento nos custos totais da viagem<br />

existência <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação na<br />

região<br />

existência <strong>de</strong> roteiros organizados por<br />

operadoras especializadas<br />

facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso aos locais <strong>de</strong> observação<br />

<strong>de</strong> aves<br />

total<br />

0 2 4 6 8 10 12<br />

1<br />

1<br />

1<br />

2<br />

2<br />

2<br />

2<br />

2<br />

3<br />

3<br />

3<br />

4<br />

4<br />

4<br />

4<br />

5<br />

6<br />

6<br />

7<br />

8<br />

10<br />

brasileiros<br />

estrangeiros<br />

Figura 5. Major motivating factors for the interviewed specialized tour gui<strong>de</strong>s<br />

to visit the Bodoquena Plateau for bird watching. Results obtained between<br />

May and October 2005, in a case study for the region of the Pantanal and the<br />

Bodoquena Plateau, Mato Grosso do Sul, Brazil. The total of indications for<br />

each item is shown in front of the corresponding bars.<br />

Figura 5. Major motivating factors for the interviewed specialized tour gui<strong>de</strong>s<br />

to visit the Bodoquena Plateau for bird watching. Results obtained between<br />

May and October 2005, in a case study for the region of the Pantanal and the<br />

Bodoquena Plateau, Mato Grosso do Sul, Brazil. The total of indications for<br />

each item is shown in front of the corresponding bars.<br />

superior e 6% são pós-graduados (latu sensu), sendo que 46%<br />

dos guias locais exercem esta profissão há até cinco anos, 39%<br />

<strong>de</strong> seis a 10 anos e 15% <strong>de</strong> 11 a 15 anos. Com relação à fluência<br />

<strong>de</strong> línguas estrangeiras dos guias <strong>de</strong> turismo local entrevistados,<br />

apenas 25% possuem conhecimento médio em inglês e<br />

38% em espanhol.<br />

As principais ativida<strong>de</strong>s turísticas exercidas pelos guias<br />

<strong>de</strong> turismo local entrevistados são flutuação (mergulho livre),<br />

visita a cachoeiras, caminhada em trilhas e visita a cavernas.<br />

Estas ativida<strong>de</strong>s têm um perfil mais próximo ao turismo <strong>de</strong><br />

natureza em geral, com capacitação apenas para fornecer informações<br />

básicas sobre espeleologia e técnicas <strong>de</strong> mergulho.<br />

Com relação ao conhecimento da avifauna da região pelos<br />

guias locais <strong>de</strong> turismo, 29% dizem conhecer até 20 espécies,<br />

28% até 40 espécies e 22% afirmam conhecer até 60 espécies.<br />

A maioria dos entrevistados mostrou-se positiva com relação<br />

ao interesse específico sobre a avifauna (49%) e com interesse<br />

em apren<strong>de</strong>r mais sobre o assunto (67%).<br />

Observa-se que o guia local i<strong>de</strong>ntifica um interesse do<br />

visitante pelas aves da região, ainda que este seja pelas aves<br />

mais comuns como araras e tucanos. De acordo com os resultados,<br />

os guias locais procuram apontar as aves para os turistas<br />

(Figura 6), mas nem sempre o turista comum tem interesse<br />

especial pelas mesmas. Assim, po<strong>de</strong>-se afirmar que os turistas<br />

que visitam a região <strong>de</strong> Bonito atualmente po<strong>de</strong>riam ser consi<strong>de</strong>rados<br />

como observadores generalistas, conforme o perfil<br />

<strong>de</strong>scrito por Tourism Queenland (2000).<br />

As espécies <strong>de</strong> aves mais valorizadas pra a região da Serra<br />

da Bodoquena, segundo os guias <strong>de</strong> turismo local, são Ara<br />

chloropterus, Ramphastos toco, Momotus momota, Trogon<br />

curucui, Cariama cristata, Icterus croconotus, Rhea americana,<br />

Amazona aestiva, Tigrisoma lineatum, Jacana jacana,<br />

Galbula ruficauda, Pitangus sulphuratus, Donacobius atricapilla,<br />

Ar<strong>de</strong>a alba e Theristicus caudatus. Além <strong>de</strong>stas espécies,<br />

também foram citados os grupos “martins-pescadores”<br />

(Alcedinidae), “pica-paus” (Picidae), “beija-flores” (Trochilidae),<br />

“arapaçus” (Dendrocolaptidae) e “pombas” (Columbidae).<br />

Todas as espécies selecionadas pelos guias locais são<br />

conspícuas e <strong>de</strong> fácil visualização durante a visitação turística<br />

nos sítios turísticos da região <strong>de</strong> Bonito (Pivatto et al. 2006).<br />

Expectativa e viabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> observação<br />

<strong>de</strong> aves na região estudada<br />

Ao analisar o perfil geral dos observadores <strong>de</strong> aves entrevistados,<br />

po<strong>de</strong>-se caracterizar o brasileiro como jovem, com<br />

poucos recursos financeiros para viagens longas e distantes,<br />

interesse mais generalista e com preocupações ambientais<br />

mais presentes que o turista tradicional. O turista estrangeiro<br />

está <strong>de</strong>ntro do perfil <strong>de</strong> meia ida<strong>de</strong> a idoso e com maior disponibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> recursos financeiros, possibilitando viagens mais<br />

distantes e <strong>de</strong>moradas. Possui interesse mais específico pela<br />

observação <strong>de</strong> aves e também tem preocupações ambientais<br />

relevantes.


Perfil e viabilida<strong>de</strong> do turismo <strong>de</strong> observação <strong>de</strong> aves no Pantanal Sul e Planalto da<br />

Bodoquena (Mato Grosso do Sul) segundo interesse dos visitantes<br />

527<br />

Tanto o brasileiro quanto o estrangeiro procuram diversida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> aves nos locais que visitam, mas a expectativa <strong>de</strong><br />

novas espécies é maior no estrangeiro. A segurança e o conforto<br />

durante as viagens, feitas principalmente em grupos<br />

organizados, é também característica do turista estrangeiro,<br />

enquanto o brasileiro prioriza viagens próximas ao seu local<br />

<strong>de</strong> origem organizadas por ele próprio.<br />

Embora o Planalto da Bodoquena seja mais conhecido<br />

pelo público brasileiro, ambos carecem <strong>de</strong> informações sobre<br />

as oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> observação <strong>de</strong> aves na região, mostrandose,<br />

porém, dispostos a visitá-la caso possam aumentar a lista<br />

<strong>de</strong> aves observadas no Pantanal. A integração <strong>de</strong> um roteiro<br />

que una estas duas localida<strong>de</strong>s foi bem aceita pelo público<br />

entrevistado.<br />

A falta <strong>de</strong> informações sobre a região foi <strong>de</strong>stacada pelos<br />

observadores <strong>de</strong> aves e guias especialistas, indicando a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> se aumentar esforços na divulgação <strong>de</strong>ste <strong>de</strong>stino para<br />

observação <strong>de</strong> aves. Estes guias também mostraram interesse<br />

em conhecer um roteiro que una as duas regiões, complementando<br />

as observações feitas no Pantanal. Para este grupo, as<br />

preocupações ambientais foram mais reforçadas do que para os<br />

observadores, indicando que este <strong>de</strong>ve ser um fator <strong>de</strong> exclusão<br />

em roteiros que não tenham estes cuidados priorizados.<br />

Este resultado está em acordo com as afirmações <strong>de</strong> Kerlinger<br />

(2000) e Primack e Rodrigues (2002) <strong>de</strong> que a conservação<br />

dos recursos naturais é uma das premissas para a sustentabilida<strong>de</strong><br />

da exploração econômica por meio do ecoturismo.<br />

A pouca participação <strong>de</strong> guias especialistas na entrevista e<br />

a ausência <strong>de</strong> especialização dos guias locais <strong>de</strong> Bonito reforça<br />

a carência <strong>de</strong> guias especialistas para roteiros no Pantanal e<br />

no Planalto da Bodoquena. Embora os observadores <strong>de</strong> aves<br />

tenham dado pouca priorida<strong>de</strong> à contratação <strong>de</strong>stes profissionais,<br />

cabe lembrar que mesmo com a vinda dos guias acompanhantes<br />

dos grupos estrangeiros há a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acompanhamento<br />

<strong>de</strong> monitores nas fazendas pantaneiras e guias locais<br />

cre<strong>de</strong>nciados no município <strong>de</strong> Bonito (Bonito 2002). Portanto,<br />

investimentos na formação <strong>de</strong>ste profissional po<strong>de</strong>m aumentar<br />

a oferta <strong>de</strong> roteiros, contribuindo para a melhoria da qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ste serviço para observadores <strong>de</strong> aves que visitem a região.<br />

Foram citadas no total 119 espécies <strong>de</strong> aves pelos entrevistados.<br />

Embora originalmente tenham sido indicadas 49 espécies<br />

para escolha nos questionários, os resultados acrescentaram<br />

mais 70 espécies à lista <strong>de</strong> aves que se espera observar durante<br />

um roteiro que integre a região do Planalto da Bodoquena e<br />

Pantanal sul, diminuindo a ten<strong>de</strong>nciosida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste resultado.<br />

As espécies mais valorizadas pelos observadores <strong>de</strong> aves,<br />

<strong>de</strong> acordo com a pontuação <strong>de</strong>scrita em Material e Métodos,<br />

foram Harpia harpyja (75,4), Anodorhynchus hyacinthinus<br />

(51,0), Ara chloropterus (42,1), Pyro<strong>de</strong>rus scutatus (39,0),<br />

Antilophia galeata (39,0), Pipra fasciicauda (39,0), Pyrrhura<br />

<strong>de</strong>vilei (37,0), Sarcoramphus papa (37,0), Trogon curucui<br />

(35,1) e Aburria cumanensis (32,0). A lista das espécies citadas<br />

pelos guias especialistas como sendo as mais valorizadas<br />

pelos observadores <strong>de</strong> aves apresenta algumas diferenças<br />

quando comparada com a anterior: Harpia harpyja (93,3),<br />

Anodorhynchus hyacinthinus (60,0), Alipiopsitta xanthops<br />

(60,0), Antilophia galeata (60,0), Pyro<strong>de</strong>rus scutatus (53,3),<br />

Sarcoramphus papa (47,0), Aburria cumanensis (40,0), Crax<br />

fasciolata (40,0), Trogon curucui (40,0) e Ara chloropterus<br />

(40,0). Para os próprios guias especialistas, as espécies mais<br />

Guias <strong>de</strong> turismo local - relevância da avifauna durante as ativida<strong>de</strong>s turísticas<br />

14<br />

12<br />

13<br />

12<br />

pouca, pois no geral apenas alguns turistas se<br />

interessam pelas aves da região<br />

10<br />

pouca, pois conheço poucas aves para mostrar aos<br />

turistas<br />

total<br />

8<br />

6<br />

6<br />

média, pois mesmo eu conhecendo as aves, os<br />

turistas em geral querem ver apenas as espécies<br />

principais (tucano, arara, etc)<br />

4<br />

2<br />

1 1<br />

muita, pois mesmo quando os turistas não se<br />

interessam, eu procuro mostrar as aves presentes no<br />

roteiro turístico<br />

0<br />

relevância<br />

muita, pois os turistas querem sempre ver aves<br />

durante os roteiros turísticos<br />

Figura 6. Importância das aves para o trabalho dos guias <strong>de</strong> turismo local. Resultados obtidos entre maio e outubro <strong>de</strong> 2005 em estudo <strong>de</strong> caso para a região do<br />

Pantanal e Planalto da Bodoquena, Mato Grosso do Sul. O total <strong>de</strong> indicações para cada item aparece na frente das barras correspon<strong>de</strong>ntes<br />

Figure 6. Importance of birds for the work of local tour gui<strong>de</strong>s. Results obtained between May and October 2005, in a case study for the region of the Pantanal<br />

and the Bodoquena Plateau, Mato Grosso do Sul, Brazil. The total of indications for each item is shown in front of the corresponding bars.


528 Maria Antonietta Castro Pivatto, José Sabino, Silvio Favero e Ido Luiz Michels<br />

valorizadas foram Anodorhynchus hyacinthinus (53,3), Formicivora<br />

rufa (40), Crax fasciolata (20,0), Pyrrhura <strong>de</strong>vilei<br />

(20,0), Chloroceryle aenea (20,0), Momotus momota (20,0),<br />

Melanerpes cactorum (20,0), Nyctibius griseus (20,0), Harpia<br />

harpyja (13,3) e Trogon curucui (13,3).<br />

Para os guias locais, as mais valorizadas foram aquelas cuja<br />

observação é mais freqüente durante as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> turismo<br />

convencional ou que <strong>de</strong>spertam a atenção do visitante, sendo<br />

as mais citadas Ramphastos toco (76,0), Momotus momota<br />

(73,0), Trogon curucui (70,0), Cariama cristata (48,5), Tigrisoma<br />

lineatum (42,4), Icterus croconotus (42,4), Rhea americana<br />

(30,3), Ara chloropterus (30,3), Jacana jacana (30,3) e<br />

Amazona aestiva (21,2).<br />

Consi<strong>de</strong>rando-se apenas as espécies presentes no Planalto<br />

da Bodoquena, a média geral das espécies que alcançaram<br />

maior valoração, segundo o número <strong>de</strong> indicações em cada<br />

categoria <strong>de</strong> entrevistados somados foram Harpia harpyja<br />

(47,0), Anodorhynchus hyacinthinus (41,8), Trogon curucui<br />

(39,6), Momotus momota (35,7), Ara chloropterus (29,8),<br />

Ramphastos toco (29,3), Sarcoramphus papa (26,6), Antilophia<br />

galeata (26,3), Pyrrhura <strong>de</strong>villei (24,6) e Pyro<strong>de</strong>rus<br />

scutatus (23,5) Ou seja, além da infra-estrutura física e organizacional,<br />

os roteiros elaborados para a região <strong>de</strong>vem levar<br />

em conta a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se observar a maior varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

espécies, com <strong>de</strong>staque para as citadas acima.<br />

Conclusão<br />

O crescimento <strong>de</strong>sta ativida<strong>de</strong> no Brasil e a busca por novos<br />

roteiros <strong>de</strong>spertam o interesse dos observadores <strong>de</strong> aves para a<br />

região do Pantanal e do Planalto da Bodoquena. A diversida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> aves e a presença <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> interesse dos observadores<br />

também indicam que investimentos neste setor po<strong>de</strong>m trazer<br />

para a região uma modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> turismo com gran<strong>de</strong> apelo<br />

conservacionista.<br />

Dessa forma, conclui-se que para aumentar a visitação<br />

pelos observadores <strong>de</strong> aves as pousadas e sítios turísticos da<br />

região estudada necessitam investir em roteiros direcionados e<br />

também na divulgação das aves existentes em suas proprieda<strong>de</strong>s.<br />

Deve-se, ainda, centrar esforços na capacitação <strong>de</strong> guias<br />

especialistas e divulgação das espécies ocorrentes na região,<br />

além <strong>de</strong> criar roteiros específicos que integrem Pantanal e Planalto<br />

da Bodoquena.<br />

A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um ambiente conservado para garantir<br />

as condições <strong>de</strong> sobrevivência das aves e a inclusão <strong>de</strong> diversos<br />

setores da economia regional são pré-requisitos para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do Ecoturismo. Assim, a conservação dos<br />

remanescentes florestais e a recuperação <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong>gradadas<br />

po<strong>de</strong>m aumentar este potencial <strong>de</strong>vido à ampliação e manutenção<br />

<strong>de</strong> hábitats para a avifauna local, atrativo principal para<br />

grupos <strong>de</strong> observadores <strong>de</strong> aves.<br />

Portanto, consi<strong>de</strong>ra-se que investimentos no turismo <strong>de</strong><br />

observação <strong>de</strong> aves na região do Planalto da Bodoquena e Pantanal<br />

po<strong>de</strong>rão acrescentar valor aos remanescentes naturais da<br />

região e incentivar sua conservação para uso <strong>de</strong> roteiros específicos<br />

para a ativida<strong>de</strong>. Isto aumentará as opções turísticas<br />

da região e po<strong>de</strong>rá diversificar a distribuição <strong>de</strong> renda, além<br />

<strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r a <strong>de</strong>manda apontada pelos observadores <strong>de</strong> aves<br />

entrevistados.<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

Ao professores A<strong>de</strong>mir Kleber Morbeck <strong>de</strong> Oliveira, Alexine<br />

Keuroghlian, Eron Brum (UNIDERP) e Andréa Cardoso<br />

<strong>de</strong> Araújo (UFMS) pelas valiosas contribuições. Ao Recanto<br />

Ecológico Rio da Prata, Estância Mimosa Ecoturismo, Fazenda<br />

da Barra e Pousada Olho d’Água pelo apoio operacional.<br />

Agra<strong>de</strong>cemos às contribuições <strong>de</strong> Fernando Costa Straube,<br />

José Fernando Pacheco, Augusto José Piratelli, José Augusto<br />

<strong>de</strong> Carvalho e Daniel De Granville Manço. E finalmente ao<br />

apoio financeiro da UNIDERP e Japacanim Ecoturismo Ltda.<br />

José Sabino agra<strong>de</strong>ce também ao apoio financeiro da Fundação<br />

Manoel <strong>de</strong> Barros.<br />

Referências<br />

American Birding Association [ABA] (1996) The economics<br />

of birding. http://www.americanbirding.org (acesso em<br />

18/05/2004).<br />

Antas, P. T. Z. (2004) Pantanal – guia <strong>de</strong> aves. Espécies da<br />

Reserva Particular do Patrimônio Natural do SESC Pantanal.<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro: Departamento Nacional, SESC.<br />

Bird Quest (2006) The Pantanal and Interior Brazil. http://<br />

www.birdquest.co.uk/frameset.cfmbTours=0 (acesso<br />

em 16/06/2006).<br />

Bonito (2002) Lei nº 919, <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2002. Dispõe sobre<br />

as atribuições do Guia <strong>de</strong> Turismo local, a obrigatorieda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> seu acompanhamento nos passeios turísticos no<br />

Município e dá outras providências. Bonito: Prefeitura<br />

Municipal.<br />

Braz, V. S. (2003) A representativida<strong>de</strong> das unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação<br />

do cerrado na preservação da avifauna. Tese<br />

<strong>de</strong> doutorado. Brasília: Departamento <strong>de</strong> Biologia, Universida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Brasília.<br />

Comitê Brasileiro <strong>de</strong> Registros Ornitológicos [CBRO] (2006)<br />

Lista <strong>de</strong> Aves do Brasil. Versão 14/02/2006. http://www.<br />

ib.usp.br/cbro (acesso em 04/05/2006).<br />

Dias, R. (2001) Observação <strong>de</strong> Fauna. Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Subsídios<br />

Observação <strong>de</strong> Aves, Ibama. Em: Manual Melhores Práticas<br />

para o Ecoturismo, p. 237‐247. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Programa<br />

MPE Funbio.


Perfil e viabilida<strong>de</strong> do turismo <strong>de</strong> observação <strong>de</strong> aves no Pantanal Sul e Planalto da<br />

Bodoquena (Mato Grosso do Sul) segundo interesse dos visitantes<br />

529<br />

Field Gui<strong>de</strong>s (2006) Safari Brazil – The Pantanal and more.<br />

http://www.fieldgui<strong>de</strong>s.com/centbrazil.htm (acesso em<br />

16/06/2006).<br />

Grosset, A. (2006) Arthur Grosset’s Birds. http://www.arthurgrosset.com/in<strong>de</strong>x.html<br />

(acesso em 18/07/2006).<br />

Kerlinger, P. (2000) Economics of Open Space Conservation.<br />

Cornell Laboratory of Ornithology. http://query.cornell.<br />

edu:8765/query.htmlqp=site%3Abirds.cornell.edu&<br />

rq=0&col=campus&ht=0&ws=0&si=0&qt=kerlinger<br />

(acesso em 05/05/2006).<br />

Lachiondo, C. S. (2000) O turismo como instrumento financeiro<br />

para a conservação da natureza, p. 55‐63. Em: Guia pra<br />

o financiamento da Re<strong>de</strong> Natura 2000 na região biogeográfica<br />

macaronesia (Açores, Ma<strong>de</strong>ira e Canárias). Terra<br />

– centro para la política ambiental. http://terracentro.org/<br />

Doc-pt/Macaronesia%20(pt).pdf (acesso em 22/05/2005).<br />

Lista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> [ORNITOBR] (2006) Enquete<br />

para os associados. http://br.groups.yahoo.com/group/<br />

ornitobr/polls (acesso em 07/05/2006).<br />

Magalhães, G. W. (2001a) Pólos <strong>de</strong> Ecoturismo: Pólos <strong>de</strong> ecoturismo:<br />

planejamento e gestão. Instituto Brasileiro <strong>de</strong><br />

Turismo. São Paulo: Terragraph, v. 1.<br />

Magalhães, G. W. (2001b) Pólos <strong>de</strong> Ecoturismo: Brasil. Instituto<br />

Brasileiro <strong>de</strong> Turismo. São Paulo: Terragraph, v. 2.<br />

Matos, E. M. (2004) Turismo <strong>de</strong> observação <strong>de</strong> fauna silvestre.<br />

Em: 5ª Coletânea <strong>de</strong> Trabalhos <strong>de</strong> Conclusão <strong>de</strong> Cursos<br />

<strong>de</strong> Pós-graduação em Turismo e Hotelaria do Centro<br />

Universitário SENAC. CD‐ROM. São Paulo: SENAC.<br />

Mourão, R. M. F. (1999) Observação <strong>de</strong> Aves. Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong><br />

Subsídios Observação <strong>de</strong> Aves, Em: Manual Melhores<br />

Práticas para o Ecoturismo, p. 248‐258. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Programa MPE Funbio.<br />

National Survey on Recreation and the Environment [NSRE]<br />

(2000) National Survey of fishing, Hunting, and Wildlife-associated<br />

Recreation, p. 394‐402. Em: Sekercioglu,<br />

C. H. (2003). Conservation through commodification.<br />

Birding. August.<br />

Pivatto, M. A. C. e Sabino, J. (2005) Recomendações para minimizar<br />

impactos à avifauna em ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> turismo <strong>de</strong><br />

observação <strong>de</strong> aves. Atualida<strong>de</strong>s Ornitológicas 127:7‐11.<br />

Pivatto, M. A. C.; Manço, D. D. G.; Straube, F. C.; Urben-Filho, A.<br />

e Milano, M. (2006) Aves do Planalto da Bodoquena, Estado<br />

do Mato Grosso do Sul (Brasil). Atualida<strong>de</strong>s Ornitológicas<br />

129. http://www.ao.com.br/download/bodoquen.pdf.<br />

Primack, R. B e Rodrigues, E. (2002) Biologia da Conservação.<br />

Londrina: Editora Vida.<br />

Projeto <strong>de</strong> Conservação e Utilização Sustentável da Diversida<strong>de</strong><br />

Biológica <strong>Brasileira</strong> [PROBIO] (2003) Áreas<br />

prioritárias para a conservação, utilização sustentável<br />

repartição <strong>de</strong> benefícios da biodiversida<strong>de</strong> brasileira.<br />

Brasília: Ministério do Meio Ambiente, Secretaria <strong>de</strong><br />

Biodiversida<strong>de</strong> e Florestas.<br />

Sabino, J. e Prado, P. I. K. L. (2006) Vertebrados. Capítulo<br />

6, p. 53‐144. Em: Lewinsohn, T. (org.) 2006. Avaliação<br />

do Estado do Conhecimento da Diversida<strong>de</strong> <strong>Brasileira</strong>.<br />

Vol. II. Série Biodiversida<strong>de</strong>. Brasília: Ministério do<br />

Meio Ambiente (MMA) e Programa das Nações Unidas<br />

para o Desenvolvimento (PNUD‐ONU).<br />

Tapper, R. (2006) Wildlife watching and tourism: a study on<br />

the benefits and risks of a fast growing tourism activity<br />

and its impacts on species. United Nations Environment<br />

Programme/Secretariat of the Convention on the Conservation<br />

of Migratory Species of Wild Animals. Bonn:<br />

United Nations Premisses.<br />

Tourism Queenland (2000) Birdwatching Tourism. Special<br />

Interest Reports and Fact Sheets. Queenland. http://www.<br />

tq.com.au/tq_com/dms/2EED882DDD2CD7BFF718AE<br />

7CBBBD6AC3.pdf (acesso em 08/05/2006).<br />

Tropical Birding (2006) Brazil – The Pantanal and Amazon.<br />

http://www.tropicalbirding.com/sam/sam_frameset.htm<br />

(acesso em 16/06/2006).<br />

Tubelis, D. P e Tomas, W. M. (2003) Birds species of the Pantanal<br />

wetland, Brazil. <strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>,<br />

11(1):5‐37.<br />

U.S. Fish & Wildlife Service [USFWS] (2001) Birding in the<br />

United States: a Demographic and Economic Analysis.<br />

National Survey of fishing, Hunting, and Wildlife-associated<br />

Recreation, v. 1.<br />

Wheatley, N. (1995) Where to watch birds in South America.<br />

London: Princeton.<br />

Whitney, B. (2006) Destino Brasil, será http://www.avistarbrasil.com.br/resumos/bret_web/pages/Sli<strong>de</strong>4.htm<br />

(acesso em 16/06/2006).<br />

Yourth, H. (2001) Observando x Caçando. <strong>Revista</strong> World<br />

Watch, WWI-Worldwatch Institute/UMA – Universida<strong>de</strong><br />

Livre da Mata Atlântica. http://www.wwiuma.org.<br />

br/observando_cacando.htm (acesso em 10/11/2004).


ARTIGO 530 Leonardo Esteves Lopes e Vívian S. Braz <strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> 15(4):530-537<br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007<br />

Aves da região <strong>de</strong> Pedro Afonso, Tocantins, Brasil<br />

Leonardo Esteves Lopes 1 e Vívian S. Braz 2<br />

1. Laboratório <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, Departamento <strong>de</strong> Zoologia, ICB, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais, 31270‐910, Belo<br />

Horizonte, MG, Brasil. e‐mail: leo.cerrado@gmail.com<br />

2. Programa <strong>de</strong> pós-graduação em Ecologia, Departamento <strong>de</strong> Ecologia, IB, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília, 70910‐900, Brasília, DF,<br />

Brasil. e‐mail: vsbraz@unb.br<br />

Recebido em 13 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2006; aceito em 19 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2007.<br />

Abstract: Birds of Pedro Afonso region, Tocantins, Brazil. We report the results of rapid bird surveys in Pedro Afonso region, central Tocantins,<br />

Brazil. Field work was conducted in three campaigns between November 2000 and April 2004, in a total sampling effort of 25 days. The local<br />

vegetation is typical of Brazilian Cerrado (a kind of tropical savanna), and a wi<strong>de</strong> spectrum of habitats was sampled, ranging from grasslands to tall<br />

semi<strong>de</strong>ciduous forests. We recor<strong>de</strong>d 254 species, the majority of them typical of the Cerrado region, with some Amazonian species along the riparian<br />

and semi<strong>de</strong>ciduous forests. Accounts are presented for some noteworthy species and evi<strong>de</strong>nces of recordings of the Fiery-tailed Awlbill Avocettula<br />

recurvirostris and the Smoke-coloured Pewe Contopus fumigatus are also presented, but they need to be documented.<br />

Key-words: birds, cerrado, Rio Tocantins, Brazil.<br />

Resumo: São apresentados os resultados <strong>de</strong> inventários rápidos na região <strong>de</strong> Pedro Afonso, centro do Tocantins, Brasil. Os trabalhos <strong>de</strong> campo foram<br />

conduzidos ao longo <strong>de</strong> três campanhas entre novembro <strong>de</strong> 2000 e abril <strong>de</strong> 2004, em um esforço <strong>de</strong> amostragem total <strong>de</strong> 25 dias. A vegetação local é<br />

típica do Cerrado, sendo amostrada uma ampla gama <strong>de</strong> habitats, compreen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os campos limpos às florestas semi<strong>de</strong>cíduas. Foram registradas<br />

254 espécies, a maioria <strong>de</strong>las típicas do Cerrado, com algumas poucas espécies amazônicas ao longo das florestas ciliares e semi<strong>de</strong>cíduas. Os registros<br />

notáveis são discutidos, sendo apresentadas evidências não documentadas da ocorrência <strong>de</strong> Avocettula recurvirostris e Contopus fumigatus.<br />

Palavras-chave: aves, Cerrado, Rio Tocantins, Brasil.<br />

O conhecimento atual sobre a avifauna do Cerrado é ainda<br />

extremamente <strong>de</strong>ficiente, existindo estimativas <strong>de</strong> que cerca<br />

<strong>de</strong> 70% <strong>de</strong> sua área ainda não foi amostrada satisfatoriamente<br />

(Silva 1995, Silva e Santos 2005). Uma das regiões do Cerrado<br />

mais carentes <strong>de</strong> inventários é o estado do Tocantins, que<br />

até pouco tempo atrás, apresentava a quase totalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua<br />

superfície territorial ainda inexplorada por ornitólogos (Silva<br />

1995, Silva e Santos 2005). Recentemente, alguns estudos<br />

têm contribuído para reverter esse quadro (Buzzetti 2000,<br />

Bagno e Abreu 2001, Santos 2001, Braz et al. 2003, Pacheco<br />

e Olmos 2006), mas muito ainda resta por ser feito. Com o<br />

intuito <strong>de</strong> contribuir para um maior conhecimento da avifauna<br />

tocantinense, este trabalho apresenta os resultados <strong>de</strong> inventários<br />

conduzidos na região <strong>de</strong> Pedro Afonso, região central<br />

do estado.<br />

Metodologia e Áreas Estudadas<br />

Os inventários foram realizados durante três curtas campanhas<br />

à região <strong>de</strong> Pedro Afonso, compreen<strong>de</strong>ndo também<br />

os municípios <strong>de</strong> Bom Jesus do Tocantins e Centenário. VSB<br />

visitou a área entre 9 e 11 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2000 e entre 14 e 25<br />

<strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2001. LEL visitou a região entre 24 <strong>de</strong> março e 2<br />

<strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2004. A vegetação é típica do Cerrado, abrangendo<br />

as mais diversas fitofisionomias, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os campos limpos até<br />

o cerradão (sensu Ribeiro e Walter 1998). Florestas semi<strong>de</strong>cíduas<br />

também se encontram presentes, com o dossel atingindo<br />

30 m <strong>de</strong> altura em algumas áreas. No entorno da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Pedro Afonso, a vegetação nativa já se encontra <strong>de</strong>scaracterizada<br />

em diversos trechos, tendo as matas ciliares do rio<br />

Tocantins e seus tributários sido suprimida total ou parcialmente<br />

para o plantio <strong>de</strong> culturas <strong>de</strong> subsistência, ou formação<br />

<strong>de</strong> pastagens. A entrada <strong>de</strong> gado nas matas ciliares também é<br />

um fator preocupante, pois o pastejo e pisoteio pelos animais<br />

causam gran<strong>de</strong>s alterações no sub-bosque. Extensas formações<br />

<strong>de</strong> cerrado em bom estado <strong>de</strong> conservação ainda po<strong>de</strong>m<br />

ser observadas, mas o futuro <strong>de</strong>ssas áreas ainda é incerto, pois<br />

a cultura <strong>de</strong> soja tem se expandido rapidamente na região, e<br />

gran<strong>de</strong>s áreas <strong>de</strong> vegetação nativa já foram suprimidas.<br />

A metodologia <strong>de</strong> campo consistiu em caminhada ao longo<br />

da área <strong>de</strong> estudo que buscaram cobrir todas as diferentes fitofisionomias<br />

da região. Os registros foram efetuados por meio<br />

<strong>de</strong> observação com o auxílio <strong>de</strong> binóculos e da i<strong>de</strong>ntificação<br />

dos cantos e chamados das aves. Em duas ocasiões, com o<br />

auxílio <strong>de</strong> um barco, VSB percorreu trechos do rio Tocantins<br />

para a observação <strong>de</strong> aves aquáticas. Ao todo foram amostradas<br />

treze áreas (Figura 1), as quatro primeiras <strong>de</strong>las por VSB<br />

e as <strong>de</strong>mais por LEL. As localida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> amostragem são apresentadas<br />

abaixo:<br />

1. Rio Sono (09°09’S, 47°59’W; altitu<strong>de</strong>: 240 m): áreas com<br />

mancha <strong>de</strong> floresta semi<strong>de</strong>cídua, com sinais <strong>de</strong> alteração<br />

em alguns trechos, e cerrado adjacente.<br />

2. Barra do Tranqueira (08°46’S, 48°08’W; altitu<strong>de</strong>: 180 m):<br />

margem esquerda do Rio Tocantins, na sua confluência


Aves da região <strong>de</strong> Pedro Afonso, Tocantins, Brasil 531<br />

com o Ribeirão Tranqueira. Árvores baixas e cerrado adjacente<br />

utilizado para pecuária extensiva.<br />

3. Ribeirão Água Fria (08°25’S, 48°06’W; altitu<strong>de</strong>: 179 m):<br />

trechos florestais com dossel até 20 m, cerrado adjacente.<br />

Presença <strong>de</strong> lagos e áreas alagadas.<br />

4. Água Boa (08°24’S, 48°04’W; altitu<strong>de</strong>: 176 m): mata com<br />

dossel até 30 m, com sinais <strong>de</strong> alteração. Cerrado adjacente.<br />

Trechos <strong>de</strong> veredas e banhados. Área no entorno utilizada<br />

para pecuária extensiva.<br />

5. Margem direita do rio Tocantins (08°59’S, 48°10’W; altitu<strong>de</strong>:<br />

190 m): área antropizada, com mata ciliar completamente<br />

<strong>de</strong>scaracterizada. Alguns trechos <strong>de</strong> cerrado alagado<br />

e manchas <strong>de</strong> cerrado <strong>de</strong>nso com gravatás.<br />

6. Margem esquerda do rio Tocantins (08°59’S, 48°11’W;<br />

altitu<strong>de</strong>: 180 m): área antropizada, com chácaras, pastagens<br />

e pequenas plantações. Mata ciliar alterada, rica em<br />

babaçus. Alguns trechos <strong>de</strong> cerrado aberto alagado.<br />

7. Fazenda Sítio Novo (09°03’S, 47°56’W; altitu<strong>de</strong>: 243 m):<br />

mosaico <strong>de</strong> cerrado, mata semi<strong>de</strong>cídua baixa, taquaral<br />

e mata ciliar. Em alguns trechos po<strong>de</strong>m ser observadas<br />

pequenas extensões <strong>de</strong> cerrado rupestre.<br />

8. Rodovia BR‐235 (09°02’S, 47°56’W; altitu<strong>de</strong>: 315 m):<br />

cerrado fechado e mata semi<strong>de</strong>cídua ao longo das drenagens,<br />

dossel <strong>de</strong> até 20 m.<br />

9. Córrego da Boa Esperança (09°03’S, 48°11’W; altitu<strong>de</strong>:<br />

189 m): cerrado e mata ciliar.<br />

10. Fazenda Brejão (09°15’S, 48°09’W; altitu<strong>de</strong>: 252 m):<br />

pequenas fazendas com culturas, cerradão e um pequeno<br />

trecho <strong>de</strong> veredas.<br />

11. Entorno da Terra Indígena Xerente (09°25’S, 48°08’W;<br />

altitu<strong>de</strong>: 349 m): extensas áreas <strong>de</strong> cerrado aberto e campos<br />

limpos e sujos, com capões <strong>de</strong> mata semi<strong>de</strong>cídua e floresta<br />

ciliar. Alguns trechos <strong>de</strong> cerrado sobre cascalho.<br />

12. Fazenda Alto Alegre (09°04’S, 47°43’W; altitu<strong>de</strong>: 318 m).<br />

cerrado, mata semi<strong>de</strong>cídua e veredas.<br />

13. Fazenda Maravilha (08°57’S, 47°20’W; altitu<strong>de</strong>: 312 m).<br />

áreas <strong>de</strong> cerrado e floresta ciliar.<br />

Foram registradas 254 espécies <strong>de</strong> aves neste estudo<br />

(Tabela 1), um número certamente subestimado, dado ao reduzido<br />

período <strong>de</strong> amostragem. A nomenclatura e a seqüência<br />

taxonômica seguem proposta do Comitê Brasileiro <strong>de</strong> Registros<br />

Ornitológicos (CBRO 2006).<br />

A avifauna da região <strong>de</strong> Pedro Afonso po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada<br />

típica do Cerrado, mas com certa influência amazônica,<br />

conforme <strong>de</strong>monstrado pelos registros <strong>de</strong> Crypturellus cinereus,<br />

Pteroglossus inscriptus, Melanerpes cruentatus e Tyranneutes<br />

stolzmanni. A presença <strong>de</strong> tais espécies na área provavelmente<br />

se <strong>de</strong>ve às matas ciliares da bacia do rio Tocantins,<br />

que atuariam como uma espécie <strong>de</strong> corredor <strong>de</strong> floresta úmida<br />

em meio ao Cerrado (Silva 1996), proporcionando hábitat a<strong>de</strong>quado<br />

para estas espécies.<br />

Apenas duas das aves registradas encontram-se listadas<br />

como ameaçadas <strong>de</strong> extinção (BirdLife International 2004,<br />

Machado et al. 2005), sendo elas Penelope cf. ochrogaster e<br />

Anodorhynchus hyacinthinus, listadas na categoria “vulnerável”.<br />

Nove espécies <strong>de</strong> aves registradas são consi<strong>de</strong>radas endêmicas<br />

do Cerrado (Silva e Bates 2002): Penelope cf. ochrogaster,<br />

Alipiopsitta xanthops, Melanopareia torquata, Herpsilochmus<br />

longirostris, Antilophia galeata, Cyanocorax cristatellus,<br />

Porphyrospiza caerulescens, Charitospiza eucosma e<br />

Saltator atricollis. Os registros notáveis são listados abaixo:<br />

Penelope cf. ochrogaster – um grupo <strong>de</strong> três indivíduos foi<br />

observado no dia 15 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2005 em uma mancha <strong>de</strong><br />

floresta semi<strong>de</strong>cídua na área 1. Foi possível observar com<br />

clareza as partes inferiores intensamente castanhas, a faixa<br />

superciliar clara e sobrancelha negra. Em um trabalho realizado<br />

na região su<strong>de</strong>ste do Tocantins (Pacheco e Olmos 2006)<br />

foram realizados vários registros <strong>de</strong>ssa espécie, que parece<br />

não ser incomum na área. Consi<strong>de</strong>rada vulnerável à extinção<br />

em níveis nacional (Machado et al. 2005) e mundial (BirdLife<br />

International 2004).<br />

Avocettula recurvirostris – um provável macho <strong>de</strong>sta espécie<br />

foi observado no dia 27 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2004 pousado na borda<br />

<strong>de</strong> uma mata galeria dominada por taquaras, na Fazenda Sítio<br />

Novo, em uma região <strong>de</strong> mosaico <strong>de</strong> matas semi<strong>de</strong>cíduas e<br />

cerrado, com afloramentos rochosos. As precárias condições<br />

<strong>de</strong> iluminação no momento da observação não permitiram a<br />

precisa i<strong>de</strong>ntificação, mas o bico curto e com a extremida<strong>de</strong><br />

ligeiramente orientada para cima, associado ao brilho cúpreo<br />

<strong>de</strong> suas retrizes sugerem fortemente tratar-se <strong>de</strong>sta espécie.<br />

Avocettula recurvirostris é consi<strong>de</strong>rado um dos beija-flores<br />

mais raros do Brasil (Grantsau 1988, Sick 1997), sendo listada<br />

como quase ameaçada por Collar et al. (1992). O hábitat<br />

em que a espécie foi observada parece ser o típico da espécie,<br />

que é dita ocorrer em formações savânicas abertas próximas<br />

<strong>de</strong> afloramentos <strong>de</strong> granito, em meio a florestas primárias<br />

(Schuchmann 1999). Caso a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong>sta espécie se<br />

confirme, este <strong>de</strong>verá ser o seu primeiro registro para o estado<br />

<strong>de</strong> Tocantins.<br />

Rostrhamus sociabilis – às 06:50 h do dia 26 <strong>de</strong> março <strong>de</strong><br />

2004, durante a travessia <strong>de</strong> balsa do rio Tocantins, na entrada<br />

da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pedro Afonso, um grupo <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 1.000 indivíduos<br />

<strong>de</strong>sta espécie foi observado sobrevoando o Rio Tocantins,<br />

provavelmente em migração. As aves voavam a mais <strong>de</strong><br />

100 m <strong>de</strong> altura, em um grupo compacto, atravessando o rio da<br />

margem esquerda para a direita.<br />

Spizaetus tyrannus – no dia 29 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2004 um adulto<br />

<strong>de</strong>sta espécie foi observado vocalizando insistentemente no<br />

dossel <strong>de</strong> um cerradão durante toda a manhã. A vocalização,<br />

aparentemente um grito <strong>de</strong> alarme, era emitida toda vez que<br />

um observador se aproximava da árvore on<strong>de</strong> o indivíduo se<br />

encontrava pousado, sugerindo que ela abrigava um ninho<br />

da espécie. Entretanto, a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> do dossel, associado à<br />

gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lianas, impediu a visualização da copa<br />

da árvore.


532 Leonardo Esteves Lopes e Vívian S. Braz<br />

Tabela 1. Espécies <strong>de</strong> aves registradas na região <strong>de</strong> Pedro Afonso, Tocatins,<br />

Brasil. A nomenclatura e a seqüência taxonômica seguem proposta do Comitê<br />

Brasileiro <strong>de</strong> Registros Ornitológicos (2006).<br />

Table 1. Bird species recor<strong>de</strong>d in Pedro Afonso region, Tocantins, Brazil.<br />

Bird names and species sequence follows the Comitê Brasileiro <strong>de</strong> Registros<br />

Ornitológicos (2006).<br />

Táxons<br />

Áreas<br />

Struthioniformes Latham, 1790<br />

Rheidae Bonaparte, 1849<br />

Rhea americana (Linnaeus, 1758) 2,4,10<br />

Tinamiformes Huxley, 1872<br />

Tinamidae Gray, 1840<br />

Tinamus sp. 8<br />

Crypturellus cinereus (Gmelin, 1789) 3<br />

Crypturellus undulatus (Temminck, 1815) 4,7<br />

Crypturellus parvirostris (Wagler, 1827) 1,2,3,4,5,7,10,11<br />

Rhynchotus rufescens (Temminck, 1815) 1,2,3,4,10,11,12<br />

Nothura maculosa (Temminck, 1815) 1<br />

Anseriformes Linnaeus, 1758<br />

Anhimidae Stejneger, 1885<br />

Anhima cornuta (Linnaeus, 1766) 4<br />

Anatidae Leach, 1820<br />

Dendrocygna viduata (Linnaeus, 1766) 3,4,5,9<br />

Dendrocygna autumnalis (Linnaeus, 1758) 3<br />

Cairina moschata (Linnaeus, 1758) 4<br />

Galliformes Linnaeus, 1758<br />

Cracidae Rafinesque, 1815<br />

Penelope superciliaris Temminck, 1815<br />

Penelope cf. ochrogaster Pelzeln, 1870 1<br />

Crax fasciolata spix, 1825 1<br />

Pelecaniformes Sharpe, 1891<br />

Phalacrocoracidae Reichenbach, 1849<br />

Phalacrocorax brasilianus (Gmelin, 1789) 2<br />

Anhingidae Reichenbach, 1849<br />

Anhinga anhinga (Linnaeus, 1766) 2<br />

Ciconiiformes Bonaparte, 1854<br />

Ar<strong>de</strong>idae Leach, 1820<br />

Tigrisoma lineatum (Boddaert, 1783) 3,5,7<br />

Ixobrychus exilis (Gmelin, 1789) 3<br />

Butori<strong>de</strong>s striata (Linnaeus, 1758) 3,4<br />

Ar<strong>de</strong>a cocoi Linnaeus, 1766 4<br />

Ar<strong>de</strong>a alba Linnaeus, 1758 4,5<br />

Syrigma sibilatrix (Temminck, 1824) 4<br />

Pilherodius pileatus (Boddaert, 1783) 4<br />

Egretta thula (Molina, 1782) 2<br />

Threskiornithidae Poche, 1904<br />

Mesembrinibis cayennensis (Gmelin, 1789) 2,4,13<br />

Theristicus caudatus (Boddaert, 1783) 2,3,5<br />

Ciconiidae Sun<strong>de</strong>vall, 1836<br />

Ciconia maguari (Gmelin, 1789) 2<br />

Cathartiformes Seebohm, 1890<br />

Cathartidae Lafresnaye, 1839<br />

Cathartes aura (Linnaeus, 1758) 1,2,3,6,7,9,13<br />

Coragyps atratus (Bechstein, 1793) 1,2,4,5,9,10,13<br />

Sarcoramphus papa (Linnaeus, 1758) 2,10,13<br />

Falconiformes Bonaparte, 1831<br />

Accipitridae Vigors, 1824<br />

Leptodon cayanensis (Latham, 1790) 2<br />

Elanoi<strong>de</strong>s forficatus (Linnaeus, 1758) 1,4<br />

Táxons<br />

Áreas<br />

Gampsonyx swainsonii Vigors, 1825 1<br />

Elanus leucurus (Vieillot, 1818) 1<br />

Rostrhamus sociabilis (Vieillot, 1817) 6<br />

Ictinia plumbea (Gmelin, 1788) 2<br />

Buteogallus urubitinga (Gmelin, 1788) 9<br />

Heterospizias meridionalis (Latham, 1790) 3,4,5,7,10<br />

Rupornis magnirostris (Gmelin, 1788) 2,3,4,5,7,8,9,10,11,12<br />

Buteo albicaudatus Vieillot, 1816 10,11<br />

Buteo nitidus (Latham, 1790) 2,7,10<br />

Spizaetus tyrannus (Wied, 1820) 10<br />

Falconidae Leach, 1820<br />

Ibycter americanus (Boddaert, 1783) 5,7,13<br />

Caracara plancus (Miller, 1777) 1,4,5,7,9,10<br />

Milvago chimachima (Vieillot, 1816) 1,2,3,4,5,7,8,9,10,11<br />

Herpetotheres cachinnans (Linnaeus, 1758) 1,2,4,9<br />

Falco sparverius Linnaeus, 1758 3,4,9,11<br />

Falco femoralis Temminck, 1822 3,9<br />

Gruiformes Bonaparte, 1854<br />

Rallidae Rafinesque, 1815<br />

Arami<strong>de</strong>s cajanea (Statius Muller, 1776) 4<br />

Gallinula chloropus (Linnaeus, 1758) 3<br />

Eurypygidae Selby, 1840<br />

Eurypyga helias (Pallas, 1781) 3<br />

Cariamidae Bonaparte, 1850<br />

Cariama cristata (Linnaeus, 1766) 1,2,3,4,5,7,8,10,11,12<br />

Charadriiformes Huxley, 1867<br />

Charadriidae Leach, 1820<br />

Vanellus cayanus (Latham, 1790) 5<br />

Vanellus chilensis (Molina, 1782) 2,3,4,5,7,11,12<br />

Charadrius collaris Vieillot, 1818 2<br />

Scolopacidae Rafinesque, 1815<br />

Tringa flavipes (Gmelin, 1789) 2<br />

Tringa solitaria Wilson, 1813 4<br />

Jacanidae Chenu & Des Murs, 1854<br />

Jacana jacana (Linnaeus, 1766) 3,4<br />

Sternidae Vigors, 1825<br />

Phaetusa simplex (Gmelin, 1789) 2<br />

Rynchopidae Bonaparte, 1838<br />

Rynchops niger Linnaeus, 1758 2<br />

Columbiformes Latham, 1790<br />

Columbidae Leach, 1820<br />

Columbina talpacoti (Temminck, 1811) 1,2,3,4,5,7,9,10<br />

Columbina squammata (Lesson, 1831) 1,2,3,4,5,7,9,11,12,13<br />

Claravis pretiosa (Ferrari-Perez, 1886) 12<br />

Uropelia campestris (Spix, 1825) 1,3,6<br />

Columba livia Gmelin, 1789 3<br />

Patagioenas speciosa (Gmelin, 1789) 1<br />

Patagioenas picazuro (Temminck, 1813) 3,4,5,7,9,10,11<br />

Patagioenas cayennensis (Bonnaterre, 1792) 2,4,10<br />

Leptotila verreauxi Bonaparte, 1855 2,3,4,5,7,8,10,11,12<br />

Leptotila rufaxilla (Richard & Bernard, 1792) 1<br />

Psittaciformes Wagler, 1830<br />

Psittacidae Rafinesque, 1815<br />

Anodorhynchus hyacinthinus (Latham, 1790) 4<br />

Ara ararauna (Linnaeus, 1758) 2,3,4<br />

Ara chloropterus Gray, 1859 3<br />

Orthopsittaca manilata (Boddaert, 1783) 3<br />

Diopsittaca nobilis (Linnaeus, 1758) 1,2,3,4,5,9,10


Aves da região <strong>de</strong> Pedro Afonso, Tocantins, Brasil 533<br />

Táxons<br />

Áreas<br />

Aratinga jandaya (Gmelin, 1788) 3,4,6,9,10<br />

Aratinga aurea (Gmelin, 1788) 1,2,3,4,5,7,9,10,11<br />

Forpus xanthopterygius (Spix, 1824) 3,4,5,7<br />

Brotogeris chiriri (Vieillot, 1818) 1,2,3,4,5,7,8,11,12<br />

Alipiopsitta xanthops (Spix, 1824) 3,5<br />

Pionus menstruus (Linnaeus, 1766) 4<br />

Amazona aestiva (Linnaeus, 1758) 2,4,5,11<br />

Amazona amazonica (Linnaeus, 1766) 1,2,3,4<br />

Cuculiformes Wagler, 1830<br />

Cuculidae Leach, 1820<br />

Coccyzus melacoryphus Vieillot, 1817 2,5<br />

Piaya cayana (Linnaeus, 1766) 1,2,4,5,7,8,11,12<br />

Crotophaga major Gmelin, 1788 2<br />

Crotophaga ani Linnaeus, 1758 1,3,4,5,7,11,13<br />

Guira guira (Gmelin, 1788) 1,2,3,4,5,7,9,10,11,12,13<br />

Tapera naevia (Linnaeus, 1766) 4,7<br />

Strigiformes Wagler, 1830<br />

Strigidae Leach, 1820<br />

Megascops choliba (Vieillot, 1817) 2<br />

Glaucidium brasilianum (Gmelin, 1788) 5,7<br />

Athene cunicularia (Molina, 1782) 3,4,5,7<br />

Caprimulgiformes Ridgway, 1881<br />

Nyctibiidae Chenu & Des Murs, 1851<br />

Nyctibius griseus (Gmelin, 1789) 9<br />

Caprimulgidae Vigors, 1825<br />

Chor<strong>de</strong>iles pusillus Gould, 1861 4<br />

Nyctidromus albicollis (Gmelin, 1789) 1,4,5,7<br />

Caprimulgus rufus Boddaert, 1783 1<br />

Apodiformes Peters, 1940<br />

Apodidae Olphe-Galliard, 1887<br />

Chaetura meridionalis Hellmayr, 1907 6<br />

Tachornis squamata (Cassin, 1853) 1,2,4,5,7,9,12<br />

Trochilidae Vigors, 1825<br />

Phaethornis ruber (Linnaeus, 1758) 1,7<br />

Phaethornis pretrei (Lesson & Delattre, 1839) 1,2,4,10<br />

Eupetomena macroura (Gmelin, 1788) 1,3,7,8<br />

Anthracothorax nigricollis (Vieillot, 1817) 2,8<br />

Avocettula recurvirostris (Swainson, 1822) (cf.) 7<br />

Thalurania furcata (Gmelin, 1788) 8<br />

Amazilia fimbriata (Gmelin, 1788) 1,2,4,5<br />

Heliactin bilophus (Temminck, 1820) 3,11<br />

Heliomaster sp. 7<br />

Trogoniformes A. O. U., 1886<br />

Trogonidae Lesson, 1828<br />

Trogon curucui Linnaeus, 1766 2,5,7,8<br />

Coraciiformes Forbes, 1844<br />

Alcedinidae Rafinesque, 1815<br />

Ceryle torquatus (Linnaeus, 1766) 2,3,4,5,9<br />

Chloroceryle amazona (Latham, 1790) 4<br />

Chloroceryle americana (Gmelin, 1788) 1,4,5<br />

Momotidae Gray, 1840<br />

Momotus momota (Linnaeus, 1766) 4,8,10,13<br />

Galbuliformes Fürbringer, 1888<br />

Galbulidae Vigors, 1825<br />

Brachygalba lugubris (Swainson, 1838) 8,12,13<br />

Galbula ruficauda Cuvier, 1816 1,2,3,4,5,8,9,10,11,12<br />

Bucconidae Horsfield, 1821<br />

Nystalus chacuru (Vieillot, 1816) 1,2,3,4,7,11<br />

Táxons<br />

Nystalus maculatus (Gmelin, 1788) 3<br />

Áreas<br />

Monasa nigrifrons (Spix, 1824) 1,2,3,4,5,7,8,10,11<br />

Chelidoptera tenebrosa (Pallas, 1782) 2,4,8,12<br />

Piciformes Meyer & Wolf, 1810<br />

Ramphastidae Vigors, 1825<br />

Ramphastos toco Statius Muller, 1776 2,3,4,9,10,11,13<br />

Ramphastos vitellinus Lichtenstein, 1823 1,2,3,6<br />

Pteroglossus inscriptus Swainson, 1822 4,8<br />

Pteroglossus aracari (Linnaeus, 1758) 12<br />

Picidae Leach, 1820<br />

Picumnus albosquamatus d’Orbigny, 1840 3,5,7,9,10<br />

Melanerpes candidus (Otto, 1796) 3,4,5,7,11<br />

Melanerpes cruentatus (Boddaert, 1783) 12<br />

Veniliornis passerinus (Linnaeus, 1766) 2,4,5,7<br />

Piculus cf. chrysochloros (Vieillot, 1818) 8<br />

Colaptes melanochloros (Gmelin, 1788) 3,12<br />

Colaptes campestris (Vieillot, 1818) 1,4,9<br />

Celeus flavescens (Gmelin, 1788) 1,2,4,5,7,10,12<br />

Dryocopus lineatus (Linnaeus, 1766) 7<br />

Campephilus melanoleucos (Gmelin, 1788) 2,3,7,8,10<br />

Passeriformes Linné, 1758<br />

Melanopareiidae Irestedt, Fjeldså,<br />

Johansson & Ericson, 2002<br />

Melanopareia torquata (Wied, 1831) 5,7,10,11<br />

Thamnophilidae Swainson, 1824<br />

Taraba major (Vieillot, 1816) 7<br />

Thamnophilus doliatus (Linnaeus, 1764) 1,2,3,4,5,7,9<br />

Thamnophilus pelzelni Hellmayr, 1924 1,2,4,5,7,11,12<br />

Thamnophilus torquatus Swainson, 1825 1<br />

Dysithamnus mentalis (Temminck, 1823) 10<br />

Herpsilochmus atricapillus Pelzeln, 1868 4,5,8,10,11,12,13<br />

Herpsilochmus longirostris Pelzeln, 1868 1,2<br />

Formicivora grisea (Boddaert, 1783) 4,5,7,8,10,11<br />

Formicivora rufa (Wied, 1831) 1,2,3,7,8<br />

Dendrocolaptidae Gray, 1840<br />

Sittasomus griseicapillus (Vieillot, 1818) 1,2,4,5,11<br />

Xiphorhynchus picus (Gmelin, 1788) 2,4,5<br />

Xiphorhynchus guttatus (Lichtenstein, 1820) 2<br />

Lepidocolaptes angustirostris (Vieillot, 1818) 1,2,4,5,7,8,11<br />

Campylorhamphus trochilirostris<br />

(Lichtenstein, 1820)<br />

Furnariidae Gray, 1840<br />

Furnarius rufus (Gmelin, 1788) 1<br />

Synallaxis frontalis Pelzeln, 1859 2,3,4,6,7,8<br />

Berlepschia rikeri (Ridgway, 1886) 6<br />

Xenops rutilans Temminck, 1821 2,8,10<br />

Tyrannidae Vigors, 1825<br />

Leptopogon amaurocephalus Tschudi, 1846 1<br />

Hemitriccus margaritaceiventer<br />

(d’Orbigny & Lafresnaye, 1837)<br />

Poecilotriccus latirostris (Pelzeln, 1868) 6,7<br />

Todirostrum cinereum (Linnaeus, 1766) 1,3,4,6,10<br />

Myiopagis gaimardii (d’Orbigny, 1839) 5<br />

Elaenia flavogaster (Thunberg, 1822) 1,4,5,10,11<br />

Elaenia cristata Pelzeln, 1868 4,5,11<br />

Elaenia chiriquensis Lawrence, 1865 1<br />

Camptostoma obsoletum (Temminck, 1824) 1,2,4,5,8,11<br />

Suiriri suiriri affinis (Burmeister, 1856) 11<br />

7<br />

5


534 Leonardo Esteves Lopes e Vívian S. Braz<br />

Táxons<br />

Capsiempis flaveola (Lichtenstein, 1823) 7,8<br />

Sublegatus mo<strong>de</strong>stus (Wied, 1831) 5,7,11<br />

Platyrinchus mystaceus Vieillot, 1818 8<br />

Myiophobus fasciatus (Statius Muller, 1776) 2<br />

Myiobius atricaudus Lawrence, 1863 7,8<br />

Hirundinea ferruginea (Gmelin, 1788) 3<br />

Cnemotriccus fuscatus (Wied, 1831) 7<br />

Contopus cf. fumigatus (d’Orbigny<br />

& Lafresnaye, 1837)<br />

Xolmis cinereus (Vieillot, 1816) 1,2<br />

Xolmis velatus (Lichtenstein, 1823) 9,13<br />

Arundinicola leucocephala (Linnaeus, 1764) 3<br />

Colonia colonus (Vieillot, 1818) 2,7<br />

Myiozetetes cayanensis (Linnaeus, 1766) 1,2,5,7,11<br />

7<br />

Áreas<br />

Pitangus sulphuratus (Linnaeus, 1766) 1,3,4,5,7,9,11,12<br />

Myiodynastes maculatus (Statius Muller, 1776) 1,2<br />

Megarynchus pitangua (Linnaeus, 1766) 1,2,4,5,7,8,11,12<br />

Empidonomus varius (Vieillot, 1818) 1,2,3,4,5<br />

Tyrannus albogularis Burmeister, 1856 9<br />

Tyrannus melancholicus Vieillot, 1819 1,2,3,4,5,7,9,10,11,12<br />

Tyrannus savana Vieillot, 1808 2,3,4<br />

Sirystes sibilator (Vieillot, 1818) 7<br />

Casiornis rufus (Vieillot, 1816) 7,8<br />

Myiarchus ferox (Gmelin, 1789) 1,2,4,5,6,7,11<br />

Myiarchus tyrannulus (Statius Muller, 1776) 8<br />

Pipridae Rafinesque, 1815<br />

Neopelma pallescens (Lafresnaye, 1853) 10<br />

Tyranneutes stolzmanni (Hellmayr, 1906) 1<br />

Antilophia galeata (Lichtenstein, 1823) 1,11<br />

Tityridae Gray, 1840<br />

Tityra cayana (Linnaeus, 1766) 1,2,4<br />

Tityra semifasciata (Spix, 1825) 2,6,8<br />

Pachyramphus viridis (Vieillot, 1816) 7<br />

Pachyramphus polychopterus (Vieillot, 1818) 3,5<br />

Vireonidae Swainson, 1837<br />

Cyclarhis gujanensis (Gmelin, 1789) 1,2,3,4,5,7,13<br />

Vireo olivaceus (Linnaeus, 1766) 1,4,5,8<br />

Corvidae Leach, 1820<br />

Cyanocorax cristatellus (Temminck, 1823) 1,2,3,4,5,10,11<br />

Cyanocorax cyanopogon (Wied, 1821) 2,7,8,10,11<br />

Hirundinidae Rafinesque, 1815<br />

Tachycineta albiventer (Boddaert, 1783) 2,4,5<br />

Progne tapera (Vieillot, 1817) 5,13<br />

Progne chalybea (Gmelin, 1789) 1,2,3<br />

Stelgidopteryx ruficollis (Vieillot, 1817) 2,3,4<br />

Hirundo rustica Linnaeus, 1758 6<br />

Troglodytidae Swainson, 1831<br />

Troglodytes musculus Naumann, 1823 2,3,4,5,7,8,9,11,12<br />

Thryothorus genibarbis Swainson, 1838 1,2,3,4<br />

Thryothorus leucotis Lafresnaye, 1845 4,5,9,10<br />

Donacobiidae Aleixo & Pacheco, 2006<br />

Donacobius atricapilla (Linnaeus, 1766) 3<br />

Polioptilidae Baird, 1858<br />

Polioptila dumicola (Vieillot, 1817) 1,2,3,4,5,7,8,9,10,11,12<br />

Turdidae Rafinesque, 1815<br />

Turdus rufiventris Vieillot, 1818 1,2,3<br />

Turdus leucomelas Vieillot, 1818 1,2,4,5,7,8,10,11<br />

Turdus amaurochalinus Cabanis, 1850 1<br />

Táxons<br />

Mimidae Bonaparte, 1853<br />

Áreas<br />

Mimus saturninus (Lichtenstein, 1823) 1,2,3,4,5,7,8,9<br />

Coerebidae d’Orbigny & Lafresnaye, 1838<br />

Coereba flaveola (Linnaeus, 1758) 1,2,3,4,5,7,8,9,11<br />

Thraupidae Cabanis, 1847<br />

Schistochlamys melanopis (Latham, 1790) 2,4,5<br />

Cissopis leverianus (Gmelin, 1788) 2<br />

Neothraupis fasciata (Lichtenstein, 1823) 13<br />

Nemosia pileata (Boddaert, 1783) 1,5,8<br />

Cypsnagra hirundinacea (Lesson, 1831) 2,3,11<br />

Piranga flava (Vieillot, 1822) 1,8,11<br />

Eucometis penicillata (Spix, 1825) 8<br />

Tachyphonus rufus (Boddaert, 1783) 1,5,7,11<br />

Ramphocelus carbo (Pallas, 1764) 1,2,5,7,9,10,11,12<br />

Thraupis sayaca (Linnaeus, 1766) 1,2,4,5,8,9,10,11<br />

Thraupis palmarum (Wied, 1823) 1,2,4,5,7,9,10,12<br />

Tangara cayana (Linnaeus, 1766) 1,4,5,7,8,9,11<br />

Tangara cyanicollis (d’Orbigny<br />

& Lafresnaye, 1837)<br />

Dacnis cayana (Linnaeus, 1766) 1,2,4,5,7,8,11<br />

3,4<br />

Cyanerpes cyaneus (Linnaeus, 1766) 1,5<br />

Hemithraupis guira (Linnaeus, 1766) 1,3,5,7,8,11<br />

Conirostrum speciosum (Temminck, 1824) 5<br />

Emberizidae Vigors, 1825<br />

Zonotrichia capensis (Statius Muller, 1776) 2<br />

Ammodramus humeralis (Bosc, 1792) 1,2,3,4,5,7,9,11<br />

Porphyrospiza caerulescens (Wied, 1830) 11<br />

Emberizoi<strong>de</strong>s herbicola (Vieillot, 1817) 1,2,3,4,11<br />

Volatinia jacarina (Linnaeus, 1766) 1,2,3,4,7,11<br />

Sporophila plumbea (Wied, 1830) 1,6<br />

Sporophila nigricollis (Vieillot, 1823) 1,3<br />

Sporophila leucoptera (Vieillot, 1817) 3<br />

Sporophila bouvreuil (Statius Muller, 1776) 3<br />

Sporophila angolensis (Linnaeus, 1766) 1,4,5,7,9,11<br />

Arremon taciturnus (Hermann, 1783) 6,8,10<br />

Charitospiza eucosma Oberholser, 1905 11<br />

Coryphospingus pileatus (Wied, 1821) 2,5,7,8<br />

Cardinalidae Ridgway, 1901<br />

Saltator maximus (Statius Muller, 1776) 1,4,7,8,10<br />

Saltator atricollis Vieillot, 1817 1,3,4,7,11<br />

Parulidae Wetmore, Friedmann,<br />

Lincoln, Miller, Peters, van Rossem,<br />

Van Tyne & Zimmer 1947<br />

Parula pitiayumi (Vieillot, 1817) 7<br />

Basileuterus culicivorus (Deppe, 1830) 8,10,12<br />

Basileuterus flaveolus (Baird, 1865) 1,4,7,8,10,11,12<br />

Icteridae Vigors, 1825<br />

Psarocolius <strong>de</strong>cumanus (Pallas, 1769) 6,11<br />

Cacicus cela (Linnaeus, 1758) 1,2,4<br />

Icterus cayanensis (Linnaeus, 1766) 2,4,6,7,10<br />

Gnorimopsar chopi (Vieillot, 1819) 1,3,5,7,8,10,11,12<br />

Molothrus bonariensis (Gmelin, 1789) 4<br />

Fringillidae Leach, 1820<br />

Euphonia chlorotica (Linnaeus, 1766) 1,2,4,5,7,8,9,10,11,12<br />

Euphonia violacea (Linnaeus, 1758) 2,4<br />

Passeridae Rafinesque, 1815<br />

Passer domesticus (Linnaeus, 1758) 3


Aves da região <strong>de</strong> Pedro Afonso, Tocantins, Brasil 535<br />

Anodorhynchus hyacinthinus – esta espécie foi registrada em<br />

duas ocasiões na área 4. No dia 20 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2001 um par<br />

foi observado sobrevoando a área <strong>de</strong> estudo e, no dia seguinte,<br />

foram registrados seis indivíduos em um local com a presença<br />

<strong>de</strong> muitas macaúbas (Acrocomia sp.). Consi<strong>de</strong>rada ameaçada<br />

<strong>de</strong> extinção em escala global (BirdLife International 2004) e<br />

vulnerável pela lista nacional (Machado et al. 2005).<br />

Alipiopsitta xanthops – Pequenos grupos com cerca <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<br />

indivíduos <strong>de</strong>sta espécie foram observados em março <strong>de</strong> 2004<br />

na margem direita do Rio Tocantins (localida<strong>de</strong> 5), sobrevoando<br />

áreas bastante <strong>de</strong>gradadas. Um grupo <strong>de</strong>sta espécie foi<br />

também observado forrageando em quintais arborizados <strong>de</strong>ntro<br />

da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pedro Afonso.<br />

Berlepschia rikeri – esta espécie foi observada em duas ocasiões<br />

no dia 26 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2004 na mata ciliar do rio Tocantins<br />

(localida<strong>de</strong> 6). A mata ciliar encontrava-se bastante <strong>de</strong>scaracterizada,<br />

abrigando inclusive mangueiras (Mangifera indica<br />

L.) <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte no seu interior. A mata é rica em babaçus<br />

(Orbignya sp.), que pu<strong>de</strong>ram ser observados nas pastagens<br />

adjacentes, em áreas ocupadas originalmente por florestas. As<br />

aves observadas forrageavam em meio às bainhas das folhas<br />

do babaçu, voando mesmo entre as árvores isoladas nas pastagens.<br />

Esta espécie foi também observada por LEL habitando<br />

pastagens <strong>de</strong>gradadas com babaçus na Fazenda Invernada<br />

(15°14’S, 55°32’W), município <strong>de</strong> Chapada dos Guimarães,<br />

Mato Grosso, em outubro <strong>de</strong> 2006.<br />

Contopus cf. fumigatus – outra espécie <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação<br />

incerta, mas que pô<strong>de</strong> ser observada longamente na Fazenda<br />

Sítio Novo, no mesmo local e instante que Avocettula recurvitrostris.<br />

As características diagnósticas observadas, transcritas<br />

das anotações originais, foram: “tamanho <strong>de</strong> Elaenia flavogaster.<br />

Cinza uniforme, ventre mais claro, com crisso amarelado.<br />

Mandíbula laranja rosada. Topete levemente esboçado.<br />

Barras na asa praticamente indistintas, rêmiges margeadas <strong>de</strong><br />

branco. Voz: piados rápidos tc, tc, tc, tc...”. Tais características<br />

sugerem tratar <strong>de</strong> C. fumigatus, pois o padrão <strong>de</strong> plumagem<br />

observado é bastante semelhante ao da forma nominal<br />

(Farnsworth e Lebbin 2004). A vocalização, insistentemente<br />

emitida, também confere com os chamados típicos da espécie<br />

(Mayer 2000). O único registro confirmado <strong>de</strong>sta espécie para<br />

o Brasil é para o Cerro Urutani, Roraima (Sick 1997), exis‐<br />

Figura 1. Área <strong>de</strong> estudo. Números indicam as áreas amostradas na região <strong>de</strong> Pedro Afonso. As áreas cinza indicam limites <strong>de</strong> terras indígenas.<br />

Figure 1. Study area. Numbers indicate sampled localities in Pedro Afonso region. Gray sha<strong>de</strong>d areas indicate indigenous lands.


536 Leonardo Esteves Lopes e Vívian S. Braz<br />

tindo também registros não documentados para o rio Urucuia,<br />

em Buritis, MG (Mattos et al. 1991).<br />

Tangara cyanicollis – um indivíduo observado em 17 <strong>de</strong> janeiro<br />

<strong>de</strong> 2001 em uma mancha <strong>de</strong> floresta secundária em Água Boa.<br />

Outro indivíduo observado na borda <strong>de</strong> uma mancha <strong>de</strong> floresta<br />

secundária em 19 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2001 no Ribeirão Água<br />

Fria. Espécie politípica, com sete subespécies reconhecidas<br />

(Dickinson 2003). Duas subespécies encontram-se localmente<br />

distribuídas pelo Brasil central (T. c. melanogaster e T. c. albotibialis),<br />

sendo as <strong>de</strong>mais subespécies distribuídas nos contrafortes<br />

tropicais da cordilheira dos An<strong>de</strong>s (Marantz e Remsen<br />

Jr. 1994). Das subespécies brasileiras, T. c. melanogaster po<strong>de</strong><br />

se encontrada no sul do Pará, oeste <strong>de</strong> Mato Grosso e leste da<br />

Bolívia. Já T. c. albotibialis é conhecida apenas do exemplartipo<br />

(Silva 1989), coletado em Alto Paraíso <strong>de</strong> Goiás (ex Vea<strong>de</strong>iros),<br />

norte <strong>de</strong> Goiás (Traylor 1950). Os registros para Pedro<br />

Afonso situam-se cerca <strong>de</strong> 580 km ao norte da localida<strong>de</strong> tipo<br />

<strong>de</strong> T. c. albotibialis, enquanto que o registro mais próximo<br />

<strong>de</strong> T. c. melanogaster (Cherrie e Rerichenberger 1923, Zimmer<br />

1943, Pinto 1944, Pinto e Camargo 1948, Novaes, 1960,<br />

Marantz e Remsen Jr. 1994) é para Conceição do Araguaia, a<br />

130 km a oeste. Existe um interessante registro <strong>de</strong>sta espécie<br />

para a Serra do Lajeado (Bagno e Abreu 2001), mas para o qual<br />

a subespécie não foi <strong>de</strong>terminada. A Serra do Lajeado situase<br />

cerca <strong>de</strong> 210 km ao sul do registro aqui apresentado, em<br />

uma posição intermediária entre Conceição do Araguaia e Alto<br />

Paraíso <strong>de</strong> Goiás. A distribuição ímpar <strong>de</strong> T. cyanicollis, associada<br />

à rarida<strong>de</strong> e distribuição local das formas brasileiras, torna<br />

extremamente interessante a coleta <strong>de</strong> exemplares na região <strong>de</strong><br />

Pedro Afonso e da Serra do Lajeado para a correta <strong>de</strong>terminação<br />

da subespécie e estudo da sua variação geográfica.<br />

Porphyrospiza caerulescens – no dia 30 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2004 um<br />

macho adulto <strong>de</strong>sta espécie foi observado no entorno da Terra<br />

Indígena Xerente, em uma área <strong>de</strong> cerrado sobre cascalho, forrageando<br />

no solo, por entre as pedras. Esta observação mostra<br />

que esta espécie não se encontra obrigatoriamente associada<br />

aos campos rupestres (Parker III e Rocha 1991, Bates et al.<br />

1992), mas que também habita os chamados “cerrados litólicos”<br />

ou “cerrados rupestres”.<br />

Sporophila angolensis – o curió mostrou-se razoavelmente<br />

comum na área <strong>de</strong> estudo, sendo registrado em seis das doze<br />

áreas amostradas. Um ninho <strong>de</strong>sta espécie, um cesto baixo <strong>de</strong><br />

fibras vegetais, foi encontrado no dia 25 <strong>de</strong> março 2004, na<br />

borda <strong>de</strong> uma mata ciliar da Fazenda Sítio Novo. O ninho continha<br />

dois filhotes ainda jovens.<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

Os estudos <strong>de</strong> LEL foram realizados com o apoio do Instituto<br />

DOMO <strong>de</strong> Tecnologias Sustentáveis. Dois revisores anônimos<br />

apresentaram contribuições importantes a este estudo.<br />

Referências<br />

Bagno, M. A. e T. L. S. Abreu (2001) Avifauna da região da<br />

Serra do Lajeado Tocantins. Humanitas 3:51‐70.<br />

Bates, J. M., T. A. Parker III, P. Caparella e T. J. Davis (1992)<br />

Observations on the campo, cerrado and forest avifaunas<br />

of eastern Dpto. Santa Cruz, Bolivia, including 21<br />

species new to the country. Bull. Br. Ornithol. Club.<br />

112:86‐98.<br />

BirdLife-International (2004) Threatened Birds of the World<br />

2004. Cd Rom. Cambridge, U.K: BirdLife International.<br />

Braz, V. S., T. L. S. Abreu, L. E. Lopes, L. O. Leite, F. G.<br />

R. França, M. M. Vasconcellos e S. F. Balbino (2003)<br />

Brazilian Merganser Mergus octosetaceus discovered in<br />

Jalapão State Park, Tocantins, Brazil. Cotinga 20:68‐71.<br />

Buzzetti, D. (2000) Avifauna do Parque, p. 69‐96. In: SEPMA,<br />

(ed.). Parque Estadual do Cantão: Avaliação Ecológica<br />

Rápida. Palmas: Tangará Serviços em Meio Ambiente.<br />

CBRO (2006) Lista das Aves do Brasil. Comitê Brasileiro <strong>de</strong><br />

Registros Ornitológicos. Disponível em: http://www.<br />

cbro.org.br/CBRO/listabr.htm. (Acessado em 24 agosto<br />

2006).<br />

Cherrie, G. K. e E. M. B. Rerichenberger (1923) Descriptions<br />

of proposed new birds from Brazil and Paraguay. Am.<br />

Mus. Novit. 58:1‐9.<br />

Collar, N. J., L. P. Gonzaga, N. Krabbe, A. Madroño Nieto, L.<br />

G. Naranjo, T. A. Parker III e D. C. Wege (1992) Threatened<br />

birds of the America: the ICBP/IUCN Red Data<br />

Book. Cambridge, UK: International Council for Bird<br />

Preservation.<br />

Dickinson, E. C. (2003) The Howard and Moore complete<br />

checklist of the birds of the World. Princeton and Oxford:<br />

Princeton University Press.<br />

Farnsworth, A. e D. J. Lebbin (2004) Smoke-coloured Pewe<br />

Contopus fumigatus, p. 368. In: J. Del Hoyo, A. Elliot<br />

and D. Christie (eds.) Handbook of the Birds of the<br />

World, vol. 9, Cotingas to Pipits and Wagtails. Barcelona:<br />

Lynx ediciones.<br />

Grantsau, R. (1988) Os Beija Flores do Brasil. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Expressão e Cultura.<br />

Machado, A. B. M., C. S. Martins e G. M. Drummond (2005)<br />

Lista da fauna brasileira ameaçada <strong>de</strong> extinção, incluindo<br />

as listas das espécies quase ameaçadas e <strong>de</strong>ficientes <strong>de</strong><br />

dados. Belo Horizonte: Fundação Biodiversitas.


