A brasilidade verde-amarela - Fundação Casa de Rui Barbosa
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notadamente a reação ao cosmopolitismo. Acusados <strong>de</strong> fazerem uma literatura regionalista, os<br />
<strong>ver<strong>de</strong></strong>-amarelos respon<strong>de</strong>m dizendo que os acusadores é que per<strong>de</strong>ram a dimensão do nacional<br />
por estarem comprometidos com os modismos estrangeiros.<br />
Entre 1925 e 1926, os <strong>ver<strong>de</strong></strong>-amarelos rompem com os grupos Terra Roxa e Pau<br />
Brasil. Desenca<strong>de</strong>ia-se a partir <strong>de</strong> então uma verda<strong>de</strong>ira polêmica que tem como pano <strong>de</strong><br />
fundo a questão da relação regionalismo-nacionalismo. Para os <strong>ver<strong>de</strong></strong>-amarelos, as <strong>de</strong>mais<br />
correntes mo<strong>de</strong>rnistas cometem um erro fundamental: encaram o regionalismo como motivo<br />
<strong>de</strong> vergonha e <strong>de</strong> atraso. Isto acontece, segundo seu ponto <strong>de</strong> vista, porque esses intelectuais<br />
teimam em ver o Brasil "com olhos parisienses", o que leva, em <strong>de</strong>corrência, a que qualquer<br />
manifestação <strong>de</strong> <strong>brasilida<strong>de</strong></strong> seja reduzida a regionalismo. 34<br />
Para o grupo Ver<strong>de</strong>-Amarelo, o que está em primeiro plano é o culto das nossas<br />
tradições, ameaçadas pelas influências alienígenas, tornando-se, por isso, urgente a criação <strong>de</strong><br />
uma "política <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa do espírito nacional". 35 Assim, a valorização do regionalismo<br />
coloca-se como imprescindível porque possibilita "<strong>de</strong>limitar fronteiras, ambiente e língua<br />
local". E mais: só o regionalismo é capaz <strong>de</strong> dar sentido real no tempo e no espaço, já que o<br />
ritmo da terra é local. Assim, o brasileiro não <strong>de</strong>ve acompanhar o ritmo da vida universal,<br />
pois este é abstrato, genérico e exterior. A alma nacional tem um ritmo próprio que <strong>de</strong>ve ser<br />
respeitado custe o que custar. 36 É este senso extremado do localismo que marca a doutrina<br />
<strong>ver<strong>de</strong></strong>-<strong>amarela</strong>, diferenciando-a do i<strong>de</strong>ário mo<strong>de</strong>rnista.<br />
Ao apresentarem o caipirismo como elemento <strong>de</strong>finidor da <strong>brasilida<strong>de</strong></strong>, os<br />
<strong>ver<strong>de</strong></strong>-amarelos se indispõem com o grupo antropofágico e com a corrente li<strong>de</strong>rada por Mário<br />
<strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>. Criticam a filiação européia do primeiro e o intelectualismo da segunda,<br />
posicionando-se contra tudo o que não consi<strong>de</strong>ram ser genuinamente nacional. As idéias do<br />
particular, da fronteira e da guarda do primitivo passam a constituir as bases do seu<br />
nacionalismo cultural.<br />
Toda a polêmica <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ada sobre o que significa ser brasileiro <strong>de</strong>ixa clara a<br />
relevância da questão regionalista no interior do mo<strong>de</strong>rnismo, marcando bem as resistências à<br />
tentativa <strong>de</strong> re<strong>de</strong>fini-la <strong>de</strong> acordo com novos parâmetros. Apesar <strong>de</strong> o mo<strong>de</strong>rnismo não se<br />
assumir como anti-regionalista, na medida em que confere notória importância ao folclore e<br />
aos costumes das diferentes regiões culturais brasileiras, ele introduz uma nova concepção do<br />
regional, acrescentando elementos que viriam mediar a relação regionalismo-nacionalismo.<br />
Toda a polêmica <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ada sobre o que significa ser brasileiro <strong>de</strong>ixa clara a<br />
relevância da questão regionalista no interior do mo<strong>de</strong>rnismo, marcando bem as resistências à<br />
tentativa <strong>de</strong> re<strong>de</strong>fini-la <strong>de</strong> acordo com novos parâmetros. Apesar <strong>de</strong> o mo<strong>de</strong>rnismo não se<br />
assumir como anti-regionalista, na medida em que confere notória importância ao folclore e<br />
aos costumes das diferentes regiões culturais brasileiras, ele introduz uma nova concepção do<br />
regional, acrescentando elementos que viriam mediar a relação regionalismo-nacionalismo.<br />
As diferenças existentes entre as várias regiões brasileiras passam a ser vistas como<br />
partes <strong>de</strong> uma totalida<strong>de</strong> corporificada pela nação. A perspectiva <strong>de</strong> análise é extrair do<br />
singular os elementos capazes <strong>de</strong> informar o conjunto. Portanto, a visão do conjunto cultural é<br />
que <strong>de</strong>ve direcionar a pesquisa do regional. Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, um dos intelectuais mais<br />
representativos do movimento, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> com precisão essa idéia através da teoria da<br />
34 Menotti <strong>de</strong>l Picchia, "Regionalismo", Correio Paulistano, 3 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1926, e "Carta ao Dany", Correio<br />
Paulistano, 30 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1926, p. 7.<br />
35 Hélios, "Nacionalismo", Correio Paulistano, 13 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1923, p. 5<br />
36 Estas idéias são expostas por Menotti <strong>de</strong>l Picchia no artigo "Regionalismo" (ver nota 34) e por Cassiano<br />
Ricardo em "O espírito do momento e da pátria na poesia brasileira", Correio Paulistano, 24 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong><br />
1925, p. 3.<br />
Estudos Históricos, Rio <strong>de</strong> Janeiro, vol. 6, n. 11, 1993, p. 89-112.