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A COMICIDADE NO TEATRO DE COSTUMES DE ARTUR AZEVEDO

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Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e CulturaSão Cristóvão/SE: GELIC/UFS, 03 e 04 de maio de 2012.ISSN: 2175-41281A <strong>COMICIDA<strong>DE</strong></strong> <strong>NO</strong> <strong>TEATRO</strong> <strong>DE</strong> <strong>COSTUMES</strong> <strong>DE</strong> <strong>ARTUR</strong><strong>AZEVEDO</strong>Kelly Cristina dos Santos (graduada/UFS)No século XIX, entre os intelectuais brasileiros, mediante os rumos que asociedade tomava em contato com movimentos modernizadores, havia umapreocupação constante com a construção de uma identidade nacional. A arte foiutilizada pelos artistas do momento como recurso pedagógico, as representaçõesartísticas e literárias se empenhavam então em retratar todo o contexto social.Inserido nesse período está Artur Azevedo, estudioso das artes, que se empenhou emconhecer e retratar a essência do povo brasileiro. Apesar de ter escrito crônicas,contos e textos jornalísticos foi pelo teatro que ele se encantou assumindo umcompromisso com seus espectadores, e ocupando o lugar de Martins Pena não só naAcademia Brasileira de Letras, mas também na representação social através dascomédias de costumes.A corrente teatral do século XIX estava dividida entre os dramas de casacaromânticos e as comédias realistas de costume. Esta última é a que nos interessa, elastinham por objetivo desvelar costumes considerados inadequados socialmente epromover a correção através de lições moralizadoras. Diferentemente dos dramasromânticos, essas peças tinham enredos simples, e eram recheadas de situaçõescômicas. Azevedo foi participante dessa corrente e teve presença constante no teatro.O comediógrafo escreveu para o teatro em seus diversos gêneros e foi escritortambém de crítica teatral, o seu sucesso foi alcançado através das representações dascomédias de costumes e principalmente das revistas do ano. Foi um dos homens doteatro que, segundo a crítica, nasceu para fazer o povo rir.


Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e CulturaSão Cristóvão/SE: GELIC/UFS, 03 e 04 de maio de 2012.ISSN: 2175-41282Das diversas peças escritas por Artur Azevedo escolhemos trabalhar com ODote (1906). A escolha partiu do desejo de observar as funções e os procedimentoscômicos utilizados pelo autor, e entender o efeito do risível e as críticas que a obrarecebeu. Apesar das diversas concepções sobre a comicidade, selecionamos comobase teórica para nosso estudo o trabalho realizado por Bergson (2007) no livro “ORiso”, pois este, além tratar de forma minuciosa e crítica as funções e osprocedimentos cômicos, fornece maior suporte as ideias teatrais de Azevedo e aocaráter moralizador que os temas das suas peças podem suscitar.O filósofo francês Bergson (2007), em seu livro O Riso escreve que o riso temuma função social de redirecionar o homem que se desvia do seu papel na sociedade“O riso tem significado e alcance sociais, a comicidade exprime acima de tudo certainadaptação particular da pessoa à sociedade.” (2007: 99). Com esta constatação, oautor nos permite entender que o riso exerce o papel de manter certos valores sociais,e suavizar o automatismo do corpo social. De acordo com Bergson, o cômico é obtidoquando o automatismo se instala na vida, quando deixamos de nos apresentar comomatéria viva, renovável e passamos a agir sem percepção alguma dos nossosmovimentos, inconscientes das nossas ações como se fossemos máquinas. Dessaforma, o teórico sintetiza sua tese ao escrever que o princípio básico para a produçãoda comicidade é “o mecânico sobreposto ao vivo” (2007: 28).Como já dito, acomicidade é elemento presente nas peças de Azevedo, suas peças são recheadascom os procedimentos cômicos propostos por Bergson, o autor construía cenasconduzindo de maneira natural a história e caricaturando tipos brasileiros. Vejamosna análise da peça abaixo.A peça O Dote (1906), tem uma trama simples e teve a medida certa paraagradar os expectadores, o autor soube agradar desenvolvendo um enredo semexageros inserindo personagens cômicos e outros que produziram cenas comoventes,favorecendo a produção do riso e da emoção. No núcleo da história está o advogadoÂngelo um homem fraco que não consegue controlar a esposa e seus gastos


Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e CulturaSão Cristóvão/SE: GELIC/UFS, 03 e 04 de maio de 2012.ISSN: 2175-41286o encoraja a entregar a mulher de volta para sua família e depois naturalmente dizpara ele se divorciar “Depois trataremos do divórcio” (1906, p.9). O conceito éclaramente importado, pois no Brasil só em 1977 que a lei do divórcio éregulamentada, ele se instala no texto como se fosse algo corriqueiro na época,nenhuma das personagens questiona os aspectos morais da questão do divórcio, nemdefendem com afinco a permanência do casamento, o que fica claro é que se nãoestão felizes juntos logo devem separar-se. A única que defende a manutenção docasamento é Isabel, mãe de Henriqueta, mas a sua voz é anulada pelo marido“Ludgero — Minha mulher, você não se meta onde não é chamada! Vamosembora!...” (1906, p.32).O tema do divórcio na peça é anestesiado pelos efeitos risíveis que ospersonagens caricatos produzem. Observamos que um dos elementos sustentadoresda comicidade nas obras de Azevedo é a inserção de tipos engraçados. Uma dasfiguras com caráter risível que a peça nos apresenta é Rodrigo amigo de Ângelo,extremamente racional, maior defensor da separação do casal. Ele vai ser a caricaturatípica do burguês que não gosta de assumir responsabilidades, vivendo do queherdou da família, procurando se manter sempre afastado de qualquer coisa pelaqual tenha que se responsabilizar. A atitude de fugir de quaisquer obrigações vairender as perguntas que lhe são feitas respostas divertidas, criando situaçõescômicas. Quando é questionado o porquê de não exercer a função de médico paraqual estudou responde “Porque tenho medo. A responsabilidade do médico étamanha, que me assusta. Não me considero suficientemente habilitado para curar osenfermos” (1906, p.11). Em outro diálogo travado com Ângelo quando este perguntase ele não acha que uma separação não pode resultar em escândalo ele responde:“Acho, e foi por isso que nunca me quis casar. Não gosto de dar escândalos.” (1906,p.9). Dessa forma ele também faz crítica ao casamento ao presumir que sempre acabaem divórcio.


Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e CulturaSão Cristóvão/SE: GELIC/UFS, 03 e 04 de maio de 2012.ISSN: 2175-41287É claro no texto a crítica a ostentação de um luxo que não se pode manter. Ospersonagens centrais Henriqueta e Ângelo também constituíram no texto elementosprovocadores do risível. Antes da separação, iludido quanto aos defeitos da mulher,Ângelo se desculpa pelos erros do cônjuge dizendo que ela só tem “um defeito só,um defeito de educação... aliás, corrigível.” (1906, p.6). Não percebendo que émanipulado pela esposa perdulária cede sempre aos seus caprichos, ostentando aposição de fraco e deixando a mulher o arruinar. O que observamos é que nele há umenrijecimento de caráter marcado por um comportamento masculino avaliado comoimpróprio, considerando o fato de que a sociedade é patriarcalista e o homem é a“cabeça” da casa. Toda essa situação vai gerar o que o filósofo francês Bergson (2007)rotula como desvio comportamental. O protagonista absorve certa rigidez,controlado pelas manhas da mulher e age de acordo com os interesses dela o que lhepromove uma conduta que é ridicularizada na peça. É própria de muitas comédiasde Azevedo a exposição dos vícios, o que confirma a tese do estudioso acima citado,visto que para o filósofo o cômico tem a função de revelar costumes desviados danorma estabelecida e puni-los através da ridicularização.Henriqueta é a principal contribuinte para a ridicularização de Ângelo.Apresentando características de personagem tipo, a esposa é uma mulher charmosa,inteligente, faceira que pensa somente em si mesma, ela vai orquestrando a vida domarido de maneira que ele sirva ao propósito de pagar os seus gastos dela sem nadareclamar. Porém ela também é controlada por seu vício de gastar desordenadamentena tentativa de se equiparar aos seus pares sociais. Quando o esposo resolve discutirsobre seus os gastos, ela desconversa, chora e cheia de artimanhas vai controlando aconversa de maneira que aparenta estar conduzindo um boneco sem vontades,fazendo-o pensar que está agindo por si mesmo e de livre vontade, quando naverdade está sendo guiado por cordões invisíveis manobrados por ela. A cena abaixovai mostrar como Henriqueta manobra a conversa questionando o amor do maridode forma que ele acaba cedendo aos seus caprichos, nessa mesma passagem vemos


Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e CulturaSão Cristóvão/SE: GELIC/UFS, 03 e 04 de maio de 2012.ISSN: 2175-41288também a ironização do valor que o amor tem em uma sociedade que só se preocupacom o luxo e a ostentação. Vejamos:HENRIQUETA (Chorando.) — Sei! é a situação de uma pobremulher, que foi amada e já o não é. Pelos modos, o teu amor é amoeda que mais se gasta nesta casa... e a moeda com que tenho pagoas minhas loucuras!... Confessa que o teu coração está mais vazio queo teu cofre!ANGELO — Cala-te, Henriqueta, cala-te! Não sabes o que estásdizendo! Amo-te muito, muito, e o meu amor é o mais puro, o maisnobre, o mais desinteressado, o mais cavalheiresco! Eu quiserapossuir milhões e bilhões para arrojá-los a teus pés e satisfazer assima todos os caprichos da tua fantasia! Não! não é com o meu amor quese pagam as tuas jóias e o teu luxo; se essa fosse a paga, todas as jóiasdo mundo seriam tuas; poderias ser a rainha universal da moda,porque a fonte não se estancaria jamais! Infelizmente, porém, o amornão paga senão o amor; as carruagens, os cavalos, as toaletes com quedeslumbras quem passa, provocando admiração, inveja emaledicência, são pagos a dinheiro, e o dinheiro corre de uma fontemenos inexaurível que a do amor!HENRIQUETA — Não me fales em dinheiro, Ângelo; não levantesuma nuvem negra no céu azul da nossa ventura! Já te disse, dispõedo meu dote. Não falemos mais nisso! Não percamos em discussõesodiosas o tempo, que é pouco para nos amarmos... Em vez de merepreenderes, acaricia-me: em vez de conselhos, dá-me beijos; são tãobons os teus beijos! ... (Depois de se beijarem.) Não alteremos o nossomodo de viver... Temos sido assim tão felizes!... Promete, meuÂngelo, promete que nunca mais me falarás em dinheiro...Promete...ÂNGELO — Prometo.HENRIQUETA — Jura!ÂNGELO — Juro.HENRIQUETA — Também eu te amo tanto, tanto, tanto . Não tenhono mundo senão minha mãe, meu pai e tu...ANGELO — Eu não tenho senão tu. (<strong>AZEVEDO</strong>, 1906, p.17-18).O evento exposto vai ratificar as teorias do estudioso francês quando ele nosdiz que os vícios impulsionam o automatismo e nos torna mecânicos, inconscientedas nossas ações. Bergson assinala que a “comicidade é inconsciente” (2007, p.12).Para nós que estamos observando a cena é clara a relação de controle que Henriquetatem sobre o marido, porém Ângelo é inconsciente de estar sendo usado como joguete


Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e CulturaSão Cristóvão/SE: GELIC/UFS, 03 e 04 de maio de 2012.ISSN: 2175-41289nas mãos dela, essa distração é o que vai promover o efeito risível na situação. Nãosó Ângelo, mas também sua mulher são fantoches subjugados por seus vícios, elapelo vício de consumir futilidades, ele por ser fraco e querer sempre agradar aesposa. Como exposto acima, a distração promove o ridículo e este o castigo, queservirá como lembrete para que possamos nos manter vigilantes dentro da sociedade.Henri Bergson sugere que devemos ter sempre uma postura que congregue duasforças em nosso corpo e espírito: tensão e elasticidade, para que não apresentemosnenhum desvio comportamental. O filósofo escreve “O que a vida e a sociedadeexigem de cada um de nós é uma atenção constantemente vigilante, a discernir oscontornos da situação presente.” (2007, p.13). Ao agirem como bonecos apresentaramum comportamento transgressor que promoveu um efeito do ridículo, o riso então,segundo a teoria apresentada, vai atuar com valor coercivo no intuito de realinhar oindividuo aos valores pré-estabelecidos.A crítica aos falsos valores burgueses é presente em toda história de O Dote,Ângelo não é ridicularizado apenas pela esposa, mas também perante a sociedade.Após acabarem seus recursos ele pede dinheiro emprestado a um agiota, e quando écobrado da dívida e não pode pagar recebe um novo prazo só que com juros maiores,resolve então insultar o cobrador. Lisboa, o agiota, é um tipo engraçado eaproveitador que visa apenas seus interesses comerciais, empresta a jurosexorbitantes e quando o devedor não tem o valor para pagar acrescenta mais umaporcentagem de juros de maneira exploratória. Lisboa representa a personificaçãoPortugal, o seu nome e suas ações são a caricatura da exploração a que o Brasilsofreu, quando tínhamos que pagar altos impostos, é a representação da exploraçãode Portugal, enquanto metrópole, sobre nós que mesmo já não sendo colônia éramostotalmente dependentes deles. O diálogo entre Lisboa e Ângelo é cheio de ironia ehipocrisia, o cobrador não se importa de ser insultado, lendo a conversa evisualizando a cena percebemos a situação cômica em que está o protagonista, ouseja, mais uma vez sendo manipulado por conta da sua covardia de rejeitar os


Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e CulturaSão Cristóvão/SE: GELIC/UFS, 03 e 04 de maio de 2012.ISSN: 2175-412810caprichos da esposa. Dessa vez é a ironia na fala do agiota que produz umrebaixamento no devedor.LISBOA — Meu caro doutor, quando um não quer, dois não brigam.Insulte-me à vontade.., tem licença para fazê-lo... Quando abracei ainfamante profissão de emprestar dinheiro a juros, muni-me de todaa coragem, resignação e paciência necessárias para ouvir tudo quantome quisessem dizer. O dentista é muitas vezes insultado pelo freguês,quando lhe arranca um dente, e não reage. Também eu não reajo.Pagar juros dói, e o insulto é um desabafo instintivo. Um usurário dotempo antigo zangar-se-ia; mas eu, como vê, sou usurário art-nouveau.Não ando sujo nem mal trajado... não tenho a barba por fazer... nãouso óculos escuros... não tomo rapé... visto-me no melhor alfaiate, usoos melhores perfumes, sou um elegante. (<strong>AZEVEDO</strong>, 1906, p.22).A ironia vai se configurar uma das armas com capacidade para provocar oriso que Artur Azevedo mais vai utilizar para satirizar a sociedade. Para Martins, aironia é “A mais temida das armas por parte das vítimas do riso” (1988, p. 21). Ocomportamento do agiota vai ressaltar a exploração social que visava apenas o lucro,ele vai representar a figura do malandro que se aproveita da situação limite em que ooutro se encontra. Ainda explorando o diálogo entre cobrador e devedor,percebemos a sensação nítida de arranjo mecânico que ela nos dá, nela o agiota éinsultado e rebate os insultos, cheio de charme, completando as falas de Ângelo demaneira que nos faz lembrar uma brincadeira de gato e rato, na qual Lisboa é o gatoe Ângelo é o rato sem sorte que vive até quando o gato cansar de brincar. Bergsonpostula que “É cômica toda combinação de atos e de acontecimentos que nos dê,inseridas uma na outra, a ilusão de vida e a sensação nítida de arranjo mecânico”(2007, p. 51). Vejamos no excerto abaixo como Lisboa apenas se diverte completandoas falas de Ângelo:ÂNGELO (Indo a secretária.) — Repito: você é um ladrão...LISBOA — Refinado!ÃNGELO (Tomando a pena.) — Um salteador...LISBOA — De estrada!ÂNGELO (Assinando.) — Uma pústula...


Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e CulturaSão Cristóvão/SE: GELIC/UFS, 03 e 04 de maio de 2012.ISSN: 2175-412811LISBOA — Social!ÂNGELO — Toma bandido! Que é do outro título?LISBOA — Cá está. (Trocamos títulos. Ângelo examina o que recebe erasga-o.)ÂNGELO — Agora, rua!LISBOA — Meu caro doutor, sempre às ordens de Vossa Senhoria.(Azevedo, 1906, p.23).Dominando a palavra escrita Azevedo criava tipos engraçados ao escrevermarcando a variação linguística, impondo valores através da ridicularização. No casoespecífico do ex-escravo a princípio entendemos que a sua fala singular na obra erapara promover o riso, mas após uma melhor análise entendemos que a fala naverdade é carregada de emoção, não abrindo espaço para o riso. Martins escreve que“esse Pai João da comédia é um elemento catalisador das relações dos que o cercam,personagem carregada de profundo humanitarismo, cujas atitudes pungentes levamà comoção o espectador atento.” (1988, p. 165). Pai João cuida de seu “siô”, após aseparação do mesmo, embalando uma canção que relembra os sofrimentos dosnegros e promove a emoção:PAI JOÃO (cantando.) — Pleto -mina quando zemeNo zemido ninguém clêOs palente vai dizendoQue não tem do que zemê.Pleto-mina quando çolaNinguém sabe ploque é.Os palente vai dizendoQue cicote é que ele quéPleto -mina quando moleE começa aplodecê,Os palente vai dizendoQue ulubú tem que comê. (<strong>AZEVEDO</strong>, 1906, p. 33).Fora fatores externos, como a presença do presidente do país estar presentena primeira encenação, o triunfo de O Dote aconteceu, segundo Neves (2006), peloenredo bem estruturado que equilibra emoção e comicidade. De acordo com as


Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e CulturaSão Cristóvão/SE: GELIC/UFS, 03 e 04 de maio de 2012.ISSN: 2175-412812teorias cômicas pudemos depreender que o uso da comicidade no teatro foi como apercebida por Bergson, como agente repressor das máscaras dos costumes. Na peçaem questão percebemos que a comicidade está empregada nos tipos bemrelacionados, e há um jogo entre emoção e o risível. Conforme o filósofo francês “acomicidade exige enfim algo como uma anestesia momentânea do coração” (2007,p.4), esse postulado é interessante, pois na peça comoção e riso não estãonecessariamente na mesma cena, para que um apareça é necessário que o outro nãoesteja, dessa forma o efeito cômico é atenuado pela emoção.Como homem que viveu da pena Azevedo soube manusear caricaturas, oseu teatro sem dúvida foi “o teatro do riso”, um riso moralizador que ratifica a teoriacômica proposta por Bergson. Através das nossas análises percebemos que o autorfez bastante uso dos procedimentos cômicos para se comunicar com a sociedade, eleincorporou mensagens moralistas nos enredos das suas peças na intenção de corrigircostumes. Em ambas as obras são ridicularizados determinados aspectos da vidasocial dos personagens, condutas morais são postas em cena para, através do viéscômico, serem exploradas e causar o riso, riso este que atuará como castigo para ocomportamento humano desviado do ideal proposto socialmente.REFERÊNCIAS<strong>AZEVEDO</strong>, Artur. O Dote. Disponível em:http://www.nead.unama.br/site/bibdigital/ pdf/ oliteraria/574.pdf. Acesso em16/09/2011.BERGSON. Henri. O riso: ensaio sobre a significação da comicidade. 2. ed. SãoPaulo: Martins Fontes,2007.MARTINS. Antonio. Artur Azevedo: a palavra e o riso. São Paulo: Perspectiva, 1988.NEVES, Larissa de Oliveira. As comédias de Artur Azevedo: em busca da história.Campinas, SP: [s.n.], 2006. Disponível em:http://cutter.unicamp.br/document/?code= vtls000385870. Acesso em 14/06/2011

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