Aves da região <strong>de</strong> Pedro Afonso, Tocantins, Brasil 537<br />

Marantz, C. A. e J. V. Remsen Jr. (1994) First records of Tangara<br />

cyanicollis melanogaster from Bolivia. Bull. Br.<br />

Ornithol. Club. 114:230‐231.<br />

Mattos, G. T., M. A. Andra<strong>de</strong> e M. V. Freitas (1991) Levantamento<br />

<strong>de</strong> aves silvestres na região noroeste <strong>de</strong> Minas<br />

Gerais. Rev. SOM 39:26‐29.<br />

Mayer, S. (2000) Birds of Bolivia 2.0 (Cd Rom). Weternielands:<br />

Bird Songs International.<br />

Novaes, F. C. (1960) Sobre uma coleção <strong>de</strong> aves do su<strong>de</strong>ste<br />

do estado do Pará. Arq. Zool. Estado São Paulo<br />

11:133‐146.<br />

Pacheco, J. F. e F. Olmos (2006) As aves do Tocantins 1:<br />

região su<strong>de</strong>ste. Rev. Bras. Ornitol. 14:85‐100.<br />

Parker III, T. A. e O. Rocha (1991) La avifauna <strong>de</strong>l Cerro<br />

San Simón, una localidad <strong>de</strong> campo rupestre aislado<br />

en el Depto. Beni, noreste Boliviano. Ecología Bolívia<br />

17:15‐29.<br />

Pinto, O. M. O. (1944) Catálogo das Aves do Brasil e lista dos<br />

exemplares existentes da coleção do Departamento <strong>de</strong><br />

Zoologia, 2ª parte. Or<strong>de</strong>m Passeriformes (continuação):<br />

superfamília Tyrannoi<strong>de</strong>a e subor<strong>de</strong>m Passeres. São<br />

Paulo: Departamento <strong>de</strong> Zoologia, Secretaria da Agricultura,<br />

Indústria e Comércio.<br />

Pinto, O.M.O. e E. A. Camargo (1948) Sôbre uma coleção <strong>de</strong><br />

aves do rio das Mortes (estado <strong>de</strong> Mato Grosso). Pap.<br />

Avulsos Departamento Zool. 8:287‐336.<br />

Ribeiro, J. F. e B. M. T. Walter (1998) Fitofisionomias do bioma<br />

Cerrado, p. 89‐166. In: S. M. Sano and S. P. Almeida<br />

(eds.) Cerrado: Ambiente e Flora. Planaltina: Empresa<br />

<strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA).<br />

Santos, M. P. D. (2001) Composição da avifauna nas Áreas <strong>de</strong><br />

Proteção Ambiental Serra da Tabatinga e Chapada das<br />

Mangabeiras, Brasil. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi Ser.<br />

Zool. 17:43‐67.<br />

Schuchmann, K. L. (1999) Fiery-tailed Awlbill Anthracothorax<br />

recurvirostris, p. 560. In: J. Del Hoyo, A. Elliot and<br />

J. Sargatal (eds.) Handbook of the birds of the Wolrd,<br />

vol. 5, barn-owls to hummingbirds. Barcelona: Lynx<br />

Edicions.<br />

Sick, H. (1997) <strong>Ornitologia</strong> <strong>Brasileira</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova<br />

Fronteira.<br />

Silva, J. M. C. (1989) Análise biogeográfica da avifauna <strong>de</strong><br />

florestas do interflúvio Araguaia-São Francisco. Tese <strong>de</strong><br />

Mestrado. Brasília: Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília.<br />

Silva, J. M. C. (1995) Avian inventory of the Cerrado region,<br />

South America: implications for biological conservation.<br />

Bird Conserv. Int. 5:291‐304.<br />

Silva, J. M. C. (1996) Distribution of Amazonian and Atlantic<br />

birds in gallery forests of the Cerrado region, South<br />

America. Ornitol. Neotrop. 7:1‐18.<br />

Silva, J. M. C. e J. M. Bates (2002) Biogeographic patterns<br />

and conservation in the South American Cerrado: a tropical<br />

savanna Hotspot. BioScience 52:225‐233.<br />

Silva, J. M. C. e M. P. D. Santos (2005) A importância relativa<br />

dos processos biogeográficos na formação da avifauna<br />

do Cerrado e <strong>de</strong> outros biomas brasileiros, p. 220‐233.<br />

In: A. Scariot, J. C. Souza Filho & J. M. Felfili (eds.)<br />

Cerrado: Ecologia, Biodiversida<strong>de</strong> e Conservação. Brasília:<br />

Ministério do Meio Ambiente.<br />

Traylor, M. A. (1950) A new subspecies of Tanager from Brazil.<br />

Natural History Miscellanea 64:1‐2.<br />

Zimmer, J. T. (1943) Studies of Peruvian birds. No. XLVI.<br />

The genus Tangara. Part 1. Am. Mus. Novit. 1245:1‐14.


ARTIGO 538 Luiza Angelini Leal Domingues e Marcos Rodrigues <strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> 15(4):538-542<br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007<br />

Área <strong>de</strong> uso e aspectos da territorialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Schistochlamys ruficapillus<br />

(Thraupidae) em seu período não-reprodutivo<br />

Luiza Angelini Leal Domingues 1,2 e Marcos Rodrigues 1,3<br />

1. Departamento <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, Instituto <strong>de</strong> Ciências Biológicas, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais, Caixa Postal 486,<br />

30161‐970, Belo Horizonte, MG, Brasil.<br />

2. E‐mail: luiza.angelini@gmail.com<br />

3. E‐mail: ornito@icb.ufmg.br<br />

Recebido em 05 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2006; aceito em 20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007.<br />

Abstract: Areas of use and territoriality of Schistochlamys ruficapilus (Thraupidae) during its non-breeding season. We investigate areas of<br />

use and territorial behavior of the Cinnamon Tanager Schistochlamys ruficapillus during its non-breeding season. Field work was carried out at Serra<br />

do Cipó, a mountainous region in southeastern Brazil. Observations were ma<strong>de</strong> between February and May, the non-breeding season for most of<br />

the bird species that occurs in the area. The study area is a plot of 100 ha dominated by rocky outcrops and open grasslands at 1100‐1300 m altitu<strong>de</strong><br />

approximately. Two groups (A and B) of birds were color ban<strong>de</strong>d and spot-mapped using a GPS <strong>de</strong>vice. Areas of use were estimated using the largest<br />

polygon and the real polygon method. We measured song and call rates at dawn, noon and dusk to evaluate possible relationship between song output<br />

and territoriality. Group A held an average of 6.5 ha area, while group B held 10.3 ha. The areas of use for both groups were not over imposed and only<br />

one agonistic encounter were reported after 147 h of field work. Song rate were at its minimum, while call rate were not related to time of the day. The<br />

data suggest that these birds use these areas as their territories, <strong>de</strong>spite the large area they would have to <strong>de</strong>fend. Probably, these birds occupy a stable<br />

neighborhood with areas well established along the years, where <strong>de</strong>fense against cospecific intru<strong>de</strong>rs is not nee<strong>de</strong>d, at least during the non-breeding.<br />

Key-words: agonistic behavior, song rate, spot-mapping, tanagers, territory.<br />

Resumo: Dois bandos <strong>de</strong> Schistochlamys ruficapillus foram estudados em uma área <strong>de</strong> campo rupestre com aproximadamente 100 ha, na Serra do<br />

Cipó, Minas Gerais. O estudo foi conduzido nos meses <strong>de</strong> fevereiro a maio, que correspon<strong>de</strong>m ao período não-reprodutivo do bico-<strong>de</strong>-veludo. As<br />

áreas <strong>de</strong> uso e a <strong>de</strong>fesa dos territórios foram <strong>de</strong>scritas bem como o padrão <strong>de</strong> canto e taxa <strong>de</strong> chamado. As áreas <strong>de</strong> uso <strong>de</strong>terminadas pelo método do<br />

polígono convexo foram <strong>de</strong> 6.5 hectares para um bando e 10,3 hectares para outro. As áreas não se sobrepuseram evi<strong>de</strong>nciando o estabelecimento <strong>de</strong><br />

territórios, enquanto somente um confronto foi observado em 147 h <strong>de</strong> observação. A taxa <strong>de</strong> canto obteve valor zero sendo que a taxa <strong>de</strong> chamado<br />

não apresentou relações significativas com nenhum período do dia. Os resultados sugerem que o bico-<strong>de</strong>-veludo utiliza sua área <strong>de</strong> uso como território,<br />

pelo menos durante o período não-reprodutivo. É provável que esta população tenha uma vizinhança estável e que os limites territoriais estejam bem<br />

estabelecidos.<br />

Palavras-chave: comportamento agonístico, sanhaços, taxa <strong>de</strong> canto, território.<br />

A maioria das aves realiza suas ativida<strong>de</strong>s diárias em uma<br />

área específica que é <strong>de</strong>finida como área <strong>de</strong> vida (Burt 1943).<br />

Durante um <strong>de</strong>terminado período do ano, a maioria das aves<br />

restringe suas ativida<strong>de</strong>s diárias em uma área específica que<br />

po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida como área <strong>de</strong> uso (Odum e Kuenzler 1955).<br />

Se qualquer área é <strong>de</strong>fendida ou essa área é <strong>de</strong> uso exclusivo<br />

<strong>de</strong> um indivíduo ou grupo, ela é chamada <strong>de</strong> território (Noble<br />

1959, Pitelka 1959). A territorialida<strong>de</strong> está relacionada à<br />

<strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> recursos importantes para a sobrevivência, e para o<br />

sucesso reprodutivo da maioria das aves (Davies 1978). Nos<br />

últimos anos muita atenção tem sido dada para os estudos <strong>de</strong><br />

área <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong>vido à importância na conservação e no manejo<br />

que eles proporcionam (Caro 1998, Pasinelli et al. 2001, Bellis<br />

et al. 2004). Além disso, conhecimentos sobre a área <strong>de</strong> vida<br />

e o comportamento territorial são importantes para uma maior<br />

compreensão da biologia das espécies (Rodrigues 1998, Powell<br />

2000). Entretanto, poucos estudos <strong>de</strong>ssa natureza têm sido realizados<br />

com as espécies <strong>de</strong> Oscines das regiões tropicais (veja,<br />

por exemplo, a revisão <strong>de</strong> Stutchbury e Morton 2001). Para os<br />

traupí<strong>de</strong>os – grupo caracterizado como Oscines <strong>de</strong> nove pri‐<br />

márias – os poucos trabalhos <strong>de</strong> área <strong>de</strong> vida foram realizados<br />

com as espécies da América do Norte (Riviera et al. 2003,<br />

Hanowski et al. 2002, Roberts e Norment 1999). Com relação<br />

à territorialida<strong>de</strong>, a maioria dos estudos a relaciona com a presença<br />

<strong>de</strong> bandos mistos (Alves 1990, Munn e Terborgh 1979)<br />

e com a época reprodutiva (Willis 1960, 1966, Shy 1984, Van<strong>de</strong>rwerf<br />

1998), sendo praticamente inexistentes informações<br />

sobre comportamentos territoriais na época não reprodutiva<br />

(Moynihan 1962). Sabe-se que o aparecimento <strong>de</strong> agressões<br />

e estabelecimento <strong>de</strong> territórios coinci<strong>de</strong> com a época reprodutiva,<br />

que é a estação <strong>de</strong> maior freqüência <strong>de</strong> produção <strong>de</strong><br />

canto para os Passeriformes Oscines das regiões temperadas.<br />

Esta relação <strong>de</strong> sazonalida<strong>de</strong> do canto com a ativida<strong>de</strong> reprodutiva,<br />

<strong>de</strong>finida pelo padrão anual <strong>de</strong> canto, é caracterizada por<br />

machos que geralmente cantam durante a estação reprodutiva<br />

e, fora <strong>de</strong>la, emitem apenas chamados (Catchpole 1973).<br />

O objetivo <strong>de</strong>ste trabalho foi o <strong>de</strong> estabelecer a área <strong>de</strong> uso<br />

do bico-<strong>de</strong>-veludo Schistochlamys ruficapillus durante o período<br />

não reprodutivo, e verificar se ele apresenta neste período,<br />

este padrão anual <strong>de</strong> canto característico das espécies Oscines


Área <strong>de</strong> uso e aspectos da territorialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Schistochlamys ruficapillus (Thraupidae) em seu período não-reprodutivo 539<br />

das regiões temperadas. O bico-<strong>de</strong>-veludo é um traupí<strong>de</strong>o que<br />

possui ampla distribuição em regiões campestres, como cerrado<br />

e caatinga, mas ocorre preferencialmente em altitu<strong>de</strong>s elevadas<br />

(Isler e Isler 1987). Uma vez que a palavra “área <strong>de</strong> vida”<br />

consi<strong>de</strong>ra a totalida<strong>de</strong> da área <strong>de</strong> uso <strong>de</strong>ntro da área <strong>de</strong> vida da<br />

espécie e durante toda a sua vida, e que o estudo foi realizado<br />

em um curto período, adota-se aqui o termo “área <strong>de</strong> uso”.<br />

Material e Métodos<br />

O estudo foi realizado na localida<strong>de</strong> conhecida como Alto<br />

da Boa Vista, na Serra do Cipó (43°30’40W, 19°10’20S),<br />

<strong>de</strong>ntro da APA Morro da Pedreira, no município <strong>de</strong> Santana<br />

do Riacho, próximo à rodovia MG‐10 e adjacente ao Parque<br />

Nacional da Serra do Cipó (veja <strong>de</strong>talhes em Ribeiro e Fernan<strong>de</strong>s<br />

2000, Costa e Rodrigues 2007). A região <strong>de</strong> estudo, que<br />

consiste <strong>de</strong> uma área <strong>de</strong> aproximadamente 100 ha, está situada<br />

numa altitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> 1100 a 1300 m, sendo caracterizada como<br />

campo rupestre. Trata-se <strong>de</strong> uma região ainda muito pouco<br />

explorada cientificamente, cuja vegetação apresenta um alto<br />

grau <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong>, en<strong>de</strong>mismo e especiação (Giulietti et al.<br />

1987, Rodrigues et al. 2005, Rodrigues e Costa 2006).<br />

A coleta <strong>de</strong> dados foi realizada nos meses <strong>de</strong> fevereiro a<br />

maio <strong>de</strong> 2006 que correspon<strong>de</strong> à estação não reprodutiva para<br />

S. ruficapillus bem como para a maioria das espécies da área<br />

(dados não publicados). Para a <strong>de</strong>terminação da área <strong>de</strong> uso,<br />

dois grupos <strong>de</strong> S. ruficapillus, um composto por um casal e um<br />

filhote e o outro por um casal, foram capturados com auxílio<br />

<strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> neblina e marcados com uma combinação única<br />

<strong>de</strong> anilhas coloridas. Os bandos, <strong>de</strong>nominados A e B, foram<br />

acompanhados com auxílio <strong>de</strong> binóculo 10 x 50 mm (Bushnell)<br />

e GPS (Garmim III plus).<br />

O método utilizado consistiu na observação contínua dos grupos<br />

durante períodos <strong>de</strong> sete horas (05:00 h às 10:00 h e 16:00 h<br />

às 18:00 h), e na <strong>de</strong>marcação <strong>de</strong> pontos in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes através <strong>de</strong><br />

registros diretos com GPS à medida que os indivíduos se <strong>de</strong>slocavam<br />

para locais diferentes. Doze períodos <strong>de</strong> observação foram<br />

realizados para o bando A e nove períodos para o bando B. Os grupos<br />

foram acompanhados durante 147 h sob observação efetiva.<br />

Porcentagem acumulada<br />

das áreas (%)<br />

100<br />

80<br />

60<br />

40<br />

20<br />

0<br />

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12<br />

Número <strong>de</strong> Períodos <strong>de</strong> Observação (7 horas)<br />

% área A<br />

% área B<br />

Figura 1. Curva <strong>de</strong> esforço amostral mostrando o aumento das áreas ocupadas<br />

pelos bandos A e B <strong>de</strong> S. ruficapillus ao longo dos períodos <strong>de</strong> observação.<br />

Figure 1. Sample size effort showing the increase of used areas by the two<br />

groups of S. ruficapillus along the study period.<br />

O tamanho das áreas <strong>de</strong> uso foi <strong>de</strong>terminado utilizando-se o<br />

método do polígono convexo (Odum e Kuenzler 1955), no qual<br />

a área do maior polígono formado pela união <strong>de</strong> pontos extremos<br />

em que o animal foi visualizado é consi<strong>de</strong>rada sua área <strong>de</strong><br />

uso. Tendo em vista que este método assume igualda<strong>de</strong> na utilização<br />

pelos indivíduos <strong>de</strong> todas as áreas, o que po<strong>de</strong> não ser verda<strong>de</strong>,<br />

foi utilizada uma adaptação do método anterior, chamada<br />

‘polígono real’ (Ribeiro et al. 2002). O ‘polígono real’ é o valor<br />

da área total formado pela união dos pontos mais extremos utilizados<br />

pelo animal e não representa o polígono <strong>de</strong> maior área<br />

possível. O cálculo das áreas totais ocupadas pelos indivíduos<br />

foi obtido utilizando-se o software ArcGis 9 (ArcView 2004).<br />

Para verificar o padrão sazonal <strong>de</strong> canto, que é associado<br />

à <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> território (revisão em Rodrigues 1996), quantificou-se<br />

a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> canto e dos chamados em três intervalos<br />

do dia: madrugada (M) (05:10 h às 06:10 h), meio-dia<br />

(MD) (11:30 h às 12:30 h) e tar<strong>de</strong> (T) (17:00 h às 18:00 h).<br />

De acordo com a metodologia <strong>de</strong> ‘Pontos <strong>de</strong> Escuta’ (Bibby<br />

et al. 1993), foram <strong>de</strong>marcados na área <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> cada grupo<br />

30 pontos distantes 150 m entre si. Destes 30 pontos quatro<br />

eram escolhidos aleatoriamente para serem amostrados em<br />

cada período do dia. Em cada ponto, durante <strong>de</strong>z minutos, o<br />

observador quantificou o canto contando quantas vezes que o<br />

macho <strong>de</strong> cada bando vocalizou. Para o período da madrugada<br />

amostrou-se 1020 min, para o meio-dia 720 min e para o período<br />

da tar<strong>de</strong> 780 min, obtendo-se no total 42 h <strong>de</strong> amostragem.<br />

Fez-se a somatória <strong>de</strong> todas as amostras, calculando-se a taxa<br />

média e o <strong>de</strong>svio-padrão, obtendo-se assim, a taxa <strong>de</strong> canto.<br />

Para a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> chamado, durante cada um dos períodos<br />

do dia acima <strong>de</strong>finidos, o macho <strong>de</strong> cada bando era observado<br />

continuamente e, a intervalos <strong>de</strong> <strong>de</strong>z minutos, fazia-se<br />

à contagem do número <strong>de</strong> vezes que o chamado era vocalizado<br />

durante <strong>de</strong>z minutos. Desta forma, para cada período <strong>de</strong><br />

uma hora 30 min eram amostrados. Obtiveram-se 680 min<br />

<strong>de</strong> amostragem para o período da madrugada; 480 min para<br />

o meio-dia; e 520 min para o período da tar<strong>de</strong>, totalizando<br />

1680 min <strong>de</strong> amostragens. Para se calcular a taxa <strong>de</strong> chamado,<br />

primeiramente quantificou-se o número <strong>de</strong> chamados ouvidos<br />

durante as amostragens <strong>de</strong> <strong>de</strong>z minutos e, posteriormente, fezse<br />

à somatória do número <strong>de</strong> chamados <strong>de</strong> todas as amostras<br />

<strong>de</strong> cada período. Em seguida, foram calculadas as taxa média<br />

<strong>de</strong> emissão do chamado e o <strong>de</strong>svio-padrão por período do dia,<br />

para todos os dias amostrados. Foi feita análise <strong>de</strong> variância<br />

(ANOVA) utilizando-se o programa Statistica (StatSoft 2004)<br />

para verificar se as taxas <strong>de</strong> chamados nos três períodos do<br />

dia apresentavam diferenças significativas. A distribuição dos<br />

dados foi ajustada à distribuição normal usando-se o logaritmo<br />

<strong>de</strong> (X + 1) para casos com valores iguais a zero (Zar 1999).<br />

Resultados e Discussão<br />

A área <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> ambos os grupos aumentou ao longo do<br />

tempo <strong>de</strong> acompanhamento dos bandos, tendo se estabilizado<br />

no décimo período <strong>de</strong> observação para o bando A, e no sétimo


540 Luiza Angelini Leal Domingues e Marcos Rodrigues<br />

período para o bando B (Figura 1). Isso representa uma evidência<br />

<strong>de</strong> que a área <strong>de</strong>finida seja provavelmente a área total<br />

ocupada pelos bandos, durante o período <strong>de</strong> estudo (Odum e<br />

Kuenzler 1955).<br />

As áreas totais <strong>de</strong> cada bando calculadas <strong>de</strong> acordo com o<br />

método do polígono máximo apresentaram valores diferentes<br />

(6,5 ha bando A e 10,3 ha bando B), enquanto as áreas calculadas<br />

segundo a metodologia do polígono real apresentaram<br />

valores próximos (6,3 ha bando A e 7,3 ha bando B). A<br />

área fornecida pelo cálculo do polígono real é aparentemente<br />

a mais precisa, uma vez que a área do bando B apresenta<br />

uma maior quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> campo aberto, e é cortada ao meio<br />

pela rodovia MG‐10, po<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong>sta forma, ter tido um valor<br />

superestimado.<br />

As médias das áreas <strong>de</strong> uso (8,4 ha bando A e 6,4 ha bando<br />

B), <strong>de</strong>terminadas pelos dois métodos, mostraram-se maiores do<br />

que as áreas <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> outros traupí<strong>de</strong>os. Em áreas secundárias<br />

<strong>de</strong> Floresta Ombrófila Densa, em Belize na América Central,<br />

Willis (1960) <strong>de</strong>terminou para Habia rubica e Habia gutturalis,<br />

as seguintes áreas <strong>de</strong> vida: 4.5‐5.2 ha (n = 16) e 5.7 ha<br />

(n = 12) respectivamente. Posteriormente, o mesmo autor<br />

(1966), <strong>de</strong>terminou em áreas <strong>de</strong> Floresta Ombrófila Densa,<br />

com altitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> 700 a 2000 m, no oeste dos An<strong>de</strong>s, Colômbia,<br />

uma área <strong>de</strong> 5‐8 ha (n = 6) para H. cristata. Riviera et al.<br />

(2003) também encontraram esta similarida<strong>de</strong> em Piranga olivacea<br />

(2.6‐5.6 ha, n = 19), porém ocupando áreas <strong>de</strong> Floresta<br />

Decídua no nor<strong>de</strong>ste da Virgínia nos Estados Unidos.<br />

Schistochlamys ruficapillus é uma ave territorialista, o<br />

que foi sugerido pela ausência <strong>de</strong> sobreposição entre as áreas<br />

adjacentes ocupadas pelos bandos (Figura 2), e pela observação<br />

<strong>de</strong> um confronto nas bordas <strong>de</strong>stas áreas. No dia 26/03<br />

os indivíduos do bando A se encontravam muito próximos <strong>de</strong><br />

um dos pontos limites da área do bando B, cujo casal energicamente<br />

expulsou-os através <strong>de</strong> contatos físicos assim que os<br />

avistaram. Nenhum outro conflito entre os indivíduos <strong>de</strong> cada<br />

bando foi observado, fato que po<strong>de</strong> estar relacionado com o<br />

Figura 2. Mapa das áreas <strong>de</strong> uso dos bandos A e B <strong>de</strong> Schistochlamys ruficapillus <strong>de</strong> acordo com o método do polígono real na Serra do Cipó. Ao lado, uma visão<br />

da área <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong>ntro da APA Morro da Pedreira (<strong>de</strong>limitação mais exterior) e adjacente ao Parque Nacional da Serra do Cipó (<strong>de</strong>limitação mais interior),<br />

Minas Gerais.<br />

Figure 2. Areas of use of groups A and B of Schistochlamys ruficapillus according the real polygon method at Serra do Cipó. Right maps show the study area at<br />

the state of Minas Gerais, southeastern Brazil (up) and ‘APA Morro da Pedreira’ (exterior line) and ‘Parque Nacional da Serra do Cipó (interior line).


Área <strong>de</strong> uso e aspectos da territorialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Schistochlamys ruficapillus (Thraupidae) em seu período não-reprodutivo 541<br />

tempo <strong>de</strong> residência dos indivíduos e, portanto, a estabilização<br />

da vizinhança. A manutenção <strong>de</strong> um território é uma ativida<strong>de</strong><br />

que está ligada diretamente à <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> competidores e a<br />

estabilida<strong>de</strong> da sua vizinhança. Quanto maior o número <strong>de</strong><br />

vizinhos não estabilizados na área, ou quanto maior o número<br />

<strong>de</strong> indivíduos satélites, mais tempo os machos ten<strong>de</strong>rão a per<strong>de</strong>r<br />

com ativida<strong>de</strong>s tais como o patrulhamento <strong>de</strong> território e o<br />

comportamento <strong>de</strong> guarda <strong>de</strong> parceiro (Whiting 1999). Assim,<br />

espera-se que a freqüência dos conflitos seja baixa em área<br />

cujos territórios já foram estabelecidos há muito tempo.<br />

Os territórios estudados <strong>de</strong> S. ruficapillus parecem correspon<strong>de</strong>r,<br />

pelo menos em gran<strong>de</strong> parte, à sua área <strong>de</strong> vida. Diante<br />

da classificação proposta por Hin<strong>de</strong> (1956), territórios do tipo<br />

A são aqueles <strong>de</strong>ntro dos quais os indivíduos realizam todas as<br />

suas ativida<strong>de</strong>s, inclusive reprodução, como constatado pela<br />

nidificação do casal A na estação <strong>de</strong> 2005 (dados não publicados).<br />

Riviera et al. (2003) ao estudar Piranga olivacea nos<br />

períodos reprodutivo e não-reprodutivo, verificou pouca diferença<br />

no tamanho das áreas <strong>de</strong> uso (> 300 m para a época nãoreprodutiva),<br />

o que reforça a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> representantes<br />

da família utilizarem territórios do tipo A.<br />

A taxa <strong>de</strong> canto <strong>de</strong> S. ruficapillus apresentou para o período<br />

não-reprodutivo valor zero. Somente nos dias 27/03 (T),<br />

23/04 (M) e 22/04 (M) o canto completo foi escutado (Tabela 1).<br />

Isto é um indício que a espécie apresenta o mesmo padrão<br />

<strong>de</strong> canto anual das espécies Oscines das regiões temperadas,<br />

que emitem apenas os chamados na estação não-reprodutiva<br />

(Catchpole e Slater 1995). Este mesmo padrão foi observado<br />

para outros traupí<strong>de</strong>os, que iniciaram suas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> canto<br />

apenas na época reprodutiva (Willis 1966, Moynihan 1962).<br />

Os chamados foram quantificados, porém não houve concentração<br />

dos mesmos em nenhum período do dia (F = 1,16;<br />

gl = 150, P > 0,05;). Isto era <strong>de</strong> se esperar, uma vez que as<br />

emissões davam-se quando um indivíduo não era visualizado<br />

pelo outro, ou quando o macho se <strong>de</strong>slocava para outro local<br />

<strong>de</strong> alimentação e vocalizava até que a fêmea e o filhote (esse<br />

presente somente no bando A) se apresentavam no local, cessando<br />

assim o chamado. Desta forma, os chamados <strong>de</strong>monstraram<br />

ter a função <strong>de</strong> localização e coesão dos indivíduos<br />

dos bandos, sendo emitidos em todos os períodos do dia. Este<br />

mesmo comportamento também foi observado para o tangarádo-dorso-vermelho<br />

Ramphocelus dimitiadus, cujos indivíduos<br />

emitiam chamados durante todo o ano, em todos os períodos<br />

do dia, sugerindo que eles eram produzidos para agregar os<br />

indivíduos do bando e po<strong>de</strong>riam ter a função <strong>de</strong> atração ou<br />

reconhecimento parental (Moynihan 1962).<br />

Tabela 1. Taxa <strong>de</strong> canto (min) em cada período do dia. M (período da<br />

madrugada), MD (meio-dia) e T (tar<strong>de</strong>).<br />

Table 1. Song rate (min) for each period of the day. M (Dawn period), MD<br />

(midday), T (afternoon).<br />

M (05:10 h<br />

– 06:10 h)<br />

MD (11:30 h<br />

– 12:30 h)<br />

T (17:00 h<br />

– 18:00 h)<br />

Total<br />

Nº amostras (min) 1020 720 780 2520<br />

Nº Canto/10 min 0,3 0 0,1 0,4<br />

Os resultados aqui apresentados sugerem que a área <strong>de</strong> uso<br />

e o território <strong>de</strong> S. ruficapillus po<strong>de</strong>m vir a ser congruentes (território<br />

do tipo A <strong>de</strong> Hin<strong>de</strong> 1956), apesar da gran<strong>de</strong> área que os<br />

indivíduos teriam que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r. É provável que esta população<br />

tenha uma vizinhança estável e os limites territoriais estejam<br />

bem estabelecidos. Assim, a ausência <strong>de</strong> encontros agonísticos<br />

e a não sobreposição <strong>de</strong> áreas possa ser explicada pelo menos<br />

durante a estação não reprodutiva. Mais dados quantitativos e<br />

estudos em longo prazo são necessários para melhor compreensão<br />

do comportamento territorial e do estabelecimento da<br />

área <strong>de</strong> vida utilizada pelo bico-<strong>de</strong>-veludo.<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

Somos gratos a R. Young e L.S. Guimarães, pela leitura<br />

e sugestões ao manuscrito original. L.M. Costa, J.D. Ferreira,<br />

E.P. Mesquita e T.S. Chausson pela ajuda no trabalho <strong>de</strong> campo.<br />

G.W. Fernan<strong>de</strong>s pela autorização e incentivo a trabalhar em sua<br />

proprieda<strong>de</strong>. J.S. Nascimento pela confecção dos mapas e auxílio<br />

com o ArcView. A todos os funcionários do IBAMA Parna<br />

Cipó, principalmente K.T. Ribeiro, J. Ma<strong>de</strong>ira e H. Coulet pelo<br />

apoio incondicional. Este trabalho teve patrocínio da ‘Fundação<br />

O Boticário <strong>de</strong> Proteção à Natureza’ e apoio financeiro do<br />

CNPq (processo n. 473428/2004‐0). MR agra<strong>de</strong>ce ao CNPq<br />

pela bolsa <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> (processo n. 300731/2006‐0).<br />

Referências<br />

Alves, M.A.S. (1990) Social system and helping behavior in<br />

the White-ban<strong>de</strong>d Tanager (Neothraupis fasciata). Condor<br />

92: 470‐474.<br />

Bellis, L.M., M.B. Martella, J.L Navarro e P.E Vignolo (2004)<br />

Home range of greater and lesser rhea in Argentina: relevance<br />

to conservation. Biodiversity and Conservation<br />

13:2589‐2598.<br />

Bibby, C.J., N.D Burgess e D.A. Hill (1993) Bird Census<br />

Techniques. London: Aca<strong>de</strong>mic Press.<br />

Burt, W.H. (1943) Territoriality and home range concepts as<br />

applied to mammals. Journal of Mammalogy 24:346‐352.<br />

Caro, T. (1998) Behavioral Ecology and Conservation Biology.<br />

New York: Oxford University Press.<br />

Catchpole, C.K (1973) The functions of advertising song in<br />

the sedge warber (Acrocephalus schoenobaenus) and the<br />

red warbler (A. scirpaceus). Behaviour 46:300‐320.<br />

Catchpole, C.K. e P.J.B. Slater (1995) Bird Song: Biological<br />

themes and variations. Cambridge: Cambridge University<br />

Press.


542 Luiza Angelini Leal Domingues e Marcos Rodrigues<br />

Costa, L.M. e M. Rodrigues (2007) Novo registro <strong>de</strong> nidificação<br />

do beija-flor-<strong>de</strong>-gravata-ver<strong>de</strong> Augastes scutatus<br />

esten<strong>de</strong> período reprodutivo da espécie. <strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> 15:131‐134.<br />

Davies, N.B. (1978) Ecological questions about territorial<br />

behaviour, p. 317‐350. Em: J. R. Krebs e N.B. Davies<br />

(eds.), Behavioural Ecology: An Evolutionary Approach.<br />

Oxford: Blackwell Scientific Publications.<br />

Giulietti, A.M., N.A. Menezes, J.R. Pirani, M. Meguro e<br />

M.G.L. Van<strong>de</strong>rley (1987) Flora da Serra do Cipó: caracterização<br />

e lista <strong>de</strong> espécies. Bol. Bot 9:1‐151.<br />

Hanowski, J., N. Danz, J. Lind e G. Niemi. (2002) Breeding<br />

bird response to riparian forest harvest and harvest equipment.<br />

Forest Ecology and Management 174:315‐328.<br />

Hin<strong>de</strong>, R.A. (1956) The biological significance of the territories<br />

of birds. Ibis 98:340‐369.<br />

Isler, M.L e P.R. Isler (1987) The tanagers: natural history,<br />

distribution, and i<strong>de</strong>ntification. Washington: Smithsonian<br />

Institution Press.<br />

Moynihan, M. (1962) Display patterns of tropical american<br />

“nine-primaried” songbirds. Auk 79:655‐686.<br />

Munn, C. e J.W. Terborgh (1979) Multi-species territoriality<br />

in neo-tropical foraging flocks. Condor 81:338‐347.<br />

Noble, G.K. (1939) The role of dominance in the life of birds.<br />

Auk 56:263‐273.<br />

Odum, E.P. e E.J. Kuenzler (1955) Measurement of territory<br />

size and home range size in birds. Auk 72:128‐137.<br />

Pasinelli, G., J. Hegelbach e H.U. Reyer (2001) Spacing behavior<br />

of the middle spotted wood-pecker in central Europe.<br />

J. Wild. Manag. 65:432‐441.<br />

Pitelka, F.A. (1959) Numbers, breeding schedule, and territory<br />

in pectoral sandpipers of Northen Alaska. Condor<br />

61:233‐264.<br />

Powell, R.A. (2000) Animal Home Ranges and Territories<br />

and Home Range Estimators, p. 442‐453. Em: Boitani,<br />

L e Fuller, T.K. (eds.), Research Techniques in Animal<br />

Ecology Controversies and Consequences. New York:<br />

Columbia University Press,<br />

Ribeiro, B.A., M.F. Goulart e M.A. Marini (2002) Aspectos<br />

da territorialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Knipolegus lophotes (Tyrannidae:<br />

Fluvicolinae) em seu período reprodutivo. Ararajuba<br />

10:231‐235.<br />

Ribeiro, K.T. e G.W. Fernan<strong>de</strong>s (2000) Patterns of abundance<br />

of a narrow en<strong>de</strong>mic species in a tropical and infertile<br />

montane habitat. Plant Ecol. 147:205‐218.<br />

Riviera, J.H.V., W.J. Mcshea e J.H. Rappole (2003) Comparison<br />

of breeding and postbreeding movements and habitat<br />

requirements for the Scarlet Tanager (Piranga olivacea)<br />

in Virginia. Auk 120:632‐644.<br />

Roberts, C. e C.J. Norment (1999) Effects of plot size and<br />

habitat characteristics on breeding success of Scarlet<br />

Tanager. Auk 116:73‐82.<br />

Rodrigues, M. (1996) Song activity in the chiffchaff: mateguarding<br />

or territory <strong>de</strong>fence Anim. Behav. 51:709‐716.<br />

Rodrigues, M. (1998) No relationship between territory<br />

size and the risk of cuckoldry in birds. Anim. Behav.<br />

55:915‐923.<br />

Rodrigues, M., L.A. Carrara, L.P. Faria e H.B. Gomes (2005)<br />

Aves do Parque Nacional da Serra do Cipó: o Vale<br />

do Rio Cipó, Minas Gerais, Brasil. Rev. Brasil. Zool.<br />

22:326‐338.<br />

Rodrigues, M. e L.M. Costa. (2006) Diversida<strong>de</strong> e conservação<br />

<strong>de</strong> aves na Serra do Cipó, Minas Gerais. Atualida<strong>de</strong><br />

Ornitológicas 14:28‐30.<br />

Shy, E. (1984) Habitat shift and geographical variation in<br />

North American tanagers (Thraupinae: Piranga). Oecologia<br />

63:281‐285.<br />

StatSoft, Inc. (2004) Statistica (data analysis software system).<br />

version 7. http://www.statsoft.com.<br />

Stutchbury, B.J. e E.S. Morton (2001) Behavioral Ecology of<br />

Tropical Birds. San Diego: Aca<strong>de</strong>mic Press.<br />

Van<strong>de</strong>rwerf, E.A. (1998) Breeding Biology and Territoriality<br />

of the Hawaii Creeper. Condor 100: 541‐545.<br />

Willis, E.O. (1960) Voice, courtship, and territorial behavior<br />

of ant-tanagers in British Honduras. Condor 62:73‐87.<br />

Willis, E.O. (1966) Ecology and behavior of the Crested Ant-<br />

Tanager. Condor 68:56‐71.<br />

Whiting, M.J. (1999) When to be neighbourly: Differential<br />

agonistic responses in the lizard Platysaurus broadleyi.<br />

Behav. Ecol. Sociobiol. 46:210‐214.<br />

Zar, J. (1999) Biostatistical Analysis. New Jersy: Prentice<br />

Hall.


ARTIGO<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> 15(4):543-550<br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007<br />

The albatrosses of the genus Diome<strong>de</strong>a Linnaeus, 1758<br />

(Procellariiformes: Diome<strong>de</strong>idae) in Brazil<br />

Francisco Voeroes Dénes 1 , Caio José Carlos 2 and Luís Fábio Silveira 1,3<br />

1. Departamento <strong>de</strong> Zoologia, Instituto <strong>de</strong> Biociências, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, Caixa Postal 11461, 05422‐970, São Paulo,<br />

SP, Brasil. E‐mail: fv<strong>de</strong>nes@gmail.com<br />

2. Laboratório <strong>de</strong> Elasmobrânquios e Aves Marinhas, Departamento <strong>de</strong> Oceanografia, Fundação Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio<br />

Gran<strong>de</strong>, Caixa Postal 474, 96201‐900, Rio Gran<strong>de</strong>, RS, Brasil. E‐mail: cjcarlos@bol.com.br<br />

3. E‐mail: lfsilvei@usp.br<br />

Recebido em 20 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2006; aceito em 15 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2007.<br />

Resumo: Os albatrozes do gênero Diome<strong>de</strong>a Linnaeus, 1758 (Procellariiformes: Diome<strong>de</strong>idae) no Brasil. Recentemente, o gênero Diome<strong>de</strong>a<br />

passou por uma série <strong>de</strong> revisões taxonômicas que resultaram na divisão <strong>de</strong> D. epomophora (lato sensu) e D. exulans (lato sensu) em seis espécies<br />

distintas, sendo D. exulans e D. dabbenena aquelas com o maior número <strong>de</strong> registros no Atlântico Sul. As medidas <strong>de</strong> exemplares anteriormente<br />

i<strong>de</strong>ntificados como D. exulans <strong>de</strong> três coleções brasileiras foram analisadas através <strong>de</strong> função discriminante disponível na literatura recente. Verificouse<br />

que sete dos 15 espécimes estudados são na realida<strong>de</strong> D. dabbenena. Um crânio <strong>de</strong> D. exulans também foi rei<strong>de</strong>ntificado como, muito provavelmente,<br />

Thalassarche cauta (lato sensu). A rei<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong>sses exemplares concorda com trabalhos recentes, que indicam que D. dabbenena é freqüente em<br />

águas brasileiras. Caracteres morfométricos <strong>de</strong>vem ser utilizados para a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> espécimes em museus e <strong>de</strong> aves capturadas pela pesca com<br />

espinhel. Isso trará informações <strong>de</strong>talhadas sobre sua distribuição espaço-temporal e sobre o real impacto das ativida<strong>de</strong>s pesqueiras.<br />

Palavras-chave: Procellariiformes, Diome<strong>de</strong>a exulans, Diome<strong>de</strong>a dabbenena, albatroz-errante, albatroz-<strong>de</strong>-tristão, Brasil, taxonomia, conservação.<br />

Abstract: Recently, the genus Diome<strong>de</strong>a has un<strong>de</strong>rgone several taxonomic changes, resulting in the split of D. exulans (lato sensu) and D. epomophora<br />

(lato sensu) into six different species. Of these, D. exulans and D. dabbenena are the most common in the South Atlantic. The measurements of<br />

specimens originally i<strong>de</strong>ntified as D. exulans from three Brazilian collections, were applied in the discriminat functions avaliable in the literature.<br />

We conclu<strong>de</strong>d that seven of the 15 specimens refer to D. dabbenena. We confirm the original i<strong>de</strong>ntification of an old specimen (currently i<strong>de</strong>ntified<br />

as D. exulans) at MZUSP as D. epomophora. One skull of D. exulans was also re-i<strong>de</strong>ntified as being a likely “Shy Albatross” Thalassarche cauta<br />

(lato sensu). Our data support the view that D. dabbenena is as common off Brazil as D. exulans. Morphometric characters should be used for the<br />

i<strong>de</strong>ntification of museum specimens and of birds killed on long-lines, thus providing <strong>de</strong>tailed information on spatial and temporal distribution of both<br />

species, and on the true impact of fishing operations.<br />

Key-words: Procellariiformes, Diome<strong>de</strong>a exulans, Diome<strong>de</strong>a dabbenena, Wan<strong>de</strong>ring Albatross, Tristan Albatross, Brazil, taxonomy, conservation.<br />

Since the study of Alexan<strong>de</strong>r et al. (1965), only two genera of<br />

albatrosses (Diome<strong>de</strong>idae) have been traditionally recognized:<br />

Diome<strong>de</strong>a Linnaeus, 1758 and Phoebetria Reichenbach, 1852.<br />

However, recent molecular studies (Nunn et al. 1996, Nunn<br />

and Stanley 1998, Robertson and Nunn 1998) introduced radical<br />

changes by increasing the number of species from 14 to<br />

24, and placing them into four genera, namely, Diome<strong>de</strong>a<br />

(great albatrosses), Thalassarche Reichenbach, 1852 (southern<br />

mollymawks), Phoebastria Reichenbach, 1852 (North-<br />

Pacific albatrosses) and Phoebetria (sooty-albatrosses). The<br />

great albatrosses have been strongly affected by these revisions,<br />

expanding from three species (Wan<strong>de</strong>ring D. exulans<br />

Linnaeus, 1758, Royal D. epomophora Lesson, 1825, and<br />

Amsterdam Albatrosses D. amsterdamensis Roux et al. 1983)<br />

to six, with two of “Royal” (D. epomophora and D. sanfordi<br />

Murphy, 1917) and four of “Wan<strong>de</strong>ring” Albatrosses (D. exulans,<br />

D. dabbenena Mathews, 1929, D. gibsoni Robertson and<br />

Warham, 1992 and D. antipo<strong>de</strong>nsis Robertson and Warham,<br />

1992) (Nunn and Stanley 1998, Robertson and Nunn 1998).<br />

Recoveries of ringed birds and/or measurements of specimens<br />

inci<strong>de</strong>ntally captured by long-lines or found <strong>de</strong>ad on<br />

beaches (Croxall and Prince 1990, Grantsau 1995, Neves<br />

and Olmos 2001, Ryan et al. 2001, Olmos 2002a), confirm<br />

that both D. exulans from the South Georgia Islands and<br />

D. dabbenena from Gough and Inaccessible Islands (Tristan<br />

da Cunha group), occur in Brazilian waters. At sea i<strong>de</strong>ntification<br />

at the species level of birds within the “Wan<strong>de</strong>ring<br />

Albatross complex” is difficult, if not impossible (Ryan<br />

2000). In the hand, D. dabbenena is known to be smaller<br />

than D. exulans, especially in bill length (Murphy 1936,<br />

Swales 1965). More recently, Cuthbert et al. (2003) presented<br />

<strong>de</strong>tailed morphometric measurements of males and<br />

females of D. exulans and of D. dabbenena. Their results are<br />

useful by allowing for the specific separation of birds killed<br />

on long-lines or stran<strong>de</strong>d on the beaches along the Atlantic<br />

Ocean.<br />

Historically, D. exulans is consi<strong>de</strong>red more common<br />

off Brazil when compared to D. dabbenena. However, most<br />

specimens in Brazilian museums were obtained before recent<br />

taxonomic revisions. This study provi<strong>de</strong>s the re-i<strong>de</strong>ntification<br />

of specimens from Brazilian museums based on current<br />

taxonomy.


544 Francisco Voeroes Dénes, Caio José Carlos and Luís Fábio Silveira<br />

Methods<br />

We examined a total of 24 specimens (skins and skulls),<br />

consisting of seven D. dabbenena (see Neves and Olmos 2001)<br />

and 17 others originally i<strong>de</strong>ntified as D. exulans (Appendix).<br />

Specimens are housed in the Museu <strong>de</strong> Zoologia da Universida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> São Paulo (MZUSP) São Paulo, São Paulo; Fundação<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> (FURG) Rio Gran<strong>de</strong>, Rio<br />

Gran<strong>de</strong> do Sul, and Museu Oceanográfico do Vale do Itajaí<br />

(MOVI) Itajaí, Santa Catarina. Each specimen was analyzed<br />

as to cranial morphology and body plumage, and the following<br />

measurements (after Cuthbert et al. 2003) were taken: (1) bill<br />

length (from bill tip to start of feathering), (2) minimum bill<br />

<strong>de</strong>pth (measured halfway along the bill), (3) bill <strong>de</strong>pth at the<br />

nail (gonys), and (4) tarsus length (from the back of the tibiotarsus<br />

joint to the front edge of the bent foot). These measurements<br />

were then applied to the following discriminant functions<br />

(Cuthbert et al. 2003):<br />

1. For separating species: (1.215 * bill length) + (0.500 *<br />

minimum bill <strong>de</strong>pth) – (0.831 * bill <strong>de</strong>pth at nail), with<br />

values greater than 175.34 indicating a bird from South<br />

Georgia (D. exulans);<br />

2. For <strong>de</strong>termining the sex of D. dabbenena specimens:<br />

(0.772 * tarsus length) + (0.693 * bill <strong>de</strong>pth at nail), with<br />

values greater than 117.66 indicating a male;<br />

3. For <strong>de</strong>termining the sex of D. exulans specimens: (0.649<br />

* tarsus length) + (0.726 * bill <strong>de</strong>pth at nail), with values<br />

greater than 113.92 indicating a male.<br />

According to Cuthbert et al. (2003), these functions<br />

separated 98% of the individuals (n = 120) of the two species<br />

examined by the authors, and <strong>de</strong>termined the sex of<br />

99% (58 out of 60) of D. dabbenena and 100% (n = 60) of<br />

D. exulans. Bill length alone is the best measurement for<br />

separating species (as proposed early by Murphy [1936] and<br />

Swales [1965]), and “birds with bills longer than 158 mm<br />

were likely to be from South Georgia” (Cuthbert et al.<br />

2003).<br />

Diome<strong>de</strong>a epomophora<br />

Results and Discussion<br />

A Diome<strong>de</strong>a specimen (MZUSP 16098; taken off<br />

the Arcatrazes archipelago, São Paulo; Appendix), was<br />

i<strong>de</strong>ntified by Pinto (1938) as D. epomophora longirostris<br />

Mathews, 1934 (= D. epomophora), and by Grantsau<br />

(1995) as Diome<strong>de</strong>a exulans exulans (= D. exulans). After<br />

re-examining the MZUSP specimen, we confirm this as<br />

being D. epomophora. This result was based on the form<br />

of the nostrils openings (elliptic in D. exulans [lato sensu]<br />

and circular in D. epomophora and D. sanfordi; figure 1),<br />

and the presence of a conspicuous black line along the cutting<br />

edge of the upper maxilla (figure 2). These characters<br />

are consi<strong>de</strong>red diagnostic of both species of Royal Albatrosses<br />

(Murphy 1936, Marchant and Higgins 1990). Furthermore,<br />

the specimen in question has white upper-wing<br />

coverts, hence excluding D. sanfordi, wherein the upperwing<br />

is entirely black (Harrison 1985, Marchant and Higgins<br />

1990, Brooke 2004). This latter species is known in<br />

Brazil from only two records (Olmos 2002b, Carlos et al.<br />

2004).<br />

Figure 1. Frontal head view of specimens MZUSP 76455, Diome<strong>de</strong>a exulans (left), MZUSP 16098 D. epomophora (right). Note shape of the nostril openings,<br />

elliptic in D. exulans and circular in D. epomophora (Photo: FVD and H. Marianno).


The great albatrosses of the genus Diome<strong>de</strong>a Linnaeus, 1758 (Procellariiformes: Diome<strong>de</strong>idae) in Brazil 545<br />

Thalassarche cauta (lato sensu)<br />

One “D. exulans” skull (MOVI 33262), without the horny<br />

ramphotheca, is more likely referable to a Thalassarche mollymawk.<br />

We placed this specimen in the genus Thalassarche<br />

on the basis of culmen length (127.3 mm), which is consi<strong>de</strong>rably<br />

below the known range of any Diome<strong>de</strong>a albatross (cf.<br />

measurements in Murphy 1936 and Marchant and Higgins<br />

1990), as well as several osteological characters.<br />

In Thalassarche mollymawks, the caudal portion of the<br />

maxilla has four openings, these formed by the ventral portion<br />

of the maxilla, the lateral-ventral region of the nasal<br />

bone, and the rostral-dorsal portion of the palatine. The<br />

two most lateral openings are vertically aligned, with the<br />

jugal bar extending between them. The superior opening<br />

has an elliptic shape, with the longer axis in vertical position,<br />

whereas the inferior opening has an irregular shape.<br />

The other two openings are medial, one inferior with an<br />

obliterated bottom, the other, superior, which, together with<br />

the other two lateral openings, give access to a pneumatised<br />

chamber insi<strong>de</strong> the bill. At the caudal-ventral end of<br />

the upper jaw there is a thin process that extends caudally<br />

over the rostral portion of the palatine (Dénes and Silveira<br />

2007).<br />

On the other hand, in Diome<strong>de</strong>a albatrosses, the openings<br />

are of different size and alignment. The assemblage is slightly<br />

rotated toward the medial region in a way that the openings are<br />

in lateral, superior, medial and inferior positions, corresponding<br />

to the lateral inferior, lateral superior, medial superior<br />

and medial inferior openings in the Black-browed Albatross<br />

T. melanophris (Temminck, 1828). The lateral superior opening<br />

in T. melanophris is the smallest, whereas in Diome<strong>de</strong>a<br />

albatrosses this is the most <strong>de</strong>veloped, being separated from<br />

the medial superior opening by a small bone column (Dénes<br />

and Silveira 2007).<br />

An analysis of this skull reveals that it has characteristics in<br />

common with Thalassarche mollymawks. Other cranial features<br />

inclu<strong>de</strong> the non-occlu<strong>de</strong>d olfactory nerve foramen and<br />

the absence of a pneumatic foramen in the caudal end of the<br />

lower jaw (figure 3), indicating a similarity to Thalassarche<br />

(Dénes and Silveira 2007).<br />

Assuming the specimen in question is a Thalassarche,<br />

the bill length suggests it could not be assigned to the smallsized<br />

mollymawks occurring in the Atlantic Ocean (Marchant<br />

and Higgins 1990, <strong>de</strong>l Hoyo et al. 1992): Black-browed<br />

T. melanophris, Grey-hea<strong>de</strong>d T. chrysostoma (Foster, 1785),<br />

and Atlantic Yellow-nosed Albatrosses T. chlororhynchos<br />

(Gmelin, 1789). Bill length of the MOVI skull places it within<br />

the known range for the species of the “Shy Albatross complex”:<br />

Shy T. cauta (Gould, 1841), White-capped T. steadi<br />

(Falla, 1933), Salvin’s T. salvini (Rothschild, 1893) and Chatam<br />

Albatross T. eremita (Murphy, 1930) (Murphy 1936,<br />

Marchant and Higgins 1990, Double et al. 2003; table 1).<br />

There are several records of “Shy Albatrosses”, most immatures<br />

of un<strong>de</strong>termined species, in south-western Atlantic, but<br />

only T. steadi and T. salvini have been confirmed (Marchant<br />

and Higgins 1990, Phalan et al. 2004). The i<strong>de</strong>ntity of the two<br />

Brazilian specimens, i<strong>de</strong>ntified as “Diome<strong>de</strong>a cauta cauta”<br />

(Petry et al. 1991, Grantsau 1995, Lima et al. 2004) should be<br />

investigated.<br />

Figure 2. Lateral bill view of specimen MZUSP 16098, Diome<strong>de</strong>a epomophora. Note dark line along cutting edge of upper maxilla (Photo: FVD and H.<br />

Marianno).


546 Francisco Voeroes Dénes, Caio José Carlos and Luís Fábio Silveira<br />

Figure 3. Dorsal view of the caudal region of the mandible of Diome<strong>de</strong>a dabbenena (MZUSP 3592; left), of Thalassarche cauta (lato sensu) (MOVI 33262;<br />

center) and T. melanophris (MZUSP 3; right). Note presence of a large pneumatic foramen in D. dabbenena, which is absent in T. melanophris and in T. cauta<br />

(lato sensu). Pictures not to scale (Photos: FVD).<br />

Table 1. Culmen lengths (mm) for males and females of species within the<br />

“Shy Albatross complex” – Thalassarche cauta, T. steadi (Double et al. 2003),<br />

T. salvini (Robertson & van Tets 1982 in Marchant and Higgins 1990) and<br />

T. eremita (Robertson in Marchant and Higgins 1990) – and of skull MOVI<br />

33262. The data are: mean (± SD; range) and n = sample size.<br />

Species Males Females<br />

136.1 125.8<br />

Thalassarche cauta (3.5; 129.7‐143.3) (3.1; 125.8‐140.7)<br />

n = 24 n = 41<br />

137.5 133.5<br />

Thalassarche steadi (1.3; 130.9‐146.5) (4.0; 129.5‐139.9)<br />

n = 12 n = 26<br />

129 127<br />

Thalassarche salvini (124‐135) (123‐135)<br />

n = 17 n = 12<br />

121.7 119.8<br />

Thalassarche eremita (116‐130) (113‐124)<br />

n = 13 n = 10<br />

Diome<strong>de</strong>a dabbenena<br />

MOVI<br />

33262<br />

127.3<br />

From the results obtained with the discriminant functions,<br />

three “D. exulans” specimens from MZUSP (74158, 74237<br />

and 76562), two from FURG (2 and 359), and two from MOVI<br />

(06610 and 16227), refer to D. dabbenena (table 2; Appendix).<br />

As a result, seven “new” D. dabbenena specimens are ad<strong>de</strong>d to<br />

the nine currently known in the Brazilian collections. Of these,<br />

three are skulls; one is a complete skeleton; and the remain<strong>de</strong>r,<br />

study skins. Amongst the skins, three correspond to males and<br />

nine to females (table 2; Appendix). For D. exulans, six out of<br />

seven specimens are females. The specimens are likely adults<br />

and/or sub-adults, consi<strong>de</strong>ring that their plumage is relatively<br />

white (corresponding to types 4‐5 of Harrison 1985: 222 and<br />

Marchant and Higgins 1990: 265). Exceptions are two D. exulans<br />

(MOVI 16222 and MZUSP 76455) and one D. dabbenea<br />

(MOVI 16430), with very dark plumage (type 2 of Harrison<br />

1985: 222 and Marchant and Higgins 1990: 265). For further<br />

<strong>de</strong>tails on plumage categories, see Harrison (1985), Weimerskirch<br />

et al. (1989) and Marchant and Higgins (1990).<br />

Diome<strong>de</strong>a exulans (lato sensu) displays a complex series<br />

of age-related plumage changes. Fledglings are entirely darkbrown,<br />

except for the un<strong>de</strong>r-wings, face and throat. With each<br />

successive moult, the bird’s plumage becomes progressively<br />

paler until it reaches 20‐30 years of age (e.g., Weimerskirch<br />

et al. 1989, Marchant and Higgins 1990). On the Crozet<br />

Islands in south-west Indian Ocean, D. exulans begins breeding<br />

at 10‐12 years (e.g., Weimerskirch and Jouventin 1987),<br />

while D. dabbenena begins slightly earlier, with the average<br />

age of first breeding being from eight to nine years (Ryan et al.<br />

2001). Some birds, however, breed when still in dark plumage,<br />

Table 2. Specimens re-i<strong>de</strong>ntified as Diome<strong>de</strong>a dabbenena. Both re-i<strong>de</strong>ntification and sex <strong>de</strong>termination were based on results obtained through the discriminant<br />

functions presented by Cuthbert et al. (2003). Measurements are given in mm and all specimens are study skins, except for MOVI 06610 (skull).<br />

Specimen Culmen Minimum bill <strong>de</strong>pth Gonys Tarsus Sex<br />

MZUSP 74158 150.66 34.13 37.39 107.86 Female<br />

MZUSP 74237 142.6 31.01 34.18 107.95 Female<br />

MZUSP 76562 146.61 33.56 37.72 104.7 Female<br />

MOVI 06610 145.45 29.55 32.65 – –<br />

MOVI 16227 147.95 34.38 40.21 105.1 Female<br />

FURG 2 150.2 32.87 35.54 108.12 Female<br />

FURG 359 143.2 32.15 35.27 109.59 Female


The great albatrosses of the genus Diome<strong>de</strong>a Linnaeus, 1758 (Procellariiformes: Diome<strong>de</strong>idae) in Brazil 547<br />

especially in the case of female D. dabbenena (Ryan 2000).<br />

Consequently, plumage coloration pattern cannot be used by<br />

itself to attribute age categories of specimens captured and/or<br />

observed away from their breeding grounds.<br />

Until recently, the at-sea distribution of D. dabbenena was<br />

relatively poorly known. Results from satellite-telemetry studies,<br />

however, showed that breeding individuals are mainly<br />

restricted to the South Atlantic Ocean, between 15°E‐50°W<br />

and 29‐50°S (Cuthbert et al. 2005). Recoveries of ringed birds<br />

killed on long-liness (e.g., Ryan et al. 2001, Neves and Olmos<br />

2001, Olmos 2002a) and our data indicate that D. dabbenena<br />

habitually forage throughout waters off the Brazilian-Uruguayan<br />

coasts. This region constitutes a highly productive area<br />

due both to the Subtropical Convergence and discharges from<br />

the Lagoa dos Patos and Río <strong>de</strong> la Plata estuaries (see Seeliger<br />

et al. 1998). The Brazilian records of D. dabbenena are concentrated<br />

between October-January, and refer to juvenile and<br />

non-breeding adults, as well as breeding birds (figure 4A).<br />

The pelagic distribution of D. exulans from South Georgia<br />

has long been studied (Croxall and Prince 1990, Prince et al.<br />

1998). During the austral winter (April-September), breeding<br />

birds forage over the entire south-west Atlantic, particularly<br />

between 33°S (south Brazil) and 55°S (southernmost Argentina).<br />

The longest foraging trips, however, occur between<br />

January-February (incubation) and June-September (chickrearing;<br />

Prince et al. 1998), this presumably explaining the<br />

summer (January) records off Brazil. Furthermore, according<br />

to Vooren (in Seeliger et al. 1998), this species’ occurrence<br />

off south Brazil during the winter coinci<strong>de</strong>s with abundance<br />

peak of the squid Illex argentinus (Castellanos, 1960), which<br />

constitutes part of the bird’s diet (Marchant and Higgins 1990,<br />

<strong>de</strong>l Hoyo et al. 1992, Cherel and Klages 1998).<br />

In D. exulans, only adult males forage over Antarctic waters<br />

(50‐65°S), while adult females and juveniles tend to frequent<br />

subtropical latitu<strong>de</strong>s (35‐45°S) (Weimerskirch and Jouventin<br />

1987, Prince et al. 1998, BirdLife International 2004a). Shaffer<br />

et al. (2001) <strong>de</strong>termined that wing loading in adult males<br />

D. exulans was significantly higher than adult females, and<br />

that differences in wind conditions affect the at-sea distribution<br />

of both sexes. Because wing loading <strong>de</strong>termines the flight<br />

speed (Pennycuick 1987), the windier regions of the Antarctic<br />

and sub-Antarctic may provi<strong>de</strong> better conditions for males to<br />

travel at faster flight speeds required by their larger body size<br />

and heavier wing loading. In contrast, the smaller body size<br />

and lower wing loading of females would allow them to exploit<br />

subtropical and even tropical waters, where winds are lighter,<br />

thus reducing inter-sexual competition (Shaffer et al. 2001).<br />

Therefore, it is not surprising that five out of seven D. exulans<br />

specimens (Appendix) were females, as the occurrence of<br />

males off Brazil appears to be less frequent (figure 4B). The<br />

main areas of long-lines fisheries in the South Atlantic overlap<br />

extensively with the foraging range of females from South<br />

Georgia, and this is believed to contribute significantly to their<br />

lower survival rate (BirdLife International 2004a).<br />

To conclu<strong>de</strong>, our data support the view that D. dabbenena<br />

is at least as common off Brazil as D. exulans, as previously<br />

suggested (Neves and Olmos 2001). It is important to note that<br />

all studied specimens were killed by long-liness. Diome<strong>de</strong>a<br />

exulans and D. dabbenena are threatened, the first consi<strong>de</strong>red<br />

as “Vulnerable” and the latter as “Threatened” (BirdLife International<br />

2004a, b). So far, few studies (e.g., Olmos et al. 2001)<br />

have attempted to evaluate the capture-rates of D. dabbenena/<br />

D. exulans off Brazilian coast. The use of the discriminant<br />

functions of Cuthbert et al. (2003) allows fishing observers to<br />

Figure 4. Records of Diome<strong>de</strong>a dabbenena (A) and Diome<strong>de</strong>a exulans (B) off Brazil based on specimens examined in the Museu <strong>de</strong> Zoologia da Universida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> São Paulo, Museu Oceanográfico do Vale do Itajaí, and Fundação Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong>. All specimens were inci<strong>de</strong>ntally captured by<br />

long-lines.


548 Francisco Voeroes Dénes, Caio José Carlos and Luís Fábio Silveira<br />

correctly i<strong>de</strong>ntify specimens killed by long-liness in the South<br />

Atlantic, thus providing accurate information on the spatial<br />

and temporal distribution of both species, as well as the true<br />

impact of fishery operations.<br />

Acknowledgments<br />

We are grateful to C. M. Vooren (FURG), J. M. R. Soto<br />

and M. Mincarone (MOVI) for allowing us to study the specimens<br />

un<strong>de</strong>r their care. T. Neves (Projeto Albatroz) donated<br />

specimens to MZUSP. H. Marianno assisted with the photographs.<br />

F. Olmos, C. E. Fedrizzi, and two anonymous referee<br />

kindly read the typescript and ma<strong>de</strong> useful comments. F.V.D.<br />

and C.J.C. respectively received support from Fundação <strong>de</strong><br />

Amparo à Pesquisa do Estado <strong>de</strong> São Paulo (FAPESP) and<br />

Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Aperfeiçoamento <strong>de</strong> Pessoal <strong>de</strong> Nível Superior<br />

(CAPES).<br />

References<br />

Alexan<strong>de</strong>r, W. B., R. A. Falla, C. Jouanin, R. C. Murphy,<br />

F. Salomonsen, K. H. Voous, G. E. Watson, W. R. P.<br />

Bourne, C. A. Fleming, N. H. Kuroda, M. K. Rowan, D.<br />

L. Serverty, W. L. N. Tickell, J. Warham and J. M. Winterbottom<br />

(1965) The families and genera of petrels and<br />

their names. Ibis 107:401‐405.<br />

BirdLife International (2004a). Tracking ocean wan<strong>de</strong>rers-the<br />

global distribution of albatrosses and petrels. Results<br />

from the Global Procellariiform Tracking Workshop,<br />

1‐5 September, 2003, Gordon’s Bay, South Africa. Cambridge,<br />

UK: BirdLife International.<br />

BirdLife International (2004b) Threatened birds of the<br />

world 2004. CD‐ROM. Cambridge, UK: BirdLife<br />

International.<br />

Carlos, C. J., F. I. Colabuono and C. M. Vooren (2004) Notes<br />

on the Northern Royal Albatross Diome<strong>de</strong>a sanfordi in<br />

south Brazil. Ararajuba 12:166‐167.<br />

Cherel, Y. and N. Klages (1997) A review of the food of albatrosses,<br />

p. 113‐116. In: G. Robertson and R. Gales (eds.)<br />

Albatross biology and conservation. Chipping Norton:<br />

Surrey Beatty & Sons.<br />

Croxall, J and P. Prince (1990) Recoveries of Wan<strong>de</strong>ring<br />

Albatrosses Diome<strong>de</strong>a exulans ringed at South Georgia<br />

1958‐1986. Ring. & Migr. 11:43‐51.<br />

Cuthbert, R. J., R. A. Phillips and P. G. Ryan (2003) Separating<br />

the Tristan Albatross and the Wan<strong>de</strong>ring Albatross using<br />

morphometric measurements. Waterbirds 26:338‐344.<br />

Cuthbert, R., G. Hilton, P. Ryan and G. N. Tuck (2005) At-sea distribution<br />

of breeding Tristan albatrosses Diome<strong>de</strong>a dabbenena<br />

and potential interactions with pelagic long-lines fishing<br />

in the South Atlantic Ocean. Biol. Conserv. 121:345‐355.<br />

<strong>de</strong>l Hoyo, J., A. Elliott and J. Sargatal [eds.] (1992) Handbook<br />

of the birds of the world, vol. 1. Barcelona: Lynx<br />

Edicions.<br />

Dénes, F. V. and L. F. Silveira (2007). Cranial osteology of the<br />

albatrosses of genus Diome<strong>de</strong>a Linnaeus, 1758 and Thalassarche<br />

Reichenbach, 1852 (Procellariiformes: Diome<strong>de</strong>idae).<br />

Pap. Avuls. Zool., São Paulo, 47(3):43‐61.<br />

Double, M. C., R. Gales, T. Reid, N. Brothers and C. L.<br />

Abbott (2003) Morphometric comparison of Australian<br />

Shy and New Zealand White-capped Albatrosses. Emu<br />

103:287‐294.<br />

Grantsau, R. (1995) Os albatrozes (Diome<strong>de</strong>idae, Procellariiformes)<br />

do Atlântico e suas ocorrências na costa brasileira<br />

e uma chave <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação. Bol. CEO 12:20‐31.<br />

Harrison, P. (1985) Seabirds: an i<strong>de</strong>ntification gui<strong>de</strong>. Revised<br />

Ed. Boston: Houghton Mifflin.<br />

Lima, P. C., R. Grantsau, R. C. R. Lima and S. S. Santos<br />

(2004) Primeiro registro para o nor<strong>de</strong>ste brasileiro do<br />

Albatroz-<strong>de</strong>-cabeça-cinza (Diome<strong>de</strong>a c. cauta Gould,<br />

1841). Atual. Ornitol. 118:3.<br />

Marchant, S. and J. P. Higgins [coords.] (1990) Handbook of<br />

Australian, New Zealand, and Antarctic birds, vol. 1.<br />

Melbourne: Oxford University Press.<br />

Murphy, R. C. (1936) Oceanic birds of South America, vol. 1.<br />

New York: American Museum of Natural History.<br />

Neves, T. S. and F. Olmos (2001) O Albatroz-<strong>de</strong>-Tristão Diome<strong>de</strong>a<br />

dabbenena no Brasil. Nattereria 2:19‐20.<br />

Nunn, G. B., J. Cooper, P. Jouventin, C. J. Robertson and G. Robertson<br />

(1996) Evolutionary relationships among extant albatrosses<br />

(Procellariiformes : Diome<strong>de</strong>idae) established from<br />

complete cytochrome‐b gene sequences. Auk 113:784‐801.<br />

Nunn, G. B. and S. E. Stanley (1998) Body size effects and<br />

rates of cytochrome b evolution in tube-nosed seabirds.<br />

Mol. Biol. Evol. 15:1360‐1371.<br />

Olmos, F. (2002a) Non-breeding seabirds in Brazil: a review<br />

of band recoveries. Ararajuba 10:31‐42.<br />

Olmos, F. (2002b) First record of Northern Royal Albatross<br />

(Diome<strong>de</strong>a sanfordi) in Brazil. Ararajuba 10:271‐273.


The great albatrosses of the genus Diome<strong>de</strong>a Linnaeus, 1758 (Procellariiformes: Diome<strong>de</strong>idae) in Brazil 549<br />

Olmos, F., T. S. Neves and G. C. Bastos (2001) A pesca com<br />

espinhéis e a mortalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aves marinhas no Brasil,<br />

p. 327‐337. In: J. L. Albuquerque, J. F. Cândido-Jr, F. C.<br />

Straube and A. L. Ross (eds.) <strong>Ornitologia</strong> e conservação:<br />

da ciência às estratégias. Tubarão, SC: Editora Unisul.<br />

Pennycuick, C. J. (1987). Flight of seabirds, p. 43‐62. In: J.<br />

P. Croxall (ed.) Seabirds: feeding ecology and role in<br />

marine ecosystems. Cambridge, UK: Cambridge University<br />

Press.<br />

Phalan, B., R. A. Phillips and M. C. Double (2004) A Whitecapped<br />

Albatross, Thalassarche [cauta] steadi, at South<br />

Georgia: first confirmed record in south-western Atlantic.<br />

Emu 104:359‐361.<br />

Petry, M. V., G. A. Bencke and G. N. Klein (1991) First record<br />

of the Shy Albatross Diome<strong>de</strong>a cauta for the Brazilian<br />

coast. Bull. Brit. Orn. Cl. 111:189‐190.<br />

Pinto, O. M. O. (1938) Catálogo das aves do Brasil, 1ª parte:<br />

aves não Passeriformes e Passeriformes não Oscines,<br />

excluída a Família Tyrannidae e seguintes. Rev. Mus.<br />

Paulista 22:1‐566.<br />

Prince, P., J. P. Croxall, P. N. Trathan and A. G. Wood (1998)<br />

The pelagic distribution of the South Georgia albatrosses<br />

and their relationships with fisheries, p. 137‐167. In: G.<br />

Robertson and R. Gales (eds.) Albatross biology and<br />

conservation. Chipping Norton: Surrey Beatty & Sons.<br />

Robertson, C. J. R. and G. B. Nunn (1998) Towards a new<br />

taxonomy for the albatrosses, p. 13‐19. In: G. Robertson<br />

and R. Gales (eds.) Albatross biology and conservation.<br />

Chipping Norton: Surrey Beatty & Sons.<br />

Ryan, P. G. (2000) Separating albatross: Tristan or Wan<strong>de</strong>ring<br />

Africa-birds and banding 5:35‐39.<br />

Ryan, P. G., J. Cooper and J. P. Glass (2001) Population status,<br />

breeding biology and conservation of the Tristan<br />

Albatross Diome<strong>de</strong>a [exulans] dabbenena. Bird Conserv.<br />

Intern. 11:35‐48.<br />

Seeliger, U., C. O<strong>de</strong>brecht and J. P. Castello (eds.) (1998) Os<br />

ecossistemas costeiro e marinho do extremo sul do Brasil.<br />

Rio Gran<strong>de</strong>, RS: Editora Ecoscientia.<br />

Shaffer, S. A., H. Weimerskirch and D. P. Costa (2001)<br />

Functional significance of sexual dimorphism in Wan<strong>de</strong>ring<br />

Albatrosses, Diome<strong>de</strong>a exulans. Funct. Ecol.<br />

15:203‐210.<br />

Swales, M. K. (1965) The sea-birds of Gough island. Ibis<br />

107:17‐42, 215‐229.<br />

Weimerskirch, H. and P. Jouventin (1987) Population dynamics<br />

of Wan<strong>de</strong>ring Albatross, Diome<strong>de</strong>a exulans, of the<br />

Crozet Islands: causes and consequences of the population<br />

<strong>de</strong>cline. Oikos 49:315‐322.<br />

Weimerskirch, H., B. Lequete and P. Jouventin (1989) Development<br />

and maturation of plumage in Wan<strong>de</strong>ring Albatross,<br />

Diome<strong>de</strong>a exulans. J. Zool., London 219:411‐421.


