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Catálogo Patrimônio Cultural do Espírito Santo - Arquitetura - Secult

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GOVERNO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTOPaulo Cesar Hartung GomesGoverna<strong>do</strong>rRicar<strong>do</strong> de Rezende FerraçoVice-governa<strong>do</strong>rSECRETARIA DE ESTADO DA CULTURADayse Maria Oslegher LemosSecretáriaAnna Luzia Lemos SaiterSubsecretária de Patrimônio <strong>Cultural</strong>Valdir Castiglioni FilhoGerente de Memória e PatrimônioCONSELHO ESTADUAL DE CULTURACria<strong>do</strong> pela lei delegada nº 06 de 09/11/1967Reestrutura<strong>do</strong> pela Lei complementar nº 421 de 04/12/2007


GOVERNO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTOSecretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura | Conselho Estadual de Cultura | Vitória, Espírito <strong>Santo</strong>, 2009


Renata Hermanny de AlmeidaIntrodução e TextoMariana Biancucci Apolinário BarbosaJoão Marcos Charpinel BorgesLilian de Oliveira LocatelliPesquisa DocumentalBens Tomba<strong>do</strong>s pelo CECJaqueline Pugnal da SilvaPesquisa DocumentalBens Tomba<strong>do</strong>s pelo IPHANAlair CaliariFotografiasFernan<strong>do</strong> AchiaméRevisão TécnicaEdison ArcanjoProjeto GráficoLuara MonteiroÍcaro GavazzaAssistente de DesignPaulo Sérgio de SouzaEdição de FotografiaAlcione DiasChristiane GimenesLuciano VentorimLuiz FurlaneSérgio BlankColaboraçãoBiblioteca Pública <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>Catalogação na FonteGráfica RONAImpressãoFotos Conjunto urbano Araguaia p.18,Moinho de milho p. 19,Igreja <strong>do</strong>s Reis Magos e Igreja da Conceição p. 21,Porto Rio Santa Maria da Vitória eFerrovia Leopoldina Railway p. 22,Fazenda <strong>do</strong> Centro e Igreja Luterana p. 23,Rio Santa Maria da Vitória p. 24,Caixa d’água e Estação de Matildee Theatro Carlos Gomes p. 25,Pintura teto da Capela da Conceição p. 29são de Renata Hermanny de Almeida;Foto Palácio Domingos Martins da p. 25e p. 514 é de Luiz Furlane;Fotos p. 133 em cima à direita e p. 148em cima à esquerda são de Rodrigo Zotelli;Fotos p. 132 e 133 em baixo à direita são da <strong>Secult</strong>.Bens Tomba<strong>do</strong>s pelo IPHAN


Lugares <strong>do</strong> TempoPaulo HartungGoverna<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>“Onde estão o passa<strong>do</strong> e o futuro, se é que existem?”, perguntou <strong>Santo</strong>Agostinho, na encruzilhada da problematização <strong>do</strong> que seria o tempo. Um <strong>do</strong>smais conheci<strong>do</strong>s <strong>do</strong>utores da Igreja, Agostinho concluiu que a conceituação<strong>do</strong> tempo é das mais difíceis, apesar de to<strong>do</strong>s saberem o que é.Em verdade, por experiência, sabemos o que é o tempo, ou pelo menos temosimpressões <strong>do</strong> que seja. Afinal, este ente invisível da nossa cultura é implacável emsua concretude, materializan<strong>do</strong>-se em ponteiros, rugas, nascimentos, mortes,projetos... E como também dá as caras no campo das percepções simbólicas,ainda se revela em recordações, <strong>do</strong>res, alegrias, angústias, esperanças...O que este livro, que temos a satisfação de apresentar aos capixabas, busca fazeré oferecer aos estudiosos, pesquisa<strong>do</strong>res e leitores em geral um retrato <strong>do</strong> tempoque passou nas terras capixabas. Feições <strong>do</strong> tempo fixa<strong>do</strong> em casas, palácios,edifícios, conjuntos urbanos, pontes, escolas, igrejas, estações ferroviárias eoutros tantos sinais das eras vividas pelos que nos precederam.Sinaliza<strong>do</strong>r <strong>do</strong> futuro, o tempo também deixa vestígios <strong>do</strong> que foram os diaspor ele concedi<strong>do</strong>s e agenda<strong>do</strong>s. Preservadas as suas marcas, ele coloca opassa<strong>do</strong> na pauta <strong>do</strong> presente, que, juntos, combinam o horizonte <strong>do</strong>s temposnovos. A viabilizar tal interface esta memória, pois, no jogo da lembrança e <strong>do</strong>esquecimento, as marcas <strong>do</strong> tempo dizem presente ou ausentam-se, asilan<strong>do</strong>seno ostracismo ou extinguin<strong>do</strong>-se pelas mãos da ignorância e <strong>do</strong> descaso.Em nossa luta humana por <strong>do</strong>minar o tempo, perdemos quase todas. Masdescobrimos que a valorização das lembranças, se não pode fazê-lo parar,pelo menos possibilita a preservação de suas obras. Descobrimos mais: aoenxergar o passa<strong>do</strong>, e dele extrair lições, visualizar conexões, anotar causase consequências, aprendemos que podemos, em alguma medida, <strong>do</strong>mar o


futuro. Afinal, o nosso presente é o futuro <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>. O hoje diz muito <strong>do</strong>que fomos e se olharmos nossos passos até aqui e refletirmos sobre a caminhadaque empreendemos, podemos desenhar, na imensidão <strong>do</strong> tempo, um caminhohistórico, e não-natural ou involuntário, na direção de outros futuros.O Governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong> tem no olhar sobre o tempo um deseus pontos estratégicos. Busca aprender com o passa<strong>do</strong>, pensar o presente,planejar o futuro. O lançamento da série Patrimônio <strong>Cultural</strong> <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>, cujo volume inicial trata <strong>do</strong>s bens imóveis tomba<strong>do</strong>s, é um esforço depreservação das marcas <strong>do</strong>s tempos que nos trouxeram até aqui. É uma mostra<strong>do</strong> valor que damos à memória como um agente propulsor da história queestamos escreven<strong>do</strong>. A restauração <strong>do</strong> Palácio Anchieta, que vamos abrirà visitação, e o revigoramento de museus são outros exemplos. Mas como apromoção <strong>do</strong> esquecimento sempre foi uma tática da <strong>do</strong>minação e mesmo denaturalização da História, que seria presidida pelo destino e pelo acaso e nãopela decisão <strong>do</strong>s homens, ainda há muito o que fazer.Nas páginas seguintes, temos verdadeiros “lugares de memória” <strong>do</strong> ser capixaba.Nossas razões, emoções, aparências, gostos, desgostos, crenças, descrenças,enfim, nosso jeito de existir tem sua matriz nestes que foram os espaços da vidano Espírito <strong>Santo</strong> de antes. Infelizmente, por descaso, omissão e até mesmoem função da fragilidade das construções erguidas num tempo de tímidaprodução econômica, <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> só restam alguns lugares. E é para que elesnão desapareçam de vez que nos lançamos em empreendimentos como estapublicação.Aqui estão retratos de obras que, ao nos oferecer vestígios da nossa identidade,ajudam-nos a tomar consciência da nossa caminhada, auxiliam-nos a saber oque somos – nossas fortalezas, nossas fragilidades, nossas aptidões e vocações.


E se o passa<strong>do</strong> escreveu o futuro que vivemos, nada melhor que nos aproximarmos<strong>do</strong>s seus monumentos para nos conhecer cada vez mais e, assim, nostornarmos cada vez mais fortes e prepara<strong>do</strong>s para escrever um futuro sempremais digno, justo, fraterno e igualitário – um futuro <strong>do</strong> nosso melhor jeitocapixaba de ser.“Onde estão o passa<strong>do</strong> e o futuro, se é que existem?”, iniciamos, perguntan<strong>do</strong>juntamente com <strong>Santo</strong> Agostinho. Como se poderá verificar a seguir, epelo pouco que refletimos nos parágrafos anteriores, podemos nos arriscara responder que eles estão nas marcas e vestígios deixa<strong>do</strong>s pelo tempo. Nosnossos lugares de memória, fontes de aprendiza<strong>do</strong>s, emoções e verdades sobreo que fomos, somos e podemos ser.


Passa<strong>do</strong> vivoO lançamento <strong>do</strong> primeiro volume da coleção Patrimônio <strong>Cultural</strong> <strong>do</strong>Espírito <strong>Santo</strong> marca um momento importante da gestão pública na área dacultura na atual administração. Uma das tarefas, às quais temos nos dedica<strong>do</strong>com muito empenho, refere-se à recuperação de obras históricas e à memóriade fatos e pessoas, cuja atuação tenha contribuí<strong>do</strong> decisivamente para a nossaformação como unidade política e como comunidade cultural. Com essafinalidade publicamos recentemente as obras Viagem de D. Pedro II ao Espírito<strong>Santo</strong> de Levy Rocha e História <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong> de José Teixeira deOliveira, em parceria com a Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Educação.Dayse Maria Oslegher LemosSecretária de Esta<strong>do</strong> da CulturaO presente volume, de uma série de quatro, contém to<strong>do</strong>s os bensimóveis tomba<strong>do</strong>s pelo Esta<strong>do</strong> e pela União existentes no Espírito <strong>Santo</strong>. Osoutros três terão como tema os bens naturais, os bens móveis e as tradiçõespopulares, respectivamente. Aqui veremos igrejas e palácios, casarios ecasarões, estações e ruínas, fazendas e fachadas, calçadas e alpendres, quemostram a diversidade étnica e cultural presentes na construção <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong>Espírito <strong>Santo</strong>. Influências européias e afro-brasileiras se manifestam em nossaconcepção de espaço, manten<strong>do</strong> vivas em nossa arquitetura as variadas origensque ao longo de nossa história foram compon<strong>do</strong> o povo espírito-santense. DaEstação de Matilde em Alfre<strong>do</strong> Chaves à Casa Lambert em Santa Teresa; <strong>do</strong>snúcleos históricos de São Mateus, Santa Leopoldina e São Pedro de Itabapoanaao Palácio Anchieta em Vitória vamos montan<strong>do</strong>, como em um quebracabeça,a cara <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, a partir <strong>do</strong>s vestígios das várias comunidadeshumanas que fizeram dessa parte <strong>do</strong> país a sua terra e a sua moradia.Nessa coleção separamos o material <strong>do</strong> imaterial, o móvel <strong>do</strong> imóvel,o natural <strong>do</strong> edifica<strong>do</strong> apenas como necessidade didática, pois sabemos que asedificações, os espaços públicos e as comunidades vão se forman<strong>do</strong> pela açãosimultânea de inúmeros atores sociais, tanto por aqueles que as concebeme as constroem, como por aqueles que as utilizam. Afinal, na dinâmica davida to<strong>do</strong>s participam ativamente da construção de seu significa<strong>do</strong> e de suaimportância social. Por isso, o patrimônio cultural pertence a to<strong>do</strong>s e to<strong>do</strong>s


nos orgulhamos dele. Queremos fazê-lo ainda mais conheci<strong>do</strong> para que to<strong>do</strong>stenham interesse em preservá-lo e em assumi-lo como seu. Queremos divulgáloe torná-lo acessível através dessa publicação.As novas concepções de salvaguarda <strong>do</strong> patrimônio cultural são estabelecidasa partir da ação integrada de diferentes políticas públicas que envolvemturismo, meio ambiente, desenvolvimento urbano e educação, por exemplo.São abordagens transversais mais compatíveis ao mun<strong>do</strong> globaliza<strong>do</strong>, no qualpre<strong>do</strong>minam as convivências interculturais, as relações e trocas virtuais e osmúltiplos pertencimentos. Desse mo<strong>do</strong>, uma das tarefas públicas mais complexase dispendiosas é a revitalização <strong>do</strong>s sítios e edificações históricas. Umamissão difícil, mas necessária e urgente face à ação natural <strong>do</strong> tempo e à rapidezcom que mudam hábitos e costumes nesse nosso mun<strong>do</strong> informatiza<strong>do</strong>. Apreservação <strong>do</strong> patrimônio histórico edifica<strong>do</strong> não é somente uma obrigaçãodas secretarias de cultura, mas uma ação de governo que exige o envolvimentopermanente de to<strong>do</strong>s, setor público e sociedade civil. Nesse senti<strong>do</strong>, o ConselhoEstadual de Cultura e o Instituto <strong>do</strong> Patrimônio Histórico e ArtísticoNacional – IPHAN têm desempenha<strong>do</strong> um papel fundamental para a implementaçãodas políticas de preservação <strong>do</strong> nosso patrimônio cultural.É com orgulho que passamos então às mãos <strong>do</strong> leitor o primeiro volume dacoleção Patrimônio <strong>Cultural</strong> <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong> para que identifiquemos nelea nossa história, o nosso passa<strong>do</strong> vivo e as infinitas possibilidades <strong>do</strong> presentee <strong>do</strong> futuro.


Sumário17 Introdução32 Alegre33 Escola de Primeiro Grau Professor Lélis36 Alfre<strong>do</strong> Chaves37 Estação Ferroviária de Matilde42 Anchieta43 Igreja e Residência de NossaSenhora da Assunção54 Aracruz55 Casa de Câmara e Cadeia57 Igreja Católica de Santa Cruz60 Cachoeiro de Itapemirim61 Igreja Nosso Senhor <strong>do</strong>s Passos67 Palácio Bernardino Monteiro70 Castelo71 Fazenda <strong>do</strong> Centro77 Igreja de Nossa Senhora da Penha80 Domingos Martins81 Casa da Cultura de Domingos Martins87 Igreja Evangélica de Confissão Luterana90 Fundão91 Casarão da Família Agostini94 Guarapari95 Igreja de Nossa Senhora da Conceição101 Radium Hotel105 Ruína da Igreja de Guarapari110 Linhares111 Farol <strong>do</strong> Rio Doce116 Marataízes117 Trapiche e Palácio das Águias125 Mimoso <strong>do</strong> Sul127 Núcleo Histórico de São Pedro de Itabapoana154 Nova Venécia155 Casa de Pedra <strong>do</strong> Perletti156 Presidente Kennedy157 Igreja de Nossa Senhora das Neves


167 Santa Leopoldina168 Núcleo Histórico173 Rua <strong>do</strong> Comércio nº 1175 Rua <strong>do</strong> Comércio nº 2177 Rua <strong>do</strong> Comércio nº 3179 Rua <strong>do</strong> Comércio nº 11181 Rua <strong>do</strong> Comércio nº 13183 Rua <strong>do</strong> Comércio nºs 14,16,18 e 20185 Rua <strong>do</strong> Comércio nº 15187 Museu <strong>do</strong> Colono193 Rua <strong>do</strong> Comércio nº 24195 Rua <strong>do</strong> Comércio nº 26197 Rua <strong>do</strong> Comércio nº 27199 Rua <strong>do</strong> Comércio nº 34 e 36200 Rua <strong>do</strong> Comércio nº 43203 Rua <strong>do</strong> Comércio nº 45 e 47205 Rua <strong>do</strong> Comércio nº 51 e 53207 Rua <strong>do</strong> Comércio nº 54209 Rua <strong>do</strong> Comércio nº 55211 Rua <strong>do</strong> Comércio nº 57 e 59213 Rua <strong>do</strong> Comércio nº 58, 60 e 62217 Rua <strong>do</strong> Comércio nº 63219 Rua Bernardino Monteiro nº 14221 Rua Bernardino Monteiro nº 16223 Rua Bernardino Monteiro nº 18225 Prefeitura Municipal de Santa Leopoldina227 Rua Jerônimo Monteiro nº 8229 Rua Jerônimo Monteiro nº 10231 Rua Jerônimo Monteiro nº 16233 Rua Jerônimo Monteiro nº 43235 Rua Jerônimo Monteiro nº 59237 Rua Barão de Rio Branco, nº 10 e 26241 Rua Porfírio Furta<strong>do</strong>, s/n243 Igreja <strong>do</strong> Tirol247 Casa Paroquial <strong>do</strong> Tirol249 Casarão Holanda I251 Casarão Holanda II255 Casarão em Luxemburgo261 Fazenda Bela Vista263 Fazenda da Fumaça266 Casarão Regência I269 Casarão Regência II


272 Santa Teresa273 Capela de Nossa Senhora da Conceição279 Residência Virgílio Lambert289 Residência Augusto Ruschi293 São Mateus295 Núcleo Histórico <strong>do</strong> Porto de São Mateus306 Serra307 Capela de São João Batista313 Fazenda Natividade318 Igreja e Residência de Reis Magos334 Ruína da Igreja de São José <strong>do</strong> Queima<strong>do</strong>338 Venda Nova <strong>do</strong> Imigrante339 Casarão da Família Scabelo344 Viana345 Igreja de Nossa Senhora da Ajuda355 Igreja de Nossa Senhora da Conceição360 Ruína da Igreja de Nossa Senhora de Belém364 Vila Velha365 Convento de Nossa Senhora da Penha379 Estação Ferroviária Pedro Nolasco - Museu Vale387 Igreja de Nossa Senhora <strong>do</strong> Rosário395 Museu Homero Massena


399 Vitória401 Arquivo Público <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>405 Capela de Nossa Senhora das Neves411 Capela de Santa Luzia419 Catedral Metropolitana de Vitória426 Chafariz da Capixaba431 Concha Acústica435 Convento <strong>do</strong> Carmo441 Escola de Artes FAFI447 Escola Maria Ortiz453 Forte São João458 Frontispício <strong>do</strong> Convento de São Francisco469 Igreja de Nossa Senhora <strong>do</strong> Rosário479 Igreja de São Gonçalo489 Imóvel à Rua Muniz Freire 43493 Jardim de Infância Ernestina Pessoa497 Merca<strong>do</strong> da Capixaba503 Museu de Arte <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong> - MAES507 Palácio Anchieta515 Palácio Domingos Martins521 Ponte Florentino Ávi<strong>do</strong>s525 Relógio da Praça Oito de Setembro529 Residências à Rua José Marcelino532 Ruínas <strong>do</strong> Palácio Nestor Gomes537 Solar MonJardim545 Theatro Carlos Gomes


