O Povoamento Inicial do Continente Americano ... - Georeferencial
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Em que medida essa evidência negativa é uma constatação efetiva da inexistência de sítios pré-<br />
Clóvis ou estamos diante de um modelo que precisa ser revisto? Se já havia o clamor <strong>do</strong>s segmentos<br />
menos conserva<strong>do</strong>res por novos paradigmas, outras evidências que vêm surgin<strong>do</strong>, como a constatação<br />
da presença de morfologias não-mongolóides nas Américas, com antiguidade considerável, estão<br />
amplifican<strong>do</strong> as suas vozes.<br />
Dentre essas evidências, observadas em diferentes pontos da América <strong>do</strong> Norte e América <strong>do</strong><br />
Sul, destaca-se no Brasil o crânio feminino de Lagoa Santa. Descoberto em escavações feitas por A. L.<br />
Emperaire na Lapa Vermelha IV, em 1974/1975, e desde então sob a guarda <strong>do</strong> Museu Nacional /<br />
UFRJ, esse crânio apresenta características negróides, muito semelhantes às de populações<br />
australianas e africanas atuais, identificadas a partir de análises de morfologia comparada feitas por W.<br />
A. Neves e J. Powell, em 1997 (Neves, Powell & Ozolins 1999). Segun<strong>do</strong> Neves, a sua inserção<br />
cronológica em torno de 11.000 anos evidencia uma migração não-mongolóide para a América, ao<br />
final <strong>do</strong> Pleistoceno, também através <strong>do</strong> Estreito de Bering, anteceden<strong>do</strong> as levas mongolóides,<br />
ancestrais das populações indígenas americanas. A morfologia desse crânio confirma resulta<strong>do</strong>s<br />
obti<strong>do</strong>s no início da década de 1990 por Neves & Pucciareli (1991), através da análise de outros<br />
crânios paleoíndios da América <strong>do</strong> Sul. Todas essas evidências estão mostran<strong>do</strong> que o processo de<br />
colonização inicial <strong>do</strong> continente americano deve ter si<strong>do</strong> muito mais complexo <strong>do</strong> que se supunha,<br />
com a participação provável de diferentes grupos, de diferentes proveniências e em diferentes<br />
momentos.<br />
Esses resulta<strong>do</strong>s não cabem no modelo das três migrações, proposto por Turner, de tal forma<br />
que Neves vem defenden<strong>do</strong> o modelo substituto das quatro migrações, que incorpora essa leva nãomongolóide,<br />
a qual teria penetra<strong>do</strong> em território americano pouco antes das populações mongolóides.<br />
Para Neves, uma população originária da África teria alcança<strong>do</strong> o sudeste asiático, parte dela teria se<br />
desloca<strong>do</strong> para a Austrália, corresponden<strong>do</strong> aos aborígenes australianos, e outra leva teria subi<strong>do</strong> em<br />
direção ao nordeste e atravessa<strong>do</strong> Beríngia, constituin<strong>do</strong> a primeira leva de povoamento da América.<br />
A introdução de um modelo pré-Clóvis implicaria, para os segmentos não-conserva<strong>do</strong>res, o<br />
aban<strong>do</strong>no das linhas mestras da explanação tradicional e teria que contemplar, necessariamente, um<br />
cenário de colonização parcial com baixíssima densidade demográfica, estratégias de sobrevivência<br />
distintas, sem caça especializada, e registro material consideravelmente diferencia<strong>do</strong> <strong>do</strong> que vem<br />
sen<strong>do</strong> procura<strong>do</strong> e exigi<strong>do</strong>.<br />
Isto significa a procura de sítios de baixa visibilidade, resultantes de ocupações de pequenos<br />
grupos em habitats varia<strong>do</strong>s, o que torna difícil o seu reconhecimento, pelo fato de as indústrias líticas<br />
serem provavelmente não-especializadas e bastante rudimentares. Não devem ser esperadas formas<br />
padronizadas, diagnósticas; muito menos pontas de projétil, tecnologia de produção de lâminas ou<br />
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