Ranking de escolas 2007 - Público
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Público • Sexta-feira 2 Novembro <strong>2007</strong> • 31<br />
Provas <strong>de</strong> Português são mais previsíveis<br />
As <strong>escolas</strong><br />
dos filhos<br />
Comentário<br />
Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Costa<br />
a Ano após ano, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />
primeira divulgação dos<br />
rankings nacionais em 2001,<br />
que se repetem os comentários,<br />
por um lado, <strong>de</strong> que o ranking<br />
é injusto porque se comparam<br />
os resultados <strong>de</strong> alunos <strong>de</strong><br />
<strong>escolas</strong> <strong>de</strong> meios menos<br />
privilegiados com alunos <strong>de</strong><br />
<strong>escolas</strong> <strong>de</strong> elites, porque estes<br />
rankings não traduzem a vida<br />
que há nas <strong>escolas</strong> ou porque<br />
há estabelecimentos <strong>de</strong> ensino<br />
com menos recursos do que<br />
outros; por outro lado, há os<br />
que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m que, apesar<br />
das limitações, estes rankings<br />
permitem avaliar o estado do<br />
ensino no país e mostrar que há<br />
<strong>escolas</strong> que fazem a diferença.<br />
Têm razão uns e outros,<br />
embora não <strong>de</strong>ixem <strong>de</strong> ser<br />
perspectivas redutoras. Isto<br />
porque a complexida<strong>de</strong> e a<br />
diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> leituras que estes<br />
resultados implicam torna-se<br />
ainda maior se acrescentarmos<br />
às limitações acima enumeradas<br />
outras variáveis que se pren<strong>de</strong>m<br />
com a especificida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada<br />
uma das disciplinas e a forma<br />
como os resultados obtidos em<br />
cada uma <strong>de</strong>las ilustram, ou não,<br />
os conhecimentos dos nossos<br />
alunos. No caso do Português,<br />
por ser não só uma disciplina<br />
<strong>de</strong> ensino mas também <strong>de</strong> um<br />
instrumento <strong>de</strong> transmissão<br />
escolar e <strong>de</strong> integração do saber,<br />
esta reflexão torna-se ainda mais<br />
premente. Assim, olhando os<br />
resultados dos exames nacionais<br />
do 9.º e do 12.º anos, po<strong>de</strong>r-seá,<br />
<strong>de</strong>sprevenidamente, afirmar<br />
que eles ilustram o sucesso<br />
dos alunos nesta disciplina e<br />
que, mesmo nos casos on<strong>de</strong> a<br />
média é ainda negativa, houve<br />
uma melhoria relativamente a<br />
anos anteriores. Tenho alguma<br />
dificulda<strong>de</strong> em acompanhar<br />
esta perspectiva e em acreditar<br />
que estes resultados possam<br />
espelhar uma evolução positiva<br />
na aprendizagem do português.<br />
Não po<strong>de</strong>mos esquecer que<br />
se trata <strong>de</strong> um ranking feito a<br />
partir <strong>de</strong> uma única prova! E<br />
que é muito difícil sabermos,<br />
quando os resultados e taxas <strong>de</strong><br />
sucesso ou insucesso mudam<br />
<strong>de</strong> um ano para o outro, se<br />
isso se po<strong>de</strong> explicar pela<br />
melhoria do <strong>de</strong>sempenho dos<br />
alunos e da escola ou se se <strong>de</strong>ve<br />
simplesmente às diferenças no<br />
conteúdo do exame <strong>de</strong> um para<br />
outro ano, com provas cada vez<br />
mais acessíveis e previsíveis.<br />
Uma outra questão a que estes<br />
números não respon<strong>de</strong>m é a <strong>de</strong><br />
saber como é que o sistema e as<br />
<strong>escolas</strong> os po<strong>de</strong>m usar enquanto<br />
quadro <strong>de</strong> bordo para pilotar o<br />
progresso do estabelecimento<br />
<strong>de</strong> ensino nos anos seguintes ou<br />
para emitir um julgamento sobre<br />
a eficácia do ensino no país.<br />
Dito <strong>de</strong> outro modo, como é<br />
que todas estas percentagens<br />
contêm informação, possível<br />
<strong>de</strong> ser trabalhada, sobre<br />
a competência dos jovens<br />
na leitura, na escrita,<br />
no conhecimento das<br />
regras ortográficas ou do<br />
funcionamento da língua? Ou,<br />
no caso do ensino secundário,<br />
que informação nos dão estes<br />
números sobre o conhecimento<br />
que o aluno português tem da<br />
literatura ou <strong>de</strong> como é que<br />
ele evi<strong>de</strong>ncia competências <strong>de</strong><br />
nível superior, nomeadamente,<br />
competências <strong>de</strong> argumentação,<br />
<strong>de</strong> imaginação ou criativida<strong>de</strong>?<br />
Efectivamente, estes números<br />
não respon<strong>de</strong>m a estas<br />
interrogações. Contudo, em<br />
vez <strong>de</strong> constituir um pretexto<br />
para maiores ou menores<br />
especulações, o ranking po<strong>de</strong>ria<br />
fornecer informação preciosa<br />
se, <strong>de</strong>smontando os números<br />
e a estatística, nos <strong>de</strong>sse um<br />
retrato das competências do<br />
aluno, referidas anteriormente,<br />
na disciplina <strong>de</strong> Português.<br />
Estaríamos, assim, em condições<br />
<strong>de</strong> dar às <strong>escolas</strong> e ao país<br />
matéria substantiva para<br />
reflexão sobre <strong>de</strong>sempenhos<br />
e para problematizar os<br />
programas <strong>de</strong> ensino, a estrutura<br />
e o conteúdo das provas <strong>de</strong><br />
avaliação.<br />
Associação <strong>de</strong> Professores <strong>de</strong><br />
Português. Mestre em Avaliação<br />
Educacional<br />
Júlia Pinheiro<br />
Apresentadora <strong>de</strong> televisão<br />
Colégio Salesiano <strong>de</strong> Lisboa<br />
34º lugar<br />
As duas filhas<br />
gémeas <strong>de</strong><br />
Júlia Pinheiro<br />
frequentam<br />
o 9º ano nos<br />
Salesianos <strong>de</strong> Lisboa. Já o filho<br />
mais velho, agora no primeiro<br />
ano <strong>de</strong> Direito, aí estudara. A<br />
apresentadora <strong>de</strong> televisão tem<br />
apenas “gran<strong>de</strong>s elogios a fazer”,<br />
tanto pelo “acompanhamento<br />
espantoso a nível humano,<br />
como curricular”. Consi<strong>de</strong>ra<br />
os rankings “meramente<br />
indicativos para quem precisa<br />
dos critérios <strong>de</strong> avaliação para<br />
a escolha” da escola dos filhos.<br />
“Como educadora interessa-me<br />
a parte humana. Os colégios<br />
não se fazem apenas nos<br />
resultados”, revela. E é, por isso,<br />
que encontra nos salesianos os<br />
meios necessários para fornecer<br />
às suas filhas as competências<br />
“intelectuais e a agilida<strong>de</strong><br />
[necessárias] na relação entre<br />
o que apren<strong>de</strong>m na escola e o<br />
mundo real”. J.P.