17A Salvaguarda <strong>do</strong>s Bens Patrimoniaise a Tessitura de TerritorialidadesSócio-Espaço-TemporaisO conjunto de bens constituintes <strong>do</strong> Patrimônio <strong>Cultural</strong> <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong> 1apresenta<strong>do</strong> nesta obra não corresponde à totalidade da nossa herança. Hámuito mais. Produto de um contínuo fazer e refazer, construir e reconstruir,plantar e replantar; expressão de projetos, sonhos, idealizações e interessesdiversos, o território espírito-santense é uma paisagem de acontecimentos. 2 De suacondição original, pre<strong>do</strong>minantemente natural, onde circulavam, em nômadeexperiência, os aimorés, os tupinambás, os botocu<strong>do</strong>s, pouco, ou quase nada,pode-se reconhecer.Renata Hermanny de AlmeidaArquiteta e urbanistaTransformada pelo contínuo agir humano, ao ser encoberta por camadas desubstratos produzi<strong>do</strong>s pelas sedimentações milenares; ampliada por aterrossobre águas de mar; reconfigurada por terraplenagem, exploração mineral,atividade agrícola, instalações portuárias; conectada por sendas, trilhas,caminhos de ferro e de chão; a natureza se fez espaço. Transformada pelastécnicas, a natureza se fez uma antropológica paisagem. Uma rugosa paisagem,para ser interpretada com a razão, munida <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s e fatos objetivos, enem sempre assertivos, representa<strong>do</strong>s pela História; mas, também, para serpercebida com os senti<strong>do</strong>s, conduzi<strong>do</strong>s pela matéria móvel, instável e sempreem construção da Memória.Por isso, pela larga escala temporal que nos afasta de seu “nascer” histórico;pelo impossível reconhecimento <strong>do</strong> cenário “original” vislumbra<strong>do</strong> pelo<strong>do</strong>mestica<strong>do</strong> olhar ocidental de vertente europeia; pela inexistência de<strong>do</strong>cumentação totalmente abrangente e segura; os objetos preserva<strong>do</strong>s e aquiapresenta<strong>do</strong>s merecem um olhar interessa<strong>do</strong> e aberto. Um olhar movi<strong>do</strong> poruma intuitiva razão.Convento da PenhaVila VelhaAtento e emociona<strong>do</strong>, o folhear das páginas seguintes pode conduzir aterritórios ergui<strong>do</strong>s em sítios sistemática e rigorosamente escolhi<strong>do</strong>s; podepermitir penetrar no interior de corre<strong>do</strong>res, naves e capelas, terreiros de café,pensa<strong>do</strong>s para abrigar homens e produtos; pode movimentar um olhar sobre


curvas, relevos, molduras, frisos; pode aprofundar o tatear sobre camadas decoberturas, de pisos, de calçadas; pode alongar o percepto, além de janelas eterraços, varandas e alpendres, e ligar o corpo ao território.As sensações e percepções despertas pelo denso e diverso espaço geográficoe histórico <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, não pelas mesmas motivações e valorações,podem, então, ser igualmente constituintes de uma produtiva consciênciaindividual e coletiva. Elas podem representar a diferença entre a inclusãoe a exclusão, a destruição e a proteção, a articulação local e a exploraçãovertical.Reis Magose território envolventeNova AlmeidaSustentada pelas conexões históricas e artísticas, sociais e tecnológicas, aconsciência se faz envolvente e comprometida quan<strong>do</strong> constituída pelacomplexa e múltipla rede memorial, quan<strong>do</strong> conduzida pela espessura denossa duração interna. Com ela, é possível estabelecer passagens entre olugar e o mun<strong>do</strong>, operar conexões entre a diferença e a identidade, articular opassa<strong>do</strong> ao presente e ao futuro. Ser duração.Mas, é preciso relembrar, nem tu<strong>do</strong> o que foi produzi<strong>do</strong>, construí<strong>do</strong>,imagina<strong>do</strong> e manifesto foi preserva<strong>do</strong>. Nem tu<strong>do</strong> resistiu às transformaçõesassociadas às mutações tecnológicas, econômicas e sociais promovidas noterritório da capitania <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong> a partir de 1535. Como um sistema deações e objetos, 3 o espaço é antes de tu<strong>do</strong> o produto de decisões e valores muitodiferencia<strong>do</strong>s.Além <strong>do</strong> mais, até a terceira década <strong>do</strong> século XX, no Brasil, a consciência <strong>do</strong>valor <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> resultou em uma desigual negociação entre a modernizaçãoe a conservação das cidades. A valorização da novidade conduzia a açãotransforma<strong>do</strong>ra. No Espírito <strong>Santo</strong>, esse tempo é ainda mais longo.Instaurada na década de 1960, a proteção <strong>do</strong> patrimônio histórico e artístico 4se “materializa” no tombamento <strong>do</strong> Sítio Histórico <strong>do</strong> Porto de São Mateus,em 1976.Expressa no ato <strong>do</strong> tombamento 5 de bens imóveis ergui<strong>do</strong>s no Espírito <strong>Santo</strong>,a ação preservacionista <strong>do</strong> Instituto <strong>do</strong> Patrimônio Histórico e ArtísticoNacional – IPHAN e <strong>do</strong> Conselho Estadual de Cultura – CEC deve ser reconhecidacomo a versão institucionalizada da conservação da nossa herançapatrimonial. Particularmente um produto <strong>do</strong> olhar técnico, por sua vez <strong>do</strong>minantementeobjetivo e relativamente convergente, as inscrições <strong>do</strong>s imóveisnos livros <strong>do</strong> tombo 6 revelam uma face da nossa História. Ainda assim, assignificações são diversas.Convento da Penhae território envolventeVila VelhaNúcleo Histórico<strong>do</strong> Porto de São MateusSão MateusConjunto urbano de AraguaiaDomingos Martins


19Nessa perspectiva, é importante considerar a existência de um outro Patrimônio,releva<strong>do</strong> e protegi<strong>do</strong> por um outro tipo de seleção. Individual ou familiar,grupal ou comunitária, sua particularidade está em ser a representação deuma voluntária escolha, conduzida por ações e experiências concretas e imanentementerelacionadas a práticas sociais, econômicas, culturais, religiosas,entre outras. Nessa condição, em geral, o objeto da proteção é signo e sinal ainterpelar a memória de quem faz a eleição.Expressão de muitos outros olhares, esses “outros” bens são salvos da destruiçãopor meio de uma ação invisível, cotidiana, promovida por pequenosgestos; nem sempre deliberada. Destituída <strong>do</strong> filtro racionaliza<strong>do</strong> <strong>do</strong> conhecimentoobjetivo, ela é movida pela afecção despertada pela matéria ao coração<strong>do</strong>s homens. Um tipo de relação essencialmente constituída e constituinte <strong>do</strong>nosso Ser, sem a qual perderíamos a capacidade de nos reconhecer espacial etemporalmente, sobretu<strong>do</strong>, mas também, socialmente. Sem a qual não saberíamosquem somos.Moinho de milhoFazenda ScabeloVenda Nova <strong>do</strong> ImigranteConvergentes, as duas seleções podem impulsionar o reconhecimento <strong>do</strong> territóriopor meio de uma participação social ativa. Essa perspectiva apresentaconsideráveis positividades, pois potencializa uma ampla e diversificada interpretaçãodas significações <strong>do</strong> Patrimônio. Simbólicos e culturais, econômicose sociais, históricos e artísticos, em conjunto ou parcialmente, os valoresaderi<strong>do</strong>s ao Patrimônio implicam diferentes interesses e comprometimentos.Contu<strong>do</strong>, diversos, eles devem ter em comum a salvaguarda da herança a nóslegada pelos que nos precederam.Além <strong>do</strong> mais, a seleção institucionalizada não implica, por princípio, o comprometimentocom o zelo, a manutenção, a proteção por parte <strong>do</strong>s usuários,proprietários ou mora<strong>do</strong>res; da mesma maneira, ela não pressupõe o envolvimento<strong>do</strong>s indivíduos ou grupos no momento das definições seguintes, condiçãoque fará efetivamente toda a diferença entre a sobrevivência e a destruição,a lembrança e o esquecimento. Pois, ainda que a sociedade reconheça nosbens patrimoniais <strong>do</strong>cumentos históricos, políticos, econômicos, religiosos;identifique as particularidades construtivas e artísticas impregnadas na materialidadefísica; e apreenda o transcorrer temporal, é preciso zelar, fazerfuncionar, cuidar para que as paredes se mantenham erguidas, que as telhassejam substituídas antes das infiltrações, que as esquadrias sejam reparadas erepintadas continuamente.Igreja <strong>do</strong> RosárioVitóriaPorque toda herança é uma produção “objetiva” daquele que nos precedeu,às vezes solitário, em sua maioria pertencente a um grupo, a uma tribo, a uma


comunidade; conhecer as motivações, especialmente, pode fazer a diferençaentre se conectar ou não com o da<strong>do</strong> objetivo. Sim, porque para além <strong>do</strong>objeto, o importante é a motivação.Analisada desde o campo <strong>do</strong>s valores, a narrativa discursiva emergente <strong>do</strong>sconjuntos urbanos, edifícios, pontes, farol, estações ferroviárias, escolas,palácios, teatro, mas também igrejas e seu acervo, pintura e imaginária, revelaum patrimônio como um conjunto de objetos, mas, acima de tu<strong>do</strong>, comouma trama de significa<strong>do</strong>s sociais e culturais, tão relevantes quanto as basesmateriais e tecnológicas, as expressões e linguagens artísticas herdadas aolongo da história.Conhecer cada um <strong>do</strong>s sítios históricos <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong> pode significarmergulhar no passa<strong>do</strong> onde se revelam sonhos, esperanças, desafios. Materializa<strong>do</strong>se sustenta<strong>do</strong>s em pedra, barro, cal, tijolo, madeira, ferro, vidro,eles são pontos luminosos. Conecta<strong>do</strong>s, não permitem uma compreensãototalizante. Justapostos, não configuram uma temporalidade histórica contínua.Sobrepostos, não conformam uma estratigrafia de escrita espaço-temporalcoerente. Não. Há muita lacuna, muita ruptura, muita descontinuidade.Como a configuração social e econômica <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, <strong>do</strong>minada peladiferença, o teci<strong>do</strong> histórico e geográfico resultante da acumulação de açõese experiências é fragmenta<strong>do</strong>. Mas, luminosos, cada um deles possibilita umremontar de partes de um híbri<strong>do</strong> quebra-cabeça.E a diferença não se relaciona à duração histórica, não está representadaem maior ou menor apuro artístico ou tecnológico. Apesar de ser possívelreconhecer diferenciações, no final, a preciosidade de cada um advém de umaunidade potencialmente articulada pelos acontecimentos, pelos personagensenvolvi<strong>do</strong>s, pelas localizações territoriais, pelas manifestações tecnológicas.Num percurso delinea<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong>s assentamentos humanos, <strong>do</strong>s núcleosde povoamento e ocupação <strong>do</strong> território, encontramos a primeira vila dacapitania, a vila <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, a vila de Nossa Senhora da Vitória, e osaldeamentos jesuíticos. Data<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XVI, com a exceção da primeiravila, foram to<strong>do</strong>s ergui<strong>do</strong>s em sítios muitos semelhantes geograficamente.Em to<strong>do</strong>s eles, os homens são religiosos severos e persistentes. Destemi<strong>do</strong>s,acima de tu<strong>do</strong>. Pois, vencer o estranho e desconheci<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> natural <strong>do</strong>strópicos, e erguer, com o mínimo de meios e materiais, residências e igrejas,para nelas reunir numa mesma língua o habitante nativo, é obra das maisimpressionantes.


21Nossa Senhora da Conceição, São João, Nossa Senhora da Assunção e ReisMagos, as aldeias, foram sistematicamente posicionadas ao longo da costaatlântica, entre os rios Santa Cruz, ao norte, e Benevente, ao sul. Logo depois,vieram as fazendas. Muribeca e Araçatiba: ga<strong>do</strong> e açúcar para abastecer oColégio e a Residência de São Tiago de Vitória e as demais residências. Oeleva<strong>do</strong> recinto, sempre emoldura<strong>do</strong> por uma rochosa linha de fun<strong>do</strong>, deviapossibilitar fácil chegada e penetração no território. Era preciso chegar aonômade habitante original. E como souberam escolher os religiosos! Contrao verde e o azul, como vigias, podiam ver e ser vistos à distância.Num percurso delinea<strong>do</strong> pelo “mun<strong>do</strong> humano”, o território <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong> é teci<strong>do</strong> pela ação, devotada e destemida, de homens como os padresjesuítas Afonso Brás e Simão Gonçalves, Antônio e Manuel Dias, DiogoFernandes, Pedro da Costa e Diogo Jácome, e Anchieta, o mais destaca<strong>do</strong>pela História. Entre os franciscanos, Pedro Palácios logo se fez presente navila <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, enquanto no convento de Vitória, se fixam os fradesAntônio <strong>do</strong>s Mártires e Antônio das Chagas.Além das ordens, são as irmandades e confrarias as mais importantesassociações religiosas e sociais <strong>do</strong>s primeiros três séculos. Nominadas segun<strong>do</strong>as santas e os santos invoca<strong>do</strong>s, Misericórdia, Nossa Senhora <strong>do</strong>s Remédios,Nossa Senhora <strong>do</strong> Rosário, Nossa Senhora da Boa Morte e Assunção, SãoBenedito; elas representaram o primeiro espaço de socialização e expressãode negros escravos e libertos, homens livres e humildes, como Manoel <strong>do</strong>sRemédios e Maturino, Domingos <strong>do</strong> Rosário, os libertos João Moreira daMota, e Elias de Abreu. Entre os numerosos indígenas, <strong>do</strong>is irmãos datribo temiminó, Maracaiaguaçu ou Gato Grande e Cão Grande, foram osresponsáveis pela fundação <strong>do</strong>s aldeamentos de Nossa Senhora da Conceiçãoda Serra e de Guarapari, respectivamente.Igreja <strong>do</strong>s Reis Magose território envolventeNova AlmeidaIgreja <strong>do</strong> RosárioVila VelhaIgreja da ConceiçãoGuarapari


Em um desvio, podemos conectar uma outra ação, menos simbólica e maispragmática, uma versão laica <strong>do</strong> empreendimento <strong>do</strong>s três primeiros séculos.Amplia<strong>do</strong> ao longo <strong>do</strong>s séculos XVII e XVIII com a extensão da ocupaçãoainda junto à linha da costa, na direção sul, e de sua fronteira “interior”promovida com a fundação <strong>do</strong> núcleo de São Mateus ao norte, o território étotalmente reconfigura<strong>do</strong> ao longo de to<strong>do</strong> o século XIX.A ação, iniciada ainda nas primeiras décadas <strong>do</strong> Oitocentos, com a fundação deSão Pedro <strong>do</strong> Itabapoana, se intensifica com a política imperial de colonização,por meio da imigração, da segunda metade desse século. Associada ao esforçode conexão nacional e regional, por meio da abertura de estradas de ferro, nofinal <strong>do</strong> século a produção de café, em grandes e pequenas propriedades, éinicialmente comercializada por portos situa<strong>do</strong>s junto à foz <strong>do</strong>s rios, entre osquais Itapemirim, Benevente, e Santa Maria da Vitória.Nesse momento, a fundação <strong>do</strong>s assentamentos humanos se concentra aolongo de uma linha interior, entre as colônias de Santa Teresa, na regiãocentro-norte, Santa Leopoldina, na região central, e Domingos Martins naregião centro-sul. Anterior, a colônia de Viana, fundada em 1814, marcao início da política de colonização em terras interiores da capitania <strong>do</strong>Espírito <strong>Santo</strong>.Impulsiona<strong>do</strong>s pela produção cafeeira, esses núcleos de povoamento setornam os principais espaços da segunda territorialidade sócio-espaçotemporal<strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>. Diferencia<strong>do</strong>s em sua composição étnica esocial, essencialmente comerciais, esses centros de “urbanidade” concentramriqueza. Escoada pelos caminhos fluviais, em um primeiro momento, e porferrovias e estradas de rodagem posteriormente, a produção cafeeira sustentaa mutação social, econômica e política desse século. Além <strong>do</strong>s núcleos depovoamento, as fazendas de café são os registros mais contundentes dessemomento. Lugar da produção, elas se tornam espaço de um instável amálgamacultural, onde participam escravos africanos, proprietários luso-brasileiros eimigrantes europeus.Em Santa Leopoldina, entre as fazendas, arquitetura rural de feição lusobrasileira,as mais antigas são robustas, pequenas, de vãos menores e esquadriasem madeira em folhas duplas. Diferente, a mais nova delas, Holanda II,apresenta esquadrias em caixilho de vidro colori<strong>do</strong>, claraboia, jardim lateral,entre outros elementos indicativos da atualização de sistemas e materiaisconstrutivos.Trapiche, rio ItapemirimMarataízesPorto, rio Santa Maria da VitóriaSanta LeopoldinaFerrovia Leopoldina RailwayAlfre<strong>do</strong> ChavesFazenda Regência ISanta Leopoldina


