Ranking de escolas 2007 - Público
Ranking de escolas 2007 - Público
Ranking de escolas 2007 - Público
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Público • Sexta-feira 2 Novembro <strong>2007</strong> • 17<br />
Privadas com mais <strong>de</strong> 2,5<br />
<strong>de</strong> média nas duas provas<br />
a As médias mais altas no ensino<br />
privado – uma constante, ao longo<br />
dos anos, nos resultados dos exames<br />
do secundário – são também<br />
uma realida<strong>de</strong> nas provas nacionais<br />
do 9.º ano.<br />
Os alunos das <strong>escolas</strong> particulares<br />
obtêm sempre nota média igual ou<br />
superior a 2,5 (valor que, se fosse<br />
transposto para uma pauta, seria<br />
arredonado para uma positiva <strong>de</strong><br />
3), mais alta que a do público e a<br />
média geral.<br />
No público, é a Matemática (2,08<br />
<strong>de</strong> média) que as coisas correm pior.<br />
Ainda assim – e porque a Português<br />
os alunos conseguiram 3,19 – a média<br />
dos exames às duas disciplinas supera<br />
os 2,5 (é <strong>de</strong> 2,64).<br />
O peso das provas realizadas pelos<br />
estudantes das <strong>escolas</strong> privadas,<br />
no total dos exames nacionais do<br />
ensino básico, é muito semelhante<br />
ao do secundário e ronda os 12 por<br />
cento. B.S.<br />
Em 22 básicas a nota<br />
interna fica 1 valor acima<br />
da média dos exames<br />
a A escala é <strong>de</strong> 1 a 5. Em 22 <strong>escolas</strong>,<br />
a diferença entre a nota média obtida<br />
pelos alunos na classificação dada<br />
pelos professores e a que conseguem<br />
nos exames nacionais ultrapassa o domínio<br />
das décimas e é igual ou superior<br />
a 1 valor. A disparida<strong>de</strong> mais significativa<br />
(1,36) foi registada em Sintra,<br />
na EB 2,3 Prof. Galopim <strong>de</strong> Carvalho,<br />
uma escola mal colocada no ranking<br />
(ocupa a posição 1270, num total <strong>de</strong><br />
1285) – à semelhança do que acontece<br />
com várias outras nos lugares cimeiros<br />
<strong>de</strong>sta tabela.<br />
Esta mesma escola <strong>de</strong> Sintra volta<br />
a <strong>de</strong>stacar-se por ser a única que<br />
mantém, a Português, uma diferença<br />
superior a 1 valor (1,31) entre as duas<br />
notas médias em análise.<br />
A Matemática o panorama é completamente<br />
diferente. Há 507 estabelecimentos<br />
<strong>de</strong> ensino com nota interna<br />
média 1 valor ou mais acima da<br />
obtida no exame. Duas <strong>de</strong>las, ambas<br />
em Lisboa – Colégio Nuno Álvares e<br />
Secundária com 3.º Ciclo Marquês <strong>de</strong><br />
Pombal – registam mesmo uma diferença<br />
<strong>de</strong> 2,06, na escala <strong>de</strong> 1 a 5.<br />
Ao contrário do que aconteceu com<br />
os exames do secundário, 51 <strong>escolas</strong><br />
vêem as notas médias subir no conjunto<br />
dos exames do básico.<br />
Os valores <strong>de</strong>ssa diferença nunca<br />
chegam, no entanto, a 1 valor. O mais<br />
alto (0,49) é obtido pelos alunos da EB<br />
2,3 <strong>de</strong> Telheiras n.º1, em Lisboa, e pelos<br />
da Escola Técnica Liceal Salesiana<br />
<strong>de</strong> Santo António do Estoril. B.S.<br />
O que é que faz a diferença <strong>de</strong> uma escola?<br />
Opinião<br />
João Rangel <strong>de</strong> Lima<br />
a 1. Como se chega a uma<br />
aprendizagem duradoura?<br />
Lendo Jean Piaget verificaremos<br />
que <strong>de</strong> nada serve impor um<br />
ritmo <strong>de</strong> absorção <strong>de</strong> conceitos,<br />
antes há que lançar elementos<br />
que perturbem a estrutura<br />
mental dos alunos e esperar<br />
que, pela interacção diária com<br />
esses elementos facilitada pelo<br />
professor, ela se adapte criando<br />
uma nova estrutura. Mais:<br />