550 Francisco Voeroes Dénes, Caio José Carlos and Luís Fábio Silveira<br />

Appendix. List of specimens examined in the Museu <strong>de</strong> Zoologia da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo (MZUSP), Museu Oceanográfico do Vale do Itajaí (MOVI), and<br />

Fundação Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> (FURG). Specimens indicated with (*) were re-i<strong>de</strong>ntified (see text). Re-i<strong>de</strong>ntifications and the sex (F = females<br />

and M = males) <strong>de</strong>termination (for the skins) were based upon results of the discriminant functions of Cuthbert et al. (2003), (NA = not available).<br />

Species Register Specimen Sex Location Date<br />

Diome<strong>de</strong>a exulans MOVI 16222 Skin M South Atlantic, Brazil, Rio Gran<strong>de</strong> do Sul:<br />

03‐07.i.1998<br />

33°S, 49°30’W‐35°S, 51°25’W<br />

D. exulans MOVI 16223 Skin F South Atlantic, Brazil, Rio Gran<strong>de</strong> do<br />

11.xi.1999<br />

Sul: 34º30’02”S, 50º18’08”W<br />

D. exulans MOVI 16224 Skin M South Atlantic, Brazil, Rio Gran<strong>de</strong> do Sul:<br />

03‐07.i.1998<br />

33°S, 49°30’W‐35°S, 51°25’W<br />

D. exulans MOVI 16225 Skin F South Atlantic, Brazil, Rio Gran<strong>de</strong> do Sul:<br />

03‐07.i.1998<br />

33°S, 49°30’W‐35°S, 51°25’W<br />

D. exulans MOVI 16226 Skull F South Atlantic, Brazil, Rio Gran<strong>de</strong> do Sul:<br />

03‐07.i.1998<br />

33°S, 49°30’W‐35°S, 51°25’W<br />

D. exulans MOVI 16228 Skin F South Atlantic, Brazil, Rio Gran<strong>de</strong> do Sul:<br />

03‐07.i.1998<br />

33°S, 49°30’W‐35°S, 51°25’W<br />

D. exulans MZUSP 76455 Skin F South Atlantic: 35°05’S‐30°52’W 26.i.2006<br />

D. dabbenena MZUSP 2 Complete skeleton NA NA NA<br />

D. dabbenena MZUSP 3592 Skull NA South Atlantic, Brazil, Rio Gran<strong>de</strong> do Sul: 35°52’S, 45°00’W 9.v.2003<br />

D. dabbenena MZUSP 74158* Skin F South Atlantic, Brazil, Rio Gran<strong>de</strong> do Sul: 34°07’S, 50°58’W 26.xi.1996<br />

D. dabbenena MZUSP 74237* Skin F South Atlantic, Brazil, Rio Gran<strong>de</strong> do Sul: 34°S, 50°W xi.1995<br />

D. dabbenena MZUSP 75182 Skin F South Atlantic, Brazil, Rio Gran<strong>de</strong> do Sul: 31°S, 48°50’W 29.x.1999<br />

D. dabbenena MZUSP 75183 Skin F South Atlantic, Brazil, Santa Catarina: 29°S, 45°W 5.xi.1999<br />

D. dabbenena MZUSP 75184 Skin M South Atlantic, Brazil, Santa Catarina: 29°S, 45°W 5.xi.1999<br />

D. dabbenena MZUSP 76452 Skin F NA ix.2001<br />

D. dabbenena MZUSP 76453 Skin M NA 26.i.2006<br />

D. dabbenena MZUSP 76562* Skin on display F NA NA<br />

D. dabbenena MOVI 06610* Skull NA South Atlantic, Brazil, Rio Gran<strong>de</strong> do Sul: Rio Gran<strong>de</strong>, 36 05.xii.1996<br />

km south of Rio Gran<strong>de</strong> jets, 32°23’10’’S, 52°19’00’’W<br />

D. dabbenena MOVI 16221 Skull M South Atlantic, Brazil, Rio Gran<strong>de</strong> do Sul:<br />

03‐07.i.1998<br />

33°S, 49°30’W‐35°S, 51°25’W<br />

D. dabbenena MOVI 16227* Skin M South Atlantic, Brazil, Rio Gran<strong>de</strong> do<br />

vi.2000<br />

Sul: 31°33’14’’S, 47°53’18’’W<br />

D. dabbenena MOVI 16430 Skin F South Atlantic, Brazil, Rio Gran<strong>de</strong> do Sul: 30°25’S, 47°16’W 7.xi.2000<br />

D. dabbenena FURG 2* Skin F South Atlantic, Brazil, Rio Gran<strong>de</strong> do Sul: 33º49’S, 49º49’W 26.viii.1990<br />

D. dabbenena FURG 359* Skin F South Atlantic, Brazil, Rio Gran<strong>de</strong> do Sul: 33º51’S, 51º15’W viii.1999<br />

D. epomophora MZUSP 16098* Skin on display NA South Atlantic, Brazil, São Paulo: “off Alcatrazes Island” 1933<br />

Thalassarche<br />

cauta (lato sensu)<br />

MOVI 33262* Skull NA South Atlantic, Brazil, Rio Gran<strong>de</strong> do Sul: 33°56’S, 44°4’W 1997‐1998


ARTIGO<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> 15(4):551-560<br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007<br />

A<strong>de</strong>ndas e registros significativos para a avifauna dos<br />

manguezais <strong>de</strong> Santos e Cubatão, SP<br />

Robson Silva e Silva 1 e Fábio Olmos 2<br />

1. Rua Amaral Gurgel 63, Apto. 51, 11035‐120, Ponta da Praia, Santos, SP, Brasil. E‐mail: rsilvaesilva@uol.com.br<br />

2. Largo do Paissandu 100/4C, 01034‐010, São Paulo, SP, Brasil. E‐mail: f-olmos@uol.com.br<br />

Recebido em 04 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2006; aceito em 17 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2007.<br />

Abstract: New and important records from the mangroves of Santos and Cubatão, SP. We report records of new and poorly known species from<br />

the mangroves and associated habitats of Santos-Cubatão, in the central coast of São Paulo, southeastern Brazil. Anas discors, Theristicus caudatus,<br />

Mycteria americana, Chondrohierax uncinatus, Accipiter bicolor, Buteo nitidus, Buteo brachyurus, Laterallus viridis, Laterallus exilis, Arenaria<br />

interpres, Calidris melanotos, Calidris himantopus, Phalaropus tricolor, Thalurania glaucopis, Leucochloris albicollis, Melanerpes candidus, Piculus<br />

flavigula, Synallaxis ruficapilla, Phacellodomus ferrugineigula, Xenops minutus, Hemitriccus nidipendulus, Todirostrum cinereum, Lessonia rufa,<br />

Myiarchus swainsoni, Ilicura militaris, Cyanocorax cristatellus, Corvus albus, Tachyphonus cristatus, Thraupis cyanoptera, Tangara peruviana,<br />

Hemithraupis ruficapilla, Haplospiza unicolor, Sporophila frontalis, Sporophila leucoptera, Phaeothlypis rivularis, Euphonia violacea and Euphonia<br />

pectoralis are additions to the local list, A. discors, C. himantopus and L. rufa being reported for the first time for the state and the probably ship-assisted<br />

exotic Corvus albus for Brazil.<br />

Key-words: birds, Brazil, Cubatão, mangroves, new records, Santos, São Paulo.<br />

Resumo: Apresentamos registros <strong>de</strong> novas espécies e outras pouco conhecidas para os manguezais e ecossistemas associados na região <strong>de</strong> Santos-<br />

Cubatão, no litoral central <strong>de</strong> São Paulo, su<strong>de</strong>ste do Brasil. Anas discors, Theristicus caudatus, Mycteria americana, Chondrohierax uncinatus, Accipiter<br />

bicolor, Buteo nitidus, Buteo brachyurus, Laterallus viridis, Laterallus exilis, Arenaria interpres, Calidris melanotos, Calidris himantopus, Phalaropus<br />

tricolor, Thalurania glaucopis, Leucochloris albicollis, Melanerpes candidus, Piculus flavigula, Synallaxis ruficapilla, Phacellodomus ferrugineigula,<br />

Xenops minutus, Hemitriccus nidipendulus, Todirostrum cinereum, Lessonia rufa, Myiarchus swainsoni, Ilicura militaris, Cyanocorax cristatellus,<br />

Corvus albus, Tachyphonus cristatus, Thraupis cyanoptera, Tangara peruviana, Hemithraupis ruficapilla, Haplospiza unicolor, Sporophila frontalis,<br />

Sporophila leucoptera, Phaeothlypis rivularis, Euphonia violacea e Euphonia pectoralis são adições à lista local, A. discors, C. himantopus e L. rufa<br />

sendo registrados pela primeira vez para o Estado <strong>de</strong> São Paulo e o exótico Corvus albus, provavelmente vindo <strong>de</strong> navio, para o Brasil.<br />

Palavras-chave: aves, Brasil, Cubatão, manguezais, novos registros, Santos, São Paulo.<br />

Os manguezais dos rios, canais e largos <strong>de</strong> drenagem das baías<br />

<strong>de</strong> Santos e São Vicente formam um dos maiores complexos<br />

<strong>de</strong> manguezais e hábitats associados no estado <strong>de</strong> São Paulo<br />

(Lamparelli 1998), estando próximos às gran<strong>de</strong>s aglomerações<br />

humanas da Baixada Santista, nas cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Santos, São<br />

Vicente, Cubatão, Guarujá e Praia Gran<strong>de</strong>. A parte do sistema<br />

associado ao Canal <strong>de</strong> Piaçaguera e Largo do Caneu (aproximadamente<br />

23°54’S, 46°22’W), pertencente aos municípios<br />

<strong>de</strong> Santos e Cubatão, tem sido objeto <strong>de</strong> estudos sobre sua avifauna<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início do século XX (Lue<strong>de</strong>rwaldt 1919) até a<br />

presente década, o que permite <strong>de</strong>tectar mudanças na ecologia<br />

local ao longo do tempo (Olmos e Silva e Silva 2001, 2003).<br />

A presença <strong>de</strong> populações <strong>de</strong> espécies regional ou nacionalmente<br />

ameaçadas como Eudocimus ruber, Anas bahamensis,<br />

Parabuteo unicinctus e Thalasseus maximus, migrantes<br />

neárticos e colônias reprodutivas <strong>de</strong> Ciconiiformes (Olmos e<br />

Silva e Silva 2001, 2003), entre outros atributos, fazem com<br />

que a área seja consi<strong>de</strong>rada como prioritária para a conservação<br />

da biodiversida<strong>de</strong> da zona costeira e marinha brasileira<br />

(MMA 2002).<br />

A última listagem <strong>de</strong> aves publicada apontava a presença<br />

<strong>de</strong> 210 espécies nos manguezais da área ao redor do Canal <strong>de</strong><br />

Piaçaguera e hábitats associados, como ilhas <strong>de</strong> restinga e brejos<br />

<strong>de</strong> água doce (Olmos e Silva e Silva 2003). Aqui são apre‐<br />

sentados registros <strong>de</strong> 37 a<strong>de</strong>ndas à essa lista, além <strong>de</strong> novos<br />

registros <strong>de</strong> espécies para as quais existia pouca informação<br />

quanto a seu status regional. A maior parte dos registros foi<br />

documentada fotograficamente ou com gravações, estas sendo<br />

<strong>de</strong>positadas no arquivo aberto do site Xeno-Canto, acessível<br />

em http://www.xeno-canto.org.<br />

A or<strong>de</strong>nação taxonômica está <strong>de</strong> acordo com o<br />

CBRO(2007).<br />

Dendrocygna bicolor – Espécie com menos <strong>de</strong> cinco registros<br />

anteriores na área, embora seja um visitante regular em lagos na<br />

área urbana da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo (Willis e Oniki 2003, Carvalho<br />

2005). Um grupo <strong>de</strong> 36 indivíduos, provavelmente em migração,<br />

observado em vôo e <strong>de</strong>pois pousado em um gran<strong>de</strong> banco<br />

<strong>de</strong> sedimentos na margem leste do Canal <strong>de</strong> Piaçaguera (Lodo<br />

Direito, 23°54’20”S, 46°22’17”W) em 19 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2006, e<br />

um exemplar isolado junto a um grupo <strong>de</strong> Anas bahamensis no<br />

rio Cascalho (23°53’20”S, 46°24’08”W) no mesmo dia. No dia<br />

12 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2006 encontramos 24 aves no mesmo banco <strong>de</strong><br />

sedimentos do Canal e 57 exemplares no rio Cascalho. É uma<br />

espécie raramente registrada na Baixada Santista (Olmos e Silva<br />

e Silva 2001, 2003). Sua presença, e provavelmente a <strong>de</strong> Anas<br />

versicolor (veja adiante), parece estar associada à ocorrência <strong>de</strong><br />

frentes frias e à queda acentuada <strong>de</strong> temperatura no sul do país.


552 Robson Silva e Silva e Fábio Olmos<br />

Figura 1. A<strong>de</strong>ndas e registros significativos para a avifauna dos manguezais <strong>de</strong> Santos e Cubatão – SP. A) Podicephorus major; B) Anas discors; C) Lessonia<br />

rufa; D) Chondrohierax uncinatus; E) Calidris himantopus; F) Phalaropus tricolor; G) Rallus longirostris; H) Arenaria interpres; I) Gallinula melanops.<br />

Fotos: Robson Silva e Silva.<br />

Figure 1. Records of new and poorly know species from the mangroves of Santos e Cubatão – SP. A) Podicephorus major; B) Anas discors; C) Lessonia rufa;<br />

D) Chondrohierax uncinatus; E) Calidris himantopus; F) Phalaropus tricolor; G) Rallus longirostris; H) Arenaria interpres; I) Gallinula melanops. Photos:<br />

Robson Silva e Silva.


A<strong>de</strong>ndas e registros significativos para a avifauna dos manguezais <strong>de</strong> Santos e Cubatão, SP 553<br />

Anas versicolor – Indivíduos isolados observados nos dias 12<br />

<strong>de</strong> junho e 06 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2006, dois exemplares fotografados<br />

em 18 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2006 e outro par (o mesmo) no dia 13<br />

<strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2006, todos associados a grupos <strong>de</strong> A. bahamensis<br />

às margens do rio Cascalho, constituem os novos registros<br />

<strong>de</strong>ste migrante oriundo do Cone Sul para a região. Em São<br />

Paulo, tem sido encontrada recentemente apenas nos manguezais<br />

<strong>de</strong> Santos-Cubatão (on<strong>de</strong> é registrada regularmente) e no<br />

Parque Ecológico do Tietê (Willis e Oniki 2003).<br />

Anas discors – Um macho adulto foi observado e fotografado<br />

(Figura 1B) junto a um grupo <strong>de</strong> 95 Anas bahamensis, todos<br />

pousados nos bancos <strong>de</strong> sedimentos próximos à confluência<br />

dos rios Cascalho e Cubatão (23°53’01”S, 46°24’16”W) no<br />

dia 22 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2005. A área apresenta árvores <strong>de</strong> mangue<br />

esparsas, arbustos <strong>de</strong> Hibiscus pernambucensis (Malvaceae) e<br />

<strong>de</strong>nsa cobertura <strong>de</strong> herbáceas halófitas. A espécie é migratória,<br />

proveniente da América do Norte, sendo este o primeiro registro<br />

para o estado <strong>de</strong> São Paulo.<br />

Podicephorus major – Espécie meridional que sempre foi<br />

consi<strong>de</strong>rada um visitante em São Paulo (Willis e Oniki 2003),<br />

embora com vários registros em Santos-Cubatão (Olmos e Silva<br />

e Silva 2001, 2003). Registros adicionais foram feitos nos últimos<br />

anos, mostrando que a espécie é um visitante regular na<br />

região. Aves com plumagem imatura foram observadas em 12<br />

<strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2003 (rio Quilombo: 23°53’05”S, 46°22’12”W),<br />

19 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2003 (foz do Rio Cubatão: 23°53’43”S,<br />

46°22’48”W), 20 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2003 (rio Quilombo), 15 <strong>de</strong><br />

abril <strong>de</strong> 2003 (baixo rio Cubatão: 23°53’47”S, 46°23’21”W),<br />

09 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2003 (rio Quilombo), 20 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2003<br />

(rio Cascalho) e 12 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2004 (duas aves no Canal <strong>de</strong><br />

Piaçaguera: 23°54’10”S, 46°22’30”W).<br />

Exemplares adultos em plumagem reprodutiva e vocalizando<br />

foram observadas no Canal <strong>de</strong> Piaçaguera (Largo do<br />

Caneu) (23°54’34”S, 46°22’16”W) em 24 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2005<br />

(três aves juntas), 22 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2005 (aparentemente as<br />

mesmas três aves) (Figura 1A), 28 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2005 (uma<br />

ave), 30 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2005 (três aves), 13 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2006,<br />

04 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2006 (uma ave em ambas as ocasiões), duas<br />

aves em 3, 4 e 5 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2007, uma em 6 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2007,<br />

três aves juntas em 14 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2007, duas aves em 15 <strong>de</strong><br />

agosto <strong>de</strong> 2007, uma no dia 17 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2007, uma em 27<br />

<strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2007 e duas nos dias 8, 9 e 10 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong><br />

2007. Os registros parecem se referir aos mesmos indivíduos<br />

observados repetidamente. Vários dos registros, incluindo os<br />

<strong>de</strong> trios, foram documentados fotograficamente.<br />

Plegadis chihi – Um exemplar solitário foi observado durante<br />

vários anos associado à grupos <strong>de</strong> Eudocimus ruber, inclusive<br />

exibindo-se em plumagem reprodutiva na colônia reprodutiva<br />

dos últimos (Olmos e Silva e Silva 2001, 2003). Inesperadamente,<br />

seis indivíduos (três em plumagem juvenil) foram fotografados<br />

juntos no rio Cascalho em 20 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2004. Posteriormente,<br />

quatro aves foram observadas no rio Quilombo<br />

em 19 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2007 e três fotografadas no rio Piaçaguera<br />

(23°52’10”S, 46°23’35”W), junto a um grupo <strong>de</strong> Eudocimus<br />

ruber em 03 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2006.<br />

Theristicus caudatus – Três indivíduos foram observados<br />

sobrevoando a área urbana da Ilha Caraguatá (23°56’09”S,<br />

46°25’36”W), entre a Rodovia dos Imigrantes e a margem do<br />

rio Casqueiro, na manhã do dia 22 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2007. Logo<br />

em seguida, um <strong>de</strong>stes exemplares cruzou o manguezal do rio<br />

Casqueiro, indo em direção a São Vicente, sendo perseguido<br />

por um Vanellus chilensis. Em 29 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2007, no final<br />

<strong>de</strong> tar<strong>de</strong>, foi visto um casal <strong>de</strong>sta espécie sobrevoando a orla<br />

da praia do Boqueirão (23°58’28”S, 46°19’21”W), na área<br />

insular <strong>de</strong> Santos. Um dos exemplares foi perseguido por um<br />

Falco peregrinus, macho adulto, que ali possui seu território<br />

<strong>de</strong> invernada. Durante a perseguição os dois exemplares <strong>de</strong><br />

T. caudatus vocalizavam, e logo <strong>de</strong>pois continuaram a sobrevoar<br />

a orla da praia. Embora seja uma espécie comum em áreas<br />

abertas do interior <strong>de</strong> São Paulo (Willis e Oniki 2003), ainda<br />

não havia sido registrada na área <strong>de</strong> estudo.<br />

Mycteria americana – Um exemplar ferido proveniente do<br />

pátio da Companhia <strong>de</strong> Engenharia <strong>de</strong> Tráfego, no bairro<br />

Rádio Clube (zona noroeste <strong>de</strong> Santos, próximo à região dos<br />

manguezais), foi doado ao Parque Zoobotânico Orquidário<br />

Municipal <strong>de</strong> Santos em 23 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2005, on<strong>de</strong> veio<br />

a óbito, sendo incorporado à coleção do Museu <strong>de</strong> Zoologia<br />

da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo (MZUSP 76727). Esporadicamente<br />

registrado no município <strong>de</strong> São Paulo (p. ex. Carvalho<br />

2005), não muito distante da planície litorânea, é uma a<strong>de</strong>nda<br />

à avifauna regional.<br />

Leptodon cayanensis – um indivíduo adulto observado voando<br />

a partir do Morro do Casqueirinho (23°52’35”S, 46°22’45”W),<br />

antiga ilha revestida <strong>de</strong> floresta atlântica secundária, hoje ligada<br />

ao continente por aterros. A ave cruzou o Canal <strong>de</strong> Piaçaguera<br />

no final <strong>de</strong> tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> 03 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2006, <strong>de</strong>slocando-se em<br />

direção ao rio Quilombo. Um exemplar imaturo foi observado<br />

sobrevoando o rio Morrão (23°52’12”S, 46°21’54”W), bem<br />

ao lado da estrada <strong>de</strong> acesso ao Terminal Marítimo da Fosfertil<br />

na tar<strong>de</strong> do dia 5 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2007. Na manhã do dia 3 <strong>de</strong><br />

julho <strong>de</strong> 2007 um casal adulto foi visto sobrevoando a área do<br />

Morro do Casqueirinho, on<strong>de</strong> um <strong>de</strong>stes mergulhou em gran<strong>de</strong><br />

velocida<strong>de</strong> na vegetação <strong>de</strong> mangue na margem do canal <strong>de</strong><br />

Piaçaguera, aparentemente caçando, enquanto o outro exemplar<br />

permanecia planando numa corrente termal.<br />

No dia 24 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2007 observamos um exemplar<br />

imaturo que estava pousado numa árvore seca, sobre uma bromélia<br />

que ficava no topo. No mesmo local, duas Cyanocorax<br />

cristatellus estavam vocalizando e muito incomodadas pela<br />

sua presença, saindo logo em seguida da área. A área do registro<br />

é uma ilha <strong>de</strong> restinga alterada situada entre os rios Diana e<br />

Sândi (23°55’07”S, 46°18’51”W).<br />

Registros <strong>de</strong> L. cayanensis, em geral aves em planeio, não<br />

são incomuns nas áreas florestadas ao longo da planície lito‐


554 Robson Silva e Silva e Fábio Olmos<br />

rânea entre Santos e Bertioga, mas havia apenas um registro<br />

anterior nos manguezais (Olmos e Silva e Silva 2001, 2003).<br />

Chondrohierax uncinatus – Vários registros foram feitos<br />

em uma gran<strong>de</strong> área <strong>de</strong> manguezal aterrado (23°52’59”S,<br />

46°22’57”W), hoje coberta por um mosaico <strong>de</strong> brejos, campos<br />

úmidos e capoeiras que se limitam com os manguezais do rio<br />

Cubatão e do Canal <strong>de</strong> Piaçaguera. Três indivíduos (macho<br />

e fêmea adultos e um imaturo) foram observados planando<br />

juntos em 16 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2006 (Figura 1D) e <strong>de</strong>pois interagindo<br />

com um Buteo nitidus (veja adiante). Seis indivíduos<br />

(pelo menos um juvenil) planavam na mesma corrente termal<br />

na manhã do dia seguinte. Em 9 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2006, quatro<br />

indivíduos voavam a baixa altitu<strong>de</strong>, um <strong>de</strong>les sendo fotografado.<br />

Cinco exemplares foram registrados no dia 2 <strong>de</strong> setembro<br />

<strong>de</strong> 2006, e dois no dia seguinte. Em outra área próxima<br />

(23°51’40”S, 46°21’31”W), foi visto um exemplar sobrevoando<br />

um brejo dominado por taboas, na proprieda<strong>de</strong> da Fosfertil<br />

(Terminal Marítimo), em 9 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2007. Dois<br />

exemplares foram observados sobrevoando uma área no rio<br />

Piaçaguera (23°52’35”S, 46°23’59”W) no dia 27 <strong>de</strong> março <strong>de</strong><br />

2007. Os registros sugerem uma população resi<strong>de</strong>nte na área e<br />

que as aves mantém grupos sociais.<br />

Chondrohierax uncinatus é um gavião incomum, com<br />

poucos registros em São Paulo (nenhum na Baixada Santista,<br />

Willis e Oniki 2003) e que se alimenta, em gran<strong>de</strong> parte, <strong>de</strong><br />

caracóis terrestres. Embora seu consumo não tenha sido observado,<br />

é possível que se beneficie da abundância do caramujoafricano<br />

Achatina fulica, espécie exótica invasora extremamente<br />

comum na área utilizada pelos gaviões e também em<br />

toda a área do pólo industrial <strong>de</strong> Cubatão, incluindo o sopé da<br />

Serra do Mar. É uma a<strong>de</strong>nda à lista local.<br />

Rostrhamus sociabilis – Seis indivíduos, sobrevoando o Rio<br />

Cascalho em grupo no dia 20 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2004, provavelmente<br />

estavam em migração. Registrado na área anteriormente em<br />

uma única ocasião. A ausência <strong>de</strong> banhados com populações<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s caracóis aquáticos (existentes mais ao sul da área<br />

<strong>de</strong> estudo, p. ex. em Mongaguá), impe<strong>de</strong> a permanência da<br />

espécie na área.<br />

Accipiter bicolor – Um indivíduo jovem, possivelmente um<br />

macho, sobrevoando uma área entre os rios Diana e Sândi,<br />

composta <strong>de</strong> manguezais, campos <strong>de</strong> ciperáceas e restinga<br />

alterada (23°54’51”S, 46°18’47”W), no dia 11 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong><br />

2007, às 08:05 hs. Sua presença foi notada quando um Pitangus<br />

sulphuratus e um beija-flor vocalizavam e perseguiam o<br />

gavião. A<strong>de</strong>nda à lista local.<br />

Leucopternis lacernulatus – Um exemplar adulto planando<br />

sobre a mesma área on<strong>de</strong> foi registrado Chondrohierax uncinatus<br />

em 20 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2004. Registrado anteriormente em<br />

uma única ocasião, quando um par foi observado sobrevoando<br />

o rio Cascalho (Olmos e Silva e Silva 2001, 2003). Esporadicamente<br />

registrado nas encostas próximas da Serra do Mar<br />

e nos morros isolados ao longo da planície costeira, mesmo<br />

na proximida<strong>de</strong> <strong>de</strong> áreas urbanas (p. ex. no Parque Estadual<br />

Xixová-Japuí: 23°59’29”S, 46°23’22”W). A espécie é consi<strong>de</strong>rada<br />

ameaçada <strong>de</strong> extinção nacionalmente (MMA 2003).<br />

Buteo nitidus – Um exemplar juvenil observado pousado em<br />

uma Cecropia sp., em capoeira sobre área <strong>de</strong> manguezal aterrado<br />

(23°53’15”S, 46°22’47”W) nos dias 16 e 17 <strong>de</strong> maio<br />

<strong>de</strong> 2006. Na manhã do dia 16 a ave foi hostilizada por três<br />

Chondrohierax uncinatus (um casal <strong>de</strong> adultos e um juvenil),<br />

o macho realizando rasantes sobre o B. nitidus e <strong>de</strong>pois<br />

pousando em uma árvore próxima juntamente com o juvenil,<br />

enquanto a fêmea permanecia em vôo. Sem reação aparente<br />

por parte da ave agredida, o trio <strong>de</strong>ixou a área.<br />

Buteo nitidus é uma ave associada à hábitats abertos, com<br />

distribuição ampla no Brasil, mas não em São Paulo, on<strong>de</strong> é<br />

um invasor recente, associado ao <strong>de</strong>smatamento, com registros<br />

no norte (Sales <strong>de</strong> Oliveira) e su<strong>de</strong>ste (Capivari e Sorocaba) do<br />

Estado (Willis e Oniki 2003). Sua presença na planície litorânea<br />

é algo inesperada.<br />

Buteo brachyurus – No dia 25 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2007 um exemplar,<br />

morfo escuro, foi observado voando ao lado do manguezal<br />

do rio das Neves (23°53’58”S, 46°21’10”W), saindo da<br />

mata adjacente e retornando para o interior <strong>de</strong>sta. Interessante<br />

citar que o Orquidário Municipal <strong>de</strong> Santos já recebeu, nos<br />

últimos 6 anos, pelo menos 5 indivíduos <strong>de</strong>sta espécie provenientes<br />

da Baixada Santista, e todos eram morfos escuros.<br />

A<strong>de</strong>nda à lista local.<br />

Aramus guarauna – Ave incomum na Baixada Santista (Olmos<br />

e Silva e Silva 2003), uma pequena população parece estabelecida<br />

na mesma área <strong>de</strong> brejos e capoeiras on<strong>de</strong> Chondrohierax<br />

unicinatus foi observado, sendo que as aves também foram<br />

vistas no rio Piaçaguera e Canal <strong>de</strong> Piaçaguera em várias ocasiões<br />

em maio, junho e setembro <strong>de</strong> 2006. Um máximo <strong>de</strong> quatro<br />

indivíduos foram observados juntos, em 3 <strong>de</strong> setembro.<br />

Na manhã do dia 16 <strong>de</strong> maio um exemplar foi observado<br />

caminhando ao longo <strong>de</strong> uma trilha aberta em capoeira<br />

(23°53’04”S, 46°22’48”W). À aproximação, a ave <strong>de</strong>ixou cair<br />

um caracol Achatina fulica que levava no bico. O exame mostrou<br />

que a ave havia ferido o molusco e danificado o lábio <strong>de</strong><br />

sua concha. Outro A. guarauna foi encontrado predando um<br />

caracol africano no final da tar<strong>de</strong> do dia 25 <strong>de</strong> maio na mesma<br />

área (23°53’00”S, 46°24’00”W).<br />

A abundância <strong>de</strong> conchas vazias <strong>de</strong> A. fulica no local sugere<br />

que predadores estão consumindo gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong>sta espécie<br />

invasora, que ali é abundante. As observações mostram que<br />

A. guarauna, ave especialista em caçar moluscos aquáticos<br />

(Bryan 1986, Olmos e Silva e Silva 2001), está utilizando esta<br />

nova presa e mudando seus hábitos alimentares.<br />

Rallus longirostris – Sua ocorrência na região era baseada<br />

em apenas um espécime coletado na década <strong>de</strong> 1910 no rio<br />

Piaçaguera (Lue<strong>de</strong>rwaldt 1919). Registrada em outras locali‐


A<strong>de</strong>ndas e registros significativos para a avifauna dos manguezais <strong>de</strong> Santos e Cubatão, SP 555<br />

da<strong>de</strong>s vizinhas, como Praia Gran<strong>de</strong>, e mais ao sul, em Iguape<br />

e Cananéia (Willis e Oniki 2003, Olmos e Silva e Silva 2001,<br />

2003). Na manhã do dia 30 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2007, às 07:15 h,<br />

num trecho do rio Cascalho (23°54’01”S, 46°23’55”W), em<br />

Cubatão, observamos e fotografamos (Figura 1G) dois indivíduos<br />

<strong>de</strong>sta espécie correndo sobre o banco <strong>de</strong> lama durante<br />

a maré baixa. Ao mesmo tempo, ouvimos a vocalização <strong>de</strong><br />

outro indivíduo neste local e também mais dois exemplares<br />

vocalizavam na margem oposta, totalizando assim 5 indivíduos.<br />

Esta área é caracterizada pela presença <strong>de</strong> árvores <strong>de</strong><br />

mangue esparsas, arbustos <strong>de</strong> Hibiscus pernambucensis e<br />

<strong>de</strong>nsa cobertura <strong>de</strong> herbáceas halófitas. Posteriormente, na<br />

manhã do dia 24 <strong>de</strong> abril, neste mesmo local, 3 exemplares<br />

respon<strong>de</strong>ram ao play-back e também foram observados. Dois<br />

indivíduos foram atraídos pelo play-back <strong>de</strong> Laterallus melanophaius<br />

numa área <strong>de</strong> transição entre o manguezal e uma<br />

ilha <strong>de</strong> restinga alterada, com campos <strong>de</strong> gramíneas Spartina<br />

sp., entre os rios Diana e Sândi (23°55’04”S, 46°18’47”W),<br />

em Santos, no inicio da manhã do dia 30 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2007.<br />

No dia seguinte, no mesmo local, 3 exemplares foram atraídos<br />

pelo play-back, sendo fotografados. Foram registrados<br />

novamente neste mesmo local em outras ocasiões: no dia 8 <strong>de</strong><br />

agosto <strong>de</strong> 2007, um casal, 26 e 27 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2007 um<br />

casal, on<strong>de</strong> se alimentavam <strong>de</strong> caranguejos Uca spp. na maré<br />

baixa, em 28 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2007 um indivíduo, em 8 <strong>de</strong><br />

outubro <strong>de</strong> 2007 um casal e um jovem, em 9 e 10 <strong>de</strong> outubro<br />

<strong>de</strong> 2007 um casal.<br />

Logo em frente a esta área, na Ilha Diana (23°55’02”S,<br />

46°18’33”W), registramos no dia 26 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2007<br />

pelo menos 8 indivíduos numa área <strong>de</strong> aproximadamente 1 ha<br />

dominada por gramíneas Spartina sp., cercada por manguezais,<br />

que foram <strong>de</strong>tectados utilizando-se o play-back. Alguns<br />

exemplares se aproximaram e outros vocalizavam a certa distância.<br />

Em 11 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2007 registramos 4 exemplares na<br />

mesma área, na Ilha Diana, já no manguezal, quando respon<strong>de</strong>ram<br />

ao play-back.<br />

Amaurolimnas concolor – Dois exemplares ouvidos e gravados<br />

(Xeno-Canto 7890) no dia 15 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2006, em um ecótono<br />

manguezal/brejo com muitas ciperáceas e Hibiscus pernambucensis<br />

(23°52’57”S, 46°22’48”W). Este é o primeiro registro<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> uma década <strong>de</strong>sta espécie associada a brejos<br />

<strong>de</strong> água doce em restingas e florestas na área dos manguezais<br />

<strong>de</strong> Santos-Cubatão (Olmos e Silva e Silva 2001).<br />

Laterallus viridis – Vários exemplares ouvidos em maio,<br />

junho e setembro <strong>de</strong> 2006, em um mosaico <strong>de</strong> brejos e capinzais<br />

adjacentes ao manguezal (aproximadamente 23°53’15”S,<br />

46°22’45”W). Parece ser localmente comum. Pelo menos dois<br />

exemplares diferentes foram visualizados após serem atraídos<br />

por play-back. Uma gravação feita em 11 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2006<br />

documenta o registro (Xeno-Canto 7892).<br />

Uma esperada a<strong>de</strong>nda à lista local, esta pequena saracura<br />

ocorre em trechos dominados por gramíneas e herbáceas <strong>de</strong>nsas,<br />

não sendo necessariamente associada a áreas úmidas.<br />

Laterallus exilis – Um total <strong>de</strong> 15 exemplares (sete ouvidos<br />

simultaneamente) <strong>de</strong>tectados em 3 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2006 em<br />

manguezal aterrado com <strong>de</strong>nsa cobertura <strong>de</strong> capim (Paspalum<br />

sp.) com moitas da samambaia Acrostichum aureus<br />

em 23°53’04”S, 46°22’52”W. O registro foi documentado<br />

por gravações (Xeno-Canto 7891). Em outra área próxima<br />

(23°51’40”S, 46°21’31”W), em um brejo dominado por taboas,<br />

na proprieda<strong>de</strong> da Fosfertil (Terminal Marítimo), foram ouvidos<br />

2 exemplares que respon<strong>de</strong>ram ao play-back no dia 21 <strong>de</strong><br />

setembro <strong>de</strong> 2006.<br />

Laterallus exilis parece ocorrer em populações disjuntas<br />

na América do Sul, uma das quais isolada no litoral su<strong>de</strong>ste do<br />

Brasil, sendo pouco conhecida e local (Taylor 1998). Em São<br />

Paulo, foi registrada em Iguape, Sertãozinho e Pontal (Willis<br />

e Oniki 2003). Estes são os primeiros registros para a Baixada<br />

Santista.<br />

Neocrex erythrops – Assinalada para a região apenas a partir<br />

<strong>de</strong> um registro visual no rio Cascalho (Olmos e Silva e Silva<br />

2001), um espécime foi encontrado na área urbana <strong>de</strong> Santos<br />

no dia 26 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2006, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> forte chuva e vendaval,<br />

vindo a óbito e sendo <strong>de</strong>positado no Museu <strong>de</strong> Zoologia da<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo (MZUSP 76726). Este é o primeiro<br />

registro documentado para o Estado.<br />

Gallinula melanops – Anteriormente registrada durante a<br />

década <strong>de</strong> 1980 na área do Dique do Furadinho (23°53’19”S,<br />

46°26’34”W), um sítio <strong>de</strong> manguezais aterrados on<strong>de</strong> existiam<br />

várias lagoas <strong>de</strong> água doce (Uchôa et al. 1988, Olmos e<br />

Silva e Silva 2003). Um exemplar foi fotografado (Figura 1I)<br />

alimentando-se <strong>de</strong> algas crescendo sobre as margens lodosas<br />

do rio Cubatão, próximo à confluência com o rio Cascalho<br />

(23°52’50”S, 46°24’22”W) em 18 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2006, e<br />

observado no mesmo ponto no dia seguinte. Raramente registrada<br />

no Estado <strong>de</strong> São Paulo, este parece ser o primeiro registro<br />

documentado para a Baixada Santista (Willis & Oniki 2003).<br />

Fulica armillata – Antes resi<strong>de</strong>nte na área, tornou-se bastante<br />

rara com a <strong>de</strong>terioração das lagoas <strong>de</strong> água doce do Dique<br />

do Furadinho, on<strong>de</strong> nidificava, bem como a regeneração dos<br />

manguezais do rio Cascalho, que tornaram o hábitat subótimo<br />

para a espécie (Olmos e Silva e Silva 2003). Ainda são feitos<br />

registros esporádicos <strong>de</strong>sta espécie regionalmente ameaçada, a<br />

maioria no rio Cascalho (exceto on<strong>de</strong> indicado): um exemplar<br />

em 3 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2003; quatro em 2 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2003; dois<br />

em 9 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2003; um em 20 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2003;<br />

dois em 23 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2003; um em 21 <strong>de</strong> janeiro 2004;<br />

um em 25 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2004; oito em 20 <strong>de</strong> abril 2004; dois em<br />

22 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2004 (próximo à confluência dos rios Cascalho<br />

e Cubatão) e dois fotografados em 2 <strong>de</strong> julho 2004 (rio Cubatão).<br />

O padrão <strong>de</strong> ocorrência não parece apoiar a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> que as aves sejam visitantes vindas <strong>de</strong> estados sulinos do<br />

Brasil, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>slocariam nos meses mais frios, sendo<br />

possível que os manguezais recebam aves <strong>de</strong> outras áreas úmidas<br />

no leste do estado <strong>de</strong> São Paulo.


556 Robson Silva e Silva e Fábio Olmos<br />

Pluvialis dominica – Raramente registrada na região, 11 indivíduos<br />

foram fotografados no rio Cascalho em 30 <strong>de</strong> setembro<br />

<strong>de</strong> 2003, junto a uma gran<strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> Tringa flavipes,<br />

T. melanoleuca, Charadrius semipalmatus e C. collaris. No<br />

mesmo local, 10 indivíduos ainda estavam presentes em 2 <strong>de</strong><br />

outubro <strong>de</strong> 2003. Em 24 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2006 foram fotografados<br />

dois exemplares no rio Piaçaguera, em meio a um gran<strong>de</strong><br />

bando <strong>de</strong> Charadrius semipalmatus.<br />

Pluvialis squatarola – Também incomum nos manguezais,<br />

embora freqüente nas praias arenosas do sul do Estado, especialmente<br />

entre Peruíbe e Ilha Comprida. Dois indivíduos<br />

foram fotografados no rio Piaçaguera em 4 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong><br />

2006, e novamente, em 24 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2006, dois exemplares<br />

foram observados nesta mesma área. Nos dias 8 e 10 <strong>de</strong><br />

outubro <strong>de</strong> 2007 um exemplar foi observado se alimentando<br />

num banco <strong>de</strong> mexilhões coberto <strong>de</strong> algas, exposto na maré<br />

baixa, localizado entre a Ilha Diana e a Base Aérea <strong>de</strong> Santos<br />

(23°55’16”S, 46°18’38”W).<br />

Gallinago paraguaiae – Entre quatro e seis indivíduos observados<br />

nos dias 2 e 3 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2006 realizando vôos<br />

<strong>de</strong> exibição sobre a mesma área <strong>de</strong> manguezal aterrado on<strong>de</strong><br />

L. exilis foi encontrado. Este comportamento sugere que nidifica<br />

na região.<br />

Limosa haemastica – Os poucos registros recentes <strong>de</strong>sta rara<br />

espécie no estado <strong>de</strong> São Paulo ocorreram na área dos manguezais<br />

<strong>de</strong> Santos-Cubatão (Willis e Oniki 2003, Olmos e<br />

Silva e Silva 2001, 2003). Visitante migratório da América do<br />

Norte, foi registrado pela última vez no rio Cascalho, perto do<br />

rio Cubatão, em 2 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2003, quando foi observado<br />

um exemplar.<br />

Arenaria interpres – Um indivíduo fotografado (Figura 1H)<br />

nos bancos <strong>de</strong> lama do rio Cascalho próximo à confluência<br />

com o rio Cubatão em 2 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2003, estava associado<br />

a 10 Pluvialis dominica, 125 Tringa flavipes, 88 Charadrius<br />

semipalmatus e 3 Calidris fuscicollis. Espécie mais comum<br />

nas praias arenosas do sul do Estado (Ilha Comprida), sendo<br />

uma a<strong>de</strong>nda à listagem local.<br />

Calidris pusilla – Indivíduos solitários observados junto a<br />

algumas <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> Charadrius semipalmatus nos rios Cascalho<br />

(18 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2006) e Piaçaguera (no dia seguinte).<br />

Outro no mesmo local, fotografado com um gran<strong>de</strong> grupo <strong>de</strong><br />

C. semipalmatus, em 5 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2006. É um migrante<br />

oriundo da América do Norte e pouco numeroso ao sul do<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro, com apenas duas localida<strong>de</strong>s no estado <strong>de</strong> São<br />

Paulo (Willis e Oniki 2003). Havia sido observado poucas<br />

vezes na região (Olmos e Silva e Silva 2001).<br />

Calidris melanotos – Um indivíduo fotografado no rio Cascalho<br />

próximo à confluência com o rio Cubatão em meio a<br />

outras espécies <strong>de</strong> maçaricos (maioria Tringa flavipes), em 9<br />

<strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2003, e outro observado no rio Cubatão junto a<br />

dois T. flavipes e nove T. melanoleuca em 20 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong><br />

2003. Espécie registrada especialmente no interior do Estado<br />

(Willis e Oniki 2003), é uma a<strong>de</strong>nda à listagem local.<br />

Calidris himantopus – Um indivíduo fotografado (Figura 1E)<br />

junto a mais <strong>de</strong> 200 Tringa flavipes se alimentando nos bancos<br />

<strong>de</strong> lodo no Rio Piaçaguera, em 6 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2006, constitui<br />

o primeiro registro para São Paulo, já esperado, uma vez<br />

que a espécie ocorre no litoral do Paraná (Bornschein et al.<br />

1997).<br />

Phalaropus tricolor – Um indivíduo em plumagem <strong>de</strong> repouso<br />

foi fotografado (Figura 1F) em meio a outros maçaricos e<br />

batuíras no rio Cascalho, próximo à confluência com o rio<br />

Cubatão, em 2 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2003. A<strong>de</strong>nda à listagem local e<br />

segundo registro para o Estado, o anterior tendo sido feito por<br />

RSS na Ilha Comprida (Willis e Oniki 2003).<br />

Larus maculipenis – Sua ocorrência na região é baseada em<br />

apenas um espécime coletado em 1910 no rio Piaçaguera (Lue<strong>de</strong>rwaldt<br />

1919). Em 1 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2005 um indivíduo adulto<br />

foi observado pousado, na maré alta, no Lodo Direito, na área<br />

do Largo do Caneu, como parte <strong>de</strong> um grupo formado por 11<br />

Thalasseus maximus e 25 Larus dominicanus, os últimos mostrando<br />

comportamento agressivo contra L. maculipenis.<br />

Thalurania glaucopis – Dois machos observados na borda da<br />

ilha <strong>de</strong> restinga alterada do lado do manguezal, entre os rios<br />

Diana e Sândi (23°54’51”S, 46°18’46”W), no dia 10 <strong>de</strong> agosto<br />

<strong>de</strong> 2007. A<strong>de</strong>nda à lista local.<br />

Leucochloris albicollis – Um macho adulto foi capturado em<br />

re<strong>de</strong> <strong>de</strong> neblina numa ilha <strong>de</strong> restinga alterada na foz do rio<br />

Sândi (23°55’10”S, 46°18’52”W) no dia 14 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2007.<br />

A<strong>de</strong>nda à lista local.<br />

Melanerpes candidus – Amplamente distribuído no Estado,<br />

inclusive em áreas abertas no alto da Serra do Mar, é incomum<br />

no litoral (Willis e Oniki 2003). Dois exemplares registrados<br />

em 16 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2006 em capoeira próxima ao Morro do Casqueirinho,<br />

e novamente dois indivíduos em mosaico <strong>de</strong> capoeiras<br />

e áreas industriais ao lado do rio Piaçaguera (23°51’59”S,<br />

46°23’31”W) em 3 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2006. Nos dias 7 e 15 <strong>de</strong><br />

agosto <strong>de</strong> 2007 três exemplares foram registrados no manguezal,<br />

e na ilha <strong>de</strong> restinga alterada adjacente, numa área entre<br />

os rios Diana e Sândi (23°54’53”S, 46°18’51”W), e em 10 <strong>de</strong><br />

outubro <strong>de</strong> 2007 dois indivíduos vocalizando no interior da<br />

mesma ilha <strong>de</strong> restinga. Compartilha seu hábitat na borda dos<br />

manguezais com Colaptes campestris, outro colonizador <strong>de</strong><br />

áreas abertas.<br />

Piculus flavigula – Um macho adulto foi observado e fotografado<br />

forrageando no manguezal entre os rios Diana e Sândi<br />

(23°54’54”S, 46°18’51”W) ao lado <strong>de</strong> uma fêmea <strong>de</strong> Venilior-


A<strong>de</strong>ndas e registros significativos para a avifauna dos manguezais <strong>de</strong> Santos e Cubatão, SP 557<br />

nis spilogaster no dia 10 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2007. Na mesma região<br />

(23°55’15”S, 46°19’07”W), no manguezal, foram capturados<br />

com re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> neblina e anilhados com anilhas do CEMAVE<br />

uma fêmea adulta e um macho jovem no dia 14 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong><br />

2007. A<strong>de</strong>nda à lista local.<br />

Synallaxis ruficapilla – Alguns indivíduos registrados numa<br />

pequena ilha <strong>de</strong> restinga alterada entre os rios Diana e Sândi<br />

(23°54’52”S, 46°18’52”W), vocalizando e um capturado<br />

em re<strong>de</strong> <strong>de</strong> neblina em 14 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2007. A<strong>de</strong>nda à lista<br />

local.<br />

Phacellodomus ferrugineigula – Um exemplar vocalizando<br />

numa área dominada por ciperáceas Cladium jamaicensis,<br />

entre ilhas <strong>de</strong> restinga alterada e manguezal, localizada entre<br />

os rios Diana e Sândi (23°55’03”S, 46°18’50”W) foi atraído<br />

pelo play-back e capturado em re<strong>de</strong> <strong>de</strong> neblina, sendo encaminhado<br />

ao MZUSP. A<strong>de</strong>nda à lista local.<br />

Xenops minutus – Registrado nas ilhas <strong>de</strong> restinga alteradas<br />

na área entre os rios Diana e Sândi. Um exemplar capturado<br />

em re<strong>de</strong> <strong>de</strong> neblina em 5 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2007, encaminhado ao<br />

MZUSP, e outros dois vocalizando nos dias 14 e 15 <strong>de</strong> agosto<br />

<strong>de</strong> 2007. A<strong>de</strong>nda à lista local.<br />

Hemitriccus nidipendulus – Até 5 indivíduos registrados numa<br />

área dominada por ciperáceas Cladium jamaicensis, entre<br />

ilhas <strong>de</strong> restinga alterada e manguezal, localizada entre os rios<br />

Diana e Sândi (23°55’03”S, 46°18’50”W). Foram observados<br />

exemplares vocalizando nos dias 15 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2007, 28 <strong>de</strong><br />

setembro <strong>de</strong> 2007, 9, 10 e 11 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2007. Um espécime<br />

encaminhado ao MZUSP. A<strong>de</strong>nda à lista local.<br />

Todirostrum cinereum – Um casal observado nos dias 2 e 3<br />

<strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2006 construindo seu ninho, já quase completo,<br />

em uma Rhizophora mangle às margens do rio Cubatão<br />

(23°53’30”S, 46°23’36”W). Já havia sido observada por RSS<br />

nidificando na área urbana <strong>de</strong> Santos (Orquidário Municipal:<br />

23°57’56”S, 46°21’00”W), <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1994. Esta é uma nova adição<br />

à avifauna local e, aparentemente, os primeiros registros<br />

para o litoral <strong>de</strong> São Paulo.<br />

Lessonia rufa – Um indivíduo imaturo fotografado (Figura 1C)<br />

em 4 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2006 enquanto se alimentava sobre um<br />

banco <strong>de</strong> lama no rio Piaçaguera (23°51’58”S, 46°23’24”W),<br />

aparentemente apanhando insetos pousados, juntamente com<br />

Charadrius semipalmatus e Tringa flavipes. Espécie com distribuição<br />

no Cone Sul que, no Brasil, limita-se ao Rio Gran<strong>de</strong><br />

do Sul, tendo status <strong>de</strong> visitante migratório (Bencke 2001).<br />

Este é o primeiro registro para o Estado <strong>de</strong> São Paulo.<br />

Hymenops perspicillatus – Uma fêmea fotografada junto a<br />

uma poça <strong>de</strong> água em uma estrada <strong>de</strong> serviço, em área industrial<br />

ao lado do rio Piaçaguera (23°52’35”S, 46°23’41”W) nos<br />

dias 3 e 4 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2006. Apanhava insetos em vôo a<br />

partir do chão e da vegetação baixa, juntamente com um par<br />

<strong>de</strong> Fluvicola nengeta.<br />

A espécie é conhecida <strong>de</strong> apenas quatro registros no Estado<br />

<strong>de</strong> São Paulo, em Iguape, Pontal, Serra da Cantareira (Willis e<br />

Oniki 2003) e no rio Cascalho, Cubatão (Olmos e Silva e Silva<br />

2001), este sendo o primeiro registro documentado em mais<br />

<strong>de</strong> uma década.<br />

Myiarchus swainsoni – Dois exemplares observados vocalizando<br />

no manguezal entre os rios Diana e Sândi (23°54’59”S,<br />

46°18’48”W) no dia 28 se setembro <strong>de</strong> 2007. A<strong>de</strong>nda à lista<br />

local.<br />

Ilicura militaris – Uma fêmea foi capturada em re<strong>de</strong> <strong>de</strong> neblina,<br />

e anilhada com anilha do CEMAVE, numa ilha <strong>de</strong> restinga<br />

alterada na área entre os rios Diana e Sândi (23°55’02”S,<br />

46°18’52”W) no dia 6 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2007. A<strong>de</strong>nda à lista local.<br />

Cyanocorax cristatellus – Dois exemplares foram registrados<br />

no dia 24 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2007 numa ilha <strong>de</strong> restinga alterada<br />

entre os rios Diana e Sândi (23°55’07”S, 46°18’51”W). As<br />

gralhas foram notadas quando vocalizavam insistentemente<br />

no alto <strong>de</strong> uma árvore seca. As aves <strong>de</strong>monstravam comportamento<br />

agressivo contra um Leptodon cayanensis imaturo pousado<br />

numa árvore na restinga. A<strong>de</strong>nda à lista local.<br />

Corvus albus – Em 20 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2006 um indivíduo foi<br />

observado e fotografado sobrevoando a região do rio Cubatão,<br />

próximo a foz do rio Piaçaguera (23°52’48”S, 46°24’05”W),<br />

logo <strong>de</strong>pois ascen<strong>de</strong>ndo uma térmica sobre o manguezal da<br />

vizinha ilha Piaçaguera, juntando-se a cinco Coragyps atratus.<br />

Novamente, em 30 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2007, um indivíduo <strong>de</strong>sta<br />

espécie foi visto na mesma área. O primeiro registro <strong>de</strong>sta<br />

espécie exótica no Brasil foi efetuado por Bruno Lima em<br />

julho <strong>de</strong> 2004, na região portuária <strong>de</strong> Santos, quando foram<br />

observados e fotografados 3 exemplares. Outro indivíduo foi<br />

reportado nas proximida<strong>de</strong>s, em 26 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2006, na área<br />

do ferry-boat (23°59’11”S, 46°17’40”W) que realiza a travessia<br />

entre Santos e Guarujá (Bruno Lima, com. pess. 2006).<br />

Próximo a este mesmo local, em 28 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2007, às<br />

16:45 h, numa rua on<strong>de</strong> existe o comércio permanente <strong>de</strong> pescados<br />

provenientes do Terminal <strong>de</strong> Pesca <strong>de</strong> Santos, foram<br />

observados 2 exemplares pousados num dos telhados <strong>de</strong> uma<br />

das lojas. Um dos exemplares estava comendo um pedaço <strong>de</strong><br />

peixe (aparentemente a cauda), enquanto que o outro indivíduo<br />

apresentava comportamento agressivo, abrindo o bico,<br />

quando algum exemplar <strong>de</strong> Ar<strong>de</strong>a alba passava voando por<br />

perto. A. alba é visitante comum nestes locais on<strong>de</strong> sempre<br />

po<strong>de</strong>m encontrar restos <strong>de</strong> peixes para sua alimentação. Às<br />

16:57 h os dois exemplares <strong>de</strong> C. albus voaram em direção ao<br />

ferry-boat (Bruno Lima, com. pess. 2007).<br />

Corvus albus é uma espécie com ampla distribuição na África<br />

ao sul do Saara, on<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser um comensal humano abundante<br />

em áreas urbanas e na costa (Madge e Burn 1994, Borrow e Demey<br />

2001), sendo seu registro no litoral brasileiro algo inesperado.


558 Robson Silva e Silva e Fábio Olmos<br />

Tachyphonus cristatus – Uma fêmea observada numa ilha<br />

<strong>de</strong> restinga alterada, na área entre os rios Diana e Sândi<br />

(23°54’52”S, 46°18’51”W), no dia 13 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2007.<br />

A<strong>de</strong>nda à lista local.<br />

Thraupis cyanoptera – Dois indivíduos capturados em re<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> neblina, e anilhados com anilhas do CEMAVE, numa<br />

ilha <strong>de</strong> restinga alterada, na área entre os rios Diana e Sândi<br />

(23°55’03”S, 46°18’51”W), no dia 5 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2007. A<strong>de</strong>nda<br />

à lista local.<br />

Tangara peruviana – Uma fêmea capturada em re<strong>de</strong> <strong>de</strong> neblina,<br />

numa ilha <strong>de</strong> restinga alterada na foz do rio Sândi (23°55’10”S,<br />

46°18’52”W), no dia 8 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2007. (Espécime encaminhado<br />

ao MZUSP). A<strong>de</strong>nda à lista local.<br />

Hemithraupis ruficapilla – Uma fêmea capturada em re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

neblina, e anilhada com anilha do CEMAVE, numa ilha <strong>de</strong> restinga<br />

alterada na foz do rio Sândi (23°55’10”S, 46°18’52”W),<br />

no dia 15 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2007. A<strong>de</strong>nda à lista local.<br />

Euphonia violacea e Euphonia pectoralis – Diversos exemplares<br />

observados, e alguns capturados em re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> neblina e<br />

anilhados, nas ilhas <strong>de</strong> restinga alteradas localizadas na área<br />

entre os rios Diana e Sândi, nos meses <strong>de</strong> julho e agosto <strong>de</strong><br />

2007. A<strong>de</strong>ndas à lista local.<br />

Haplospiza unicolor – Associada a frutificações <strong>de</strong> bambu<br />

(Olmos, 1996), diversos exemplares registrados na Mata<br />

Atlântica do Sítio das Neves (23°54’09”S, 46°20’36”W), na<br />

região do Largo <strong>de</strong> Santa Rita, após o início da frutificação <strong>de</strong><br />

um bambu escan<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> pequeno porte (aparentemente um<br />

Chusquea), juntamente com Sporophila frontalis, pelo menos<br />

entre os dias 24 <strong>de</strong> setembro e 10 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2007. Em certas<br />

ocasiões alguns indivíduos pousavam sobre a vegetação do<br />

manguezal (Rhyzophora mangle) adjacente.<br />

Sporophila frontalis – Como H. unicolor, um especialista em<br />

frutificações <strong>de</strong> bambu, muitos indivíduos foram registrados<br />

na mesma área, pelo menos entre os dias 20 <strong>de</strong> agosto (Bruno<br />

Kamada, com. pess. 2007) e 10 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2007. Sua forte<br />

vocalização é facilmente i<strong>de</strong>ntificada a distância, on<strong>de</strong> foi possível<br />

efetuar algumas gravações (Xeno-Canto 15237). No dia<br />

20 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2007 um indivíduo foi registrado numa área<br />

<strong>de</strong> restinga alterada, entre os rios Diana e Sândi (23°55’07”S,<br />

46°18’52”W) (Bruno Kamada, com. pess. 2007). Neste período<br />

alguns exemplares foram capturados por moradores da<br />

Ilha Diana, para ficarem em gaiolas.<br />

Sporophila collaris – Espécie com ocorrência pontual no litoral<br />

<strong>de</strong> São Paulo, incluindo Cubatão (Willis e Oniki 2003, Olmos<br />

e Silva e Silva 2001, 2003), po<strong>de</strong>ndo ser consi<strong>de</strong>rada regionalmente<br />

rara. Foram feitos três registros: <strong>de</strong> casais e <strong>de</strong> um trio,<br />

respectivamente, em 11 <strong>de</strong> junho e 2‐3 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2006,<br />

em áreas brejosas dominadas por taboas e ciperáceas que se<br />

<strong>de</strong>senvolveram sobre manguezais aterrados em 23°52’59”S,<br />

46°22’57”W. Os exemplares mostravam plumagem com tons<br />

fortemente acanelados, como S. c. ochrascens do oeste <strong>de</strong> São<br />

Paulo, Pantanal e Bolívia, e S. c. melanocephala do sul do<br />

Brasil e países vizinhos.<br />

No entanto, em 2 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2006, o macho <strong>de</strong> um casal<br />

observado banhando-se em uma poça <strong>de</strong> água, numa estrada<br />

vicinal da mesma área, apresentava partes inferiores e colar<br />

nucal brancos, sem vestígio algum <strong>de</strong> canela na plumagem,<br />

lembrando a forma nominal <strong>de</strong> S. collaris, ou mesmo S. americana.<br />

Não foi possível confirmar a presença ou não <strong>de</strong> barras<br />

nas asas, <strong>de</strong> forma que o registro permanece incerto. Se este<br />

registro se <strong>de</strong>ve à co-ocorrência <strong>de</strong> duas formas na região ou a<br />

aves <strong>de</strong> gaiola soltas na área ainda precisa ser esclarecido.<br />

Sporophila leucoptera – Um macho adulto observado em um<br />

brejo dominado por taboas, próximo ao manguezal no Terminal<br />

Marítimo da Fosfertil (23°51’40”S, 46°21’32”W) em 8 <strong>de</strong><br />

março <strong>de</strong> 2005. Na ferrovia localizada ao lado do rio Sândi<br />

(23°55’10”S, 46°18’56”W) foi visto um macho adulto no dia<br />

31 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2007. Aparentemente não registrada anteriormente<br />

na Baixada Santista, embora com ocorrência esparsa<br />

no interior do Estado, on<strong>de</strong> parece ser um colonizador recente<br />

(Willis e Oniki 2003).<br />

Phaeothlypis rivularis – Um par observado e gravado em 8 <strong>de</strong><br />

março <strong>de</strong> 2005, em mata secundária <strong>de</strong> restinga encharcada,<br />

adjacente a um brejo dominado por taboas e contíguo ao manguezal<br />

no Terminal Marítimo da Fosfertil. Visitas posteriores<br />

mostraram que a espécie é resi<strong>de</strong>nte nas margens do brejo,<br />

perto do manguezal, bem como em vegetação secundária na<br />

parte central da ilha do Cardoso, sendo registrado regularmente<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> então.<br />

Em 8 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2007, registramos dois exemplares<br />

vocalizando no rio das Neves (23°53’58”S, 46°21’10”W),<br />

numa área <strong>de</strong> transição entre o manguezal e a mata atlântica.<br />

A<strong>de</strong>nda à listagem local.<br />

Agelasticus cyanopus – Espécie relativamente incomum no<br />

litoral paulista, obrigatoriamente associada a brejos com juncos<br />

e taboas. Há registros prévios para Santos-Cubatão (Olmos<br />

e Silva e Silva 2001, 2003). Casais <strong>de</strong>sta espécie foram observados<br />

nas mesmas áreas úmidas on<strong>de</strong> S. collaris foi encontrado,<br />

em 14‐16 e 25‐26 <strong>de</strong> maio e 9‐11 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2006.<br />

A população local é atribuível à subespécie atroolivaceus,<br />

forma disjunta restrita à faixa costeira entre o Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

e o norte do Paraná. Esta forma é diagnosticável pela coloração<br />

amarronzada quase uniforme das fêmeas, em comparação<br />

ao padrão amarelado com estrias escuras da forma nominal,<br />

encontrada no interior (Jaramillo e Burke 1999, Willis e Oniki<br />

2003).<br />

Entretanto, em 2 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2006, uma fêmea solitária<br />

da forma nominal foi observada na mesma área. É interessante<br />

notar que exemplares anteriormente capturados com re<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> neblina no mesmo sítio, em janeiro <strong>de</strong> 1998, pertenciam à


A<strong>de</strong>ndas e registros significativos para a avifauna dos manguezais <strong>de</strong> Santos e Cubatão, SP 559<br />

forma nominal. A situação lembra aquela reportada por Bornschein<br />

et al. (1994) para o litoral do Paraná, on<strong>de</strong> tanto a forma<br />

nominal como atroolivaceus co-ocorrem.<br />

Carduelis magellanica – Um macho adulto observado no<br />

dia 2 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2006 em uma estrada <strong>de</strong> serviço cortando<br />

o ecótono manguezal/capoeira no mesmo local on<strong>de</strong><br />

T. cinereum foi registrado constitui o primeiro registro para<br />

a área. Sua presença já era esperada, já que ocorre em várias<br />

localida<strong>de</strong>s próximas, incluindo São Vicente (Willis e Oniki<br />

2003).<br />

A região on<strong>de</strong> estes registros foram obtidos tem sido estudada<br />

com regularida<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1993, incluindo vários períodos<br />

on<strong>de</strong> pelo menos duas visitas mensais foram realizadas anualmente.<br />

O encontro <strong>de</strong> um número significativo <strong>de</strong> espécies<br />

novas para a região (e para o Estado) nos últimos anos é um<br />

testemunho tanto da dinâmica da avifauna <strong>de</strong> hábitats aquáticos<br />

e da tendência <strong>de</strong> várias espécies (inclusive Passeriformes)<br />

vagarem, quanto ao fato <strong>de</strong> que listas <strong>de</strong>finitivas para <strong>de</strong>terminada<br />

localida<strong>de</strong> só po<strong>de</strong>m ser obtidas sob circunstâncias muito<br />

incomuns. Comparativamente à Olmos e Silva e Silva (2003),<br />

as a<strong>de</strong>ndas aqui reportadas, 37, elevam a listagem local para<br />

247 espécies <strong>de</strong> aves.<br />

O encontro <strong>de</strong> Theristicus caudatus, Buteo nitidus, Melanerpes<br />

candidus, Todirostrum cinereum, Cyanocorax cristatellus<br />

e Sporophila leucoptera <strong>de</strong>monstra o fenômeno <strong>de</strong> colonização<br />

<strong>de</strong> áreas no domínio da Mata Atlântica por espécies<br />

<strong>de</strong> hábitats abertos, que estão expandindo sua área <strong>de</strong> distribuição.<br />

Algumas já se estabeleceram com sucesso na Baixada<br />

Santista, como Patagioenas picazuro (Olmos e Silva e Silva<br />

2003), enquanto outras ainda parecem não ter tido sucesso.<br />

Por exemplo, Nothura maculosa, que não é incomum em áreas<br />

abertas nos arredores da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo e na região do<br />

Alto Tietê (Mogi das Cruzes e Biritiba-Mirim), foi observada<br />

uma única vez no sopé da Serra do Mar em 19 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong><br />

2001, em um capinzal junto a uma área industrial (23°50’05”S,<br />

46°23’26”W).<br />

A aparente co-ocorrência <strong>de</strong> duas formas <strong>de</strong> Sporophila<br />

collaris e Agelasticus cyanopus na região levanta questões<br />

taxonômicas e biogeográficas que merecem maior atenção,<br />

embora seja possível que se trate do encontro <strong>de</strong> uma forma<br />

resi<strong>de</strong>nte com outra migratória, presente <strong>de</strong> forma sazonal na<br />

região.<br />

Corvus albus não é uma espécie habitualmente comercializada<br />

como animal <strong>de</strong> estimação e é provável que os exemplares<br />

observados tenham chegado à região a bordo <strong>de</strong> navios<br />

provenientes da África Oci<strong>de</strong>ntal, que regularmente também<br />

trazem imigrantes ilegais (humanos) para o Porto <strong>de</strong> Santos,<br />

especialmente da Nigéria.<br />

O possível estabelecimento da espécie levanta preocupações,<br />

já que Corvus spp. são predadores importantes <strong>de</strong> colônias<br />

<strong>de</strong> aves aquáticas e a avifauna local po<strong>de</strong> não saber reagir<br />

a um predador exótico.<br />

Muitas das a<strong>de</strong>ndas aqui relatadas correspon<strong>de</strong>m a aves<br />

típicas da Mata Atlântica que visitam as ilhas <strong>de</strong> restinga ou<br />

mesmo as colonizam em caráter permanente, embora a viabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> suas populações provavelmente <strong>de</strong>penda da conexão<br />

com a Serra do Mar próxima. É interessante que neste hábitat<br />

ocorram espécies ameaçadas <strong>de</strong> extinção como Tangara peruviana<br />

e Sporophila frontalis.<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

Somos gratos ao apoio financeiro da Fosfertil S.A., que<br />

patrocina nossas pesquisas nos manguezais da Baixada Santista<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1997. À Bruno Lima pelas informações inéditas<br />

sobre Corvus albus em Santos e pelo apoio nos trabalhos<br />

<strong>de</strong> campo na área da Embraport. Bruno Kamada, biólogo da<br />

Embraport, foi fundamental no auxílio dos trabalhos <strong>de</strong> campo<br />

na área da Embraport, resultando numa diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> registros<br />

raros e inéditos para a região. Greicilene Regina Pedro<br />

e José Fontenelle (Orquidário Municipal <strong>de</strong> Santos) forneceram<br />

dados referentes a algumas espécies, bem como permitiram<br />

a doação <strong>de</strong> exemplares ao MZUSP. À Luiz Fernando <strong>de</strong><br />

Andra<strong>de</strong> Figueiredo, pela revisão do manuscrito.<br />

Referências<br />

Bencke, G. A. (2001) Lista <strong>de</strong> referência das aves do Rio<br />

Gran<strong>de</strong> do Sul. Porto Alegre: Fundação Zoobotânica do<br />

Rio Gran<strong>de</strong> do Sul.<br />

Bornschein, M. R., B. L. Reinert e M. Pichorim (1994) Sobre<br />

Agelaius cyanopus no litoral do Paraná (Icteridae, Aves).<br />

Resumos do XX Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Zoologia, Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro, 519‐519.<br />

Bornschein, M. R., B. L. Reinert e M. Pichorim (1997) Notas<br />

sobre algumas aves novas ou pouco conhecidas no sul do<br />

Brasil. Ararajuba 5(1):53‐59.<br />

Borrow, N. e R. Demey (2001) A gui<strong>de</strong> to the birds of western<br />

Africa. Princeton: Princeton University Press.<br />

Bryan, D. C. (1996) Family Aramidae, p. 90‐95. Em: J. <strong>de</strong>l<br />

Hoyo, A. Elliott e J. Sargatal (eds.). Handbook of the<br />

birds of the world, vol. 3. Barcelona: Lynx Edicions.<br />

Carvalho, M. A. S. (Coord.) (2005) Guia das aves do Parque<br />

do Ibirapuera. São Paulo: Secretaria Municipal do Ver<strong>de</strong><br />

e do Meio Ambiente.<br />

Comitê Brasileiro <strong>de</strong> Registros Ornitológicos – CBRO (2007).<br />

Listas das aves do Brasil. 6ª edição (16/08/2007). Disponível<br />

em http://www.cbro.org.br. Acesso em 10/10/2007.<br />

Jaramillo, A. e P. Burke (1999) New World Blackbirds: the<br />

Icterids. Princeton: Princeton University Press.


560 Robson Silva e Silva e Fábio Olmos<br />

Lamparelli, M. C. (1998) Mapeamento dos ecossistemas costeiros<br />

do Estado <strong>de</strong> São Paulo. São Paulo: Secretaria do<br />

Meio Ambiente. CETESB.<br />

Lue<strong>de</strong>rwaldt, H. (1919) Os manguesaes <strong>de</strong> Santos. Rev. Mus.<br />

Paulista 11:310‐409.<br />

Madge, S. e H. Burn (1994) Crows and jays: a gui<strong>de</strong> to the<br />

crows, jays and magpies of the world. Boston: Houghton<br />

Mifflin.<br />

MMA (Ministério do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais<br />

Renováveis) (2002} Avaliação e ações prioritárias<br />

para conservação da biodiversida<strong>de</strong> das zonas costeira<br />

e marinha. Brasília: MMA.<br />

MMA (Ministério do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais<br />

Renováveis) (2003) Espécies da Fauna <strong>Brasileira</strong> Ameaçadas<br />

<strong>de</strong> Extinção. Anexo à Instrução Normativa nº 3<br />

<strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2003. Diário Oficial da União nº 101,<br />

28/09/2003, Seção 1.<br />

Olmos, F. (1996) Satiation or Deception: Mast-seeding Chusquea<br />

Bamboos, Birds and Rats in the Atlantic Forest.<br />

Rev. Brasil. Biol. 56:391‐401.<br />

Olmos, F. e R. Silva e Silva (2001) The avifauna of a southeastern<br />

Brazilian mangrove swamp. Internat. J. Ornithol.<br />

4:137‐207.<br />

Olmos, F. e R. Silva e Silva (2003) Guará: Ambiente, Flora<br />

e Fauna dos Manguezais <strong>de</strong> Santos-Cubatão. São Paulo:<br />

Empresa das Artes.<br />

Taylor, B. (1998) Rails: a gui<strong>de</strong> to the rails, crakes, gallinules<br />

and coots of the world. Yale: Yale University Press.<br />

Willis, E. O. e Y. Oniki (2003) Aves do Estado <strong>de</strong> São Paulo.<br />

Rio Claro: Editora Divisa.


ARTIGO<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> 15(4):561-568<br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007<br />

Sex-biased help and possible facultative control over offspring sex<br />

ratio in the Rufous-fronted Thornbird, Phacellodomus rufifrons<br />

Beatriz A. Ribeiro 1 , Lucas A. Carrara 1 , Fabrício R. Santos 1 and Marcos Rodrigues 2<br />

1. Departamento <strong>de</strong> Biologia Geral, ICB, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais, Brasil.<br />

2. Departamento <strong>de</strong> Zoologia, ICB, Caixa Postal 486, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais, 31270‐901, Belo Horizonte, MG,<br />

Brasil. E‐mail: ornito@icb.ufmg.br<br />

Recebido em 17 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2006; aceito em 29 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007.<br />

Resumo: Possível controle facultativo na razão sexual <strong>de</strong> ajudantes no joão-graveto, Phacellodomus rufifrons. Foi examinada a estrutura social e a<br />

<strong>de</strong>mografia <strong>de</strong> uma população <strong>de</strong> joão-graveto Phacellodomus rufifrons, uma espécie <strong>de</strong> furnarí<strong>de</strong>o que exibe reprodução cooperativa. Foram estudados<br />

aspectos potencialmente associados aos mecanismos seletivos que caracterizam a reprodução cooperativa: a origem do sexo dos ajudantes, a razão<br />

sexual <strong>de</strong> jovens e adultos e os padrões <strong>de</strong> dispersão <strong>de</strong> cada sexo. O trabalho foi feito no Parque Nacional da Serra do Cipó, estado <strong>de</strong> Minas Gerais no<br />

su<strong>de</strong>ste do Brasil. Foram monitoradas oito a 10 famílias entre os anos <strong>de</strong> 2000 e 2003 em uma área <strong>de</strong> cerrado <strong>de</strong> aproximadamente 80 ha. Amostras <strong>de</strong><br />

tecido sanguíneo foram coletadas nos indivíduos marcados com anilhas coloridas. Foi aplicada a técnica molecular para <strong>de</strong>terminar o sexo dos filhotes e<br />

adultos, uma vez que o dimorfismo sexual é ausente nesta espécie. A população estudada apresenta reprodução cooperativa <strong>de</strong> parentesco, com grupos<br />

sociais compostos <strong>de</strong> um casal reprodutor e seus filhotes que prorrogam a dispersão. O comportamento <strong>de</strong> ajuda foi <strong>de</strong>tectado principalmente entre os<br />

jovens machos. As fêmeas jovens ten<strong>de</strong>m a dispersar antes, permanecendo no território natal por não mais que um ano. Os machos jovens prorrogam a<br />

dispersão, permanecendo nos territórios natais por pelo menos três anos. A razão sexual <strong>de</strong>sviada a machos resulta principalmente da ten<strong>de</strong>nciosida<strong>de</strong><br />

do recrutamento <strong>de</strong> jovens. A primeira ninhada <strong>de</strong> casais reprodutores é ten<strong>de</strong>nciosa em relação a machos, o sexo ajudante. Estas <strong>de</strong>scobertas sugerem<br />

que as fêmeas <strong>de</strong> P. rufifrons po<strong>de</strong>m estar exibindo controle facultativo sobre a razão sexual dos seus filhotes.<br />

Palavras-chave: Cuidado parental, dispersão tardia, filopatria, reprodução cooperativa, suboscines.<br />

Abstract:We examined the social structure and <strong>de</strong>mography of a cooperative breeding population of the Rufous-fronted Thornbird Phacellodomus<br />

rufifrons, a neotropical ovenbird that inhabits open scrublands in South America. We focused on aspects potentially associated with the selective<br />

mechanisms un<strong>de</strong>rlying cooperative breeding: the origin and sex of helpers, the sex ratio of young and adult population, and the dispersal patterns<br />

of young of each sex. The study was conducted at ‘Parque Nacional da Serra do Cipó’, a natural reserve in southeastern Brazil. Eight to ten social<br />

groups were monitored on a scrubland area of about 80 ha, during 2000‐2003. Individuals were color-ban<strong>de</strong>d and blood or feather shafts were sampled.<br />

Molecular techniques were used to <strong>de</strong>termine the sex of adult and fledgling, as sexual dimorphism is absent in the species. Kin-based cooperative<br />

breeding occurs, with social groups composed of a breeding pair and offspring that <strong>de</strong>layed dispersal. Help was mainly due to young males. Female<br />

offspring ten<strong>de</strong>d to disperse earlier and remain in the natal territory up to one year, while males, <strong>de</strong>layed dispersal for up to three years. Sex ratio skews<br />

towards male in the adult population resulted mainly from biases in the sex ratio of recruited young. The first brood of breeding pairs was biased towards<br />

males, the helper sex. Our findings suggest that Rufous-fronted Thornbird female may exhibit facultative control of offspring sex ratio.<br />

Key-words: Cooperative breeding <strong>de</strong>layed dispersal, parental care, philopatry, suboscines.<br />

Cooperative breeding occurs whenever more than two individuals<br />

help rear the offspring of one pair (Emlen and Vehrencamp<br />

1985), and has been reported for 308 bird species across<br />

27 families, accounting for ~3% of all 9672 bird species<br />

<strong>de</strong>scribed (Arnold and Owens 1998). Despite this generally<br />

accepted <strong>de</strong>finition, cooperative breeding inclu<strong>de</strong>s a diverse<br />

array of mating and social systems (Ligon and Burt 2004).<br />

A general observation in cooperative species is that one<br />

sex usually helps more than the other (Cockburn 1998). Helping<br />

is often expressed by sons (Emlen 1997, Ewen et al. 2001),<br />

but may also be exhibited predominantly by daughters or by<br />

both sexes (see references in Cockburn 2004). Sex ratio biases<br />

towards the sex that helps to rear offspring were previously<br />

reported for cooperative bree<strong>de</strong>rs such as the red-cocka<strong>de</strong>d<br />

woodpecker (Picoi<strong>de</strong>s borealis) (Gowaty and Lennartz 1985)<br />

and the Seychelles warbler (Acrocephalus sechellensis) (Kom<strong>de</strong>ur<br />

1996, Kom<strong>de</strong>ur et al. 1997). The control over offspring<br />

sex ratio gives support to the local resource enhancement<br />

hypothesis (review in Kom<strong>de</strong>ur 1996), which predicts biases<br />

in offspring sex ratio when one sex contributes more to the<br />

parental fitness through the helping behavior.<br />

The Rufous-fronted Thornbird Phacellodomus rufifrons,<br />

an en<strong>de</strong>mic neotropical Furnariidae (ovenbird) is a cooperative<br />

bree<strong>de</strong>r, where more individuals than just the breeding pair<br />

helps in territory maintenance, nest building and feeding the<br />

nestling (Rodrigues and Carrara 2004). Here, we investigate<br />

the structure of cooperative breeding system and <strong>de</strong>mography<br />

of the population studied by Rodrigues and Carrara (2004). We<br />

focused on those aspects of greater relevance to un<strong>de</strong>rstanding<br />

the mechanisms of expression or maintenance of cooperative<br />

breeding in this species, namely: 1. The sex and origin of helpers:<br />

is one sex more prone to help than the other, and is helping<br />

behavior expressed by retained offspring only 2. Dispersal<br />

behavior of young: do male and female offspring have similar


562 Beatriz A. Ribeiro, Lucas A. Carrara, Fabrício R. Santos and Marcos Rodrigues<br />

dispersal patterns, is there a philopatric sex 3. The sex ratio<br />

of the adult population and recruited young: is there a bias<br />

towards the helper sex in any of these levels<br />

Methods<br />

The Species – The Rufous-fronted Thornbird is a monomorphic<br />

ovenbird that inhabits thorny scrublands of South America<br />

(Ridgely and Tudor 1994). It lives in pairs or groups of up<br />

to ten individuals, on all-purpose territories maintained throughout<br />

the year. Territory size ranges from about two to four<br />

ha (Rodrigues and Carrara 2004). Rufous-fronted Thornbirds<br />

build one of the largest nests of the Neotropical ovenbirds<br />

(Sick 1993); nests may be up to 2 m long and approximately<br />

0.4 m wi<strong>de</strong>. The nest is ma<strong>de</strong> of sticks and usually has two<br />

or three in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt chambers, each with its own entrance.<br />

Nests are usually at the extremities of thin branches of isolated<br />

trees. More than one nest can be built and maintained in a<br />

single territory. They are used not only for breeding, but also<br />

as an overnight roosting site throughout the year (Carrara and<br />

Rodrigues 2001). In southeastern Brazil, the breeding season<br />

starts at about mid September and lasts until early April. Nests<br />

are very asynchronous, clutch size ranges from 2 to 3, and<br />

reproductive success is generally low (Carrara and Rodrigues<br />

2001). Several group members participate in territory <strong>de</strong>fense,<br />

nest-building, nest-lining, and nestling provision (Rodrigues<br />

and Carrara 2004).<br />

The study was conducted from June 2000 to June 2003 at<br />

‘Parque Nacional da Serra do Cipó’, city of Jaboticatubas, in<br />

the central region of Minas Gerais state, southeastern Brazil.<br />

The study site (19°12’ to 19°35’S and 43°27’ to 43°38’W)<br />

encompasses about 80 ha of area within the park, and inclu<strong>de</strong>s<br />

gallery forests and cerrado (an open scrub savannah-like vegetation,<br />

see Rodrigues et al. 2005 for <strong>de</strong>tails).<br />

With a dry period from April to September and a wet period<br />

from October to March, the average annual precipitation is<br />

approximately 1500 mm, falling primarily between December<br />

and March. Mean annual temperature varies between<br />

17°C‐18.5°C (Antunes 1986).<br />

Sixty-three individuals occupying twelve territories were<br />

captured with mist-nets and ban<strong>de</strong>d with metal bands provi<strong>de</strong>d<br />

by the Brazilian Environmental Agency (CEMAVE-IBAMA).<br />

A unique combination of color plastic bands was assigned to<br />

each bird.<br />

As nests chambers are almost closed, with only a small<br />

opening, nestlings could only be captured after they had left the<br />

nest. They were captured during the first week out of the nest to<br />

enable tissue sampling, as the first month is the period of highest<br />

mortality among the young (Carrara and Rodrigues 2001).<br />

Group Composition and Parental Care – During the breeding<br />

seasons (September to April), ten territories were monitored<br />

every two weeks. Group composition was <strong>de</strong>termined<br />

by observation of activities on territories during the day, and<br />

nest roosting behavior, which was important for confirming<br />

the i<strong>de</strong>ntity and number of territory occupants.<br />

Feeding activity of young was monitored from early morning<br />

and sessions ranged from four to six hours. Attempts were<br />

ma<strong>de</strong> to reduce the influence of the investigators by hiding<br />

behind shrubs or woodpiles, when possible, and artificial hi<strong>de</strong>s<br />

10 m from the nests were used in some cases.<br />

Dominance Status – Dominance was attributed to breeding<br />

pairs in territories that most actively fed the young. Other birds<br />

were referred to as subordinates, as they usually consisted<br />

of offspring, and presumably were not involved in breeding<br />

attempts in their natal territory. When a subordinate individual<br />

helped dominants in feeding the young, it was referred to as a<br />

helper (Rodrigues and Carrara 2004).<br />

Molecular Sexing – One of the problems faced by researchers<br />

studying social behavior in the Furnariidae is the lack of<br />

sexual dimorphism in almost all species of the family (Remsen<br />

2003, Faria et al. 2007, but see Roper 2005). To overcome this<br />

drawback, here we employed molecular technique for sexing<br />

individual birds.<br />

Feather shafts or blood samples were taken from 60 birds.<br />

Blood samples of 25 to 50 µL were collected by wing venipuncture,<br />

using BD 30x3 dischargeable needles and capillary<br />

tubes. The samples were stored in 1.5 mL tubes containing<br />

500 µL of absolute ethanol (Caparroz et al. 2001) that were<br />

kept at 4°C until being processed. Feather shafts were stored<br />

in 70% ethanol at room temperature.<br />

DNA was extracted from blood and feather shafts by<br />

standard phenol-chloroform methods and stored in TE buffer<br />

(Sambrook et al. 1989). DNA samples were used in molecular<br />

sexing method with P2 and P8 primers for PCR as <strong>de</strong>scribed by<br />

Griffiths et al. (1998). Following the PCR reaction, 5 µl were<br />

submitted to electrophoresis in an 8% native polyacrylami<strong>de</strong><br />

gel in TBE 1X, at 125V for about four hours, after which they<br />

were visualized by silver staining (Santos et al. 1996).<br />

Statistical analysis – We tested for a bias in adult sex ratios<br />

during the three years with the log likelihood ratio test (the<br />

G‐test). Differences in dominance turnover rates and the sex ratio<br />

of recruited young were analyzed using the Stu<strong>de</strong>nt’s t‐test.<br />

Fisher’s exact test was used to test for a bias in the sex<br />

ratio of the young produced in first broods compared with that<br />

found in broods produced by pairs with tenure, accompanied<br />

by male offspring. We <strong>de</strong>fined tenured pairs as those that had<br />

already produced one brood together in the study site.<br />

Results<br />

Mean observation time of feeding activity of young was<br />

6.3 (± 6.08) hours/group in the first two years. In the third year<br />

it was increased to 24.3 (± 12.8) hours/group, as fieldwork<br />

efforts could be enlarged.


