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O Povoamento Inicial do Continente Americano ... - Georeferencial

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Em lugar de se procurar entender como e por que esse processo colonizatório foi deflagra<strong>do</strong>,<br />

todas as atenções da arqueologia americana estiveram voltadas, até recentemente, para o momento em<br />

que ele teria se inicia<strong>do</strong>, desvian<strong>do</strong> e distancian<strong>do</strong> os pesquisa<strong>do</strong>res de uma compreensão mais<br />

profunda das forças biológicas e culturais que teriam impeli<strong>do</strong> esses primeiros imigrantes para um<br />

território novo e despovoa<strong>do</strong> (ib.); da lógica que envolve uma colonização (Beaton 1991); das<br />

respostas dadas aos desafios adaptativos enfrenta<strong>do</strong>s em sua dispersão por novos ambientes; e, ainda,<br />

de uma reflexão quanto às formas pelas quais os arqueólogos vêm lidan<strong>do</strong> com seus vestígios<br />

materiais, tantos milênios depois.<br />

Essa ênfase equivocada nos aspectos cronológicos vem sustentan<strong>do</strong> o debate apenas com da<strong>do</strong>s<br />

obti<strong>do</strong>s em sítios isola<strong>do</strong>s, de tal forma que a discussão tem fica<strong>do</strong> restrita ao individualismo das<br />

ocorrências potencialmente capazes de fornecer datas mais antigas. Deste mo<strong>do</strong> fica difícil<br />

transcender descrições biográficas de sítios para responder a questões mais amplas, voltadas para a<br />

compreensão das forças envolvidas no processo <strong>do</strong> povoamento <strong>do</strong> continente. O problema vem sen<strong>do</strong><br />

discuti<strong>do</strong> mais <strong>do</strong> ponto de vista técnico que teórico, de tal forma que o debate foi reduzi<strong>do</strong> à sua<br />

feição mais pobre, quan<strong>do</strong> na verdade deveria estar volta<strong>do</strong> para os complexos processos de migração<br />

e de colonização de áreas vazias (Dillehay & Collins 1991; Dillehay & Meltzer 1991).<br />

Não se minimiza aqui nem a importância da cronologia, nem a necessidade dessas biografias,<br />

sobretu<strong>do</strong> porque grande parte <strong>do</strong> descrédito atribuí<strong>do</strong> a alguns sítios potencialmente antigos, tanto na<br />

América <strong>do</strong> Norte quanto na América <strong>do</strong> Sul, advém <strong>do</strong> fato de os acha<strong>do</strong>s estarem insuficientemente<br />

descritos, o que inviabiliza sua leitura crítica pela comunidade científica. Mas é importante que se<br />

assinale ser urgente e necessário transcender esse caráter cronológico e biográfico, para que se possa<br />

dar maior consistência e densidade à discussão <strong>do</strong> fenômeno. A ocupação <strong>do</strong> continente americano<br />

pela espécie humana é um processo fascinante, quer ele tenha 5.000 ou 50.000 anos, e uma maior ou<br />

menor antiguidade em nada diminui sua dimensão e relevância.<br />

Duas correntes opostas de pensamento se formaram em torno desse tema, debaten<strong>do</strong><br />

calorosamente a questão:<br />

• uma, conserva<strong>do</strong>ra, orto<strong>do</strong>xa e bastante coesa, admitin<strong>do</strong> a presença humana na América apenas<br />

em torno de 12.000 anos antes <strong>do</strong> presente.<br />

• outra, hetero<strong>do</strong>xa e heterogênea, entenden<strong>do</strong> que a colonização ocorreu antes disso, divergin<strong>do</strong><br />

contu<strong>do</strong> em relação ao momento em que ela teria se da<strong>do</strong>. Este segmento varia desde aqueles que<br />

admitem que há sítios potencialmente mais antigos que 12.000 anos, até alguns poucos que defendem<br />

a presença <strong>do</strong> homem no continente há mais de 100.000 anos.<br />

1 Departamento de Antropologia, Museu Nacional / UFRJ. Pesquisa<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> CNPq.<br />

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