23Em Castelo, a Fazenda <strong>do</strong> Centro é remanescente <strong>do</strong>s mais preciosos.Erguida e ampliada em várias fases, além de importante <strong>do</strong>cumento técnicoconstrutivo,é casa de fazenda destacada por uma impressionante caixilhariade fechamento <strong>do</strong> avaranda<strong>do</strong> <strong>do</strong> piso superior.Em Santa Teresa e em Domingos Martins, o percurso nos leva a conhecercinco imóveis, <strong>do</strong>is religiosos e três residenciais, to<strong>do</strong>s com história marcadapor homens e mulheres em ação. Os irmãos Antônio e Virgilio Lambert, nacidade de colonização italiana, queriam fabricar a seda e para isso trouxeramcasulos de sua terra de origem. Na cidade de colonização alemã, o pastorHeinrich Eger, os colonos Nicolau Wilibrot Simmer e Maria Agnes Haar,queriam fazer erguer e chegar à igreja os sinos de harmônicas badaladas. Alémdeles, já no século XX, João Ricar<strong>do</strong> Hermann Schorling, é o artesão <strong>do</strong> relógioda igreja luterana e <strong>do</strong> relógio da Praça Oito de Setembro, em Vitória.Erguida por homens estimula<strong>do</strong>s pela visão da liberdade, a igreja de SãoJosé, da vila <strong>do</strong> Queima<strong>do</strong>, um pequenino aglomera<strong>do</strong> funda<strong>do</strong> no séculoXIX na margem esquerda <strong>do</strong> rio Santa Maria da Vitória, tem seu passa<strong>do</strong>vincula<strong>do</strong> ao mais importante movimento insurrecional da província <strong>do</strong>Espírito <strong>Santo</strong>, protagoniza<strong>do</strong> por Chico Prego, João da “Viúva Monteiro”,Elisiário e Carlos.Solitário, contu<strong>do</strong>, será o ato de bravura de Bernar<strong>do</strong> José <strong>do</strong>s <strong>Santo</strong>s, oCaboclo Bernar<strong>do</strong>, que saiu diretamente de Regência, em Linhares, para serhomenagea<strong>do</strong> pela princesa Isabel. Sua vida, esquecida, se liga à movimentadanavegação <strong>do</strong> rio Doce, e à importância da pequena vila litorânea nasinalização das embarcações de passagem pela região, possibilitada pelo farol,nela ergui<strong>do</strong>. O desbravamento <strong>do</strong> território norte, ao longo <strong>do</strong> rio Doce,encontrou bravos indígenas, defensores de sua terra. Entre eles, os botocu<strong>do</strong>s,os mais combativos, serão dizima<strong>do</strong>s na primeira metade <strong>do</strong> século XX.Voltan<strong>do</strong> pelas cidades, no percurso de norte a sul, encontramos os três sítiosurbanos tomba<strong>do</strong>s pelo Conselho Estadual de Cultura: São Mateus, SantaLeopoldina, e São Pedro <strong>do</strong> Itabapoana. Interessante observar uma conjunçãoentre as datas de tombamento no Espírito <strong>Santo</strong>, e a ampliação cronológicade abrangência <strong>do</strong> campo patrimonial. O primeiro conjunto, o Núcleo Históricode São Mateus, é o mais “colonial” <strong>do</strong>s três. Considera<strong>do</strong> uma das cidades maisantigas <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, e núcleo regional até o início da segunda metade <strong>do</strong> séculoXX, o sítio original da cidade de São Mateus é o produto de uma fundaçãotipicamente luso-brasileira: junto ao rio Cricaré, desenvolve-se segun<strong>do</strong> aFazenda <strong>do</strong> CentroCasteloIgreja LuteranaInterior da torre sineiraDomingos MartinsFarolLinharesPorto de São MateusSão Mateus


urbanística tradicional, a partir de duas áreas distintas, configura<strong>do</strong>ras deuma cidade alta e outra cidade baixa. Desde então, a transformação pode serconsiderada o processo caracteriza<strong>do</strong>r da configuração <strong>do</strong> núcleo colonial.Ainda assim, a larga escala de sua duração temporal está presente em marcasde sutis e frágeis imanências como o traça<strong>do</strong> de ruas, o largo <strong>do</strong> pelourinho,a parede da falésia que separa o rio <strong>do</strong> planalto.O segun<strong>do</strong>, o Conjunto de Edificações de Santa Leopoldina, localiza<strong>do</strong> na sede<strong>do</strong> município, é típico núcleo urbano produzi<strong>do</strong> pelo segun<strong>do</strong> momento deocupação <strong>do</strong> território espírito-santense, a segunda metade <strong>do</strong> século XIX:a colonização europeia em torno da cultura <strong>do</strong> café. Na Santa Leopoldinaurbana, são os alemães, adapta<strong>do</strong>s e acultura<strong>do</strong>s, os construtores de umaarquitetura muito mais portuguesa <strong>do</strong> que germânica. Assim mesmo, emsua diversidade, essa está <strong>do</strong>minada pelo “mo<strong>do</strong> colonial” de erguer cidades:sobra<strong>do</strong>s justapostos segun<strong>do</strong> o alinhamento das vias, pre<strong>do</strong>minantemente<strong>do</strong>mina<strong>do</strong>s pela regularidade e singeleza de seus detalhes. Quan<strong>do</strong> se destacamdesse quadro, as edificações são resulta<strong>do</strong>s de adaptações modernizantes,como a inserção de platibandas e a<strong>do</strong>rnos de inspiração historicista.O terceiro e último tombamento de conjunto, abrange edificações <strong>do</strong> NúcleoHistórico de São Pedro <strong>do</strong> Itabapoana, situa<strong>do</strong> no município de Mimoso <strong>do</strong> Sul.Sua localização próxima às divisas com o Rio de Janeiro e Minas Gerais foium fator decisivo no surgimento e na função econômica desempenhada pelafreguesia de São Pedro de Alcântara de Itabapoana. Origina<strong>do</strong> <strong>do</strong> primeirofluxo migratório ocorri<strong>do</strong> no sul <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong> em torno <strong>do</strong> cultivo <strong>do</strong>café, São Pedro <strong>do</strong> Itabapoana talvez seja o sítio urbano, no Espírito <strong>Santo</strong>,onde os traços urbanísticos e arquiteturais brasileiros, de influência mineira efluminense, foram mais integralmente conserva<strong>do</strong>s.O território geográfico, determinante das configurações urbanas, em geralestá marca<strong>do</strong> pelas diferenças topográficas, pela presença impactante deafloramentos rochosos e sua vegetação arbórea, e cursos de água fluvial. Osrios, importantes canais de deslocamento humano e transporte de merca<strong>do</strong>rias,e um <strong>do</strong>s principais personagens físicos de nossa longa história, nos fascinamao delinearem longos panoramas curvilíneos; ao conduzir nossa imaginaçãoatravés <strong>do</strong> tempo. Em suas margens, se localizaram preferencialmente aldeias,vilas e fazendas; sobre eles ergueram-se pontes.Em passagem por Vitória, uma delas, a ponte Florentino Ávi<strong>do</strong>s, é um elementoinfraestrutural herda<strong>do</strong> <strong>do</strong> processo econômico e político empreendi<strong>do</strong> apartir da República, de consolidação da capital-cidade-porto exporta<strong>do</strong>r, emRua <strong>do</strong> ComércioSanta LeopoldinaNúcleo históricode São Pedro <strong>do</strong> ItabapoanaMimoso <strong>do</strong> SulRio Santa Maria da VitóriaSanta LeopoldinaPonte Florentino Avi<strong>do</strong>sVitória


25um território de localizações e dimensões cada vez mais amplas e complexas.Atravessar a baía de Vitória sobre esse metálico “objeto” pode significarrealizar um passeio emociona<strong>do</strong> pelas marés <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>. 7 Além da belíssimapaisagem aquosa <strong>do</strong> entorno, ela nos leva às estações Pedro Nolasco, emVila Velha, e Matilde, em Alfre<strong>do</strong> Chaves. As conexões são econômicas etecnológicas.Na capital, Vitória, ponte, estação e porto sustentam a mais ampla remodelaçãoda paisagem antrópica herdada <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> colonial. Conquistadas em nomede sua primeira sociedade propriamente urbana, a higiene, a beleza, e a fluidezse transmutam em estruturas arquitetônicas e urbanísticas representadasem linguagem especialmente referenciada na tradição clássica e nos novosestilemas de inspiração romântico-culturalista.Assim, o caminhar pelas ruas <strong>do</strong> Centro de Vitória é experimentação decontundente simultaneidade temporal, espacializada em ruas, praças, edifíciosda Cidade-Presépio. 8 As edificações, produtos de investimentos públicos,espelham a modernização da capital empreendida pelos governos de MunizFreire (1892-1896 e 1900-1904), Jerônimo Monteiro (1908-1912) e FlorentinoAvi<strong>do</strong>s (1924-1928). Como obras de arquitetura, o valor a elas vincula<strong>do</strong> serefere ao âmbito da história da cidade. Mas não só. Como obras urbanas,elas constituem sínteses espaciais únicas, onde o circuito temporal se faz porluminosos pontos, mais ou menos articula<strong>do</strong>s.Num deles, da praça João Clímaco à praça da Catedral, eles são a residênciada rua Muniz Freire, a antiga Assembleia Legislativa, o Palácio Anchieta, aEscola Maria Ortiz, o Arquivo Público <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, e a CatedralMetropolitana. Descen<strong>do</strong>, chegamos ao núcleo temporal da praça CostaPereira – avenida Capixaba, onde estão o Theatro Carlos Gomes, o Museu deArte <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, a Escola de Artes FAFI e o Merca<strong>do</strong> da Capixaba.Caixa d’água eEstação de MatildeAlfre<strong>do</strong> ChavesPalácio Domingos MartinsVitóriaTheatro Carlos GomesVitóriaRecinto historicamente destina<strong>do</strong> à experiência da sociabilidade urbana decaráter social e cultural, a praça é uma atualização <strong>do</strong> largo da Conceição,onde ficava a pequena e singela capela de Nossa Senhora da Conceição, padroeira<strong>do</strong>s pesca<strong>do</strong>res ali residentes. Nele, ficava o primeiro teatro da cidade,o Melpômene.Já a avenida, a mais longa e retilínea via <strong>do</strong> Centro de Vitória, é a expressãomais contundente da transposição <strong>do</strong> modelo francês, a partir da capital federal,Rio de Janeiro. Iguala-se, assim, na ideia gera<strong>do</strong>ra de sua configuração,a tantas outras avenidas de cidades brasileiras, da mesma maneira destituídasEscola de Artes FAFIVitória


de sua imagem tradicional, de linhagem portuguesa, pelas “picaretas” moderniza<strong>do</strong>ras.Mas, ali estão, próximas, muito próximas, capela e igrejas coloniais. Vestígiospreciosos de nosso passa<strong>do</strong> mais remoto, a capela de Santa Luzia, especialmente,mas também as igrejas de Nossa Senhora <strong>do</strong> Rosário, Carmo e SãoGonçalo, guardam relíquias trazidas para fazer lembrar aos homens a fé e adevoção de sua pátria original.Sob a guarda da irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte e Assunção, asimagens de São Francisco Xavier e <strong>Santo</strong> Inácio de Loiola, <strong>do</strong> século XVII,originalmente pertencentes à igreja de São Tiago <strong>do</strong>s jesuítas de Vitória, sãode valor artístico inestimável; assim como a imagem de Nossa Senhora <strong>do</strong> Conventoda Penha, <strong>do</strong> mesmo século anterior.Também no convento <strong>do</strong>s franciscanos de Vila Velha, perto da belíssima<strong>do</strong>urada imagem de Santana, o quadro de Nossa Senhora das Alegrias, é o maisantigo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, de que se tem notícia.Detalhe <strong>do</strong> altar-mor comimagem de Nossa Senhora da PenhaConvento da PenhaVila VelhaNo entanto, o percurso pela arte escultórica e pictórica no Espírito <strong>Santo</strong>não pode prescindir de um deslocamento até Nova Almeida. Ali, o quadroA a<strong>do</strong>ração <strong>do</strong>s Reis Magos, uma erudita expressão artística de origem europeia,compõe uma obra de talha considerada a peça [escultórica] mais importantefeita no Espírito <strong>Santo</strong>: o retábulo da Igreja de Reis Magos. 9 Executa<strong>do</strong> com aparticipação de índios da região polarizada pela aldeia de Reis Magos, comseu traça<strong>do</strong> erudito, o retábulo é a revelação material mais contundenteda aculturação resultante <strong>do</strong> encontro <strong>do</strong> religioso europeu com o nativoindígena na terra da capitania <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>.No conjunto <strong>do</strong>s percursos, a coexistência temporal e social <strong>do</strong>mina aespacialidade territorial <strong>do</strong>s diferentes sítios históricos. Inicialmente na forma<strong>do</strong> edifício isola<strong>do</strong> urbano e rural, ela se amplia incorporan<strong>do</strong> ao edifício oseu entorno, constituin<strong>do</strong>, assim, o conjunto urbano até finalmente abrangero núcleo histórico e sua estrutura vital, o ambiente total.Herança de cada um de nós, o conjunto patrimonial <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong> é umadas expressões das políticas de preservação nacional e estadual. Implantada noBrasil com a criação <strong>do</strong> Serviço <strong>do</strong> Patrimônio Histórico e Artístico Nacional– SPHAN, pela Lei nº 378, de 13 de janeiro de 1937, 10 institucionalizou-se notombamento <strong>do</strong>s[...] bens imóveis cuja conservação [for considerada] de interesse público, quer porsua vinculação a fatos memoráveis da história <strong>do</strong> Brasil, quer por seu excepcionalvalor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico.Solar MonjardimVitória


27No Espírito <strong>Santo</strong>, o primeiro tombamento tem por coisa de interesse o SolarMonjardim, residência-sede de fazenda construída no século XVIII, inscrito,em 1940, no Livro <strong>do</strong> Tombo das Belas Artes. Transcorri<strong>do</strong>s três anos, sãoinscritas no Livro <strong>do</strong> Tombo Histórico, as igrejas e residências erguidas pelospadres jesuítas ao longo <strong>do</strong>s três séculos de ocupação e colonização dacapitania.Ainda na transição das décadas de 1940 para 1950, quatro tombamentos consolidama ênfase na arquitetura colonial religiosa e residencial, especialmentena primeira tipologia.Os três primeiros incidem sobre monumentos localiza<strong>do</strong>s em Vitória:em 1946, a capela de Santa Luzia e a igreja de Nossa Senhora <strong>do</strong> Rosário<strong>do</strong>s Homens Pretos; e em 1948, a igreja de Nossa Senhora da Boa Mortee Assunção, conhecida como igreja de São Gonçalo. O quarto, em 1950,protege a igreja de Nossa Senhora <strong>do</strong> Rosário, de Vila Velha.Fechan<strong>do</strong> esse “primeiro ciclo” de identificação e reconhecimento <strong>do</strong>Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no Espírito <strong>Santo</strong>, o IPHANinscreve, em 1967, também no Livro Histórico, duas residências situadas àrua José Marcelino, na Cidade Alta, Centro de Vitória, e, em 1970, a igreja deNossa Senhora da Conceição de Guarapari.Frente à ação federal, o valor da atuação <strong>do</strong> Conselho Estadual de Cultura sedeve, especialmente, por ampliar, triplamente, as escalas temporal, geográficae tipológica nas quais se inscrevem os monumentos.Após o primeiro tombamento, realiza<strong>do</strong> em 1976, <strong>do</strong> Núcleo Histórico <strong>do</strong>Porto de São Mateus, a ação estadual é retomada nos primeiros anos dadécada de 1980. Em 1983, a proteção atinge 20 imóveis isola<strong>do</strong>s e o núcleode Santa Leopoldina. Concentra<strong>do</strong>, o tombamento inclui: nove imóveis emVitória; <strong>do</strong>is em Viana; e, em Santa Leopoldina, nove imóveis e o núcleosede, constituí<strong>do</strong> por sobra<strong>do</strong>s, edifícios térreos, residenciais e comerciais,em sua maioria.Ainda na década de 1980, entre 1984 e 1987, mais 20 imóveis e um conjuntourbano, o terceiro e último, São Pedro <strong>do</strong> Itabapoana. Em conjunto, escolas,fazenda, igreja, estações ferroviárias, concha acústica, trapiche, residênciasurbanas e rurais, casa de câmara e cadeia, capela, representam expressivaampliação tipológica. Mas não só. A ampliação cronológica inclui agora <strong>do</strong>is<strong>do</strong>cumentos da arquitetura moderna no Espírito <strong>Santo</strong> da melhor qualidade:a Concha Acústica e a Escola Ernestina Pessoa, no romântico ParqueMoscoso.Residências àrua José MarcelinoVitóriaConcha AcústicaVitória


Há, também, ampliação geográfica. Os imóveis reconheci<strong>do</strong>s por tombamentose localizam nos municípios de Castelo, Cachoeiro <strong>do</strong> Itapemirim, Mimoso <strong>do</strong>Sul e Alfre<strong>do</strong> Chaves, ao sul; Domingos Martins, na região centro-sul, Viana,Vila Velha, Fundão e no distrito de Santa Cruz, na Região Metropolitana,junto com a capital; e Santa Teresa, na região centro-norte.Tomba<strong>do</strong> no ano de 1984, o Museu Homero Massena é reconhecimento deum artista que escolheu a Prainha como seu lugar no mun<strong>do</strong>. A casa, umasingela residência praiana situada em Vila Velha, é essencialmente uma “caixade joias”, protetora da expressão artística de Massena.Entre 1998 e 1999, sete bens foram tomba<strong>do</strong>s: uma casa de fazenda, umaigreja, uma ruína religiosa, um trapiche e duas residências, um hotel e um farol.O último imóvel tomba<strong>do</strong>, a Escola Professor Léllis, em Alegre, trabalhode um educa<strong>do</strong>r esqueci<strong>do</strong>, é testemunha <strong>do</strong> tempo de fazer escolas comonobres espaços da educação e formação de gerações para o porvir.No século XX, ainda foram tomba<strong>do</strong>s pelo CEC o Relógio da Praça Oito eo Clube Saldanha da Gama, em Vitória; a Casa de Pedra, em Nova Venécia,e a fazenda Natividade, na Serra. Sem proteção legal, a igreja Nossa Senhoradas Neves, em Muribeca, no município de Presidente Kennedy, aguarda ainstitucionalização <strong>do</strong> reconhecimento de seu valor.Escola de Primeiro Grau Professor LélisAlegreA tripla ampliação, tipológica, cronológica e geográfica presente na históriada política de preservação <strong>do</strong> Patrimônio Histórico, Artístico e <strong>Cultural</strong> <strong>do</strong>Espírito <strong>Santo</strong> pode ser considerada um reflexo de seu momento cultural.Existe nela uma nítida inclinação para o resgate de valores relaciona<strong>do</strong>s aosgrupos sociais em sua relação com o ambiente social e ambiental.Nessa perspectiva, se os bens tomba<strong>do</strong>s pelo IPHAN revelam a <strong>do</strong>minânciade valores relaciona<strong>do</strong>s à excepcionalidade histórica e artística, e especialmenterelaciona<strong>do</strong>s à rememoração; no conjunto patrimonial reconheci<strong>do</strong>, destaca<strong>do</strong>e legalmente preserva<strong>do</strong> pelo CEC transparece um quadro de valores liga<strong>do</strong>sao passa<strong>do</strong> e, também, valores de contemporaneidade, liga<strong>do</strong>s à qualidade dearte. Assim, é possível reconhecer na política estadual de final <strong>do</strong> século XXuma sintonia com o enfoque mundialmente dissemina<strong>do</strong> nos anos sessenta e<strong>do</strong>minante nos anos oitenta.No entanto, na legislação federal, especificamente na Constituição de 1988,


