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Metalinguagem é a linguagem utilizada para falar so re outra ...

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TEORIA DA LITERATURA I<br />

AULA 04: METALINGUAGEM E INTERTEXTUALIDADE<br />

TÓPICO 01: METALINGUAGEM<br />

<strong>Meta<strong>linguagem</strong></strong> é a <strong>linguagem</strong> <strong>utilizada</strong> <strong>para</strong> <strong>falar</strong> <strong>so</strong>b<strong>re</strong> <strong>outra</strong><br />

<strong>linguagem</strong>. Ela comp<strong>re</strong>ende todo discur<strong>so</strong> acerca de uma língua. Na<br />

literatura, a meta<strong>linguagem</strong> é praticada por um crítico que investiga as<br />

<strong>re</strong>lações e estruturas p<strong>re</strong>sentes na obra literária, ou por um autor que explica<br />

seu próprio fazer literário ou de out<strong>re</strong>m.<br />

Temos, assim, basicamente dois tipos de meta<strong>linguagem</strong>: a<br />

meta<strong>linguagem</strong> linguística (definições dos dicionários, <strong>re</strong>gras gramaticais,<br />

explicações de textos etc) e a meta<strong>linguagem</strong> literária, da qual nos<br />

ocupa<strong>re</strong>mos mais detidamente aqui. Essa última ainda pode ser subdividida<br />

em meta<strong>linguagem</strong> literária ensaística (artigos e ensaios que falam <strong>so</strong>b<strong>re</strong> a<br />

literatura e <strong>so</strong>b<strong>re</strong> obras literárias) e ficcional (obras literárias que falam<br />

<strong>so</strong>b<strong>re</strong> a <strong>linguagem</strong> literária). Temos então a poesia que fala da poesia, ou a<br />

narrativa <strong>so</strong>b<strong>re</strong> a narrativa, por exemplo. São termos <strong>re</strong>lacionados:<br />

metapoema, metanarrativa, metapoesia, metarromance.<br />

OUTRA DEFINIÇÃO DE METALINGUAGEM<br />

O exemplo abaixo consiste em um texto <strong>re</strong>tirado do Dicionário<br />

Houaiss, em que o verbete METALINGUAGEM é definido, sendo<br />

portanto um texto metalinguístico, uma meta<strong>linguagem</strong> linguística.<br />

METALINGUAGEM s.f. (sXX cf. AGC) LING <strong>linguagem</strong> (natural<br />

ou formalizada) que serve <strong>para</strong> desc<strong>re</strong>ver ou <strong>falar</strong> <strong>so</strong>b<strong>re</strong> uma <strong>outra</strong><br />

<strong>linguagem</strong>, natural ou artificial [As línguas naturais podem ser us.<br />

como sua própria meta<strong>linguagem</strong>.] ETIM met(a)- + <strong>linguagem</strong>, por infl. do fr.<br />

Métalangage (1963) ‘id.’, voc. Us. por Roman Jakob<strong>so</strong>n; no fr., o voc.<br />

deve-se prov. à influência do pol. Metajezyk (1931) ‘id.’, voc.<br />

Emp<strong>re</strong>gado por Tarski; o t. foi emp<strong>re</strong>stado ao al. metasprache (1935) e<br />

ao ing. Metalanguage (1936) ‘id.’ SIN/VAR metalíngua.<br />

O ensaio que você leu na aula 2, chamado “Intenção e <strong>re</strong>cepção em<br />

Iracema, de José de Alencar”, é um exemplo de meta<strong>linguagem</strong> literária


ensaística. No ca<strong>so</strong>, temos um discur<strong>so</strong>, produto de uma pesquisa e de uma<br />

<strong>re</strong>flexão, que disserta <strong>so</strong>b<strong>re</strong> um outro discur<strong>so</strong>, o discur<strong>so</strong> literário de José de<br />

Alencar.<br />

A seguir, ap<strong>re</strong>sentamos dois poemas que falam <strong>so</strong>b<strong>re</strong> a poesia,<br />

constituindo exemplos de meta<strong>linguagem</strong> literária ficcional.<br />

VERSÃO TEXTUAL<br />

02 - Desencanto<br />

Eu faço ver<strong>so</strong>s como quem chora De desalento... de desencanto...<br />

Fecha o meu livro, se por agora Não tens motivo nenhum de pranto.<br />

Meu ver<strong>so</strong> é sangue. Volúpia ardente... Tristeza esparsa...<br />

