20.01.2015 Views

A brasilidade verde-amarela - Fundação Casa de Rui Barbosa

A brasilidade verde-amarela - Fundação Casa de Rui Barbosa

A brasilidade verde-amarela - Fundação Casa de Rui Barbosa

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

21<br />

Consi<strong>de</strong>rações finais: a geografia nos redime...<br />

A questão da <strong>brasilida<strong>de</strong></strong> constitui um tema obrigatório no <strong>de</strong>bate mo<strong>de</strong>rnista,<br />

mobilizando indistintamente todos os intelectuais. Como enfrentar o fator diferença Como<br />

explicar a <strong>de</strong>fasagem Brasil-mundo Que lugar caberia ao nosso país no concerto das nações<br />

Ser mera projeção ou ter luz própria<br />

Se as indagações são comuns, as respostas divergem. Oswald sugere que acertemos o<br />

nosso relógio; Mário alerta para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensarmos em uma temporalida<strong>de</strong> própria,<br />

o que significa dizer que o Brasil não reproduz o tempo, mas o cria <strong>de</strong> acordo com uma nova<br />

dimensão, que é a sua. Fica patente, portanto, que a singularida<strong>de</strong> resi<strong>de</strong> no fator temporal, na<br />

<strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> um novo tempo, do nosso tempo. Mas esta idéia não é consenso. Os<br />

<strong>ver<strong>de</strong></strong>-amarelos <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m perspectiva adversa quando priorizam o espaço como fator da<br />

nossa singularida<strong>de</strong>. Interessa ao grupo resgatar o Brasil-território, do mapa e das fronteiras,<br />

das paisagens locais <strong>de</strong>limitadas pela geografia...<br />

Definem-se, portanto, duas visões antagônicas sobre a nacionalida<strong>de</strong>: a primeira, que<br />

emerge com o mo<strong>de</strong>rnismo, baseada no critério temporal e voltada para a contextualização<br />

histórica (Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>); e a segunda, baseada no critério espacial, revelando nítida<br />

preocupação com a geografia (grupo Ver<strong>de</strong>-Amarelo). Enquanto esta última mantém presente<br />

e atualiza a tradição regionalista, a corrente <strong>de</strong> Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> procura justamente romper<br />

com essa perspectiva, apresentando novos instrumentos para repensar a nacionalida<strong>de</strong>.<br />

Ao longo <strong>de</strong> três décadas a teoria da espacialização do Brasil fundamenta o projeto<br />

hegemônico dos <strong>ver<strong>de</strong></strong>-amarelos. Na década <strong>de</strong> 1920, a visão da nacionalida<strong>de</strong> que apresenta<br />

São Paulo como núcleo da <strong>brasilida<strong>de</strong></strong> chama à polêmica intelectuais paulistas e cariocas.<br />

Comparando o movimento mo<strong>de</strong>rnista com as expedições ban<strong>de</strong>irantes, os <strong>ver<strong>de</strong></strong>-amarelos<br />

argumentam que os paulistas sempre se <strong>de</strong>stacaram pelos seus i<strong>de</strong>ais vanguardistas ao se<br />

<strong>de</strong>slocarem para as outras regiões... E bem significativo o comentário que tecem ao visitarem<br />

o Rio <strong>de</strong> Janeiro: "Mais uma vez a província se adianta à metrópole." Mas o que está em jogo<br />

é o próprio projeto <strong>de</strong> hegemonia paulista. A <strong>de</strong>squalificação empreendida em relação ao Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro - província com ares <strong>de</strong> metrópole - torna-se fundamental para assegurar o lugar <strong>de</strong><br />

São Paulo no seio da nacionalida<strong>de</strong>.<br />

Além <strong>de</strong> polemizar com os intelectuais cariocas, os <strong>ver<strong>de</strong></strong>-amarelos também elegem<br />

paulistas como seus interlocutores oposicionistas através das figuras <strong>de</strong> Mário e Oswald <strong>de</strong><br />

Andra<strong>de</strong>. O confronto que se estabeleceu aqui é <strong>de</strong> outra natureza, <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> visões<br />

antagônicas sobre a nacionalida<strong>de</strong>.<br />

Através da visão geográfico-espacial é possível explicar as origens do Estado nacional<br />

(ban<strong>de</strong>irante), o ruralismo da nossa civilização (voz do Oeste), a formação do caráter nacional<br />

(São Paulo = empreen<strong>de</strong>dor/Rio = contemplativo), a história como fruto da geografia<br />

(percurso das expedições ban<strong>de</strong>irantes = percurso da <strong>brasilida<strong>de</strong></strong>) e o predomínio da natureza<br />

sobre o intelecto. Essas idéias constituem os fundamentos da idéia <strong>ver<strong>de</strong></strong>-<strong>amarela</strong> através da<br />

qual o grupo consegue impor sua hegemonia política ao longo <strong>de</strong> três décadas (do<br />

mo<strong>de</strong>rnismo ao Estado Novo). É <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse quadro que ocorre a associação entre a<br />

i<strong>de</strong>ologia ufanista e a visão geográfica. É porque a natureza tropical é um <strong>de</strong>safio que sua<br />

conquista se transforma numa epopéia a ser vivida por gigantes e heróis (ban<strong>de</strong>irantes, é<br />

claro!).<br />

Na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> linguagem primordial, é a natureza que <strong>de</strong>ve inspirar o "sentimento<br />

patriótico". Por isso a Geografia sentimental, <strong>de</strong> Plínio Salgado, dispensa a pesquisa<br />

Estudos Históricos, Rio <strong>de</strong> Janeiro, vol. 6, n. 11, 1993, p. 89-112.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!