29a conceituação <strong>do</strong> patrimônio histórico e artístico indica sintonia com o discursointernacional. Segun<strong>do</strong> seu Art. 216:Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, toma<strong>do</strong>sindividualmente ou em conjunto, porta<strong>do</strong>res de referência à identidade, à ação,à memória <strong>do</strong>s diferentes grupos forma<strong>do</strong>res da sociedade brasileira. 11No Espírito <strong>Santo</strong>, a tendência em resgatar e ressaltar testemunhos históricose memoriais vincula<strong>do</strong>s à diversidade de nossa formação cultural se apresentaespecialmente <strong>do</strong>minante a partir da segunda metade <strong>do</strong>s anos 1980, e seconsolida ao longo da década seguinte. Nesse senti<strong>do</strong>, podemos verificar,na proteção de edificações “menores”, testemunhas da “pequena história”,de escala modesta, uma orientação direcionada à afirmação de gruposminoritários e homens anônimos. Por exemplo, as ruínas da igreja de SãoJosé <strong>do</strong> Queima<strong>do</strong>, na Serra; a Casa de Pedra, em Nova Venécia; a capela deNossa Senhora da Conceição e a Casa da Família Ruschi, em Santa Teresatêm sua significação vinculada não à representatividade ou à exemplaridadeda condição material, técnica e artística <strong>do</strong> que temos, mas à determinação eao envolvimento das atitudes <strong>do</strong>s que contribuíram para o que somos.Pintura teto da Capela da ConceiçãoSanta TeresaNesse senti<strong>do</strong>, instaura<strong>do</strong>s em clara sintonia com a prática conservacionistaconsagrada com a institucionalização <strong>do</strong> Patrimônio Histórico no século XIX,os suportes materiais da história <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, inscritos nos livros <strong>do</strong>tombo, são elementos baliza<strong>do</strong>res da construção de uma narrativa históricaem que a arquitetura, isolada ou em conjunto, tece o fio <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> ao futuro.Possui, portanto, em potência, o poder de nos situarmos em nosso tempo eem nosso espaço em criativa e crítica atitude.Como pensamos a cultura não como uma soma de objetos que se tem parao consumo, mas como o fruto de um trabalho por meio <strong>do</strong> qual entendemosquem somos, acreditamos em sua existência como um processo em constantetransformação. De certa maneira, isso implica um deslocamento <strong>do</strong> objetivopara a motivação, mas também, e sobretu<strong>do</strong>, uma prática balizada por umaconstante negociação entre a ruptura e a continuidade, a tradição e a novidade,o futuro e o passa<strong>do</strong>.¹² Porque precisamos, sim, nos situar no presente, mas,num presente no qual o passa<strong>do</strong> seja compreendi<strong>do</strong> não como o que É ÚTIL,mas, sim, como o que É.No princípio de novo milênio, acreditamos ser fundamental uma atualizaçãodas complexas conexões entre matéria histórica e existência individual


e coletiva. A<strong>do</strong>tan<strong>do</strong> as palavras de Pelbart, 13 precisamos tecer um territórioexistencial capaz de envolver uma humanidade de interessa<strong>do</strong>s e dispostos ase comprometer com o universal, mas, também, e principalmente, com o seulugar. Precisamos uma coletividade consciente de valores estéticos, construtivos,históricos, mas, sobretu<strong>do</strong>, precisamos uma coletividade conectada pornexos advin<strong>do</strong>s de uma ética humana.


31NOTAS1Estamos nos referin<strong>do</strong> ao conjunto patrimonial tomba<strong>do</strong> peloInstituto <strong>do</strong> Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, epelo Conselho Estadual de Cultura – CEC, da Secretaria de Esta<strong>do</strong>da Cultura <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, ao longo <strong>do</strong> século XX eprincípio <strong>do</strong> seguinte, respectivamente, entre 1940 e 2007, e entre1976 e 2007.2VIRILIO, Paul. “Advertencia de paso”, Um paisaje deacontecimientos. IN Quaderns d’Arquitectura i Urbanisme. Bucles:tiempo elástico, tiempo flexible; Loops: elastic time, flexible time.Barcelona: Collegi d’Arquitectes de Catalunya, nº 223, 1999, p. 19.3SANTOS, Milton. A natureza <strong>do</strong> espaço. Técnica e tempo. Razão eemoção. 2 ed., São Paulo: Hucitec, 1997.4A revisão <strong>do</strong>s paradigmas de progresso e desenvolvimento<strong>do</strong>minantes na era moderna, especialmente no século XX, iniciadana década de 1960, repercute, nos anos de 1980, no deslocamentoda ênfase <strong>do</strong> futuro para o passa<strong>do</strong>. No que se refere ao âmbito<strong>do</strong> conceito de bem patrimonial, a valorização das particularidadesespaciais se rebate na incorporação das dimensões da cultura, damemória e da identidade.5O tombamento “é o meio posto à disposição <strong>do</strong> Poder Públicopara a efetiva tutela <strong>do</strong> patrimônio cultural e natural <strong>do</strong> País. É pormeio <strong>do</strong> tombamento que o Poder Público cumpre a obrigaçãoconstitucional de proteger os <strong>do</strong>cumentos, as obras e os locais devalor histórico ou artístico, os monumentos e paisagens naturaisnotáveis, bem como as jazidas arqueológicas”. José Celso deMello Filho, apud Sonia Rabelo de Castro. “Como ato <strong>do</strong> PoderExecutivo”, o tombamento “tem como finalidade a imposiçãode delimitação a propriedades públicas e privadas, tornan<strong>do</strong>-astuteladas pelo poder público em virtude de seu valor cultural”.CASTRO, Sonia Rabelo de. O Esta<strong>do</strong> na preservação de bens culturais.Rio de Janeiro: Renovar, 1991, p. 5 e 93.6A inscrição <strong>do</strong>s bens no Livro <strong>do</strong> Tombo corresponde ao segun<strong>do</strong>momento, previsto pelo Decreto-lei nº 25/1937, necessário paratornar efetivo o ato administrativo <strong>do</strong> tombamento. Esse setorna definitivo com a inscrição <strong>do</strong> bem no Livro <strong>do</strong> Tombo. Noprocesso, a inscrição corresponde ao segun<strong>do</strong> momento, previstopelo Decreto-lei nº 25/1937, necessário para produção <strong>do</strong>s efeitos<strong>do</strong> ato <strong>do</strong> tombamento. O primeiro é a notificação ao proprietário<strong>do</strong> bem objeto <strong>do</strong> tombamento. CASTRO, 1991, op. cit., p. 96.Pelo IPHAN, o bem pode ser inscrito em quatro livros: Livro <strong>do</strong>Tombo Arqueológico e Etnográfico, Livro <strong>do</strong> Tombo Histórico,Livro <strong>do</strong> Tombo das Belas Artes e Livro <strong>do</strong> Tombo das ArtesAplicadas. Pelo processo estadual, também em número de quatro,eles são: Livro <strong>do</strong> Tombo Arqueológico, Etnográfico, Paisagísticoe Científico, Livro <strong>do</strong> Tombo Histórico, Livro <strong>do</strong> Tombo das BelasArtes e Livro <strong>do</strong> Tombo das Artes Aplicadas ou Decorativas.7BRAUDEL, Fernand. A Identidade da França. Espaço e história. Riode Janeiro: Globo, 1989.8Em pesquisa sobre a revelação da imagem da cidade de Vitória,Peter Ribon Monteiro investiga a validade de seu apeli<strong>do</strong> – Cidade-Presépio – cognome recebi<strong>do</strong> por Vitória, segun<strong>do</strong> esse autor,pela primeira vez, em uma crônica <strong>do</strong>s anos vinte <strong>do</strong> século XX.MONTEIRO, Peter R.. Vitória: Cidade e Presépio. Os vazios visíveis dacapital capixaba. São Paulo, 2002. Dissertação (Mestra<strong>do</strong>). Faculdadede <strong>Arquitetura</strong>, Universidade de São Paulo.9CARVALHO, José Antônio. A arte no Espírito <strong>Santo</strong> no perío<strong>do</strong>colonial – IV: pintura e escultura. IN Revista de Cultura da UniversidadeFederal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>. Nº 32, 1985, pp. 5-26.10Após a sua criação, em 1937, a instituição federal teve suaidentificação vezes alterada por várias vezes. Na última, vigente,denomina-se Instituto <strong>do</strong> Patrimônio Histórico e ArtísticoNacional – IPHAN.11Apud CASTRO, op. cit., p. 9.12BORHEIM, Gerd A. O conceito de tradição; BOSI, Alfre<strong>do</strong>.Cultura como tradição. IN BORHEIM, Gerd A., et. al. Culturabrasileira. Tradição/Contradição. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1987.13PELBART, Peter Pál. Exclusão e biopotência no coração <strong>do</strong>império. IN Seminário Internacional Estu<strong>do</strong>s Territoriais das DesigualdadesSociais: Em busca de uma topografia social das cidades. São Paulo, 16 e 17de maio de 2001, PUC/SP. Núcleo de Seguridade Social, PUC/SP: Centro de Estu<strong>do</strong>s das Desigualdades Sócio-territoriais –CEDEST.


AlegreESCOLA DE PRIMEIRO GRAU PROFESSOR LÉLISAvenida Olívio Correa Pedrosa, s/n, Centro, AlegreProteção Legal: Resolução nº 2/2000<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 190, folhas 31v e 32


33Escola de Primeiro GrauProfessor LélisPercorren<strong>do</strong> a história da cidade de Alegre, chama atençãoo interesse de seus habitantes pela cultura e, em especial,pela educação. Um envolvimento presente entreseus primeiros povoa<strong>do</strong>res, esse se estende para a esferapública municipal. Quan<strong>do</strong> Alegre se torna município,to<strong>do</strong>s os seus dirigentes, sem exceção, criam escolas públicasmunicipais e subvencionam escolas particularesem troca de vagas para alunos sem recursos. Como resulta<strong>do</strong>dessa política, em 1911, Alegre é considera<strong>do</strong> omunicípio mais alfabetiza<strong>do</strong> <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>.É nesse contexto que o advoga<strong>do</strong> e jurista, Dr. VicenteCaetano, assume a gestão de Alegre para o biênio1924-1926, inician<strong>do</strong> um perío<strong>do</strong> administrativo <strong>do</strong>smais fecun<strong>do</strong>s. No âmbito da educação, esse se revelana apresentação à câmara municipal de um projeto desaproprian<strong>do</strong>terrenos existentes na avenida RodriguesAlves, atual avenida Olívio Correa Pedrosa, a seremdestina<strong>do</strong>s à construção de um futuro grupo escolar. Aedificação, iniciada no final da década de 1920 durantea administração de Florentino Avi<strong>do</strong>s, então presidente<strong>do</strong> esta<strong>do</strong>, fica pronta em outubro de 1930, durante agestão <strong>do</strong> presidente Aristeu Aguiar. Contu<strong>do</strong>, no dia14 <strong>do</strong> mesmo mês, ele é ocupa<strong>do</strong> pelas tropas da forçasrevolucionárias liberais, que militavam contra o governo<strong>do</strong> presidente Washington Luiz. Durante esse episódio,o prédio é transforma<strong>do</strong> em quartel.A retomada <strong>do</strong> edifício para as atividades de ensinoocorre em fevereiro de 1931, com o início das aulasno majestoso edifício <strong>do</strong> grupo escolar. Denominada“Aristeu Borges de Aguiar”, anos mais tarde a escolarecebe o nome de “Professor Lélis” em homenagem aoprofessor José Francisco de Lélis Horta, considera<strong>do</strong>um <strong>do</strong>s mais eméritos professores no Espírito <strong>Santo</strong>.José Francisco de Lélis Horta nasceu em 21 de setem-


ALEGREbro de 1830, filho <strong>do</strong> casal Camilo e Ana Lélis. Aluno<strong>do</strong> Seminário <strong>do</strong> Rio Compri<strong>do</strong>, no Rio de Janeiro, desistiuda carreira sacer<strong>do</strong>tal tornan<strong>do</strong>-se professor emVitória durante 53 anos.Com seu refina<strong>do</strong> estilo neocolonial, o edifício está implanta<strong>do</strong>no centro <strong>do</strong> terreno, cerca<strong>do</strong> por muro baixoe vaza<strong>do</strong>. Originalmente uma quadra inteira, hoje oterreno da escola está dividi<strong>do</strong> e ocupa<strong>do</strong> com outrasconstruções de menor significa<strong>do</strong>. Sua planta é retangulare apresenta <strong>do</strong>is pavimentos. No pavimento térreo,o acesso é feito por uma escadaria pela qual se alcançauma varanda com balaustrada encimada por pilaretesarre<strong>do</strong>nda<strong>do</strong>s que sustentam três arcos plenos sobre osquais se apoia o piso da sacada <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> pavimento.O corpo central é coroa<strong>do</strong> por frontão barroco, orna<strong>do</strong>com pináculos. No volume central, que abriga o vestíbuloe a entrada principal, há três portas com vergasde arco pleno no térreo, e outras três com verga emarco abati<strong>do</strong> no segun<strong>do</strong> pavimento. Os <strong>do</strong>is volumeslaterais são simétricos e cada um possui, em sua porçãocentral, três janelas com vergas em arco pleno sobrepostaspor outras três com vergas em arco abati<strong>do</strong> ebalcões de alvenaria. Nas extremidades <strong>do</strong>s blocos lateraishá, nos <strong>do</strong>is pavimentos, janelas em arco abati<strong>do</strong>encimadas por ornamentos horizontais revesti<strong>do</strong>s comazulejos. Os volumes laterais também são orna<strong>do</strong>s comfrontões e pináculos e, assim como o frontão central,são revesti<strong>do</strong>s com azulejos portugueses. As aberturassão todas vedadas por esquadrias em vidro e madeira.Internamente, o edifício está organiza<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong>vestíbulo e da escada de acesso ao pavimento superiorde onde, simetricamente, saem <strong>do</strong>is corre<strong>do</strong>res e se distribuemas <strong>do</strong>ze salas de aula. Aí, mais uma vez, somosimpressiona<strong>do</strong>s pela amplitude das dimensões da escola,perceptível no alarga<strong>do</strong> vestíbulo, na ampla escada ena extensa circulação. Num tempo de escolas projetadaspara simbolizar cultura e progresso, a Escola ProfessorLélis é construída com solidez e refino. Seus materiaisforam escolhi<strong>do</strong>s para durar e seu acabamento para seradmira<strong>do</strong>. Os azulejos azuis, os ornamentos pinta<strong>do</strong>s,o piso em ladrilho hidráulico, o geométrico gradil metálicoda escada, o amarelo vitral de fechamento da parededa escada, o cimento <strong>do</strong>s balaústres, a cerâmicadas telhas-francesas, tu<strong>do</strong> revela a original intenção deerguer um monumento ao ensino. Um desejo revela<strong>do</strong>na qualidade de sua construção e arte, mas também,na preocupação de conferir adequadas condições técnicasde conforto no interior das salas e <strong>do</strong>s corre<strong>do</strong>res.Assim, ganha importância a moderna claraboia sobre acirculação, no pavimento de cima. Ali, ela acompanhao caminho <strong>do</strong>s alunos, acentuan<strong>do</strong>, ainda, o colori<strong>do</strong>desenho <strong>do</strong> ladrilho <strong>do</strong> piso.REFERÊNCIASFERRAZ, Manoel Pedro. Alegre, a terra e o povo: resenha histórica<strong>do</strong> município de Alegre. Vitória: Jornal Mensagem Editora,1986.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória:Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, n.07, 1986.MUNICÍPIO de Alegre – Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>. Revista VivaAlegre. Alegre, jun. 1995.