Sex-biased help and possible facultative control over offspring sex ratio in the Rufous-fronted Thornbird, Phacellodomus rufifrons 563<br />

Sex and the Origin of Helpers – Only subordinate males were<br />

observed acting as helpers, with one exception during an unusual<br />

circumstance of brood parasitism. During the three breeding<br />

seasons, eight males were observed helping the dominant<br />

pair feed the young: of these, six were certainly young<br />

that <strong>de</strong>layed dispersal, two of which expressed helping behavior<br />

already in the same breeding season they were produced<br />

(Table 1).<br />

Subordinate females were present in the study site in one<br />

breeding season. These were three one-year-old females that<br />

<strong>de</strong>layed dispersal and were in the natal territory when their<br />

parents reproduced again. No subordinate female helped in<br />

the rearing offspring, although two were seen near the nest<br />

with food in their beaks; this food was either consumed or was<br />

dropped.<br />

Social groups were composed of one breeding pair and<br />

offspring that <strong>de</strong>layed dispersal, and remained in the natal territory.<br />

Sometimes, immigrants associated with family groups<br />

for short periods, such as overnight roosting. In one instance,<br />

an immigrant male was in a territory when nestlings were<br />

being reared, and while seen adding sticks to the nest, he did<br />

not help feed the nestlings. This was the only instance in which<br />

a subordinate male did not feed the nestlings<br />

When Daughters Helped – A female offspring helped in one<br />

unusual circumstance, which was when a parasitic cuckoo<br />

was being reared by the group. The group involved inclu<strong>de</strong>d<br />

the dominant pair (third year breeding here) and offspring<br />

(one yearling female and two young born in the same year).<br />

Although the dominant female used the nest for overnight<br />

roosting, she was not seen feeding the cuckoo. The dominant<br />

male <strong>de</strong>livered food, helped by two daughters (observation<br />

effort = 28 hours). When females were not found in the group,<br />

males exclusively cared for the young. This occurred in two<br />

territories when the dominant female disappeared during the<br />

nestling period.<br />

Routes to become dominant – Thornbirds became dominant by<br />

following one of at least three different ways: 1) dispersal in<br />

the first year and immediate occupation of an unoccupied territory,<br />

only females (n = 2); 2) <strong>de</strong>layed dispersal and occupation<br />

of a nearby territory as dominant, seen in both, males and<br />

females (n = 2); 3) dispersal and occupation of subordinate<br />

position in an alien territory until finding a nearby vacancy,<br />

observed only in one female. Territory inheritance may also<br />

have occurred twice in the study area, but no breeding was<br />

observed. These territories were occupied by a mother and her<br />

male offspring.<br />

Males that <strong>de</strong>lay dispersal may benefit from the security<br />

provi<strong>de</strong>d by the use of their parental territory while searching<br />

for territory vacancies. In his third year in his natal territory,<br />

a subordinate male crossed two territories and was captured<br />

in an area where the dominant single male had recently lost<br />

its mate. During the same breeding season, this subordinate<br />

male was successful in occupying a neighboring territory as<br />

dominant after the previous dominant male disappeared. Also,<br />

a return to the natal territory occurs, as noted for a male helper<br />

that had left its original territory early in a breeding season,<br />

returning two months later at the end of the breeding season.<br />

Turnover rates of dominant individuals – Eighteen dominant<br />

individuals disappeared from the study site: 11 females, and<br />

seven males. Disappearance rate of dominant females was<br />

twice that of males in the first two years, reaching 50% of<br />

dominant females in the third year (Table 2). Average turnover<br />

rates, however, were equal among the sexes (t = 1.29, n = 6,<br />

d.f. = 4, p > 0.05). Territory openings as dominants occurred<br />

at 38% per year for females and 24% per year for males.<br />

Dominance positions for females became vacant on an annual<br />

mean rate of 38% of existing territories, while for males this<br />

value was 24%.<br />

Sex Ratio – With P2 and P8 primers, males and females were<br />

successfully distinguished. The PCR products showed two<br />

bands for females and a single band for males, corresponding<br />

to distinct gene targets: CHD‐Z from Z chromosomes which<br />

Dispersal Patterns<br />

Among young – Female offspring dispersed predominantly<br />

just before or during the breeding season following their birth<br />

(11.1 ± 5.2 months; n = 7), while males ten<strong>de</strong>d to remain in<br />

the natal territory for periods ranging from one to three years<br />

(16.5 ± 10.8 months; n = 11; Fig. 1). We observed 14 dispersal<br />

events: offspring dispersal, change of territories by adults and<br />

immigration. In most cases, individuals occupied the territory<br />

as dominants (79%). In three cases, immigrants in occupied<br />

territories with a dominant pair were subordinate and briefly<br />

stayed in the territory (three to four months). The only female<br />

in the latter group became dominant in an adjacent territory.<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />


564 Beatriz A. Ribeiro, Lucas A. Carrara, Fabrício R. Santos and Marcos Rodrigues<br />

Table 1. Behavior of subordinate Rufous-fronted Thornbird individuals, as recor<strong>de</strong>d along the nestling-feeding period. Only events of co-specific broods were<br />

consi<strong>de</strong>red.<br />

Breeding season Number of breeding groups sampled<br />

Helpers<br />

Non-helpers<br />

Males Females Males Females<br />

2000/01 02 04 0 0 0<br />

2001/02 03 04 0 0 0<br />

2002/03 04 04 0 01 03<br />

Table 2. Disappearance rate of dominant Rufous-fronted Thornbird males and females at the study site.<br />

Year<br />

Territories occupied<br />

Disappeared Dominants Frequency (%)<br />

Females Males Females Males<br />

2000/01 10 4 2 40.0 20.0<br />

2001/02 8 2 1 25.0 12.5<br />

2002/03 10 5 4 50.0 40.0<br />

Average (SD) — 3.67 (1.53)† 2.33 (1.53) 38.3 (12.6) 24.2 (14.2)<br />

(†) t = 1.29, n = 6, d.f. = 4, p > 0.05<br />

Table 3. Sex ratio of the Rufous-fronted Thornbird adult population at the study site. Sex ratio is <strong>de</strong>scribed as the proportion of males in the population.<br />

Year Number of territories<br />

Number of subordinates<br />

Total number<br />

Males Females Males Females<br />

Adult sex ratio<br />

2000/01 10 9* 1 19 11 0.63<br />

2001/02 8 6* 1 14 9 0.61<br />

2002/03 10 7 4 17 14 0.54<br />

(*) G test: D = 7.24, n = 10, d.f. = 01, p < 0.05 (2000/01); D = 3.88, n = 07, p < 0.05 (2001/02)<br />

Table 4. Total number of Rufous-fronted Thornbird males and females<br />

recruited in territories at the study site. Recruitment means offspring survival<br />

until the end of the breeding season.<br />

Year<br />

Recruited young<br />

Males<br />

Females<br />

Ratio of males<br />

2000/01 05 02 0.71<br />

2001/02 04 03 0.57<br />

2002/03 04 02 0.67<br />

Total 13** 07 0.65<br />

(**)T test: t = 5.08, n = 06, d.f. = 04, p < 0.01<br />

Table 5. Sex ratio (at fledgling) of first broods, and broods of tenured breeding<br />

pairs. Pairs were sampled only once in each condition. Only broods for which<br />

all fledglings were sampled were consi<strong>de</strong>red. Sex ratio is <strong>de</strong>scribed as the<br />

proportion of males in the brood.<br />

Brood sex ratio<br />

Pairs first brood Tenured pairs brood<br />

Broods sampled 1.0 0.0<br />

1.0 0.5<br />

1.0 1.0<br />

1.0 0.5<br />

1.0 0.0<br />

Average (SD) 1.0 (0)** 0.4 (0.42)<br />

appear as a pair in males, and CHD‐W from W chromosomes<br />

which appear only in females that bear also a copy of the Z<br />

chromosome. The size difference between the distinct chromosome<br />

genes is about 20 base pairs.<br />

The adult sex ration was 50:50 (G = 2.12, n = 30, d.f. = 1,<br />

p > 0.05 (2000/01); G = 1.07, n = 23, d.f = 1, p > 0.05;<br />

G = 0.29, n = 31, d.f. = 1, p > 0.05 (2002/03). In subordinates,<br />

a bias toward males occurred in the first two years [G = 7.24,<br />

n = 10, d.f. = 1, p < 0.05 (2000/01); G = 3.88, n = 07, d.f. = 01,<br />

p < 0.05 (2001/02); G = 0.82, n = 11, d.f = 1, p > 0.05<br />

(2002/03)]. In the three years of the study, the frequency of<br />

subordinate males was 0.9, 0.86, and 0.64, respectively.<br />

The difference in the frequency of subordinate males and<br />

females is due to the sex ratio of recruited young (Table 4).<br />

Thirteen males were recruited over the three breeding seasons,<br />

(**) Fisher exact test: n = 21, p = 0.01<br />

while only seven females were recruited. More males than<br />

females were recruited in every year. On average, 65% of the<br />

young recruited in any one year were males, a percentage significantly<br />

higher than that of females (t = 5.08, n = 6, d.f. = 4,<br />

p < 0.01). Stronger <strong>de</strong>viations were recor<strong>de</strong>d in the first (0.71)<br />

and the third year (0.67) of the study.<br />

Sex ratio biases produced by non-tenured pairs – The analysis<br />

of offspring sex ratio data taking into account the tenure of<br />

breeding pairs (namely, if individuals had already bred in the<br />

area) revealed a striking bias towards males in the broods produced<br />

by non-tenured pairs (Table 5). Pairs that matched this<br />

condition produced young males in a higher frequency than


Sex-biased help and possible facultative control over offspring sex ratio in the Rufous-fronted Thornbird, Phacellodomus rufifrons 565<br />

tenured pairs, whose brood sex ratio averaged equality, with a<br />

slight <strong>de</strong>viation towards female production (Two-tailed Fisher<br />

exact test: n = 21, p = 0.0124). All first broods generated by<br />

monitored pairs were composed exclusively by males, in clutches<br />

of 2,0 ± 0,71 young (n = 5).<br />

Discussion<br />

The Rufous-fronted Thornbird exhibits kin-based cooperative<br />

breeding, with social monogamy (sensu Hasselquist and<br />

Sherman 2001). The social groups were composed of a breeding<br />

pair and undispersed offspring, usually males. Female offspring<br />

dispersed up to one year from birth, sooner than males,<br />

which remains for up to three years. Male biased sex ratio in<br />

the adult population resulted mainly from biases in the sex<br />

ratio of recruited young. Biases in the sex ratio of young were<br />

high among the first brood of breeding pairs, favoring males,<br />

the helping sex. Our findings thus suggest that females may<br />

exhibit facultative control of offspring sex ratio.<br />

Sex-biased Helping Behavior – In the Rufous-fronted Thornbird,<br />

male offspring are essentially the only young that help.<br />

Accordingly, it has been shown that in cooperative species<br />

usually one sex helps more than the other (review in Cockburn<br />

1998).<br />

Female Rufous-fronted Thornbird apparently may help,<br />

as seen in one case, but even so, it is rare. Additional efforts<br />

are necessary to verify the extent of bias in helping behavior<br />

between offspring of both sexes un<strong>de</strong>r different social circumstances,<br />

for instance, after a dominant (male or female) disappearance.<br />

Here, female offspring became helpers when their<br />

mother was not involved in rearing young activity, what suggests<br />

that dominant behavior may play a <strong>de</strong>terminant role in<br />

the expression of helping behavior by the offspring.<br />

Dispersing Patterns – Delayed dispersal is a very frequent<br />

strategy in cooperative bree<strong>de</strong>rs, largely consi<strong>de</strong>red as a prerogative<br />

for the <strong>de</strong>velopment of kin-based cooperative systems<br />

(Koenig et al. 1992, Dinckinson and Hatchwell 2004).<br />

It reflects the common interests of the offspring and their<br />

parents, which usually results in increased parental productivity<br />

through higher young or parental survival (Cockburn<br />

1998). In the Rufous-fronted Thornbird, all observed young<br />

(12 males, 6 females) had a great ten<strong>de</strong>ncy to remain in the<br />

natal territory during most of the non-breeding season. This<br />

prolonged association with the natal territory and parents may<br />

bring important benefits to the offspring (Emlen 1982), especially<br />

along the dry season when insect availability, the main<br />

diet component of this species (Sick 1993), may be severely<br />

reduced in the area (Ekman et al. 2004). The retained offspring<br />

may have access to those feeding areas used by their<br />

parents or familiar group, and may benefit from an elevated<br />

protection against predators offered by an efficient group<br />

guarding, as indicated by the immediate alarm vocalizations<br />

produced when observers were located (Rodrigues and Carrara<br />

2004).<br />

Constraints to Adult Dispersal and In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt Breeding<br />

– Delayed dispersal is often associated with shortage of<br />

resources required to in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt breeding, such as vacant<br />

areas or mates (Emlem 1982a, Koenig et al. 1992, Hatchwell<br />

and Kom<strong>de</strong>ur 2000). Cooperative breeding populations frequently<br />

live in saturated habitats (Arnold and Owens 1998),<br />

where breeding vacancies constitute a limiting resource to<br />

reproduction (Pruett-Jones and Lewis 1990, Kom<strong>de</strong>ur 1992,<br />

Walters et al. 1992). The availability of breeding vacancies<br />

seems in<strong>de</strong>ed to play an important role in dispersion <strong>de</strong>cision<br />

of the Rufous-fronted Thornbird offspring. When dominance<br />

positions became available in neighbor territories, yearling<br />

females left their natal group and moved to these territories.<br />

The same was noted for a male that dispersed – after having<br />

spent 36 months in the natal territory – to acquire a breeding<br />

vacancy in a neighbor group. The shortage of this resource<br />

in the study site is a consequence of the low turnover rates<br />

of dominants and the scarcity of suitable areas for the establishment<br />

of new territories. Habitat saturation thus could be a<br />

key factor inducing Rufous-fronted Thornbird young to <strong>de</strong>lay<br />

dispersal.<br />

In the population studied, male offspring is probably facing<br />

higher constraints to obtain breeding opportunities than<br />

females, as suggested by the strong contrast between the number<br />

of subordinates of both sexes in the area and the frequency<br />

of dominance vacancies arising. Not only was the number of<br />

individuals competing for a breeding vacancy much higher<br />

among males, but also the likelihood of a dominance position<br />

to become available was lower. These conditions probably<br />

promote the longer permanence of male offspring with their<br />

parents, favoring the expression of helping behavior.<br />

Skutch (1969), who was the pioneer in studying the Rufousfronted<br />

Thornbird breeding system, did not <strong>de</strong>tect cooperative<br />

breeding in a population inhabiting the Venezuelan scrubland.<br />

Territories were occupied predominantly by one pair, but in<br />

some cases groups of three birds were formed by the retention<br />

of young for up to one year. This finding sharply contrasts to<br />

the high cooperative breeding levels <strong>de</strong>tected in the population<br />

studied here, that ranged around 60% of extant territories. In<br />

the carrion crow (Corvus corone), another species with kinbased<br />

cooperative breeding, helping behavior was <strong>de</strong>monstrated<br />

to respond to environmental conditions. In a transplantation<br />

experiment, Baglione et al. (2002) transferred carrion<br />

crow eggs originated from a population of non-cooperatives<br />

to a population with high level of cooperative breeding. Five<br />

out of six transplanted young <strong>de</strong>layed dispersal, and two of<br />

those expressed helping behavior in the following breeding<br />

season. Variation in cooperative breeding between Rufousfronted<br />

Thornbird populations indicates that helping behavior<br />

in this species is flexible, and probably arises from differences<br />

in ecological circumstances, as habitat saturation and territory<br />

quality, experimented by young.


566 Beatriz A. Ribeiro, Lucas A. Carrara, Fabrício R. Santos and Marcos Rodrigues<br />

Sources of Imbalance in the Sex Ratio of the Adult Population<br />

– The sex ratio of the adult population was biased towards<br />

males, especially in the first two years of the study. Although<br />

the observed biases did not significantly differ from the expected<br />

frequency of 1:1 when the adult population was consi<strong>de</strong>red<br />

as a whole, significant biases were <strong>de</strong>tected among subordinate<br />

individuals in the first two years. This finding indicates<br />

that sources of imbalance in the sex ratio were present and to<br />

some extent influenced the population studied. Some of potential<br />

sources are the sex ratio of young produced, the turnover<br />

rate of adults (resulting from <strong>de</strong>ath or secondary dispersals), as<br />

well as immigration and dispersal rates.<br />

Immigration into the monitored area occurred in low frequencies<br />

(three males and five females along the three years),<br />

mainly to fill dominance vacancies, and did not contribute to<br />

the observed skews, as immigrant females excee<strong>de</strong>d immigrant<br />

males in number. In contrast, adult turnover rates played<br />

some role in biasing the sex ratio towards males, with dominant<br />

females yearly disappearing from the study site with a<br />

frequency 1.75 times higher than that observed males. Such a<br />

turnover rate contributed to the reduced number of subordinate<br />

females in the area. The strongest factor inducing biases in<br />

the sex ratio of adults, however, was the skewed sex ratio of<br />

young produced. Male offspring surpassed female offspring<br />

in all the monitored breeding seasons. Their frequency was<br />

significantly higher than that of females, averaging 65% of<br />

the annual recruited young. At the end of the study, young<br />

males had been produced in numbers almost twice as high as<br />

females.<br />

These observations indicate that offspring sex ratio and<br />

adult turnover rates additively influenced the sex ratio of the<br />

Rufous-fronted Thornbird adult population, producing biases<br />

of varying strength towards males along the years.<br />

Facultative Control over Brood Sex Ratio – Despite the small<br />

number of broods sampled in this study, we observed a significant<br />

difference between the sex ratio of offspring raised<br />

by tenured and non-tenured pairs. The latter raised offspring<br />

composed exclusively of males. In contrast, the sex ratio of the<br />

offspring of tenured pairs averaged equality.<br />

The biases <strong>de</strong>tected in the sex ratios of those broods<br />

from non-tenured pairs may have resulted from an adaptive<br />

strategy of sexual allocation. Pairs that were breeding for<br />

the first time in the study area used to live alone in their territories.<br />

It is noteworthy that in their first brood all of them<br />

have favored young males, the sex prone to remain in the<br />

natal territory and to help rearing the nestlings. The assistance<br />

of helpers seems to have a positive effect on parental<br />

productivity, enhancing their success in raising young<br />

(Rodrigues and Carrara 2004). Philopatric males also have<br />

an important role in group enlargement, enhancing territory<br />

<strong>de</strong>fense, nest building (Carrara and Rodrigues 2001), and<br />

vigilance (Rodrigues and Carrara 2004). By overproducing<br />

young males in their first brood, breeding pairs increase their<br />

chances of obtaining benefits from the helpers’ presence in<br />

the following years, thereby increasing their likelihood of<br />

reproductive success.<br />

Biases in the sex ratio of young were not evi<strong>de</strong>nt among<br />

tenured pairs. All the birds sampled on this breeding class were<br />

being assisted at least by one subordinate male, supporting the<br />

i<strong>de</strong>a that the probability of helper assistance in the breeding<br />

season following the first brood is high. The balance achieved<br />

in the sex ratio of young on subsequent breeding may reflects<br />

the influence of ecological and <strong>de</strong>mographic constraints over<br />

the allocation strategy of females, possibly the food availability<br />

(territory quality) or sibling competition for vacancies. Successive<br />

overproductions of males (the more philopatric sex)<br />

would quickly strengthen both limitations, reducing female<br />

reproductive success.<br />

Strong biases in the sex ratio of the first brood were previously<br />

reported for two cooperative bree<strong>de</strong>rs, the red-cocka<strong>de</strong>d<br />

woodpecker (Picoi<strong>de</strong>s borealis) (Gowaty and Lennartz 1985)<br />

and the Seychelles warbler (Acrocephalus sechellensis) (Kom<strong>de</strong>ur<br />

1996, Kom<strong>de</strong>ur et al. 1997). As observed in the Rufousfronted<br />

Thornbird, in both species the biases favored the helper<br />

sex, reaching levels of absolute presence of only this sex in the<br />

brood (brood composed 100% by the helping sex).<br />

Both in the red-cocka<strong>de</strong>d woodpecker and in the Seychelles<br />

warbler, the presence of helpers has a marked influence on the<br />

reproductive success of parents. In the red-cocka<strong>de</strong>d woodpeckers,<br />

helping behavior seems to increase consi<strong>de</strong>rably the<br />

fledgling success of females that breed for the first time in a<br />

given area, but not of those females with prior tenure (Gowaty<br />

and Lennartz 1985). In the Seychelles warbler, individual fitness<br />

is affected both by the number of helpers and by territory<br />

quality. The presence of helpers enhances the reproductive<br />

success of pairs living in high quality territories, but <strong>de</strong>creases<br />

the fitness of parents in low quality areas, as a result of food<br />

<strong>de</strong>pletion (Kom<strong>de</strong>ur 1994). Accordingly, intensive skews<br />

toward helpers (females) were recor<strong>de</strong>d in brood sex ratios of<br />

pairs on high quality territories, while breeding pairs on low<br />

quality territories invested more in the dispersing (male) sex<br />

(Kom<strong>de</strong>ur 1996).<br />

The skews in offspring sex ratio <strong>de</strong>scribed for those species<br />

clearly have an adaptive role, suggesting that facultative<br />

control over the sex ratio of broods was possibly occurring<br />

(Gowaty and Lennartz 1985, Kom<strong>de</strong>ur 1996). Experimental<br />

evi<strong>de</strong>nces confirmed that Seychelles warbler female in<strong>de</strong>ed<br />

has the ability of adjusting the offspring primary sex ratio in<br />

an adaptive manner (Kom<strong>de</strong>ur 2002). The facultative variation<br />

of brood sex ratio seems to occur in some other cooperative<br />

breeding species (references in Kom<strong>de</strong>ur 2004), and was additionally<br />

<strong>de</strong>monstrated in the Bell miner (Manorina melanophrys:<br />

Ewen et al. 2003). Rufous-fronted Thornbird females<br />

may exhibit facultative control over their offspring sex ratio,<br />

supporting the local resource enhancement hypothesis (Clark<br />

1978, Emlen et al. 1986, Lessells and Avery 1987, Kom<strong>de</strong>ur<br />

1996), which predicts biases in offspring sex ratio when one<br />

sex contributes more to the parental fitness through the helping<br />

behavior.


Sex-biased help and possible facultative control over offspring sex ratio in the Rufous-fronted Thornbird, Phacellodomus rufifrons 567<br />

Acknowledgements<br />

We are in<strong>de</strong>bted to A. Nemésio and C. Schuck-Paim, J.<br />

Roper and one anonymous referee for comments on the original<br />

manuscript; E.A. Ribeiro and J.P.A. Ribeiro and all the<br />

volunteer stu<strong>de</strong>nts for their help in the fieldwork. We also<br />

thank P.E.M. Guimarães and R.A.F. Redondo for technical<br />

help in molecular biology. This study was partially supported<br />

by ‘Fundação O Boticário <strong>de</strong> Proteção à Natureza’, FAPEMIG<br />

and PRPq-UFMG. F.R.S. and M.R. are research fellows of the<br />

Brazilian Research Council (CNPq) and their laboratory was<br />

supported by the grants 301144/2003‐6 and 473428/2004‐0<br />

respectively. L.A.C. received a stu<strong>de</strong>nt fellowship from CNPq<br />

(PIBIC-UFMG). We thank the staff of the Brazilian Environmental<br />

Agency (IBAMA and CEMAVE) for banding facilities<br />

and allowing us to work in the Park.<br />

References<br />

Antunes, F.Z. (1986) Caracterização climática do estado <strong>de</strong><br />

Minas Gerais. Inf. Agropec. 12:9‐13.<br />

Arnold, K.E. e I.P.F. Owens (1998) Comparative breeding in<br />

birds: a comparative test of the life history hypothesis.<br />

Proc. R. Soc. London Ser. B. 256:739‐745.<br />

Baglione, V., D. Canestrari, J.M. Marcos, M. Griesser e J.<br />

Ekman (2002) History, environment and social behaviour:<br />

experimentally induced cooperative breeding in the carrion<br />

crow. Proc. R. Soc. Lond. Ser. B. 269:1247‐1251.<br />

Caparroz, R., C.Y. Miyaki, M.I. Bampi e A. Wajntal (2001)<br />

Analysis of the genetic variability in a sample of the<br />

remaining group of Spix’s Macaw (Cyanopsitta spixii,<br />

Psittaciformes: Aves) by DNA fingerprinting. Biological<br />

Conservation 99:307‐311.<br />

Carrara, L.A. e M. Rodrigues (2001) Breeding biology of the<br />

Rufous-fronted Thornbird Phacellodomus rufifrons, a<br />

neotropical ovenbird. Int. J. Ornithol. 4:209‐217.<br />

Clark, A.B. (1978) Sex ratio and local resource competition in<br />

a prosimian primate. Science 201:163‐165.<br />

Cockburn, A. (1998) Evolution of helping behavior in cooperatively<br />

breeding birds. Ann. Rev. Ecol. Syst. 29:141‐177.<br />

Cockburn, A. (2004) Mating systems and sexual conflict,<br />

p. 81‐1001 Em: W.D. Koenig and J.L. Dickinson (eds.),<br />

Ecology and Evolution of Cooperative Breeding in Birds.<br />

Cambrige: Cambrige University Press.<br />

Dinckinson, J.L e B.J. Hatchwell (2004) Fitness consequences<br />

of helping, p. 48‐66. Em: W.D. Koenig e J.L. Dickinson<br />

(eds.), Ecology and Evolution of Cooperative Breeding<br />

in Birds. Cambridge: Cambridge University Press.<br />

Ekman, J., J.L. Dickinson, B.J. Hatchwell e M. Griesser<br />

(2004) Delayed dispersal, p. 35‐47. Em: W.D. Koenig e<br />

J.L. Dickinson (eds.), Ecology and Evolution of Cooperative<br />

Breeding in Birds. Cambridge: Cambridge University<br />

Press.<br />

Emlen, S.T. (1982) The evolution of helping. I. An ecological<br />

constraints mo<strong>de</strong>l. Am. Nat. 119:29‐39.<br />

Emlen, S.T. (1997) When mothers prefer daughters over sons.<br />

Trends in Ecology and Evolution 12:291‐292.<br />

Emlen, S.T. e S.L. Vehrencamp (1985) Cooperative breeding<br />

strategies among birds, p. 359‐374. Em: B. Hölldobler e<br />

M. Lindauer (eds.), Experimental Behavioral Ecology.<br />

Stuttgart: Gustav Fischer.<br />

Emlen, S.T., J.M. Emlen e S.A. Levin (1986) Sex ratio selection<br />

in species with helpers-at-the-nest. Am. Nat. 127:1‐8.<br />

Ewen, J.G, R.H. Clarke, E. Moysey, R.L. Boulton, R.H. Crozier<br />

e M.F. Clarke (2001) Primary sex ratio bias in an<br />

endangered cooperatively breeding bird, the black-eared<br />

miner, and its implication for conservation. Biological<br />

Conservation 101:137‐145.<br />

Ewen, J.G, R.H. Crozier, P. Cassey, T. Ward-Smith, J.N.<br />

Painter, R.J. Robertson, D.A. Jones e M.F. Clarke (2003)<br />

Facultative control of offspring sex in the cooperatively<br />

breeding bell miner, Manorina melanophrys. Behavioural<br />

Ecology 14:157‐164.<br />

Faria, L.P., L.A Carrara e M. Rodrigues (2007) Dimorfismo<br />

sexual <strong>de</strong> tamanho no fura-barreira Hylocryptus rectirostris<br />

(Wied, 1821) (Aves – Furnariidae). <strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong><br />

<strong>de</strong> Zoologia 24:207‐212.<br />

Gowaty, P.A. e M.R. Lennartz (1985) Sex ratios of nestling<br />

and fledgling red-cocka<strong>de</strong>d woodpeckers (Picoi<strong>de</strong>s borealis)<br />

favor males. Am. Nat. 126:347‐353.<br />

Griffiths, R., M.C. Double, K. Orr e R.J.G. Dawson (1998)<br />

A DNA test to sex most birds. Molecular Ecology<br />

7:1071‐1075.<br />

Hatchwell, B.J. e J. Kom<strong>de</strong>ur (2000) Ecological constraints,<br />

life history traits and the evolution of cooperative breeding.<br />

Anim. Behav. 59:1079‐1086.<br />

Hasselquist, D. e P.W. Sherman (2001) Social mating systems<br />

and extrapair fertilizations in passerine birds. Behavioural<br />

Ecology 12:457‐466.


568 Beatriz A. Ribeiro, Lucas A. Carrara, Fabrício R. Santos and Marcos Rodrigues<br />

Koenig, W.D., F.A. Pitelka, W.J. Carmen, R.L. Mumme e<br />

M.T. Stanback (1992) The evolution of <strong>de</strong>layed dispersal<br />

in cooperative bree<strong>de</strong>rs. Quarterly Review of Biology<br />

67:111‐150.<br />

Kom<strong>de</strong>ur, J. (1992) Importance of habitat saturation and territory<br />

quality for evolution of cooperative breeding in the<br />

Seychelles warbler. Nature 358:493‐495.<br />

Kom<strong>de</strong>ur, J. (1994) Experimental evi<strong>de</strong>nce for helping and<br />

hin<strong>de</strong>ring by previous offspring in the cooperative breeding<br />

Seychelles warbler (Acrocephalus sechellensis).<br />

Behav. Ecol. Sociobiol. 34:31‐42.<br />

Kom<strong>de</strong>ur, J. (1996) Facultative sex ratio bias in the offspring<br />

of Seychelles warblers. Proc. R. Soc. Lond. Ser. B.<br />

263:661‐666.<br />

Kom<strong>de</strong>ur, J. (2004) Sex-ratio manipulation, p. 102‐106. Em:<br />

W.D. Koenig e J.L. Dickinson (eds.), Ecology and Evolution<br />

of Cooperative Breeding in Birds. Cambridge:<br />

Cambridge University Press.<br />

Kom<strong>de</strong>ur, J., S. Daan, J. Tinbergen e C. Mateman (1997)<br />

Extreme adaptive modification in sex ratio of the Seychelles<br />

warbler’s eggs. Nature 385:255‐525.<br />

Ligon, J. D. e D.B. Burt (2004) Evolutionary origins, p. 5‐34.<br />

Em: W.D. Koenig e J.L. Dickinson (eds.) Ecology and<br />

Evolution of Cooperative Breeding in Birds. Cambridge:<br />

Cambridge University Press.<br />

Pruett-Jones, S. G. e M.J. Lewis (1990) Sex ratio and habitat<br />

limitation promote <strong>de</strong>layed dispersal in superb fairywrens.<br />

Nature 348:541‐542.<br />

Ridgely, R.S. e G. Tudor (1994) The Birds of South America:<br />

the Suboscine Passerines. Oxford: Oxford University<br />

Press.<br />

Rodrigues, M. e L.A. Carrara (2004) Cooperative breeding in<br />

the Rufous-fronted Thornbird Phacellodomus rufifrons:<br />

a Neotropical ovenbird. Ibis 146:351‐354.<br />

Rodrigues, M., L.A. Carrara, L.P. Faria e H. Gomes (2005)<br />

Aves do Parque Nacional da Serra do Cipó: o Vale do<br />

Rio Cipó. <strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Zoologia 22:326‐338.<br />

Roper, J.J. (2005) Sexually distinct songs in the dueto of the<br />

sexually monomorphic Rufous Hornero. J. Field Ornithol<br />

76:234‐236.<br />

Sambrook, J., E.F. Fritsch e T. Maniatis (1989) Molecular<br />

Cloning. A laboratory Manual. New York: Cold Spring<br />

Harbor Laboratory Press.<br />

Santos, F.R., N.O. Bianchi e S.D. Pena (1996) Worldwi<strong>de</strong> Distribution<br />

of Human Y Chromosome Haplotypes. Genome<br />

Research 6:601‐611.<br />

Sick, H. (1993) Birds in Brazil. Princeton: Princeton University<br />

Press.<br />

Skutch, A.F. (1969) A study of the Rufous-fronted Thornbird<br />

and associated birds. Wilson Bull. 81:5‐43.<br />

Walters, J.R., C.K. Copeyon e J.H. Carter III (1992) Test of<br />

the ecological basis of cooperative breeding in red-coka<strong>de</strong>d<br />

woodpeckers. Auk 109:90‐97.<br />

Remsen, J.V. (2003) Family Furnariidae, p. 162‐357. Em: <strong>de</strong>l<br />

Hoyo, J., A. Elliot e D.A. Christie (eds.), Handbook of<br />

the Birds of the World, vol. 8. Barcelona: Lynx Editions.


ARTIGO<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> 15(4):569-573<br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007<br />

Biologia <strong>de</strong> Culicivora caudacuta (Aves: Tyrannidae) no Cerrado,<br />

Brasília, DF<br />

Nadinni Oliveira <strong>de</strong> Matos Sousa 1 e Miguel Ângelo Marini 2<br />

1. Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Biologia Animal, IB, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília, 70.910‐900, Brasília, DF, Brasil.<br />

E‐mail: nadinnisousa@hotmail.com<br />

2. Departamento <strong>de</strong> Zoologia, IB, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília, 70.910‐900, Brasília, DF, Brasil. E‐mail: marini@unb.br<br />

Recebido em 22 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2006; aceito em 29 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007.<br />

Abstract: Life history aspects of Culicivora caudacuta (Tyrannidae) in Brazilian Central Cerrado (Brasília, DF). Culicivora caudacuta<br />

(Tyrannidae) is consi<strong>de</strong>red vulnerable by international and national conservation agencies and as such appears in the red lists for the World and Brazil.<br />

This species is a conservation priority due to its population <strong>de</strong>cline caused by the continuous <strong>de</strong>gradation of its habitat. The objective of this study was<br />

to characterize morphometric, reproductive and behavioral aspects of the species, as well as its home range and habitat use. The study was conducted<br />

between September 2004 and December 2007 in the Estação Ecológica <strong>de</strong> Águas Emendadas, Distrito Fe<strong>de</strong>ral, Brazil. Mist netted birds were ban<strong>de</strong>d<br />

with metal and color rings, weighted, measured, and checked for molt and brood patch presence. Observations of groups containing ban<strong>de</strong>d birds were<br />

ma<strong>de</strong> mostly in the morning up to three times a week on a 100 ha study plot. Adult average (± 1 SD) measurements (n = 10) were: mass 5.8 ± 0.6 g; wing<br />

36.8 ± 1.7 mm; tail 48.0 ± 2.8 mm; tarsus 14.8 ± 1.3 mm; nostril 5.7 ± 0.4 mm. Molt of flight feathers was observed in five individuals in December,<br />

January, April and June. The breeding season was between October and April when three birds presented brood patch and when two fledglings and<br />

three active nests were found. We observed three groups composed of two to seven birds. The species was mostly observed in ‘campo limpo’, ‘parque<br />

cerrado’ and ‘campo sujo’. The home range size of C. caudacuta was more than 17.5 ha. Our study improves the knowledge about life history and social<br />

behavior of this species; however, more information is nee<strong>de</strong>d in or<strong>de</strong>r to elaborate conservation strategies for the species.<br />

Key-words: home range, life history, reproduction, endangered species.<br />

Resumo: Culicivora caudacuta (Tyrannidae) é consi<strong>de</strong>rada uma espécie vulnerável em listas vermelhas do Brasil e do mundo que requer priorida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> conservação <strong>de</strong>vido ao rápido <strong>de</strong>clínio populacional causado pela contínua <strong>de</strong>gradação <strong>de</strong> seu hábitat. O objetivo <strong>de</strong>ste estudo foi caracterizar<br />

aspectos morfométricos, reprodutivos, comportamentais, <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> hábitat e <strong>de</strong> área <strong>de</strong> vida da espécie. O estudo foi conduzido entre setembro <strong>de</strong><br />

2004 e <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007 na Estação Ecológica <strong>de</strong> Águas Emendadas, Distrito Fe<strong>de</strong>ral. As aves capturadas foram pesadas e medidas, verificadas<br />

quanto à presença <strong>de</strong> muda e placa <strong>de</strong> incubação e marcadas com anilhas metálicas e coloridas. As observações <strong>de</strong> grupos que continham indivíduos<br />

marcados foram feitas até três vezes semanais durante a manhã. As medidas dos adultos (média ± DP) foram: massa 5,8 ± 0,6 g; asa 36,8 ± 1,7 mm;<br />

cauda 48,0 ± 2,8 mm; tarso 14,8 ± 1,3 mm; narina 5,7 ± 0,4 mm. Mudas <strong>de</strong> penas <strong>de</strong> vôo foram observadas em cinco indivíduos em <strong>de</strong>zembro, janeiro,<br />

abril e junho. A estação reprodutiva compreen<strong>de</strong>u os meses <strong>de</strong> outubro a abril, período em que foram observados três indivíduos apresentando placa <strong>de</strong><br />

incubação, dois jovens e três ninhos ativos. Foram observados três grupos formados por dois a sete indivíduos, encontrados com maior freqüência em<br />

áreas <strong>de</strong> campo limpo, parque cerrado e campo sujo. A extensão da área <strong>de</strong> vida dos grupos amostrados foi maior do que 17,5 ha. Este estudo contribui<br />

para o conhecimento acerca da história <strong>de</strong> vida e comportamento social <strong>de</strong> C. caudacuta, mas revela a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informações mais <strong>de</strong>talhadas,<br />

necessárias para subsidiar medidas <strong>de</strong> conservação para a espécie.<br />

Palavras-chave: área <strong>de</strong> vida, história <strong>de</strong> vida, biologia reprodutiva, espécie ameaçada.<br />

O papa-moscas-do-campo (Culicivora caudacuta: Tyrannidae)<br />

é uma ave típica <strong>de</strong> paisagens abertas, incomum, <strong>de</strong> ocorrência<br />

pontual (Stotz et al. 1996, Machado et al. 1998, Fontana<br />

et al. 2003, Mikich e Bérnils 2004) e com ampla distribuição<br />

no Cerrado brasileiro (Sick 1997). Sua distribuição abrange,<br />

além do Brasil, outros países como a Argentina, Paraguai,<br />

Uruguai, Bolívia e Peru (Stotz et al. 1996, Sick 1997, Birdlife<br />

International 2006). É consi<strong>de</strong>rada uma espécie vulnerável<br />

nos estados da Bahia, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato<br />

Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraná, São Paulo, Tocantins e<br />

Distrito Fe<strong>de</strong>ral (Machado et al. 1998, MMA 2003, Mikich e<br />

Bérnils 2004), sendo essa também sua categoria mundial <strong>de</strong><br />

ameaça, proposta pela IUCN (BirdLife International 2006).<br />

No entanto, em listas oficiais <strong>de</strong> estados brasileiros o grau <strong>de</strong><br />

ameaça da espécie varia. No estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul,<br />

essa espécie foi consi<strong>de</strong>rada criticamente em perigo (Fontana<br />

et al. 2003) e em São Paulo, em perigo <strong>de</strong> extinção (Mikich e<br />

Bérnils 2004).<br />

Culicivora caudacuta requer priorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação<br />

<strong>de</strong>vido ao rápido <strong>de</strong>clínio populacional causado pela contínua<br />

<strong>de</strong>gradação e <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> seu hábitat (Stotz et al. 1996,<br />

Mikich e Bérnils 2004, BirdLife International 2006). Entretanto,<br />

pouco se sabe acerca da sua história <strong>de</strong> vida, sendo por<br />

isso consi<strong>de</strong>rada uma espécie <strong>de</strong> elevada priorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pesquisa<br />

(Stotz et al. 1996). O estudo mais <strong>de</strong>talhado sobre esta<br />

ave foi a respeito <strong>de</strong> sua biologia reprodutiva, realizado por<br />

Di Giacomo (2005). Demais estudos pouco aprofundados<br />

abordam aspectos da sua distribuição geográfica, área <strong>de</strong> ocorrência,<br />

uso <strong>de</strong> hábitat e comportamento e outros aspectos da<br />

sua biologia reprodutiva (Stotz et al. 1996, Parker III e Willis<br />

1997, Sick 1997, Machado et al. 1998, Tubelis e Cavalcanti<br />

2000, Tubelis e Cavalcanti 2001, Fontana et al. 2003, Mikich


570 Nadinni Oliveira <strong>de</strong> Matos Sousa e Miguel Ângelo Marini<br />

e Bérnils 2004, Silva e Silva 2006). Consi<strong>de</strong>rando a existência<br />

<strong>de</strong> poucos estudos sobre C. caudacuta e sua importância para<br />

conservação, esse trabalho buscou caracterizar aspectos morfométricos,<br />

reprodutivos, comportamentais, <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> hábitat<br />

e <strong>de</strong> área <strong>de</strong> vida da espécie.<br />

Metodologia<br />

O estudo foi realizado entre os anos <strong>de</strong> 2004 e 2007 na Estação<br />

Ecológica <strong>de</strong> Águas Emendadas (ESECAE), Distrito Fe<strong>de</strong>ral,<br />

Brasil (15°29’12”‐15°36’57”S e 47°31’36”‐47°41’19”W),<br />

com uma área <strong>de</strong> 10.500 ha. A coleta <strong>de</strong> dados foi feita em<br />

uma gra<strong>de</strong> <strong>de</strong>marcada por 400 quadrados <strong>de</strong> 50 x 50 m, totalizando<br />

100 ha, e em seu entorno. A área compreen<strong>de</strong> regiões <strong>de</strong><br />

cerrado típico, cerrado ralo, campo sujo, campo limpo e parque<br />

cerrado (classificação segundo Ribeiro e Walter 1998).<br />

Para a localização inicial <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> C. caudacuta <strong>de</strong>ntro<br />

da gra<strong>de</strong> foi utilizado o método <strong>de</strong> procura ativa através do<br />

uso <strong>de</strong> playback. A partir <strong>de</strong>sse procedimento inicial foi possível<br />

efetuar uma captura direcionada dos indivíduos e iniciar<br />

as observações dos grupos. A captura dos indivíduos foi feita<br />

com o uso <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> neblina (12,0 m <strong>de</strong> comprimento, 2,5 m<br />

<strong>de</strong> altura, malha 36 mm) montadas nos locais <strong>de</strong> registro dos<br />

grupos. Eventualmente, os animais foram atraídos até a re<strong>de</strong><br />

através do playback. Foram capturados também indivíduos<br />

durante anilhamentos <strong>de</strong> rotina na área <strong>de</strong> estudo. As aves capturadas<br />

foram pesadas, medidas e marcadas com anilha metálica<br />

numerada, cedida pelo CEMAVE/IBAMA, e combinação<br />

única <strong>de</strong> duas anilhas coloridas, para permitir i<strong>de</strong>ntificação<br />

individual com o auxílio <strong>de</strong> binóculos.<br />

Os grupos foram observados entre uma e três vezes por<br />

semana durante a manhã. Essas observações ocorreram com<br />

maior freqüência <strong>de</strong> outubro/2004 a janeiro/2005 e <strong>de</strong> abril a<br />

julho/2005. As áreas <strong>de</strong> ocorrência da espécie eram percorridas<br />

e assim que um indivíduo ou grupo era <strong>de</strong>tectado estes<br />

eram seguidos pelo maior tempo possível. Apenas três grupos<br />

tiveram suas áreas <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>marcadas e aspectos comportamentais<br />

anotados. Os grupos observados continham pelo<br />

menos um indivíduo marcado. Quando necessário, a coleta <strong>de</strong><br />

dados foi direcionada <strong>de</strong> acordo com a carência <strong>de</strong> dados <strong>de</strong><br />

cada grupo.<br />

Os ninhos <strong>de</strong>ste estudo foram encontrados ao acaso na área<br />

<strong>de</strong> estudo. Uma vez encontrado, o ninho era marcado com uma<br />

fita colorida posicionada a uma distância mínima <strong>de</strong> cinco<br />

metros do ninho. Os ninhos foram monitorados com intervalos<br />

<strong>de</strong> três a quatro dias. Os ovos foram pesados com o auxílio <strong>de</strong><br />

um dinamômetro <strong>de</strong> 10 g <strong>de</strong> precisão e tiveram o comprimento<br />

e largura medidos por meio <strong>de</strong> um paquímetro. Foram i<strong>de</strong>ntificadas<br />

as espécies das plantas suporte e a altura dos ninhos em<br />

relação ao solo.<br />

Os locais percorridos durante as observações foram <strong>de</strong>marcados<br />

com o auxílio das linhas da gra<strong>de</strong> <strong>de</strong> 100 ha e principalmente<br />

com um aparelho <strong>de</strong> GPS (Global Positioning System).<br />

Para a <strong>de</strong>limitação das áreas <strong>de</strong> vida, os pontos <strong>de</strong> observação<br />

foram marcados <strong>de</strong>ntro dos quadrados <strong>de</strong> 50 x 50 m da gra<strong>de</strong>.<br />

O tamanho das áreas <strong>de</strong> vida dos três grupos observados foi<br />

<strong>de</strong>terminado pelo método <strong>de</strong> polígonos convexos (Odum e<br />

Kuenzler 1955).<br />

Resultados e Discussão<br />

Foram capturados e marcados 13 indivíduos <strong>de</strong> C. caudacuta<br />

nas re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> neblina, dos quais um era jovem e quatro<br />

foram posteriormente recapturados. A massa corporal média<br />

(± 1 DP) dos indivíduos adultos (n = 12) foi <strong>de</strong> 5,7 ± 0,6 g,<br />

variando entre 5,0 g e 6,7 g. Essas medidas foram menores<br />

do que as encontradas por Di Giacomo (2005) na Argentina,<br />

que obteve 6,7 g (n = 6) <strong>de</strong> massa média (mínima 5,8 g<br />

e máxima 7,2 g). Este padrão po<strong>de</strong> representar um efeito da<br />

Regra <strong>de</strong> Bergman, que <strong>de</strong>fine que animais <strong>de</strong> regiões mais<br />

frias ten<strong>de</strong>m a ser maiores, possivelmente por razões <strong>de</strong> termoregulação<br />

(Ridley 1993). As médias <strong>de</strong> tamanho (± 1 DP)<br />

da asa, cauda, tarso e narina dos adultos (n = 11) foram <strong>de</strong><br />

36,8 ± 1,7 mm, 48,0 ± 2,8 mm, 14,8 ± 1,3 mm e 5,7 ± 0,4 mm,<br />

respectivamente.<br />

A espécie parece ter um longo período <strong>de</strong> mudas <strong>de</strong> penas<br />

<strong>de</strong> vôo, pois estas foram registradas entre <strong>de</strong>zembro e junho.<br />

Mudas <strong>de</strong> penas <strong>de</strong> vôo, sempre conjugadas com mudas <strong>de</strong><br />

corpo, foram observadas em cinco indivíduos nos meses <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>zembro, janeiro (n = 2), abril e junho. A substituição <strong>de</strong><br />

penas <strong>de</strong> contorno foi registrada em 10 indivíduos no período<br />

<strong>de</strong> abril a janeiro, com exceção dos meses <strong>de</strong> maio, agosto, e<br />

novembro. Consi<strong>de</strong>rando que é a substituição <strong>de</strong> penas <strong>de</strong> vôo<br />

que melhor indica o período <strong>de</strong> mudas pós-nupcial, estes dados<br />

sugerem um aparente prolongamento do período <strong>de</strong> realização<br />

<strong>de</strong> mudas em relação a outras aves da região (Marini e Durães<br />

2001) e a não concentração <strong>de</strong>sta ativida<strong>de</strong> em um período<br />

do ano. O padrão <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> mudas <strong>de</strong> vôo em aves do<br />

Cerrado compreen<strong>de</strong> o período <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro a abril, com um<br />

pico entre fevereiro e março (Piratelli et al. 2000, Marini e<br />

Durães 2001). Foi registrado um indivíduo <strong>de</strong> C. caudacuta<br />

realizando muda <strong>de</strong> penas <strong>de</strong> contorno e <strong>de</strong> vôo em janeiro<br />

e no início <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> um mesmo ano. E ainda, foram observados<br />

dois indivíduos apresentando simultaneamente placa <strong>de</strong><br />

incubação e muda em todo o corpo. Este dado parece ser atípico,<br />

pois estudos com aves tropicais <strong>de</strong>monstram que a ocorrência<br />

<strong>de</strong>ssa sobreposição é baixa, <strong>de</strong>vido aos elevados gastos<br />

energéticos <strong>de</strong>sses dois eventos (Stiles e Wolf 1974, Foster<br />

1975, Piratelli et al. 2000, Stutchbury e Morton 2001, Marini<br />

e Durães 2001).<br />

O período reprodutivo <strong>de</strong> Culicivora caudacuta no Distrito<br />

Fe<strong>de</strong>ral foi entre outubro e abril. Esse período foi estimado<br />

pela captura <strong>de</strong> três indivíduos com placa <strong>de</strong> incubação, em<br />

outubro/2004, abril/2005 e janeiro/2007, pela presença <strong>de</strong><br />

dois filhotes acompanhando seus grupos em novembro/2004<br />

e em abril/2005 e pela observação <strong>de</strong> três ninhos ativos, sendo<br />

um encontrado em novembro/2005 e outros dois em novembro/2007.<br />

As evidências encontradas indicam que o período


Biologia <strong>de</strong> Culicivora caudacuta (Aves: Tyrannidae) no Cerrado, Brasília, DF 571<br />

reprodutivo no cerrado do Brasil Central é semelhante ao que<br />

foi encontrado na Argentina (Di Giacomo 2005). Deste modo,<br />

esta espécie parece se reproduzir a partir do final da estação<br />

seca, início do período chuvoso, assim como outras espécies<br />

do Cerrado (Alves e Cavalcanti 1990, Marini e Durães 2001,<br />

França 2005, Lopes e Marini 2005, Me<strong>de</strong>iros e Marini 2007),<br />

entretanto, terminando a reprodução mais tardiamente do que<br />

a maioria das espécies insetívoras.<br />

O ninho encontrado no dia 10 <strong>de</strong> novembro/2005 foi acompanhado<br />

durante 15 dias, até a sua predação, que ocorreu logo<br />

após o nascimento dos filhotes. Continha três ovos translúcidos;<br />

ou seja, em estágio inicial <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, e estava<br />

situado em campo sujo, a 0,34 m <strong>de</strong> altura em relação ao solo<br />

em um arbusto <strong>de</strong> Esenbeckia pumila (Rutaceae) <strong>de</strong> 0,50 m<br />

<strong>de</strong> altura. Os outros dois ninhos encontrados nos dias 22 e<br />

24 <strong>de</strong> novembro/2007 estavam a aproximadamente 150 m <strong>de</strong><br />

distância um do outro no campo limpo. Ambos tinham como<br />

planta suporte arbustos <strong>de</strong> Eremanthus glomerulatus (Compositae)<br />

<strong>de</strong> altura aproximada <strong>de</strong> 0,55 m e estavam a 0,34 m e<br />

0,53 m <strong>de</strong> altura em relação ao solo. O primeiro foi encontrado<br />

com três ovos opacos, que vieram a eclodir, sincronicamente,<br />

quatro dias <strong>de</strong>pois. O ninho foi predado dois dias <strong>de</strong>pois do<br />

nascimento dos filhotes. O segundo foi acompanhado durante<br />

19 dias até a sua predação. Inicialmente continha um ovo, que<br />

não eclodiu, apesar da presença do adulto no ninho. Após 16<br />

dias <strong>de</strong> monitoramento do ninho, foi constatada a postura <strong>de</strong><br />

um segundo ovo na ninhada. Os ovos <strong>de</strong> forma ovói<strong>de</strong> apresentaram<br />

massa média (± 1 DP) <strong>de</strong> 0,9 ± 0,1 g e comprimento<br />

<strong>de</strong> 14,6 ± 0,9 mm e largura <strong>de</strong> 11,2 ± 0,4 mm. O tamanho da<br />

ninhada e a <strong>de</strong>scrição dos ovos foram semelhantes ao registrado<br />

em Di Giacomo (2005). No mesmo estudo, os ninhos<br />

encontrados foram construídos em plantas herbáceas anuais,<br />

principalmente das famílias Compositae e Leguminosae,<br />

mas apresentavam em média 1 m <strong>de</strong> altura, com extremos<br />

<strong>de</strong> 0,45 m e 1,8 m, um padrão diferente do ninho encontrado<br />

neste estudo. A altura <strong>de</strong> três ninhos encontrados em uma área<br />

<strong>de</strong> campo limpo e remanescentes da Mata Atlântica em Minas<br />

Gerais variou <strong>de</strong> 0,45 m a 1 m do solo (Silva e Silva 2006).<br />

Os dois filhotes, <strong>de</strong> grupos distintos, observados em<br />

novembro/2004 e em abril/2005, apresentavam face totalmente<br />

cor <strong>de</strong> canela, poucas penas na cauda e pouca habilida<strong>de</strong><br />

no vôo. Após dois meses e meio, foi observado que um<br />

<strong>de</strong>les já apresentava a máscara preta da face <strong>de</strong>finida e algumas<br />

vocalizações <strong>de</strong> chamado, assim como o que foi <strong>de</strong>scrito<br />

em Parker III e Willis (1997). Durante esse período, o filhote<br />

foi observado acompanhando um grupo <strong>de</strong> três indivíduos e<br />

uma vez sendo alimentando por todos os indivíduos do grupo,<br />

sendo que um adulto oferecia alimento com maior freqüência.<br />

A existência <strong>de</strong> um grupo com três indivíduos adultos e um<br />

filhote e o comportamento dos adultos em relação ao filhote<br />

é um indício <strong>de</strong> reprodução cooperativa nesta espécie. Assim<br />

como neste estudo, Silva e Silva (2006) observou três adultos<br />

alimentando os filhotes fora do ninho. Além disso, ele observou<br />

que todos esses adultos participaram da incubação e da<br />

alimentação no ninho.<br />

O tamanho dos três grupos (A, B e C) estudados variou<br />

<strong>de</strong> dois a sete indivíduos. O grupo A, acompanhado <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

outubro/2004, era composto <strong>de</strong> um casal, um filhote e eventualmente<br />

outro indivíduo. O grupo B foi acompanhado entre<br />

abril/2005 e junho/2005 e era composto <strong>de</strong> sete indivíduos,<br />

sendo um filhote. O grupo C, composto por um integrante do<br />

grupo B anilhado e outro indivíduo não conhecido, foi formado<br />

em meados <strong>de</strong> julho/2005, sendo acompanhado apenas<br />

durante esse mês. O indivíduo anilhado foi capturado e observado<br />

sozinho no ano anterior nessa mesma área em que passou<br />

a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r com o seu parceiro. De acordo com Di Giacomo<br />

(2005), C. caudacuta po<strong>de</strong> formar grupos entre sete e oito ou<br />

até 15 indivíduos durante o inverno, mas são também encontrados<br />

sozinhos, aos pares ou próximos entre si. Essa <strong>de</strong>scrição<br />

po<strong>de</strong> explicar a presença <strong>de</strong> um grupo gran<strong>de</strong> (grupo B)<br />

observado em maior parte durante a estação não reprodutiva,<br />

e a possível preparação para a estação reprodutiva, com a formação<br />

<strong>de</strong> casais (grupo C). Esses dados contrariam Parker III e<br />

Willis (1997), que afirmam que essa ave vive aos pares ou em<br />

famílias <strong>de</strong> três a 10 indivíduos, formadas na estação reprodutiva,<br />

permanecendo unidas durante o inverno.<br />

Culicivora caudacuta é uma ave territorialista, o que foi<br />

<strong>de</strong>monstrado pela observação da constante vocalização feita<br />

durante a movimentação ao longo do território, pelas sucessivas<br />

respostas ao playback durante a estação reprodutiva e<br />

por um confronto observado entre grupos nos limites <strong>de</strong> três<br />

territórios. Esse confronto envolveu os resi<strong>de</strong>ntes das áreas A<br />

e C e um outro casal com área não <strong>de</strong>marcada. Os indivíduos<br />

dominantes se empoleiravam em pontos mais altos e cantavam<br />

intensamente, comportamento que também pô<strong>de</strong> ser visto em<br />

resposta ao playback. Foi notado que esse tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa territorial<br />

ocorre mais no início da manhã e <strong>de</strong> forma mais intensa<br />

durante a estação reprodutiva.<br />

A área <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>ssa ave compreen<strong>de</strong> regiões <strong>de</strong> campo<br />

limpo, parque cerrado, campo sujo, cerrado ralo e eventualmente<br />

<strong>de</strong> cerrado típico, sendo que um único grupo po<strong>de</strong><br />

ocupar todas essas fitofisionomias. No entanto, observa-se na<br />

figura 1 que ela é mais comumente encontrada em áreas <strong>de</strong><br />

campo limpo e campo sujo, assim como constatado por um<br />

estudo <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aves <strong>de</strong> áreas abertas do Cerrado<br />

(Tubelis e Cavalcanti 2001), e em áreas <strong>de</strong> parque cerrado<br />

(campo <strong>de</strong> murunduns).<br />

A extensão da área <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> C. caudacuta é maior do<br />

que 17,5 ha. À medida que mais pontos eram marcados para<br />

os grupos A e B, registrou-se um aumento das suas áreas <strong>de</strong><br />

vida, no entanto, as observações feitas não foram suficientes<br />

para que as curvas <strong>de</strong>ssas áreas se estabilizassem (Figura 2).<br />

Isso indica que a área <strong>de</strong>limitada para os grupos ainda não está<br />

completa e que mais observações seriam necessárias para a<br />

<strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> seu tamanho correto. A área <strong>de</strong> vida do grupo<br />

C não foi comparada à dos outros grupos <strong>de</strong>vido ao baixo<br />

número <strong>de</strong> observações.<br />

Os resultados preliminares da extensão da área <strong>de</strong> vida <strong>de</strong><br />

C. caudacuta no cerrado do Brasil Central mostram a importância<br />

da preservação <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> campos do cerrado. Estes cam-


572 Nadinni Oliveira <strong>de</strong> Matos Sousa e Miguel Ângelo Marini<br />

Área <strong>de</strong> vida (ha)<br />

20<br />

18<br />

16<br />

14<br />

12<br />

10<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

Grupo A<br />

Grupo B<br />

0<br />

0 12 22 32 42 52 62 72<br />

Número <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> observação<br />

Figura 2. Tamanho das áreas <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> dois grupos <strong>de</strong> Culicivora caudacuta<br />

<strong>de</strong>marcados na Estação Ecológica <strong>de</strong> Águas Emendadas, DF.<br />

Figure 2. Home range sizes of two groups of Culicivora caudacuta from<br />

Estação Ecológica <strong>de</strong> Águas Emendadas, DF.<br />

bouvreuil não são capazes <strong>de</strong> se adaptar a pastagens (Tubelis<br />

e Cavalcanti 2000).<br />

Este estudo amplia o conhecimento sobre C. caudacuta,<br />

mas revela a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma caracterização mais <strong>de</strong>talhada<br />

da história <strong>de</strong> vida e comportamento social <strong>de</strong>sta ave<br />

<strong>de</strong>ntro e entre regiões geográficas, necessária para subsidiar<br />

medidas <strong>de</strong> conservação para a espécie.<br />

Figura 1. Áreas <strong>de</strong> vida (linhas contínuas) <strong>de</strong> três grupos (A, B e C) <strong>de</strong><br />

Culicivora caudacuta <strong>de</strong>marcadas na gra<strong>de</strong> <strong>de</strong> 100 ha (linha tracejada)<br />

na Estação Ecológica <strong>de</strong> Águas Emendadas, DF. Os pontos pretos (●)<br />

representam locais <strong>de</strong> captura <strong>de</strong> casais/indivíduos que não tiveram suas áreas<br />

<strong>de</strong> vida <strong>de</strong>marcadas.<br />

Figure 1. Home range (solid lines) of three groups (A, B and C) of Culicivora<br />

caudacuta plotted in a 100 ha grid (dashed line) located at Estação Ecológica<br />

<strong>de</strong> Águas Emendadas, DF. The black dots (●) represent capture sites of pairs/<br />

individuals which did not have their/its home range(s) measured.<br />

pos são redutos <strong>de</strong> um consi<strong>de</strong>rável número <strong>de</strong> espécies raras<br />

e endêmicas (Stotz et al. 1996), e vêm sofrendo forte pressão,<br />

causando um <strong>de</strong>clínio <strong>de</strong> diversas aves <strong>de</strong> campo maior do que<br />

qualquer outra guilda ecológica ou comportamental (Knopf<br />

1994). Ameaças a essa espécie incluem introdução <strong>de</strong> gramíneas<br />

exóticas, queimadas anuais, sobrepastejo e conversão <strong>de</strong><br />

campos naturais em monoculturas <strong>de</strong> soja e eucalipto (Parker<br />

III e Willis 1997, Fontana et al. 2003, BirdLife International<br />

2006), estas últimas ativida<strong>de</strong>s sendo intensamente observadas<br />

no Cerrado (Klink e Machado 2005), principal reduto da<br />

espécie (Fontana et al. 2003). Vale ressaltar que espécies obrigatórias<br />

<strong>de</strong> capinzais, como C. caudacuta, Cistothorus platensis,<br />

Alectrurus tricolor, Coryphaspiza melanotis e Sporophila<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

Ao CNPq pelas bolsas <strong>de</strong> Produtivida<strong>de</strong> em Pesquisa e do<br />

edital Universal a M. Â. Marini, ao CEMAVE/IBAMA pela<br />

concessão das autorizações <strong>de</strong> anilhamento, à administração<br />

da Estação Ecológica <strong>de</strong> Águas Emendadas (GDF), a Bir<strong>de</strong>r’s<br />

Exchange pela doação dos binóculos e aos <strong>de</strong>mais integrantes<br />

do Laboratório <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> da UnB pela ajuda nas ativida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> campo.<br />

Referências Bibliográficas<br />

Alves, M. A. S. e R. B. Cavalcanti (1990) Ninhos, ovos e crescimento<br />

<strong>de</strong> filhotes <strong>de</strong> Neothraupis fasciata. Ararajuba,<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> 1:91‐94.<br />

BirdLife International (2006) Species factsheet: Culicivora<br />

caudacuta. http://www.birdlife.org (acesso em 05/2006).<br />

Di Giacomo, A. G. (2005) Aves <strong>de</strong> la Reserva El Bagual,<br />

p. 201‐465. Em: A. G. Di Giacomo e S. F. Krapovickas


Biologia <strong>de</strong> Culicivora caudacuta (Aves: Tyrannidae) no Cerrado, Brasília, DF 573<br />

(eds.) Historia natural y paisaje <strong>de</strong> la Reserva El Bagual,<br />

Provincia <strong>de</strong> Formosa, Argentina. Inventario <strong>de</strong> la fauna<br />

<strong>de</strong> vertebrados y <strong>de</strong> la flora vascular <strong>de</strong> un área protegida<br />

<strong>de</strong>l Chaco Húmedo. Buenos Aires: Aves Argentinas/<br />

Asociación Ornitológica <strong>de</strong>l Plata (Temas <strong>de</strong> Naturaleza<br />

y Conservación 4).<br />

Fontana, C. S., G. A. Bencke e R. E. Reis (2003) Livro Vermelho<br />

da Fauna Ameaçada <strong>de</strong> Extinção no Rio Gran<strong>de</strong> do<br />

Sul. Porto Alegre: EDIPUCRS.<br />

Foster, M. S. (1975) The overlap of molting and breeding in<br />

some tropical birds. Condor 77:304‐314.<br />

França, L. C. (2005) Teste do efeito <strong>de</strong> borda na predação<br />

<strong>de</strong> ninhos naturais e artificiais no Cerrado do Planalto<br />

Central, Brasil. Dissertação <strong>de</strong> Mestrado. Brasília: Universida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Brasília.<br />

Klink, A. C. e R. B. Machado (2005) Conservation of the Brazilian<br />

Cerrado. Conservation Biology 19:707‐713.<br />

Knopf, F. L. (1994) Avian assemblages on altered grasslands.<br />

Studies in Avian Biology 15:247‐257.<br />

Lopes, L. E. e M. Â. Marini (2005) Biologia reprodutiva <strong>de</strong><br />

Suiriri affinis e S. islerorum no Cerrado do Brasil Central.<br />

Papéis Avulsos <strong>de</strong> Zoologia 45(12):127‐141.<br />

Machado, A. B. M., G. A. B. Fonseca, R. B. Machado, L. M.<br />

S. Aguiar e L. V. Lins (1998) Livro vermelho das espécies<br />

ameaçadas <strong>de</strong> extinção da fauna <strong>de</strong> Minas Gerais.<br />

Belo Horizonte: Fundação Biodiversitas.<br />

Marini, M. Â. e R. Durães (2001) Annual patterns of molt and<br />

reproductive activity of passerines in south-central Brazil.<br />

Condor 103:767‐775.<br />

Me<strong>de</strong>iros, R. C. S. e M. Â. Marini (2007) Biologia reprodutiva<br />

<strong>de</strong> Elaenia chiriquensis (Lawrence) (Aves, Tyrannidae)<br />

em Cerrado do Brasil Central. <strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Zoologia<br />

24:12‐20.<br />

Mikich, S. B. e R. S. Bérnils (2004) Livro vermelho da fauna<br />

ameaçada no Estado do Paraná. Curitiba: Instituto<br />

Ambiental do Paraná.<br />

MMA (2003) Lista nacional das espécies da fauna brasileira<br />

ameaçadas <strong>de</strong> extinção. http://www.mma.gov.br/port/<br />

sbf/fauna/in<strong>de</strong>x.cfm (acesso em 03/2006).<br />

Odum, E. P. e E. J. Kuenzler (1955) Measurement of territory<br />

size and home range size in birds. Auk 72:128‐137.<br />

Parker III, T. A. e E. O. Willis (1997) Notes on three tiny grassland<br />

flycatchers, with comments on the disappearance<br />

of South American fire diversified savannas. Ornithological<br />

Monographs 48:549‐555.<br />

Piratelli, A. J., M. A. C. Siqueira e L. O. Marcon<strong>de</strong>s-Machado<br />

(2000) Reprodução e muda <strong>de</strong> penas <strong>de</strong> aves <strong>de</strong> sub-bosque<br />

na região leste <strong>de</strong> Mato Grosso do Sul. Ararajuba,<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> 8:99‐107.<br />

Ribeiro, J. F. e B. M. T. Walter (1998) Fitofisionomias do<br />

bioma Cerrado, p. 89‐166. Em: S. M. Sano e S. P. Almeida<br />

(eds.) Cerrado: Ambiente e Flora. Brasília: Empresa <strong>Brasileira</strong><br />

<strong>de</strong> Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA).<br />

Ridley, M. (1993) Evolution. Oxford: Blackwell Scientific<br />

Publications.<br />

Sick, H. (1997) <strong>Ornitologia</strong> <strong>Brasileira</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova<br />

Fronteira.<br />

Silva e Silva, R. (2006) Biologia reprodutiva <strong>de</strong> Culicivora<br />

caudacuta (Tyrannidae) em Tapira, MG. Em: Anais do<br />

XIV Congresso Brasileiro <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>. Ouro Preto:<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Ouro Preto, Socieda<strong>de</strong> <strong>Brasileira</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>.<br />

Stiles, F. G. e L. L. Wolf (1974) A possible circannual molt<br />

rhythm in a tropical hummingbird. American Naturalist<br />

108:341‐354.<br />

Stotz, D. F., J. W. Fitzpatrick, T. A. Parker III e D. K. Moskovits<br />

(1996) Neotropical Birds, ecology and conservation.<br />

Chicago: The University of Chicago Press.<br />

Stutchbury, B. J. M. e E. S. Morton (2001) Behavioral Ecology<br />

of Tropical Birds. San Diego: Aca<strong>de</strong>mic Press.<br />

Tubelis, D. P. e R. B. Cavalcanti (2000) A comparison of bird<br />

communities in natural and disturbed non-wetland open<br />

habitats in the Cerrado’s central region, Brazil. Bird Conservation<br />

International 10:331‐350.<br />

Tubelis, D. P. e R. B. Cavalcanti (2001) Community similarity<br />

and abundance of bird species in open habitats of<br />

a Central Brazilian Cerrado. <strong>Ornitologia</strong> Neotropical<br />

12:57‐73.


ARTIGO 574 Alexandre Curcino, Carlos Eduardo R. <strong>de</strong> Sant'Ana e Nean<strong>de</strong>r Marcel <strong>Revista</strong> Heming<strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> 15(4):574-584<br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007<br />

Comparação <strong>de</strong> três comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aves na região <strong>de</strong><br />

Niquelândia, GO<br />

Alexandre Curcino 1 , Carlos Eduardo R. <strong>de</strong> Sant’Ana 2 e Nean<strong>de</strong>r Marcel Heming 1<br />

1. Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Ecologia e Evolução, Instituto <strong>de</strong> Ciências Biológicas, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás,<br />

Caixa Postal 131, 74001-970, Goiânia, GO. E-mail: alexavante@yahoo.com.br<br />

2. Centro Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Educação Tecnológica (CEFET)-GO, Goiânia, GO.<br />

Recebido em 25 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2007; aceito em 01 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2007.<br />

Abstract: Comparison of three bird communities near Niquelândia, in the state of Goias. Un<strong>de</strong>rstanding different savanna habitats is fundamental<br />

to <strong>de</strong>termine distribution of bird species, due to its heterogeneity. We studied richness, abundance and species composition in Mata da Barragem<br />

(MB), Pedra Ver<strong>de</strong> (PV) and Morro Seco (MS), in the reserve of the Anglo-American Mining Company – CODEMIN, Niquelândia, Goias, Brazil. In<br />

six censuses during 2005-2006, 156 bird species were found in 46 families, and 106 species were counted in 90 samples and 850 contacts. Relative<br />

abundance varied from 0.011 (1 contact) to 0.422 (38 contacts). Areas PV and MS were most similar. In MB there was larger abundance of Emberizidae,<br />

while in PV Tyrannidae was more abundant and Thraupidae was in MS. Species with maximum occurrence and high relative abundance in a place were<br />

not the most frequent and abundant in the others, probably due the differences between available of resources.<br />

Key-words: avifauna, cerrado, community.<br />

Resumo: O estudo dos diferentes habitats do Cerrado é fundamental para <strong>de</strong>terminar a distribuição da avifauna, em razão <strong>de</strong> sua rica constituição, com<br />

vários mosaicos com características intrínsecas particulares. O objetivo <strong>de</strong>ste estudo foi comparar as comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aves entre três locais na região <strong>de</strong><br />

Niquelândia, GO, conhecidos como Mata da Barragem (MB), Pedra Ver<strong>de</strong> (PV) e do Morro Seco (MS). Na Reserva da Mineradora Anglo-American<br />

– CODEMIN, foram realizadas seis campanhas, entre 2005-2006. Foram registradas 156 espécies <strong>de</strong> aves em 46 famílias e no levantamento quantitativo<br />

foram registradas 106 espécies em 90 amostras e 850 contatos. O IPA variou <strong>de</strong> 0,011 (1 contato) a 0,422 (38 contatos). A similarida<strong>de</strong> foi maior entre<br />

PV e MS, ambas <strong>de</strong> formações savânicas. Em MB houve maior abundância da família Emberizidae, já em PV Tyrannidae foi mais abundante e em MS<br />

houve um predomínio <strong>de</strong> Thraupidae. As espécies com 100% <strong>de</strong> ocorrência e alta abundância relativa numa <strong>de</strong>terminada localida<strong>de</strong> não foram as mais<br />

freqüentes e abundantes nos outros dois locais, fato que po<strong>de</strong> estar relacionado, entre outros fatores, à diferença que estes locais provavelmente possuem<br />

na disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos (alimento e abrigo).<br />

Palavras-chave: avifauna, cerrado, comunida<strong>de</strong>.<br />

O estudo dos diferentes habitats do Cerrado é fundamental<br />

para <strong>de</strong>terminar a distribuição da avifauna local (Bibby<br />

et al. 2000, Vielliard 2000, Silva e Bates 2002), em razão<br />

<strong>de</strong> sua rica constituição, com vários mosaicos com características<br />

intrínsecas particulares (Klink e Machado 2005). A<br />

i<strong>de</strong>ntificação das sublocalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ocorrência da avifauna é<br />

importante para o direcionamento <strong>de</strong> estudos que esclareçam<br />

melhor alguns aspectos ecológicos importantes, como por<br />

exemplo, a organização trófica das espécies, a composição<br />

da riqueza e abundância local existentes em diferentes localida<strong>de</strong>s<br />

(Silva e Bates 2002, Klink e Machado 2005, Marini<br />

e Garcia 2005). Entre as áreas consi<strong>de</strong>radas prioritárias pelo<br />

Ministério do Meio Ambiente (2004), a região da Serra da<br />

Mesa/Niquelândia foi consi<strong>de</strong>rada <strong>de</strong> extrema importância<br />

biológica, sendo recomendado o manejo intensivo da<br />

biodiversida<strong>de</strong>.<br />

Aqui, a riqueza, a abundância e a composição da avifauna<br />

são comparadas em três locais da região <strong>de</strong> Niquelândia, GO.<br />

Verificamos que a variação fitofisionômica influencia tanto na<br />

similarida<strong>de</strong> da avifauna quanto na proporção <strong>de</strong> espécies e<br />

indivíduos <strong>de</strong>ntro das famílias e das guildas tróficas nos três<br />

locais <strong>de</strong> estudo.<br />

Material e Métodos<br />

Área <strong>de</strong> Estudo. As comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aves foram comparadas<br />

entre três locais na reserva da Mineradora Anglo-American<br />

– CODEMIN, na região da Serra da Mesa, a 45 km do município<br />

<strong>de</strong> Niquelândia, GO, numa área <strong>de</strong> 496 ha, e situada a<br />

14°09’34”S e 48°20’06”W (Figura 1). A precipitação média<br />

é <strong>de</strong> 1.400 mm com um período <strong>de</strong> chuvas (outubro-abril), e<br />

<strong>de</strong> seca (maio-setembro). A temperatura média no período <strong>de</strong><br />

chuvas, é <strong>de</strong> 27°C e no <strong>de</strong> seca é <strong>de</strong> 25°C. A umida<strong>de</strong> relativa<br />

do ar no período <strong>de</strong> chuvas é <strong>de</strong> 77% e no período <strong>de</strong> seca é <strong>de</strong><br />

51% (Souza 2003).<br />

Os três locais estudados foram: “Mata da Barragem”<br />

(MB), com 488 metros <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong> (14°08’95”S, 48°20’08”W),<br />

<strong>de</strong> mata ciliar, com <strong>de</strong>ciduida<strong>de</strong> na época seca, e está situada<br />

nas imediações das instalações da mineradora; “Pedra Ver<strong>de</strong>”<br />

(PV), com 496 metros <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong> (14°11’03”S, 48°21’08”W)<br />

é cerrado sentido restrito, com pequenos córregos intermitentes<br />

que permanecem secos durante a maior parte do ano;<br />

“Morro Seco” (MS), com 610 metros <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong> (14°12’20”S,<br />

48°22’52”W) que é formado por vereda. As classificações<br />

fitofisionômicas seguiram Ribeiro e Walter (1998).


