A Identidade da Mulher Negra na Obra de Rosana Paulino ... - anpap
A Identidade da Mulher Negra na Obra de Rosana Paulino ... - anpap
A Identidade da Mulher Negra na Obra de Rosana Paulino ... - anpap
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
17° Encontro Nacio<strong>na</strong>l <strong>da</strong> Associação Nacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Pesquisadores em Artes Plásticas<br />
Panorama <strong>da</strong> Pesquisa em Artes Visuais – 19 a 23 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2008 – Florianópolis<br />
A formação do artista <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> arte brasileira<br />
Seguindo os mo<strong>de</strong>los estabelecidos pelos padrões europeus, a arte<br />
brasileira formou-se também branca, masculi<strong>na</strong> e com um alto grau <strong>de</strong><br />
erudição, algo refletido não só nos artistas como também nos retratos, como<br />
salienta o crítico <strong>de</strong> arte Ta<strong>de</strong>u Chiarelli em “Arte Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l Brasileira”<br />
(1999), ao mencio<strong>na</strong>r os estereótipos presentes <strong>na</strong>s artes plásticas já nos<br />
tempos do <strong>de</strong>scobrimento <strong>da</strong>s Américas. O autor aponta para esses<br />
estereótipos que permitiam acesso a um tipo <strong>de</strong> educação artística além <strong>de</strong><br />
aspectos puramente artesa<strong>na</strong>is ao <strong>de</strong>finir a arte européia como uma “atitu<strong>de</strong><br />
mais intelectual do que operativa”, sendo elabora<strong>da</strong> por <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>do sexo,<br />
grupo étnico e econômico, algo perpetuado ao longo dos séculos. No entanto,<br />
o gran<strong>de</strong> “problema”, ao se transplantar este padrão para a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira<br />
foi <strong>de</strong>linear esse grupo específico <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Na impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se encontrar um grupo branco e <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rável<br />
po<strong>de</strong>r aquisitivo, a arte brasileira erudita <strong>na</strong>sceu sob um caráter divergente do<br />
europeu, fazendo com que a herança sofresse algumas a<strong>da</strong>ptações. Para isto,<br />
segundo Chiarelli, a arte brasileira foi dividi<strong>da</strong> em dois grupos: um próximo à<br />
produção erudita e her<strong>de</strong>iro <strong>da</strong> arte européia e outro <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong><br />
manifestações e segmentos margi<strong>na</strong>lizados socialmente, com a contribuição <strong>de</strong><br />
diversas culturas.<br />
O primeiro foi iniciado <strong>de</strong> maneira sistemática, implantado no Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro pela Aca<strong>de</strong>mia Imperial <strong>de</strong> Belas Artes, que instituiu a categoria <strong>de</strong><br />
artista e a corrente principal <strong>de</strong> arte do país, exatamente por seguir os padrões<br />
formais, ditados pela metrópole e por seus interesses. Servia aos setores<br />
oficiais <strong>da</strong> cultura local.<br />
Como o grupo vinculado à arte erudita só foi instituído no século XIX, o<br />
grupo <strong>de</strong> caráter mais popular, apesar <strong>de</strong> margi<strong>na</strong>lizado, já estava consoli<strong>da</strong>do<br />
no país e tornou-se a base <strong>da</strong> arte erudita. A ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> artística, manual<br />
exerci<strong>da</strong> por escravos ou libertos e por isto também consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> “um assunto<br />
<strong>de</strong> negros”, integrou a principal corrente <strong>da</strong> arte brasileira. Esta, apesar <strong>de</strong><br />
preten<strong>de</strong>r-se branca e masculi<strong>na</strong>, absorveu a cultura <strong>de</strong> outras cama<strong>da</strong>s (uma<br />
cultura não-domi<strong>na</strong>nte), além <strong>de</strong> ser constituí<strong>da</strong> por uma significativa<br />
participação do sexo feminino.<br />
289