ESCOLA ESTADUAL E.F. I'pROF. LELLIS~


Alfre<strong>do</strong> ChavesESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE MATILDEMatilde, Alfre<strong>do</strong> ChavesProteção Legal: Resolução nº 2/1986Inscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o n°125, folhas 23v e 24e no Livro de Tombo das Belas Artessob o n° 62, folhas 14v e 15


37Estação Ferroviária de MatildeO bucólico e pacato distrito de Matilde é funda<strong>do</strong> porimigrantes italianos, oriun<strong>do</strong>s de Treviso, Udine, Beluno eCremona, por volta de 1884. Nessa época, denomina<strong>do</strong>Terço, pois era a terceira parada, o vilarejo era habita<strong>do</strong>por imigrantes em sua maioria alfabetiza<strong>do</strong>s, aprecia<strong>do</strong>resde música, dentre os quais alguns começam afazer fortuna. Transforma<strong>do</strong> em distrito em 1919, estádividi<strong>do</strong> em três partes: Matilde Velha, Matilde Novae Matilde. Até o final da década de 1950 é um povoa<strong>do</strong>com significativo centro comercial, estimula<strong>do</strong>pela ferrovia e rico em café, condição alterada a partir<strong>do</strong>s anos devi<strong>do</strong> à política nacional de erradicação <strong>do</strong>scafezais.O vilarejo levou este nome porque o engenheiro inglêsCarlos Bloomer Reeve, responsável pelas obrasda Estrada de Ferro Sul <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, quis homenagearsua esposa emprestan<strong>do</strong> seu nome ao povoa<strong>do</strong>.Devi<strong>do</strong> a uma briga com um <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>resde Matilde Velha, Reeve mu<strong>do</strong>u o traça<strong>do</strong> da ferrovia,que deveria passar por aquela região. Os trilhos foramtransferi<strong>do</strong>s para Matilde, onde atualmente está a estaçãoferroviária. Relatada por Derenzi, essa histórianos fala de um tempo e de um lugar marca<strong>do</strong>s peloencontro entre passa<strong>do</strong> e futuro. Vale a pena conhecêlaem sua narrativa:A celebrada Estrada de Ferro Sul <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, [...],com a finalidade de ligar Vitória a Cachoeiro, estancou emMatilde, quan<strong>do</strong> da crise de 1900. Meu pai foi o primeirotarefeiro admiti<strong>do</strong> pelo famoso engenheiro Caetano Lopes,chefe da construção. Acampou à margem da ponte sobreo rio Benevente, que logo adiante, 500 metros talvez, sedespeja em belíssimo salto de mais de sessenta metros dealtura. Foi um sorriso em nossa angustiosa vida de garimpeiros.Depois <strong>do</strong> salto belíssimo, a paisagem que o riodescreve [...] empresta um bucolismo tranquilo ao povoa<strong>do</strong>que estacionara com a crise <strong>do</strong> café <strong>do</strong> fim <strong>do</strong> século e coma paralisação da construção da estrada de ferro. Dividia-seem Matilde Velha e Matilde Nova, onde por primeiro selocalizaram os italianos, a uns três quilômetros acima dacachoeira. Matilde era distrito e centro de convergência deoutros núcleos a nordeste. Meia dúzia de casas, igrejinha,venda, padaria. [...]. A Matilde Nova esboçou-se junto àponte e à estação da estrada de ferro, que se chamava EngenheiroReeve, em homenagem póstuma ao profissionalinglês, tocaia<strong>do</strong> com <strong>do</strong>is tiros de espingarda. Eram poucosos mora<strong>do</strong>res de Matilde Nova.A construção da Estrada de Ferro Sul <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong> foi muito significativa no direcionamento sócioeconômicoda região, contribuin<strong>do</strong>, por exemplo, naexpansão populacional na região de Araguaia, Matilde,Carolina, Urânia, entre outras localidades atendidaspela ferrovia. Ela era parte integrante da mais tardedenominada “Linha <strong>do</strong> Litoral”, uma estrada de ferroconstruída por diversas companhias em épocas distintas,e pela qual trens chegam a transportar passageirosde Niterói a Vitória, passan<strong>do</strong> por Matilde.Quanto à Estação Ferroviária Engenheiro Reevepropriamente dita, há controvérsia quanto à suainauguração, sen<strong>do</strong> duas as datas conhecidas. Aprimeira delas coincide com o dia 15 de março de 1902e a segunda com o ano de 1910, momento marca<strong>do</strong>


ALFREDO CHAVES


39pela presença <strong>do</strong> então presidente da República NiloPeçanha no evento de sua abertura. Contu<strong>do</strong>, suaimportância histórica está delineada com precisão.Afinal, ela facilitou o transporte da produção cafeeiraaté o porto de Vitória e substituiu o uso <strong>do</strong> porto deBenevente. Assim, com sua denominação alteradapara Matilde, em referência ao povoa<strong>do</strong> no qual estálocalizada, no trecho de estrada de ferro que liga Vitóriaa Cachoeiro de Itapemirim, ela é a maior estaçãoconstruída, constituin<strong>do</strong>-se em marco da engenhariaferroviária nacional, principalmente por seu arrojo.Erguida entre a linha de ferro e o rio Benevente, a estaçãoestá localizada nas cercanias da vila de Matilde,mas em situação isolada e próxima à ponte da ferroviasobre o mesmo rio. Naquele tempo, junto com a estação,são construí<strong>do</strong>s uma caixa d’água, posicionadana cabeceira da ponte, e um vira<strong>do</strong>r, localiza<strong>do</strong> emsua proximidade. Ergui<strong>do</strong>s em pedra associada ao ferro,em conjunto, eles constituem importante registrotecnológico e artístico de um <strong>do</strong>s empreendimentosmais significativos da história <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, emprimórdios <strong>do</strong> último século. A caixa d’água está conservadaintacta, em sua solidez e apuro construtivo eformal; sorte não desfrutada pelo vira<strong>do</strong>r, com suaparede circundante em pedra parcialmente destruída,e com sua integridade funcional comprometida pelaretirada <strong>do</strong> mecanismo responsável pelo deslocamentoda locomotiva: um eixo posiciona<strong>do</strong> no centro dacircunferência e uma plataforma que, na forma de umponteiro de relógio, girava em torno <strong>do</strong> mesmo.Implantada ao longo <strong>do</strong> caminho delinea<strong>do</strong> pelos trilhos,e identificada em suas empenas com a inscriçãode seu nome em madeira, a estação desenvolve-se emedifício projeta<strong>do</strong> para abrigar o ir-e-vir de passageiros,o armazenamento e o embarque <strong>do</strong> café, e a residência<strong>do</strong> chefe da estação, atividades nitidamente separadas.Situada em posição intermediária, a área de deslocamentode passageiros se constitui de <strong>do</strong>is vestíbulos,um interno, junto à porta de entrada, e outro externo,junto à plataforma. A área de armazenagem, por suavez, articula-se diretamente com o exterior e com aplataforma por meio de duas grandes portas. Já a residênciaestá distribuída em generoso espaço, <strong>do</strong>ta<strong>do</strong>de toda a comodidade da época: sala, quartos, cozinha,banheiro e uma área externa onde seus ocupantes umdia devem ter cultiva<strong>do</strong> horta. Ali, localiza-se, ainda, oque deve ter si<strong>do</strong> um banheiro de uso público.A edificação apresenta relevante interesse arquitetônicoe tecnológico, resultante da associação entre escalae proporção de suas dimensões, pragmatismo de suaespacialidade, e rigor e refino de sua construção. Essaúltima, executada em pedra e tijolo aparentes, alémda expressividade de sua sólida materialidade, chamaa atenção pela plasticidade de sua execução. Presenteno embasamento e parte das paredes externas, a pedraapresenta-se valorizada por aparelho ao mesmo tempogrosseiro e preciso, perceptível no acabamento eno assentamento. Contu<strong>do</strong>, é o tijolo a matéria-prima<strong>do</strong>minante, ao mesmo tempo, na estrutura e na aparênciada Estação de Matilde. Assim, ele é utiliza<strong>do</strong>para erguer paredes e pilares e para arrematar aberturase arcos. Com a mesma qualidade construtiva sãoexecuta<strong>do</strong>s o forro e o piso em madeira, e a coberturacom telhas-francesas de barro. A madeira está presente,ainda, nas janelas com caixilharia em veneziana,pela parte externa, e folha de madeira, internamente.Mas é na cobertura da plataforma, destacada <strong>do</strong> edifício,onde se apresenta o material mais “novo”, o ferro.Executa<strong>do</strong> na forma de trilho <strong>do</strong>bra<strong>do</strong>, ele é utiliza<strong>do</strong>nas mãos-francesas de apoio da cobertura. Já a plataformaem si, está terminada em mureta, também empedra, e com piso revesti<strong>do</strong> com cimento, o mesmoutiliza<strong>do</strong> no armazém.


ALFREDO CHAVESA Estação de Matilde, a única estação ferroviária tombadapelo Conselho Estadual de Cultura a apresentaratributos arquitetônicos peculiares a edifícios ergui<strong>do</strong>sem perío<strong>do</strong> posterior à Revolução Industrial, juntocom a plataforma e o vira<strong>do</strong>r de locomotivas, constituiexpressivo <strong>do</strong>cumento histórico de momento técnicorelaciona<strong>do</strong> à história <strong>do</strong> transporte ferroviáriono Espírito <strong>Santo</strong>.REFERÊNCIASACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. Lima (Org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>sno Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura/Secretariade Esta<strong>do</strong> da Educação e Cultura/Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.DEPES, Maria Isabel Marinho. Preservação e revitalização da EstaçãoFerroviária de Cachoeiro de Itapemirim. Monografia (Graduação).Departamento de <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo, Universidade Federal<strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, Vitória, 1990.INSTITUTO JONES DOS SANTOS NEVES. Projeto, pesquisa e<strong>do</strong>cumentação. Reconstituição da memória histórica <strong>do</strong>s municípios <strong>do</strong> Sul <strong>do</strong>Espírito <strong>Santo</strong>, 1850-1950. Vitória: [s.n.], 1982.MATILDE. Disponível em: . Acesso em: jul. 2006.MUNICÍPIOS <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>. A Gazeta, Vitória, Cadernoespecial, 26 set. 1994. Apoio Departamento Estadual de Estatística– DEE.


AnchietaIGREJA E RESIDÊNCIA DE NOSSA SENHORA DA ASSUNÇÃOCentro, AnchietaProteção Legal: Tombamento em 21/09/1943pelo Instituto <strong>do</strong> Patrimônio Histórico e Artístico NacionalInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Histórico, sob o nº 222, folhas 37


Igreja e Residência deNossa Senhora da Assunção43Entre as aldeias jesuíticas fundadas <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>no século XVI, Reritiba se destaca como um importantecentro de fixação e difusão <strong>do</strong> projeto da Companhiade Jesus no sul da capitania. Contrarian<strong>do</strong> a estratégiafundacional a<strong>do</strong>tada nos demais aldeamentos, os padresse instalam em uma aldeia indígena pré-existente, umaentre as várias de uma região onde residia numerosapopulação. Sua localização, contu<strong>do</strong>, seguiu os mesmosparâmetros de escolha – o sítio é relativamente eleva<strong>do</strong>,está próximo ao mar e junto à foz de um rio. Permitia,portanto, privilegiada visibilidade, fácil acesso porvia marítima e conexão fluvial direta com o territóriointerior, atributos reconheci<strong>do</strong>s por Auguste de Saint-Hilaire, em sua passagem no início <strong>do</strong> século XIX:O mais aprazível panorama se oferece aos olhos de quem secoloca diante de alguma das janelas <strong>do</strong> claustro; avistam-sea um só tempo o rio, a mata majestosa que o margeia, suaembocadura, o oceano, a cidade de Benevente e os camposdas cercanias.Quanto ao perío<strong>do</strong> de sua fundação, a maioria <strong>do</strong>shistoria<strong>do</strong>res a situa entre 1565 e 1569. Contrário aessas datas, e basea<strong>do</strong> em registros de visita à aldeia,Serafim Leite defende que ela estivesse fundada em1581. Como em São Tiago de Vitória e Reis Magosde Nova Almeida, em Reritiba os padres a<strong>do</strong>taram oprograma da quadra erguida em torno de um claustro.Teve, portanto, além da igreja, sua residência. Paraalguns historia<strong>do</strong>res, a igreja, estaria erguida em 1565e a residência em 1567. Outros indicam 1587 como oano em que a igreja teria si<strong>do</strong> concluída. Contu<strong>do</strong>, osepultamento <strong>do</strong> padre José de Anchieta no colégio deVitória, em 1597, é considera<strong>do</strong> indício de que a igrejasó estaria concluída em princípios <strong>do</strong> século XVII.Na residência ficava a cela de José de Anchieta, o jesuítamais destaca<strong>do</strong> pela história <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>. Suaimportância para o aprendiza<strong>do</strong> e a difusão da línguatupi-guarani é outro relevante aspecto da história daaldeia. Presente na capitania em 1587, na época daconclusão das obras <strong>do</strong> colégio de São Tiago de Vitória,Anchieta é considera<strong>do</strong> o residente mais famoso deReritiba.Contu<strong>do</strong>, foi o padre Diogo Fernandes quem alipermaneceu por mais tempo. Nasci<strong>do</strong> na capitania,ingressou na ordem aos 16 anos, em São Paulo, ondefoi discípulo de José de Anchieta. Morto em 1604, seusepultamento em Reritiba indica que a igreja de NossaSenhora da Assunção estava então concluída. Poucoconheci<strong>do</strong>, Fernandes atuou intensamente na defesae ampliação <strong>do</strong>s limites <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio colonial. Comindígenas, participou, ainda, na instalação de novosaldeamentos.A elevação da aldeia jesuítica à categoria de vila portuguesa,uma iniciativa da Metrópole datada de primeirode janeiro de 1759, antecipa e prepara a expulsão <strong>do</strong>sjesuítas nesse mesmo ano. Em 1761, é renomeada porordem real como Vila Nova de Benevente, nome quetambém foi da<strong>do</strong> ao rio que ali deságua e que mantématé hoje.Acontecimento decisivo para todas as instalações


ANCHIETAjesuíticas no Brasil, na Vila de Nova Almeida a expulsãode seus funda<strong>do</strong>res promove o esvaziamento e adestruição de sua herança. Na aldeia <strong>do</strong> sul, os residentesnão passavam de duzentos e cinquenta famílias. Aomesmo tempo, a igreja de Nossa Senhora da Assunçãoé alçada à condição de matriz. Na residência, segun<strong>do</strong>registro, teria se abriga<strong>do</strong> uma família, até o início <strong>do</strong>século XIX. Nesse momento, na descrição <strong>do</strong> viajantefrancês Auguste de Saint-Hilaire, a Vila de Beneventese apresenta impregnada das singulares qualidadespaisagísticas de seu sítio.No ângulo forma<strong>do</strong> por essa curva [<strong>do</strong> rio] é que se ergue acidade de Benevente, também chamada Vila Nova, ou VilaNova de Benevente. Compõem-se de cerca de 100 casas,umas cobertas de telhas e outras de palha, muitas das quaistêm um andar além <strong>do</strong> térreo. Em torno <strong>do</strong> grupo principalde casas, [...], o terreno se eleva, forman<strong>do</strong> rápi<strong>do</strong> decliveonde a rocha se mostra nua. Esse declive termina numaplataforma muito larga, que <strong>do</strong>mina não apenas a campina,como ainda o mar; e lá se acham o antigo convento <strong>do</strong>sJesuítas e sua igreja [...].É da primeira metade <strong>do</strong> século XIX a significativarenovação funcional da antiga residência de NossaSenhora da Assunção e, em consequência, sua maisprofunda transformação arquitetônica. Nesse perío<strong>do</strong>,foi utilizada como câmara, prisão, correge<strong>do</strong>ria eabrigo para estrangeiros honestos de passagem, e comcômo<strong>do</strong>s <strong>do</strong> térreo transforma<strong>do</strong>s em cavalariças. Emmea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século, o edifício residencial passa a abrigaro cemitério da cidade, em seu claustro. Contu<strong>do</strong>, a faltade manutenção e as restrições financeiras <strong>do</strong> governoprovincial serão as principais causas <strong>do</strong> arruinamentoparcial da quadra jesuítica, até que, em 1862, umaorientação técnica propõe seu aban<strong>do</strong>no, com exceçãoparcial das alas leste e sul. O cemitério foi transferi<strong>do</strong>em fins <strong>do</strong> século. Quanto à vila, elevada à categoria decidade, em 1887, passa a ser denominada Anchieta.Será necessário esperar o novo século para a recuperaçãoda residência e igreja de Nossa Senhora da Assunção.Impulsionada pelo retorno <strong>do</strong>s padres da Companhia deJesus em 1928, e intensificada com sua reutilização, elase fundamenta na afirmação <strong>do</strong> papel <strong>do</strong> padre José deAnchieta para a história <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>. Materializadana capela, espaço resultante da transformação da celaem que ele teria vivi<strong>do</strong> e morri<strong>do</strong>, essa tem motiva<strong>do</strong>uma crescente visitação à Anchieta. Nesse contexto,em 1965 é inaugurada a Cela <strong>do</strong> Padre Anchieta, ummuseu onde são expostos objetos litúrgicos, imaginária,indumentária, mobiliário, e objetos de uso cotidiano.A quadra jesuítica de Reritiba estava completa quan<strong>do</strong>os jesuítas foram expulsos em 1759. Nessa condição, aigreja foi construída sobre o “quarto” norte da quadra,com seu frontispício volta<strong>do</strong> para o mar. À sua direita,ocupan<strong>do</strong> os “quartos” leste, sul e oeste, a residência sedesenvolveu a partir <strong>do</strong> prolongamento da fachada <strong>do</strong>edifício destina<strong>do</strong> ao culto. No la<strong>do</strong> posto, à esquerdada igreja, ergue-se a torre sineira. Contu<strong>do</strong>, da residênciasó se pode conhecer o “quarto” <strong>do</strong> leste, com <strong>do</strong>ispavimentos, o <strong>do</strong> sul, com um único pavimento, e osrestos <strong>do</strong> “quarto” <strong>do</strong> oeste.Posiciona<strong>do</strong> em um pequeno platô, o conjunto deNossa Senhora da Assunção tem à sua frente um amploadro parcialmente mura<strong>do</strong> e <strong>do</strong>mina<strong>do</strong> por fron<strong>do</strong>sacastanheira. O muro, baixo, favorece estratégica visão<strong>do</strong> aquoso entorno: a ampla superfície da praia deAnchieta, à frente, e a linha d’água <strong>do</strong> Benevente, àdireita. Atrás, a planície <strong>do</strong> manguezal e a linha dasmontanhas <strong>do</strong> oeste, ao fun<strong>do</strong>.Eleva<strong>do</strong>, o conjunto jesuítico pode ser alcança<strong>do</strong> portrês escadarias, uma orientada para a “fachada <strong>do</strong> mar”,a partir de uma ladeira; outra posicionada na “fachada<strong>do</strong> rio”, a partir da cidade; e na direção da “fachadadas montanhas”, a partir <strong>do</strong> porto. Pelas duas primeiras,chega-se diretamente ao adro, enquanto pela terceira,prolongada numa larga passagem, entra-se lateralmentena nave da igreja. O adro, regular e plano, se estende aoencontrar com a passagem lateral, amplian<strong>do</strong> os limites


