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Ranking de escolas 2007 - Público

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18 • Público • Sexta-feira 2 Novembro <strong>2007</strong><br />

Níveis <strong>de</strong> estudo<br />

Transição Básico com piores notas que o Secundário<br />

Resultados<br />

revelam ensino<br />

a duas<br />

velocida<strong>de</strong>s<br />

Melhores professores ten<strong>de</strong>m a fugir do ensino Básico<br />

Investigadora fala <strong>de</strong> “dinâmicas<br />

perversas das <strong>escolas</strong>”. Responsáveis<br />

das <strong>escolas</strong> apontam para diferentes<br />

motivações dos alunos<br />

Clara Viana<br />

a Estará a escolarida<strong>de</strong> obrigatória<br />

a ser vivida como um fardo pelas <strong>escolas</strong>?<br />

Embora constituam realida<strong>de</strong>s<br />

que não po<strong>de</strong>m ser directamente<br />

comparáveis, os rankings do ensino<br />

básico e secundário que hoje publicamos<br />

confirmam que algo inquietante<br />

está a ocorrer.<br />

Lucília Salgado, professora da Escola<br />

Superior <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Coimbra,<br />

já o constatara: o facto <strong>de</strong> os resultados<br />

serem piores no 3º ciclo do que<br />

no Secundário não se <strong>de</strong>ve apenas às<br />

diferenças <strong>de</strong> número, ida<strong>de</strong> e motivação<br />

dos alunos. Existem também<br />

“factores a nível da administração<br />

e das dinâmicas perversas das <strong>escolas</strong>”<br />

que ajudam a provocar aquela<br />

situação.<br />

Das <strong>de</strong>z <strong>escolas</strong> mais cotadas no<br />

Secundário, só uma não tem ensino<br />

básico, mas <strong>de</strong>sta lista só o Colégio<br />

Cedros se encontra representado entre<br />

os <strong>de</strong>z mais do Básico. Nas <strong>escolas</strong><br />

públicas a queda é mais significativa.<br />

Apenas alguns exemplos: a Filipa <strong>de</strong><br />

Lencastre, em Lisboa, que é a segunda<br />

melhor pública do secundário (a<br />

primeira não tem básico), passa <strong>de</strong><br />

um 17º lugar (em 602) no ranking<br />

<strong>de</strong>ste ciclo para o 149º (em 1285) na<br />

lista das <strong>escolas</strong> com 3º ciclo; a Pedro<br />

Nunes e a Rainha Dona Leonor, também<br />

em Lisboa, que estão entre as<br />

60 melhores <strong>escolas</strong> do secundário,<br />

foram parar no ranking do básico aos<br />

lugares 226 e 164, respectivamente,<br />

Positivas<br />

157<br />

<strong>escolas</strong> do ensino básico<br />

(cerca <strong>de</strong> 12 por cento), em<br />

1285, tiveram uma nota média<br />

igual ou superior a 3<br />

259<br />

<strong>escolas</strong> do ensino secundário<br />

(cerca <strong>de</strong> 43 por cento), em 602,<br />

tiveram uma nota média igual<br />

ou superior a 10<br />

ambas com uma média abaixo <strong>de</strong> 3,<br />

embora rasando a positiva.<br />

Existem situações mais extremas:<br />

a Manuel da Fonseca, em Santiago<br />

<strong>de</strong> Cacém, arrecadou, em simultâneo,<br />

um 23º e um 409º lugares; na<br />

escola Arquitecto Oliveira Ferreira,<br />

em Vila Nova <strong>de</strong> Gaia, a nota média<br />

no secundário foi <strong>de</strong> 10,4 (184º lugar)<br />

e a do básico ficou-se pelo 2,2 (1220º<br />