Comparação <strong>de</strong> três comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aves na região <strong>de</strong> Niquelândia, GO 575<br />

Metodologia. Foram realizadas seis campanhas, uma por<br />

bimestre, com duração <strong>de</strong> seis dias cada, entre os meses <strong>de</strong><br />

outubro 2005 e agosto <strong>de</strong> 2006, com um total <strong>de</strong> dois observadores.<br />

Foram reservados dois dias para os levantamentos em<br />

cada local.<br />

Levantamento exaustivo. Em cada campanha, os três locais <strong>de</strong><br />

estudo foram percorridos, em caminhadas iniciadas ao amanhecer<br />

e estendidas até o anoitecer, totalizando 126 horas <strong>de</strong><br />

estudo. Em cada encontro (auditivo ou visual) foram registrados:<br />

hora, espécie e a sua quantida<strong>de</strong> e localização. As vocalizações<br />

foram registradas com auxílio <strong>de</strong> gravador e microfone<br />

direcional Sennheiser MKH 816T e <strong>de</strong>positadas no Arquivo<br />

Sonoro Neotropical, do laboratório <strong>de</strong> Bioacústica da Unicamp,<br />

Campinas, SP.<br />

Levantamento quantitativo. Para o levantamento quantitativo<br />

da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aves foi utilizada a metodologia <strong>de</strong> pontos<br />

fixos (Blon<strong>de</strong>l et al. 1970, adaptada por Vielliard e Silva<br />

1990). Em cada local foram estabelecidos 20 pontos <strong>de</strong> observação,<br />

com distância mínima <strong>de</strong> 200 m entre eles, sendo amostrados<br />

cinco pontos após sorteio prévio, entre 06:00-08:00 h<br />

(Antas e Cavalcanti 1988). No total, foram amostrados 30 pontos<br />

em cada local. O tempo <strong>de</strong> amostragem em cada ponto foi<br />

<strong>de</strong> 20 min e foram consi<strong>de</strong>radas e anotadas todas as <strong>de</strong>tecções<br />

visuais e auditivas com distância ilimitada, que permitiu calcular<br />

o IPA (Índice Pontual <strong>de</strong> Abundância) por espécie.<br />

As espécies foram agrupadas em guildas tróficas e foi realizada<br />

a comparação das guildas nos locais <strong>de</strong> estudo (Willis<br />

1979), Motta-Junior (1990) e Sick (1997). A nomenclatura das<br />

espécies seguiu Sick (1997), com as <strong>de</strong>vidas atualizações propostas<br />

pelo CBRO (2006).<br />

Análises. Foram calculadas a freqüência <strong>de</strong> ocorrência (FO)<br />

que correspon<strong>de</strong> à razão entre o número <strong>de</strong> dias <strong>de</strong> registro<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada espécie e o número total <strong>de</strong> dias em que foi<br />

realizado o estudo e a abundância relativa, calculada por meio<br />

do índice pontual <strong>de</strong> abundância (IPA). Tanto a freqüência <strong>de</strong><br />

ocorrência quanto o índice pontual <strong>de</strong> abundância seguiram<br />

Vielliard e Silva (1990).<br />

Foi utilizado o coeficiente <strong>de</strong> Pearson para testar a correlação<br />

entre a freqüência <strong>de</strong> ocorrência e a abundância relativa. O<br />

coeficiente <strong>de</strong> Jaccard foram utilizados para comparar os três<br />

locais, conforme Krebs (1999).<br />

Figura 1. Locais <strong>de</strong> estudo com os pontos <strong>de</strong> amostragem, na reserva da Mineradora Anglo-American-CODEMIN, região <strong>de</strong> Niquelândia, GO. 2005-2006. (MB)<br />

Mata da Barragem; (PV) Pedra Ver<strong>de</strong> e (MS) Morro Seco.<br />

Figure 1. Study places, with the points counts, in the reservation of Mineradora Anglo-American-CODEMIN, Niquelândia, GO, Brazil. 2005-2006. (MB); Mata<br />

da Barragem (PV) Pedra Ver<strong>de</strong> and (MS) Morro Seco.


576 Alexandre Curcino, Carlos Eduardo R. <strong>de</strong> Sant'Ana e Nean<strong>de</strong>r Marcel Heming<br />

Resultados<br />

Riqueza <strong>de</strong> espécies. Foram registradas 156 espécies <strong>de</strong> aves<br />

para os três locais, durante as seis campanhas realizadas (Apêndice<br />

1). A riqueza em MB foi <strong>de</strong> 120 espécies, em PV foi <strong>de</strong><br />

102 espécies e em MS foi <strong>de</strong> 100 espécies. Foram incluídas,<br />

na lista geral <strong>de</strong> espécies, algumas espécies não características<br />

<strong>de</strong> ambiente <strong>de</strong> mata, e sim, <strong>de</strong> ambientes aquáticos, como<br />

Phalacrocorax brasilianus, Dendrocygna viduata, Anhinga<br />

anhinga, Butori<strong>de</strong>s striata, Ceryle torquatus e Chloroceryle<br />

amazona, que foram registradas no período chuvoso. Estas<br />

espécies, além daquelas registradas ocasionalmente nas proximida<strong>de</strong>s<br />

do alojamento, foram incluídas na listagem geral,<br />

mas não foram consi<strong>de</strong>radas nas comparações dos locais <strong>de</strong><br />

estudo. Com o acréscimo <strong>de</strong>stes registros ocasionais, foram<br />

acrescentadas mais 14 espécies para a região, totalizando 170<br />

espécies. A curva cumulativa do número <strong>de</strong> espécies apresentada<br />

(Figura 2) correspon<strong>de</strong> a 126 horas <strong>de</strong> observação. Houve<br />

diferença significativa entre as curvas (F = 17,6; p = 0.0008).<br />

As diferenças ocorreram entre MB e MS (t = 5.753; p < 0.001)<br />

e entre PV e MS (t = 4.119; p = 0.002), e não houve diferença<br />

entre MB e PV (t = 1.633; p = 0.13).<br />

Freqüência <strong>de</strong> Ocorrência (FO%). Nos três locais, 24% das<br />

espécies tiveram freqüência <strong>de</strong> ocorrência acima <strong>de</strong> 75%<br />

(Tabela 1). Por outro lado, 81 espécies (67%) apresentaram<br />

freqüência <strong>de</strong> ocorrência até 50% em MB, enquanto que em<br />

PV o total foi <strong>de</strong> 64 espécies (63%) e em MS foi <strong>de</strong> 65 espécies<br />

(65%).<br />

Outras espécies <strong>de</strong>tectadas em localida<strong>de</strong>s adjacentes e<br />

num pequeno lago próximo, tiveram baixa freqüência <strong>de</strong> ocorrência,<br />

ou por não serem típicas <strong>de</strong> ambiente florestal, ou pela<br />

própria característica do lago, seco em boa parte do ano.<br />

As espécies com freqüência <strong>de</strong> ocorrência máxima (100%)<br />

comuns aos três locais estudados foram: Cyanocorax cyanopogon,<br />

Euphonia chlorotica e Thryothorus leucotis.<br />

Abundância relativa das espécies. Em um total <strong>de</strong> 90 amostras,<br />

com 837 contatos, o Índice Pontual <strong>de</strong> Abundância (IPA)<br />

variou <strong>de</strong> 0,011 (1 contato) a 0,422 (38 contatos). Foram registradas<br />

106 espécies, com média <strong>de</strong> 29,7 espécies por campanha,<br />

com variação <strong>de</strong> 15 espécies na primeira campanha a 46<br />

espécies na sexta campanha. MB teve 59 espécies, PV teve 80<br />

espécies e MS teve 73 espécies. As espécies mais abundantes,<br />

quando consi<strong>de</strong>rados todos os locais, foram Thryothorus<br />

leucotis, Euphonia chlorotica, Herpsilochmus atricapillus,<br />

Basileuterus flaveolus, Saltator similis, Leptotila verreauxi,<br />

Cyanocorax cyanopogon, Vireo olivaceus, Turdus leucomelas<br />

e Megarynchus pitangua.<br />

Nos 238 contatos em MB, houve variação no IPA <strong>de</strong> 0,033<br />

(1 contato) a 0,700 (21 contatos). Em PV houve 332 contatos,<br />

com variação no IPA <strong>de</strong> 0,033 (1 contato) a 0,567 (17 contatos).<br />

Já em MS, foram registrados 280 contatos com variação<br />

no IPA <strong>de</strong> 0,033 (1 contato) a 0,433 (13 contatos) e 14 espécies<br />

mais abundantes que a média (0,200).<br />

Em MB, houve maior maior abundância <strong>de</strong> Herpsilochmus<br />

atricapillus e Basileuterus flaveolus, indicando serem espécies<br />

fortemente relacionadas com o local. Entretanto, em MB<br />

houve poucas espécies com altos índices <strong>de</strong> abundância e também<br />

o menor número <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong>tectadas se comparada aos<br />

<strong>de</strong>mais locais.<br />

Entre as mais abundantes em PV, <strong>de</strong>stacaram-se: Thryothorus<br />

leucotis, Saltator similis e Leptotila verreauxi. Em MS,<br />

<strong>de</strong>stacou-se Euphonia chlorotica.<br />

A freqüência <strong>de</strong> ocorrência e a abundância relativa das<br />

espécies que foram registradas nas metodologias <strong>de</strong> transectos<br />

Número acumulado <strong>de</strong> espécies<br />

120<br />

100<br />

80<br />

60<br />

40<br />

20<br />

Out-05 Dez-05 Fev-06 Abr-06 Jun-06 Ago-06<br />

Meses<br />

MB<br />

PV<br />

MS<br />

Figura 2. Curva cumulativa do número <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> aves registradas<br />

no levantamento qualitativo, na reserva da Mineradora Anglo-American<br />

– CODEMIN, em Niquelândia, GO. (MB) Mata da Barragem; (PV) Pedra<br />

Ver<strong>de</strong>; (MS) Morro Seco.<br />

Figure 2. Cumulative curves of registered bird species in the Reservation<br />

of Mineradora Anglo-American – CODEMIN, in Niquelândia, GO, Brazil.<br />

(MB); Mata da Barragem (PV) Pedra Ver<strong>de</strong> and (MS) Morro Seco.<br />

Tabela 1. Número <strong>de</strong> espécies organizadas <strong>de</strong> acordo com a classe <strong>de</strong> freqüência <strong>de</strong> ocorrência, durante o levantamento qualitativo na reserva da Mineradora<br />

Anglo-American – CODEMIN, em Niquelândia, GO, 2005‐2006. (MB) Mata da Barragem; (PV) Pedra Ver<strong>de</strong> e MS (Morro Seco).<br />

Table 1. Species number according frequency of occurrence, in the reservation of Mineradora Anglo-American – CODEMIN, in Niquelândia, GO, Brazil,<br />

2005‐2006. (MB) Mata da Barragem; (PV) Pedra Ver<strong>de</strong>; (MS) Morro Seco.<br />

Localida<strong>de</strong><br />

Classes <strong>de</strong> Freqüência <strong>de</strong> Ocorrência (FO%)<br />

≤ 25 > 26 e ≤ 50 > 50 e ≤ 75 > 76 e ≤ 99 100<br />

Total<br />

MB 39 (32,5%) 42 (35,0%) 15 (12,5%) 14 (11,7%) 10 (8,3%) 120 (100,0%)<br />

PV 27 (26,8%) 37 (36,7%) 13 (12,8%) 11 (10,9%) 13 (12,8) 101 (100,0%)<br />

MS 30 (30,0%) 35 (35,0%) 11 (11,0%) 13 (13,0%) 11 (11,0%) 100 (100,0%)


Comparação <strong>de</strong> três comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aves na região <strong>de</strong> Niquelândia, GO 577<br />

e <strong>de</strong> pontos fixos foram correlacionadas em PV (coeficiente<br />

<strong>de</strong> spearman r = 0,97; n = 79), MS (r = 0,95; n = 71) e MB<br />

(r = 0,74; n = 61). Em todos os casos a correlação foi significativa<br />

(p < 0.0001).<br />

A média nos três locais foi <strong>de</strong> 9,3 contatos/amostra, com<br />

variação <strong>de</strong> 7,5 a 11,1 contatos/amostra. Os registros sofreram<br />

variação no <strong>de</strong>correr do ano e os resultados obtidos no levantamento<br />

quantitativo indicaram, em geral, números menores <strong>de</strong><br />

contatos/amostra em fevereiro <strong>de</strong> 2006, e números maiores em<br />

agosto <strong>de</strong> 2006 (Figura 3a). A média <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecções foi <strong>de</strong> 29,7<br />

espécies por campanha (consi<strong>de</strong>rando-se um total <strong>de</strong> cinco<br />

amostras) com variação <strong>de</strong> 15 espécies/campanha, em outubro<br />

<strong>de</strong> 2005, em MB a 46 espécies/campanha, em agosto <strong>de</strong> 2006,<br />

em PV (Figura 3b).<br />

A similarida<strong>de</strong> da avifauna revelou-se maior entre PV e<br />

MS (58%), o que po<strong>de</strong> ser explicado pelo fato <strong>de</strong> ambas apresentarem<br />

formações savânicas, constrastando com MB, com<br />

típica formação florestal.<br />

Principais famílias. Quando consi<strong>de</strong>rados todos os locais, os<br />

Tyrannidae foram representados por 20 espécies (13%) e os<br />

Thraupidae por 13 espécies (8%). As famílias Picidae, Thamnophilidae<br />

e Emberizidae foram representadas por oito espécies cada<br />

(5%), seguidas <strong>de</strong> Columbidae e Trochilidae com seis espécies<br />

cada (4%). Quando consi<strong>de</strong>rados os locais em separado, o predomínio<br />

dos Tyrannidae e Thraupidae se manteve (Tabela 2).<br />

Em MB houve maior abundância da família Emberizidae<br />

(63 indivíduos), com predomínio <strong>de</strong> espécies que foram registradas<br />

nas bordas da localida<strong>de</strong>, como Volatinia jacarina, Sporophila<br />

nigricollis e Zonotrichia capensis.<br />

Em PV ocorreu maior abundância <strong>de</strong> Tyrannidae (66 indivíduos),<br />

<strong>de</strong>stacando-se a maior abundância <strong>de</strong> Megarynchus<br />

pitangua e Tyrannus melancholicus. Em MS houve um predomínio<br />

<strong>de</strong> Thraupidae (49 indivíduos), com maior número <strong>de</strong><br />

registros <strong>de</strong> indivíduos <strong>de</strong> Cyanerpes cyaneus, Tachyphonus<br />

rufus e Thraupis sayaca.<br />

Guildas tróficas. No geral, houve o predomínio das espécies<br />

insetívoras, seguidas pelas espécies onívoras (Tabela 3) concordando<br />

com diversos estudos relatados por Marini (2001)<br />

em região <strong>de</strong> Cerrado. Motta-Junior (1990) afirma, entretanto,<br />

que uma melhor representação do uso <strong>de</strong> recursos alimentares<br />

ocorre quando consi<strong>de</strong>ramos, além do número <strong>de</strong> espécies, o<br />

número <strong>de</strong> indivíduos.<br />

O número <strong>de</strong> espécies frugívoras foi equivalente ao número<br />

<strong>de</strong> espécies granívoras nos três locais (nove frugívoros e oito<br />

granívoros em MB; nove frugívoros e granívoros em PV e 12<br />

frugívoros e oito granívoros em MS). Entretanto, foi notável a<br />

diferença entre indivíduos <strong>de</strong> ambas as categorias tróficas em<br />

MS com gran<strong>de</strong> predomínio dos frugívoros (102 indivíduos<br />

contra 27 indivíduos <strong>de</strong> granívoros), o que não ocorreu nos<br />

locais on<strong>de</strong> as diferenças foram menores. Já em PV, houve<br />

predomínio <strong>de</strong> granívoros (77 indivíduos).<br />

Discussão<br />

A correlação entre a freqüência em que uma espécie ocorre<br />

e sua abundância permitiu um melhor conhecimento dos seus<br />

níveis <strong>de</strong> residência (Tabela 5) além <strong>de</strong> fornecer subsídios provavelmente<br />

mais robustos para a compreensão, em novos estudos<br />

comparativos, da relação entre abundância e a persistência<br />

na comunida<strong>de</strong>. Euphonia chlorotica apresentou máxima freqüência<br />

e alta abundância nos três locais. Isto se <strong>de</strong>ve, entre<br />

outros fatores, a distribuição diversificada <strong>de</strong>sta espécie, habitando<br />

tanto as matas ciliares quanto os cerrados e os cerradões<br />

(Sick 1997, Antas e Cavalcanti 1988).<br />

A maioria das espécies que apresentaram 100% <strong>de</strong> ocorrência<br />

e alta abundância relativa numa <strong>de</strong>terminada localida<strong>de</strong><br />

não foram as mais freqüentes e abundantes nos outros dois<br />

locais, fato que po<strong>de</strong> estar relacionado à diferença que estes<br />

locais provavelmente possuem na disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos,<br />

como por exemplo, disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alimento e abrigo para<br />

14<br />

a<br />

50<br />

b<br />

Contatos / amostra<br />

12<br />

10<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

Out-05 Dez-05 Fev-06 Abr-06 Jun-06 Ago-06<br />

Campanhas<br />

MB<br />

PV<br />

MS<br />

Número <strong>de</strong> espécies<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

MB<br />

PV<br />

MS<br />

Out-05 Dez-05 Fev-06 Abr-06 Jun-06 Ago-06<br />

Campanhas<br />

Figura 3. Variação do número <strong>de</strong> contatos/amostra (a) e do número <strong>de</strong> espécies (b) da avifauna, na reserva da Mineradora Anglo-American – CODEMIN, em<br />

Niquelândia, GO. (MB) Mata da Barragem; (PV) Pedra Ver<strong>de</strong>; (MS) Morro Seco.<br />

Figure 3. Variation of contact’s number (a) and specie’s number (b) of the avifauna in the reservation of Mineradora Anglo-American – CODEMIN, Niquelândia,<br />

GO, Brazil. (MB); Mata da Barragem (PV) Pedra Ver<strong>de</strong> and (MS) Morro Seco.


578 Alexandre Curcino, Carlos Eduardo R. <strong>de</strong> Sant'Ana e Nean<strong>de</strong>r Marcel Heming<br />

Tabela 2. Principais famílias registradas, durante o levantamento qualitativo, na Mineradora Anglo-American – CODEMIN, em Niquelândia, GO, 2005-2006.<br />

(MB) Mata da Barragem; (PV) Pedra Ver<strong>de</strong> e (MS) Morro Seco; (Esp.) Espécies; (Ind.) Indivíduos.<br />

Table 2. Families registered in the reservation of Mineradora Anglo-American – CODEMIN, Niquelândia, GO, Brazil, 2005-2006. (MB) Mata da Barragem;<br />

(PV) Pedra Ver<strong>de</strong>; (MS) Morro Seco; (Esp.) Species; (Ind.) Individuals.<br />

Famílias<br />

MB<br />

PV<br />

MS<br />

Famílias<br />

Famílias<br />

Esp. Ind. Esp. Ind. Esp. Ind.<br />

Tyrannidae 12 55 Tyrannidae 14 66 Tyrannidae 13 41<br />

Thraupidae 8 61 Thraupidae 7 38 Thraupidae 9 49<br />

Emberizidae 7 63 Picidae 7 11 Thamnophilidae 7 13<br />

Thamnophilidae 6 18 Emberizidae 6 45 Columbidae 5 21<br />

Psittacidae 5 53 Columbidae 6 25 Psittacidae 4 23<br />

Cuculidae 5 35 Psittacidae 5 20 Emberizidae 4 16<br />

Columbidae 5 34 Thamnophilidae 4 16 Cardinalida<strong>de</strong> 4 20<br />

Picidae 4 9 Tinamidae 3 8 Trochilidae 3 7<br />

Parulidae 4 11 Cuculidae 3 12 Tinamidae 3 8<br />

Falconidae 3 7 Cathartidae 3 14 Strigidae 3 4<br />

Bucconidae 3 22 Cardinalida<strong>de</strong> 3 9 Picidae 3 4<br />

Tabela 3. Guildas tróficas encontradas na avifauna, na reserva da Mineradora Anglo-American – CODEMIN, em Niquelândia, GO, 2005-2006. (MB) Mata da<br />

Barragem; (PV) Pedra Ver<strong>de</strong> e (MS) Morro Seco.<br />

Table 3. Trophic guilds of birds in the reservation of Mineradora Anglo-American – CODEMIN, Niquelândia –Similarity of birds was larger between PV and<br />

MS and was done i<strong>de</strong>ntification of two en<strong>de</strong>mic species in the Cerrado GO, Brazil, 2005-2006. (MB) Mata da Barragem; (PV) Pedra Ver<strong>de</strong>; (MS) Morro Seco.<br />

MB PV MS<br />

Guildas<br />

Espécies Indivíduos Espécies Indivíduos Espécies Indivíduos<br />

nº (%) nº (%) nº (%) nº (%) nº (%) nº (%)<br />

Insetívoros 22 36.1 168 52.8 31 38.8 144 31.7 28 38.4 132 31.1<br />

Onívoros 17 27.9 61 19.2 21 26.3 148 32.6 20 27.4 155 36.5<br />

Frugívoros 9 14.8 50 15.7 9 11.3 62 13.7 12 16.4 102 24.0<br />

Granívoros 8 13.1 26 8.2 9 11.3 77 17.0 8 11.0 27 6.4<br />

Carnívoros 2 3.3 5 1.6 2 2.5 3 0.7 2 2.7 2 0.5<br />

Detritivoros 2 3.3 7 2.2 2 2.5 10 2.2 1 1.4 1 0.2<br />

Nectarívoros 1 1.6 1 0.3 6 7.5 10 2.2 2 2.7 6 1.4<br />

Total 61 318 80 454 73 425<br />

as espécies. A hipótese da especialização ecológica estabelece<br />

que espécies que são hábeis para explorar uma vasta gama <strong>de</strong><br />

recursos teriam maior distribuição e maior abundância local,<br />

enquanto espécies especializadas teriam distribuição restrita e<br />

baixa abundância média (Gaston e Lawton 1990, Pomeroy e<br />

Ssekabiira 1990, Hanski et al. 1993, Brändle e Brandl 2001).<br />

Como o recurso muitas vezes sofre influência da sazonalida<strong>de</strong>,<br />

esta se torna um componente importante para a rarida<strong>de</strong> ou<br />

não das espécies num <strong>de</strong>terminado período do ano. Walker<br />

(2006), por exemplo, sugeriu que a avifauna sofre flutuação<br />

<strong>de</strong> sua abundância em resposta a flutuação <strong>de</strong> disponibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> recursos.<br />

No Planalto Central, a maior ativida<strong>de</strong> das aves ocorre<br />

entre agosto e fevereiro, prepon<strong>de</strong>rantemente, entre agosto e<br />

novembro, coincidindo com o período reprodutivo e com a<br />

passagem <strong>de</strong> migrantes pela região. Quando começa a estação<br />

seca (abril/maio) a maioria dos migrantes abandonou o Planalto<br />

Central e a ativida<strong>de</strong> dos resi<strong>de</strong>ntes torna-se mais baixa<br />

(Antas e Cavalcanti 1988).<br />

Os resultados <strong>de</strong> similarida<strong>de</strong>, refletem a heterogeneida<strong>de</strong><br />

fitofisionômica. Tubelis e Cavalcanti (2001) obtiveram<br />

maior similarida<strong>de</strong> entre formações savânicas e campestres,<br />

enquanto que os estudos <strong>de</strong> Bagno e Marinho-Filho (2001),<br />

<strong>de</strong>monstraram menor relação <strong>de</strong> similarida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espécies entre<br />

ambientes florestais, e forte similarida<strong>de</strong> com ambientes <strong>de</strong><br />

formação savânica.<br />

A maior representativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Tyrannidae está relacionada<br />

a sua alta representativida<strong>de</strong> no Cerrado (Sick 1997). A<br />

gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> nichos ecológicos nos trópicos e a correspon<strong>de</strong>nte<br />

fauna entomológica dão maiores vantagens a aves<br />

insetívoras, como Tyrannidae (Sick 1997). Além disso, esta<br />

família é a única que está presente em todos os estratos <strong>de</strong><br />

mata, aumentando sua representativida<strong>de</strong> próxima ao dossel<br />

e acima <strong>de</strong>le, on<strong>de</strong> os indivíduos capturam insetos. Motta-<br />

Junior (1990) e Neto et al. (1998) afirmaram que, quanto<br />

maior a perturbação <strong>de</strong> uma localida<strong>de</strong>, maiores as chances<br />

<strong>de</strong> aumentarem as proporções <strong>de</strong> aves onívoras em relação às<br />

insetívoras.<br />

Das espécies endêmicas do Cerrado, apenas seis foram<br />

estudadas no campo por pelo menos um ano (Marini e Garcia<br />

2005) e não dispomos <strong>de</strong> informações precisas <strong>de</strong> como estas<br />

espécies estão distribuídas no Cerrado e a chave da questão<br />

para a conservação é i<strong>de</strong>ntificar sublocalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> en<strong>de</strong>mismo<br />

neste Bioma (Silva e Bates 2002). O baixo nível <strong>de</strong> en<strong>de</strong>mismo


Comparação <strong>de</strong> três comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aves na região <strong>de</strong> Niquelândia, GO 579<br />

observado, somado ao fato <strong>de</strong> que o Cerrado é o segundo<br />

Bioma com maior número <strong>de</strong> espécies endêmicas ameaçadas<br />

no Brasil (Machado et al. 2004), exige medidas efetivas que<br />

promovam o estudo <strong>de</strong>talhado <strong>de</strong>stas espécies.<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

Agra<strong>de</strong>cemos a Mineradora Anglo-American/CODEMIN,<br />

em Niquelândia, GO; a FUNAPE – Fundação <strong>de</strong> Amparo a<br />

Pesquisa – UFG; ao prof. Dr. Luis Mauricio Bini e ao revisor<br />

pelas valiosas sugestões e correções do manuscrito.<br />

Referências<br />

Antas, P.T. e R.B. Cavalcanti (1988) Aves comuns do Planalto<br />

Central. Brasília: Editora Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília.<br />

Ayres, M., M. Ayres Jr., D.L. Ayres e A. S. Santos (2003)<br />

Bioestat 3.0: Aplicações estatísticas nas localida<strong>de</strong>s das<br />

ciências biológicas e médicas. Belém: Socieda<strong>de</strong> civil<br />

Mamiraua.<br />

Bagno, M.A. e J. Marinho-Filho (2001) A avifauna do Distrito<br />

Fe<strong>de</strong>ral: uso <strong>de</strong> ambientes abertos e florestais e ameaças.<br />

Em: J.F. Ribeiro, C.E.L. Fonseca e J.C. Souza-Silva<br />

(eds.) Cerrado, caracterização e recuperação <strong>de</strong> Matas <strong>de</strong><br />

Galeria. Planaltina: Embrapa.<br />

Bibby, C.J., M. Jones e S. Mars<strong>de</strong>n (2000) Expedition field techniques:<br />

bird surveys. London: BirdLife International.<br />

Blon<strong>de</strong>l, J., C. Ferry e B. Frochot (1970) La métho<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<br />

indices ponctuels d’abondance (IPA) ou <strong>de</strong>s relevés<br />

d’avifaune par “stations d’écoute”. Alauda 38:55-71.<br />

Brändle, M. e R. Brandl (2001) Distribution, abundance and<br />

niche breadth of birds: scale matters. Global Ecology e<br />

Biogeography 10:173-177.<br />

CBRO (Comitê brasileiro <strong>de</strong> registros ornitológicos) (2006)<br />

Lista <strong>de</strong> aves do Brasil. Versão 13/08/2006. http://<br />

www.cbro.org.br/CBRO/lista br.htm. (acesso em<br />

15/09/2006).<br />

Gaston, K.J. e J.H. Lawton (1990) Effects of scale and habitat<br />

on the relationship between regional distribution and<br />

local abundance. Oikos 58:329-335.<br />

Hanski, I., J. Kouki e A. Halkka (1993) Three explanations of<br />

the positive relationship between distribution and abundance<br />

of species. Em: R.E., Ricklefs e D. Schluter (eds).<br />

Species Diversity in Ecological Communities. Chicago:<br />

University of Chicago Press.<br />

Klink, C.A. e Machado, R.B. (2005) A conservação do Cerrado<br />

brasileiro. Megadiversida<strong>de</strong> 1:147-155<br />

Krebs, C.J. (1999) Ecological methodology. Los Angeles:<br />

Benjamins cammings. 2 nd ed.<br />

Machado, R.B., M.B.R. Neto, P.G.P. Pereira, E.F. Caldas,<br />

D.A. Gonçalves, N.S. Santos, K. Tabor e M. Steininger<br />

(2004) Estimativas <strong>de</strong> perda <strong>de</strong> localida<strong>de</strong> do Cerrado<br />

brasileiro. Relatório interno não publicado, Brasília:<br />

Conservação Internacional.<br />

Marini, M.A. (2001) Effects of forest fragmentation on birds<br />

of the cerrado region, Brazil. Bird Conservation International<br />

11:13-25.<br />

Marini, M.A. e F.I., Garcia (2005) Conservação <strong>de</strong> aves no<br />

Brasil. Megadiversida<strong>de</strong> 1:95-102.<br />

Ministério do Meio Ambiente (2004) Segundo relatório nacional<br />

para a convenção sobre diversida<strong>de</strong> biológica Brasil.<br />

Brasília: Diplugráfica Editora LTDA.<br />

Motta-Junior, J.C. (1990) Estrutura trófica e composição das<br />

avifaunas <strong>de</strong> três hábitats terrestres na região central do<br />

estado <strong>de</strong> São Paulo. Ararajuba 1:65-71.<br />

Neto, S.D., V. Nelson, A. T. Oliveira Filho e F.A.F. Costa<br />

(1998) Avifauna <strong>de</strong> quatro fisionomias florestais <strong>de</strong><br />

pequeno tamanho (5-8 ha) no Campus da UFLA. <strong>Revista</strong><br />

<strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Biologia 58:463-472.<br />

Pomeroy, D. e D. Ssekabiira (1990) An analysis of terrestrial<br />

distributions in Africa. African Journal of Ecology<br />

28:1-13.<br />

Ribeiro, J. F. e B. M. T. Walter (1998). Fitofisionomias do<br />

Bioma Cerrado. Em: Sano, S.M. e S. P. <strong>de</strong> Almeida<br />

(eds.) Cerrado: ambiente e flora. Planaltina-DF: Editora<br />

EMBRAPA-CPAC.<br />

Sick, H. (1997). <strong>Ornitologia</strong> <strong>Brasileira</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Editora<br />

Nova Fronteira.<br />

Silva, J.M.C. e J.M., Bates (2002) Biogeographic patterns and<br />

conservation in the South American cerrado: A tropical<br />

savanna hotspot. BioScience 52:225-233.<br />

Souza, D.R. (2003) História da CODEMIN. Goiânia: Editora<br />

Terra.<br />

Tubelis, D.P. e R.B. Cavalcanti (2001) Community similarity<br />

and abundance of birds species in open habitats<br />

of a central brazilian cerrado. <strong>Ornitologia</strong> Neotropical<br />

12:57-73.


580 Alexandre Curcino, Carlos Eduardo R. <strong>de</strong> Sant'Ana e Nean<strong>de</strong>r Marcel Heming<br />

Vielliard, J.M.E. e W.R. Silva (1990) Nova metodologia <strong>de</strong><br />

levantamento quantitativo e primeiros resultados no interior<br />

<strong>de</strong> São Paulo. Em: Anais do IV Encontro Nacional<br />

dos Anilhadores <strong>de</strong> Aves, Recife.<br />

Vielliard, J.M.E. (2000) Bird community as an indicator of<br />

biodiversity: results from quantitative surveys in Brazil.<br />

An. Acad. Bras. Ci. 72:323-330.<br />

Walker, J.S. (2006) Resource use and rarity among frugivorous<br />

birds in a tropical rain forest on Sulawesi. Biological<br />

conservation 130:60-69.<br />

Willis, E.O. (1979) The composition of avian communities in<br />

remanescent woodlots in southern Brazil. Papéis avulsos<br />

Zool. São Paulo 33:1-25.


Comparação <strong>de</strong> três comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aves na região <strong>de</strong> Niquelândia, GO 581<br />

Apêndice 1. Lista geral <strong>de</strong> espécies registradas na reserva da Mineradora Anglo-American – CODEMIN, em Niquelândia, GO, 2005-2006. (FO) Freqüência <strong>de</strong><br />

ocorrência; (IPA) Índice Pontual <strong>de</strong> Abundância; (MB) Mata da Barragem; (PV) Pedra Ver<strong>de</strong>; (MS) Morro Seco; (D) Dieta.<br />

Appendix 1. General list of species registered in the reservation of Mineradora Anglo-American – CODEMIN, Niquelândia, GO, Brazil, 2005-2006. (FO)<br />

Frequency of occurrence; (IPA) Relative abundance; (MB) Mata da Barragem; (PV) Pedra Ver<strong>de</strong>; (MS) Morro Seco; (D) Diet.<br />

Nome do Táxon Nome em Português FO (%)<br />

IPA<br />

MB PV MS<br />

D<br />

Tinamidae<br />

Crypturellus undulatus (Temminck, 1815) jaó 50.00 0.033 0.033 0.067 oni<br />

Crypturellus parvirostris (Wagler, 1827) inhambu-chororó 100.00 — 0.333 0.300 oni<br />

Rhynchotus rufescens (Temminck, 1815) perdiz 33.33 — 0.233 0.067 oni<br />

Anatidae<br />

Dendrocygna viduata (Linnaeus, 1766) irerê 16.67 — — — —<br />

Cairina moschata (Linnaeus, 1758)* pato-do-mato — — — — —<br />

Amazonetta brasiliensis (Gmelin, 1789) pé-vermelho 16.67 — — — —<br />

Cracidae<br />

Crax fasciolata Spix, 1825 mutum-<strong>de</strong>-penacho 16.67 — — 0.033 oni<br />

Phalacrocoracidae<br />

Phalacrocorax brasilianus (Gmelin, 1789) biguá 50.00 — — — —<br />

Anhingidae<br />

Anhinga anhinga (Linnaeus, 1766) biguatinga 16.67 — — — —<br />

Ar<strong>de</strong>idae<br />

Butori<strong>de</strong>s striata (Linnaeus, 1758) socozinho 16.67 — — — —<br />

Ar<strong>de</strong>a cocoi Linnaeus, 1766* garça-moura —<br />

Ar<strong>de</strong>a alba Linnaeus, 1758 garça-branca-gran<strong>de</strong> 16.67 — — — —<br />

Syrigma sibilatrix (Temminck, 1824)* maria-faceira — — — — —<br />

Pilherodius pileatus (Boddaert, 1783) garça-real 16.67 — 0.033 — oni<br />

Egretta thula (Molina, 1782) garça-branca-pequena 33.33 — — — —<br />

Threskiornithidae<br />

Theristicus caudatus (Boddaert, 1783) curicaca 50.00 — — — —<br />

Platalea ajaja Linnaeus, 1758 colhereiro 16.67 — — — —<br />

Ciconiidae<br />

Ciconia maguari (Gmelin, 1789) maguari 16.67 — — — —<br />

Cathartidae<br />

Cathartes aura (Linnaeus, 1758) urubu-<strong>de</strong>-cabeça-vermelha 100.00 0.067 0.033 0.033 <strong>de</strong>t<br />

Coragyps atratus (Bechstein, 1793) urubu-<strong>de</strong>-cabeça-preta 100.00 0.033 0.133 — <strong>de</strong>t<br />

Sarcoramphus papa (Linnaeus, 1758) urubu-rei 16.67 — — — —<br />

Accipitridae<br />

Leptodon cayanensis (Latham, 1790) gavião-<strong>de</strong>-cabeça-cinza 16.67 — — — —<br />

Ictinia plumbea (Gmelin, 1788) sovi 50.00 — 0.033 — ins<br />

Rupornis magnirostris (Gmelin, 1788) gavião-carijó 83.33 0.133 0.033 0.033 car<br />

Falconidae<br />

Caracara plancus (Miller, 1777) caracará 66.67 0.033 — 0.033 car<br />

Herpetotheres cachinnans (Linnaeus, 1758) acauã 16.67 — 0.033 — car<br />

Micrastur ruficollis (Vieillot, 1817) falcão-caburé 16.67 — — — —<br />

Falco sparverius Linnaeus, 1758 quiriquiri 33.33 — — — —<br />

Rallidae<br />

Arami<strong>de</strong>s cajanea (Statius Muller, 1776) saracura-três-potes 33.33 — 0.033 — oni<br />

Cariamidae<br />

Cariama cristata (Linnaeus, 1766) seriema 100.00 0.033 0.300 0.233 ins<br />

Charadriidae<br />

Vanellus cayanus (Latham, 1790) batuíra-<strong>de</strong>-esporão 16.67 — — — —<br />

Vanellus chilensis (Molina, 1782) quero-quero 50.00 — — —<br />

Jacanidae<br />

Jacana jacana (Linnaeus, 1766)* jaçanã — — — — —<br />

Columbidae<br />

Columbina talpacoti (Temminck, 1811) rolinha-roxa 100.00 0.033 0.233 0.233 gra<br />

Columbina squammata (Lesson, 1831) fogo-apagou 100.00 0.067 0.267 — gra<br />

Patagioenas picazuro (Temminck, 1813) pombão 83.33 — 0.100 0.067 fru<br />

Patagioenas cayennensis (Bonnaterre, 1792) pomba-galega 66.67 — 0.133 0.067 gra<br />

Leptotila verreauxi Bonaparte, 1855 juriti-pupu 100.00 0.200 0.467 0.333 fru<br />

Leptotila rufaxilla (Richard e Bernard, 1792) juriti-geme<strong>de</strong>ira 66.67 0.033 0.100 0.200 fru<br />

Psittacidae<br />

Ara ararauna (Linnaeus, 1758) arara-canindé 66.67 — 0.067 0.067 fru


582 Alexandre Curcino, Carlos Eduardo R. <strong>de</strong> Sant'Ana e Nean<strong>de</strong>r Marcel Heming<br />

Nome do Táxon Nome em Português FO (%)<br />

IPA<br />

MB PV MS<br />

D<br />

Diopsittaca nobilis (Linnaeus, 1758) maracanã-pequena 83.33 — 0.033 0.100 fru<br />

Aratinga aurea (Gmelin, 1788) periquito-rei 83.33 0.067 0.100 0.100 fru<br />

Brotogeris chiriri (Vieillot, 1818) periquito-<strong>de</strong>-encontro-amarelo 100.00 0.133 — — fru<br />

Amazona aestiva (Linnaeus, 1758) papagaio-verda<strong>de</strong>iro 33.33 0.033 0.033 — fru<br />

Cuculidae<br />

Coccyzus americanus (Linnaeus, 1758) papa-lagarta-<strong>de</strong>-asa-vermelha 16.67 — — — —<br />

Piaya cayana (Linnaeus, 1766) alma-<strong>de</strong>-gato 100.00 0.067 0.067 0.100 ins<br />

Crotophaga ani Linnaeus, 1758 anu-preto 66.67 — — — —<br />

Guira guira (Gmelin, 1788) anu-branco 16.67 — — — —<br />

Tapera naevia (Linnaeus, 1766) saci 83.33 — 0.100 0.133 ins<br />

Strigidae<br />

Megascops choliba (Vieillot, 1817) corujinha-do-mato 16.67 — — — —<br />

Glaucidium minutissimum (Wied, 1830) caburé-miudinho 16.67 — — — —<br />

Glaucidium brasilianum (Gmelin, 1788) caburé 50.00 — — — —<br />

Athene cunicularia (Molina, 1782) coruja-buraqueira 33.33 — — — —<br />

Nyctibiidae<br />

Nyctibius griseus (Gmelin, 1789)** mãe-da-lua — — — — —<br />

Caprimulgidae<br />

Nyctidromus albicollis (Gmelin, 1789) bacurau 16.67 — — — —<br />

Caprimulgus rufus Boddaert, 1783 joão-corta-pau 33.33 — — — —<br />

Trochilidae<br />

Phaethornis pretrei (Lesson e Delattre, 1839) rabo-branco-acanelado 66.67 — 0.033 0.033 nec<br />

Eupetomena macroura (Gmelin, 1788) beija-flor-tesoura 16.67 — 0.033 — nec<br />

Colibri serrirostris (Vieillot, 1816) beija-flor-<strong>de</strong>-orelha-violeta 83.33 — 0.067 0.100 nec<br />

Anthracothorax nigricollis (Vieillot, 1817) beija-flor-<strong>de</strong>-veste-preta 16.67 — 0.033 — nec<br />

Chlorostilbon lucidus (Shaw, 1812) besourinho-<strong>de</strong>-bico-vemelho 66.67 — 0.100 — nec<br />

Thalurania furcata (Gmelin, 1788) beija-flor-tesoura-ver<strong>de</strong> 33.33 — — — —<br />

Trogonidae<br />

Trogon sp surucuá 66.67 0.033 — 0.100 oni<br />

Alcedinidae<br />

Ceryle torquatus (Linnaeus, 1766) martim-pescador-gran<strong>de</strong> 16.67 — — — —<br />

Chloroceryle amazona (Latham, 1790) martim-pescador-ver<strong>de</strong> 16.67 — — — —<br />

Momotidae<br />

Momotus momota (Linnaeus, 1766) udu-<strong>de</strong>-coroa-azul 50.00 0.033 — — ins<br />

Galbulidae<br />

Galbula ruficauda Cuvier, 1816 ariramba-<strong>de</strong>-cauda-ruiva 100.00 0.267 0.067 — ins<br />

Bucconidae<br />

Nystalus chacuru (Vieillot, 1816) joão-bobo 33.33 — 0.033 0.100 ins<br />

Nystalus maculatus (Gmelin, 1788) rapazinho-dos-velhos 33.33 — — —<br />

Monasa nigrifrons (Spix, 1824) chora-chuva-preto 100.00 0.467 0.100 0.067 ins<br />

Chelidoptera tenebrosa (Pallas, 1782) urubuzinho 16.67 0.033 — — ins<br />

Ramphastidae<br />

Ramphastos toco Statius Muller, 1776 tucanuçu 100.00 0.033 0.067 0.133 fru<br />

Pteroglossus castanotis Gould, 1834 araçari-castanho 16.67 0.033 — — fru<br />

Picidae<br />

Picumnus albosquamatus d’Orbigny, 1840 pica-pau-anão-escamado 66.67 0.100 — — ins<br />

Melanerpes candidus (Otto, 1796)* pica-pau-branco — — — — —<br />

Veniliornis passerinus (Linnaeus, 1766) picapauzinho-anão 33.33 — — —<br />

Piculus chrysochloros (Vieillot, 1818) pica-pau-dourado-escuro 33.33 — 0.067 — ins<br />

Colaptes melanochloros (Gmelin, 1788) pica-pau-ver<strong>de</strong>-barrado 33.33 — 0.033 — ins<br />

Colaptes campestris (Vieillot, 1818) pica-pau-do-campo 16.67 — — — —<br />

Celeus flavescens (Gmelin, 1788) pica-pau-<strong>de</strong>-cabeça-amarela 33.33 — — — —<br />

Dryocopus lineatus (Linnaeus, 1766) pica-pau-<strong>de</strong>-banda-branca 50.00 — — — —<br />

Campephilus melanoleucos (Gmelin, 1788) pica-pau-<strong>de</strong>-topete-vermelho 33.33 — — — —<br />

Thamnophilidae<br />

Taraba major (Vieillot, 1816) choró-boi 66.67 — — 0.067 ins<br />

Thamnophilus doliatus (Linnaeus, 1764) choca-barrada 66.67 — 0.067 0.067 ins<br />

Thamnophilus punctatus (Shaw, 1809) choca-bate-cabo 100.00 0.333 0.067 0.200 ins<br />

Thamnophilus torquatus Swainson, 1825 choca-<strong>de</strong>-asa-vermelha 16.67 — — 0.067 ins<br />

Herpsilochmus atricapillus Pelzeln, 1868 chorozinho-<strong>de</strong>-chapéu-preto 100.00 0.700 0.067 0.400 ins<br />

Formicivora grisea (Boddaert, 1783) papa-formiga-pardo 16.67 — — — —


Comparação <strong>de</strong> três comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aves na região <strong>de</strong> Niquelândia, GO 583<br />

Nome do Táxon Nome em Português FO (%)<br />

IPA<br />

MB PV MS<br />

D<br />

Formicivora melanogaster Pelzeln, 1868 formigueiro-<strong>de</strong>-barriga-preta 16.67 — 0.033 — ins<br />

Formicivora rufa (Wied, 1831) papa-formiga-vermelho 66.67 0.033 0.033 0.033 ins<br />

Dendrocolaptidae<br />

Dendrocolaptes platyrostris Spix, 1825** arapaçu-gran<strong>de</strong> — — — — —<br />

Xiphorhynchus guttatus (Lichtenstein, 1820) arapaçu-<strong>de</strong>-garganta-amarela 83.33 0.233 — — ins<br />

Lepidocolaptes angustirostris (Vieillot, 1818) arapaçu-<strong>de</strong>-cerrado 83.33 — 0.033 0.033 ins<br />

Campylorhamphus trochilirostris (Lichtenstein, 1820) arapaçu-beija-flor 50.00 0.067 — — ins<br />

Furnariidae<br />

Furnarius rufus (Gmelin, 1788)** joão-<strong>de</strong>-barro — — — — —<br />

Synallaxis frontalis Pelzeln, 1859 petrim 100.00 0.033 0.233 0.033 ins<br />

Tyrannidae<br />

Hemitriccus margaritaceiventer<br />

sebinho-<strong>de</strong>-olho-<strong>de</strong>-ouro 83.33 — 0.100 0.067 ins<br />

(d’Orbigny e Lafresnaye, 1837)<br />

Elaenia flavogaster (Thunberg, 1822) guaracava-<strong>de</strong>-barriga-amarela 66.67 0.033 0.033 0.067 oni<br />

Camptostoma obsoletum (Temminck, 1824) risadinha 16.67 — — — —<br />

Phaeomyias murina (Spix, 1825) bagageiro 33.33 — — — —<br />

Euscarthmus rufomarginatus (Pelzeln, 1868) maria-corruíra 16.67 — — — —<br />

Tolmomyias flaviventris (Wied, 1831) bico-chato-amarelo 16.67 — — — —<br />

Contopus cinereus (Spix, 1825) papa-moscas-cinzento 16.67 — — — —<br />

Xolmis cinereus (Vieillot, 1816)* primavera — — — — —<br />

Arundinicola leucocephala (Linnaeus, 1764) freirinha — — — — —<br />

Colonia colonus (Vieillot, 1818) viuvinha 50.00 — — — —<br />

Myiozetetes cayanensis (Linnaeus, 1766) bentevizinho-<strong>de</strong>-asa-ferrugínea 100.00 — 0.167 0.033 ins<br />

Pitangus sulphuratus (Linnaeus, 1766) bem-te-vi 100.00 0.067 0.200 0.100 oni<br />

Myiodynastes maculatus (Statius Muller, 1776) bem-te-vi-rajado 50.00 0.033 0.100 0.133 oni<br />

Megarynchus pitangua (Linnaeus, 1766) neinei 100.00 — 0.433 0.300 oni<br />

Empidonomus varius (Vieillot, 1818) peitica 33.33 — 0.033 — ins<br />

Griseotyrannus aurantioatrocristatus<br />

peitica-<strong>de</strong>-chapéu-preto 50.00 — 0.100 0.133 ins<br />

(d’Orbigny e Lafresnaye, 1837)<br />

Tyrannus albogularis Burmeister, 1856 suiriri-<strong>de</strong>-garganta-branca 66.67 — 0.133 0.033 ins<br />

Tyrannus melancholicus Vieillot, 1819 suiriri 100.00 0.067 0.333 0.167 ins<br />

Tyrannus savana Vieillot, 1808 tesourinha 16.67 — 0.033 0.033 ins<br />

Casiornis rufus (Vieillot, 1816) caneleiro 66.67 — 0.133 — ins<br />

Myiarchus ferox (Gmelin, 1789) maria-cavaleira 66.67 — 0.100 — ins<br />

Myiarchus tyrannulus (Statius Muller, 1776) maria-cavaleira-<strong>de</strong>-rabo-enferrujado 66.67 — 0.067 0.100 ins<br />

Pipridae<br />

Antilophia galeata (Lichtenstein, 1823) soldadinho 33.33 — — — —<br />

Tityridae<br />

Tityra cayana (Linnaeus, 1766) anambé-branco-<strong>de</strong>-rabo-preto 16.67 — — — —<br />

Pachyramphus polychopterus (Vieillot, 1818) caneleiro-preto 16.67 — — — —<br />

Vireonidae<br />

Cyclarhis gujanensis (Gmelin, 1789) pitiguari 100.00 0.100 0.233 0.100 ins<br />

Vireo olivaceus (Linnaeus, 1766)*** juruviara 66.67 0.267 0.200 0.333 oni<br />

Corvidae<br />

Cyanocorax cyanopogon (Wied, 1821) gralha-cancã 100.00 0.200 0.400 0.267 oni<br />

Hirundinidae<br />

Tachycineta albiventer (Boddaert, 1783) andorinha-do-rio 16.67 — — — —<br />

Stelgidopteryx ruficollis (Vieillot, 1817) andorinha-serradora 83.33 — — 0.100 ins<br />

Troglodytidae<br />

Troglodytes musculus Naumann, 1823 corruíra 100.00 — — 0.100 ins<br />

Thryothorus leucotis Lafresnaye, 1845 garrinchão-<strong>de</strong>-barriga-vermelha 100.00 0.533 0.567 0.167 ins<br />

Polioptilidae<br />

Polioptila dumicola (Vieillot, 1817) balança-rabo-<strong>de</strong>-máscara 66.67 0.033 0.067 — ins<br />

Turdidae<br />

Turdus rufiventris Vieillot, 1818 ** sabiá-laranjeira — — — — —<br />

Turdus leucomelas Vieillot, 1818 sabiá-barranco 100.00 0.167 0.333 0.267 oni<br />

Turdus amaurochalinus Cabanis, 1850 sabiá-poca 50.00 0.033 0.133 0.200 oni<br />

Mimidae<br />

Mimus saturninus (Lichtenstein, 1823)* sabiá-do-campo — — — — —<br />

Coerebidae<br />

Coereba flaveola (Linnaeus, 1758) cambacica 100.00 0.033 0.067 — nec


584 Alexandre Curcino, Carlos Eduardo R. <strong>de</strong> Sant'Ana e Nean<strong>de</strong>r Marcel Heming<br />

Nome do Táxon Nome em Português FO (%)<br />

IPA<br />

MB PV MS<br />

D<br />

Thraupidae<br />

Nemosia pileata (Boddaert, 1783) saíra-<strong>de</strong>-chapéu-preto 83.33 0.067 0.067 — oni<br />

Thlypopsis sordida (d’Orbigny e Lafresnaye, 1837) saí-canário 16.67 — — — —<br />

Piranga flava (Vieillot, 1822) sanhaçu-<strong>de</strong>-fogo 33.33 — — 0.033 oni<br />

Tachyphonus rufus (Boddaert, 1783) pipira-preta 100.00 0.033 0.267 0.233 oni<br />

Ramphocelus carbo (Pallas, 1764) pipira-vermelha 100.00 0.200 0.067 — oni<br />

Thraupis sayaca (Linnaeus, 1766) sanhaçu-cinzento 66.67 0.067 0.267 0.167 oni<br />

Thraupis palmarum (Wied, 1823) sanhaçu-do-coqueiro 50.00 0.033 — 0.033 fru<br />

Tangara cayana (Linnaeus, 1766) saíra-amarela 100.00 — 0.067 0.100 oni<br />

Tersina viridis (Illiger, 1811) saí-andorinha 16.67 0.033 — — oni<br />

Dacnis cayana (Linnaeus, 1766) saí-azul 83.33 0.033 — 0.033 oni<br />

Cyanerpes cyaneus (Linnaeus, 1766) saíra-beija-flor 50.00 — — 0.167 fru<br />

Hemithraupis guira (Linnaeus, 1766) saíra-<strong>de</strong>-papo-preto 100.00 0.067 0.067 0.033 ins<br />

Conirostrum speciosum (Temminck, 1824) figuinha-<strong>de</strong>-rabo-castanho 33.33 — — — —<br />

Emberizidae<br />

Zonotrichia capensis (Statius Muller, 1776) tico-tico 100.00 0.033 0.300 0.133 gra<br />

Ammodramus humeralis (Bosc, 1792) tico-tico-do-campo 66.67 0.033 0.033 — gra<br />

Ammodramus aurifrons (Spix, 1825)* cigarrinha-do-campo — — — — —<br />

Volatinia jacarina (Linnaeus, 1766) tiziu 100.00 0.067 0.300 0.033 gra<br />

Sporophila nigricollis (Vieillot, 1823) papa-arroz 100.00 0.067 0.033 0.067 gra<br />

Sporophila caerulescens (Vieillot, 1823) coleirinho 50.00 — 0.033 0.067 gra<br />

Sporophila angolensis (Linnaeus, 1766) curió 16.67 — — 0.033 gra<br />

Arremon taciturnus (Hermann, 1783) tico-tico-<strong>de</strong>-bico-preto 66.67 0.100 — — gra<br />

Coryphospingus pileatus (Wied, 1821) tico-tico-rei-cinza 100.00 0.233 0.167 0.067 gra<br />

Cardinalidae<br />

Saltator maximus (Statius Muller, 1776) tempera-viola 16.67 — — — —<br />

Saltator similis d’Orbigny e Lafresnaye, 1837 trinca-ferro-verda<strong>de</strong>iro 100.00 0.100 0.533 0.400 oni<br />

Saltator atricollis Vieillot, 1817 bico-<strong>de</strong>-pimenta 66.67 — — 0.133 oni<br />

Cyanocompsa brissonii (Lichtenstein, 1823) azulão 83.33 — — 0.067 gra<br />

Parulidae<br />

Parula pitiayumi (Vieillot, 1817) mariquita 16.67 0.033 — 0.033 ins<br />

Geothlypis aequinoctialis (Gmelin, 1789) pia-cobra 50.00 — — —<br />

Basileuterus culicivorus (Deppe, 1830) pula-pula 100.00 0.300 0.233 0.100 ins<br />

Basileuterus flaveolus (Baird, 1865) canário-do-mato 100.00 0.633 — 0.267 ins<br />

Icteridae<br />

Cacicus cela (Linnaeus, 1758) xexéu 33.33 0.033 0.033 — oni<br />

Icterus cayanensis (Linnaeus, 1766) encontro 66.67 — — — —<br />

Gnorimopsar chopi (Vieillot, 1819) graúna 100.00 0.033 0.067 0.333 oni<br />

Fringillidae<br />

Carduelis magellanica (Vieillot, 1805) pintassilgo 16.67 — — 0.033 fru<br />

Euphonia chlorotica (Linnaeus, 1766) fim-fim 83.33 0.333 0.467 0.433 fru<br />

Euphonia laniirostris d’Orbigny e Lafresnaye, 1837 ** gaturamo-<strong>de</strong>-bico-grosso — — — — —<br />

(*) Espécies registradas fora do horário <strong>de</strong> amostragem qualitativa, pertencentes a localida<strong>de</strong> MB;<br />

(**) Espécies registradas em área antropizada, nas proximida<strong>de</strong>s do alojamento da Mineradora.


ARTIGO<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> 15(4):585-591<br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007<br />

Frugivoria por aves em Schinus terebinthifolius (Anacardiaceae) e<br />

Myrsine coriacea (Myrsinaceae)<br />

Shayana <strong>de</strong> Jesus 1 e Emygdio Leite <strong>de</strong> Araujo Monteiro-Filho 2<br />

1. Rua Domingos Coradin, 21, 83412‐340, Colônia Faria, Colombo, PR. E‐mail: shay_bio@yahoo.com.br<br />

2. Departamento <strong>de</strong> Zoologia, Centro Politécnico, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná, Caixa Postal 19020, 81531‐970,<br />

Curitiba, PR, e Instituto <strong>de</strong> Pesquisas Cananéia, Rua Tristão Lobo, 199, Centro, 11990‐000, Cananéia, SP.<br />

Recebido em 13 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2007; aceito em 19 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007.<br />

Abstract: Frugivory by birds in Schinus terebinthifolius (Anacardiaceae) and Myrsine coriacea (Myrsinaceae). Studies of frugivory and seed<br />

dispersal by birds are essential to the un<strong>de</strong>rstanding of plants reproduction, diet and feeding behavior of birds, and the importance of the interaction<br />

between plants with zoochoric fruit and the avifauna. In this study, two species of plants with ornithochoric fruit, Schinus terebinthifolius and Myrsine<br />

coriacea, were observed at the Parque Estadual <strong>de</strong> Vila Velha, Ponta Grossa, State of Paraná. The goal was to list the bird species that consume the fruits<br />

and to estimate which species were potential dispersers of their seeds. From March to July 2004 and from January to February 2005 three individuals of<br />

S. terebinthifolius were observed (112 h of observation), and from November 2004 to January 2005 two individuals of M. coriacea were observed (48<br />

hours of observation). From 14 species of birds listed consuming the fruits of S. terebinthifolius, 13 were consi<strong>de</strong>red potential seed dispersers. Twentytwo<br />

species of birds consumed the fruit of M. coriacea, and all were consi<strong>de</strong>red potential seed dispersers. Potentially, the most important seed disperser<br />

of S. terebinthifolius was Tangara preciosa, and the main seed dispersers of M. coriacea were Colaptes melanochloros and Turdus rufiventris. Both<br />

plant species attracted birds that fed on their fruits and birds that used them as perches to rest, foraging and/or eating insects. The results suggest that the<br />

fruits of these plants constitute an important food resource to the avifauna of the region, playing an important role in energetic and nutritional balance<br />

of nestlings of some species of birds and being a complementary resource in the diet of migratory birds.<br />

Key-words: Schinus terebinthifolius, Myrsine coriacea, frugivory, seed dispersal, birds.<br />

Resumo: Estudos <strong>de</strong> frugivoria e dispersão <strong>de</strong> sementes por aves são fundamentais para a compreensão da biologia reprodutiva das plantas, da dieta e<br />

comportamento alimentar das aves consumidoras <strong>de</strong> frutos, e da importância das interações entre espécies vegetais com frutos zoocóricos e a avifauna.<br />

No presente estudo, duas espécies vegetais com frutos ornitocóricos, Schinus terebinthifolius e Myrsine coriacea, foram observadas no Parque Estadual<br />

<strong>de</strong> Vila Velha, município <strong>de</strong> Ponta Grossa, Estado do Paraná. Os objetivos foram listar as espécies <strong>de</strong> aves consumidoras <strong>de</strong> seus frutos e estimar quais<br />

as espécies potenciais dispersoras das suas sementes. Durante o período <strong>de</strong> março a julho <strong>de</strong> 2004 e <strong>de</strong> janeiro a fevereiro <strong>de</strong> 2005 foram observados três<br />

indivíduos <strong>de</strong> S. terebinthifolius (112 horas <strong>de</strong> observações) e <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2004 a janeiro <strong>de</strong> 2005 foram observados dois indivíduos <strong>de</strong> M. coriacea<br />

(48 horas <strong>de</strong> observações). Foram registradas 14 espécies <strong>de</strong> aves que se alimentaram <strong>de</strong> frutos <strong>de</strong> S. terebinthifolius, sendo 13 <strong>de</strong>las consi<strong>de</strong>radas<br />

potenciais dispersoras <strong>de</strong> suas sementes. Vinte e duas espécies <strong>de</strong> aves consumiram os frutos <strong>de</strong> M. coriacea, todas consi<strong>de</strong>radas potenciais dispersoras.<br />

Potencialmente, o mais importante dispersor <strong>de</strong> sementes <strong>de</strong> S. terebinthifolius foi Tangara preciosa, e os principais dispersores <strong>de</strong> sementes <strong>de</strong><br />

M. coriacea foram Colaptes melanochloros e Turdus rufiventris. As duas espécies vegetais atraíram tanto aves consumidoras <strong>de</strong> seus frutos como<br />

aves que as utilizaram como poleiros para pouso, forrageio e/ou captura <strong>de</strong> insetos. Os resultados sugerem que os frutos <strong>de</strong>stas plantas constituem um<br />

importante recurso alimentar para a avifauna da região, <strong>de</strong>sempenhando relevante papel no balanço energético e nutricional dos filhotes <strong>de</strong> algumas<br />

espécies <strong>de</strong> aves e sendo um item complementar na dieta <strong>de</strong> aves migratórias.<br />

Palavras-chave: Schinus terebinthifolius, Myrsine coriacea, frugivoria, dispersão <strong>de</strong> sementes, aves.<br />

Em florestas tropicais a interação entre plantas e animais é<br />

muito acentuada e po<strong>de</strong> culminar no processo <strong>de</strong> dispersão.<br />

Até 90% das espécies vegetais arbóreas e arbustivas po<strong>de</strong>m<br />

apresentar diásporos a<strong>de</strong>quados à dispersão zoocórica, pois os<br />

frutos são atraentes e nutritivos a vários animais que po<strong>de</strong>m<br />

agir como dispersores (Piña-Rodrigues e Aguiar 1993, Zimmermann<br />

1996).<br />

Neste sentido, as aves <strong>de</strong>sempenham um relevante papel,<br />

não apenas pela sua abundância como também <strong>de</strong>vido à freqüência<br />

com que se alimentam <strong>de</strong> frutos. Em florestas neotropicais,<br />

entre 20% e 30% das aves incluem, <strong>de</strong> maneira significativa,<br />

frutos na dieta e neste processo, enquanto as plantas têm<br />

suas sementes levadas para longe das plantas adultas, as aves<br />

recebem nutrientes (Van <strong>de</strong>r Pijl 1982).<br />

No Brasil, estudos <strong>de</strong> frugivoria e dispersão <strong>de</strong> sementes<br />

por aves têm sido realizados principalmente na Mata<br />

Atlântica (Marcon<strong>de</strong>s-Machado e Argel-<strong>de</strong>-Oliveira 1988,<br />

Pizo et al. 2002, Manhães et al. 2003), Cerrado (Francisco e<br />

Galetti 2001, Marcon<strong>de</strong>s-Machado 2002, Francisco e Galetti<br />

2002a, b) e floresta estacional semi<strong>de</strong>cidual (Hasui e Höfling<br />

1998, Cazetta et al. 2002, Mikich 2002a, b), contudo, nenhum<br />

estudo <strong>de</strong>sta natureza foi realizado na região dos Campos<br />

Gerais, região sul do Brasil. Desta forma, pesquisas que eluci<strong>de</strong>m<br />

o papel das aves no consumo <strong>de</strong> sementes <strong>de</strong> espécies dos<br />

Campos Gerais têm fundamental importância na compreensão<br />

da biologia reprodutiva das plantas, da dieta e comportamento<br />

alimentar das aves consumidoras <strong>de</strong> frutos, bem como no reconhecimento<br />

das interações entre espécies vegetais com frutos<br />

zoocóricos e a avifauna da região.<br />

Assim, os objetivos <strong>de</strong>ste estudo foram listar as espécies<br />

<strong>de</strong> aves consumidoras dos frutos <strong>de</strong> Schinus terebinthifolius<br />

e Myrsine coriacea e estimar quais as espécies potenciais dis‐


586 Shayana <strong>de</strong> Jesus e Emygdio Leite <strong>de</strong> Araujo Monteiro-Filho<br />

persoras das suas sementes, em uma área caracterizada pelos<br />

Campos Gerais, no Estado do Paraná.<br />

Material e Métodos<br />

Área <strong>de</strong> Estudo – O estudo foi realizado no Parque Estadual <strong>de</strong><br />

Vila Velha (25°15’S; 50°05’W), município <strong>de</strong> Ponta Grossa,<br />

Estado do Paraná. O Parque, com uma área <strong>de</strong> 3.122 ha, está<br />

situado na região dos Campos Gerais, que se caracteriza por<br />

extensas áreas <strong>de</strong> gramíneas baixas <strong>de</strong>sprovidas <strong>de</strong> arbustos,<br />

ocorrendo apenas matas ou capões limitados nas <strong>de</strong>pressões<br />

em torno das nascentes. Nos capões, a fitofisionomia é caracterizada<br />

pela floresta ombrófila mista, com a predominância<br />

do pinheiro-do-Paraná (Araucaria angustifolia) associado a<br />

lauráceas, leguminosas, meliáceas e mirtáceas (Maack 1981).<br />

O clima predominante na região, segundo a classificação<br />

<strong>de</strong> Köeppen, é do tipo Cfb, subtropical úmido, com verão<br />

ameno e chuvas durante o ano todo (IAPAR 1978). A temperatura<br />

média anual é <strong>de</strong> 18,9°C. O mês <strong>de</strong> maior precipitação<br />

é <strong>de</strong>zembro, com 262 mm; o mês mais seco, agosto, com<br />

102 mm. A precipitação média anual é <strong>de</strong> 165 mm (SIMEPAR<br />

2006).<br />

Espécies Vegetais – Duas espécies vegetais, Schinus terebinthifolius<br />

e Myrsine coriacea, que apresentam frutos com características<br />

morfológicas que se encaixam na “síndrome” <strong>de</strong> dispersão<br />

ornitocórica (Van <strong>de</strong>r Pijl 1982), foram escolhidas para<br />

as observações do consumo <strong>de</strong> frutos por aves. Essas espécies<br />

foram escolhidas <strong>de</strong> modo que o seu período <strong>de</strong> frutificação na<br />

região abrangesse a maior parte do ano, apresentando períodos<br />

<strong>de</strong> frutificação distintos e pouca sobreposição entre eles (cf.<br />

Takeda e Farago 2001).<br />

Schinus terebinthifolius, conhecida popularmente como<br />

aroeira-vermelha, pertence à família Anacardiaceae. Possui <strong>de</strong><br />

5 a 10 m <strong>de</strong> altura e no Brasil ocorre <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Estado <strong>de</strong> Pernambuco<br />

até os estados do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul e Mato Grosso<br />

do Sul. É perenifólia, heliófita e pioneira, comum em beira<br />

<strong>de</strong> rios, córregos e em várzeas úmidas <strong>de</strong> formações secundárias<br />

(Lorenzi 1998). Os frutos são drupas esféricas, medindo<br />

4‐5,5 mm <strong>de</strong> diâmetro, com epicarpo liso, <strong>de</strong> coloração vermelha<br />

quando maduros (Carvalho 1994). Ocorre com freqüência<br />

no Parque Estadual <strong>de</strong> Vila Velha e frutifica predominantemente<br />

entre os meses <strong>de</strong> janeiro e outubro.<br />

Myrsine coriacea, conhecida popularmente como capororoca,<br />

pertence à família Myrsinaceae. Possui entre 6 e 12 m<br />

<strong>de</strong> altura, ocorrendo em quase todas as formações vegetais.<br />

É perenifólia, heliófita, seletiva higrófita e pioneira, característica<br />

<strong>de</strong> formações secundárias como capoeiras e capoeirões<br />

(Lorenzi 1998). Os frutos são drupas globosas, pequenas (3 mm<br />

<strong>de</strong> diâmetro), semicarnosas, oleaginosas, com pericarpo fino,<br />

aglomeradas ao redor dos ramos e <strong>de</strong> coloração negro-arroxeada<br />

quando maduros (Carvalho 1994). Ocorre com freqüência<br />

no Parque Estadual <strong>de</strong> Vila Velha e frutifica entre os meses <strong>de</strong><br />

outubro e <strong>de</strong>zembro.<br />

Métodos – Entre os meses <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2004 e fevereiro <strong>de</strong><br />

2005 foram realizadas fases mensais, com dois dias <strong>de</strong> duração<br />

cada. De março a julho <strong>de</strong> 2004, e <strong>de</strong> janeiro a fevereiro <strong>de</strong><br />

2005 foram observados três indivíduos <strong>de</strong> S. terebinthifolius<br />

e <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2004 a janeiro <strong>de</strong> 2005 foram observados<br />

dois indivíduos <strong>de</strong> M. coriacea. Todos os indivíduos estavam<br />

localizados em área aberta, a uma distância mínima <strong>de</strong> 15 m e<br />

máxima <strong>de</strong> 25 m, aproximadamente, da borda do capão mais<br />

próximo.<br />

As observações foram feitas pela manhã, do nascer do sol<br />

até 5 h <strong>de</strong>pois e a partir <strong>de</strong> 3 h antes do crepúsculo, totalizando<br />

112 h <strong>de</strong> observação para S. terebinthifolius e 44 h para M. coriacea.<br />

Neste período foram registradas as espécies <strong>de</strong> aves<br />

visitantes, o número <strong>de</strong> visitas <strong>de</strong> cada espécie, o tempo <strong>de</strong><br />

permanência sobre a planta, o número <strong>de</strong> frutos consumidos, o<br />

comportamento <strong>de</strong> ingestão dos frutos e o número <strong>de</strong> encontros<br />

agonísticos. Quando se tratavam <strong>de</strong> bandos monoespecíficos,<br />

as informações sobre as aves foram obtidas pela observação <strong>de</strong><br />

um único indivíduo (animal focal).<br />

O número <strong>de</strong> frutos consumidos e o tempo <strong>de</strong> permanência<br />

sobre a planta foram <strong>de</strong>terminados a partir <strong>de</strong> dados completos,<br />

em que as aves pu<strong>de</strong>ram ser observadas durante todo o período<br />

da visita. A porcentagem relativa <strong>de</strong> consumo foi calculada<br />

para cada espécie a partir da multiplicação do número médio<br />

<strong>de</strong> frutos consumidos por visita pelo número total <strong>de</strong> visitas,<br />

dividido pela somatória dos valores obtidos para todas as espécies,<br />

tudo multiplicado por 100 (Francisco e Galetti 2001).<br />

Para as aves, a nomenclatura científica seguiu Sick (1997).<br />

A classificação das espécies quanto à dieta seguiu Willis<br />

(1979) e Motta-Junior (1990), e a classificação em resi<strong>de</strong>ntes<br />

ou migratórias foi baseada em Uejima e Bornschein (2007).<br />

As espécies, aqui consi<strong>de</strong>radas migratórias, são aquelas <strong>de</strong>ntre<br />

as resi<strong>de</strong>ntes nos Campos Gerais que <strong>de</strong>saparecem logo após<br />

encerrarem as ativida<strong>de</strong>s reprodutivas, indo buscar áreas mais<br />

quentes no Brasil Central ou norte da América do Sul, para<br />

retornarem no início da primavera. Essas espécies são chamadas<br />

<strong>de</strong> resi<strong>de</strong>ntes migratórias ou resi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> verão (Uejima e<br />

Bornschein 2007).<br />

Análise dos resultados – O teste do “Qui-quadrado” foi utilizado<br />

para verificar se as diferenças obtidas (1) no número <strong>de</strong><br />

visitas entre as diferentes famílias <strong>de</strong> aves; (2) no número <strong>de</strong><br />

visitas realizadas por espécies onívoras, insetívoras, granívoras<br />

e frugívoras; (3) e no número <strong>de</strong> visitas <strong>de</strong> espécies migratórias<br />

e resi<strong>de</strong>ntes, diferiram significativamente. A hipótese<br />

nula foi rejeitada quando a probabilida<strong>de</strong> foi menor que 0,05.<br />

Resultados<br />

No período <strong>de</strong> sete meses <strong>de</strong> acompanhamento foram registradas<br />

14 espécies <strong>de</strong> aves, pertencentes a seis famílias, alimentando-se<br />

dos frutos <strong>de</strong> Schinus terebinthifolius (Tabela 1).<br />

Um total <strong>de</strong> 211 visitas foi registrado durante 112 h <strong>de</strong> observações.<br />

Houve diferença no número <strong>de</strong> visitas entre espé‐


Frugivoria por aves em Schinus terebinthifolius (Anacardiaceae) e Myrsine coriacea (Myrsinaceae) 587<br />

cies onívoras, insetívoras e frugívoras (X 2 = 125,26; g.l. = 3;<br />

p < 0,05). O número <strong>de</strong> visitas também diferiu entre espécies<br />

migratórias e resi<strong>de</strong>ntes (X 2 = 169,33; g.l. = 1; p < 0,05).<br />

A família Emberizidae foi responsável pela maioria das<br />

visitas (Figura 1a), sendo significativa a diferença no número<br />

<strong>de</strong> visitas entre as diferentes famílias <strong>de</strong> aves (X 2 = 236,56;<br />

g.l. = 8; p < 0,05).<br />

A maioria das espécies chegou à planta sozinha ou em grupos<br />

<strong>de</strong> dois ou três, exceto Pyrrhura frontalis, com grupos <strong>de</strong><br />

até 12 indivíduos; Mimus saturninus e Tangara preciosa, com<br />

até cinco indivíduos cada; e Thraupis sayaca com até seis indivíduos.<br />

Apenas um encontro agonístico, interespecífico, foi<br />

registrado, ocasião em que um indivíduo <strong>de</strong> Thraupis sayaca<br />

afugentou um <strong>de</strong> Turdus amaurochalinus.<br />

Foram registradas 205 visitas a Myrsine coriacea envolvendo<br />

22 espécies <strong>de</strong> aves pertencentes a sete famílias<br />

(Tabela 2). Houve diferença no número <strong>de</strong> visitas entre espécies<br />

onívoras, insetívoras e frugívoras (X 2 = 122,92; g.l. = 3;<br />

p < 0,05). A diferença entre o número <strong>de</strong> visitas <strong>de</strong> espécies<br />

migratórias e resi<strong>de</strong>ntes foi significativa (X 2 = 168,20; g.l. = 1;<br />

p < 0,05).<br />

As famílias Tyrannidae e Vireonidae foram responsáveis<br />

pela maior parte das visitas (Figura 1b), sendo significativa a<br />

diferença na taxa <strong>de</strong> visitas entre as diferentes famílias <strong>de</strong> aves<br />

(X 2 = 237,52 ; g.l. = 8; p < 0,05).<br />

Em 12 ocasiões foi observado um adulto <strong>de</strong> Vireo olivaceus<br />

alimentando um filhote com frutos <strong>de</strong> M. coriacea. Um<br />

indivíduo <strong>de</strong> Elaenia sp. foi observado alimentando-se numa<br />

fruteira próxima ao seu ninho; ele levou várias vezes frutos <strong>de</strong><br />

M. coriacea para o ninhego.<br />

A maioria das espécies chegava à planta sozinha ou em<br />

grupos <strong>de</strong> dois ou três, exceto Cyanocorax chrysops, que foi<br />

vista em grupos <strong>de</strong> até cinco indivíduos. Os encontros agonísticos<br />

entre as espécies visitantes <strong>de</strong> M. coriacea foram pouco<br />

freqüentes. Turdus leucomelas e Thraupis sayaca foram as<br />

únicas espécies envolvidas em alguma forma <strong>de</strong> conflito evi<strong>de</strong>nte.<br />

Foi observado um encontro intraespecífico entre dois<br />

T. sayaca e um encontro intraespecífico entre dois T. leucomelas.<br />

Encontros interespecíficos <strong>de</strong>sta espécie também foram<br />

observados, um com Colaptes melanochloros, um com Piculus<br />

aurulentus e um com Cyanocorax chrysops, sempre T. leucomelas<br />

sendo a espécie dominante.<br />

No presente estudo, 13 espécies foram consi<strong>de</strong>radas potenciais<br />

dispersoras <strong>de</strong> Schinus terebinthifolius, excetuando-se<br />

apenas o psitací<strong>de</strong>o Pyrrhura frontalis. Os psitací<strong>de</strong>os são consi<strong>de</strong>rados<br />

mais <strong>de</strong>struidores do que dispersores <strong>de</strong> sementes, já<br />

que as trituram e digerem (Janzen 1981, Jordano 1983, Pizo<br />

1997). No entanto, ao <strong>de</strong>rrubarem gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> frutos<br />

sob a planta-mãe, estas aves po<strong>de</strong>m estar disponibilizando<br />

tais frutos para dispersores secundários, como aves terrícolas<br />

(Dário 1994) ou formigas (Francisco e Galetti 2002a).<br />

O mais importante dispersor <strong>de</strong> sementes <strong>de</strong> Schinus terebinthifolius<br />

foi Tangara preciosa, que apresentou a maior<br />

porcentagem relativa <strong>de</strong> consumo, realizando visitas curtas e<br />

A<br />

B<br />

Discussão<br />

Apesar das sementes <strong>de</strong> Schinus terebinthifolius serem<br />

amplamente disseminadas por aves (Lorenzi 1998), pouco<br />

tem sido estudado a respeito da importância <strong>de</strong> seus frutos na<br />

dieta <strong>de</strong> aves frugívoras. Krügel e Behr (1998) estudaram as<br />

aves que utilizam frutos <strong>de</strong> S. terebinthifolius e verificaram<br />

que a passagem pelo tubo digestivo <strong>de</strong> algumas aves antecipa<br />

o tempo <strong>de</strong> germinação <strong>de</strong> suas sementes e eleva o seu percentual<br />

<strong>de</strong> germinação, em comparação com as sementes in<br />

natura.<br />

Figura 1. (A) Proporção <strong>de</strong> visitas das seis famílias <strong>de</strong> aves sobre Schinus<br />

terebinthifolius no Parque Estadual <strong>de</strong> Vila Velha, Ponta Grossa, Estado do<br />

Paraná. (B) Proporção <strong>de</strong> visitas das sete famílias <strong>de</strong> aves sobre Myrsine<br />

coriacea no Parque Estadual <strong>de</strong> Vila Velha, Ponta Grossa, Estado do Paraná.<br />

Figure 1. (A) Proportion of visits of the six bird families on Schinus<br />

terebinthifolius at Parque Estadual <strong>de</strong> Vila Velha, state of Paraná, south Brazil.<br />

(B) Proportion of visits of the seven bird’s family on Myrsine coriacea at the<br />

Parque Estadual <strong>de</strong> Vila Velha, Ponta Grossa, Paraná State.