cada aluno tem o seu tempo<br />
específico e <strong>de</strong> nada serve curto<br />
circuitar o processo. Não se per<strong>de</strong><br />
tempo como parece. Ganhase.<br />
Tem é que se começar logo<br />
que se inicia o jardim infantil,<br />
aos três anos. Quando se faz<br />
batota o aluno apenas <strong>de</strong>cora,<br />
não conceptualiza, e assim<br />
chega-se aos 70% <strong>de</strong> nagativas a<br />
Matemática no 9º ano?<br />
Ainda <strong>de</strong> acordo com os<br />
estudos <strong>de</strong> Piaget, na fase<br />
<strong>de</strong> operações concretas (até<br />
ao fim do 1º ciclo, início do<br />
2º ciclo) apren<strong>de</strong>-se melhor<br />
através <strong>de</strong> materiais concretos e<br />
manipuláveis fisicamente, sendo<br />
inúteis os substitutos virtuais. Daí<br />
que pouco <strong>de</strong>va acrescentar, no<br />
que aos conceitos diz respeito,<br />
o novo-riquismo tecnológico<br />
do Governo pago pelos<br />
nossos impostos (smartboards,<br />
computadores)? No “Externato<br />
As Descobertas” apren<strong>de</strong>-se antes<br />
a escrever quantida<strong>de</strong>s em várias<br />
bases <strong>de</strong> numeração utilizando<br />
somente copos <strong>de</strong> plástico e<br />
tampas <strong>de</strong> canetas.<br />
Depois, na fase das operações<br />
formais, os objectos manipuláveis<br />
não são concretos pois opera-se<br />
com proposições. Aqui há que<br />
dar aos alunos problemas para<br />
resolver. A aula magistral não faz<br />
qualquer sentido. Mais uma vez<br />
têm que ser os alunos os agentes<br />
da sua aprendizagem, pois se<br />
isso não acontecer chegarão à<br />
Universida<strong>de</strong> sem saber pensar<br />
ou como resolver um problema<br />
fora dos estandardizados.<br />
Depois <strong>de</strong> Piaget, nos<br />
anos 60, Jean Maisonneuve,<br />
psicólogo social, explicou como<br />
os elementos <strong>de</strong> um grupo<br />
interagem, produzindo mais que<br />
a soma das partes pelas sinergias<br />
criadas. A sala <strong>de</strong> aula não <strong>de</strong>ve<br />
por isso ter as carteiras todas<br />
viradas para a frente, bem pelo<br />
contrário, antes ter subgrupos<br />
<strong>de</strong> trabalho que “lutam” com os<br />
objectos que lhes são propostos<br />
para análise: um problema <strong>de</strong><br />
matemática, a <strong>de</strong>monstração<br />
dum teorema, a análise dum<br />
texto, a dissecação duma regra <strong>de</strong><br />
gramática, etc.<br />
Ou seja, as diferenças, numa<br />
sala <strong>de</strong> aula, não são problema,<br />
são parte da solução. Sempre<br />
tivemos alunos integrados nas<br />
turmas e isso nunca impediu os<br />
bons resultados. Mais: ao longo<br />
dos anos integrámos muitos<br />
<strong>de</strong>sses alunos porque a escola<br />
pública não conseguia resolver<br />
as suas dificulda<strong>de</strong>s. A tal escola<br />
pública que, segundo a ministra,<br />
não escolhe os seus alunos.<br />
Só que a integração não é<br />
infinitamente elástica. Alunos<br />
que vivam numa zona muito<br />
<strong>de</strong>gradada, que assistam<br />
diariamente a crimes, cujos<br />
pais se drogam e/ou agridam,<br />
não têm as condições mínimas<br />
para apren<strong>de</strong>r. Nesses casos,<br />
sem a acção <strong>de</strong> serviços sociais<br />
que actuam próximos das<br />
comunida<strong>de</strong>s e famílias, a escola<br />
pouco po<strong>de</strong> fazer.<br />
Entregando à escola a solução<br />
<strong>de</strong> problema eminentemente<br />
sociais, como se prepara<br />
neste momento, acarbar-seá<br />
com turmas <strong>de</strong> “filhos dos<br />
professores e amigos” e turmas<br />
<strong>de</strong> “enjeitados”. Toda literatura<br />
sobre a violência nas <strong>escolas</strong><br />