Remor<strong>so</strong> vão... Dói-me nas veias. Amargo e quente, Cai, gota a gota,<br />

do coração.<br />

E nestes ver<strong>so</strong>s de angústia rouca Assim dos lábios a vida cor<strong>re</strong>,<br />

Deixando um ac<strong>re</strong> sabor na boca.<br />

─ Eu faço ver<strong>so</strong>s como quem mor<strong>re</strong>.<br />

(BANDEIRA, 1993, p. 43)<br />

03 -<br />

O texto ao lado ap<strong>re</strong>senta uma concepção de poesia. Para o eulírico,<br />

seus ver<strong>so</strong>s são altamente subjetivos, contêm alta dose de<br />

emoção e são fruto do <strong>so</strong>frimento do poeta.<br />

Vejamos agora um outro texto que fala <strong>so</strong>b<strong>re</strong> o fazer poético, do<br />

poeta português contemporâneo Herberto Helder.<br />

04 - O poema<br />

Um poema c<strong>re</strong>sce inseguramente na confusão da carne. Sobe<br />

ainda sem palavras, só ferocidade e gosto, talvez como sangue ou<br />

<strong>so</strong>mbra de sangue nos canais do ser.<br />

Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência ou os bagos de<br />

uva de onde nascem as raízes minúsculas do <strong>so</strong>l. Fora, os corpos<br />

genuínos e inalteráveis do nos<strong>so</strong> amor, rios, a grande paz exterior das<br />

coisas, folhas dormindo o silêncio<br />

— a hora teatral da posse.<br />

E o poema c<strong>re</strong>sce tomando tudo em seu <strong>re</strong>gaço.<br />

05 -<br />

E já nenhum poder destrói o poema. Insustentável, único, invade<br />

as casas deitadas nas noites e as luzes e as t<strong>re</strong>vas em volta da mesa e a<br />

força sustida das coisas e a <strong>re</strong>donda e liv<strong>re</strong> harmonia do mundo.<br />

— Em baixo o instrumento perplexo ignora a espinha do mistério.<br />

— E o poema faz-se contra a carne e o tempo.


(HELDER, 2004, p.28)<br />

No poema acima, Herberto Helder estabelece uma <strong>re</strong>lação ent<strong>re</strong> o<br />

poema e o mundo. Ele nasce da carne, sua origem é humana, mas à<br />

medida que se forma se<strong>para</strong>-se do mundo, com suas gêneses, suas<br />

violências, seus amo<strong>re</strong>s e elementos naturais. O poema, em sua<br />

trajetória, abarca o mundo, supera-o, torna-se infen<strong>so</strong> a seu poder,<br />

diante do olhar perplexo de seu criador, que “ignora a espinha do<br />

mistério”. O poema é imaterial e intemporal.<br />

ATIVIDADE DE PORTFÓLIO<br />

Você tem abaixo atividades <strong>re</strong>lacionadas ao assunto meta<strong>linguagem</strong>.<br />

Você deverá fazer as quatro, e enviar suas <strong>re</strong>spostas <strong>para</strong> o Portfólio do<br />

Ambiente Solar.<br />

PARA VISUALIZAR A ATIVIDADE, CLIQUE AQUI (VISITE A AULA ONLINE PARA<br />

REALIZAR DOWNLOAD DESTE ARQUIVO.)<br />

1. Leia este poema abaixo, do poeta sul-mato-grossense Manoel<br />

de Barros:<br />

De primeiro as coisas só davam aspecto<br />

Não davam ideias.<br />

A língua era incorporante.<br />

Mulhe<strong>re</strong>s não tinham caminho de criança sair<br />

Era só concha.*<br />

Depois é que fizeram o va<strong>so</strong> da mulher com uma<br />

abertura de cinco centímetros mais ou menos.<br />

(E conforme o u<strong>so</strong> aumentava.)<br />

Ao va<strong>so</strong> da mulher pas<strong>so</strong>u-se mais tarde a chamar<br />

com lítera elegância de urna con<strong>so</strong>lata.<br />

Esse nome não tinha nenhuma ciência brivante<br />

Só que se pôs a provocar incêndio a dois.<br />

Vindo ao vulgar mais tarde àquele va<strong>so</strong> se deu o<br />

nome de cona.<br />

Que, afinal de contas, não passava de concha mesmo.<br />

* Era só concha: está nas lendas em Nheengatu e Português, na<br />

Revista do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, v. 154<br />

(BARROS, 1998, p. 85)<br />

FONTES DAS IMAGENS

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