588 Shayana <strong>de</strong> Jesus e Emygdio Leite <strong>de</strong> Araujo Monteiro-Filho<br />

Tabela 1. Espécies <strong>de</strong> aves que visitaram Schinus terebinthifolius em 102 h <strong>de</strong> observações no Parque Estadual <strong>de</strong> Vila Velha, Ponta Grossa, Estado do<br />

Paraná.<br />

Table 1. Bird species visiting Schinus terebinthifolius in 102 h of observations at Parque Estadual <strong>de</strong> Vila Velha, state of Paraná, south Brazil.<br />

Família/espécie Número <strong>de</strong> visitas Dieta Status N % relativa <strong>de</strong> consumo Consumo Tempo visitas Ingestão<br />

Psittacidae<br />

Pyrrhura frontalis 6 FRU R 1 11,76 148 17,33 MI<br />

Tyrannidae<br />

Elaenia sp. 14 ONI M 2 0,48 3,00 ± 2,83 3,84 ± 4,69 I<br />

Serpophaga subcristata 7 INS R 5 0,64 1,60 ± 0,55 0,52 ± 0,13 I<br />

Mimidae<br />

Mimus saturninus 6 ONI R 6 11,05 23,17 ± 19,94 2,46 ± 1,13 I<br />

Turdidae<br />

Turdus rufiventris 21 ONI R 4 5,25 16,50 ± 11,90 2,14 ± 2,04 I<br />

Turdus leucomelas 4 ONI R 0 — — — I<br />

Turdus amaurochalinus 19 ONI R 2 9,46 59,50 ± 17,68 5,43 ± 3,64 I<br />

Vireonidae<br />

Vireo olivaceus 4 ONI M 0 — — — I<br />

Emberizidae<br />

Parula pitiayumi 27 ONI R 12 1,98 2,08 ± 1,88 1,31 ± 1,22 I<br />

Tersina viridis 2 ONI R 2 3,66 23,00 ± 29,70 0,20 ± 0,18 I<br />

Tangara preciosa 25 ONI R 18 39,90 27,89 ± 43,67 3,59 ± 4,60 I<br />

Thraupis sayaca 71 ONI R 13 14,15 13,69 ± 13,22 2,23 ± 2,01 MI<br />

Thraupis bonariensis 3 ONI R 0 — — — MI<br />

Hemithraupis guira 2 ONI R 2 1,67 10,50 ± 3,54 1,69 ± 0,08 I<br />

(Dieta) FRU = frugívoro; ONI = onívoro; INS = insetívoro; (Status) R = resi<strong>de</strong>nte; M = migratório; (N) Número <strong>de</strong> observações com medidas completas do<br />

tempo <strong>de</strong> permanência sobre a planta e do número <strong>de</strong> frutos consumidos; (Consumo) Média das quantias <strong>de</strong> frutos consumidos nas observações completas<br />

(média ± <strong>de</strong>svio padrão); (Tempo da visita) Média dos tempos <strong>de</strong> permanência (em minutos) sobre as plantas nas observações completas (média ± <strong>de</strong>svio<br />

padrão); (Ingestão) I = engole inteiro; MI = mandibula e engole inteiro.<br />

(Diet) FRU = frugivore; ONI = omnivore; INS = insectivore; (Migratory status) R = resi<strong>de</strong>nt; M = migratory; (N) Number of observations with complete<br />

measures of the time of permanence on the plant and number of fruits consumed; (Consume) Mean (± sd) number of fruits consumed in complete observations;<br />

(Time of visit) Mean (± sd) time of permanence (in minutes) on the plants in the complete observations; (Ingestion) I = swallow whole; MI = mash and swallow<br />

whole.<br />

freqüentes, engolindo os frutos inteiros e visitando a planta em<br />

grupos <strong>de</strong> até cinco indivíduos, aumentando a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

sementes removidas. De maneira semelhante, Turdus amaurochalinus<br />

apresentou alta porcentagem relativa <strong>de</strong> consumo,<br />

realizando muitas visitas e engolindo os frutos inteiros, porém,<br />

po<strong>de</strong> ter a sua eficiência como agente dispersor comprometida<br />

<strong>de</strong>vido à longa duração <strong>de</strong> algumas visitas, durante as quais as<br />

sementes po<strong>de</strong>riam ser eliminadas sob a própria planta-mãe.<br />

A dispersão <strong>de</strong> sementes <strong>de</strong> plantas do gênero Myrsine<br />

tem sido estudada por alguns autores, como Pineschi (1990) e<br />

Francisco e Galetti (2001). No presente estudo, todas as espécies<br />

<strong>de</strong> aves que consumiram M. coriacea foram consi<strong>de</strong>radas<br />

como potenciais dispersores por engolirem os frutos inteiros.<br />

Os mais importantes dispersores <strong>de</strong> sementes foram Colaptes<br />

melanochloros e Turdus rufiventris, que apresentaram as<br />

maiores porcentagens relativas <strong>de</strong> consumo e realizaram visitas<br />

curtas.<br />

Vireo olivaceus foi responsável por gran<strong>de</strong> parte das visitas<br />

(22% do total) e, segundo Pizo (1997), sua importância<br />

como dispersor <strong>de</strong> sementes parece ser altamente influenciada<br />

pela sua elevada freqüência <strong>de</strong> visitação. Esta espécie engoliu<br />

os frutos <strong>de</strong> M. coriacea inteiros e realizou visitas curtas, atuando,<br />

portanto, como um potencial dispersor. Esta parece ser<br />

uma característica do gênero, pois segundo Greenberg et al.<br />

(1995), espécies <strong>de</strong> Vireo po<strong>de</strong>m explorar eficientemente diásporos<br />

arilados e agir como dispersores <strong>de</strong> sementes.<br />

Os frutos constituem importante item na dieta dos filhotes,<br />

por serem ricos em suprimento energético. Neste estudo,<br />

frutos <strong>de</strong> M. coriacea serviram <strong>de</strong> alimento para filhotes <strong>de</strong><br />

Vireo olivaceus e <strong>de</strong> Elaenia sp. Ambas as espécies são onívoras<br />

e migratórias e, portanto, os frutos <strong>de</strong>vem servir tanto<br />

para suprir as necessida<strong>de</strong>s energéticas dos filhotes como para<br />

complementar a dieta das aves adultas, o que estaria <strong>de</strong> acordo<br />

com a proposta <strong>de</strong> Morton (1977) em relação à migração estar<br />

associada à disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos.<br />

A família Picidae foi responsável por 10,2% do total <strong>de</strong><br />

visitas à M. coriacea. Mikich (2002a) verificou, em remanescentes<br />

<strong>de</strong> floresta estacional semi<strong>de</strong>cidual, que a distribuição<br />

temporal <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> frutos por quatro espécies <strong>de</strong> picí<strong>de</strong>os<br />

exibiu um pico próximo do fim do ano, coincidindo com o<br />

pico <strong>de</strong> pluviosida<strong>de</strong> e o pico <strong>de</strong> disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> insetos. O<br />

mesmo ocorreu com o período reprodutivo dos referidos picí<strong>de</strong>os,<br />

o que levou a autora a propor que este fenômeno esteja<br />

relacionado à manutenção do balanço energético e nutricional<br />

(ver Foster 1978), especialmente dos ninhegos. No presente<br />

estudo, os registros <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> frutos <strong>de</strong> M. coriacea pelos<br />

picí<strong>de</strong>os foram obtidos em um período em que a maioria das<br />

aves se reproduz na região. Portanto, há indícios que o con‐


Frugivoria por aves em Schinus terebinthifolius (Anacardiaceae) e Myrsine coriacea (Myrsinaceae) 589<br />

Tabela 2. Espécies <strong>de</strong> aves que visitaram Myrsine coriacea em 48 h <strong>de</strong> observações no Parque Estadual <strong>de</strong> Vila Velha, Ponta Grossa, Estado do Paraná.<br />

Table 2. Bird species visiting Myrsine coriacea in 48 h of observations at Parque Estadual <strong>de</strong> Vila Velha, state of Paraná, south Brazil.<br />

Família/espécie Número <strong>de</strong> visitas Dieta Status N % relativa <strong>de</strong> consumo Consumo Tempo visitas Ingestão<br />

Picidae<br />

Piculus aurulentus 13 INS R 10 14,84 29,70 ± 20,99 1,72 ± 0,99 I<br />

Colaptes melanochloros 8 INS R 4 18,99 95,00 ± 37,71 4,10 ± 0,51 I<br />

Pipridae<br />

Chiroxiphia caudata 3 ONI R 2 1,45 14,50 ± 4,95 1,68 ± 0,46 I<br />

Tyrannidae<br />

Elaenia sp. 35 ONI M 18 4,75 5,28 ± 2,61 0,79 ± 0,53 I<br />

Camptostoma obsoletum 2 INS R 2 0,40 4,00 0,47 ± 0,10 I<br />

Legatus leucophaius 4 ONI M 4 1,55 7,75 ± 4,35 1,32 ± 1,04 I<br />

Myiodynastes maculatus 2 ONI M 1 0,30 6,00 1,27 I<br />

Pachyramphus validus 2 INS M 1 0,05 1,00 0,37 I<br />

Pitangus sulphuratus 1 ONI R 0 — — — I<br />

Turdidae<br />

Turdus rufiventris 13 ONI R 10 18,39 36,80 ± 22,89 1,48 ± 0,97 I<br />

Turdus leucomelas 23 ONI R 15 12,89 17,20 ± 14,50 1,16 ± 1,51 I<br />

Turdus amaurochalinus 4 ONI R 3 1,50 10,00 ± 8,66 1,52 ± 0,10 I<br />

Turdus albicollis 2 ONI R 2 0,80 8,00 ± 2,83 2,30 ± 2,58 I<br />

Corvidae<br />

Cyanocorax chrysops 7 ONI R 6 4,25 14,17 ± 22,33 1,42 ± 1,73 I<br />

Vireonidae<br />

Vireo olivaceus 45 ONI M 15 5,84 7,80 ± 5,35 1,79 ± 2,56 I<br />

Emberizidae<br />

Basileuterus culicivorus 1 INS R 1 0,75 15,00 1,20 I<br />

Tersina viridis 6 ONI R 6 3,45 11,50 ± 7,69 1,30 ± 1,06 I<br />

Tangara <strong>de</strong>smaresti 5 ONI R 2 0,40 4,00 ± 1,41 0,43 ± 0,01 I<br />

Hemithraupis guira 8 ONI R 5 1,65 6,60 ± 3,58 1,04 ± 0,72 I<br />

Saltator similis 6 ONI R 3 2,50 16,67 ± 7,51 2,47 ± 0,76 I<br />

Zonotrichia capensis 13 GRA R 7 4,35 12,43 ± 6,45 1,27 ± 0,61 I<br />

Thraupis sayaca 2 ONI R 1 0,90 9,00 2,67 I<br />

(Dieta) GRA = granívoro; ONI = onívoro; INS = insetívoro; (Status) R = resi<strong>de</strong>nte; M = migratório; (N) Número <strong>de</strong> observações<br />

com medidas completas do tempo <strong>de</strong> permanência sobre a planta e do número <strong>de</strong> frutos consumidos; (Consumo) Média das<br />

quantias <strong>de</strong> frutos consumidos nas observações completas (média ± <strong>de</strong>svio padrão); (Tempo <strong>de</strong> Visita) média dos tempos <strong>de</strong><br />

permanência sobre as plantas nas observações completas (média ± <strong>de</strong>svio padrão); (Ingestão) I = engole inteiro.<br />

(Diet) GRA = granivore; ONI = omnivore; INS = insectivore; (Migratory status) R = resi<strong>de</strong>nt; M = migratory; (N) Number of observations with complete<br />

measures of the time of permanence on the plant and number of fruits consumed; (Consume) Mean (± sd) number of fruits consumed in complete<br />

observations; (Time of visit) Mean (± sd) time of permanence (in minutes) on the plants in the complete observations; (Ingestion ) I = swallow whole.<br />

sumo <strong>de</strong> frutos por picí<strong>de</strong>os durante esta época do ano corrobore<br />

a hipótese <strong>de</strong> Mikich (2002a).<br />

Apenas um encontro agonístico foi observado entre as<br />

aves que consumiram os frutos <strong>de</strong> S. terebinthifolius e cinco<br />

encontros agonísticos entre as aves que consumiram os frutos<br />

<strong>de</strong> M. coriacea. De acordo com Willis (1966), plantas ornitocóricas<br />

que oferecem recursos abundantes durante todo o período<br />

diário <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> das aves, geralmente atraem muitos<br />

visitantes e reduzem o nível <strong>de</strong> competição entre eles. Provavelmente,<br />

o pequeno número <strong>de</strong> encontros agonísticos registrados<br />

neste estudo se <strong>de</strong>va a este fator. Pizo (1997), em seu<br />

estudo realizado na Mata <strong>de</strong> Santa Genebra, Estado <strong>de</strong> São<br />

Paulo, verificou que Turdus leucomelas foi uma das espécies<br />

<strong>de</strong> maior agressivida<strong>de</strong>, permanecendo por longos períodos<br />

sobre a copa e impedindo a aproximação <strong>de</strong> outras aves<br />

potencialmente dispersoras, sendo este, um fator consi<strong>de</strong>rado<br />

negativo para a dispersão. No presente estudo, T. leucomelas<br />

também foi a principal espécie interagindo agonisticamente.<br />

No entanto, o número <strong>de</strong> investidas foi bastante baixo em relação<br />

ao número total <strong>de</strong> visitas, sugerindo que no Parque Estadual<br />

<strong>de</strong> Vila Velha, estes encontros não tenham interferido <strong>de</strong><br />

maneira marcante no processo <strong>de</strong> dispersão.<br />

Os principais potenciais dispersores <strong>de</strong> S. terebinthifolius<br />

e M. coriacea foram espécies onívoras e insetívoras, que possuíram<br />

elevadas freqüências <strong>de</strong> visitas e taxas <strong>de</strong> consumo,<br />

permanecendo por curtos períodos <strong>de</strong> tempo sobre as plantas,<br />

aumentando <strong>de</strong>sta forma as possibilida<strong>de</strong>s das sementes serem<br />

regurgitadas longe das plantas parentais. Muitas das espécies<br />

potenciais dispersoras observadas no consumo <strong>de</strong>stes frutos<br />

são comuns e muito freqüentes, inclusive em áreas antrópicas.<br />

Isso po<strong>de</strong> aumentar as chances <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> áreas secundárias<br />

e com potenciais dispersores oportunistas se estabelecerem<br />

mesmo em ambientes <strong>de</strong>gradados (Francisco e Galetti 2001),<br />

como é o caso das aqui estudadas. A maioria das espécies <strong>de</strong><br />

aves consumidoras foi observada freqüentando tanto o interior<br />

como a borda do fragmento florestal, bem como ambien‐


590 Shayana <strong>de</strong> Jesus e Emygdio Leite <strong>de</strong> Araujo Monteiro-Filho<br />

tes abertos. Desta forma, assim como sugerido por Krügel<br />

e Behr (1998), po<strong>de</strong>m estar dispersando as sementes nesses<br />

ambientes.<br />

Os resultados <strong>de</strong>ste trabalho <strong>de</strong>stacam a importância dos<br />

frutos <strong>de</strong> S. terebinthifolius e M. coriacea como recurso alimentar<br />

para as aves na região estudada. Schinus terebinthifolius<br />

é um importante recurso alimentar por frutificar durante<br />

o inverno, quando a oferta <strong>de</strong> outros alimentos é escassa, e<br />

por ter frutificação prolongada oferecendo alimento para a<br />

avifauna durante gran<strong>de</strong> parte do ano. Myrsine coriacea <strong>de</strong>staca-se<br />

por frutificar durante o período reprodutivo da maioria<br />

das aves da região, provavelmente <strong>de</strong>sempenhando relevante<br />

papel no balanço energético e nutricional dos filhotes, particularmente<br />

na época em as aves migratórias ou resi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong><br />

verão encontram-se no Parque Estadual <strong>de</strong> Vila Velha, sendo<br />

um item complementar na dieta <strong>de</strong>ssas aves.<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

Somos gratos à Angélica Uejima e Sandra Bos Mikich,<br />

pelas gran<strong>de</strong>s contribuições à este trabalho. Carlos Eduardo<br />

Zimmermann, Sandro Von Matter, Maria Spaki, Júlio César<br />

da Costa e Iury Accordi, pelo envio <strong>de</strong> material bibliográfico.<br />

À Wanessa Ramsdorf, pelo auxílio nas análises estatísticas e<br />

figuras; Jean Vitule e Leonardo Pereira dos Santos, pelo auxílio<br />

nas tabelas e figuras, respectivamente; Filipe <strong>de</strong> Almeida<br />

Teixeira, pelo auxílio na redação do abstract; e ao Fábio Gaio<br />

Chimentão, pelo apoio e prestativida<strong>de</strong>. Ao Instituto Ambiental<br />

do Paraná, IAP, pela autorização <strong>de</strong> pesquisa e pelo apoio.<br />

Aos amigos e funcionários do Parque Estadual <strong>de</strong> Vila Velha,<br />

e ao Grupo <strong>de</strong> Estudos em Vila Velha.<br />

Referências Bibliográficas<br />

Carvalho, P.E.R. (1994) Espécies florestais brasileiras:<br />

recomendações silviculturais, potencialida<strong>de</strong>s e uso da<br />

ma<strong>de</strong>ira. Brasília: Embrapa – CNPF.<br />

Cazetta, E., P. Rubim, V.O. Lunardi, M.R Francisco e M.<br />

Galleti (2002) Frugivoria e dispersão <strong>de</strong> sementes <strong>de</strong><br />

Talauma ovata (Magnoliaceae) no su<strong>de</strong>ste brasileiro.<br />

Ararajuba 10:199‐206.<br />

Dário, F.R. (1994) Dispersão <strong>de</strong> sementes. <strong>Revista</strong> Silvicultura<br />

58:32‐34.<br />

Foster, M.S. (1978) Total frugivory in tropical passerines: a<br />

reappraisal. Tropical Ecology 19:131‐154.<br />

Francisco, M.R. e M. Galetti (2001) Frugivoria e dispersão <strong>de</strong><br />

sementes <strong>de</strong> Rapanea lancifolia (Myrsinaceae) por aves<br />

numa área <strong>de</strong> cerrado do Estado <strong>de</strong> São Paulo, su<strong>de</strong>ste do<br />

Brasil. Ararajuba 9:13‐19.<br />

Francisco, M.R. e M. Galetti (2002a) Aves como potenciais<br />

dispersoras <strong>de</strong> sementes <strong>de</strong> Ocotea pulchella Mart. (Lauraceae)<br />

numa área <strong>de</strong> vegetação <strong>de</strong> cerrado do su<strong>de</strong>ste<br />

brasileiro. Rev. bras. Bot. 25:11‐17.<br />

Francisco, M.R. e M. Galetti (2002b) Consumo dos frutos <strong>de</strong><br />

Davilla rugosa (Dilleniaceae) por aves numa área <strong>de</strong><br />

cerrado em São Carlos, Estado <strong>de</strong> São Paulo. Ararajuba<br />

10:193‐198.<br />

Greenberg, R., M.S. Foster e L. Márquez-Va<strong>de</strong>lamar (1995) The<br />

role of the White-eyed vireo in the dispersal of Bursera<br />

fruit on the Yucatan Peninsula. J. Trop. Ecol. 11:619‐639.<br />

Hasui, E. e E. Höfling (1998) Preferência alimentar das aves<br />

frugívoras <strong>de</strong> um fragmento <strong>de</strong> floresta estacional semi<strong>de</strong>cídua<br />

secundária, São Paulo, Brasil. Iheringia, Sér.<br />

Zool. 84:43‐64.<br />

IAPAR (Instituto Agronômico do Paraná) (1978). Cartas climáticas<br />

básicas do Estado do Paraná. Londrina, Paraná:<br />

Instituto Agronômico do Paraná.<br />

Janzen, D.H. (1981) Fícus ovalis seed predation by an Orangechinned<br />

Parakeet (Brotogeris jugularis) in Costa Rica.<br />

Auk 98:841‐844.<br />

Jordano, P. (1983) Fig-seed predation and dispersal by birds.<br />

Biotropica 15:38‐41.<br />

Krügel, M.M. e E.R. Behr (1998) Utilização <strong>de</strong> frutos <strong>de</strong> Schinus<br />

terebinthifolius Raddi (Anacardiaceae) por aves no<br />

Parque do Ingá, Maringá, Paraná. Biociências 6:47‐56.<br />

Lorenzi, H. (1998) Árvores <strong>Brasileira</strong>s: manual <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação<br />

e cultivo <strong>de</strong> plantas arbóreas nativas do Brasil. 2 a<br />

ed., Nova O<strong>de</strong>ssa: Plantarum.<br />

Maack, R. (1981) Geografia física do Estado do Paraná. Curitiba:<br />

Secretaria da Cultura e do Esporte do Governo do<br />

Estado do Paraná.<br />

Manhães, M.A., L.C.S. Assis e R.M. Castro (2003) Frugivoria<br />

e dispersão <strong>de</strong> sementes <strong>de</strong> Miconia urophylla (Melastomataceae)<br />

por aves em um fragmento <strong>de</strong> Mata Atlântica<br />

secundária em Juiz <strong>de</strong> Fora, Minas Gerais, Brasil. Ararajuba<br />

11:173‐180.<br />

Marcon<strong>de</strong>s-Machado, L.O. (2002) Comportamento alimentar<br />

<strong>de</strong> aves em Miconia rubiginosa (Melastomataceae) em<br />

fragmento <strong>de</strong> cerrado, São Paulo. Iheringia, Sér. Zool.<br />

92:97‐100.<br />

Marcon<strong>de</strong>s-Machado, L.O. e M.M. Argel-<strong>de</strong>-Oliveira (1988)<br />

Comportamento alimentar <strong>de</strong> aves em Cecropia (Mora‐


Frugivoria por aves em Schinus terebinthifolius (Anacardiaceae) e Myrsine coriacea (Myrsinaceae) 591<br />

ceae), em Mata Atântica, no estado <strong>de</strong> São Paulo. Rev.<br />

Bras. Zool. 4:331‐339.<br />

Mikich, S.B. (2002a) Fruit consumption by four woodpecker<br />

species (Picidae: Aves) in semi<strong>de</strong>ciduos seasonal forest<br />

remnants of South Brazil. Arq. ciên. vet. zool. UNIPAR<br />

5:177‐186.<br />

Mikich, S.B. (2002b) A dieta frugívora <strong>de</strong> Penelope superciliaris<br />

(Cracidae) em remanescentes <strong>de</strong> floresta estacional<br />

semi<strong>de</strong>cidual no centro-oeste do Paraná, Brasil e<br />

sua relação com Euterpe edulis (Arecaceae). Ararajuba<br />

10:207‐217.<br />

Morton, E.S. (1977) Intratropical migration in the Yellowgreen<br />

Vireo e Piratic Flycatcher. Auk 94:97‐106.<br />

Motta-Júnior, J.C. (1990) Estrutura trófica e composição das<br />

avifaunas <strong>de</strong> três hábitats terrestres na região central do<br />

estado <strong>de</strong> São Paulo. Ararajuba 1:65‐71.<br />

Piña-Rodrigues, F.C.M. e I.B. Aguiar (1993) Maturação e<br />

dispersão <strong>de</strong> sementes, p.215‐274. Em: I.B. <strong>de</strong> Aguiar,<br />

F.C.M. Pinã-Rodrigues e M.B. Figliola (eds.) Sementes<br />

Florestais Tropicais. Brasília: ABRATES.<br />

Pineschi, R.B. (1990) Aves como dispersores <strong>de</strong> sete espécies<br />

<strong>de</strong> Rapanea (Myrsinaceae) no maciço <strong>de</strong> Itatiaia, estados<br />

do Rio <strong>de</strong> Janeiro e Minas Gerais. Ararajuba 1:73‐78.<br />

Pizo, M.A. (1997) Seed dispersal and predation in two populations<br />

of Cabralea canjerana (Meliaceae) in the Atlantic<br />

Forest of southeastern Brazil. J. Trop. Ecol. 13:559‐578.<br />

Pizo, M.A., W.R. Silva, M. Galetti e R. Laps (2002) Frugivory<br />

in cotingas of the Atlantic Forest of southeast Brazil.<br />

Ararajuba 10:177‐185.<br />

Sick, H. (1997) <strong>Ornitologia</strong> brasileira. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Editora<br />

Nova Fronteira.<br />

SIMEPAR (Instituto Tecnológico SIMEPAR) (2006). Disponível<br />

em: www.simepar.br (acesso em 20/12/2006).<br />

Takeda, I.J.M. e P.V. Farago (2001) Vegetação do Parque<br />

Estadual <strong>de</strong> Vila Velha. Curitiba: Ed. dos autores.<br />

Uejima, A.M.K. e M.R. Bornschein (2007) As aves dos Campos<br />

Gerais, p. 109‐121. Em: M.S. Melo, R.S. Moro e<br />

G.B. Guimarães (eds.). Patrimônio natural dos Campos<br />

Gerais do Paraná. Ponta Grossa: Editora UEPG.<br />

Van Der Pijl, L. (1982) Principles of dispersal in higher plants.<br />

3 ed. Berlin: Springer-Verlag.<br />

Willis, E.O. (1966) Competitive exclusion and birds at fruiting<br />

trees in western Colombia. Auk 83: 479‐480.<br />

Willis, E.O. (1979) The composition of avian communities in<br />

remanescent woodlots in southern Brazil. Pap. Avulsos<br />

<strong>de</strong> Zool. 33:1‐25.<br />

Zimmermann, C.E. (1996) Observações preliminares sobre a<br />

frugivoria por aves em Alchornea glandulosa (End. &<br />

Poepp.) (Euphorbiaceae) em vegetação secundária. Rev.<br />

Bras. Zool. 13:533‐538.


ARTIGO 592 Ivan Sazima <strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> 15(4):592-597<br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007<br />

The jack-of-all-tra<strong>de</strong>s raptor: versatile foraging and wi<strong>de</strong> trophic<br />

role of the Southern Caracara (Caracara plancus) in Brazil, with<br />

comments on feeding habits of the Caracarini<br />

Ivan Sazima<br />

Departamento <strong>de</strong> Zoologia e Museu <strong>de</strong> História Natural, Caixa Postal 6109, Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Campinas, 13083‐970,<br />

Brasil. E‐mail: isazima@unicamp.br<br />

Recebido em 14 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2007; aceito em 29 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007.<br />

Resumo: O raptor pau-para-toda-obra: forrageio versátil e ampla função trófica do caracará (Caracara plancus) no Brasil, com comentários<br />

sobre hábitos alimentares <strong>de</strong> Caracarini. O caracará (Caracara plancus) é uma das espécies <strong>de</strong> Falconiformes com dieta particularmente ampla,<br />

acompanhada <strong>de</strong> variadas táticas alimentares. Apresento aqui uma visão geral dos hábitos alimentares <strong>de</strong>ste falconí<strong>de</strong>o, com cerca <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>zena <strong>de</strong><br />

tipos principais <strong>de</strong> alimento e um número semelhante <strong>de</strong> táticas <strong>de</strong> forrageio. Adicionalmente, comento sobre os hábitos alimentares <strong>de</strong> Caracarini e<br />

noto que a versatilida<strong>de</strong> trófica <strong>de</strong> C. plancus é uma característica compartilhada com outras espécies do grupo que habitam áreas abertas. Estudos<br />

filogenéticos classificam C. plancus como uma das espécies mais basais do grupo, o que po<strong>de</strong>ria indicar que dieta variada e versatilida<strong>de</strong> comportamental<br />

em Caracarini sejam características ancestrais. As duas espécies <strong>de</strong> Milvago e Daptrius ater parecem ser mais especializadas em alguns aspectos (e.g.,<br />

catação habitual <strong>de</strong> carrapatos), porém Phalcoboenus apresenta um padrão trófico semelhante ao <strong>de</strong> Caracara, embora cace cooperativamente.<br />

Palavras-chave: Táticas alimentares, versatilida<strong>de</strong> comportamental, dieta ampla, áreas abertas, Caracarini, características ancestrais.<br />

Abstract: The Southern Caracara (Caracara plancus) has one of the most diversified diets and versatile foraging tactics among the Falconiformes.<br />

I present here a general view of the feeding habits of this falconid in Brazil, with about 10 main food types and a similar number of foraging tactics.<br />

Additionally, I comment on the feeding habits of the Caracarini and note that the trophic versatility of C. plancus is a feature shared with other species<br />

of this group that dwell in open areas. Phylogenetic studies place C. plancus as one of the basalmost species within the group, which may indicate that<br />

wi<strong>de</strong> diet and behavioural versatility of the Caracarini are ancestral traits. The two Milvago species and Daptrius ater seem to be more specialised in<br />

some features (e.g., habitual tick-cleaning), but Phalcoboenus has a trophic pattern similar to that of Caracara though it forages cooperatively.<br />

Key-words: Foraging tactics, behavioural versatility, wi<strong>de</strong> diet, open areas, Caracarini, ancestral traits.<br />

The two crested caracara species (Caracara plancus and<br />

C. cheriway, Falconidae) are renowned for their omnivorous<br />

feeding habits and varied foraging tactics (Yosef and Yosef<br />

1992, White et al. 1994, Morrison 1996, Sick 1997; Travaini<br />

et al. 2001, Morrison and Kyle 2006, and references therein).<br />

Caracara plancus is less studied than its northern counterpart<br />

C. cheriway and, besi<strong>de</strong>s general statements and a few brief<br />

<strong>de</strong>scriptions (e.g., White et al. 1994, Sick 1997, Olmos and<br />

Silva e Silva 2003, Tomazzoni et al. 2005), no study attempts<br />

to synthesize its wi<strong>de</strong> behavioural foraging repertoire and the<br />

type of foods the diverse foraging tactics are aimed at. The<br />

versatile foraging and wi<strong>de</strong> trophic roles of this southern species<br />

seem shared by most of the Caracarini falcons (White<br />

et al. 1994, Sick 1997), <strong>de</strong>spite some instances of distinctive<br />

(and sometimes local) foraging specialisations, viz. tickpicking,<br />

fishing, and social foraging (e.g., White et al. 1994,<br />

Monteiro-Filho 1995, Peres 1996, Sick 1997, Tomazzoni<br />

et al. 2005).<br />

I summarise here the versatile foraging tactics and the<br />

wi<strong>de</strong> trophic role of the Southern Caracara (Caracara plancus)<br />

in southwestern and southeastern Brazil. Additionally, I<br />

comment on the feeding habits of the Caracarini and note that<br />

wi<strong>de</strong> foraging roles and versatile foraging may be regar<strong>de</strong>d as<br />

ancestral traits of this falconid group.<br />

Methods<br />

Foraging Southern Caracara individuals were recor<strong>de</strong>d<br />

whenever found during field trips during the last 15 years at<br />

several localities in southwestern and southeastern Brazil. “Ad<br />

libitum” and “behaviour” sampling rules (Martin and Bateson<br />

1986) were used throughout the observations, on occasions<br />

documented with photographs. I summarise the results in a<br />

table, as most tactics I recor<strong>de</strong>d are already <strong>de</strong>scribed and/or<br />

illustrated, however briefly (see Discussion) and <strong>de</strong>scribe two<br />

previously unrecor<strong>de</strong>d feeding techniques. No attempt to quantify<br />

or compare the relative occurrence of each foraging tactic<br />

was ma<strong>de</strong>, due both to my haphazardly collected data and the<br />

general lack of suitable data in the literature (the tactics used<br />

by C. plancus in Brazil are mostly mentioned en passant and/or<br />

illustrated in more general texts). However, quantified data are<br />

available for food items consumed by C. plancus during the<br />

breeding season in An<strong>de</strong>an Patagonia (Travaini et al. 2001).<br />

Results<br />

The wi<strong>de</strong> trophic role and versatile foraging tactics of the<br />

Southern Caracara in Brazil are here summarised (Table 1) and


The jack-of-all-tra<strong>de</strong>s raptor: versatile foraging and wi<strong>de</strong> trophic role of the Southern Caracara<br />

(Caracara plancus) in Brazil, with comments on feeding habits of the Caracarini<br />

593<br />

some of them illustrated (Figures 1‐6 and 11‐14). Two previously<br />

unrecor<strong>de</strong>d foraging tactics are <strong>de</strong>scribed with some <strong>de</strong>tail below.<br />

Foraging on swarming leafcutter ants – Recor<strong>de</strong>d once at the<br />

Fazenda Santa Genebra in Campinas (~22°48’S, 47°11’W),<br />

São Paulo state, southeastern Brazil, on 12 October 1995 at<br />

about 1700 h. An adult caracara was standing near a shrub in a<br />

corn field and repeatedly pecked at a spot on the ground. Large<br />

winged insects were distinguishable in its bill on occasions.<br />

It procee<strong>de</strong>d with the pecking for about 15 min after which it<br />

flew off. The spot the bird was pecking at contained openings<br />

to an un<strong>de</strong>rground nest of the large leafcutter ant (Atta laevigata,<br />

Formicidae), which was swarming with winged males<br />

and females. A similar foraging was recor<strong>de</strong>d by Flávio H.<br />

G. Rodrigues at the Parque Nacional <strong>de</strong> Emas, Goiás state,<br />

western Brazil (pers. comm.), where an adult caracara was<br />

standing near a terrestrial termite nest partly dismantled by a<br />

giant anteater (Myrmecophaga tridactyla, Myrmecophagidae)<br />

and catching the swarming insects (Figure 2).<br />

Waiting for organic human refuse – Recor<strong>de</strong>d on five occasions<br />

on stream banks crossing the Transpantaneira road in<br />

Poconé (~16°30’S, 56°45’W), Mato Grosso state, southwestern<br />

Brazil. One instance is here chosen as illustrative of this<br />

foraging tactic. On 17 May 1997 at about 1500 h, two adult<br />

and two immature caracaras perched on shrubs on the bank<br />

of a stream near the road, where fishermen were packing their<br />

belongings and loading a car. The fishermen left on the bank a<br />

small pile of litter usually associated with this type of activity<br />

in the area (fish remains, food leftovers, plastic bags). As soon<br />

Table 1. Food types and foraging tactics used by the Southern Caracara<br />

(Caracara plancus). Main sources (including references therein): Sazima and<br />

Zamprogno (1993), White et al. (1994), Sick (1997), Olmos and Silva e Silva<br />

(2003), Tomazzoni et al. (2005), IS pers. obs. Or<strong>de</strong>r of food types roughly<br />

reflects the tactics used to forage on these foods.<br />

Food types<br />

Vertebrate carcasses (large)<br />

Vertebrate carcasses (small)<br />

Organic human refuse<br />

Carnivore feces<br />

Bird eggs and nestlings<br />

Fruits<br />

Vertebrates (medium-sized)<br />

Vertebrates (small)<br />

Vertebrates (afterbirth,<br />

newborn large)<br />

Invertebrates (general)<br />

Mangrove crabs<br />

Freshwater crabs<br />

Termites and ants (swarming)<br />

Sore tissue and ticks<br />

(on mammals)<br />

Foraging tactics<br />

Searches on wing; patrols<br />

roads; joins vultures<br />

Searches on wing; patrols roads;<br />

searches on foot; steals<br />

Searches on wing; waits on perch<br />

Searches on foot<br />

Raids nests on wing<br />

Searches on foot un<strong>de</strong>r trees<br />

Searches on wing; waits<br />

on perch; raids nests<br />

Searches on foot; waits on perch;<br />

follows ploughs, steals<br />

Searches on wing, searches on foot<br />

Searches on foot; follows<br />

ploughs; turns wood pieces<br />

Searches on foot; waits near burrows<br />

Searches wading in the shallows<br />

Waits near nests’ openings<br />

Inspects on or near hosts<br />

(cleaning behaviour)<br />

as the people entered the car and the driver started the engine,<br />

the four birds lan<strong>de</strong>d near the ‘refuse dump’ and began to peck<br />

at the visible food. Then they procee<strong>de</strong>d to dismantle the litter<br />

pile scratching at it with their feet and pecking here and there<br />

on presumably edible items. The birds were recor<strong>de</strong>d to eat the<br />

fish remains and the food leftovers (mostly fried chicken).<br />

The food types consumed by the Caracarini may be summarised<br />

in a few wi<strong>de</strong> categories (Table 2). Their foraging tactic<br />

likely are similar to those presented for the Southern Caracara<br />

(Table 1), with a few distinctive behaviours such as cooperative<br />

killing of larger prey by species of Phalcoboenus (Figure 7). On<br />

the other hand, foraging on carrion is the most conspicuous and<br />

wi<strong>de</strong>spread feeding mo<strong>de</strong> among the Caracarini (Table 2, Figure<br />

8). Picking off ticks from and pecking at sores of large herbivorous<br />

mammals is a wi<strong>de</strong>spread feeding habit as well, being<br />

most conspicuous in the genus Milvago (Figures 9 and 10).<br />

Discussion<br />

The Southern Caracara has one of the most varied diets and<br />

accompanying foraging tactics among the falconids and even<br />

among the Caracarini (White et al. 1994, Sick 1997, present<br />

paper). Except for the foraging on social insects swarming at nest,<br />

as well as the waiting for organic human refuse reported herein, the<br />

remain<strong>de</strong>r foraging tactics summarised here are already recor<strong>de</strong>d<br />

for Caracara plancus, however briefly (Sick 1997, Travaini et al.<br />

Table 2. Food types consumed by falcons of the Caracarini. Main sources,<br />

including references therein: Haverschmidt 1947, Schubart et al. (1965),<br />

Yosef and Yosef (1992), White et al. (1994), Monteiro-Filho (1995), Morrison<br />

(1996), Peres (1996), Strange (1996), Rodríguez-Estrella and Rodríguez<br />

(1997), Sick (1997), Travaini et al. (2001), Jaksić et al. (2002), Galetti and<br />

Guimarães Jr. (2004), Tomazzoni et al. (2005), Morrison and Pias (2006),<br />

Sazima (2007), F. Olmos (pers. comm.), this paper.<br />

Food types<br />

Caracarini genera<br />

Carrion (large to small) All five genera<br />

Organic human refuse (in dumps) Caracara, Milvago, Phalcoboenus<br />

Carnivore or other animal’s feces Caracara, Milvago, Phalcoboenus<br />

Bird or turtle eggs (the<br />

All five genera<br />

latter mostly as laid)<br />

Fruits (large to small)<br />

All five genera<br />

Terrestrial vertebrates<br />

(small to medium)<br />

Terrestrial vertebrates<br />

(afterbirth, large newborn)<br />

Aquatic vertebrates (small)<br />

Bird nestlings (small to large)<br />

Arthropods (terrestrial)<br />

Arthropods (aquatic)<br />

Wasps (on nests)<br />

Termites or ants (swarming)<br />

Earthworms (at ploughing;<br />

after rains)<br />

Maggots (on carrion)<br />

Ticks and sore tissue<br />

(on mammals)<br />

Caracara, Daptrius,<br />

Milvago, Phalcoboenus<br />

Caracara, Milvago, Phalcoboenus<br />

Caracara, Daptrius, Milvago<br />

Caracara, Daptrius,<br />

Milvago, Phalcoboenus<br />

All five genera<br />

Caracara, Milvago<br />

Ibycter<br />

Caracara, Milvago<br />

Caracara, Milvago, Phalcoboenus<br />

Caracara, Milvago, Phalcoboenus<br />

Caracara, Daptrius, Milvago


594 Ivan Sazima<br />

1998, Olmos and Silva e Silva 2003, Galetti and Guimarães Jr.<br />

2004, Tomazzoni et al. 2005), or its northern counterpart Caracara<br />

cheriway (reviews in Morrison 1996, Rodríguez-Estrella<br />

and Rodríguez 1992, 1997, Morrison and Pias 2006).<br />

Swarming social insects, mostly winged termites are a rich,<br />

ephemeral, and unpredictable food source readily used by several<br />

birds including passerines, owls, and parrots (brief review<br />

in Olson and Alvarenga 2006). On the other hand, waiting for<br />

human refuse may be compared to the “anticipating” behaviour<br />

recor<strong>de</strong>d by Strange (1996) for the Striated Caracara<br />

(Phalcoboenus australis). Several individuals of this latter<br />

species positioned themselves ahead of the observer’s route<br />

and waited for Southern Giant Petrels (Macronectes giganteus,<br />

Procelariidae) to <strong>de</strong>sert their nests upon the observer’s<br />

Figures 1‐6. (1) An adult Southern Caracara (Caracara plancus) on a hunting perch near a soybean field, where it preyed on a small lizard – Fazenda Santa<br />

Genebra in Campinas, São Paulo, SE Brazil; (2) an adult caracara near a partly dismantled terrestrial termite nest catches the swarming insects – Parque Nacional<br />

<strong>de</strong> Emas, Goiás, W Brazil; (3) a postjuvenal caracara about to displace a Black Vulture (Coragyps atratus) from a road-killed caiman – note crest and neck<br />

feathers erected and wings lowered during the falcon’s lunge forwards – Transpantaneira road in Poconé, Mato Grosso, SW Brazil; (4) a postjuvenal caracara<br />

wa<strong>de</strong>s tarsus-<strong>de</strong>ep water searching for crabs – same area as prece<strong>de</strong>nt figure; (5) a juvenile caracara on a mangrove flat at low ti<strong>de</strong> holds a fiddler crabs (Uca sp.)<br />

with its foot – Cubatão, São Paulo, SE Brazil; (6) an adult caracara pursues an Osprey (Pandion haliaetus) that holds a fish in its talons – same area as prece<strong>de</strong>nt<br />

figure. Photographs by Ivan Sazima (1, 3, 4), Flávio H. G. Rodrigues (2) and Robson Silva e Silva (5, 6).


The jack-of-all-tra<strong>de</strong>s raptor: versatile foraging and wi<strong>de</strong> trophic role of the Southern Caracara<br />

(Caracara plancus) in Brazil, with comments on feeding habits of the Caracarini<br />

595<br />

approach, at which moment the caracaras immediately took<br />

and ate the eggs (Strange 1996). In the two <strong>de</strong>scribed situations,<br />

both C. plancus and P. australis <strong>de</strong>monstrated that they<br />

are able to “predict” the outcome of human activities to their<br />

own profit. Other instances of foraging by Caracarini falcons,<br />

such as following ploughs, waiting for turtles to lay eggs, or<br />

waiting for large mammals to give birth (White et al. 1994,<br />

Morrison 1996, Sick 1997, R. Silva e Silva pers. comm.) attest<br />

to these birds’ ability to recognise foraging opportunities that<br />

will take place un<strong>de</strong>r certain circumstances.<br />

Due to its carrion-feeding, the crested caracaras are frequently<br />

compared with vultures in the past and present literature.<br />

However, this foraging mo<strong>de</strong> is overrated since caracaras<br />

feeding on carcasses, especially at road kills, are easily seen<br />

(Morrison 1996). Carrion-feeding apart, caracaras and vultures,<br />

especially the Turkey Vulture (Cathartes aura) have<br />

some traits in common, such as flying low while foraging over<br />

open areas they favour, killing small vertebrates, feeding on<br />

fruits, pecking at ticks and sores on mammals (Haverschmidt<br />

1947, Sazima and Zamprogno 1993, Houston 1994, White<br />

et al. 1994, Sick 1997, Sazima 2007) and such comparisons<br />

are not entirely out of place.<br />

The Northern Caracara (C. cheriway) is among the best<br />

studied Caracarini (Yosef and Yosef 1992, White et al. 1994,<br />

Morrison 1996, Morrison and Kyle 2006, and references<br />

therein), although there is less data published for the Southern<br />

Caracara, C. plancus (e.g., Travaini et al. 2001, Sick 1997).<br />

However, taken together, the amount of data available for<br />

these two species may explain their apparently wi<strong>de</strong>r trophic<br />

role and greater diversity of foraging tactics as compared to the<br />

other species within this falconid group (see White et al. 1994).<br />

Even if the studies on the caracaras of the genus Phalcoboenus<br />

are fewer (see Strange 1996 for a <strong>de</strong>tailed account on P. striatus),<br />

their trophic role and foraging tactics seem very close to<br />

that of the crested caracaras except for their cooperative hunting,<br />

which remain unrecor<strong>de</strong>d in other Caracarini species but<br />

the Red-throated Caracara (Ibycter americanus) (White et al.<br />

1994, Peres 1996, Sick 1997). However, what appears to be an<br />

initial stage of cooperative foraging is recor<strong>de</strong>d for pairs (couples)<br />

of C. cheriway (Morrison 1996). Cooperative foraging<br />

was possibly present in the ancestral Caracarini (see phylogeny<br />

in Griffiths 1999, Griffiths et al. 2004), and was perhaps<br />

attenuated in the genus Caracara and secondarily lost in Daptrius<br />

and Milvago due to ecological and other constraints.<br />

Figures 7‐8. (7) Two Striated Caracaras (Phalcoboenus australis) dismantle a Flying Steamer Duck (Tachyeres patachonicus) killed by three individuals during<br />

cooperative hunting; (8) a Chimango Caracara (Milvago chimango) pulls the carcass of a Magellanic Penguin (Spheniscus magellanicus) chick from within the<br />

nesting burrow – both records in Argentinean Patagonia; (9) a postjuvenal Yellow-hea<strong>de</strong>d Caracara (Milvago chimachima) picks off a tick from the throat of<br />

capybara (Hydrochoerus hydrochaeris) male that poses laid down on its si<strong>de</strong>; (10) an adult of the same caracara species pecks at an open sore on the back of a<br />

capybara male – both records in São Paulo, SE Brazil. Photographs by Fabio Olmos (7, 8) and Ivan Sazima (9, 10).


596 Ivan Sazima<br />

The trophic roles and foraging tactics of the two species of<br />

Milvago (M. chimachima and M. chimango) are very similar<br />

to each other, the Chimango Caracara perhaps being more specialised<br />

in tick-removing from herbivorous mammals (White<br />

et al. 1994, but see Sazima 2007). From the trophic viewpoint,<br />

the Black Caracara (Daptrius ater) seems close to these two<br />

species due especially for its foraging on ticks and sores of<br />

mammals (White et al. 1994, Peres 1996, Sick 1997).<br />

The least studied species, the Red-throated Caracara (Ibycter<br />

americanus) stands out as the only Caracarini that cooperatively<br />

hunts wasps in their nests (White et al. 1994, Peres 1996,<br />

Sick 1997). Further studies may disclose that this forest falcon<br />

has a wi<strong>de</strong>r trophic role and varied foraging tactics, although<br />

the forest habitat may put a constraint on a great versatility<br />

such as that displayed by the open-dwelling Caracarini.<br />

A glance at the two tables and the literature here briefly<br />

reviewed reveals that most Caracarini species display a great<br />

foraging versatility, a fact already noted by several authors<br />

(see White et al. 1994, Sick 1997), this versatility possibly<br />

being an ancestral trait of this monophyletic falconid group<br />

(see Griffiths 1999, Griffiths et al. 2004 for phylogeny). It<br />

may be foreseen that further field studies on the natural history<br />

of the Caracarini (see Strange 1996 for an example) would fill<br />

at least some of the apparent gaps between the foraging tactics<br />

of the genera and/or species, especially those dwelling in open<br />

areas, likely a key ecological factor for the great behavioural<br />

versatility displayed by these falcons.<br />

Acknowledgments<br />

I thank Marlies Sazima for her always pleasant company<br />

in the field and her loving support; Robson Silva e Silva for<br />

the photographs of Caracara plancus foraging on fiddler crabs<br />

and the instance of kleptoparasitism; Flávio H. G. Rodrigues<br />

for the photograph of C. plancus foraging on termites; Fabio<br />

Olmos for the photographs of Phalcoboenus australis dismantling<br />

a duck and Milvago chimango foraging on carrion; Joan<br />

L. Morrison, Fabio Olmos, José Carlos Motta Jr., and Ricardo<br />

Rodríguez-Estrella for important references; Ian and Maria M.<br />

Strange for the pleasant and important brochure on Phalcoboenus<br />

australis; Luís Fábio da Silveira, Fabio Olmos, and<br />

Robson Silva e Silva for sharing their knowledge about caracaras;<br />

the CNPq for essential financial support.<br />

References<br />

Galetti, M. and P. R. Guimarães Jr. (2004) Seed dispersal of<br />

Attalea phalerata (Palmae) by crested caracaras (Caracara<br />

plancus) in the Pantanal and a review of frugivory<br />

by raptors. Ararajuba 12(2):133‐135.<br />

Griffiths, C. S. (1999) Phylogeny of the Falconidae inferred from<br />

molecular and morphological data. Auk 116(1):116‐130.<br />

Griffiths, C. S., G. F. Barroughclough, J. G. Groth and L.<br />

Martz. (2004) Phylogeny of Falconidae (Aves): a comparison<br />

of the efficacy of morphological, mitochondrial,<br />

and nuclear data. Mol. Phylog. Evol. 32:101‐109.<br />

Houston, D. C. (1994) Family Cathartidae (New World vultures),<br />

p. 24‐41. In: J. <strong>de</strong>l Hoyo, A. Elliot and J. Sargatal<br />

(eds.) Handbook of the birds of the world. Vol. 2.<br />

New World vultures to guineafowl. Barcelona: Lynx<br />

Edicions.<br />

Jaksić, F. M., J. A. Iriarte and J. E. Jiménez (2002) The raptors<br />

of Torres <strong>de</strong>l Paine National Park, Chile: biodiversity<br />

and conservation. Rev. Chil. Hist. Nat. 75:449‐461.<br />

Monteiro-Filho, E. L. A. (1995) Fishing behavior of yellowhea<strong>de</strong>d<br />

caracara, Milvago chimachima (Falconidae) in<br />

southeast Brazil. Ciênc. Cult. 47(1/2):86‐87.<br />

Morrison, J. L. (1996) Crested caracara (Caracara plancus),<br />

p. 1‐28. In: A. Poole and F. Gill (eds.). The birds of North<br />

America, No. 249. Phila<strong>de</strong>lphia and Washington, D.C.<br />

The Aca<strong>de</strong>my of Natural Sciences and The American<br />

Ornithologists’ Union.<br />

Morrison, J. L. and K. E. Pias (2006) Assessing the vertebrate<br />

component of the diet of Florida’s crested caracaras<br />

(Caracara cheriway). Fla. Sci. 69(1):36‐43.<br />

Olmos, F. and R. Silva e Silva (2003) Guará: ambiente, flora<br />

e fauna dos manguezais <strong>de</strong> Santos-Cubatão. São Paulo:<br />

Empresa das Artes.<br />

Olson, S. L. and M. F. Alvarenga (2006) An extraordinary feeding<br />

assemblage of birds at a termite swarm in the Serra<br />

da Mantiqueira, São Paulo, Brazil. Rev. Bras. Ornitol.<br />

14(3):297‐299.<br />

Peres, C. A. (1996) Ungulate ectoparasite removal by black<br />

caracaras and pale-winged trumpeters in Amazonian<br />

forests. Wilson Bull. 108(1):170‐175.<br />

Rodríguez-Estrella, R. and L. B. R. Rodríguez (1997) Crested<br />

caracara food habits in the Cape region of Baja California,<br />

Mexico. J. Raptor Res. 31(3):228‐233.<br />

Sazima, I. (2007) Unexpected cleaners: black vultures (Coragyps<br />

atratus) remove <strong>de</strong>bris, ticks, and peck at sores of<br />

capybaras (Hydrochoerus hydrochaeris), with an oveview<br />

of tick-removing birds in Brazil. Rev. Bras. Ornitol.,<br />

15(3):417‐426.<br />

Sazima, I. and C. Zamprogno (1993) Vertebrate predation on<br />

the Neotropical amphisbaenian Leposternon wuchereri.<br />

Herp. Rev. 24(3):82‐83.


The jack-of-all-tra<strong>de</strong>s raptor: versatile foraging and wi<strong>de</strong> trophic role of the Southern Caracara<br />

(Caracara plancus) in Brazil, with comments on feeding habits of the Caracarini<br />

597<br />

Schubart, O., A. C. Aguirre and H. Sick (1965) Contribuição<br />

para o conhecimento da alimentação das aves brasileiras.<br />

Arq. Zool. 12:95‐249.<br />

Sick, H. (1997) <strong>Ornitologia</strong> brasileira, uma introdução. Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro: Editora Nova Fronteira.<br />

Strange, I. (1996) The Striated Caracara (Phalcoboenus australis)<br />

in the Falkland Islands. Cheshire: Philip Myers.<br />

Tomazzoni, A. C., E. Pedó and S. M. Hartz (2005) Feeding<br />

associations between capybaras Hydrochoerus hydrochaeris<br />

(Linnaeus) (Mammalia, Hydrochaeridae) and<br />

birds in the Lami Biological Reserve, Porto Alegre, Rio<br />

Gran<strong>de</strong> do Sul, Brazil. Rev. Bras. Zool. 22:713‐716.<br />

Travaini, A., J. A. Donázar, O. Ceballos and F. Hiraldo (2001)<br />

Food habits of the crested caracara (Caracara plancus)<br />

in the An<strong>de</strong>an Patagonia: the role of breeding constraints.<br />

J. Arid Env. 48:211‐219.<br />

Yáñez, J. L., H. Núñez and F. M. Jaksić (1982) Food habits<br />

and weight of chimango caracaras in central Chile. Auk<br />

99(1):170‐171.<br />

Yosef, R. and D. Yosef (1992) Hunting behavior of Audubon’s<br />

crested caracara. J. Raptor Res. 26(2):100‐101.<br />

White, C. M., P. D. Olson and L. F. Kiff (1994) Family Falconidae<br />

(falcons and caracaras), p. 206‐275. In: J. <strong>de</strong>l<br />

Hoyo, A. Elliot and J. Sargatal (eds.) Handbook of the<br />

birds of the world. Vol. 2. New World vultures to guineafowl.<br />

Barcelona: Lynx Edicions.<br />

Ad<strong>de</strong>ndum<br />

After the completion of this paper I had the opportunity<br />

to observe and photographically record a few additional foraging<br />

tactics of the Southern Caracara (Caracara plancus) not<br />

illustrated previously. To clarify further the versatility of this<br />

raptor, I present here some of the pictures obtained at two localities<br />

in São Paulo, Southeastern Brazil (Figures 11‐14).<br />

Figures 11‐14. (11) A Southern Caracara (Caracara plancus) flies low while patrolling a sandy beach at low ti<strong>de</strong>; (12) the same individual patrols the shoreline<br />

on feet – note its head oriented towards the coming waves; (13) a caracara on a lawn dismantles a Rock Pigeon (Columba livia) that was sick or disabled when<br />

the raptor caught it; (14) a couple of caracaras at a pond edge, the individual on the left feeding on a small carcass (about 25 cm total length) of the fish Tilapia<br />

rendalli – the other bird had fed on the same carcass moments earlier. The two beach records from Ubatuba; the remain<strong>de</strong>r ones from Campinas.


NOTA 598 Daniel Tourem Gressler and Miguel Ângelo Marini <strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> 15(4):598-600<br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007<br />

Nest, eggs and nestling of the Collared Crescentchest<br />

Melanopareia torquata in the Cerrado region, Brazil<br />

Daniel Tourem Gressler 1 and Miguel Ângelo Marini 2<br />

1. Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Ecologia, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília, 70910‐900 Brasília, DF, Brasil.<br />

E‐mail: dtgressler@hotmail.com<br />

2. Departamento <strong>de</strong> Zoologia, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília, 70910‐900 Brasília, DF, Brasil. E‐mail: marini@unb.br<br />

Recebido em 31 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2006; aceito em 08 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2007.<br />

Resumo: Ninho, ovos e ninhego <strong>de</strong> Melanopareia torquata (Melanopareiidae) na região do Cerrado, Brasil. Descrevemos o ninho e o ninhego <strong>de</strong><br />

Melanopareia torquata, Melanopareiidae, espécie endêmica do Cerrado, única <strong>de</strong> sua família no Brasil. Pouco se conhece a respeito <strong>de</strong> sua biologia<br />

reprodutiva. Anteriormente pertencente à família Rhinocryptidae, M. torquata difere <strong>de</strong>stes principalmente por habitar áreas abertas e não possuir<br />

coloração críptica, entretanto sua relação com os rinocriptí<strong>de</strong>os não é bem compreendida. O ninho globular foi encontrado em 20 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong><br />

2006, ainda sem conteúdo, em uma moita <strong>de</strong> gramínea. Houve postura <strong>de</strong> dois ovos e um ninhego eclodiu, <strong>de</strong>saparecendo do ninho no início <strong>de</strong> seu<br />

<strong>de</strong>senvolvimento. O ninho <strong>de</strong> M. torquata é semelhante ao ninho <strong>de</strong> Melanopareia maximiliani e difere dos ninhos conhecidos <strong>de</strong> rinocriptí<strong>de</strong>os, que<br />

em sua maioria são subterrâneos e possuem túnel <strong>de</strong> acesso.<br />

Palavras-chave: Melanopareia torquata, ninho, ovos, ninhego, Cerrado.<br />

Key-words: Melanopareia torquata, nest, eggs, nestling, Brazilian Savanna.<br />

The Collared Crescentchest Melanopareia torquata is an<br />

en<strong>de</strong>mic species of the Cerrado biome, a large region in the<br />

center of South America (Silva 1997, Silva and Bates 2002).<br />

There is no agreement about the phylogenetic relationship of<br />

the genus Melanopareia, however Irestedt et al. (2002) and<br />

Chesser (2004) exclu<strong>de</strong>d it from the Rhinocryptidae family.<br />

The Brazilian Ornithological Records Committee consi<strong>de</strong>red<br />

it as the only member of the new family Melanopareiidae in<br />

Brazil (CBRO 2006). Furthermore, M. torquata differs from<br />

the Brazilian rhinocryptids (e.g. Scytalopus and Merulaxis)<br />

by a non-cryptical coloration and the open and sunny areas it<br />

inhabits (Sick 1997).<br />

Like most Brazilian rhinocryptids, little is known about<br />

the reproductive biology of M. torquata. Although observations<br />

on egg characteristics can be found in Sick (1997), no<br />

records on the nest were found in the literature. We <strong>de</strong>scribe<br />

the nest and make some consi<strong>de</strong>rations on the eggs and nestling<br />

of the Collared Crescentchest. The nest was found at the<br />

Estação Ecológica <strong>de</strong> Águas Emendadas (ESECAE), a conservation<br />

unit located at Distrito Fe<strong>de</strong>ral, Brazil. The reserve area<br />

encompasses 10,500 ha of native Cerrado vegetation, including<br />

its many structural types (Silva Jr. and Felfili 1996).<br />

We found the nest on October 20 2006 in “cerrado típico”.<br />

Before that, we observed two adults nearby the nest location<br />

on 18 October. One of them was standing on a branch<br />

about 1.5 m high giving “rrru” calls, while the other was on<br />

the ground collecting and carrying material to the nest. The<br />

globular nest had a si<strong>de</strong> entrance and was built in a tussock<br />

of grass at 15.0 cm from the ground. It was ma<strong>de</strong> of grass,<br />

supported from its base and attached by its si<strong>de</strong>s to the grass<br />

leaves (Figure 1). Some tree leaves were piled up un<strong>de</strong>r the<br />

nest apparently as an additional support to it. The entrance was<br />

4.2 cm wi<strong>de</strong> and 3.7 cm high. The height, width and length<br />

of the nest were 13.5 cm, 10.0 cm and 10.5 cm, respectively.<br />

Accordingly to the proposal standardization ma<strong>de</strong> by Simon<br />

and Pacheco (2005), M. torquata nest should be classified as<br />

closed/globular/base and lateral.<br />

Beginning on October 20, nest checks were ma<strong>de</strong> at 3‐4<br />

days intervals. Two ovoid-shaped, greenish-blue eggs were<br />

found on October 27 (Figure 1). Length and width of each<br />

egg were respectively: 21.2 mm and 15.7 mm; 19.5 mm and<br />

15.4 mm. On 13 November the nest had one unhatched egg<br />

and one naked tan nestling, with closed eyes and a 7.1 mm tarsus<br />

(Figure 1). The time between egg laying and the hatching<br />

of the nestling suggests an incubation period between 15 and<br />

18 days. On November 16 only the unhatched egg was present<br />

in the nest, indicating predation of the nestling. No adults were<br />

observed. Both the unhatched egg and the nest were collected<br />

and stored (0038) in the collection of the Zoology Department,<br />

University of Brasília.<br />

The nest of Melanopareia torquata is very similar to the<br />

one reported for Melanopareia maximiliani (Di Giacomo<br />

2005). Eggs in the last species, however, are whitish and have<br />

large dark spots close to the larger end (Di Giacomo 2005).<br />

Otherwise, the nest of M. torquata has the same form of the<br />

nest <strong>de</strong>scribed for the Grass Wren Cisthotorus platensis Troglodytidae<br />

(<strong>de</strong> la Peña 1987). Both species can be found in the<br />

study area and might diverge mainly in the type of Cerrado<br />

vegetation structure in which their nests are built, consi<strong>de</strong>ring<br />

that C. platensis inhabits “campo sujo” and “campo limpo”,<br />

while M. torquata is usually found in “campo cerrado” and<br />

“cerrado sensu strictu” (Tubelis and Cavalcanti 2001). The


Nest, eggs and nestling of the Collared Crescentchest Melanopareia torquata in the Cerrado region, Brazil 599<br />

Figure 1. Collared Crescentchest nest (right), <strong>de</strong>tail of the nest entrance with the eggs insi<strong>de</strong> it (left above) and 1-3 days nestling (left below).<br />

eggs of M. torquata we found differ from the <strong>de</strong>scription of<br />

Sick (1997) by the lack of any speckles.<br />

However, the nest of the Collared Crescentchest differs<br />

in many aspects from the majority of nests reported for<br />

the Rhinocryptidae species, with the exception of the Rhynocrypta<br />

lanceolata nest (Mezquida 2001). The nests of Scytalopus<br />

argentifrons (Young and Zuchowski 2003), Scytalopus<br />

supercilaris (Stiles 1979), Scytalopus micropterus (Greeney<br />

and Gelis 2005), Scytalopus parkeri (Greeney and Rombough<br />

2005) are generally subterranean, with an obscured entrance<br />

tunnel and are ma<strong>de</strong> of moss. Liosceles thracicus builds its<br />

nest with twigs, mosses, grasses, lichens, small leaves and<br />

clumps of earth on the ground, within small tree root systems,<br />

opened directly to the outsi<strong>de</strong> (Rosemberg 1986). Pteroptochos<br />

spp. excavate their own burrows with an entrance tunnel<br />

and Scelorchilus albicollis nests are built in burrows as<br />

well, but they can occupy abandoned ro<strong>de</strong>nt nests (Johnson<br />

1965 in Rosenberg 1986). The <strong>de</strong>scription of Melanopareia<br />

torquata nest and nestling may help to un<strong>de</strong>rstand the relationship<br />

between Melanopareia and other tapaculos.<br />

Acknowledgments<br />

The study was supported by grants from CNPq (Conselho<br />

Nacional <strong>de</strong> Desenvolvimento Científico e Tecnológico) to<br />

M. Â. M. and a scholarship from CAPES (Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong><br />

Aperfeiçoamento <strong>de</strong> Pessoal <strong>de</strong> Nível Superior) to D. T. G.<br />

We are also thankful to Nadinni Oliveira <strong>de</strong> Matos Sousa, Lilian<br />

Tonelli Manica, Luane Reis dos Santos and Sandro Barata<br />

Berg for helping with nest checks.<br />

References<br />

Chesser, R. T. (2004) Molecular systematics of New World<br />

suboscine birds. Molecular Phylogenetics and Evolution<br />

32:11‐24.<br />

Comitê Brasileiro <strong>de</strong> Registros Ornitológicos (2006) Listas das<br />

aves do Brasil. Version 15/7/2006. Available at . Access: [06/12/2006].


600 Daniel Tourem Gressler and Miguel Ângelo Marini<br />

De la Peña, M. R. (1987) Nidos y Huevos <strong>de</strong> las Aves Argentinas.<br />

Santa Fé, República Argentina: Edited by the<br />

author.<br />

Di Giacomo, A. G. (2005) Aves <strong>de</strong> la Reserva El Bagual, p.<br />

201‐465. Em: A. G. Di Giacomo e S. F. Krapovickas<br />

(eds.) Historia natural y paisaje <strong>de</strong> la Reserva El Bagual,<br />

Provincia <strong>de</strong> Formosa, Argentina. Inventario <strong>de</strong> la fauna<br />

<strong>de</strong> vertebrados y <strong>de</strong> la flora vascular <strong>de</strong> un área protegida<br />

<strong>de</strong>l Chaco Húmedo. Buenos Aires: Aves Argentinas/Asociación<br />

Ornitológica <strong>de</strong>l Plata (Temas <strong>de</strong> Naturaleza<br />

y Conservación 4).<br />

Greeney, H. F. and R. A. Gelis (2005) The nest and nestlings<br />

of the Long-tailed Tapaculo (Scytalopus micropterus) in<br />

Ecuador. <strong>Ornitologia</strong> Colombiana 3:88‐91.<br />

Greeney, H. F. and C. J. F. Rombough (2005) First nest of<br />

the Chusquea Tapaculo (Scytalopus parkeri) in southern<br />

Ecuador. <strong>Ornitologia</strong> Neotropical 16:439‐440.<br />

Irestedt, M., Fjeldså, J., Johansson, U. S. and P. G. P. Ericson<br />

(2002) Systematic relationships and biogeography of the<br />

tracheophone suboscines (Aves: Passeriformes). Molecular<br />

Phylogenetics & Evolution 23:499‐512<br />

Mezquida, E. T. (2001) Aspects of the breeding biology of the<br />

Crested Gallito. Wilson Bulletin 113:104‐108.<br />

Rosenberg, G. H. (1986) The nest of the Rusty-belted Tapaculo<br />

(Liosceles thoracicus). Condor 88:98.<br />

Sick, H. (1997) <strong>Ornitologia</strong> <strong>Brasileira</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova<br />

Fronteira.<br />

Silva, J. M. C. (1997) En<strong>de</strong>mic bird species and conservation<br />

in the Cerrado Region, South America. Biodiversity and<br />

Conservation 6:435‐450.<br />

Silva, J. M. C. and J. M. Bates (2002) Biogeographic patterns<br />

and conservation in the South American Cerrado: A tropical<br />

savanna Hotspot. BioScience 52:225‐233.<br />

Silva Jr., M. C. and J. M. Felfili (1996) A Vegetação da Estação<br />

Ecológica <strong>de</strong> Águas Emendadas. Brasília – DF:<br />

SEMATEC, IEMA.<br />

Simon, J. E. and S. Pacheco (2005) On the standardization of<br />

nest <strong>de</strong>scriptions of neotropical birds. <strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> 13:143‐154.<br />

Stiles, E. W. (1979) Nest and eggs of the White-browed Tapaculo<br />

(Scytalopus superciliaris). Condor 81:208.<br />

Tubelis, D. P. and R. B. Cavalcanti (2001) Community similarity<br />

and abundance of birds species in open habitats<br />

of a Central Brazilian Cerrado. <strong>Ornitologia</strong> Neotropical<br />

12:57‐73.<br />

Young, B. E. and W. Zuchowski (2003) First <strong>de</strong>scription of<br />

the nest of the Silvery-fronted Tapaculo (Scytalopus<br />

argentifrons). Wilson Bulletin 115:91‐93.


NOTA<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> 15(4):601-604<br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007<br />

Predação <strong>de</strong> Opisthocomus hoazin por Spizaetus ornatus e <strong>de</strong><br />

Bubulcus ibis por Bubo virginianus em Tocantins, Brasil<br />

Túlio Dornas 1,3 e Renato Torres Pinheiro 2,3<br />

1. Programa <strong>de</strong> Pós-graduação em Ciências do Ambiente – Conservação da Biodiversida<strong>de</strong>, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do<br />

Tocantins, Bloco 2, Sala 3. Avenida NS 15 ALC NO 14, 109 Norte, Caixa Postal 114, 77001‐090, Palmas, TO, Brasil.<br />

E‐mail: tuliodornas@yahoo.com.br<br />

2. Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Tocantins, Bloco 2, Sala 3. Avenida NS 15 ALC NO 14, 109 Norte, Caixa Postal 114, 77001‐090,<br />

Palmas, TO, Brasil. E‐mail: renatopin@uft.edu.br<br />

3. Grupo <strong>de</strong> Estudos Conservação <strong>de</strong> Aves do Cerrado (ECO-Aves), Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Tocantins, Palmas, TO, Brasil.<br />

Recebido em 14 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2007; aceito em 19 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2007.<br />

Abstract: Predation of Cattle Egret by the Great Horned Owl and Hoazin by the Ornate Hawk-Eagle in western Tocantins State, Brazil. We<br />

report the predation of Hoazin Opisthocomus hoazin by an immature Ornate Hawk-Eagle Spizaetus ornatus, a new prey for this species in Brazil. The<br />

Ornate Hawk-Eagle roosted together with Hoazin assembly in branches of Sapium haematospermum, typical river bor<strong>de</strong>rline vegetation. Sud<strong>de</strong>nly it<br />

went over an individual driven it to the ground. This strategy was also verified for Ornate Hawk-Eagle in other South American localities. The predation<br />

of Cattle Egret Bubulcus ibis by the Great Horned Owl Bubo virginianus was reported on an Araguaia river island. The prey, clawed on the owl’s<br />

feet, was dilacerated and lacking its head, a pattern also <strong>de</strong>scribed for others Great Horned Owl preys. Both reports occurred in the Cantão State Park,<br />

Bananal Island region, western Tocantins State, Brasil.<br />

Key-words: Predation, Spizaetus ornatus, Bubo virginianus, Bubulcus ibis, Opisthocomus hoazin, Tocantins.<br />

Palavras-chaves: Predação, Spizaetus ornatus, Bubo virginianus, Bubulcus ibis, Opisthocomus haozin, Tocantins.<br />

Os Falconiformes e Strigiformes são consi<strong>de</strong>radas aves <strong>de</strong><br />

rapina, principalmente <strong>de</strong>vido a algumas modificações morfológicas<br />

nos bicos e patas, as quais lhe permitem a caça e captura<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s presas. Os itens alimentares consumidos por<br />

estas aves variam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> invertebrados, sapos e lagartos, até<br />

aves e mamíferos <strong>de</strong> médio porte (Sick 1997, Sigrist 2006).<br />

No entanto, o conhecimento sobre a dieta <strong>de</strong> muitos rapineiros<br />

é escasso, <strong>de</strong>vido à dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> observar a maioria<br />

<strong>de</strong>stas espécies em campo, por serem raras e/ou inconspícuas<br />

(Sick 1986, Sigrist 2006). Na Reserva Biológica do Lami,<br />

remanescente <strong>de</strong> Floresta Atlântica com 179.000 hectares, no<br />

sul do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, o estudo da dieta <strong>de</strong> Bubo virginianus<br />

somente ocorreu concomitante ao primeiro registro da<br />

espécie para a esta unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação (Tomazzoni et al.<br />

2004).<br />

Como forma <strong>de</strong> suprir um pouco esta <strong>de</strong>ficiência sobre o<br />

conhecimento da dieta <strong>de</strong> rapineiros, a respectiva nota relata<br />

dois eventos <strong>de</strong> predação efetuados por aves <strong>de</strong> rapina no Parque<br />

Estadual do Cantão, área <strong>de</strong> influência da Ilha do Bananal,<br />

extremo oeste do Estado do Tocantins. Os <strong>de</strong>talhes <strong>de</strong>stes<br />

eventos são apresentados abaixo:<br />

Gavião-<strong>de</strong>-penacho, Spizaetus ornatus (Daudin, 1800) – Este<br />

falconí<strong>de</strong>o apresenta distribuição por toda América Latina,<br />

ocorre em florestas com gran<strong>de</strong>s áreas contínuas. Em alguns<br />

estados, <strong>de</strong>vido ao intenso <strong>de</strong>smatamento, a espécie é ameaçada<br />

<strong>de</strong> extinção (Machado et al. 1998, São Paulo 1998, Bergallo<br />

et al. 2000, Mikich e Bérnils 2004, Espírito Santo 2005).<br />

No Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, era dada como provavelmente extinta<br />

(Bencke et al. 2003), porém foi registrada recentemente (Mendonça-Lima<br />

et al. 2006).<br />

Lyon e Kuhnigk (1985) e Klein et al. (1988), em estudos<br />

<strong>de</strong> comportamento reprodutivos <strong>de</strong> S. ornatus na Guatemala<br />

constataram a predação <strong>de</strong> aves como tinamí<strong>de</strong>os (Tinamus sp.<br />

e Crypturellus sp.), aracuãs (Ortalis sp.), jacus (Penelope sp.),<br />

pombas (Leptotila sp.) e araras (Ara macao). Sigrist (2006)<br />

relatou ainda o ataque ao aracuã Ortallis guttata, em São<br />

Paulo. Na região da Chapada dos Guimarães, Mato Grosso,<br />

foi observada uma tentativa <strong>de</strong> predação ao araçari-castanho<br />

Pteroglossus castonotis, (Leonardo Lopes, com. pessoal).<br />

O galo-da-serra, Rupicola rupicola, também foi atacado por<br />

S. ornatus, em florestas no Suriname, porém sem êxito (Trail<br />

1987).<br />

A predação <strong>de</strong> mamíferos também é freqüente. Brown<br />

e Amadon (1968) relataram o abate <strong>de</strong> jupará Potus flavus,<br />

enquanto, Lyon e Kuhnigk (1985) verificaram nas florestas<br />

da Guatemala que, <strong>de</strong>ntre as 49 presas abatidas, 24,5% eram<br />

cutias (Dasyprocta sp.). Existem ainda os registros <strong>de</strong> predação<br />

do macaco <strong>de</strong> cheiro, Saimiri sciureus e do tamarim, Sanguinius<br />

fuscicollis, na região da Amazônia Peruana, (Robinson<br />

1994), e do mico-estrela, Callitrix penicillata, em áreas <strong>de</strong> cerrado<br />

(Greco et al. 2004). Todos os estudos anteriormente listados<br />

indicam que S. ornatus, possui uma marcada preferência<br />

por presas gran<strong>de</strong>s, embora existam registros, como relatado,<br />

<strong>de</strong> animais <strong>de</strong> pequeno porte.<br />

No dia 06 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2005, às 10:30, à margem direita<br />

do rio Javaés, nos limites do Parque Estadual do Cantão e da<br />

Ilha do Bananal (09°57’46”S, 050°06’03”W) foi observado


602 Túlio Dornas e Renato Torres Pinheiro<br />

um indivíduo imaturo <strong>de</strong> Spizaetus ornatus atacando um<br />

bando <strong>de</strong> jacu-cigana Opisthocomus hoazin. Inicialmente foi<br />

visualizado um bando <strong>de</strong> aproximadamente 20 indivíduos <strong>de</strong><br />

O. hoatzin, que estavam inquietos, vocalizando insistentemente,<br />

avisando/anunciando sobre a presença do gavião. Este<br />

comportamento também foi verificado para bandos <strong>de</strong> jacus,<br />

Penelope purpuracenses, diante da presença <strong>de</strong> S. ornatus na<br />

Guatemala (Kilhan 1978).<br />

Repentinamente, o imaturo <strong>de</strong> S. ornatus, empoleirado nos<br />

galhos dos arbustos <strong>de</strong> sarã (Sapium haematospermum), vegetação<br />

arbóreo-arbustiva <strong>de</strong>nsa, típica das margens dos rios da<br />

região, atacou um indivíduo <strong>de</strong> O. hoazin, levando-o ao chão,<br />

on<strong>de</strong> <strong>de</strong>sferiu algumas bicadas contra a presa. Ao perceber<br />

nossa presença, o jovem indivíduo <strong>de</strong> S. ornatus abandonou<br />

sua presa ainda viva, a qual ferida e <strong>de</strong>bilitada se afugentou<br />

rapidamente em meio ao saranzal, on<strong>de</strong> é comum o agrupamento<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s bandos <strong>de</strong> O. hoazin.<br />

Este comportamento <strong>de</strong> caça foi <strong>de</strong>scrito como um dos mais<br />

comuns para S. ornatus (Robinson 1994). Esta mesma estratégia<br />

<strong>de</strong> ataque também foi presenciada nas florestas da Amazônia<br />

Equatoriana (Müllner 2004). J.P. O’Neill (in Robinson<br />

1994) também relatou um ataque mal sucedido a O. hoazin na<br />

Amazônia Peruana.<br />

Jacurutu, Bubo virginianus (Gmelin, 1788) – é a maior coruja<br />

do continente Americano com 52 cm <strong>de</strong> comprimento, este<br />

strigí<strong>de</strong>o ocorre do Canadá até a Argentina. Apresenta hábito<br />

crepuscular, preferindo matas secas, matas <strong>de</strong> galeria, campos<br />

e capões (Pantanal) geralmente próximo a ambientes aquáticos<br />

(Sick 1997, Sigrist 2006). Os estudos sobre alimentação <strong>de</strong><br />

Bubo virginianus têm sido freqüentes na América do Norte,<br />

mas pouco se conhece sobre a dieta <strong>de</strong>sta espécie para o continente<br />

Sul-Americano (Tomazzoni et al. 2004).<br />

No dia 18 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2006, por volta das 6:40 da manhã,<br />

foi visualizado no Parque Estadual do Cantão, em uma ilha<br />

fluvial do rio Araguaia (09°15’00”S, 049°59’47”W), um indivíduo<br />

<strong>de</strong> Bubo virginianus pousado sobre um arbusto <strong>de</strong> sarã<br />

(S. haematospermum). Em suas patas carregava um ar<strong>de</strong>í<strong>de</strong>o<br />

(Figura 1), o qual se encontrava <strong>de</strong>capitado. Esta mesma condição<br />

foi registrada em 65% das aves predadas por B. virginianus<br />

em estudo nos EUA (Olmested 1952).<br />

Apesar <strong>de</strong> mutilada, a plumagem branca, associada à coloração<br />

negra das pernas e patas, permitiu i<strong>de</strong>ntificar a presa<br />

como sendo Bubulcus ibis (garça-vaqueira). A ausência <strong>de</strong><br />

amarelo nas patas a isentava <strong>de</strong> uma errônea i<strong>de</strong>ntificação<br />

como garça-pequena-branca, Egretta thula. Além disso, neste<br />

mesmo local on<strong>de</strong> foi visualizada a coruja e sua presa, observou-se<br />

na antevéspera e véspera ao dia do registro que alguns<br />

indivíduos (aproximadamente 16 indivíduos) <strong>de</strong> Bubulcus ibis<br />

utilizavam a vegetação arbustiva <strong>de</strong> sarã como dormitório.<br />

Estudos mostram que Bubo virginianus apresenta uma<br />

dieta generalista, sendo aves e mamíferos os grupos mais<br />

predados (Burns 1952, Jacsik e Marti 1984, Marti e Kochert<br />

1996, Aragon et al. 2002, Tomazzoni et al. 2004). Em estudos<br />

no sul do Brasil verificou-se que 72% das presas capturadas<br />

correspondiam à aves e mamíferos (Tomazzoni et al. 2004),<br />

\<br />

Figura 1. Bubulcus ibis dilacerada junto às garras <strong>de</strong> Bubo virginianus sobre arbusto <strong>de</strong> sarã (Sapium haematospermum) no rio Araguaia.<br />

Figure 1. Bubulcus ibis clawed on the owl’s feet, was dilacerated and lacking its head on branches of sarã vegetation (Sapium haematospermum) in the Araguaia<br />

River.