lugar).<br />

Para evitar distorções, Tiago Santos,<br />

do Centro <strong>de</strong> Investigação em Ciências<br />

Sociais e Humanas Númena,<br />

converteu os níveis <strong>de</strong> 1 a 5 usados<br />

nas classificações do 9º ano para a<br />

escala <strong>de</strong> 0 a 20 utilizada no 12 º ano.<br />

Obtida a conversão, foram comparadas<br />

as médias dos exames <strong>de</strong> Português<br />

e Matemática do básico e do<br />

secundário, já que estas disciplinas<br />

foram as únicas sujeitas a exames no<br />

3ºciclo. Este exercício não exaustivo<br />

confirmou a disparida<strong>de</strong> maioritária<br />

a favor <strong>de</strong>ste ciclo, chegando as diferenças<br />

entre as médias até quase aos<br />

cinco valores.<br />

Ninguém quer o 3º ciclo<br />

“A nossa comparação é criticável na<br />

medida em que não são os mesmos<br />

alunos, nem é verosímil que as provas<br />

tenham a mesma dificulda<strong>de</strong>”,<br />

adverte Tiago Santos. Também<br />

Lucília Salgado é da opinião que os<br />

resultados dos dois rankings “não<br />

são realida<strong>de</strong>s comparáveis”: “O tipo<br />

<strong>de</strong> alunos não é o mesmo. Os dos<br />

secundário já ultrapassaram a gran<strong>de</strong><br />

barreira da exclusão escolar situada<br />

no final do 9º ano e início do 10º ano<br />

<strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>”.<br />

Estas ressalvas não impe<strong>de</strong>m que<br />

se espreite aquilo que se vê dos resultados<br />

dos exames nacionais no<br />

9º ano (foi o segundo ano <strong>de</strong> provas)<br />

e da divulgação dos seus resultados<br />

por <strong>escolas</strong>. E o que se observa dos<br />

rankings veio confirmar uma realida<strong>de</strong><br />

com que Lucília Salgado já se<br />

confrontara quando acompanhou<br />

o percurso escolar <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong><br />

estudantes da Região Centro.<br />

“O estudo revelou uma situação<br />

inesperada: o ano em que se verificava<br />

a percentagem mais elevada <strong>de</strong><br />

primeira reprovação (27 por cento das<br />

primeiras reprovações) situava-se no<br />

7º ano <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>, nos alunos<br />

que frequentavam a escola com 3º<br />

ciclo e secundário (antiga C+S)”.<br />

O percurso <strong>de</strong> muitos <strong>de</strong>stes alunos<br />

não apontava para este <strong>de</strong>sfecho.<br />

Antes pelo contrário “indicava possibilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> continuação com sucesso”.<br />

O que aconteceu então? Foram<br />

vítimas <strong>de</strong> um <strong>de</strong>spejo que se repete<br />

um pouco por todo o país.<br />

“Quem <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> da escola para on<strong>de</strong><br />

as crianças se dirigem após o 6º ano é<br />

a Escola EB 2,3 ( com 2º e 3º ciclo). O<br />

O que as <strong>escolas</strong> dizem<br />

Aldina Lucas, vice-presi<strong>de</strong>nte do<br />

Conselho Executivo<br />

Escola Secundária Pedro Nunes,<br />

Lisboa<br />

Vamos proce<strong>de</strong>r a uma avaliação<br />

interna. Estes resultados<br />

preocupam-nos, até porque<br />

a escola tem uma imagem a<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r. Mas <strong>de</strong> ano para ano os<br />