alemãs <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os anos 70 ilustra o<br />
que po<strong>de</strong> acontecer-nos.<br />
2. Para concretizar o que atrás<br />
se disse são precisos professores<br />
com uma excelente formação<br />
humanística e científica e,<br />
também, na área da psicologia<br />
do <strong>de</strong>senvolvimento. Tanto mais<br />
excelente quanto mais baixo o<br />
grai <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>vendo<br />
os educadores <strong>de</strong> infância e<br />
os professores do 1º ciclo ser<br />
muito bem pagos para atrair<br />
os melhores. Um professor<br />
primário na Irlanda ganha, no<br />
fim <strong>de</strong> carreira, 105.000€ por<br />
ano. Não ter a coragem política<br />
<strong>de</strong> lhes pagar melhor impedirá a<br />
melhoria real do ensino.<br />
Na ausência <strong>de</strong>sta formação <strong>de</strong><br />
base fazemos, nas Descobertas,<br />
tutorias aos novos professores,<br />
reuniões quinzenais para reflectir<br />
sobre o que se fez e projectar o<br />
que se vai fazer. Mas não é isso<br />
que o Ministério da Educação<br />
quer que as Escolas façam,<br />
obrigando-as antes a apresentar<br />
um plano <strong>de</strong> acção para todo o<br />
ano bem e a planificação <strong>de</strong> todas<br />
as activida<strong>de</strong>s interdisciplinares<br />
Como os planos quinquenais<br />
soviéticos, e sendo a Escola uma<br />
realida<strong>de</strong> dinâmica, estes planos<br />
são uma perda <strong>de</strong> tempo e estão<br />
sempre a ser ultrapassados.<br />
O tempo meles gasto pelos<br />
professores seria mais útil em<br />
projectos a curto e médio prazo.<br />
Fazemos também muitos<br />
testes por período. Servem<br />
para diagnosticar com o aluno<br />
o que falhou e daí partir para a<br />
terapêutica. Se esta não resulta,<br />
muda-se. Se resulta, mas os seus<br />
efeitos <strong>de</strong>moram mais do que um<br />
ano lectivo, o aluno fica retido.<br />
Acabemos pois com a paranóia <strong>de</strong><br />
que a retenção dum aluno é uma<br />
<strong>de</strong>sgraça: até po<strong>de</strong> ser benéfica.<br />
Finalmente, os pais. Eles sabem<br />
que a nossa escola é uma escola<br />
<strong>de</strong> trabalho, <strong>de</strong> muito trabalho<br />
e <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> exigência em<br />
termos <strong>de</strong> respeito entre todos<br />
(crianças e adultos). Não é uma<br />
escola sempre em festa. Inscrever<br />
os filhos nesta escola significa não<br />
pactuar com laxismo (atenção:<br />
o estatuto do aluno que aí vem<br />
será o remate final da <strong>de</strong>bacle<br />
do sistema público), significa<br />
i<strong>de</strong>ntificar-se com a nossa filosofia<br />
e não fazer conluios com os filhos.<br />
Mal estão os pais que aqui<br />
inscrevem os seus filhos porque<br />
está na moda, ou só porque<br />
fica ao pé <strong>de</strong> casa, ou porque os<br />
filhos têm que ter colegas para<br />
combinar festas.<br />
Os pais são pois fundamentais<br />
para o êxito da escola, nada se<br />
fará sem a sua colaboração, mas<br />
<strong>de</strong>ve-se <strong>de</strong>ixar sempre claro que<br />
quem manda na escola são os<br />
professores. Quem duvi<strong>de</strong> que<br />
estu<strong>de</strong> a <strong>de</strong>vastação causada nas<br />
<strong>escolas</strong> americanas pelas PTA<br />
(parents and teachers association).<br />
A “receita” é, pois, simples:<br />
conhecimento das ciências da<br />
educação, soli<strong>de</strong>z humanista e<br />
científica, método a<strong>de</strong>quado,<br />
colaboração com os pais, regras<br />
claras, trabalho, muito trabalho<br />
e…bom senso, muito bom senso.<br />
Director do Externato As Descobertas<br />
PUBLICIDADE