Predação <strong>de</strong> Opisthocomus hoazin por Spizaetus ornatus e <strong>de</strong> Bubulcus ibis por Bubo virginianus em Tocantins, Brasil 603<br />

enquanto que estes dois grupos correspondiam a 92,8% das<br />

presas em estudos nos EUA (Marti e Kochert 1996).<br />

Os estudos <strong>de</strong> dieta alimentar <strong>de</strong> B. virginianus em áreas<br />

próximas a ambientes aquáticos têm mostrado uma predominância<br />

<strong>de</strong> aves na sua dieta. Olmested (1950) e Burns (1952)<br />

i<strong>de</strong>ntificaram 86% e 68% das presas, respectivamente, como<br />

aves. Por sua vez, <strong>de</strong>ntre essas aves predadas, consi<strong>de</strong>rável<br />

parcela era constituída por espécies tipicamente aquáticas. Por<br />

exemplo, a carqueja Fulica americana representou 43% (26<br />

indivíduos) do total <strong>de</strong> presas registradas em ninhos <strong>de</strong> Bubo<br />

virginianus nos EUA (Burns 1952).<br />

Por outro lado, estudos <strong>de</strong> ecologia alimentar <strong>de</strong> B. virginianus<br />

nos campos áridos do México, mostraram uma baixa<br />

predominância por aves como presas, apenas 0,6%, enquanto<br />

que os mamíferos, em sua maioria roedores, correspon<strong>de</strong>ram<br />

a 53,4% das presas (Aragon et al. 2002). Padrão semelhante<br />

foi encontrado em estudos nas regiões áridas <strong>de</strong> Idaho (EUA),<br />

com 3,2% das presas sendo aves e 89,2% mamíferos, com<br />

igual predominância <strong>de</strong> roedores (Marti e Kochert 1996).<br />

Embora apresentem diversificada dieta, essas diferentes<br />

taxas <strong>de</strong> predação entre ambientes aquáticos e semi-áridos<br />

indicam como a estrutura ambiental dos habitats po<strong>de</strong> influenciar<br />

na disponibilida<strong>de</strong> e abundância <strong>de</strong> presas, e consequentemente<br />

na constituição da dieta alimentar <strong>de</strong> Bubo virginianus.<br />

Por fim, a confirmação <strong>de</strong> Bubo virginianus como predador <strong>de</strong><br />

Bubulcus ibis, ar<strong>de</strong>í<strong>de</strong>o recém colonizador das Américas (Coelho<br />

et al. 2006); vem a somar mais uma espécie na sua vasta<br />

lista <strong>de</strong> presas, igualmente extensa para Spizaetus ornatus.<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

Agra<strong>de</strong>cemos a Leonardo Esteves Lopes pelas relevantes contribuições<br />

ao escopo <strong>de</strong>ste manuscrito e ao Sr. Joaquim Carneiro<br />

e Sr. Roberto “Marapiranga” por acompanhar e guiar-nos em<br />

campo. Somos gratos ao Instituo Natureza do Estado do Tocantins<br />

e ao Centro <strong>de</strong> Pesquisas Canguçu da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<br />

do Tocantins pelo valioso apoio logístico e ainda à Conservação<br />

Internacional do Brasil, pelo financiamento do projeto Conservação<br />

<strong>de</strong> Aves Migratórias no Brasil, que ofereceu grandiosa oportunida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> trabalhar na área dos respectivos registros.<br />

Referências Bibliográficas<br />

Aragon, E. E., B. Castillo e A. Garza (2002). Roedores en la<br />

dieta <strong>de</strong> dos aves rapaces nocturnas (Bubo virginianus<br />

y Tyto alba) en el noroeste <strong>de</strong> Durango, México. Acta<br />

Zoológica Mexicana 86:29‐50.<br />

Bencke, G. A., C. S. Fontana, R. A. Dias, G. N. Maurício e J.<br />

K. F. Mähler Jr. (2003) Aves, p. 189‐479. Em: C. S. Fontana,<br />

G. A. Bencke e R. E. Reis (eds.) Livro vermelho da<br />

fauna ameaçada <strong>de</strong> extinção no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. Porto<br />

Alegre: Edipucrs.<br />

Bergallo H.G., C.F.D. Rocha, M.A.S. Alves e M. Van Sluys<br />

(2000). A fauna ameaçada <strong>de</strong> extinção do Estado do Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ed. UERJ.<br />

Brown, L. e D. Amadon, (1968). Eagles, hawks and falcons of<br />

the world. McGraw-Hill Book Co., New York.<br />

Burns, B. J. (1952). Food of a family of Great Horned Owls,<br />

Bubo virginianus, in Florida. Auk, 69:86‐87.<br />

Coelho, A. S., J. E. C. Figueira, e T. Dornas (2006). Atrás do<br />

pão <strong>de</strong> cada dia. <strong>Revista</strong> Ciência Hoje 39:229 68‐70.<br />

Espírito Santo (2005) Decreto nº 1499‐R, <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong><br />

2005. Diário Oficial do Estado do Espírito Santo.<br />

Greco, M. V., M. A. Andra<strong>de</strong>, G. D. M. Carvalho, E. P. M.<br />

Carvalho-Filho e C. E. Carvalho (2004). Callithrix penicillata<br />

na dieta <strong>de</strong> Spizaetus ornatus (Aves: Accipitridae)<br />

em área <strong>de</strong> cerrado no estado <strong>de</strong> Minas Gerais. Em: S.<br />

L. Men<strong>de</strong>s, e A. G. Chiarello (eds.): A Primatologia no<br />

Brasil 8:155‐160.<br />

Jacsik F. M. e Marti C. D. (1984). Comparative foods habitats<br />

of Bubo owls in mediterranean-type ecosystems The<br />

Condor 86:288‐296.<br />

Kilhan L. (1978). Alarm call of Crested Guan when attacked<br />

by Ornate Hawk-Eagle. The Condor 80:347‐348.<br />

Klein B. C., L. H. Haper, R. O. Bierregaard e G. V. N. Powell<br />

(1988). The nesting and feeding behavior of the Ornate<br />

Hawk-Eagle near Manaus, Brazil. Condor 90:239‐241.<br />

Lyon B. e A. Kuhningk (1985). Observations on nesting<br />

Ornate Hawk-Eagles in Guatemala. Wilson Bulletin.<br />

97:141‐147.<br />

Machado A. B. M, G. A. B. Fonseca, R. B. Machado, L. M.<br />

S. Aguiar e L. V. Lins, (eds.), (1998). Livro vermelho<br />

das espécies ameaçadas <strong>de</strong> extinção da fauna <strong>de</strong> Minas<br />

Gerais. Belo Horizonte, Fundação Biodiversitas, 605p.<br />

Marti, C. D. e M. N. Kochert (1996). Diet and trophic characteristics<br />

of Great Horned Owls in Southwester Idaho.<br />

Journal Field Ornithology, 67(4):499‐506<br />

Mendonça-Lima A., F. Zílio, C. M. Joenck e A. Barcellos<br />

(2006). Novos registros <strong>de</strong> Spizaetus ornatus (Accipitridae)<br />

no sul do Brasil. <strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong><br />

14:279‐282.<br />

Mikich S. B. e R. S. Bérnils (2004) Livro vermelho da fauna<br />

ameaçada no Estado do Paraná. Curitiba: Instituto<br />

Ambiental do Paraná.


604 Túlio Dornas e Renato Torres Pinheiro<br />

Müllner A., (2004). Breeding Ecology and related life-history<br />

traits of the Hoazin, Opisthocomus hoazin, in a primary<br />

rainforest habitat. Tese <strong>de</strong> Doutorado, Universität Würzburg,<br />

Germany.<br />

Olmested, R. O. (1950). Feeding habitats of Great Horned<br />

Owls, Bubo virginianus. Auk, 67:515‐516.<br />

Robinson, S. K. (1994). Habitat selection and foraging<br />

ecology of raptors in Amazonian Peru. Biotropica<br />

26(4):443‐458.<br />

São Paulo (1998). Fauna ameaçada do estado <strong>de</strong> São Paulo,<br />

São Paulo: SMA/CED.<br />

Sick, H. (1997). <strong>Ornitologia</strong> <strong>Brasileira</strong>, Rio <strong>de</strong> Janeiro. Editora<br />

Nova Fronteira, 952pp<br />

Sigrist, T. (2006). Aves do Brasil, uma visão artística. São<br />

Paulo: Fosfértil 672 p<br />

Tomazzoni, A. C., E. Pedó e S. M. Hartz (2004). Food habitats<br />

of Great Horned Owls (Bubo virginanus) in the breeding<br />

season in Lami Biological Reserve Southern Brazil.<br />

<strong>Ornitologia</strong> Neotropical 15:279‐282.<br />

Trail P. W. (1987). Predation and antipredator behavior at<br />

Guyanan Cock-of-the-Rock leks. Auk 104(33):496‐507.<br />

Sick, H (1986). <strong>Ornitologia</strong> brasileira, uma introdução. Brasília,<br />

Editora Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília, 2 ed., 2 vol.


NOTA<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> 15(4):605-608<br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007<br />

Registros <strong>de</strong> Caprimulgiformes e a primeira ocorrência <strong>de</strong><br />

Caprimulgus sericocaudatus (bacurau-rabo-<strong>de</strong>-seda) no Estado<br />

<strong>de</strong> Santa Catarina, Brasil<br />

Adrian Eisen Rupp 1,4 , Cláudia Sabrine Brandt 2 , Daniela Fink 1 , Gregory Thom e Silva 1 , Rudi Ricardo Laps 3 e<br />

Carlos Eduardo Zimmermann 1<br />

1. Laboratório <strong>de</strong> Ecologia e <strong>Ornitologia</strong>, Instituto <strong>de</strong> Pesquisas Ambientais, Universida<strong>de</strong> Regional <strong>de</strong> Blumenau. Rua<br />

Antônio da Veiga, 140, Bairro Victor Kon<strong>de</strong>r, 89012-900, Blumenau, SC, Brasil.<br />

2. Programa <strong>de</strong> Pós-graduação em Ecologia, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. E-mail: claubrandt@gmail.com<br />

3. Laboratório <strong>de</strong> Biologia Animal, Departamento <strong>de</strong> Ciências Naturais, Universida<strong>de</strong> Regional <strong>de</strong> Blumenau. Rua Antônio da<br />

Veiga, 140, Bairro Victor Kon<strong>de</strong>r, 89012-900, Blumenau, SC, Brasil. E-mail: rudilaps@uol.com.br<br />

4. Autor para correspondência. E-mail: eisenrupp@yahoo.com.br<br />

Recebido em 15 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2007; aceito em 29 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007.<br />

Abstract: Records of Caprimulgiforms and the first occurrence of Caprimulgus sericocaudatus (Silky-tailed Nightjar) in Santa Catarina State,<br />

Brazil. Caprimulgiforms are nocturnal and inconspicuous birds, habits that make difficult the record of these birds during faunal inventories. In Santa<br />

Catarina State 12 species of Caprimulgiforms are known, and many of these are consi<strong>de</strong>red rare. We presented new records of the Nyctibius griseus,<br />

Podager nacunda, Caprimulgus longirostris, Caprimulgus parvulus, Macropsalis forcipata, and Eleothreptus anomalus, moreover the first records of<br />

Caprimulgus sericocaudatus in Santa Catarina State.<br />

Palavras-chave: Caprimulgiformes, Caprimulgus sericocaudatus, bacurau-rabo-<strong>de</strong>-seda, Santa Catarina, Brasil.<br />

Key-words: Caprimulgiforms, Caprimulgus sericocaudatus, Silky-tailed Nightjar, Santa Catarina, Brazil.<br />

Nos últimos anos Santa Catarina tem recebido um incremento<br />

consi<strong>de</strong>rável no conhecimento ornitológico. No entanto, as<br />

aves noturnas (Strigiformes e Caprimulgiformes) são subamostradas<br />

na gran<strong>de</strong> maioria dos estudos, dificultando ações<br />

<strong>de</strong> conservação e estudos sobre a sua biologia. De acordo com<br />

Rosário (1996), o Estado possui 12 espécies <strong>de</strong> Caprimulgiformes,<br />

sendo algumas mencionadas como raras localmente.<br />

Durante estudos realizados no Vale do Itajaí foram obtidos<br />

registros recentes <strong>de</strong> sete espécies, sendo uma inédita no<br />

Estado <strong>de</strong> Santa Catarina. Gravações das vozes foram in<strong>de</strong>xadas<br />

no arquivo sonoro digital xeno-canto (www.xeno-canto.<br />

org) e os sonogramas foram gerados no Syrinx versão 2.6f<br />

(Burt 2006) (Figura 1).<br />

Nyctibius griseus (mãe-da-lua): No dia 10 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2005<br />

um indivíduo foi fotografado na Reserva Biológica (REBIO)<br />

Estadual do Sassafrás (26°42’42”S e 49°40’32”W, 1000 m.<br />

s.n.m.) por A.E.R, sendo posteriormente realizado um registro<br />

auditivo no dia 24 do mesmo mês, ambos em floresta secundária<br />

com cerca <strong>de</strong> 25 anos <strong>de</strong> regeneração. Este é um dos primeiros<br />

registros da espécie no Vale-do-Itajaí, que não foi registrada<br />

nos estudos envolvendo a avifauna da região (Zimmermann<br />

1992, 1993, 1995, 1999, Marterer 1996). Rosário (1996)<br />

apresenta seis registros no Estado, sendo apenas três recentes,<br />

um em Blumenau em 1992 e dois em Florianópolis em 1980<br />

e 1983. Naka et al. (2001) apresentam ainda registros recentes<br />

em Florianópolis e Itapoá, no litoral norte. É possível que esta<br />

espécie esteja sendo sub-amostrada em Santa Catarina.<br />

Podager nacunda (corucão): A espécie foi registrada regularmente<br />

durante o mês <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2006 por D.F. em uma<br />

área resi<strong>de</strong>ncial na região central do município <strong>de</strong> Blumenau<br />

(26°54’45”S e 49°04’26”W, 28 m s.n.m.) tendo a sua vocalização<br />

gravada em uma das ocasiões, quando um indivíduo<br />

pousou sobre o telhado <strong>de</strong> uma residência (Figura 1). O hábito<br />

<strong>de</strong> pousar em telhados caracteriza o comportamento do bacurau-da-telha<br />

Caprimulgus longirostris, conforme observado<br />

por Sick (1997) na cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Contudo, a ocorrência<br />

<strong>de</strong> Podager nacunda em cida<strong>de</strong>s não é inesperada, visto<br />

que este tem o hábito <strong>de</strong> caçar insetos atraídos pela iluminação<br />

artificial (Belton 1994, Sick 1997), além <strong>de</strong> utilizar gramados e<br />

campos antropizados (Ingels et al. 1999). No dia 22 <strong>de</strong> janeiro<br />

<strong>de</strong> 2007, quatro indivíduos foram avistados em área <strong>de</strong> campo,<br />

sendo dois fotografados por G.T.S na fazenda Campo Gran<strong>de</strong><br />

em Itaiópolis (26°39’57”S e 49°42’29”W, 850 m s.n.m.).<br />

Rosário (1996) menciona duas ocorrências em Santa Catarina,<br />

uma histórica no município <strong>de</strong> Corupá (sem data) e outra em<br />

São Joaquim em 1990. Naka e Rodrigues (2000) e Naka et al.<br />

(2000) mencionam a ocorrência da espécie em Florianópolis, e<br />

Amorim e Piacentini (2006) relatam a sua ocorrência em Imbituba,<br />

no litoral sul do Estado.<br />

Caprimulgus sericocaudatus (bacurau-rabo-<strong>de</strong>-seda): No dia<br />

17 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2005, durante inventário <strong>de</strong> aves noturnas realizado<br />

por A.E.R. e D.F. na Reserva Particular do Patrimônio<br />

Natural (RPPN) Bugerkopf (27°00’12”S e 49°04’11”W, 200 m<br />

s.n.m), pelo menos dois indivíduos foram ouvidos vocalizando


606 Adrian Eisen Rupp, Cláudia Sabrine Brandt, Daniela Fink, Gregory Thom e Silva, Rudi Ricardo Laps e Carlos Eduardo Zimmermann<br />

em meio à floresta próximo a um curso <strong>de</strong> água, respon<strong>de</strong>ndo<br />

quando sua vocalização era imitada por meio <strong>de</strong> assobios.<br />

Nos dias 27 e 28 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2005, a espécie foi registrada<br />

por C.S.B em uma área <strong>de</strong> Floresta Ombrófila Densa Submontana<br />

no município <strong>de</strong> Gaspar, próxima ao Parque Nacional<br />

da Serra do Itajaí entre as coor<strong>de</strong>nadas 27°00’-27°01’S e<br />

48°57’-48°59’W. A ave encontrava-se empoleirada em uma<br />

embaúba (Cecropia glaziovi) e teve a sua vocalização gravada<br />

(Figura 1). No ano <strong>de</strong> 2006, foram obtidos novos registros por<br />

A.E.R. e G.T.S. na RPPN Bugerkopf nos dias 23 <strong>de</strong> agosto<br />

e 03 <strong>de</strong> outubro, documentados através <strong>de</strong> gravações. Além<br />

<strong>de</strong>stes, foram obtidos três registros no Parque Nacional Serra<br />

do Itajaí, um na Fazenda Agrião, no município <strong>de</strong> Presi<strong>de</strong>nte<br />

Nereu (27°10’27”S e 49°12’56”W, 470 m. s.n.m.) no dia 12<br />

<strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2007, outro no município <strong>de</strong> Indaial, na Fazenda<br />

Santa Rita (27°07’09”S e 49°10’25”W, 700 m. s.n.m.) no dia<br />

10 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2007, e outro no Ribeirão Jundiá, município<br />

<strong>de</strong> Apiúna (27°07’16”S e 49°15”21”W, 640 m. s.n.m.) entre<br />

os dias nove e 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2007, on<strong>de</strong> foi obtido um espécime<br />

que está <strong>de</strong>positado na coleção da Universida<strong>de</strong> Regional<br />

<strong>de</strong> Blumenau sob a i<strong>de</strong>ntificação FURB 13232. Segundo Sick<br />

(1997) a espécie é encontrada na Amazônia brasileira e nos<br />

estados do Rio Gran<strong>de</strong> do sul, Paraná e São Paulo, ocorrendo<br />

ainda no Peru, Bolívia, Paraguai e Argentina. Os registros<br />

apresentados aqui são os primeiros no Estado <strong>de</strong> Santa Catarina.<br />

É importante ressaltar que estes são os primeiros registros<br />

na Floresta Ombrófila Densa do sul do Brasil e, com o<br />

registro do Parque Estadual Intervales (Vielliard e Silva 2001),<br />

os únicos <strong>de</strong>sta fitofisionomia. Os registros do Rio Gran<strong>de</strong> do<br />

Sul (Bencke et al. 2003) e Paraná (Straube et al. 2004) foram<br />

todos em Floresta Estacional do interior do continente, apesar<br />

<strong>de</strong> intensos levantamentos na Floresta Ombrófila Densa <strong>de</strong>stes<br />

estados (Straube 2003, Straube e Urben-Filho 2005, Carrano<br />

2006). A espécie está ameaçada <strong>de</strong> extinção na categoria vulnerável<br />

no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul (Bencke et al. 2003), em perigo<br />

no Paraná (Straube et al. 2004) e em perigo em São Paulo (São<br />

Paulo 1998), sendo consi<strong>de</strong>rada <strong>de</strong>ficiente em dados (DD) por<br />

Machado et al. (2005).<br />

Caprimulgus longirostris (bacurau-da-telha): No dia 26 <strong>de</strong><br />

agosto <strong>de</strong> 2007, um indivíduo foi gravado (Figura 1) por<br />

A.E.R. no município <strong>de</strong> Doutor Pedrinho na localida<strong>de</strong> Forcação<br />

(26°44’34”S e 49°33’18”W, 575 m s.n.m.). A ave estava<br />

pousada em um barranco na beira da estrada (rodovia SC‐477),<br />

numa área <strong>de</strong> retirada <strong>de</strong> terra utilizada na manutenção da rodovia.<br />

No dia 11 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2007 um espécime foi encontrado<br />

na área urbana do município <strong>de</strong> Blumenau, estando <strong>de</strong>positado<br />

na coleção científica da Universida<strong>de</strong> Regional <strong>de</strong> Blumenau<br />

sob a i<strong>de</strong>ntificação FURB 13231. Estes são os primeiros registros<br />

documentados no Estado, sendo que existem dois registros<br />

anteriores sem evidência documental, um em Florianópolis no<br />

ano <strong>de</strong> 1993, e outro no Campo dos Padres no município <strong>de</strong><br />

Bom Retiro em 1979 (Straube 1990, Rosário 1996).<br />

Caprimulgus parvulus (bacurau-chintã): Rosário (1996) não<br />

menciona nenhum registro <strong>de</strong>sta espécie em Santa Catarina.<br />

No dia 26 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2002 um espécime foi encontrado<br />

morto na beira da estrada (rodovia BR 480) por L. Dallacorte,<br />

no município <strong>de</strong> São Domingos, estando hoje <strong>de</strong>positado na<br />

coleção científica da Universida<strong>de</strong> Regional <strong>de</strong> Blumenau,<br />

sob a i<strong>de</strong>ntificação FURB 1793. A existência <strong>de</strong>ste espécime<br />

é relatada por Laps et al. (2004). Este é o primeiro registro<br />

documentado da espécie no Estado.<br />

Figura 1. Sonogramas (gerados no Syrinx 2.6f) das vozes <strong>de</strong> Podager<br />

nacunda (A), Caprimulgus sericocaudatus (B) e Caprimulgus longirostris (C)<br />

gravadas no Estado <strong>de</strong> Santa Catarina, Brasil.<br />

Figure 1. Sonograms (generated in the Syrinx 2.6f) of Nacunda Nighthawk<br />

Podager nacunda (A), Silky-tailed Nightjar Caprimulgus sericocaudatus (B)<br />

and Band-winged Nightjar Caprimulgus longirostris (C) recor<strong>de</strong>d at Santa<br />

Catarina State, Brazil.<br />

Macropsalis forcipata (bacurau-tesoura-gigante): No final<br />

do mês <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2005, uma fêmea foi encontrada<br />

enquanto incubava dois ovos na REBIO Estadual do Sassafrás<br />

(26°42’19”S e 49°40’53”W, 917 m s.n.m.) por F. R. T. (com.<br />

pess., 2005). A área utilizada para a nidificação é caracterizada<br />

pela abundância <strong>de</strong> samambaias (Pteridium sp.) e vassouras<br />

(Bacharis sp.), semelhante ao apresentado por Pichorim<br />

(2002) em estudo sobre a biologia <strong>de</strong> M. forcipata no Paraná.<br />

A espécie foi registrada novamente por A.E.R e G.T.S. em<br />

abril, julho e novembro <strong>de</strong> 2006 em uma estrada localizada<br />

na borda da reserva. Em um único dia, em um trecho <strong>de</strong> aproximadamente<br />

15 km, foram encontrados 13 indivíduos. Em<br />

Santa Catarina são conhecidos apenas dois registros <strong>de</strong>sta<br />

espécie endêmica <strong>de</strong> Floresta Atlântica, ambos anteriores a<br />

1970 (Rosário 1996).


Registros <strong>de</strong> Caprimulgiformes e a primeira ocorrência <strong>de</strong> Caprimulgus sericocaudatus<br />

(bacurau-rabo-<strong>de</strong>-seda) no Estado <strong>de</strong> Santa Catarina, Brasil<br />

607<br />

Eleothreptus anomalus (curiango-do-banhado): Na manhã do<br />

dia 16 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2007, A.E.R. e G.T.S. registraram a<br />

espécie em campo úmido na Fazenda Campo Gran<strong>de</strong>, no município<br />

<strong>de</strong> Itaiópolis (26°39’13”S e 49°42’10”W, 908 m s.n.m.).<br />

A ave foi fotografada na borda <strong>de</strong> um banhado, e alçou vôo<br />

com a aproximação dos observadores. Durante o vôo foi possível<br />

perceber o formato característico das asas (Sick 1997).<br />

Na ocasião, a ave em questão foi predada por um Falco femoralis,<br />

que surpreen<strong>de</strong>u a ave levando-a para o interior <strong>de</strong> um<br />

“capão” <strong>de</strong> Floresta Ombrófila Mista. E. anomalus é consi<strong>de</strong>rado<br />

quase-ameaçado em nível global (BirdLife International<br />

2007), e no Brasil ocorre nos Estados <strong>de</strong> Goiás, Minas Gerais,<br />

São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, com<br />

registros na Argentina e Paraguai (Sick 1997), figurando na<br />

lista <strong>de</strong> espécies ameaçadas <strong>de</strong> São Paulo, Rio Gran<strong>de</strong> do Sul,<br />

Paraná, e Minas Gerais (São Paulo 1998, Bencke et al. 2003,<br />

Straube 2004, Biodiversitas 2007). Segundo Straube et al.<br />

(2004), os perigos que acometem esta espécie no Paraná estão<br />

relacionados à <strong>de</strong>scaracterização dos campos naturais, especialmente<br />

os campos úmidos, sendo utilizados para a agropecuária<br />

e monocultura <strong>de</strong> arbóreas exóticas. Em Santa Catarina<br />

as ameaças são equivalentes, sendo que uma das práticas mais<br />

comuns são as queimadas dos campos naturais e a drenagem<br />

ou alagamento das áreas úmidas (obs. Pess.). Rosário (1996)<br />

não apresenta registros <strong>de</strong>sta espécie em Santa Catarina, contudo,<br />

existem registros em Sombrio no litoral sul do Estado<br />

(Bornschein et al. 1994) e na região dos campos <strong>de</strong> Água Doce<br />

e Palmas, na divisa entre os Estados <strong>de</strong> Santa Catarina e Paraná<br />

(Bencke et al. 2006). Os registros apresentados por Kirwan<br />

et al. (1999) baseados em exemplares do Museu Nacional do<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro (MNRJ) não são fi<strong>de</strong>dignos aos locais <strong>de</strong> coleta<br />

dos espécimes, visto que o registro <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1991<br />

atribuído a Quatro Barras, Santa Catarina, na verda<strong>de</strong> referese<br />

ao espécime MNRJ 38678, coletado na localida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Canguiri,<br />

Rio Irai, no município <strong>de</strong> Quatro Barras no Paraná. O<br />

registro <strong>de</strong> três <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1991 da localida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Rio Novo,<br />

Santa Catarina, é atribuído ao planalto norte do Estado. No<br />

entanto, o espécime MNRJ 37515 foi coletado na localida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Rio Novo, vizinha a Lagoa do Sombrio, no município <strong>de</strong><br />

Sombrio, no litoral sul. Bornschein et al. (1994) e Bornschein<br />

et al. (1998) apresentam registros congruentes em data e localida<strong>de</strong><br />

dos espécimes do MNRJ, porém não mencionam a existência<br />

<strong>de</strong> exemplares. Desta forma, Santa Catarina passa a ter<br />

três registros confirmados da espécie, incluindo o apresentado<br />

neste trabalho.<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

Agra<strong>de</strong>cemos pelas bolsas <strong>de</strong> pesquisa dos programas Pipe<br />

Art. 170 e Pibic/Furb. Carlos Alberto Borchardt Júnior, Cíntia<br />

Gizele Gruener, Luís Dallacorte, Fabiana Dallacorte, Sérgio<br />

Luiz Althoff, Fernando Rodrigo Tortato, Giovanni Nachtigall<br />

Maurício, Iury Almeida Accordi, Marcelo Ferreira Vasconcelos<br />

e Vítor <strong>de</strong> Queiroz Piacentini colaboraram com informações<br />

e comentários. Também agra<strong>de</strong>cemos a Associação Catarinense<br />

<strong>de</strong> Preservação da Natureza, IBAMA e MMA pelo<br />

apoio e logística fornecidos durante os trabalhos no Parque<br />

Nacional da Serra do Itajaí, ao Sr. Jairo Claudino dos Santos,<br />

da FATMA, e a empresa Modo Battistella S.A. por apoiar as<br />

pesquisas na REBIO Estadual do Sassafrás. Aos Srs. Lauro<br />

Eduardo Bacca (RPPN Bugerkopf) e Juvino Eiss (Fazenda<br />

Campo Gran<strong>de</strong>) por permitirem acesso a suas proprieda<strong>de</strong>s.<br />

Referências<br />

Amorim, J. F. e V. Q. Piacentini (2006) Novos registros <strong>de</strong><br />

aves raras em Santa Catarina, sul do Brasil, incluindo os<br />

primeiros registros documentados <strong>de</strong> algumas espécies<br />

para o Estado. Rev. Bras. Ornitol. 14(2):145‐149.<br />

Bencke, G. A., C. S. Fontana, R. A. Dias, G. N. Maurício e J.<br />

K. F. Mähler Jr. (2003) Aves, p. 189‐479. Em: C. S Fontana,<br />

G. A. Bencke e R. E. Reis (Orgs.) Livro vermelho<br />

da fauna ameaçada <strong>de</strong> extinção no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul.<br />

Porto Alegre: EDIPUCRS.<br />

Bencke, G. A., G. N. Mauricio, P. F. Develey, J. M. Goerck<br />

(2006) Áreas Importantes para a Conservação das Aves<br />

do Brasil. Parte I – Estados do Domínio da Mata Atlântica.<br />

São Paulo: BirdLife International e SAVE Brasil.<br />

Biodiversitas (2007) Revisão das Listas Vermelhas da Flora e<br />

da Fauna Ameaçadas <strong>de</strong> Extinção <strong>de</strong> Minas Gerais. Relatório<br />

Final. Vol. 1. Belo Horizonte: Fundação Biodiversitas.<br />

http://www.biodiversitas.org.br/listas-mg/RelatorioListasmg_Vol1.pdf<br />

(acesso em 25/09/2007).<br />

BirdLife International (2007) Species factsheet: Eleothreptus<br />

anomalus. http://www.birdlife.org (acesso em 27/9/2007).<br />

Bornschein, M. R., M. Pichorim e B. L. Reinert (1994) Novos<br />

registros <strong>de</strong> algumas aves incomuns no sul do Brasil,<br />

p. 114. Em: Resumos do XX Congresso Brasileiro <strong>de</strong><br />

Zoologia. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro.<br />

Bornschein, M. R., B. L. Reinert e M. Pichorim (1998) Descrição,<br />

ecologia e conservação <strong>de</strong> um novo Scytalopus<br />

(Rhynocriptidae) do sul do Brasil, com comentários<br />

sobre a morfologia da família. Ararajuba 6(1):3‐36.<br />

Burt, J. (2006) Programa Syrinx versão 2.6f. http://www.<br />

syrinxpc.com (acesso em 14/08/2007).<br />

Carrano, E. (2006) Composição e conservação da avifauna na<br />

Floresta Estadual do Palmito, município <strong>de</strong> Paranaguá,<br />

Paraná. Dissertação <strong>de</strong> Mestrado. Curitiba: Universida<strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral do Paraná.


608 Adrian Eisen Rupp, Cláudia Sabrine Brandt, Daniela Fink, Gregory Thom e Silva, Rudi Ricardo Laps e Carlos Eduardo Zimmermann<br />

Ingels, J., Y. Oniki e E. O. Willis (1999) Opportunistic adaptations<br />

to man-induced habitat changes by some South American<br />

Caprimulgidae. Rev. Brasil. Biol., 59(4):563‐566.<br />

Kirwan, G., P. Martuscelli, L. F. Silveira e R. S. R. Williams<br />

(1998) Recent records of the Sickle-winged Nightjar Eleothreptus<br />

anomalus in south-east Brazil. Bull. B. O. C.<br />

119(3):202‐206.<br />

Laps, R. R., C. A. Borchardt-Junior, E. W. Alves, S. L. Althoff<br />

e M. A. G. Azevedo (2004) Registros <strong>de</strong> aves raras ou<br />

pouco conhecidas no Estado <strong>de</strong> Santa Catarina a partir <strong>de</strong><br />

coleções, p. 258. Em: Resumos do XII Congresso Brasileiro<br />

<strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>. Blumenau: Universida<strong>de</strong> Regional<br />

<strong>de</strong> Blumenau.<br />

Machado, A. B. M., C. S. Martins, e G. M. Drummond (Orgs)<br />

(2005) Lista da fauna brasileira ameaçada <strong>de</strong> extinção:<br />

Incluindo as listas das espécies quase ameaçadas<br />

e <strong>de</strong>ficientes em dados. Belo Horizonte: Fundação<br />

Biodiversitas.<br />

Marterer, B. T. P. (1996) Avifauna do Parque Botânico do<br />

Morro do Baú. Riqueza, aspectos <strong>de</strong> freqüência e abundância.<br />

Florianópolis: FATMA.<br />

Naka, L. N. e M. Rodrigues (2000) As Aves da Ilha <strong>de</strong> Santa<br />

Catarina. Florianópolis: Editora da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<br />

<strong>de</strong> Santa Catarina.<br />

Naka, L. N., J. M. Barnet, G. M. Kirwan, J. A. Tobias e D.<br />

Buzzetti (2001) Records of birds species previously<br />

consi<strong>de</strong>red uncommon in Santa Catarina State, Brazil.<br />

Cotinga 16:68‐70.<br />

Naka, L. N., J. Mazar Barnet, G. M. Kirwan, J. A. Tobias e M.<br />

Azevedo (2000) New and noteworthy birds records from<br />

Santa Catarina State, Brazil. Bull. B.O.C. 120:237‐250.<br />

Pichorim, M. (2002) Biologia reprodutiva do bacurau-tesouragigante<br />

(Macropsalis forcipata, Caprimulgidae) no<br />

morro Anhangava, Paraná, Sul do Brasil. Ararajuba<br />

10(2):149‐145.<br />

Rosário, L. A. (1996) As aves <strong>de</strong> Santa Catarina: distribuição<br />

geográfica e meio ambiente. Florianópolis: FATMA.<br />

São Paulo (1998) Fauna ameaçada no estado <strong>de</strong> São Paulo.<br />

Documentos Ambientais – Série Probio/SP. São Paulo:<br />

Secretaria <strong>de</strong> Meio Ambiente.<br />

Sick, H. (1997) <strong>Ornitologia</strong> <strong>Brasileira</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ed.<br />

Nova Fronteira.<br />

Straube, F. C. (1990) Notas sobre a distribuição <strong>de</strong> Eleothreptus<br />

anomalus e Caprimulgus longirostris longirostris no<br />

Brasil (Aves, Caprimulgidae). Acta Biol. Leopol<strong>de</strong>nsia<br />

12(2):301‐312.<br />

Straube, F. C. (2003) Avifauna da Área Especial <strong>de</strong> Interesse<br />

Turístico do Marumbi (Paraná). Atualida<strong>de</strong>s Ornitológicas<br />

113:12.<br />

Straube, F. C. e A. Urben-Filho (2005) Avifauna da Reserva<br />

Natural Salto Morato (Guaraqueçaba, Paraná). Atualida<strong>de</strong>s<br />

Ornitológicas 124:12.<br />

Straube, F. C., A. Urben-Filho e D. Kajiwara (2004) Aves,<br />

p. 143‐496. Em: S. B. Mikich e R. S. Bérnils (Orgs.) Livro<br />

vermelho da fauna Ameaçada <strong>de</strong> Extinção no Estado do<br />

Paraná. Curitiba: Instituto Ambiental do Paraná.<br />

Vielliard, J. M. E. e W. R. Silva (2001) Avifauna, p. 125-146.<br />

Em: C. Leonel (Ed.) Intervales. São Paulo: Fundação<br />

para a Conservação e a Produção Florestal do Estado <strong>de</strong><br />

São Paulo.<br />

Zimmermann, C. E. (1992) Uma contribuição à ornitologia<br />

catarinense – levantamento preliminar da ornitofauna do<br />

Parque Ecológico Artex. Dynamis 1(1):69‐80.<br />

Zimmermann, C. E. (1993) Nota sobre a avifauna do Parque<br />

Ecológico Spitzkopf – Blumenau/SC. Dynamis<br />

1(3):7‐13.<br />

Zimmermann, C. E. (1995) Novas informações sobre a avifauna<br />

do Parque Ecológico Artex. Biotemas 8(1):7‐20.<br />

Zimmermann, C. E. (1999) Avifauna <strong>de</strong> um fragmento <strong>de</strong> Floresta<br />

Atlântica em Blumenau, Santa Catarina. Rev. Est.<br />

Amb.1(3):101‐112.


NOTA<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> 15(3):609-610<br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007<br />

Variação <strong>de</strong> cores da plumagem em indivíduos <strong>de</strong><br />

Nemosia rourei com indicação <strong>de</strong> juvenis<br />

Ana Cristina Venturini e Pedro Rogerio <strong>de</strong> Paz<br />

Faunativa Consultoria e Comércio Ltda. Rua Francisco Corteletti, 333, 1º andar, Nova América, 29111‐070, Vila Velha, ES,<br />

Brasil. E‐mail: faunativa@faunativa.com.br<br />

Recebido em 01 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2007; aceito em 17 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2007.<br />

Abstract: Diversification of the colors in Nemosia rourei plumage with indication of young birds. According to field observations done with<br />

Cherry-throated Tanager (Nemosia rourei) in the mountains of the South of Espírito Santo State, Southeast Brazil, since its rediscovery in 1998 some<br />

evi<strong>de</strong>nces have indicated a different coloration between adult and young birds. First the breast is white with some black vertical streaks changing into<br />

red to form a small concavous line above. Then, the whole venter becomes light orange (without lines) and finally becomes red in triangular form from<br />

the throat until the breast. The crown first appears all black and after becomes whitish gray. The natural rarity of this species can explain the difficulty<br />

in finding these presumable young birds more times in the field and to being sure about the right sequence of colors until the typical known plumage<br />

of adult birds.<br />

Key-words: Nemosia rourei, Cherry-throated Tanager, young birds, Espírito Santo State.<br />

Palavras-chave: Nemosia rourei, saíra-apunhalada, jovens, Espírito Santo.<br />

Des<strong>de</strong> a re<strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> Nemosia rourei em Pindobas IV, sul<br />

do Espírito Santo, em fevereiro <strong>de</strong> 1998, temos acompanhadoa<br />

em várias excursões <strong>de</strong> campo em busca <strong>de</strong> novas informações.<br />

Assim, foi possível observar alguns padrões <strong>de</strong> coloração<br />

diferentes daquele conhecido para a espécie.<br />

Vamos consi<strong>de</strong>rar como padrão <strong>de</strong> coloração adulto aquele<br />

típico (Figura 1) conhecido para a espécie (<strong>de</strong>scrito por Cabanis<br />

e mais <strong>de</strong>talhado em Bauer et al. 2000): ventre branco<br />

com uma evi<strong>de</strong>nte mancha vermelha (e pontuda) na garganta<br />

e parte do peito; asas pretas com rêmiges centrais, em parte,<br />

branco-acinzentadas; cauda reta e preta; íris laranja/amarela;<br />

pernas e pés rosa; bico preto; mancha preta na parte posterior<br />

das coxas; faixa preta que circula a cabeça na altura dos olhos<br />

(dando um aspecto <strong>de</strong> “máscara”, tipo venda, sobre os olhos)<br />

e é interrompida na parte posterior e o píleo é cinza/branco<br />

(<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da luz).<br />

Alguns padrões <strong>de</strong> variação <strong>de</strong> coloração já foram relatados<br />

e outros são acrescidos aqui. a) Bauer et al. (2000) citam<br />

indivíduos, supostamente imaturos, observados junto a outros<br />

<strong>de</strong> padrão consi<strong>de</strong>rado <strong>de</strong> adulto com tonalida<strong>de</strong>s diferentes do<br />

vermelho vivo estando o ventre <strong>de</strong> tom marrom ou alaranjado<br />

(como “lavado”); b) um indivíduo (aparentemente <strong>de</strong> N. rourei)<br />

foi observado rapidamente em 10 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2001<br />

(supostamente no período reprodutivo) com todo o alto da<br />

cabeça (píleo) escuro e o ventre com uma mancha bem menor<br />

(no peito, não chegando à garganta) em forma <strong>de</strong> linha côncava<br />

<strong>de</strong> cor vermelha viva e logo abaixo o peito branco finamente<br />

rajado verticalmente <strong>de</strong> preto (Venturini et al. 2005);<br />

c) em 30 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2004 foi observado um indivíduo com<br />

plumagem típica <strong>de</strong> adulto dando comida no bico para outro<br />

indivíduo <strong>de</strong> menor tamanho, com algumas estrias verticais<br />

discretas (escuras) no peito branco. Os indivíduos estavam forrageando<br />

e se <strong>de</strong>slocando bastante irrequietos na vegetação e<br />

poucos minutos antes foram observados, na mesma região, três<br />

indivíduos <strong>de</strong> Nemosia rourei com plumagem padrão (inclusive<br />

o anilhado em setembro <strong>de</strong> 1997) junto com um bando<br />

misto; d) em 25 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2004 foi possível observar<br />

dois indivíduos adultos <strong>de</strong> Nemosia rourei acompanhando um<br />

bando misto e um terceiro indivíduo, possivelmente jovem,<br />

que estava junto às outras duas Nemosia rourei possuía um<br />

padrão com o alto da cabeça todo escuro (como em ‘b’), o<br />

peito branco e uma mancha vermelha (similar àquela <strong>de</strong>scrita<br />

em ‘b’) e logo abaixo uma cor mais esmaecida, alaranjada.<br />

Estamos admitindo que os indivíduos acima <strong>de</strong>scritos<br />

sejam <strong>de</strong> Nemosia rourei pelas evidências: estavam em bandos<br />

mistos on<strong>de</strong> tinham N. rourei; os três últimos casos (‘b’,<br />

‘c’ e ‘d’) foram todos na mesma região e os dois últimos (‘c’ e<br />

‘d’) além <strong>de</strong> estarem na mesma região ocorreram em menos <strong>de</strong><br />

um mês, supostamente no período reprodutivo <strong>de</strong> acordo com<br />

Venturini et al. (2002); em ‘c’ foi observada total interação<br />

(cuidado parental) com um indivíduo no padrão <strong>de</strong> plumagem<br />

típica da espécie e, finalmente, <strong>de</strong>sconhecemos outras espécies<br />

com estas características <strong>de</strong> plumagem.<br />

Aparentemente, é possível verificar um padrão <strong>de</strong> coloração<br />

com mudança gradativa na coloração <strong>de</strong>sta espécie e<br />

alguns padrões parecem que se repetiram: dois padrões <strong>de</strong><br />

novembro (em anos diferentes) possuíam o píleo todo preto<br />

(sem o branco/cinza observado nos adultos); alguns indivíduos<br />

possuíam a mancha vermelha menor (linha côncava)<br />

e o resto do peito branco ou não. Dois indivíduos diferentes<br />

possuíam estrias verticais no peito branco e alguns indivíduos<br />

possuíam um tom alaranjado/amarronzado no peito (ventre).<br />

Nestas observações não foi possível ter mais <strong>de</strong>talhes do restante<br />

da plumagem <strong>de</strong>vido à rapi<strong>de</strong>z com que se <strong>de</strong>slocavam e,<br />

obviamente, estes foram os pontos mais evi<strong>de</strong>ntes possíveis <strong>de</strong><br />

serem rapidamente comparados: o ventre e o píleo.


610 Ana Cristina Venturini e Pedro Rogerio <strong>de</strong> Paz<br />

Ainda po<strong>de</strong> ser prematuro tentar enten<strong>de</strong>r este possível<br />

padrão <strong>de</strong> coloração até porque, <strong>de</strong>vido ao pouco tempo <strong>de</strong><br />

observação, na maioria das situações, é possível que algum<br />

<strong>de</strong>talhe não tenha sido bem percebido. Mas parece que as evidências<br />

apontam para uma coloração do ventre inicialmente<br />

branco e rajado (discretas estrias escuras verticais), adquirindo<br />

posteriormente o início da cor vermelha, em uma linha tênue,<br />

passando a um tom alaranjado no ventre (não mais rajado)<br />

e, posteriormente adquirindo a cor final vermelha pura. Já o<br />

píleo parece que primeiramente é todo preto e <strong>de</strong>pois se torna<br />

cinza-esbranquiçado, realçado pela faixa preta que atravessa<br />

os olhos. Certamente novos registros serão necessários para<br />

confirmar esta possibilida<strong>de</strong> e para enten<strong>de</strong>r o significado<br />

<strong>de</strong>ste fato.<br />

A rarida<strong>de</strong> natural <strong>de</strong>sta espécie conforme já relatado e<br />

vivenciado em campo (Venturini et al. 2002, 2005) po<strong>de</strong><br />

explicar também a rarida<strong>de</strong> <strong>de</strong> encontrar estes indivíduos, que<br />

acreditamos, sejam jovens <strong>de</strong> Nemosia rourei assim como até<br />

o momento só foi encontrado um ninho da espécie em construção<br />

(Venturini et al. 2002).<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

Somos gratos aos proprietários <strong>de</strong> Pindobas IV e seus funcionários<br />

por permitir nosso acesso na fazenda on<strong>de</strong> foram<br />

feitos estes registros. Ao Neotropical BirdClub/Field Gui<strong>de</strong>s<br />

pelo apoio financeiro em parte dos trabalhos <strong>de</strong> campo. Aos<br />

colegas que estiveram conosco em algumas <strong>de</strong>stas excursões:<br />

J. Fernando Pacheco, Claudia Bauer, M. Pacheco Rehen, L.<br />

Petronetto do Carmo, John e Rose Ann Rowlett, e a todos<br />

birdwatchers que têm possibilitado a continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nossos<br />

trabalhos, em especial os que estiveram presentes nos eventos<br />

citados: grupo da Field gui<strong>de</strong>s 2004, Greame e Moira Wallace,<br />

grupo <strong>de</strong> Paul Niels, Richard Webster. A Adriana Corteletti<br />

pelo auxílio na tradução do sumário e ao revisor anônimo<br />

pelas correções e sugestões.<br />

Referências Bibliográficas<br />

Bauer, C., J. F. Pacheco, A. C. Venturini e B. M. Whitney<br />

(2000) Rediscovery of the Cherry-throated Tanager<br />

Nemosia rourei in southern Espírito Santo, Brazil. Bird<br />

Conservation International. 10:97‐108.<br />

Venturini, A. C., P. R. Paz e G. Kirwan (2002) First breeding<br />

data for Cherry-throated tanager Nemosia rourei.<br />

Cotinga 17:42‐45.<br />

Venturini, A. C., P. R Paz e G. Kirwan (2005) A new locality<br />

and records of Cherry-throated Tanager Nemosia rourei<br />

in Espírito Santo, south-east Brazil, with fresh natural<br />

History data for the species. Cotinga 24:60‐70.<br />

Figura 1. Indivíduo <strong>de</strong> saíra-apunhalada (Nemosia rourei) consi<strong>de</strong>rado com a plumagem <strong>de</strong> adulto típica.<br />

Figure 1. Cherry-throated Tanager (Nemosia rourei) in typical adult plumage.


NOTA<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> 15(4):611-614<br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007<br />

Frustrated fisher: geese and tilapias spoil bait-fishing by the Green Heron<br />

(Butori<strong>de</strong>s striata) in an urban park in Southeastern Brazil<br />

Ivan Sazima<br />

Departamento <strong>de</strong> Zoologia e Museu <strong>de</strong> História Natural, Caixa Postal 6109, Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Campinas, 13083‐970,<br />

Campinas, SP, Brasil. E‐mail: isazima@unicamp.br<br />

Recebido em 28 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2007; aceito em 18 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2007.<br />

Resumo: Pescador frustrado: gansos e tilápias prejudicam pesca com isca do socozinho (Butori<strong>de</strong>s striata) num parque urbano no su<strong>de</strong>ste do<br />

Brasil. O uso <strong>de</strong> iscas para atrair pequenos peixes é uma das táticas <strong>de</strong> pesca usadas pelo socozinho (Butori<strong>de</strong>s striata). Apresento aqui a ativida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> pesca <strong>de</strong>sta pequena garça, com isca <strong>de</strong> pão, frustrada por gansos e tilápias num parque urbano no Su<strong>de</strong>ste do Brasil. O socozinho foi registrado<br />

usando isca somente quando os gansos eram alimentados por visitantes, especialmente em finais <strong>de</strong> semana. A aproximação <strong>de</strong>stas aves maiores à isca<br />

era repelida pelo socozinho, porém fora do alcance do seu bico a isca era comida por gansos ou tilápias. Após per<strong>de</strong>r uma isca, o socozinho apanhava<br />

nova porção, geralmente mudando <strong>de</strong> local <strong>de</strong> pesca. Depois <strong>de</strong> terminada a oferta <strong>de</strong> iscas, a ave se afastava e adotava a tática <strong>de</strong> espreita na vegetação<br />

marginal ou repousava em ramos a cerca <strong>de</strong> 4‐5 m acima do chão. O presente registro indica que o socozinho percebe a agregação ruidosa dos gansos<br />

como oportunida<strong>de</strong> para uso <strong>de</strong> iscas, repele as aves que se aproximam das iscas, muda <strong>de</strong> locais <strong>de</strong> pesca e repete a tática <strong>de</strong> iscar até a oferta <strong>de</strong> pão<br />

terminar.<br />

Palavras-chave: Tática <strong>de</strong> pesca, uso <strong>de</strong> isca, ajustes comportamentais, ambientes urbanizados.<br />

Key-words: Fishing tactic, bait use, behavioural adjustments, urbanised habitats.<br />

Use of bait to attract small fishes is a remarkable foraging tactic<br />

of the Green or Green-backed Heron (Butori<strong>de</strong>s striata),<br />

recor<strong>de</strong>d in North and South America, Africa, and Asia (Sisson<br />

1974, Burton 1985, Higuchi 1986, Davis and Kushlan<br />

1994, Willis and Oniki 2003). Bait types inclu<strong>de</strong> fish pellets,<br />

bread pieces, leaves, twigs, feathers, insects, and even plastic<br />

foam, this fishing tactic being regar<strong>de</strong>d as tool-use (e.g.,<br />

Boswall 1983, Higuchi 1986, Davis and Kushlan 1994).<br />

I <strong>de</strong>scribe here failures to bait-fish by the Green Heron,<br />

as frustrated by waterfowl and large fish in an urban park in<br />

Southeastern Brazil. I <strong>de</strong>scribe how the heron persisted in baitfishing,<br />

and how it behaved after repeated failures due to interference<br />

of the larger competitors for its bait. Additionally, I<br />

suggest that the heron perceives the waterfowl aggregation as<br />

an opportunity for bait-fishing.<br />

The records were ma<strong>de</strong> at the urban reserve “Parque<br />

Ecológico Prof. Hermógenes F Leitão Filho” (22°48.615’S,<br />

47°04.504’W), Campinas, São Paulo state, southeastern Brazil.<br />

This is a public park with a pond bor<strong>de</strong>red by a sandy path used<br />

by people for walking, running, and promenading. The pond harbours<br />

several species of native water birds, as well as domestic<br />

breeds of the Greylag Geese (Anser anser) and Muscovy Ducks<br />

(Cairina moschata). Two small railed pavements bor<strong>de</strong>ring a<br />

bridge near the pond’s drain were used by people promenading<br />

in the park with their children to attract the domestic waterfowl<br />

with bread pieces thrown in the water. These “feeding<br />

sessions” took place especially on weekends and holidays,<br />

less often on working days. The bread also attracted two fish<br />

species, the tilapia Tilapia rendalli (Cichlidae) and the guppy<br />

Poecilia reticulata (Poeciliidae) The former attains 45 cm in<br />

total length, whereas the latter attains 5 cm (females) and 3 cm<br />

(males) (Froese and Pauly 2007, IS pers. obs.). Smaller pieces<br />

of bread were used by the heron to bait guppies. Besi<strong>de</strong>s observations<br />

on the heron’s frustrated bait-fishing, I examined the<br />

possibility that the noisy geese aggregations might be used as a<br />

cue by the heron to obtain bread for baiting. Thus, I conducted<br />

a series of four simple tests, each of them performed five times.<br />

On non-consecutive working days I attracted a group of geese<br />

that was grazing, or engaged in other activity away from the<br />

pavement, to their usual feeding place un<strong>de</strong>r the bridge. To<br />

do so I threw bread pieces over the path while walking, thus<br />

guiding the birds with a technique modified from Browning<br />

(1888). Once the geese were in place I threw bread pieces into<br />

the water. I also threw bread pieces or small stones into the<br />

water in absence of geese near the pavement area. In the final<br />

trial set I ma<strong>de</strong> movement with the arm as if I were throwing<br />

something in the water. Each trial was performed when the<br />

heron was not recor<strong>de</strong>d on the bank near the pavement. Baiting<br />

sequences, from the heron finding and taking the bait to loosing<br />

it to waterfowl, large fish, or water flow, as well as the heron’s<br />

fishing success (if any), were observed with naked eye or<br />

through a telescopic 70‐300 mm photographic camera lens at<br />

a distance of 2‐5 m. Observational sessions lasted 10‐45 min,<br />

totalling 1045 min over nine mornings and two afternoons in<br />

May 2007. “Ad libitum” and “behaviour” sampling rules (Martin<br />

and Bateson 1986) were used throughout. A large series of<br />

digital photographs was taken as vouchers, a few of the most<br />

representative presented here.<br />

The Green Heron was recor<strong>de</strong>d bait-fishing every time<br />

the waterfowl aggregated near the railed pavement and fed on


612 Ivan Sazima<br />

bread pieces (N = 29). The heron took smaller bread pieces<br />

that were on the bank or floated nearby. After securing a<br />

suitable bread piece, the heron walked to a given place and<br />

put or threw (Figure 1) the bait afloat on the water. Due to<br />

small waves formed in windy days and/or ma<strong>de</strong> by the feeding<br />

movements of waterfowl and large tilapias, the bread piece<br />

usually bobbed on the water surface and moved towards the<br />

lake’s drain. While still within the heron’s reach, it retrieved<br />

the bread with its bill and repositioned the bait on a spot where<br />

it could be monitored. The bread piece was usually noticed by<br />

the alert geese, at which occasion the heron stabbed forwards,<br />

its mandibles open and head and neck feathers erected, successfully<br />

driving the larger bird away. However, when two or<br />

more geese harassed the heron (Figure 2), it was unable to hold<br />

position and lost the bait. The geese even stalked the heron<br />

while it was walking along the bank and still holding the bread<br />

Figures 1‐6. (1) The Green Heron (Butori<strong>de</strong>s striata) throws a bread piece in the water to use as bait; (2) a confrontation between three geese and the heron, the<br />

lesser bird ready to pounce – note open mandibles of both the geese and the heron and feathers erected on the head and neck of the latter; (3) the heron repositions<br />

the bait carefully on the water surface; (4) only to lose it immediately afterwards to a large tilapia – note commotion on the water surface; (5) the heron seeks a<br />

seclu<strong>de</strong>d site between concrete pieces to resume bait-fishing – note heron’s head between two pieces; (6) the heron holds in its bill a guppy female successfully<br />

attracted to the bread bait – note bait afloat near the heron’s bill (at the left on the figure).


Frustrated fisher: geese and tilapias spoil bait-fishing by the Green Heron (Butori<strong>de</strong>s striata) in an urban park in Southeastern Brazil 613<br />

in the bill. When the bread piece moved slightly beyond the<br />

heron’s reach and thus the bird had no chance to retrieve it, the<br />

bait was generally lost to a goose, a duck, or a large tilapia. On<br />

several occasions the heron was repositioning the bread (Figure<br />

3) when a tilapia sud<strong>de</strong>nly took the bait (Figure 4). As the<br />

large fish surfaced and took the bread, they caused commotion<br />

in the water and the heron retreated a little. After repeatedly<br />

loosing the bait at the same place, the heron changed foraging<br />

site, mostly a seclu<strong>de</strong>d spot. For two days in a row, the heron<br />

sought a seclu<strong>de</strong>d spot only after repeatedly loosing the bait.<br />

However, on the third day it took a bread piece and immediately<br />

chose a seclu<strong>de</strong>d spot for bait-fishing. These spots usually<br />

were close to the lake’s drain or between pieces of concrete<br />

slabs (Figure 5) and yiel<strong>de</strong>d very few or no fish. Additionally,<br />

the heron was recor<strong>de</strong>d retrieving the bread piece and retreating<br />

higher on the bank until its fishing site was “waterfowlfree”,<br />

when it resumed baiting. The heron procee<strong>de</strong>d with its<br />

bait-fishing until no bread piece was available, when it flew<br />

off. From a total of 47 recor<strong>de</strong>d bait-fishing rounds, the heron<br />

lost the bait to the waterfowl, tilapias, or water flow 43 times<br />

(91.3%), with only three preys caught. However, the four<br />

remain<strong>de</strong>r, timed bait-fishing rounds were notably successful<br />

(see below) until the nibbling fish caused the bread to float out<br />

of the heron’s reach, its frequent retrieving notwithstanding.<br />

The bird was recor<strong>de</strong>d using a flat potato chip as bait only<br />

once, with no success. Twice it was recor<strong>de</strong>d holding a small<br />

insect for minutes while perched on bank vegetation, but I was<br />

unable to observe whether it did use this bait type.<br />

When the waterfowl were grazing on grass at the lake bank<br />

or otherwise feeding elsewhere, I recor<strong>de</strong>d the heron standing<br />

in crouched posture on the bank or on branches overhanging<br />

the water, and standing in the water (cf. Davis and Kushlan<br />

1994), or walking on branches and standing at one spot and<br />

changing it every time it disturbed the water on the previous<br />

spot. The heron was recor<strong>de</strong>d fishing about 10‐600 m from<br />

the bridge, or less often resting perched on a branch at 4‐5 m<br />

above ground of a tree located about 5 m from the pavement.<br />

In the five occasions I attracted the geese to the pavement with<br />

bread pieces, the heron lan<strong>de</strong>d on the bank within 20‐180 sec.<br />

Twice I located the heron fishing on the branches of a tree at<br />

a small inlet on the left bank about 200 m from the bridge.<br />

I immediately went after the geese and attracted them to the<br />

pavement where they began their noisy feeding. It lasted 180<br />

and 50 sec respectively to the heron approaching the bridge<br />

flying from its former fishing place and landing on the right<br />

bank near the geese. In another occasion it approached running<br />

on the bank, from within the vegetation where it was hunting<br />

about 10 m from the pavement. It took a bread piece and began<br />

bait-fishing. When I threw bread from the bridge in absence<br />

of the geese and only fish were attracted, the heron lan<strong>de</strong>d on<br />

the bank only once and left soon afterwards. The heron also<br />

did not land on the bank when I threw pebbles or ma<strong>de</strong> mock<br />

movements with the arm.<br />

When waterfowl and/or tilapias were not interfering with<br />

its baiting, the heron could be a remarkably successful guppy<br />

fisher (Figure 6). In four timed fishing rounds (11, 2, 6, and<br />

2 min) it caught 1.66, 2, 1.83, and 2.5 fish. ‐1 min respectively.<br />

Twice the heron chose a fishing spot where guppies were<br />

already feeding on a bread piece. It then walked slowly on the<br />

bank and put its bait carefully afloat and crouched (these were<br />

the occasions its fishing yiel<strong>de</strong>d the highest scores). While<br />

baiting the heron fished mostly for the large guppy females.<br />

When the heron was fishing from within the bank vegetation<br />

or from a branch above the water surface (2 min timed for<br />

each of these fishing tactics), its hunting success was 0.2 and 1<br />

fish. ‐1 min respectively.<br />

Bait type influences the fishing success of the Green Heron<br />

in Japan, flies and biscuit pieces being the most successful<br />

bait (Higuchi 1986), although the latter was less used than the<br />

former (possibly due to lower availability). I regard biscuits<br />

and bread to have similar attractiveness to omnivorous fish<br />

such as small cyprinids and guppies, the two fish types usually<br />

caught by the heron. Baiting with bread is the situation most<br />

commonly reported for this heron, presumably due to people<br />

throwing this food type to fishes and waterfowl that dwell in<br />

urban ponds and lakes, places where several records of baitfishing<br />

are recor<strong>de</strong>d from (e.g., Sisson 1974, Lowell 1958,<br />

Higuchi 1986, Davis and Kushlan 1994). Thus, although other<br />

bait types were potentially available for the heron reported<br />

here (e.g., insects, berries, leaves, feathers) bread was the bait<br />

recor<strong>de</strong>d almost exclusively at the observation site.<br />

During the present study, an exceedingly high number of<br />

bait-fishing rounds with bread was spoiled by domestic waterfowl<br />

whose movements caused the bait to float away from the<br />

heron’s reach and then they took the bread, and by large tilapias<br />

that often stole the bait right from un<strong>de</strong>r the bird’s bill.<br />

Although the heron was able to drive away the avian competitors<br />

for bread while the bait was within its reach on most occasions<br />

(see Lowell 1958 for similar records), I am unaware of<br />

any extreme situation such as that reported here. Even if I was<br />

unable to recognise the baiting heron as the same individual,<br />

its behaviour (fishing or perching on the same places, arriving<br />

shortly after the geese aggregated, and allowing observation<br />

at close quarters) indicates that only one individual was un<strong>de</strong>r<br />

observation. Additionally, Green Herons are highly territorial<br />

and feed alone (Martínez-Vilalta and Motis 1992), which lends<br />

support to my assumption. Thus, assuming that I observed the<br />

same individual, the heron was remarkably persistent in its<br />

bait-fishing attempts un<strong>de</strong>r such unfavourable circumstances.<br />

A likely explanation is that the heron perceived these circumstances<br />

(however unfavourable at times) as opportunities to<br />

take bread pieces to bait with. Moreover, the guppies were<br />

more common near the pavement than elsewhere (pers. obs.)<br />

and it is possible that the heron perceived this situation as well.<br />

Taking a bait to more distant sites, especially on wing, is rarely<br />

recor<strong>de</strong>d (e.g., Lowell 1958, Higuchi 1986, IS pers. obs.) and<br />

this would further explain the persistence of the heron with its<br />

frustrated fishing attempts at the same place. Additionally, this<br />

place yiel<strong>de</strong>d good fishing when the waterfowl retreated. At<br />

a site in Costa Rica, herons stayed at a location significantly


614 Ivan Sazima<br />

longer after a successful attack than after an unsuccessful one<br />

(Betts and Betts 1977).<br />

The heron’s presence every time the geese were being<br />

bread-fed as well as its arrival shortly after I managed to attract<br />

the waterfowl to their habitual place strongly indicates that the<br />

heron used the noisy aggregation as a cue to potential bread<br />

bait availability. Its absence on the bank when I threw bread<br />

to fishes and no geese was near the bridge, as well as when<br />

I threw pebbles or ma<strong>de</strong> mock throws, apparently strengthens<br />

the above suggestion. The potential to recognise, and<br />

learn from, a new situation is already recor<strong>de</strong>d for the Green<br />

Heron (e.g., Lowell 1958, Sisson 1974, Higuchi 1986, Martínez-Vilalta<br />

and Motis 1992, Davis and Kushlan 1994) and<br />

the observations reported here add to this potential.<br />

Acknowledgments<br />

I thank my family for supporting love and help, and the<br />

CNPq for essential financial support.<br />

References<br />

Betts, B. J. and D. L. Betts (1977). The relation of hunting<br />

site changes to hunting success in green herons and green<br />

kingfishers. Condor 79:269‐271.<br />

Boswall, J. (1983) Tool-using and related behaviour: more<br />

notes. Avicultural Magazine 89:94‐108.<br />

Browning, R. (1888) The pied piper of Hamelin. London: Fre<strong>de</strong>rick<br />

Warne and Company.<br />

Burton, R. (1985) Bird behavior. New York: Alfred A Knopf.<br />

Davis, W. E. and J. A. Kushlan (1994) Green heron (Butori<strong>de</strong>s<br />

virescens), p. 1‐19. In: A. Poole and F. Gill<br />

(eds.) The Birds of North America, No. 129. Phila<strong>de</strong>lphia:<br />

The Birds of North America, Inc. Online edition,<br />

doi:10.2173/bna.129.<br />

Froese, R. and D. Pauly (2007) FishBase. World Wi<strong>de</strong> Web<br />

electronic publication. (last<br />

access May 2007).<br />

Higuchi, H. (1986) Bait-fishing by the green-backed heron<br />

Ar<strong>de</strong>ola striata in Japan. Ibis 128(7):285‐290.<br />

Lowell, H. B. (1958) Baiting of fish by a green heron. Wilson<br />

Bulletin 70:280‐281.<br />

Martin, P. and P. Bateson (1986) Measuring behaviour, an<br />

introductory gui<strong>de</strong>. Cambridge: Cambridge University<br />

Press.<br />

Martínez-Vilalta, A. and A. Motis (1992) Family Ar<strong>de</strong>idae<br />

(herons), p. 376‐429. In: J. <strong>de</strong>l Hoyo, A. Elliot and J. Sargatal<br />

(eds.) Handbook of the birds of the world. Vol. 1.<br />

Ostrich to ducks. Barcelona: Lynx Edicions.<br />

Sisson, R. F. (1974) Aha! It really works! National Geographic<br />

145:53‐54.<br />

Willis, E. O. And Y. Oniki (2003) Aves do estado <strong>de</strong> São<br />

Paulo. Rio Claro: Divisa Editora.


NOTA<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> 15(4):615-616<br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007<br />

Spi<strong>de</strong>r web as a natural trap for small birds<br />

Charles Duca 1,3 and Wellington Mo<strong>de</strong>sto 2<br />

1. Departamento <strong>de</strong> Zoologia, Laboratório <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília, 70910‐900, Brasília, DF, Brasil. Brasil.<br />

E‐mail: chduca@ig.com.br<br />

2. Departamento <strong>de</strong> Zoologia, Laboratório <strong>de</strong> Aracní<strong>de</strong>os Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília, 70910‐900, Brasília, DF, Brasil.<br />

E‐mail: silvawm@unb.br<br />

3. Corresponding author. Present address: Rua Itabira 592/302, Bloco 03, Lagoinha, 31110‐340, Belo Horizonte, MG, Brasil.<br />

Recebido em 23 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2007; aceito em 20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007.<br />

Resumo: Teia <strong>de</strong> aranha como uma armadilha natural para aves pequenas. Registramos um indivíduo <strong>de</strong> Sporophila nigricollis (Emberizidae)<br />

aprisionado em uma teia <strong>de</strong> aranha da espécie Nephilengys cruentata (Nephilidae) em uma área rural em Minas Gerais, Brasil. Embora a aranha não<br />

tenha se alimentado do pássaro, ficou evi<strong>de</strong>nte que as teias <strong>de</strong>ssas aranhas po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>radas como uma ‘armadilha natural’ para aves <strong>de</strong> pequeno<br />

porte, causando a morte <strong>de</strong> alguns indivíduos.<br />

Palavras-chave: Araneae, Emberizidae, causa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong>, Nephilengys cruentata, Sporophila nigricollis.<br />

Key-words: Araneae, Emberizidae, mortality cause, Nephilengys cruentata, Sporophila nigricollis.<br />

Some bird species look for spi<strong>de</strong>r webs to find food or material<br />

to build the nest. For example, some hummingbirds (Sick<br />

1997) and flycatcher species as Suiriri affinis and S. islerorum<br />

(Lopes and Marini 2005) use spi<strong>de</strong>r webs as material to build<br />

their nests. However, this can be a natural trap for small birds<br />

because some spi<strong>de</strong>r species have webs strong enough to capture<br />

prey as large as birds and bats (e.g. McCormick and Polis<br />

1982, Texeira et al. 1991).<br />

On January 11 th 2006, we recor<strong>de</strong>d a male of Sporophila<br />

nigricollis imprisoned in a web of Nephilengys cruentata<br />

(Nephilidae) located 3.8 m above the ground (Figure 1). This<br />

record was in a farm in the municipality of Conceição do Mato<br />

Dentro (18°56’07.1”S, 43°23’59.9”W), state of Minas Gerais,<br />

Brazil. We found the individual at 12:20 h and observed it to<br />

be imprisoned during 47 min. During this time, the spi<strong>de</strong>r tried<br />

to bite the bird twice but failed in both attempts due to the<br />

movement of the bird when the spi<strong>de</strong>r approached. After this<br />

Figure 1. Sporophila nigricolis male imprisoned in a Nephilengys cruentata<br />

(Nephilidae) web.<br />

Figura 1. Macho <strong>de</strong> Sporophila nigricolis aprisionado em uma teia <strong>de</strong><br />

Nephilengys cruentata (Nephilidae).<br />

Figure 2. Sporophila nigricolis male on the ground trying to remove the spi<strong>de</strong>r<br />

web from its tarsus and wings.<br />

Figura 2. Macho <strong>de</strong> Sporophila nigricolis no chão tentando remover a teia <strong>de</strong><br />

aranha presa nos seus tarsos e asas.


616 Charles Duca and Wellington Mo<strong>de</strong>sto<br />

period, the bird freed itself and fell to the ground, where it<br />

stayed quiet for 10 min with belly up. After 10 min, it got up<br />

and started to remove strands of spi<strong>de</strong>r web that adhered to its<br />

tail, wing, bill and tarsus (Figure 2). The bird remained 54 min<br />

on the ground before managing to fly to a tree. This happened<br />

in a ranch house where there were several domestic animals,<br />

including a dog and cat, both of which approached the bird and<br />

might have killed it if we had not actively prevented this.<br />

There are other records of birds caught in spi<strong>de</strong>r webs. For<br />

example, Texeira et al. (1991) recor<strong>de</strong>d several hummingbird<br />

species as well as the passerines Polioptila plumbea and Sporophila<br />

caerulescens imprisoned in web spi<strong>de</strong>rs of the genus<br />

Nephila. These authors related that only once a Nephila bit<br />

a female of S. caerulescens but did not eat it. Here, we confirmed<br />

the possibility of spi<strong>de</strong>r web as a ‘natural trap’ for some<br />

small passerines. Although the chance of predation by spi<strong>de</strong>rs<br />

appears to be low, there is a possibility that birds die due to<br />

the consequences of the web on their feathers and body. In our<br />

case, the bird would probably have died if we had not intervened<br />

when the dog and cat came near it.<br />

Reference<br />

Lopes, L. E. and M. Â. Marini (2005) Biologia reprodutiva <strong>de</strong><br />

Suiriri affinis e S. islerorum (Aves: Tyrannidae) no cerrado<br />

do Brasil central. Pap. Avulsos Zool. 45:127‐141.<br />

McCormick, S. and G. A. Polis (1982) Arthropods that prey on<br />

vertebrates. Biol. Rev. Camb. Philos. Soc. 57:29‐58.<br />

Sick H. (1997) <strong>Ornitologia</strong> <strong>Brasileira</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Editora<br />

Nova Fronteira.<br />

Texeira, D. M., G. Luigi e I. M. Schloemp (1991) Aves brasileiras<br />

como presas <strong>de</strong> artrópo<strong>de</strong>s. Ararajuba 2:69‐74.


NOTA<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> 15(4):617-620<br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007<br />

From carrion-eaters to bathers’ bags plun<strong>de</strong>rers: how Black Vultures<br />

(Coragyps atratus) could have found that plastic bags may contain food<br />

Ivan Sazima<br />

Departamento <strong>de</strong> Zoologia e Museu <strong>de</strong> História Natural, Caixa Postal 6109, Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Campinas, 13083-970,<br />

Campinas, SP, Brasil. E-mail: isazima@unicamp.br<br />

Recebido em 12 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2007; aceito em 27 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007.<br />

Resumo: De necrófagos a saqueadores <strong>de</strong> sacolas <strong>de</strong> banhistas: como urubus-<strong>de</strong>-cabeça-preta (Coragyps atratus) po<strong>de</strong>m ter <strong>de</strong>scoberto que sacos<br />

plásticos conteriam alimento. O urubu-<strong>de</strong>-cabeça-preta (Coragyps atratus) alimenta-se <strong>de</strong> carniça, pequenos animais vivos, fezes <strong>de</strong> carnívoros, lixo<br />

orgânico, até frutos. Registro aqui esta espécie <strong>de</strong> urubu saqueando sacos plásticos contendo toalhas, roupas e outros objetos, que banhistas <strong>de</strong>ixam<br />

na praia quando entram no mar. Esse comportamento po<strong>de</strong> ter-se originado no fato <strong>de</strong> sacos plásticos semelhantes conterem lixo exposto ao ar livre.<br />

Uma seqüência <strong>de</strong> passos comportamentais que po<strong>de</strong>m ter dado origem ao furto <strong>de</strong> sacolas <strong>de</strong> banhistas por urubus é aqui postulada, começando com<br />

agrupamentos em carcaças na praia, continuando com agrupamentos em pequenos <strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> lixo ao ar livre e, finalmente, saqueando sacolas plásticas<br />

<strong>de</strong>ixadas na praia. As etapas postuladas para este cenário plausível são aqui documentadas, incluindo manipulação experimental. O comportamento <strong>de</strong><br />

furtar sacolas po<strong>de</strong> ser beneficiado pelo comportamento social do urubu-<strong>de</strong>-cabeça-preta, o qual facilitaria aprendizado por imitação.<br />

Palavras-Chave: Carcaças, lixo exposto, lixo acondicionado, sacolas <strong>de</strong> plástico, aprendizado.<br />

Key-Words: Carcasses, refuse dumps, packed refuse, plastic bags, learning.<br />

Most vulture species of the New World Cathartidae are omnivores<br />

that forage on whatever edible (Houston 1994, Sick<br />

1997). The Black Vulture (Coragyps atratus) has a particularly<br />

wi<strong>de</strong> diet and its food inclu<strong>de</strong>s carrion, human organic<br />

refuse, carnivore feces, fruits, and small live animals (Haverschmidt<br />

1947, Houston 1994, Sick 1997, review in Buckley<br />

1999). For daily recruitment to food Black Vultures benefit<br />

from high soaring flight, communal roosting, foraging groups<br />

composed of adults and juveniles, and ability to quickly learn<br />

and accommodate to new feeding situations (Witoslawski<br />

et al. 1963, Coleman and Fraser 1987, Rabenold 1983, Houston<br />

1994, Sick 1997, Buckley 1999).<br />

I report here on Black Vultures plun<strong>de</strong>ring plastic bags<br />

containing towels, clothes and other objects bathers leave on<br />

the beach while entering the sea on the northern coast of São<br />

Paulo, Brazil. Such behaviour likely originated from the fact<br />

that similar plastic bags are used to pack refuse disposed of in<br />

the open. A sequence of relatively simple behavioural steps<br />

that might have given origin to dismantling bathers’ bags by<br />

the vultures is here postulated.<br />

All records were ma<strong>de</strong> at the Praia do Lázaro, Ubatuba<br />

(~23°32’S, 45°09’W), São Paulo, southeastern Brazil. Black<br />

vultures’ behaviour while feeding on small to medium carcasses,<br />

small refuse dumps in the open, as well as dismantling<br />

plastic bags, was recor<strong>de</strong>d on several occasions from July<br />

1983 to July 1987. Records were ma<strong>de</strong> with naked eye or with<br />

use of binoculars in 10-50 min observational sessions totalling<br />

3,190 min (about 50 h). “Ad libitum” and “behaviour”<br />

sampling rules (Martin and Bateson 1986) were used throughout.<br />

A simple experiment to check that vultures are attracted<br />

to a plastic bag using visual cues was performed. Plastic<br />

bags (N = 15) i<strong>de</strong>ntical to those used to discard refuse (and<br />

to accommodate bathers’ objects) were stuffed with unused<br />

crumpled newspapers (N = 8) or with organic garbage such as<br />

fish leftovers (N = 7), haphazardly scattered on the beach, and<br />

left unatten<strong>de</strong>d. Approach by the vultures and their subsequent<br />

behaviours were thus recor<strong>de</strong>d.<br />

Black Vultures fed on small to medium carcasses on the<br />

beach, either washed ashore or thrown there by local people.<br />

Sometimes a single vulture located a carcass while flying low<br />

or perched on a pole or a palm crown. Afterwards it lan<strong>de</strong>d near<br />

the carcass and pecked at it searching for a soft spot or an opening<br />

and then began to dismantle it usually taking hold with one<br />

or both feet while tearing off pieces with its bill (Figure 1). In<br />

all occasions a vulture was feeding on a <strong>de</strong>ad animal (except for<br />

a very small one or pieces), it was soon joined by others and a<br />

foraging group quickly formed around the carcass (Figure 2).<br />

Vacant lots used by the local population to discard garbage<br />

were regularly visited by vultures to forage on anything edible<br />

from fish and poultry entrails and leftovers to spoilt fruits. By<br />

the time the sanitary authorities instructed the population that<br />

organic refuse should be packed in plastic bags, the people<br />

usually left both packed and unpacked leftovers at the dumps<br />

(Figure 3). Thus, vultures likely had a first-hand opportunity<br />

to learn that plastic bags, often improperly closed or partly<br />

torn, contained food. At the same time I began to record vultures<br />

landing on open garbage containers in front of houses<br />

and tearing open the bags (Figure 4). Techniques used on the<br />

bags were similar to those used to dismantle small carcasses<br />

(see above and Figure 1).<br />

The first time I noticed vultures plun<strong>de</strong>ring plastic bags<br />

bathers left on the shore when entering the water was 27 June


618 Ivan Sazima<br />

1985. These bags were the same (or similar to those) the local<br />

people used to pack garbage and, due to their low cost, they<br />

were used to wrap and carry several types of objects to the<br />

beach, including towels, clothes, watches, and sometimes food.<br />

When such a bag was left unatten<strong>de</strong>d, the vultures approached<br />

and began to work on it (Figure 5) until the bag was torn<br />

open. Usually the birds pulled the lighter and more accessible<br />

objects from within the bag. On finding no food, the vultures<br />

eventually left. However, when a bag contained food such as<br />

sandwiches or small fruits such as grapes or guava, these were<br />

picked off and swallowed and fed upon. Several vultures could<br />

peck at and dismantle a bag, the groups often being composed<br />

of adults and juveniles.<br />

The experiment with plastic bags stuffed with newspapers<br />

and those with organic garbage yiel<strong>de</strong>d similar results. The<br />

vultures located a bag in the same way they did with carcasses.<br />

Figures 1-6. (1) A Black Vulture (Coragyps atratus) dismantles a recently <strong>de</strong>ad Big-eared Opossum (Di<strong>de</strong>lphis aurita) on the beach; (2) a small group of vultures<br />

scavenge on a Green Turtle (Chelonia mydas) carcass on the beach; (3) a small group of vultures search for food in a small refuse dump on a street near a vacant<br />

lot by the beach; (4) a vulture dismantles a plastic bag in an open refuse container in front of a house near the beach; (5) a vulture begins to dismantle a plastic<br />

bag with towels, clothes, and other objects left on the beach by a bather – note other vultures approaching; (6) a vulture pecks at a plastic bag stuffed with unused,<br />

crumpled newspapers experimentally left on the beach – note that sizes of the bag and the opossum (1) are roughly similar.