alunos chegam-nos cá pior. Mesmo<br />

entre os que vêm para o 10º ano,<br />

que aparecem sem saber ler. E<br />

<strong>de</strong>pois vem a série <strong>de</strong> atestados.<br />

São apresentados como disléxicos,<br />

como disgráficos... Eu ponho-os a<br />

corrigir os erros 10, 20 vezes e eles<br />

apren<strong>de</strong>m.<br />

(média Secundário – 11,37, 60ºlugar,<br />

média Básico – 2,92, 226º lugar)<br />

Filipe Fino, presi<strong>de</strong>nte do<br />

Conselho Executivo<br />

Escola Secundária Manuel da<br />

Fonseca, Santiago do Cacém<br />

Este ano reuniram-se diversas<br />

condições favoráveis para<br />

que tivéssemos um excelente<br />

resultado nos exames do<br />

secundário, turmas com um<br />

número equilibrado <strong>de</strong> alunos,<br />

que estavam na escola <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

7.º ano, participação activa dos<br />

encarregados <strong>de</strong> educação e<br />

critério que toca a gran<strong>de</strong> parte dos<br />

alunos é o <strong>de</strong> “comportamento e<br />

aproveitamento”. Assim, os estudantes<br />

mais “<strong>de</strong>satinados” são enviados<br />

para Escola C+S, sem apelo nem agravo<br />

uma vez que a vonta<strong>de</strong> dos pais,<br />

na maior parte dos casos, nem sequer<br />

é atendida. Temos, então, na C+S, os<br />

ainda um forte investimento da<br />

escola. No que diz respeito ao<br />

ensino básico, das duas turmas<br />

que realizaram exames uma<br />

teve extremas dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

aprendizagem, em que os alunos<br />

pouco ou nenhum apoio familiar<br />

tinham e quando isto acontece<br />

a escola pouco po<strong>de</strong> fazer. Se<br />

em duas turmas uma tem um<br />

aproveitamento extremamente<br />

baixo a estatística não perdoa.<br />

(média Secundário —12, 29º lugar;<br />

média Básico — 2,7, 409ºlugar)<br />

Manuela Esperança, presi<strong>de</strong>nte<br />

do Conselho Executivo<br />

Escola Secundária Virgílio<br />

Ferreira, Lisboa<br />

Os alunos do Secundário estão<br />

mais <strong>de</strong>terminados em conseguir<br />

boas notas, já existe uma cultura<br />

<strong>de</strong> exames e a pressão é superior,<br />

porque os resultados po<strong>de</strong>m ser<br />

<strong>de</strong>terminantes para o ingresso no<br />

Superior.<br />

No ensino básico é preciso ainda<br />

gastar muito tempo na aquisição<br />

<strong>de</strong> regras e competências sociais<br />

pelos alunos.<br />

( média Secundário — 12, 01, 28º<br />

lugar, média Básico – 3,05, 135º<br />

lugar)<br />

estudantes mais <strong>de</strong>satinados a serem<br />

juntos nas mesmas turmas”.<br />

“É explosivo”, mas não é tudo. “Os<br />

professores que estão nestas <strong>escolas</strong><br />

preferem, na maior parte dos casos,<br />

leccionar no Ensino Secundário.<br />

Porque os conteúdos curriculares<br />

são mais próximos dos universitá-<br />

Clara Ledo, directora<br />

Colégio Mira Rio, Lisboa<br />

Apostamos igualmente em<br />

todos os níveis <strong>de</strong> ensino,<br />

procurando que tenham a mesma<br />

qualida<strong>de</strong>. Há uma parcela nos<br />

resultados que tem que ver com<br />

o <strong>de</strong>sempenho e características<br />

próprias <strong>de</strong> cada grupo <strong>de</strong> alunas.<br />

bem como com a dinâmica própria<br />

<strong>de</strong> cada turma.<br />

(média Secundário — 14,7, 1º lugar,<br />

média Básico— 3,31, 53º lugar)<br />

João Valsassina, director<br />

Colégio Valsassina, Lisboa<br />

Os alunos do 12º sabem que o<br />

resultado do exame conta para a<br />

sua nota <strong>de</strong> acesso à faculda<strong>de</strong>.<br />

A maior parte dos estudantes do<br />

9º já está passado quando vai a<br />

exame.<br />

Para eles é indiferente. Este ano,<br />

que foi o segundo <strong>de</strong> exames<br />

nacionais no 9º ano, já começou<br />

a verificar-se uma mudança <strong>de</strong><br />

atitu<strong>de</strong>. Mas estão-se a comparar<br />

realida<strong>de</strong>s totalmente diferentes,<br />

tanto em termos <strong>de</strong> programas<br />

escolares, como <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e<br />

empenho/motivação.<br />

(média Secundário—13,59, 6º lugar;<br />

média Básico—3,38, 44º lugar)

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