ANCHIETA


47<strong>do</strong> religioso ambiente. Nele, além da castanheira e umbusto <strong>do</strong> padre Anchieta, disposto sobre granítico pedestal,há palmeiras plantadas junto ao muro.Construí<strong>do</strong> no sistema <strong>do</strong>minante no perío<strong>do</strong> colonialda história brasileira, o conjunto é uma das mais significativasexpressões <strong>do</strong> trabalho penoso e constante realiza<strong>do</strong>pelos padres da ordem jesuítica no Espírito <strong>Santo</strong>. Aomesmo tempo genérica e única, sua arquitetura repete einova tecnológica e artisticamente elementos a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>snos edifícios ergui<strong>do</strong>s em aldeias e fazendas durante osséculos XVI a XVIII.A igreja de Nossa Senhora da Assunção, uma “basílica”,foi erguida para o encontro e a reunião de muitos irmãos,religiosos e índios. Um amplo salão, ela é a únicacom três naves no Espírito <strong>Santo</strong>. No início, além danave, havia apenas a capela-mor, com a qual se comunicavapor um grandioso arco cruzeiro. Ampliada, emfins <strong>do</strong> século XVIII, com o acréscimo de uma sacristiaalém <strong>do</strong> limite oeste, a igreja rompe com a relativa regularidadeda quadra jesuítica. Por outro la<strong>do</strong>, ligadaspelos corre<strong>do</strong>res laterais, de largura e alturas aproximadas,nave e sacristia formam volume de fragmentadacomposição.Em conjunto fecha<strong>do</strong> por paredes estruturais espessase opacas, o templo foi feito para durar. No entanto,nem sempre duráveis, os meios exigiram substituições.Na capela, pisos em terra batida foram revesti<strong>do</strong>s comtabua<strong>do</strong> de madeira e tijoleira de barro cozi<strong>do</strong>. Na nave,provavelmente, pilares de madeira precederam os de tijoloque apoiam a sequência de arcadas. Na sacristia ena cela, um singelo prolongamento <strong>do</strong> madeiramento<strong>do</strong> telha<strong>do</strong> em balanço precedeu o beiral em beira-seveira.Na cobertura da igreja, ao contrário, houve umasimplificação de sua saliência.serviços nas paredes, nos pisos, nos telha<strong>do</strong>s, nas alvenarias,nas esquadrias e na pintura. Ao final, robusta esingela, sua arquitetura é a expressão da fusão técnica eartística empreendida ao longo de sua história.[...] A edificação [...] forma um conjunto de volumes e desuperfícies que se interligam com variedade de proporçõese com ritmo nos vãos – portas, seteiras e janelas. A eleganteunidade <strong>do</strong> conjunto resulta de arestas e molduras na própriaalvenaria caiada [...].Assim, com sua absoluta e contínua planimetria, destituídade ornatos, curvas e contracurvas, a fachada daigreja parece ter si<strong>do</strong> inspirada na mais primitiva representação<strong>do</strong> abrigo humano – uma cobertura unida porcumeeira e apoiada em suportes verticais. Para adentrar,como usual nos templos maiores, os padres abriramduas portas: uma principal, sob o frontispício, e uma nafachada lateral.Uma exceção entre as fachadas das igrejas jesuíticas noEspírito <strong>Santo</strong>, em Assunção duas janelas foram dispostas,uma de cada la<strong>do</strong> da porta, no pavimento térreo,e uma centralizada foi posicionada sobre o coro. Tambémde maneira pouco usual, to<strong>do</strong>s esses vãos, assimcomo a janela da torre, tiveram seus quadros em madeiracompostos por verga reta. Em conjunto, a fachadaé estranhamente larga, horizontal. Sensação reforçadapela robusta e relativamente baixa torre sineira.Restaurada entre janeiro de 1994 a junho de 1997, aigreja de Nossa Senhora de Assunção foi amplamenterecuperada por uma obra em que foram executa<strong>do</strong>s


ANCHIETAPosicionada à direita da fachada, única e externa, a torretem plana quadrangular e eleva-se sobre três maciços arcosplenos, até encontrar a base da cúpula. Nesse plano,quatro coruchéus foram dispostos sobre suas arestas.Sem comunicação com o interior da nave pelo térreo, seabre para o coro por uma porta interna. A cúpula, semiesférica,foi construída também em tijolos maciços, erevestida com argamassa de cal. Sob ela, sinos foramdispostos em cada uma de suas quatro aberturas.Compara<strong>do</strong> à igreja, o edifício residencial é relativamentemenor e mais poroso. Pouco extensa, sua fachadaapresenta equilibrada relação entre cheios e vazios– muros de parede e vãos de janela, no pavimento superior.Em número de seis, as janelas foram emolduradaspor quadro com verga reta e fechadas por esquadrias decaixilho em madeira e vidro. No térreo, há duas janelase duas portas, uma delas posicionada junto à parede lateraldireita da igreja. Justaposto à parede da sacristia, o“quarto” <strong>do</strong> oeste apresenta avarandada fachada.Importante centro de ensinamento laico e religioso,Nossa Senhora da Assunção teve sua igreja ornada comelementos decorativos, pintura e escultura. Do conjuntodeles, nenhum se destaca tanto quanto a pintura muralda parede <strong>do</strong> altar. Exemplar único na arte brasileira,sua execução, provavelmente <strong>do</strong> século XVII, pareceter si<strong>do</strong> inspirada em motivos presentes na azulejariaportuguesa.Da imaginária, pelo caráter erudito de sua feitura,destaca-se a Nossa Senhora da Assunção, imagemposicionada em um nicho, na parte superior da parede<strong>do</strong> altar-mor, e as imagens de São Francisco Xavier e<strong>Santo</strong> Inácio de Loiola, venera<strong>do</strong>s pela Companhia deJesus, todas provavelmente datadas <strong>do</strong> século XVIII.contracurvas, com acabamento em volutas, e tem, nocentro, uma concha. A parte inferior é uma peça única,com a face de cima ligeiramente inclinada e perfil comforma sinuosa <strong>do</strong>s frontões <strong>do</strong> século XVIII.Na igreja, <strong>do</strong> tipo bacia pura e simples, há uma de pé, depedra, e duas de parede: uma diante da porta lateral,também de pedra, onde foram inscritas as iniciais a<strong>do</strong>tadaspela Companhia de Jesus, IHS; e outra, de mármoremarcheta<strong>do</strong> de vermelho, sobre a primeira colunada esquerda da nave e em forma de concha.Entre os elementos decorativos, as pias são os maisrepresentativos. Na sacristia, há uma de parede ecom caixa d’água. Em lioz marcheta<strong>do</strong> de vermelho,sua parte superior, onde se encontra a caixa d’água eduas torneiras de boca, é contornada com curvas e


53REFERÊNCIASABREU, Carol de (Org.). Anchieta – a restauração de um santuário. Riode Janeiro: 6ª C. R./IPHAN, 1998.ACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. Lima (Org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>sno Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretariade Esta<strong>do</strong> da Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.CARVALHO, José Antônio. A Arte no Espírito <strong>Santo</strong> no perío<strong>do</strong>colonial II. <strong>Arquitetura</strong> religiosa. Revista de Cultura da UniversidadeFederal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, Vitória, n. 30, p. 31-50, 1984.. A Arte no Espírito <strong>Santo</strong> no perío<strong>do</strong> colonial – IV. Pinturae escultura. Revista de Cultura da Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>. Vitória, n. 32, p. 05-26, 1985.. O Colégio e as residências <strong>do</strong>s jesuítas no Espírito <strong>Santo</strong>. Rio deJaneiro: Expressão e Cultura, 1982.COSTA, Lúcio. A <strong>Arquitetura</strong> jesuítica no Brasil. In: <strong>Arquitetura</strong> religiosa.São Paulo: Ministério da Educação e da Cultura, Instituto <strong>do</strong>Patrimônio Histórico e Artístico Nacional / Universidade de SãoPaulo, Faculdade de <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo, 1978, p. 10-98.IPHAN. Documentação <strong>do</strong> arquivo. Vitória, Instituto <strong>do</strong> PatrimônioHistórico e Artístico Nacional.IPHAN. Site institucional. Disponível em: . Acesso em: 9 jan.2008.LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. Tomo I.Belo Horizonte – Rio de Janeiro, 1938.. História da Companhia de Jesus no Brasil. Tomo VI. BeloHorizonte – Rio de Janeiro, 1938.NOVAES, Maria Stella de. História <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória: Fun<strong>do</strong>Editorial <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, [s.d.].SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem ao Espírito <strong>Santo</strong> e rio Doce.Belo Horizonte: Itatiaia, 1974.SALETTO, Nara. Donatários, colonos, índios e jesuítas: o início da colonização<strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória: Arquivo Público Estadual, 1998,Coleção Canaã, v.4.


AracruzO imóvel foi construí<strong>do</strong> em 1860 para abrigar o impera<strong>do</strong>rDom Pedro II em sua passagem pela província <strong>do</strong>Espírito <strong>Santo</strong>. Após esse episódio, ao longo <strong>do</strong>s anosvários usos ocuparam o espaço da casa como fórum,câmara e prefeitura municipal, serviços de estatística ecadeia. Também já abrigou as atividades de posto decorreio, posto telefônico e escola pré-primária. O prédiofoi reforma<strong>do</strong> em 1970 pela prefeitura municipal,ten<strong>do</strong> como construtor o Sr. José Basílio Gomes. Algumasdas alterações foram a abertura de duas portasnas fachadas laterais, onde, originalmente, havia duasjanelas e o acréscimo das separações internas para comportartrês usos simultâneos. Em 1998, o prédio abrigouduas famílias que ficaram desalojadas devi<strong>do</strong> a umtemporal.A visibilidade da construção é favorecida, já que elaestá localizada em uma esquina e as construções vizinhassão térreas. Na fachada frontal, o acesso ao imóvelocorre por uma escada centralizada composta por <strong>do</strong>isplanos de degraus uni<strong>do</strong>s por patamar retilíneo, comoto<strong>do</strong> o conjunto. Essa ocupa toda largura <strong>do</strong> passeio,fechan<strong>do</strong>-o pelo la<strong>do</strong> externo por meio de parede deinclinação correspondente à da escada. Os acessos laterais,abertos na reforma de 1970, também são alcança<strong>do</strong>spor meio de escadas.Desenhada segun<strong>do</strong> tipologia tradicionalmente a<strong>do</strong>tadadurante o perío<strong>do</strong> colonial da arquitetura brasileira, aCasa de Câmara e Cadeia de Santa Cruz é um singeloedifício ergui<strong>do</strong> a partir de volume regular de basequadrada, e singelamente composto com a utilização deelementos mínimos <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>s pelas linhas da cimalhae da platibanda, marca<strong>do</strong>s em discreta modenatura. Aconstrução foi realizada com paredes de alvenaria depedras e de tijolos. Tais paredes têm espessura de aproximadamente60 centímetros. As aberturas apresentamverga em arco abati<strong>do</strong> e fechamento com esquadrias emfolhas secas em madeira. Internamente, as ombreiras, averga e a soleira da entrada principal são confeccionadasem cantaria, os batentes das portas são em madeira e asvergas em arco pleno. Externamente, vestígios de bandeirasem madeira e de veneziana em algumas janelassugerem anterior presença de um segun<strong>do</strong> plano de esquadria,desapareci<strong>do</strong> no tempo. As fachadas são emolduradaspor cunhais e cornijas, além de serem coroadaspor uma platibanda, responsável pelo encobrimento dacobertura. Estrutura<strong>do</strong> em madeira, o telha<strong>do</strong> é compostopor quatro águas cobertas com telhas-francesasimportadas de Marselha.Em 1985, chega ao Conselho Estadual de Cultura a solicitaçãopara o tombamento da casa. Tal pedi<strong>do</strong> é justifica<strong>do</strong>devi<strong>do</strong> ao fato de o imóvel fazer parte da históriade Santa Cruz, ter si<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong> por várias gerações epor ser um marco na paisagem urbana.REFERÊNCIASACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. Lima (Org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>sno Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretariade Esta<strong>do</strong> da Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória:Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, nº23/1985.


55Casa de Câmara e CadeiaCASA DE CÂMARA E CADEIAAvenida Presidente Vargas com Rua Coronel Simões, nº 239, Santa Cruz, AracruzProteção legal: Resolução nº 11/1986 <strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrições no Livro <strong>do</strong> Tombo Histórico sob o nº 130, folhas 23v e 24e no Livro <strong>do</strong> Tombo das Belas Artes sob o nº 65, folhas 15v e 16


ARACRUZIGREJA CATÓLICA DE SANTA CRUZAvenida Presidente Vargas, nº 239, Santa Cruz, AracruzProteção legal: Resolução nº 1/1987 <strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrições no Livro <strong>do</strong> Tombo Histórico, sob o nº 131, folhas 24v e 25e no Livro <strong>do</strong> Tombo das Belas Artes, sob o nº 66, folhas 15v e 16


57Igreja Católica de Santa CruzA primeira igreja construída no território aracruzensefoi a de Santa Cruz, quan<strong>do</strong> alguns padres jesuítas seestabeleceram no litoral para fundar um núcleo de catequeseindígena. Em 1837, a vila de Santa Cruz passoua ser sede de freguesia. Uma igreja havia si<strong>do</strong> construídano ano anterior. Muito humilde, possuía paredes detaipa, esteios de madeira e cobertura de folhas de palmeira.Em frente a ela, foi construída, em 1857, umadefinitiva fachada. Contu<strong>do</strong>, a nave continuaria a ser ada pequena capela. Três anos após o início das obras daigreja substitutiva da palhoça existente, a fachada estavaconcluída.Situada em um lote circunda<strong>do</strong> por duas ruas nas laterais,uma encosta de morro aos fun<strong>do</strong>s e uma praça àfrente, a igreja possui boa visibilidade, pois a vizinhançaé constituída por casas térreas. O acesso se dá por umaescada de largura correspondente à fachada principal.A planta é retangular e abriga nave, capela-mor, sacristiae campanário externo de altura menor que a igreja.A sacristia localiza-se na parte posterior <strong>do</strong> edifíciodividin<strong>do</strong> espaço com outros ambientes. Aos fun<strong>do</strong>s,há um muro de pedra com cerca de 60 centímetros delargura, em pedra assentada com óleo de baleia. As paredessão em alvenaria caiada e a cobertura, em duaságuas, apresenta tesouras de madeira e as telhas são <strong>do</strong>tipo capa-canal. O piso é confecciona<strong>do</strong> com ladrilhohidráulico. O campanário possuía <strong>do</strong>is sinos. Para tocálos,o sineiro tinha que subir em andaimes improvisa<strong>do</strong>sencosta<strong>do</strong>s na parede frontal.O frontispício é encima<strong>do</strong> por quatro vasos, que lembrampináculos, e uma cruz, além de exibir uma aberturacircular. A única porta de acesso, composta por vergaem arco abati<strong>do</strong> e ombreiras em madeira, é sobrepostapor três janelas com vergas ogivais e fechadas por folhasde madeira. Tais janelas seriam <strong>do</strong> coro e são vedadascom tijolos. O frontispício é emoldura<strong>do</strong> por cunhais ecornija. Antigamente, o imponente frontispício possuíana sua face interna estra<strong>do</strong>s de madeira, que mantinhamos sinos no alto.Os recursos para sua construção foram consegui<strong>do</strong>satravés de contribuição <strong>do</strong>s exporta<strong>do</strong>res de madeirada região. Entretanto, a ideia de completar uma igrejanaquelas proporções foi aban<strong>do</strong>nada, pois se chegouà conclusão de que ela seria gigantesca demais para apobre realidade da pequena vila.Tanto a torre, quanto a fachada podiam ser vistas de


ARACRUZlonge por quem navegasse na baía. O trabalho ficoutão bem acaba<strong>do</strong> que causou profunda admiração esurpresa a Dom Pedro II, quan<strong>do</strong> este visitou SantaCruz, em 1860. Da enseada, quan<strong>do</strong> se preparava paraaproar, o impera<strong>do</strong>r espantou-se com a possibilidadede tão imponente igreja estar localizada em lugar tãomodesto. Mas, ao constatar que a imponência se reduziaapenas à parede frontal, enquanto o corpo da igrejaera uma velha construção, o monarca chegou a rir daprópria curiosidade e ingenuidade. Dom Pedro anotou:“O frontispício da igreja é maior <strong>do</strong> que esta, iludin<strong>do</strong>de longe a quem a vê de frente”. O frontispício estavaimplanta<strong>do</strong> de maneira que só se conseguia vê-lo bemde frente. Da barra, portanto, não se percebia o quehavia atrás dele.Esta mesma surpresa acometeu muitos viajantes empassagem pela região, entre eles o pintor francês FrançoisBiard. Esse, em 1858, registrou em seu livro deviagem o engano a que tinha si<strong>do</strong> induzi<strong>do</strong>. Biard aproveitoupara desenhar a fachada e a pequena palhoça eescreveu:Como não me informaram que eu ia para um lugar importantee como eu pensava que Santa Cruz fosse simplesmenteuma aldeia indígena, não foi sem surpresa que vi uma igrejade aparência imponente. Foi preciso atravessar a mata parachegar à vila, e, quan<strong>do</strong> desembocamos na planície, vi muitospesca<strong>do</strong>res, e também mulheres da cor de pão queima<strong>do</strong>,vestidas de amarelo, rosa, laranja, os pés descalços; aqui e ali,alguns senhores de terno preto, gravata branca e mãos sujas.(...) O campanário, porém, desaparecera e, no entanto, comopodia ter-me engana<strong>do</strong>? Tinha a mesma forma <strong>do</strong>s campanáriosespanhóis, portugueses e brasileiros em geral. De longe,com a ajuda desse sol que permite distinguir uma moscaa cem passos, tinha-o visto perfeitamente, pinta<strong>do</strong> de branco,com ornamentos, vasos esculpi<strong>do</strong>s e sinos; estava certoda existência <strong>do</strong>s sinos, ainda mais porque os tinha ouvi<strong>do</strong>tocar. Que pensar da ausência de um objeto que certamentenão havia imagina<strong>do</strong>? Não poden<strong>do</strong> permanecer nessa incerteza,decidi pedir ao meu companheiro que me esclarecesseesse enigma: mostrou-me então uma parede de três pés delargura que, por ser muito alta, não me passara despercebida,não lhe dan<strong>do</strong> mais atenção porque estava à procura <strong>do</strong> monumentodesapareci<strong>do</strong>. Preparava-me para questionar o meuvizinho quan<strong>do</strong>, ten<strong>do</strong>-nos aproxima<strong>do</strong> mais, um poema inteirose desenrolou diante <strong>do</strong>s meus olhos, revelan<strong>do</strong>-se amais completa obra-prima de orgulho, na sua mais ingênuaexpressão. Essa parede era efetivamente a igreja destinadaa causar efeito sobre o povo, porque, se de perfil, só tinhatrês pés de largura, de frente tinha a forma de uma fachada.Através das janelas superiores viam-se <strong>do</strong>is sinos que deixavampressupor os que não se viam. Ornamentos e vasosesculpi<strong>do</strong>s davam a esse monumento um exterior grandioso,prelúdio das riquezas da arte que não podia deixar de decoraro interior. Eis aí o que eu tinha entrevisto; e eis aqui o que vide outro ângulo. Essa parede tão bem ornamentada de frenteera solitária; apoiava-se em contrafortes que a defendiam<strong>do</strong> vento; os que subiam os degraus dessa catedral passavampelo vão aberto da parede e desciam por trás para entrar naigreja, uma barraca triste pouco maior que as outras cabanas.Quanto aos sinos, podia-se ver agora um andaime onde comodamentese instalara o sineiro para tocar o carrilhão. Tu<strong>do</strong>fora feito para atender as aparências, pois a própria parede sórecebera reboco e caiação na parte da frente; a parte de trássó exibia pedras brutas, mas que importa? A honra, ou antes,o orgulho, estava satisfeito.Conta-se que importantes bens foram <strong>do</strong>a<strong>do</strong>s à igreja.Uma delas é uma imagem de Jesus Cristo, em tamanhonatural, que pode ser desmontada para compor qualquerum <strong>do</strong>s 14 quadros da Via Sacra. Esta imagem teriasi<strong>do</strong> <strong>do</strong>ada por uma família portuguesa, juntamentecom outros valiosos bens, dentre os quais um colar deouro maciço para a imagem da padroeira, Nossa Senhorada Conceição, a quem a igreja foi consagrada. O colarse encontra nos cofres <strong>do</strong> Bispa<strong>do</strong> de Vitória, recolhimentoresultante das sucessivas mudanças de zela<strong>do</strong>resda igreja, segun<strong>do</strong> alguns “falsamente bem intenciona<strong>do</strong>s”.Posteriormente a essa providência, não aparecerammais pessoas interessadas em “zelar” pela igreja.Assim, ela ficou muito tempo aban<strong>do</strong>nada, raramenteencontran<strong>do</strong> a preocupação e a dedicação das pessoas.