From carrion-eaters to bathers’ bags plun<strong>de</strong>rers: how Black Vultures (Coragyps atratus) could have found that plastic bags may contain food 619<br />

Then they approached the bag, inspected it briefly and began<br />

to peck at it (Figure 6). As the newspapers bags were much<br />

lighter than those containing organic garbage, the vultures did<br />

not tear the former open as easily as the latter, and five newspaper<br />

bags were left after pecking at them with no result for<br />

up to 6 min. The experiment leaves little doubt that the birds<br />

relied on visual cues; additionally, they were unable to discriminate<br />

between bags containing newspapers and those containing<br />

organic garbage. These findings agree with the wi<strong>de</strong>spread<br />

knowledge that Black Vultures locate their food visually<br />

(Rabenold 1983, 1987, Houston 1994, Sick 1997, Buckley<br />

1999). I suggest that the vultures used a searching image to<br />

locate the plastic bags haphazardly located on the beach (see<br />

Croze 1970 for this concept in crows).<br />

From the behavioural viewpoint, dismantling small carcasses<br />

and plastic bags does not differ greatly. The vultures<br />

have to find a soft spot or an opening – natural or acci<strong>de</strong>ntal<br />

– and from there ripe open the carcass or the garbage bag and<br />

reach the contents (Hertel 1994, Houston 1994, Buckley 1999,<br />

present paper). Thus, garbage dumps containing both packed<br />

and unpacked leftovers possibly set the stage for the behavioural<br />

steps nee<strong>de</strong>d to shift from small carcasses to plastic garbage<br />

bags once the vultures found that the latter contain food.<br />

Plun<strong>de</strong>ring bathers’ bags likely resulted from the previous<br />

finding that plastic bags used to pack garbage contain accessible<br />

food. As both bag types are similar if not i<strong>de</strong>ntical in<br />

form, size, and often colour as well, the association between<br />

them may be simple for the Black Vulture, a versatile bird<br />

capable of quick learning (Witoslawski et al. 1963) and that<br />

takes advantages of varied foraging situations (Houston 1994,<br />

Sick 1997, Buckley 1999, Sazima 2007). Black Vultures are<br />

social birds and forage in familiar groups (Rabenold 1983,<br />

Buckley 1999), a characteristic that facilitate learning of<br />

novel food sources and/or techniques (Houston 1994). Plun<strong>de</strong>ring<br />

bathers’ bag could be initiated by a few “innovative”<br />

individuals, which were imitated by others (see Fisher and<br />

Hin<strong>de</strong> 1949, Palameta and Lefebvre 1985, West and King<br />

1996 for diverse learning processes in birds). Additionally,<br />

foraging groups of this vulture are composed of adults and<br />

juveniles that remain together for an exten<strong>de</strong>d period (Rabenold<br />

1983, Houston 1994, Buckley 1999), and thus the latter<br />

would have plenty of opportunities to learn new food sources<br />

and/or abilities.<br />

A sequence of relatively simple behavioural steps that<br />

might have given origin to bag plun<strong>de</strong>ring is here postulated:<br />

1) vultures would assemble at carcasses large and small on<br />

the beach; 2) with human settlement on the shore, the birds<br />

would assemble at small refuse dumps that contain leftovers<br />

both unpacked and packed in plastic bags; 3) the birds would<br />

learn to rip open the garbage bags both in the small dumps and<br />

refuse containers in front of beach houses; 4) finally, the birds<br />

would associate garbage plastic bags with any similar plastic<br />

bag left on the beach. The above scenario with four escalated<br />

steps seems the most parsimonious one for the question of how<br />

Black Vultures could have found that plastic bags may contain<br />

food and, additionally, it would explain how these carrionfeeding<br />

birds could turn into bathers’ bags plun<strong>de</strong>rers un<strong>de</strong>r<br />

particular circumstances.<br />

Acknowledgments<br />

I thank Marlies Sazima for her supporting love and always<br />

pleasant help in the field; Ricardo and Cristina Sazima for not<br />

disliking me too much even if I was (but not played) foul; the<br />

CNPq for essential financial support.<br />

References<br />

Buckley, N. J. (1999) Black vulture (Coragyps atratus). p. 1-<br />

19. In: A. Poole and F. Gill (eds.) The Birds of North<br />

America, No. 411. Phila<strong>de</strong>lphia: The Birds of North<br />

America, Inc. Online edition, doi:10.2173/bna.411.<br />

Croze, H. (1970) Searching image in crows. Berlin: Paul<br />

Parey.<br />

Coleman, J. S. and J. D. Fraser (1987) Food habits of black<br />

and turkey vultures in Pennsylvania and Maryland. J.<br />

Wildl. Manage. 51:733-739.<br />

Fisher, J. and R. A. Hin<strong>de</strong>. (1949) The opening of milk bottles<br />

in birds. British Birds 42:347-357.<br />

Haverschmidt, F. (1947) The black vulture and the crested<br />

caracara as vegetarians. Condor 49(5):210.<br />

Hertel, F. (1994) Diversity in body size and feeding morphology<br />

within past and present vulture assemblages. Ecology<br />

75(4):1074-1084.<br />

Houston, D. C. (1994) Family Cathartidae (New World vultures),<br />

p. 24-41. In: J. <strong>de</strong>l Hoyo, A. Elliot and J. Sargatal<br />

(eds.) Handbook of the birds of the world. Vol. 2.<br />

New World vultures to guineafowl. Barcelona: Lynx<br />

Edicions.<br />

Martin, P. and P. Bateson (1986) Measuring behaviour, an<br />

introductory gui<strong>de</strong>. Cambridge: Cambridge University<br />

Press.<br />

Palameta, B. and L. Lefebvre (1985) The social transmission<br />

of a food-finding technique in pigeons: what is learned<br />

Anim. Behav. 33:892-896.<br />

Rabenold, P. P. (1983) The communal roost in black and<br />

turkey vultures – an information center p. 303-321. In:<br />

S. R. Wilbur and J. A. Jackson (eds.) Vulture biology and<br />

management. Berkeley: University of California Press.


620 Ivan Sazima<br />

Sazima, I. (2007) Unexpected cleaners: black vultures (Coragyps<br />

atratus) remove <strong>de</strong>bris, ticks, and peck at sores of<br />

capybaras (Hydrochoerus hydrochaeris), with an oveview<br />

of tick-removing birds in Brazil. Rev. Bras. Ornitol.,<br />

15(3):417-426.<br />

Sick, H. (1997) <strong>Ornitologia</strong> brasileira, uma introdução. Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro: Editora Nova Fronteira.<br />

West, M. J. and A. P. King (1996) Social learning: synergy<br />

and songbirds, p. 155-178. In: C. M. Heyes and B. G.<br />

Galef Jr. (eds.) Social learning in animals. San Diego:<br />

Aca<strong>de</strong>mic Press.<br />

Witoslawski, J. J., R. B. An<strong>de</strong>rson and H. M. Hanson (1963)<br />

Behavioral studies with a black vulture, Coragyps atratus.<br />

J. Exp. Anim. Behav. 6(4):605-606.


RESENHA<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> 15(4):621-622<br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007<br />

Resenha<br />

Caio J. Carlos<br />

Albatrosses, petrels and shearwaters of the world<br />

Aquasis – Associação <strong>de</strong> Pesquisa e Preservação <strong>de</strong> Ecossistemas Aquáticos (http://www.aquais.org) e<br />

Comitê Brasileiro <strong>de</strong> Registros Ornitológicos (CBRO; http://www.cbro.org.br).<br />

By Derek Onley and Paul Scofield<br />

2007, Published by Christopher Helm, London<br />

(ISBN 9780713643329), and Princeton University<br />

Press, Princeton, NJ (ISBN 9780691131320), 240 pp.<br />

This field gui<strong>de</strong>, co-authored by New Zealan<strong>de</strong>rs Derek<br />

Onley and Paul Scofield, will be of great assistance to ornithologists,<br />

bir<strong>de</strong>rs and others interested in the study and/or<br />

observation of albatrosses, petrels and allies (Or<strong>de</strong>r Procellariiformes).<br />

The book is of convenient size (23.1 x 15.5 cm)<br />

and, since it is printed on water-resistant heavy-weight glossy<br />

paper, is suitable for use at sea.<br />

In general, the first thing we do when we get a field gui<strong>de</strong><br />

is to look at the illustrations. Hence, it is not an exaggeration<br />

to say that, in books like this, the major contributor is the artist<br />

responsible for the plates. Recently, this has often been recognized<br />

by placing the illustrator’s name ahead of the writer’s.<br />

Derek Onley has illustrated important field gui<strong>de</strong>s to New<br />

Zealand birds (e.g., Heather et al. 2005), and built a reputation<br />

for accuracy and precision.<br />

There are 45 high-quality and beautiful colour plates with<br />

more than 500 individual illustrations including adult, immature,<br />

juvenile and worn plumages. Some species of petrels<br />

exhibit plumage polymorphism (e.g., Southern Giant Petrel<br />

Macronectes giganteus, Trinda<strong>de</strong> Petrel Pterodroma arminjoniana)<br />

with pale, dark and even intermediate forms. Such<br />

variation is also fully illustrated. Plates are arranged so that<br />

birds of similar appearance, such as White-chinned Procellaria<br />

aequinoctialis, Spectacled P. conspicillata, and Westland<br />

Petrels P. westlandica, are grouped together, thus allowing<br />

direct comparison for precise i<strong>de</strong>ntifications. The caption<br />

notes of the plates focus on key i<strong>de</strong>ntification features and,<br />

in addition to the main text, are useful and facilitate cross<br />

reference.<br />

There are some problems, though. The white background<br />

for the plates was not a good choice. Mainly white or pale-grey<br />

plumaged birds, such as the large albatrosses (Diome<strong>de</strong>a spp.)<br />

and fulmars (Fulmarus glacialis and F. glacialoi<strong>de</strong>s), simply<br />

fa<strong>de</strong> into the background. In this aspect, this book compares<br />

unfavourably with other field gui<strong>de</strong>s like Peter Harrison’s<br />

(1983) Seabirds or Hadoram Shirihai and Brett Jarrett’s (2004)<br />

Complete gui<strong>de</strong> to Antarctic wildlife.<br />

The book has a comprehensive and readable introduction<br />

with an overview of systematics and general characteristics of<br />

the four families: Diome<strong>de</strong>idae (albatrosses and mollymawks),<br />

Procellariidae (petrels and shearwaters), Hydrobatidae (stormpetrels)<br />

and Pelecanoididae (diving-petrels). The two-page<br />

discussion of species concepts was opportune to a group like<br />

Procellariiformes, as their taxonomy seems to be far from settled.<br />

The authors follow, in the main, the taxonomy of Brooke<br />

(2004), but with some modifications to the smaller shearwaters<br />

of the Little Puffinus assimilis and Audubon’s P. lherminieri<br />

Shearwaters complex, as suggested by Austin et al. (2004).<br />

There is also a section on conservation which goes into <strong>de</strong>tail<br />

on the many threats faced by these birds.<br />

Each of the 137 species is <strong>de</strong>alt with at length in respect to<br />

its taxonomy, distribution, behaviour, plumage, moult, wear,<br />

biometrics and i<strong>de</strong>ntification. Moreover, this book provi<strong>de</strong>s<br />

good <strong>de</strong>scriptions of species’ ‘jizz’ (i.e., general impression of<br />

size and shape), which is an additional benefit for i<strong>de</strong>ntification<br />

of birds most often seen at long distance when colour pattern<br />

can be obscured. For hard to i<strong>de</strong>ntify groups, there are extra<br />

sections <strong>de</strong>scribing the best way to distinguish them. There<br />

is, for example, a <strong>de</strong>tailed discussion about i<strong>de</strong>ntification criteria<br />

for species within the ‘Wan<strong>de</strong>ring Albatross complex’,<br />

namely, Snowy Diome<strong>de</strong>a exulans (sensu stricto), Tristan<br />

D. dabbenena, and Antipo<strong>de</strong>an Albatrosses D. antipo<strong>de</strong>nsis;<br />

the latter with two subspecies (nominate form and D. a. gibsoni).<br />

All information is summarized in a table containing the<br />

main differences among taxa. In<strong>de</strong>ed, field i<strong>de</strong>ntification of<br />

birds within the ‘Wan<strong>de</strong>ring complex’ is very difficult, and the<br />

authors conclu<strong>de</strong> that many large albatrosses observed at sea<br />

will not be able to be specifically i<strong>de</strong>ntified.<br />

That other problematic group, the Pachyptila prions, was<br />

also discussed in more <strong>de</strong>tail. These are a group of small petrels<br />

with very similar plumage patterns; separation at species level<br />

is mainly, although not completely, based on the size, shape,<br />

structure and colour of the bills (Marchant and Higgins 1990).<br />

However, useful i<strong>de</strong>ntification features, such as bill profiles<br />

and un<strong>de</strong>r-tail patterns, of these birds are overlooked.<br />

Particularly welcome is the table listing distinctions<br />

between the Sooty Puffinus griseus and Short-tailed Shearwaters<br />

P. tenuirostris, which is excellent and constitutes an<br />

advance on anything previously published. I<strong>de</strong>ntification<br />

of the single Short-tailed Shearwater specimen found <strong>de</strong>ad<br />

in coastal Bahia, north-east Brazil, in 2005 (see Lima 2006)<br />

would have been much easier had this i<strong>de</strong>ntification tool been<br />

available at that time.<br />

For every species there is a 64 x 46 mm colour map showing<br />

both the breeding sites and the at-sea range. These maps,


622 Resenha<br />

however, have some errors and this is probably one of the<br />

weakest points of the book. For instance, it is possible to discern<br />

on the map of Amsterdam Albatross Diome<strong>de</strong>a amsterdamensis<br />

that its sole breeding site on Amsterdam Island<br />

(c. 37°52’S 77°32’E) in the Indian Ocean has been re-located<br />

to Kerguelen (49°20’S, 69°20’E), an archipelago lying about<br />

1,000 km southward in the same Ocean. Fortunately, texts on<br />

distribution seem to be more accurate, but in some cases conflicting<br />

with information on maps.<br />

Apart from ‘relatively minor’ problems, Albatrosses,<br />

petrels and shearwaters of the world is an i<strong>de</strong>al manual for<br />

all those users involved with pelagic observations (e.g., onboard<br />

scientific observers monitoring long-line fisheries) and/<br />

or beach patrols. It contains much new information, is very<br />

well illustrated and easy to use. Regarding only the plates, it<br />

is an advance on Harrison (1983), and is on a par with work in<br />

Marchant and Higgins (1990) and Shirihai and Jarrett (2004);<br />

but all of these books cover other groups such as the Sphenisciformes<br />

(penguins), Pelecaniformes (boobies, gannets, tropicbirds<br />

and frigatebirds) and the marine Charadriiformes<br />

(skuas, gulls and terns).<br />

References<br />

Austin, J. J., V. Bretagnolle and E. Pasquet (2004) A global<br />

molecular phylogeny of the small Puffinus shearwaters<br />

and implications for systematics of the Little–Audubon’s<br />

Shearwater complex. Auk 121: 847–864.<br />

Brooke, M. L. (2004) Albatrosses and petrels across the world.<br />

Oxford: Oxford University Press.<br />

Harrison, P. (1983) Seabirds: an i<strong>de</strong>ntification gui<strong>de</strong>. Beckenham:<br />

Croom Helm.<br />

Heather, B., H. Robertson and D. Onley (2005) The field gui<strong>de</strong><br />

to the birds of New Zealand, 2 nd Ed. Auckland: Penguin<br />

Books.<br />

Lima, P. C. (2006) Aves do litoral Norte da Bahia – Birds of<br />

the Northern coastal region of Bahia. Atualida<strong>de</strong>s Ornitológicas<br />

on-line. http://www.ao.com.br/ao_olivr.htm<br />

(Accessed on 10 May 2008).<br />

Marchant, J. and P. G Higgins [cords.] (1990) Handbook of<br />

Australian, New Zealand and Antarctic birds, Vol. 1.<br />

Melbourne: Oxford University Press,<br />

Shirihai, H. and B. Jarrett (2002) Complete gui<strong>de</strong> to Antarctic<br />

wildlife: birds and marine mammals of the Antarctic<br />

Continent and Southern Ocean. Princeton: Princeton<br />

University Press.


Congressos<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> 15(4):623-624<br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007


624 Congressos<br />

25th International Ornithological<br />

Congress 2010<br />

22-28 August 2010<br />

Campos do Jordão, Brazil<br />

Call for symposia proposals<br />

The 25th International Ornithological Congress will be<br />

held in Campos do Jordão, Brazil, 22-28 August 2010. The<br />

Scientific Program Committee has been formed and a web<br />

page is in place (http://www.i-o-c.org or http://www.ib.usp.<br />

br/25ioc). We hope that you will circle these dates on your<br />

calendar and plan to attend!<br />

The Scientific Program Committee (SPC) invites you to<br />

submit symposium proposals for the next IOC. Symposia are<br />

aimed at the general ornithologist and provi<strong>de</strong> up-to-date coverage<br />

of current ornithological research. Similar to the last IOC<br />

meeting, each symposium will inclu<strong>de</strong> two keynote addresses<br />

that should summarize the global progress of ornithological<br />

science in the field over the last four years and address priorities<br />

for future research. Other speakers will be chosen by the<br />

conveners, with guidance from the SPC, and will inclu<strong>de</strong> persons<br />

who have submitted abstracts i<strong>de</strong>ntifying the particular<br />

symposium they would like to join. This is inten<strong>de</strong>d to increase<br />

global participation and allow new researchers to contribute to<br />

symposia. The call for contributed papers (which will come in<br />

early 2009) will inclu<strong>de</strong> a box that contributors can check if<br />

they wish to be consi<strong>de</strong>red for specific symposia.<br />

Each symposium should have 2 co-organizers. Since this<br />

is an international congress, the SPC will give preference in<br />

choosing symposium topics to symposia with co-conveners<br />

from different continents, and, failing this, from different<br />

countries. If it is not possible to meet these criteria, a brief<br />

explanation should be given un<strong>de</strong>r ‘Justification of symposium’<br />

on the application form. Conveners may choose themselves<br />

as keynote speakers. Conveners can organize only one<br />

symposium. Also note that symposium speakers cannot give<br />

another oral presentation during the congress, but can apply to<br />

organize a round table discussion or present a poster.<br />

Proposals for symposia must be received on or before 1<br />

June 2008. Please provi<strong>de</strong> the information listed below and<br />

send it as an email attachment to the chair of the SPC, Carol<br />

M. Vleck, at ioc2010@iastate.edu.<br />

If you cannot submit your proposal by email, please mail it<br />

directly to the program chair:<br />

Carol M. Vleck, Department of Ecology, Evolution and<br />

Organismal Biology, Iowa State University, Ames, Iowa<br />

50011, USA.<br />

Please provi<strong>de</strong> a title of the symposium, names, institution<br />

or affiliation, addresses, phone, fax, email addresses of both<br />

organizer, first and second keynote speakers, and <strong>de</strong>scribe<br />

(400 words maximum) goals, objectives, importance of the<br />

symposium and outline briefly what each keynote speaker will<br />

cover, giving a preliminary title if possible. Justify (250 words<br />

maximum) why this symposium is important and timely and<br />

why it will be of interest to IOC congress participants. If you<br />

cannot find a co-convener from another continent or country,<br />

explain why. The justification will not appear in the program<br />

or on the web site.<br />

All proposals will be reviewed by the SPC in August 2008<br />

and symposium organizers will be notified as to whether their<br />

proposal has been accepted shortly thereafter. The committee<br />

may recommend combining two symposia or substituting<br />

speakers.<br />

The IOC is not able to provi<strong>de</strong> any financial assistance to<br />

symposium organizers or participants. Organizers must make<br />

this clear to participants.<br />

We ask that symposium organizers have a firm commitment<br />

from keynote speakers to attend the meeting before listing<br />

them in their proposal. Once a proposal has been accepted<br />

and the speakers finalized, we will request abstracts for each<br />

of the keynote talks. Summaries of accepted symposia will be<br />

posted on the IOC website. We also ask that symposium conveners<br />

inform speakers that the conference proceedings will be<br />

published, so that speakers must be willing to submit a paper<br />

on their presentation.<br />

If you need more information, please consult the 25 th IOC<br />

web site http://www.i-o-c.org or http://www.ib.usp.br/25ioc or<br />

contact the Secretary General for the Congress by e-mail at<br />

ioc2010@ib.usp.br or by mail at: Cristina Miyaki/IOC 2010,<br />

Departamento <strong>de</strong> Genética e Biologia Evolutiva, Instituto <strong>de</strong><br />

Biociências, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, Rua do Matão 277,<br />

São Paulo, SP, 05508-090, Brazil.<br />

Carol Vleck<br />

2010 IOC Scientific Program Committee Chair<br />

http://www.ib.usp.br/25ioc<br />

Dept of Ecology, Evolution & Organismal Biology<br />

253 Bessey Hall<br />

Iowa State University<br />

Ames, IA 50011 USA


<strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> 15(4):625-626<br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007<br />

INSTRUÇÕES AOS AUTORES<br />

A <strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> receberá contribuições<br />

originais relativas a qualquer aspecto da biologia das<br />

aves, enfatizando a documentação, a análise e a interpretação<br />

<strong>de</strong> estudos <strong>de</strong> campo e laboratório, além da apresentação <strong>de</strong><br />

novos métodos ou teorias e revisão <strong>de</strong> idéias ou informações<br />

pré-existentes. A <strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> tem interesse<br />

em publicar, por exemplo, estudos sobre a biologia da<br />

reprodução, distribuição geográfica, ecologia, etologia, evolução,<br />

migração e orientação, morfologia, paleontologia, sistemática,<br />

taxonomia e nomenclatura. Encoraja-se a submissão<br />

<strong>de</strong> análises <strong>de</strong> avifaunas regionais, mas não a <strong>de</strong> listas faunísticas<br />

<strong>de</strong> localida<strong>de</strong>s. Trabalhos <strong>de</strong> caráter monográfico também<br />

po<strong>de</strong>rão ser consi<strong>de</strong>rados para publicação.<br />

Os trabalhos submetidos à <strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong><br />

não po<strong>de</strong>m ter sido publicados anteriormente ou estarem<br />

submetidos para publicação em outros periódicos ou livros.<br />

Serão avaliados os manuscritos originais escritos em português,<br />

espanhol ou inglês (preferencialmente), que <strong>de</strong>vem<br />

ser gravados no formato do programa Microsoft Word, com<br />

fonte “Times New Roman” tamanho 12, espaço duplo, com<br />

alinhamento à esquerda. Os nomes científicos <strong>de</strong>vem ser grafados<br />

em itálico e encoraja-se o uso da seqüência sistemática<br />

e da nomenclatura presente nas listas brasileira (http://www.<br />

cbro.org.br/CBRO/in<strong>de</strong>x.htm) ou sul-americana <strong>de</strong> aves<br />

(http://www.museum.lsu.edu/~Remsen/SACCBaseline.html),<br />

quando pertinente.<br />

Submissão:<br />

Os originais <strong>de</strong>vem ser submetidos ao editor preferencialmente<br />

por correio eletrônico, mas também em CD (que<br />

não serão <strong>de</strong>volvidos) ou impressos (neste caso, três cópias do<br />

manuscrito completo, seguindo as normas acima).<br />

O título (no idioma do texto) <strong>de</strong>ve ser conciso e indicar claramente<br />

o assunto abordado no trabalho. Expressões genéricas<br />

como “contribuição ao conhecimento...” ou “notas sobre...”<br />

<strong>de</strong>vem ser evitadas. O nome <strong>de</strong> cada autor <strong>de</strong>ve ser escrito por<br />

extenso, acompanhado do en<strong>de</strong>reço completo para correspondência<br />

(incluindo correio eletrônico). No caso <strong>de</strong> múltiplos<br />

autores, o autor para correspondência <strong>de</strong>ve ser claramente<br />

indicado.<br />

Resumo e abstract <strong>de</strong>vem informar o objetivo e os resultados<br />

do trabalho, e não apenas relacionar os assuntos discutidos.<br />

Abaixo do nome do(s) autor(es), <strong>de</strong>ve-se relacionar, na<br />

seguinte seqüência:<br />

• Português: abstract em inglês, com título e key words;<br />

resumo em português, sem título e com palavras-chave;<br />

• Inglês: resumo em português, com título e palavraschave;<br />

abstract em inglês, sem título com key words;<br />

• Espanhol: resumo em português, com título e palavraschave;<br />

abstract em inglês, com título e key words.<br />

No caso <strong>de</strong> notas curtas, <strong>de</strong>ve ser incluído apenas um abstract<br />

(trabalhos em português) ou um resumo (trabalhos em<br />

inglês ou espanhol), acompanhado <strong>de</strong> palavras-chave e key<br />

words.<br />

O manuscrito <strong>de</strong>verá apresentar uma breve introdução,<br />

<strong>de</strong>scrição dos métodos incluindo a área <strong>de</strong> estudo, apresentação<br />

e discussão dos resultados, agra<strong>de</strong>cimentos e referências.<br />

Conclusões po<strong>de</strong>rão ser apresentadas <strong>de</strong>pois da discussão ou<br />

junto com a mesma. As partes do manuscrito <strong>de</strong>vem estar<br />

organizadas como segue:<br />

Título (do manuscrito, e os nomes e en<strong>de</strong>reços dos autores, e<br />

somente isso)<br />

Resumo / Abstract / Palavras-chave<br />

Introdução (que começa em uma nova página, não havendo<br />

quebras <strong>de</strong> página com as seções seguintes)<br />

Material e Métodos<br />

Resultados (somente os resultados, em forma sucinta)<br />

Discussão (que opcionalmente po<strong>de</strong> ser seguido por Conclusões,<br />

mas, melhor incluir conclusões <strong>de</strong>ntro da discussão)<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

Referências<br />

Tabelas<br />

Legendas das Figuras<br />

Figuras (cada uma em uma única página)<br />

Cada Tabela <strong>de</strong>ve vir em uma página, numerada em algarismos<br />

arábicos e acompanhada da sua respectiva legenda. A<br />

legenda da tabela <strong>de</strong>ve ser parte da tabela, ocupando a primeira<br />

linha da tabela com as células mescladas. As Legendas das<br />

figuras também <strong>de</strong>vem vir numeradas e cada Figura <strong>de</strong>ve vir<br />

em uma página, também numerada em algarismos arábicos e<br />

<strong>de</strong> acordo com as suas respectivas legendas. N.B.: Todas as<br />

legendas <strong>de</strong>vem ser apresentadas em duplas, a primeira na<br />

língua do trabalho, e a segunda em inglês.<br />

Os diversos tópicos <strong>de</strong>vem apresentar subtítulos apropriados<br />

quando for necessário. Todas as páginas <strong>de</strong>vem ser numeradas<br />

no canto superior direito.<br />

Devem-se usar as seguintes abreviações: h (hora), min<br />

(minuto), s (segundo), km (quilômetro), m (metro), cm (centímetro),<br />

mm (milímetro), ha (hectare), kg (quilograma), g<br />

(grama), mg (miligrama), todas com letras minúsculas e sem<br />

ponto. Use as seguintes notações estatísticas: P, n, t, r, F, G,<br />

U, x 2 , gl (graus <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>), ns (não significativo), CV (coeficiente<br />

<strong>de</strong> variação), DP (<strong>de</strong>svio padrão), EP (erro padrão).<br />

Com exceção dos símbolos <strong>de</strong> temperatura e porcentagem<br />

(e.g., 15°C, 45%), dê espaço entre o número e a unida<strong>de</strong> ou<br />

símbolo (e.g., n = 12, P < 0,05, 25 min). Escreva em itálico<br />

palavras e expressões em latim (e.g., et al., in vitro, in vivo,<br />

sensu). Números <strong>de</strong> um a nove <strong>de</strong>vem ser escritos por extenso,<br />

a menos que se refiram a uma medida (e.g., quatro indivíduos,<br />

6 mm, 2 min); <strong>de</strong> 10 em diante escreva em algarismos<br />

arábicos.<br />

A citação <strong>de</strong> autores no texto <strong>de</strong>ve seguir o padrão: (Pinto<br />

1964) ou Pinto (1964); dois trabalhos do mesmo autor <strong>de</strong>vem<br />

ser citados como (Sick 1985, 1993) ou (Ribeiro 1920a, b);<br />

autores diversos <strong>de</strong>vem ser relacionados em or<strong>de</strong>m cronológica:<br />

(Pinto 1938, Aguirre 1976b); quando a publicação citada<br />

apresentar dois autores, ambos <strong>de</strong>vem ser indicados: (lhering e<br />

Ihering 1907), mas quando os autores são mais <strong>de</strong> dois, apenas<br />

o primeiro é citado: (Schubart et al. 1965); nomes <strong>de</strong> autores


626<br />

citados juntos são unidos por “e”, “y” ou “and” (nunca “&”),<br />

<strong>de</strong> acordo com o idioma do texto. Informações inéditas <strong>de</strong> terceiros<br />

<strong>de</strong>vem ser creditadas à fonte pela citação das iniciais e<br />

sobrenome do informante acompanhada <strong>de</strong> abreviatura a<strong>de</strong>quada<br />

da forma <strong>de</strong> comunicação, seguida <strong>de</strong> data: (H. Sick<br />

com. pess., 1989) ou V. Loskot (in litt. 1990); observações<br />

inéditas dos autores po<strong>de</strong>m ser indicadas pela abreviatura:<br />

(obs. pess.); quando apenas um dos autores merecer o crédito<br />

pela observação inédita ou qualquer outro aspecto apontado<br />

no texto <strong>de</strong>ve ser indicado pelas iniciais do seu nome: “... em<br />

1989 A. S. retomou ao local...”. Manuscritos não publicados<br />

(e.g., relatórios técnicos, monografias <strong>de</strong> graduação) e resumos<br />

<strong>de</strong> congressos po<strong>de</strong>rão ser citados apenas em casos excepcionais,<br />

quando absolutamente imprescindíveis e não houver<br />

outra fonte <strong>de</strong> informação.<br />

A lista <strong>de</strong> referências no final do texto <strong>de</strong>verá relacionar<br />

todos e apenas os trabalhos citados, em or<strong>de</strong>m alfabética pelos<br />

sobrenomes dos autores. No caso <strong>de</strong> citações sucessivas, <strong>de</strong>vese<br />

repetir o sobrenome do autor, como nos exemplos a seguir:<br />

Ihering, H. von e R. von Ihering (1907) As aves do Brazil. São<br />

Paulo: Museu Paulista (Catálogos da Fauna <strong>Brasileira</strong> v.<br />

1). 74<br />

IUCN (1987) A posição da IUCN sobre a migração <strong>de</strong><br />

organismos vivos: introduções, reintroduções e reforços.<br />

http://iucn.org/themes/ssc/pubs/policy/in<strong>de</strong>x.htm (acesso<br />

em 25/08/2005).<br />

Novaes, F. C. (1970) Estudo ecológico das aves em uma área<br />

<strong>de</strong> vegetação secundária no Baixo Amazonas, Estado<br />

do Pará. Tese <strong>de</strong> doutorado. Rio Claro: Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Filosofia, Ciências e Letras <strong>de</strong> Rio Claro.<br />

Remsen, J. V. e S. K. Robinson (1990) A classification scheme<br />

for foraging behavior of birds in terrestrial habitats, p.<br />

144-160. Em: M. L. Morrison, C. J. Ralph, J. Verner e<br />

J. R. Jehl Jr. (eds.) Avian foraging: theory, methodology,<br />

and applications. Lawrence: Cooper Ornithological<br />

Society (Studies in Avian Biology 13).<br />

Ribeiro, A. <strong>de</strong> M. (1920a) A fauna vertebrada da ilha da<br />

Trinda<strong>de</strong>. Arq. Mus. Nac. 22: 169-194.<br />

Ribeiro, A. <strong>de</strong> M. (1920b) Revisão dos psittací<strong>de</strong>os brasileiros.<br />

Rev. Mus. Paul. 12 (parte 2): 1-82.<br />

Sick, H. (1985) <strong>Ornitologia</strong> brasileira, uma introdução, v. 1.<br />

Brasília: Editora Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília.<br />

Notas <strong>de</strong> rodapé não serão aceitas; notas adicionais,<br />

quando absolutamente relevantes, po<strong>de</strong>rão ser incluídas após<br />

as referências, com numeração correspon<strong>de</strong>nte às respectivas<br />

chamadas no texto, abaixo do subtítulo notas.<br />

Ilustrações e tabelas. As ilustrações (fotografias, <strong>de</strong>senhos,<br />

gráficos e mapas), que serão chamadas <strong>de</strong> “figuras”, <strong>de</strong>vem ser<br />

numeradas com algarismos arábicos na or<strong>de</strong>m em que são citadas<br />

e que serão inseridas no texto.<br />

As tabelas e figuras, que receberão numeração in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte,<br />

<strong>de</strong>vem vir no final do manuscrito, assim como todas<br />

as legendas das figuras, que <strong>de</strong>vem ser apresentadas em folha<br />

separada (ver acima).<br />

As chamadas no texto, para figuras e tabelas, <strong>de</strong>vem seguir<br />

o padrão “(Figura 2)” ou “... na figura 2”.<br />

As tabelas <strong>de</strong>vem ser encabeçadas por um título completo<br />

e prescindir <strong>de</strong> consulta ao texto, sendo auto-explicativas.<br />

Para trabalhos em português os autores <strong>de</strong>verão fornecer<br />

versões em inglês das legendas das figuras e cabeçalhos <strong>de</strong><br />

tabelas.<br />

As fotografias <strong>de</strong>vem ser em preto e branco, apresentando<br />

máxima niti<strong>de</strong>z.<br />

Todas <strong>de</strong>vem ser digitalizadas com 300 dpi, no tamanho<br />

mínimo <strong>de</strong> 12 x 18 cm, em grayscale e 8 bits.<br />

No caso <strong>de</strong> só existirem fotografias coloridas, estas po<strong>de</strong>rão<br />

ser convertidas para preto e branco.<br />

No caso da publicação <strong>de</strong> fotografias ou pranchas coloridas,<br />

o(s) autor(es) <strong>de</strong>verão arcar com as <strong>de</strong>spesas <strong>de</strong> gráfica.<br />

Os autores não terão que arcar com os custos <strong>de</strong> impressão<br />

se a ilustração/fotografia for selecionada para a capa da<br />

revista.<br />

Só serão aceitas ilustrações digitalizadas em formato tif ou<br />

jpeg.<br />

Os <strong>de</strong>senhos, gráficos e mapas feitos em papel vegetal ou<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senho, a nanquim preto ou impressora a laser, <strong>de</strong>vem<br />

apresentar traços e letras <strong>de</strong> dimensões suficientes para<br />

que permaneçam nítidos e legíveis quando reduzidos para<br />

publicação.<br />

As escalas <strong>de</strong> tamanhos ou distâncias <strong>de</strong>vem ser representadas<br />

por barras, e não por razões numéricas.<br />

Desenhos, gráficos e mapas <strong>de</strong>vem ser enviados nos arquivos<br />

originais, no programa em que foram gerados, além daqueles<br />

anexados ao texto. No caso <strong>de</strong> envio <strong>de</strong> arquivos <strong>de</strong> mais<br />

<strong>de</strong> 2 MB por e-mail, estes <strong>de</strong>vem estar compactados (consulte<br />

diretamente o editor no caso <strong>de</strong> enviar arquivos maiores). Não<br />

será necessário comprimir o arquivo se o trabalho for enviado<br />

em CD.<br />

Todo o material <strong>de</strong>ve ser enviado para o editor da <strong>Revista</strong><br />

<strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>:<br />

Prof. Dr. Luís Fábio Silveira<br />

Departamento <strong>de</strong> Zoologia, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo<br />

Caixa Postal 11.461, CEP 05422-970<br />

São Paulo, SP, Brasil<br />

Tel./Fax: (# 11) 3091-7575<br />

E-mail: lfsilvei@usp.br<br />

A carta <strong>de</strong> encaminhamento <strong>de</strong>verá mencionar o título do<br />

trabalho, nome dos autores, en<strong>de</strong>reço e e-mail daquele com<br />

quem o editor manterá contato. Um aviso <strong>de</strong> recebimento dos<br />

originais será imediatamente remetido ao autor responsável<br />

pelos contatos com a <strong>Revista</strong>. Após a aceitação do trabalho,<br />

um arquivo já diagramado em formato PDF será enviado<br />

por e-mail a este autor para revisão, o qual <strong>de</strong>verá retomar<br />

ao editor em 72 horas. A correção da versão final enviada<br />

para publicação é <strong>de</strong> inteira responsabilida<strong>de</strong> dos autores. Os<br />

autores que dispõe <strong>de</strong> correio eletrônico receberão, sem ônus<br />

e por correio eletrônico, uma cópia em formato PDF do seu<br />

trabalho publicado. Separatas po<strong>de</strong>rão ser adquiridas pelo(s)<br />

autor(es) mediante pagamento. Entre em contato com o editor<br />

caso tenha alguma dúvida com relação às regras para envio<br />

dos manuscritos.


<strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> 15(4):627-628<br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007<br />

INSTRUCCIONES A LOS AUTORES<br />

La <strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> recibirá contribuciones<br />

originales relacionadas con cualquier aspecto <strong>de</strong> la<br />

biología <strong>de</strong> las aves, enfatizando la documentación, análisis<br />

e interpretación <strong>de</strong> estudios <strong>de</strong> campo y laboratorio, presentación<br />

<strong>de</strong> nuevos métodos o teorías y revisión <strong>de</strong> i<strong>de</strong>as o informaciones<br />

preexistentes. La <strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong><br />

tiene interés en publicar, por ejemplo, estudios sobre la biología<br />

<strong>de</strong> la reproducción, distribución geográfica, ecología,<br />

etología, evolución, migración y orientación, morfología,<br />

paleontología, sistemática, taxonomía y nomenclatura. También,<br />

pue<strong>de</strong> presentarse análisis <strong>de</strong> avifauna regional, pero no<br />

pue<strong>de</strong> ser solamente una lista faunística <strong>de</strong> localida<strong>de</strong>s. Trabajos<br />

<strong>de</strong> carácter monográfico también podrán ser aceptados<br />

para publicación.<br />

Los manuscritos submetidos para publicación en la <strong>Revista</strong><br />

<strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> no pue<strong>de</strong>n haber sido publicados<br />

anteriormente, o estar siendo consi<strong>de</strong>rados para publicación,<br />

en entero o en parte, en ningún otro periódico o libro. Los<br />

trabajos pue<strong>de</strong>n ser escritos en portugués, español o inglés y<br />

<strong>de</strong>ben ser grabados en formato <strong>de</strong>l programa Microsoft Word,<br />

usando la fuente “Times New Roman”, tamaño 12, espacio<br />

doble, alineado a la izquierda. Los nombres científicos <strong>de</strong>ben<br />

ser escritos en itálico y seguir la secuencia sistemática y <strong>de</strong><br />

la nomenclatura en la lista brasileña (http://www.cbro.org.<br />

br/CBRO/in<strong>de</strong>x.htm) o sur-americana <strong>de</strong> aves (http://www.<br />

museum.lsu.edu/~Remsen/SACCBaseline.html), cuando<br />

pertinente.<br />

Submissión:<br />

Los originales <strong>de</strong>ben ser mandados al editor preferentemente<br />

por correo electrónico, en CD (que no será vuelto), o<br />

por copias impresas (en esto caso, se <strong>de</strong>ben enviar tres copias<br />

<strong>de</strong>l manuscrito completo).<br />

El título (en el idioma <strong>de</strong>l texto) <strong>de</strong>be ser conciso y <strong>de</strong>limitar<br />

claramente el asunto abordado en el trabajo. Expresiones<br />

genéricas como “contribuciones al conocimiento...” o “notas<br />

sobre...” <strong>de</strong>ben ser evitadas. Debe ser escrito el nombre y apellidos<br />

completos <strong>de</strong> cada autor, acompañado <strong>de</strong> la dirección<br />

exacta para correspon<strong>de</strong>ncia, incluso correo electrónico, e<br />

indicar autor <strong>de</strong> comunicación cuando haya más que un autor.<br />

Resumen y Abstract <strong>de</strong>ben informar el objetivo y los<br />

resultados <strong>de</strong>l trabajo y no limitarse únicamente a presentar<br />

los aspectos discutidos. Estos <strong>de</strong>ben ser colocado <strong>de</strong>bajo <strong>de</strong>l<br />

nombre <strong>de</strong>l(os) autor(es), <strong>de</strong> la siguiente forma <strong>de</strong>pendiendo<br />

<strong>de</strong> la idioma:<br />

• Portugués: abstract en inglés, con título y key words;<br />

resumen en portugués, sin título y con palabras-claves;<br />

• Inglés: resumo en portugués, con título y palavraschave;<br />

abstract en inglés, sin título y key words;<br />

• Español: resumo en portugués, con título y palabrasclave;<br />

abstract en inglés, con títulos y key words.<br />

En el caso <strong>de</strong> notas cortas, <strong>de</strong>be ser incluido solamente un<br />

abstract (trabajo en portugués) o un resumo (trabajo en inglés<br />

o español), acompañado <strong>de</strong> palabras-clave y key words.<br />

El texto <strong>de</strong>be tener una introducción breve, <strong>de</strong>scripción <strong>de</strong><br />

los método incluyendo la área <strong>de</strong>l estudio, resultados y su discusión,<br />

agra<strong>de</strong>cimientos e referencias. Conclusiones pue<strong>de</strong>n<br />

ser parte da la discusión, o seguir, opcionalmente, la discusión<br />

como una parte separada. Las partes <strong>de</strong>l manuscrito <strong>de</strong>ben<br />

estar organizadas como sigue:<br />

Título (<strong>de</strong>l manuscrito, y los nombres y direcciones <strong>de</strong> los<br />

autores, y nada mas)<br />

Resumo / Abstract / Palabras-claves<br />

Introducción (que empieza en una nueva página)<br />

Métodos (estas partes siguen sin quebrar las páginas)<br />

Resultados (solamente los resultados mismos, en una forma<br />

sucinta)<br />

Discusión (que, opcionalmente, pue<strong>de</strong> ser seguido por Conclusiones,<br />

pero mejor incluir conclusiones en la discusión)<br />

Agra<strong>de</strong>cimientos<br />

Referencias<br />

Tablas<br />

Leyendas <strong>de</strong> las Figuras<br />

Figuras<br />

Cada Tabla <strong>de</strong>be venir en una única página, numerada en<br />

dígitos arábicos y con su respectiva leyenda. La leyenda <strong>de</strong> la<br />

tabla <strong>de</strong>be ser parte <strong>de</strong> la tabla, ocupando la primera línea <strong>de</strong><br />

la tabla con las células mezcladas. Las Leyendas <strong>de</strong> las figuras<br />

también <strong>de</strong>ben venir numeradas y cada Figura <strong>de</strong>be venir<br />

en una única página, también numerada en dígitos arábicos<br />

y <strong>de</strong> acuerdo con sus respectivas leyendas. N.B.: Todas las<br />

leyendas <strong>de</strong>ben estar en dupla -la primera en la lengua <strong>de</strong>l<br />

trabajo, y la segunda en inglés.<br />

Los diversos tópicos <strong>de</strong>ben tener subtítulos apropiados<br />

cuando sea necesario. Todas las páginas <strong>de</strong>ben estar numeradas<br />

en el rincón superior <strong>de</strong>recho.<br />

Se <strong>de</strong>ben usar las siguientes abreviaciones: h (hora), min<br />

(minuto), s (segundo), km (kilómetro), m (metro), cm (centímetro),<br />

mm (milímetro), ha (hectárea), kg (kilogramo), g<br />

(gramo), mg (milígramo), todas con letras minúsculas y sin<br />

punto. Use las siguientes notaciones estadísticas: P, n, t, r,<br />

F, G, U, x 2 , gl (grados <strong>de</strong> libertad), ns (no significativo), CV<br />

(coeficiente <strong>de</strong> variación), DE (<strong>de</strong>sviación estándar), EE (error<br />

estándar). Con excepción <strong>de</strong> los símbolos <strong>de</strong> temperatura y<br />

porcentaje (e.g., 15°C, 45%), <strong>de</strong>je espacio entre el número y la<br />

unidad o símbolo (e.g., n = 12, P < 0,05, 25 min). Escriba en<br />

itálica palabras y expresiones <strong>de</strong>l latín (e.g., et al., in vitro, in<br />

vivo, sensu). Los números <strong>de</strong>l uno al nueve <strong>de</strong>ben ser escritos<br />

como texto, y <strong>de</strong>l 10 en a<strong>de</strong>lante en números arábicos.<br />

Cuando sean citados autores en el texto, <strong>de</strong>be seguirse el<br />

mo<strong>de</strong>lo siguiente: (Pinto 1964) o Pinto (1964); dos trabajos<br />

<strong>de</strong>l mismo autor <strong>de</strong>ben ser citados como (Sick 1985, 1993)<br />

o (Ribeiro 1920a, b); autores diversos <strong>de</strong>ben ser relacionados<br />

en or<strong>de</strong>n cronológico: (Pinto 1938, Aguirre 1976b); cuando<br />

la publicación citada presenta dos autores, ambos <strong>de</strong>ben ser<br />

indicados: (Ihering y Ihering 1907), pero cuando los autores<br />

son más <strong>de</strong> dos, solamente el primero se cita: (Schubart et al.<br />

1965); nombres <strong>de</strong> autores citados juntos <strong>de</strong>ben ser unidos por<br />

“e”, “y”, o “and” (nunca “&”) <strong>de</strong> acuerdo con el idioma <strong>de</strong>l


628<br />

texto. Informaciones inéditas <strong>de</strong> terceros <strong>de</strong>ben ser reconocidas.<br />

Para citar la fuente, <strong>de</strong>ben colocarse las iniciales <strong>de</strong>l nombre<br />

y el apellido <strong>de</strong>l informante, seguidos por las abreviaturas<br />

a<strong>de</strong>cuadas <strong>de</strong> la forma <strong>de</strong> comunicación, y finalmente el año:<br />

(H. Sick com. per., 1989) o V. Loskot (in litt. 1990); observaciones<br />

inéditas <strong>de</strong> los autores pue<strong>de</strong>n ser indicadas por las<br />

abreviaturas: (obs. per.); cuando solamente uno <strong>de</strong> los autores,<br />

merece el crédito por la observación inédita o cualquier otro<br />

aspecto <strong>de</strong>scrito en el texto, <strong>de</strong>be ser indicado por las iniciales<br />

<strong>de</strong> su nombre: “... en 1989 A. S. regreso a la región...”.<br />

Manuscritos no publicados (por ej. relatorios técnicos, monografias<br />

<strong>de</strong> graduación) y resúmenes <strong>de</strong> congresos podrán ser<br />

citados sólo en casos excepcionales, cuando imprescindibles y<br />

no halla otra fuente <strong>de</strong> información.<br />

La lista <strong>de</strong> referencias al final <strong>de</strong>l texto, <strong>de</strong>berá relacionar<br />

únicamente los trabajos citados, en or<strong>de</strong>n alfabético <strong>de</strong> los apellidos<br />

<strong>de</strong> los autores. Las citaciones sucesivas <strong>de</strong>ben ser substituidas<br />

por un trazo horizontal seguidas por el año <strong>de</strong> publicación<br />

entre paréntesis, como en los ejemplos siguientes:<br />

Ihering, H. von e R. von Ihering (1907) As aves do Brazil. São<br />

Paulo: Museu Paulista (Catálogos da Fauna <strong>Brasileira</strong> v.<br />

1). 74<br />

IUCN (1987) A posição da IUCN sobre a migração <strong>de</strong><br />

organismos vivos: introduções, reintroduções e reforços.<br />

http://iucn.org/themes/ssc/pubs/policy/in<strong>de</strong>x.htm (acesso<br />

em 25/08/2005).<br />

Novaes, F. C. (1970) Estudo ecológico das aves em uma área<br />

<strong>de</strong> vegetação secundária no Baixo Amazonas, Estado<br />

do Pará. Tese <strong>de</strong> doutorado. Rio Claro: Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Filosofia, Ciências e Letras <strong>de</strong> Rio Claro.<br />

Remsen, J. V. e S. K. Robinson (1990) A classification scheme<br />

for foraging behavior of birds in terrestrial habitats, p.<br />

144-160. Em: M. L. Morrison, C. J. Ralph, J. Verner e<br />

J. R. Jehl Jr. (eds.) Avian foraging: theory, methodology,<br />

and applications. Lawrence: Cooper Ornithological<br />

Society (Studies in Avian Biology 13).<br />

Ribeiro, A. <strong>de</strong> M. (1920a) A fauna vertebrada da ilha da<br />

Trinda<strong>de</strong>. Arq. Mus. Nac. 22: 169-194.<br />

Ribeiro, A. <strong>de</strong> M. (1920b) Revisão dos psittací<strong>de</strong>os brasileiros.<br />

Rev. Mus. Paul. 12 (parte 2): 1-82.<br />

Sick, H. (1985) <strong>Ornitologia</strong> brasileira, uma introdução, v. 1.<br />

Brasília: Editora Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília.<br />

Notas <strong>de</strong> pie <strong>de</strong> página no se aceptarán; notas adicionales<br />

cuando sean absolutamente relevantes podrán ser incluidas<br />

<strong>de</strong>spués <strong>de</strong> las referencias, con numeración correspondiente<br />

a las respectivas llamadas en el texto, <strong>de</strong>bajo <strong>de</strong>l subtítulo<br />

notas.<br />

Ilustraciones y tablas. Las ilustraciones (fotografías, dibujos,<br />

gráficos y mapas) que serán llamados figuras, <strong>de</strong>berán ser<br />

numeradas con guarismos arábigos en el or<strong>de</strong>n que son citados<br />

y serán introducidos en el texto.<br />

Las tablas y las figuras recibirán enumeración in<strong>de</strong>pendiente<br />

y <strong>de</strong>ben aparecer al final <strong>de</strong>l texto, así como todas las leyendas<br />

a las figuras, que se <strong>de</strong>ben presentar en hojas separadas.<br />

Las llamadas en el texto para figuras y tablas <strong>de</strong>ben seguir<br />

el mo<strong>de</strong>lo: “(Figura 2)” o “… en la figura 2”.<br />

Las tablas <strong>de</strong>ben ser encabezadas por un título completo,<br />

ser autos explicativas y no necesitar consultar el texto.<br />

Todas las leyendas <strong>de</strong> las figuras <strong>de</strong>ben ser reunidas en una<br />

hoja separada.<br />

Para trabajos en español, los autores <strong>de</strong>berán proveer versiones<br />

en inglés <strong>de</strong> las leyendas <strong>de</strong> las figuras y títulos <strong>de</strong><br />

tablas.<br />

El texto <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> las figuras <strong>de</strong>be ser legible cuando reducido<br />

por 60%.<br />

Las fotografías <strong>de</strong>ben estar en blanco y negro y presentar<br />

la claridad máxima.<br />

En caso <strong>de</strong> existir solamente las fotografias <strong>de</strong>l color, éstos<br />

se pue<strong>de</strong>n convertir a blanco y negro.<br />

Todas <strong>de</strong>ben ser digitalizadas en 300 dpi, con tamaño<br />

mínimo <strong>de</strong> 12 x 18 centímetros, en escala <strong>de</strong> cinza, <strong>de</strong> 8 bits y<br />

gravadas en tif o en jpeg.<br />

En los dibujos, los gráficos y los mapas, las escalas <strong>de</strong><br />

tamaños o las distancias <strong>de</strong>ben ser representadas por barras,<br />

no por cocientes numéricos.<br />

Los dibujos y las letras <strong>de</strong>ben tener dimensiones <strong>de</strong><br />

modo que sigan siendo legibles cuando estén reducidos<br />

para la publicación.<br />

Los dibujos, los gráficos y los mapas <strong>de</strong>ben ser enviar en<br />

los archivos originales, en el programa don<strong>de</strong> han sido creados,<br />

a<strong>de</strong>más <strong>de</strong> aquellos en el texto. En caso <strong>de</strong> enviar archive<br />

por correo electrónico con más <strong>de</strong> 2 MB, éstos <strong>de</strong>ben ser con<strong>de</strong>nsados.<br />

Si el trabajo es enviado en CD, no es necesario comprimir<br />

el archivo.<br />

Todo el material <strong>de</strong>be ser enviar al redactor <strong>de</strong> la <strong>Revista</strong><br />

<strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>:<br />

Prof. Dr. Luís Fábio Silveira<br />

Departamento <strong>de</strong> Zoologia, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo<br />

Caixa Postal 11.461, CEP 05422-970<br />

São Paulo, SP, Brasil<br />

Tel./Fax: (# 11) 3091-7575<br />

E-mail: lfsilvei@usp.br<br />

La carta <strong>de</strong> presentación <strong>de</strong>l artículo <strong>de</strong>berá mencionar el<br />

título <strong>de</strong>l trabajo, nombre <strong>de</strong> los autores, dirección e e-mail <strong>de</strong><br />

aquel con el cual el editor mantendrá contacto para su colaboración.<br />

Un aviso <strong>de</strong> recibimiento <strong>de</strong> los originales será inmediatamente<br />

remitido al autor responsable por los contactos con<br />

la revista. Una vez que el trabajo esté aceptado, un archivo<br />

en PDF <strong>de</strong>berá ser enviado por el e-mail a este autor, para la<br />

revisión. La corrección <strong>de</strong> la versión final enviada para publicación<br />

es <strong>de</strong> entera responsabilidad <strong>de</strong> los autores. El primer<br />

autor <strong>de</strong> cada trabajo recibirá, por correo electrónico y sin ningún<br />

costo, una copia PDF <strong>de</strong> su trabajo publicado. A correção<br />

da versão final enviada para publicação é <strong>de</strong> inteira responsabilida<strong>de</strong><br />

dos autores. Los autores que disponen <strong>de</strong> correo electrónico<br />

receberán, sin onus y por correo electrónico, una copia<br />

en formato PDF <strong>de</strong>l trabajo publicado. Separatas po<strong>de</strong>rán ser<br />

adquiridas por el(los) autor(es) mediante pagamiento. Con<br />

dudas sobre las reglas, entre en contacto con el editor antes <strong>de</strong><br />

la sumisión.


<strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> 15(4):629-630<br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007<br />

INSTRUCTIONS TO AUTHORS<br />

The <strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> will accept original<br />

contributions related to any aspect of the biology of birds, with<br />

emphasis on the documentation, analysis and interpretation of<br />

field and laboratory studies, presentation of new methodologies,<br />

theories or reviews of i<strong>de</strong>as or previously known information.<br />

The <strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> is interested in<br />

publishing studies of reproductive biology, geographic distribution,<br />

ecology, ethology, evolution, migration and orientation,<br />

morphology, paleontology, taxonomy and nomenclature.<br />

Regional studies are also acceptable, but not mere lists of the<br />

avifauna of a specific locality. Monographs may be consi<strong>de</strong>red<br />

for publication.<br />

Manuscripts submitted to The <strong>Revista</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong><br />

must not have been published previously or be un<strong>de</strong>r<br />

consi<strong>de</strong>ration for publication, in whole or in part, in another<br />

journal or book. Manuscripts may be written in Portuguese,<br />

Spanish or English and must be typed in Microsoft Word,<br />

using Times New Roman 12, double spaced and left justified.<br />

Scientific names must be shown in italic, and authors are<br />

encouraged to follow the systematic sequence of the Brazilian<br />

(http://www.cbro.org.br/CBRO/in<strong>de</strong>x.htm) or South American<br />

(http://www.museum.lsu.edu/~Remsen/SACCBaseline.<br />

html) bird lists, when pertinent.<br />

Submission:<br />

Originals must be submitted to the editor preferably by<br />

email, recor<strong>de</strong>d in compact disc (CD, that will not be returned),<br />

or by printed copies (in this in case, three copies of the complete<br />

manuscript must be sent).<br />

The title (in the same language as the text) must be concise<br />

and clearly <strong>de</strong>fine the topic of the manuscript. Generic<br />

expressions such as “contribution to the knowledge...” or<br />

“notes about...” must be avoi<strong>de</strong>d. The name of each author<br />

must be written fully, followed by the full mailing address,<br />

and author for communication in the case of multiple<br />

authors.<br />

Abstract and Resumo (= Portuguese abstract) must state the<br />

objective and the results of the study, and not only mention<br />

the topics discussed. They must be placed below the author(s)<br />

name(s), as follows:<br />

• Portuguese: abstract in English with title and with key<br />

words; resumo in Portuguese without title and with palavras-chave<br />

(= key words in Portuguese);<br />

• English: resumo in Portuguese with title and palavraschave;<br />

abstract in English without title and with key<br />

words;<br />

• Spanish: resumo in Portuguese with title and palavraschave;<br />

abstract in English with title and key words.<br />

For short notes, only an abstract must be inclu<strong>de</strong>d (for a<br />

Portuguese manuscript) or a resumo (manuscripts in English<br />

or Spanish), followed by palavras-chave and key words.<br />

The text must provi<strong>de</strong> a brief introduction, <strong>de</strong>scription of<br />

methods and of the study area, presentation and discussion<br />

of the results, acknowledgments and references. Conclusions<br />

may be provi<strong>de</strong>d after the discussion or within it. The parts of<br />

the manuscript must be organized as follows:<br />

Title (of the manuscript, with names and addresses of all the<br />

authors)<br />

Resumo / Abstract / Key Words<br />

Introduction (starting on a new page)<br />

Methods (this and subsequent parts continue without page<br />

breaks)<br />

Results (only the results, succinctly)<br />

Discussion<br />

Acknowledgments<br />

References<br />

Tables<br />

Figure Legends<br />

Figures<br />

Each Table should be on a separate page, numbered in<br />

Arabic numerals, with its own legend. The legend should be<br />

part of the table, and occupy the space ma<strong>de</strong> by inserting an<br />

extra line at the beginning of the table, in which the cells are<br />

merged. Figure legends occupying one or more pages following<br />

the tables, should be numbered successively, also in<br />

Arabic numerals. Figures will follow, one to each page, and<br />

clearly numbered in agreement with the legends.<br />

As necessary, subsections may be i<strong>de</strong>ntified and labeled as<br />

such. All pages should be numbered in the upper, right hand<br />

comer.<br />

The following abbreviations should be used: h (hour), min<br />

(minute), s (second), km (kilometer), m (meter), cm (centimeter),<br />

mm (millimeter), ha (hectare), kg (kilogram), g (gram),<br />

mg (miligram), all of them in non capitals and with no “periods”<br />

(“.”). Use the following statistical notations: P, n, t, r,<br />

F, G, U, x 2 , df (<strong>de</strong>grees of freedom), ns (non significant), CV<br />

(coefficient of variation), SD (standard <strong>de</strong>viation), SE (standard<br />

error). With the exception of temperature and percentage<br />

symbols (e.g., 15°C, 45%), leave a space between the number<br />

and the unit or symbol (e.g., n = 12, P < 0,05, 25 min). Latin<br />

words or expressions should be written in italics (e.g., et al., in<br />

vitro, in vivo, sensu). Numbers one to nine should be written<br />

out unless a measurement (e.g., four birds, 6 mm, 2 min); from<br />

10 onwards use numbers.<br />

Author citations in the text must follow the pattern: (Pinto<br />

1964) or Pinto (1964); two publications of the same author<br />

must be cited as (Sick 1985, 1993) or (Ribeiro 1920a, b);<br />

several authors must be presented in chronological or<strong>de</strong>r:<br />

(Pinto 1938, Aguirre 1976b); for two-author publications both<br />

authors must be cited: (Ihering and Ihering 1907), but for more<br />

than two authors, only the first one should be cited: (Schubart<br />

et al. 1965); authors’ names cited together are linked by<br />

“e”, “y” or “and” (never “&”), in accordance with the text<br />

language. Unpublished information by third parties must be<br />

credited to the source by citing the initials and the last name of<br />

the informer followed by the appropriate abbreviation of the<br />

form of communication, followed by the date: (H. Sick pers.<br />

comm., 1989) or V. Loskot (in litt. 1990); unpublished observations<br />

by the authors can be indicated by the abbreviation:<br />

(pers. obs.); when only one of the authors <strong>de</strong>serves credit for<br />

the unpublished observation or another aspect cited or pointed<br />

out in the text, this must be indicated by the name initials: “...


630<br />

in 1989 A. S. returned to the area...”. Unpublished manuscripts<br />

(e.g., technical reports, un<strong>de</strong>rgraduate monographs) and meeting<br />

abstracts should be cited only exceptionally in cases they<br />

are absolutely essential and no alternative sources exist.<br />

The reference list must inclu<strong>de</strong> all and only the cited publications,<br />

in alphabetical or<strong>de</strong>r by the authors’ last name, which<br />

must be replaced by a horizontal bar in subsequent citations,<br />

and followed by the year of publication in parenthesis, as<br />

below:<br />

Ihering, H. von e R. von Ihering (1907) As aves do Brazil. São<br />

Paulo: Museu Paulista (Catálogos da Fauna <strong>Brasileira</strong> v.<br />

1). 74<br />

IUCN (1987) A posição da IUCN sobre a migração <strong>de</strong><br />

organismos vivos: introduções, reintroduções e reforços.<br />

http://iucn.org/themes/ssc/pubs/policy/in<strong>de</strong>x.htm (acesso<br />

em 25/08/2005).<br />

Novaes, F. C. (1970) Estudo ecológico das aves em uma área<br />

<strong>de</strong> vegetação secundária no Baixo Amazonas, Estado<br />

do Pará. Tese <strong>de</strong> doutorado. Rio Claro: Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Filosofia, Ciências e Letras <strong>de</strong> Rio Claro.<br />

Remsen, J. V. e S. K. Robinson (1990) A classification scheme<br />

for foraging behavior of birds in terrestrial habitats, p.<br />

144-160. Em: M. L. Morrison, C. J. Ralph, J. Verner e J.<br />

R. Jehl Jr. (eds.) Avian foraging: theory, methodology,<br />

and applications. Lawrence: Cooper Ornithological<br />

Society (Studies in Avian Biology 13).<br />

Ribeiro, A. <strong>de</strong> M. (1920a) A fauna vertebrada da ilha da<br />

Trinda<strong>de</strong>. Arq. Mus. Nac. 22: 169-194.<br />

Ribeiro, A. <strong>de</strong> M. (1920b) Revisão dos psittací<strong>de</strong>os brasileiros.<br />

Rev. Mus. Paul. 12 (parte 2): 1-82.<br />

Sick, H. (1985) <strong>Ornitologia</strong> brasileira, uma introdução, v. 1.<br />

Brasília: Editora Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília.<br />

Drawings and text in figures must be large enough in<br />

the originals so that they remain legible when reduced for<br />

publication.<br />

Drawings, graphs and maps must be sent in the original<br />

files, in the program where they had been created, besi<strong>de</strong>s those<br />

attached to the text. In case of sending files by email with more<br />

than 2 MB, these must be compacted. If the manuscript is sent<br />

on compact disc, file compression is unnecessary.<br />

All material must be sent to the editor of the <strong>Revista</strong><br />

<strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>:<br />

Prof. Dr. Luís Fábio Silveira<br />

Departamento <strong>de</strong> Zoologia, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo<br />

Caixa Postal 11.461, CEP 05422-970<br />

São Paulo, SP, Brasil<br />

Tel./Fax: (# 11) 3091-7575<br />

E-mail: lfsilvei@usp.br<br />

A letter of submission must accompany the manuscript and<br />

mention the manuscript title, authors’ names, address and e-<br />

mail address of the author with whom the editor will maintain<br />

contact concerning the manuscript. Notification of receipt of<br />

the originals will be sent to the corresponding author. Once<br />

the manuscript is accepted, a PDF file will be sent by email to<br />

this author for revision. The correction of the final version sent<br />

for publication is entirely the authors’ responsibility. The first<br />

author of each published paper will receive via e-mail, free of<br />

charge, a PDF file of the published paper. Hard copy reprints<br />

may be obtained by the authors at a nominal fee. In the case of<br />

doubts as to the rules of format, please contact the editor prior<br />

to submission.<br />

Footnotes will not be accepted; additional notes, when<br />

absolutely essential, may be inclu<strong>de</strong>d after the references,<br />

with the corresponding number in the text, below the subtitle<br />

notes.<br />

Illustrations and tables. The illustrations (photographs,<br />

drawings, graphics and maps), which will be called figures,<br />

must be numbered with Arabic numerals in the or<strong>de</strong>r in which<br />

they are cited and will be inserted into the text.<br />

Tables and figures will receive in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt numbering<br />

and must appear at the end of the text, as well as all legends to<br />

the figures that must be presented on separate sheets.<br />

In the text, mentioning figures and tables must follow the<br />

pattern: “(Figure 2)” or “... in figure 2.”.<br />

Table headings must provi<strong>de</strong> a complete title, and be selfexplanatory,<br />

without needing to refer to the text.<br />

All figure legends must be grouped in numerical or<strong>de</strong>r on a<br />

separate sheet from the figures.<br />

Photographs must be in black-and-white and present the<br />

maximum clearness.<br />

In case of existing only color photographs, these could be<br />

converted to black-and-white.<br />

All of them must be scanned with 300 dpi, with minimum<br />

size of 12 x 18 cm, in grayscale, 8 bits and saved on tif or<br />

jpeg.<br />

In the drawings, graphs and maps, scales of sizes or distances<br />

must be represented by bars, not by numerical ratios.


Adrian Eisen Rupp, Cláudia Sabrine Brandt, Daniela Fink, Gregory Thom e Silva, Rudi Ricardo Laps e Carlos Eduardo Zimmermann<br />

Registros <strong>de</strong> Caprimulgiformes e a primeira ocorrência <strong>de</strong> Caprimulgus sericocaudatus (bacurau-rabo-<strong>de</strong>-seda) no Estado <strong>de</strong> Santa Catarina, Brasil.... 605-608<br />

Records of Caprimulgiforms and the first occurrence of Caprimulgus sericocaudatus (Silky-tailed Nightjar) in Santa Catarina State, Brazil.<br />

Ana Cristina Venturini e Pedro Rogerio <strong>de</strong> Paz<br />

Variação <strong>de</strong> cores da plumagem em indivíduos <strong>de</strong> Nemosia rourei com indicação <strong>de</strong> juvenis............................................................................................. 609-610<br />

Diversification of the colors in Nemosia rourei plumage with indication of young birds.<br />

Ivan Sazima<br />

Frustrated fisher: geese and tilapias spoil bait-fishing by the Green Heron (Butori<strong>de</strong>s striata) in an urban park in Southeastern Brazil............................ 611-614<br />

Pescador frustrado: gansos e tilápias prejudicam pesca com isca do socozinho (Butori<strong>de</strong>s striata) num parque urbano no su<strong>de</strong>ste do Brasil.<br />

Charles Duca and Wellington Mo<strong>de</strong>sto<br />

Spi<strong>de</strong>r web as a natural trap for small birds........................................................................................................................................................................... 615-616<br />

Teia <strong>de</strong> aranha como uma armadilha natural para aves pequenas.<br />

Ivan Sazima<br />

From carrion-eaters to bathers’ bags plun<strong>de</strong>rers: how Black Vultures (Coragyps atratus) could have found that plastic bags may contain food.............. 617-620<br />

De necrófagos a saqueadores <strong>de</strong> sacolas <strong>de</strong> banhistas: como urubus-<strong>de</strong>-cabeça-preta (Coragyps atratus) po<strong>de</strong>m ter <strong>de</strong>scoberto que sacos plásticos<br />

conteriam alimento.<br />

RESENHA<br />

Albatrosses, petrels and shearwaters of the world<br />

Caio J. Carlos.......................................................................................................................................................................................................................... 621-622<br />

CONGRESSOS<br />

2009 - Animal Behavior Society Meeting<br />

2010 - 25th International Ornithological Congress................................................................................................................................................................ 623-624<br />

NORMAS PARA PUBLICAÇÃO<br />

Instruções aos Autores............................................................................................................................................................................................................ 625-626<br />

Instrucciones a los Autores..................................................................................................................................................................................................... 627-628<br />

Instructions to Authors........................................................................................................................................................................................................... 629-630


<strong>Revista</strong><br />

<strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Ornitologia</strong><br />

Volume 15 – Número 4 – Dezembro <strong>de</strong> 2007<br />

SUMÁRIO<br />

ARTIGOS<br />

Bianca Luiza Reinert, Marcos Ricardo Bornschein e Carlos Firkowski<br />

Distribuição, tamanho populacional, hábitat e conservação do bicudinho-do-brejo Stymphalornis acutirostris Bornschein, Reinert e Teixeira, 1995<br />

(Thamnophilidae)................................................................................................................................................................................................................... 493-519<br />

Distribution, population size, habitat and conservation of the Marsh Antwren, Stymphalornis acutirostris Bornschein, Reinert e Teixeira, 1995<br />

(Thamnophilidae).<br />

Maria Antonietta Castro Pivatto, José Sabino, Silvio Favero e Ido Luiz Michels<br />

Perfil e viabilida<strong>de</strong> do turismo <strong>de</strong> observação <strong>de</strong> aves no Pantanal Sul e Planalto da Bodoquena (Mato Grosso do Sul) segundo interesse dos visitantes 520-529<br />

Profile and viability of birdwatching tourism in the South Pantanal and Bodoquena Plateau (Mato Grosso do Sul) according to visitors’ interests.<br />

Leonardo Esteves Lopes e Vívian S. Braz<br />

Aves da região <strong>de</strong> Pedro Afonso, Tocantins, Brasil............................................................................................................................................................... 530-537<br />

Birds of Pedro Afonso region, Tocantins, Brazil.<br />

Luiza Angelini Leal Domingues e Marcos Rodrigues<br />

Área <strong>de</strong> uso e aspectos da territorialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Schistochlamys ruficapillus (Thraupidae) em seu período não-reprodutivo.................................................. 538-542<br />

Areas of use and territoriality of Schistochlamys ruficapilus (Thraupidae) during its non-breeding season.<br />

Francisco Voeroes Dénes, Caio José Carlos and Luís Fábio Silveira<br />

The albatrosses of the genus Diome<strong>de</strong>a Linnaeus, 1758 (Procellariiformes: Diome<strong>de</strong>idae) in Brazil.................................................................................. 543-550<br />

Os albatrozes do gênero Diome<strong>de</strong>a Linnaeus, 1758 (Procellariiformes: Diome<strong>de</strong>idae) no Brasil.<br />

Robson Silva e Silva e Fábio Olmos<br />

A<strong>de</strong>ndas e registros significativos para a avifauna dos manguezais <strong>de</strong> Santos e Cubatão, SP.............................................................................................. 551-560<br />

New and important records from the mangroves of Santos and Cubatão, SP.<br />

Beatriz A. Ribeiro, Lucas A. Carrara, Fabrício R. Santos and Marcos Rodrigues<br />

Sex-biased help and possible facultative control over offspring sex ratio in the Rufous-fronted Thornbird, Phacellodomus rufifrons............................... 561-568<br />

Possível controle facultativo na razão sexual <strong>de</strong> ajudantes no joão-graveto, Phacellodomus rufifrons.<br />

Nadinni Oliveira <strong>de</strong> Matos Sousa e Miguel Ângelo Marini<br />

Biologia <strong>de</strong> Culicivora caudacuta (Aves: Tyrannidae) no Cerrado, Brasília, DF................................................................................................................. 569-573<br />

Life history aspects of Culicivora caudacuta (Tyrannidae) in Brazilian Central Cerrado (Brasília, DF).<br />

Alexandre Curcino, Carlos Eduardo R. <strong>de</strong> Sant’Ana e Nean<strong>de</strong>r Marcel Heming<br />

Comparação <strong>de</strong> três comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aves na região <strong>de</strong> Niquelândia, GO............................................................................................................................ 574-584<br />

Comparison of three bird communities near Niquelândia, in the state of Goias.<br />

Shayana <strong>de</strong> Jesus e Emygdio Leite <strong>de</strong> Araujo Monteiro-Filho<br />

Frugivoria por aves em Schinus terebinthifolius (Anacardiaceae) e Myrsine coriacea (Myrsinaceae)................................................................................. 585-591<br />

Frugivory by birds in Schinus terebinthifolius (Anacardiaceae) and Myrsine coriacea (Myrsinaceae).<br />

Ivan Sazima<br />

The jack-of-all-tra<strong>de</strong>s raptor: versatile foraging and wi<strong>de</strong> trophic role of the Southern Caracara (Caracara plancus) in Brazil, with comments on<br />

feeding habits of the Caracarini.............................................................................................................................................................................................. 592-597<br />

O raptor pau-para-toda-obra: forrageio versátil e ampla função trófica do caracará (Caracara plancus) no Brasil, com comentários sobre hábitos<br />

alimentares <strong>de</strong> Caracarini.<br />

NOTAS<br />

Daniel Tourem Gressler and Miguel Ângelo Marini<br />

Nest, eggs and nestling of the Collared Crescentchest Melanopareia torquata in the Cerrado region, Brazil..................................................................... 598-600<br />

Ninho, ovos e ninhego <strong>de</strong> Melanopareia torquata (Melanopareiidae) na região do Cerrado, Brasil.<br />

Túlio Dornas e Renato Torres Pinheiro<br />

Predação <strong>de</strong> Opisthocomus hoazin por Spizaetus ornatus e <strong>de</strong> Bubulcus ibis por Bubo virginianus em Tocantins, Brasil.................................................. 601-604<br />

Predation of Cattle Egret by the Great Horned Owl and Hoazin by the Ornate Hawk-Eagle in western Tocantins State, Brazil.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!