59Ao longo <strong>do</strong> tempo, a igreja foi modificada. Na décadade 1970, passou por uma reforma, na qual consta areconstituição de toda a lateral direita que havia caí<strong>do</strong>,a troca <strong>do</strong> telha<strong>do</strong> e da estrutura, a execução <strong>do</strong> coro,a troca <strong>do</strong> piso de cimento por ladrilho hidráulico decora<strong>do</strong>,a cobertura da sacristia com telhas de cimentoamiantoe a troca da porta frontal, além das demais portase janelas. Nessa reforma, muitos elementos originaisforam altera<strong>do</strong>s. Outra restauração ocorreu no ano de2000.Para alguns, a igreja não carrega valores artísticos ou arquitetônicosque a marquem como um exemplar singular.No entanto, em sua simplicidade e em seu despojamento,a igreja de Santa Cruz é um marco na paisagem<strong>do</strong> lugar, fazen<strong>do</strong> parte da cultura e da vida locais.REFERÊNCIASACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. Lima (Org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>sno Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretariade Esta<strong>do</strong> da Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.ARACRUZ. Site institucional. Disponível em: . Acesso em: out. 2006.ARACRUZ e seus encantos. A Gazeta, Vitória, Encarte Especial,2 abr. 2006.BIARD, Auguste-François. Viagem à Província <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>. ColeçãoJosé Costa. Vol. 8. Vitória: Secretaria Municipal de Cultura,2002.CRUZ, Maurilin de Paulo. Faça-se, Aracruz. Serra: Edições TempoNovo, 1997.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória:Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, nº23, 1985.ROCHA, Levy. Viagem de Pedro II ao Espírito <strong>Santo</strong>. 2. ed. Brasília:Revista Continente Editorial / INL-MEC, 1980.


Cachoeiro deItapemirim


61Igreja de NossoSenhor <strong>do</strong>s PassosAté 1882, quan<strong>do</strong> a capela de Nosso Senhor <strong>do</strong>s Passosfoi <strong>do</strong>ada à comunidade, muita história aconteceudesde o início <strong>do</strong>s caminhos da Igreja Católica em Cachoeirode Itapemirim, começan<strong>do</strong> pela primeira missacelebrada em um armazém <strong>do</strong> barão de Itapemirim, em1856. Nesse ano, o padre Manoel Leite de Sampaio celebraa primeira missa no pequeno oratório que haviaem um <strong>do</strong>s armazéns pertencentes ao barão de Itapemirim,no Porto <strong>do</strong> Barão, atual bairro Baiminas. Esseevento, contu<strong>do</strong>, somente lança suas raízes no ano de1863 quan<strong>do</strong> o fazendeiro Antônio Francisco Moreiraconstruiria a primeira igreja da localidade, dedicada aoDivino Espírito <strong>Santo</strong>.A capela <strong>do</strong> Divino, construída com materiais poucoduráveis, não resistiu à passagem <strong>do</strong> tempo e, muitomenos, aos irreparáveis abalos de sua frágil estruturapromovi<strong>do</strong>s pelas enchentes de 1867, 1872 e 1875.Com o prédio totalmente arruina<strong>do</strong>, o vigário Sampaiodeterminou a transferência das imagens para a capelaconstruída, em 1879, pelo capitão Francisco de SouzaMonteiro para uso de sua família. Homem de projeçãopública na região, o capitão Monteiro, cujos filhosfiguram na história <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, o bispo DomFernan<strong>do</strong> e os ex-presidentes de esta<strong>do</strong>, Bernardino eJerônimo Monteiro, acaba por <strong>do</strong>ar a capela, em 1882,para a comunidade católica <strong>do</strong> município de São Pedro<strong>do</strong> Cachoeiro. Esse episódio parece ter incentiva<strong>do</strong> aconclusão, nesse ano, da capela de Nosso Senhor <strong>do</strong>sPassos. Contu<strong>do</strong>, essa só receberá a benção inaugural<strong>do</strong>is anos depois, em ofício ministra<strong>do</strong> pelo padreCamilo Barcil, acontecimento anterior à sua elevaçãoà categoria de matriz, agora dedicada a São Pedro,padroeiro da cidade, situação mantida até 1949, quan<strong>do</strong>uma nova matriz é inaugurada em Cachoeiro.


CACHOEIRO DE ITAPEMIRIMLocalizada na margem esquerda <strong>do</strong> rio Itapemirim, aigreja está edificada no final de uma ladeira, em terrenode esquina. Delimita<strong>do</strong> à direita pela rua Dom Fernan<strong>do</strong>,o edifício apresenta sua fachada frontal voltada parao largo Senhor <strong>do</strong>s Passos, um espaço urbano resultante<strong>do</strong> alargamento das vias circundantes, não condizentecom seu caráter e o significa<strong>do</strong> <strong>do</strong> edifício que fazver. Em seu conjunto, o entorno urbano é constituí<strong>do</strong>por casas térreas e sobra<strong>do</strong>s baixos, <strong>do</strong> qual a igreja sedestaca por sua diferenciação simbólica, especialmenterepresentada em sua fachada principal.Essa tem como principal característica a simetria, resultanteda disposição de duas torres sineiras com terminaçãopiramidal, cobertas com telha tipo ardósia naslaterais, e reforçada, ao centro, pelo arremate na formade um frontão triangular, vaza<strong>do</strong> por um óculo re<strong>do</strong>n<strong>do</strong>e encima<strong>do</strong> por uma cruz de madeira. As torres possuemquatro aberturas para sinos, mas somente a <strong>do</strong>la<strong>do</strong> direito os contém. O acesso ao interior <strong>do</strong> temploé marca<strong>do</strong> por uma única porta; na fachada principalexistem seis janelas, sen<strong>do</strong> duas no térreo e quatro aonível <strong>do</strong> coro, todas com verga ogival.As fachadas laterais apresentam, no nível superior danave, três portas-janelas de cada la<strong>do</strong>, com verga emarco abati<strong>do</strong>. Na capela-mor e na sacristia há, ao nível <strong>do</strong>pavimento superior, três janelas com verga reta de cadala<strong>do</strong>. Entretanto, ao nível <strong>do</strong> térreo elas diferenciam-se:na fachada lateral direita há uma porta de entrada paraa capela, outra para a sacristia e uma janela com gradesde ferro; enquanto na fachada lateral esquerda existeoutra janela no local da porta de acesso à sacristia. Porsua vez, a fachada de fun<strong>do</strong>s é praticamente cega, possuin<strong>do</strong>apenas uma janela ao nível mais alto da igreja equatro aberturas circulares.No interior, a igreja está desenvolvida em espaço constituí<strong>do</strong>por nave central, capela-mor, sacristia, batistério,galerias, tribunas situadas ao re<strong>do</strong>r da nave e da capelamor,além de coro sobre a porta principal. Na nave,as tribunas são margeadas por arcos e balaústres. Estesarcos se repetem no pavimento térreo com menorespaçamento entre si, sen<strong>do</strong> sustenta<strong>do</strong>s por pilaretesde madeira. Entre os arcos das tribunas se encontrampedestais também em madeira, que sustentam imagenssacras. A nave tem <strong>do</strong>is altares laterais em madeira entalhada:um dedica<strong>do</strong> a Nossa Senhora da Penha e outroa São Sebastião.Conferin<strong>do</strong> unidade ao conjunto, espacial e plasticamente,o corpo da igreja é contorna<strong>do</strong> por um entablamentoque arremata o forro de frisos de madeira,interrompi<strong>do</strong> apenas no arco cruzeiro. Lugar de passagemda nave para a capela-mor, marca<strong>do</strong> por uma escadade madeira centralizada e <strong>do</strong>is retábulos laterais,o arco cruzeiro é trabalha<strong>do</strong> em alto relevo e pinta<strong>do</strong>com motivos florais nas cores verde, ocre e rosa. Assim,o retábulo da capela, executa<strong>do</strong> em madeira entalhadae pintada de branco, e com ornamentos <strong>do</strong>ura<strong>do</strong>s, ganhadestaque por sua diferenciação cromática. Em suaporção central, há uma camarinha e na lateral existem<strong>do</strong>is nichos. No térreo da capela, no la<strong>do</strong> direito, háuma porta que dá acesso à sacristia, que se desenvolveatrás <strong>do</strong> altar. Nela encontram-se ainda duas escadas demadeira que dão acesso ao andar superior.Construtivamente erguida em diferentes épocas, a igrejapossui paredes externas em alvenaria de pedra e asinternas, com exceção das que separam as galerias danave daquelas da capela-mor, em madeira. Por sua vez,o piso mistura tabua<strong>do</strong> em madeira com ladrilho, usa<strong>do</strong>para revestir o átrio. O telha<strong>do</strong>, em duas águas, é cobertocom telhas de barro tipo capa-canal, com beiralencoberto por cimalha, na nave, e revesti<strong>do</strong> de madeirana capela-mor.


CACHOEIRO DE ITAPEMIRIMIGREJA NOSSO SENHOR DOS PASSOSRua Padre Mello, Bairro Independência,Cachoeiro de ItapemirimProteção Legal: Resolução nº 4/1985<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrições no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 83, folhas 9v e 10e no Livro <strong>do</strong> Tombo das Belas Artessob o nº 4, folhas 1v e 2


65REFERÊNCIASACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. Lima (Org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>sno Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretariade Esta<strong>do</strong> da Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.BRAGA, Newton. Histórias de Cachoeiro. Vitória: Fundação CecilianoAbel de Almeida/UFES / Secretaria da Educação e Cultura,1986.CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM (Município). Espírito <strong>Santo</strong> –Brasil. Edição Histórica. Rio de Janeiro: Cirma Gráfica Editora,1976.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória:Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, nº16, 1984.


CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM


67Palácio Bernardino MonteiroAs obras <strong>do</strong> edifício onde inicialmente funcionou aEscola Bernardino Monteiro têm início no governo JerônimoMonteiro, entre 1908 e 1912, que termina seumandato deixan<strong>do</strong>-o em adianta<strong>do</strong> estágio de construção.Contu<strong>do</strong>, ele só é inaugura<strong>do</strong> em 15 de fevereirode 1913, no governo Marcondes Alves de Souza. A denominaçãodada ao grupo escolar é uma homenagema Bernardino de Souza Monteiro, irmão de JerônimoMonteiro, e que também foi presidente <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong>Espírito <strong>Santo</strong>, entre 1916 e 1920. Sena<strong>do</strong>r à época,Bernardino inclui-se entre as autoridades na solene instalaçãoda escola, ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s representantes da AssembleiaLegislativa, <strong>do</strong> município, da Justiça e pessoas dedestaque social, inclusive Jerônimo Monteiro.Uma das metas <strong>do</strong> governo Jerônimo Monteiro era areforma <strong>do</strong> ensino público. Para isso foi buscar, em SãoPaulo, o educa<strong>do</strong>r Carlos Alberto Gomes Cardim, quechega a Vitória em 1908. Sob a orientação <strong>do</strong> professorGomes Cardim, reorganiza-se a Escola Normal efunda-se a Escola Modelo, atual Escola Maria Ortiz,além de diversas escolas isoladas entre as quais o grupoescolar de Cachoeiro de Itapemirim. É nesse ambienterenova<strong>do</strong>r e durante um momento de valorização dacultura e <strong>do</strong> civismo que entendemos a criação desseestabelecimento de ensino. Palco de pioneiras experiênciaspedagógicas, sua importância está vinculada aopapel desempenha<strong>do</strong> no ensino capixaba.Nessa construção sólida e de arquitetura requintada,realizavam-se comemorações nas principais datas nacionais,com sessões públicas conduzidas pelos professorese recitais de poesias pelos alunos, segui<strong>do</strong>s daexecução de hinos e canções patrióticas. Com o desenvolvimentoda vida escolar, bandas de músicas, jornaisescolares e grupos de teatro foram organiza<strong>do</strong>s,promoven<strong>do</strong> atividades impulsiona<strong>do</strong>ras da tradiçãocultural <strong>do</strong> “Bernardino Monteiro”. Essa é constituídapor um conjunto de iniciativas, como a Caixa EscolarDiocleciano de Oliveira, dedicada à compra de livros eobjetos escolares, a Biblioteca Infantil Carolina Picklere o jornal A Pátria. Muitos foram os jovens forma<strong>do</strong>sali. Entre eles, intelectuais tradicionais como BenjaminSilva, Cyro Vieira da Cunha, Augusto Lins, MarioImperial, Paulo Freitas, Archimimo Mattos, Fernan<strong>do</strong>Abreu e Almeida Cousin.No edifício, atualmente, funciona a sede <strong>do</strong> governomunicipal, condição que altera sua denominação. Dotempo da escola, o Palácio Bernardino Monteiro preservatanto sua inserção na vida cultural da cidade, naforma da Sala Levino Fanzeres, onde acontecem exposiçõesartísticas, científicas, culturais e lançamentos delivros, como na disponibilidade de seu importante acervopara a pesquisa de estudantes e educa<strong>do</strong>res.Situa<strong>do</strong> em uma das praças <strong>do</strong> centro de Cachoeiro deItapemirim, o edifício participa na configuração de seuteci<strong>do</strong> urbano histórico mais relevante, dele se destacan<strong>do</strong>por sua implantação, escala, volumetria e linguagemestética. Assim, apesar das sucessivas reformas eadaptações, ainda preserva as características de seu estiloeclético original, especialmente referencia<strong>do</strong> na tradiçãoclássica da arquitetura.Construí<strong>do</strong> sobre um porão, o edifício de <strong>do</strong>is pavimentosse desenvolve em volumetria rígida delimitada


CACHOEIRO DE ITAPEMIRIMpor fachadas <strong>do</strong>minadas pela sequência de aberturas.Dividida em três partes, a fachada frontal apresentacentralidade marcada por sofisticada composição e rígidasimetria que, no térreo, resulta da disposição deduas portas, hierarquicamente diferenciadas por suasdimensões e acabamento em arco pleno. Essas foramladeadas por outras duas, em verga reta e protegidaspor guarda-corpo de balaústre, no térreo e por duasjanelas também em verga reta, no piso superior. Quatrocolunas embutidas e de seção quadrada dão apoio àcimalha. Sobreposta a este conjunto, encontra-se umaporta-janela com verga em arco pleno guarnecida poruma sacada em serralheria e ladeada por duas janelascom verga reta. Outras quatro colunas embutidas dãosuporte à cimalha de acabamento da fachada. Esta partecentral é coroada por um frontão triangular com o escu<strong>do</strong><strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>. As partes laterais dafachada possuem, cada uma, cinco portas-janelas comvergas em arco pleno, guarnecidas com guarda-corposde balaústre, no térreo. Já o pavimento superior, exibecinco portas-janelas para cada la<strong>do</strong>, com vergas em arcopleno, e guarnecidas com guarda-corpos e serralheria.Estas partes laterais são terminadas por um tradicionalentablamento que contorna a edificação.A fachada lateral esquerda possui uma porta de acessoladeada, à direita, por três portas-janelas guarnecidas porguarda-corpos de balaústre e cinco janelas retangularese, à esquerda, pelas pequenas aberturas <strong>do</strong>s sanitários<strong>do</strong> edifício. No pavimento superior, o esquema compositivoé bastante similar. A diferença está nos guardacorposdas quatro portas-janelas que foram confecciona<strong>do</strong>sem serralheria. Uma cimalha dá acabamento aesta fachada que é terminada por uma platibanda. A fachadalateral direita possui uma porta de acesso ladeada,à direita, por duas janelas e, à esquerda, por três janelas,todas com verga em arco pleno. Sobrepon<strong>do</strong> o conjunto,existe a mesma composição, só que com a presençadas portas-janelas com guarda-corpos em serralheria.A fachada posterior está alterada por uma construçãoanexa. Ainda assim, é possível observar quatro janelasde cada la<strong>do</strong> desta construção, todas com vergas emarco pleno, e guarnecidas por guarda-corpos de balaústre.Elas são sobrepostas por janelas guarnecidas porguarda-corpos em serralheria.Internamente, a edificação possui saguão de entradaque dá acesso a um corre<strong>do</strong>r central e a escada de acessoao pavimento de cima. A circulação, com as salas <strong>do</strong>s<strong>do</strong>is la<strong>do</strong>s, impressiona. Inicialmente, por sua dimensão.Generosamente larga, ela está revestida pelo modernoladrilho hidráulico de colori<strong>do</strong> vermelho, preto, verde ebranco. Nas salas de aula, o piso se refina. Preserva<strong>do</strong>em sua aparência e estrutura, o tabua<strong>do</strong> de madeira fala<strong>do</strong> tempo de escolas feitas para durar. Nela, também oforro é sempre em friso de madeira. Uma escada emmadeira dá acesso ao pavimento superior, que apresentaconfiguração espacial bastante parecida com a <strong>do</strong> pavimentotérreo, com as salas abrin<strong>do</strong>-se para o corre<strong>do</strong>rcentral. Os revestimentos também são os mesmos. Ocorre<strong>do</strong>r possui óculos de iluminação e as portas internassão com verga reta e bandeira em vidro.REFERÊNCIASACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. Lima (Org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>sno Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretariade Esta<strong>do</strong> da Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong>Espírito <strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.BITTENCOURT, Gabriel. Notícias <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>. Rio de Janeiro:Real Rio Gráfico Editora, 1989.CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM (Município). Site institucional.Disponível em: . Acesso em: jul. 2006.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória:Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura,nº 01, 1985.


PALÁCIO BERNARDINO MONTEIROPraça Jerônimo Monteiro, nº 32, Centro, Cachoeiro de ItapemirimProteção Legal: Resolução nº 5/1985 <strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrições no Livro <strong>do</strong> Tombo Histórico sob o n° 84, folhas 9v e 10e no Livro <strong>do</strong> Tombo das Belas Artes sob o nº 5, folhas 1v e 269


Castelo


71Fazenda <strong>do</strong> CentroA região da Fazenda <strong>do</strong> Centro, primitivamente, erapropriedade <strong>do</strong> major Póvoas que, desiludi<strong>do</strong> com a escassez<strong>do</strong> ouro, a aban<strong>do</strong>nou. Entretanto, mais <strong>do</strong> quelugar de mineração, a fazenda foi o local onde se inicioua mudança da base econômica <strong>do</strong> futuro município deCastelo. Com o esgotamento das jazidas de ouro, osocupantes dedicaram-se gradativamente à agricultura.Na Fazenda <strong>do</strong> Centro, essa mudança se inicia com aextração de madeira para transformar as matas em lavourasde café e pasto para ga<strong>do</strong>, num fenômeno demudança que abrange outras áreas. Assim, em mea<strong>do</strong><strong>do</strong> século XIX, a agricultura começa a se desenvolverutilizan<strong>do</strong> a mão-de-obra escrava e fundamentada nocultivo <strong>do</strong> café, ao qual eram associadas outras culturas,como a cana-de-açúcar e a mandioca. A partir destaépoca, as fazendas da região começam a florescer.A fundação da Fazenda <strong>do</strong> Centro coincide com achegada <strong>do</strong> major da Guarda Nacional Antônio VieiraMacha<strong>do</strong> da Cunha, em 1845. Antônio Vieira veiopara a então província com mais cinco irmãos, to<strong>do</strong>sfazendeiros, onde se casa com Maria Leopoldina e temuma filha, Isabel. Esta veio a casar-se com ManoelFernandes Moura, comerciante na rua da Candelária,na cidade <strong>do</strong> Rio de Janeiro, com quem tem umafilha, Heloísa. Herdeiro da fazenda, em 1868, Manoela transformou em rica produtora de café. Em 1870, afazenda possuía 161 escravos e 242 mil pés de café, e opatrimônio de Manoel incluía, além <strong>do</strong> cafezal, terras,instalações, equipamentos, residência e animais.Muitos casos são conta<strong>do</strong>s acerca da Fazenda <strong>do</strong> Centro.Quanto a Manoel, conta-se que era um bom homem,porém autoritário. Ele promovia muitas festase tinha uma banda de música e um grupo de teatro,que se apresentava no salão da casa-grande. Alguns negrospossuíam regalias, por serem artistas, por exemplo.Contu<strong>do</strong>, os negros rebeldes não gozavam de nenhumprivilégio. Amarra<strong>do</strong>s ao tronco, eram açoita<strong>do</strong>s sempiedade.Com a mulher, Manoel não vivia bem, condição queenseja em Isabel um plano para matá-lo e tomar seu patrimônio.Assim, essa propõe a Manoel uma viagem dereconciliação para Portugal. Desconfia<strong>do</strong>, o portuguêsmanda <strong>do</strong>is escravos enterrarem o que tinha de maisvalioso em um lugar secreto. A ordem foi cumprida, eno retorno ao casarão a dupla foi morta. Pode ser queo serviço tenha si<strong>do</strong> feito a man<strong>do</strong> <strong>do</strong> próprio Manoel,que podia então viajar tranquilo, pois somente ele sabiaonde estava o tesouro. Manoel partiu com Isabel, massuas desconfianças tinham fundamento. Na volta parao Brasil, ele morreu misteriosamente e teve o corpojoga<strong>do</strong> no oceano. A viúva vasculhou toda a propriedade,tentan<strong>do</strong> achar o tesouro, mas não o encontroue entrou em desespero. Não se sabe o que aconteceucom ela. Com a morte de Manoel, têm início o declínioda fazenda e a discórdia entre cincos herdeiros. Essaépoca coincide com a Abolição da Escravatura. A repentinafalta da mão-de-obra escrava, e a consequentecrise agrícola deixam os herdeiros impossibilita<strong>do</strong>s de


CASTELOmanter a fazenda. Assim, no final <strong>do</strong> século XIX, a famíliaMoura entrega sua administração a um feitor quetambém encontra dificuldades para administrá-la. Apartir de 1898, a Fazenda <strong>do</strong> Centro está praticamenteaban<strong>do</strong>nada.Em 1909, adquirida pela congregação <strong>do</strong>s agostinianos,a fazenda tem seu terreno dividi<strong>do</strong> em lotes distribuí<strong>do</strong>sentre mais de 100 famílias de imigrantes italianos. Asterras foram se transforman<strong>do</strong> em minifúndios, pequenaspropriedades de administração familiar. É comumeste ato, ocorri<strong>do</strong> entre 1910 e 1918, ser toma<strong>do</strong> comosen<strong>do</strong> a primeira reforma agrária <strong>do</strong> Brasil, chegan<strong>do</strong>alguns a afirmarem ter si<strong>do</strong> a primeira da América Latina.O mentor desta empreitada foi frei Manoel Simon,em sociedade com José Sobrinho, que juntos compraram1.542 alqueires das terras da Fazenda <strong>do</strong> Centro.As famílias assentadas tinham dez anos para pagar pelasterras, com carência de mais cinco anos. Enquanto nãoestavam produzin<strong>do</strong> eram sustenta<strong>do</strong>s pelos religiososagostinianos. A partir de um sistema cooperativista, afazenda se transformou em um ativo centro comercial,social e religioso. Os imigrantes começaram, assim, areerguer a economia local. A produção de café e cereaistransformou a fazenda em ativo centro comercial esocial, o maior da região. Além disso, como moradia deum padre, a fazenda se torna, também, centro religioso.Assim, a Fazenda <strong>do</strong> Centro além de empreendimentosocial se torna um centro de irradiação <strong>do</strong> evangelho.A partir <strong>do</strong>s anos 1930, as atividades comerciais cedemlugar ao trabalho religioso. O casarão serviu como seminárioe novicia<strong>do</strong> e, mais tarde, como sede para encontrosde jovens.Essa vitalidade se mantém até 1989, quan<strong>do</strong> a propriedadeé aban<strong>do</strong>nada. Em sua época áurea, essa possuía3.202 alqueires e cerca de 600 escravos, compreendiaarmazéns, paiol, senzalas, engenhos de beneficiamentode café, arroz, moinho, oficina mecânica, capela, forman<strong>do</strong>um pequeno povoa<strong>do</strong>. O complexo arquitetônico,correspondente a cerca de <strong>do</strong>is séculos de dinamismoeconômico e consolidação, compreende, além dasestruturas da fazenda propriamente, uma grande igrejaconstruída, provavelmente, na década de 1950, em homenagema <strong>Santo</strong> Agostinho.Vista à distância, a antiga fazenda, uma grande construçãoimplantada em posição privilegiada na planície<strong>do</strong> Caxixe, se destaca com sua branca volumetria, especialmenteimpactante em confronto com o contornogranítico de seu entorno. Contornan<strong>do</strong>-a, contu<strong>do</strong>, aprimeira impressão se dilui. Agora, a visão compacta esólida adquire contornos menos precisos frente à multiplicidadede portas e janelas, à diversidade de materiaise à alternância volumétrica da casa, um corpo centralassobrada<strong>do</strong> com duas construções térreas.O conjunto, uma área de 1.800 m² onde estão dispostosvinte quartos, especialmente seu segun<strong>do</strong> pavimento,parece uma grande máquina de observação e controle<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> produtivo da fazenda. No térreo, em toda a


73fachada principal, o avanço <strong>do</strong> piso superior <strong>do</strong> corpocentral e os prolongamentos das águas <strong>do</strong>s corpos lateraisformam uma extensa varanda com piso em pedrae tijoleira. Na parte da varanda <strong>do</strong> la<strong>do</strong> direito, o acessoao interior <strong>do</strong> imóvel é feito ao nível <strong>do</strong> solo e nasoutras duas partes por meio de pequenas escadas demadeira. Na edificação central, ao nível <strong>do</strong> térreo, hátrês portas de acesso deslocadas <strong>do</strong> centro da fachadaposterior, e ladeadas por duas janelas <strong>do</strong> la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong>e por quatro <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong>.No pavimento superior, a varanda é inteiramente fechadapor caixilharia de vidro composta por dezenovejanelas geminadas com ombreiras comuns, compon<strong>do</strong>uma vedação envidraçada de belíssimo efeito e difícilde ser encontrada em outros exemplares de arquiteturarural no Espírito <strong>Santo</strong>. A fachada anterior <strong>do</strong> volumecentral possui nove janelas ao nível <strong>do</strong> térreo, sobrepostaspor outras nove no nível superior. Nesta fachada, aedificação térrea da esquerda possui uma varanda.Erguida pelos escravos, e acrescida em diferentes épocas,a Fazenda <strong>do</strong> Centro é ainda um belíssimo testemunhodas formas de construir no Espírito <strong>Santo</strong>, emespecial na região onde se situa. A presença da pedra,da madeira e <strong>do</strong> barro é vestígio precioso. A pedra estápresente nas fundações e em um terço das paredes <strong>do</strong>térreo. A madeira é material quase <strong>do</strong>minante na estrutura,reconheci<strong>do</strong> nas vedações, nas esquadrias, no barroteamentoe no revestimento <strong>do</strong>s pisos, nos lambrequinsde revestimento <strong>do</strong> beiral. O barro, esse pode servisto em diferentes formas como o a<strong>do</strong>be e a taipa demão reboca<strong>do</strong>s, mas também nas telhas tipo capa-canalda cobertura. A madeira, contu<strong>do</strong>, pode ser consideradao material <strong>do</strong>minante e responsável pela qualidade estéticae construtiva da casa. Afinal, ela compõe não só oapoio, como o fechamento <strong>do</strong>s vãos de porta e janelas.Essas podem ser tapadas com folhas duplas e guilhotina,onde o vidro é material abundante.A Fazenda <strong>do</strong> Centro, uma das mais importantes deCastelo, fundamental no perío<strong>do</strong> das grandes fazendas,e de participação imprescindível no perío<strong>do</strong> da agriculturafamiliar <strong>do</strong>s imigrantes italianos, foi uma das maisimportantes, não só para o município, como tambémpara toda a região sul <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>.FAZENDA DO CENTROCasteloProteção Legal: Resolução nº 5/1984<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o n° 79, folhas 9v e 10


REFERÊNCIASACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. Lima (Org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>sno Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretariade Esta<strong>do</strong> da Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.BALESTRERO, Heribal<strong>do</strong> Lopes. O povoamento <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>:marcha de penetração <strong>do</strong> território. Viana: [s.n.], 1976.CASAGRANDE, André Dell’Orto; BARBIERO, Maria HelenaMion. Castelo: da pré-história ao início <strong>do</strong> século XX. Vitória: ProduçõesGráficas, 2003.CASTELO (Município). Site institucional. Disponível em: . Acesso em: jul. 2006.COSSATI, Rodrigo Schiavino. Centro cultural em Castelo. Monografia(Graduação). Departamento de <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo, UniversidadeFederal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, Vitória, 2000.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória:Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, nº.11, 1982.MATTEDI, José Carlos. História perdida entre montanhas. A Gazeta,Vitória, Caderno Dois, p. 1 e 3, 1 mar. 1998.MUNICÍPIOS DO ESPÍRITO SANTO. A Gazeta, Vitória, CadernoEspecial, 25 jul. 1994. Com apoio <strong>do</strong> Departamento Estadualde Estatística – DEE.


CASTELOIGREJA DE NOSSA SENHORA DA PENHACasteloProteção Legal: Resolução nº 2/1998<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 185, folhas 30v e 31


77Igreja de NossaSenhora da PenhaA Matriz de Nossa Senhora da Penha, situada nocentro de Castelo e inaugurada em 30 de maio de 1965,encontra-se edificada no mesmo local da primeira igrejacatólica <strong>do</strong> município. Sua construção teve início nadécada de 1950 e se integra ao conjunto de edifíciosreligiosos ecléticos influencia<strong>do</strong>s pela arquitetura <strong>do</strong>país de origem <strong>do</strong>s colonos imigrantes, no caso deCastelo, basicamente italianos. Esta igreja é importantepara a compreensão da religiosidade que envolve acomunidade castelense, que teve participação ativa naobra <strong>do</strong> edifício.Erguida em terreno eleva<strong>do</strong>, a igreja possui sua fachadafrontal direcionada para o vale defini<strong>do</strong> pelo rio queatravessa cidade. O mesmo que orientou, em temporemoto, o desbravamento <strong>do</strong> interior <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>, em época anterior à colonização por imigranteseuropeus, no século XIX. Atualmente, o rio está relega<strong>do</strong>pela extensão <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> urbano sobre suas margens.Situação semelhante parece ter aconteci<strong>do</strong> com aigreja. Inicialmente altaneira em seu ambiente, marcode referência para seus mora<strong>do</strong>res, já não se dá aver facilmente. Assim, o impacto de sua presença napaisagem exige um deslocar-se entre as ruas até que, deuma só vez, ela surja no alto da escadaria, posicionada àsua frente. O largo, tão comum na frente das edificaçõesreligiosas, dá então lugar a uma passagem implantada naprojeção <strong>do</strong> pequeno átrio.Com telha<strong>do</strong> em duas águas coberto por telhas-francesas,a igreja possui fachada frontal delineada com influênciasda arquitetura clássica brasileira simplificada, presentesem despoja<strong>do</strong>s ornamentos. Marca<strong>do</strong> pela simetria e pelofrontão, o frontispício apresenta duas varandas que seprojetam ao nível <strong>do</strong> coro e são sustentadas por colunas,forman<strong>do</strong> um pórtico de entrada. Centralizada, a portaé ladeada por <strong>do</strong>is vãos em arco pleno, que se repetemao nível <strong>do</strong> coro. A igreja conta com duas imponentestorres sineiras, escalonadas e coroadas por cúpulas deinspiração mourisca. Nos <strong>do</strong>is níveis das torres, hábalaústres de cimento. Lateralmente, o corpo da igrejaestá delimita<strong>do</strong> por fachadas simétricas desenhadaspela repetição de aberturas em três níveis: quatroportas, sete janelas com vitrais de, aproximadamente,três metros de altura e sete óculos fecha<strong>do</strong>s por umaestilizada flor executada em alvenaria. Esses, comoo conjunto edifica<strong>do</strong>, são revesti<strong>do</strong>s com materialconstrutivo caracteriza<strong>do</strong> por sua semelhança com apedra natural, presente nas construções religiosas maisantigas, especialmente no mun<strong>do</strong> europeu.O interior, um amplo espaço inspira<strong>do</strong> nas basílicas, temnave central, capela-mor, capelas laterais, sacristia, nártexcom acesso lateral ao coro e anexo. Aí, destacam-se aspinturas murais e os vitrais. As primeiras estão presentesno teto, nas platibandas, nas paredes divisórias entre anave e o nártex, e no coro; e os últimos nas paredeslaterais. Para o revestimento <strong>do</strong> piso, originalmentefoi utiliza<strong>do</strong> o ladrilho hidráulico. Removi<strong>do</strong>, ele foisubstituí<strong>do</strong> por placas de granito, em ação responsávelpela mobilização em prol <strong>do</strong> tombamento da igreja deNossa Senhora da Penha.


CASTELOREFERÊNCIASCASTELO comemora 77 anos. A Gazeta, Vitória, 2 jun. 2005.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória:Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, nº04, 1998.


81Casa da Culturade Domingos MartinsA Casa da Cultura de Domingos Martins funcionaem um prédio construí<strong>do</strong> no ano de 1915 pela famíliaSchwambach de origem alemã. Sucessivamente adquiri<strong>do</strong>pela prefeitura e pelo esta<strong>do</strong>, nele se instala o fórumda cidade, até a década de 1970, momento em que trabalhosde asfaltamento da avenida Presidente Vargas fazemsurgir rachaduras no edifício, um <strong>do</strong>s motivos que contribuipara o seu aban<strong>do</strong>no. Ameaça<strong>do</strong> de demolição, oimóvel é recupera<strong>do</strong> pela prefeitura municipal por meiode uma intervenção direcionada a adaptar seu interiorpara abrigar a Casa da Cultura, inaugurada em 1983. ACasa contém peças, <strong>do</strong>cumentos e fotografias que datamdesde 1847, <strong>do</strong>a<strong>do</strong>s pela própria comunidade de origemítalo-germânica, e organiza<strong>do</strong>s em <strong>do</strong>is setores: um correspondenteao acervo histórico e à pesquisa botânica<strong>do</strong> Sr. Kaustsky; e o outro compreenden<strong>do</strong> uma áreade exposições temporárias e a Escola de Música HelenaGerhardt Brickweade.Arquitetonicamente, trata-se de uma construção eclética,implantada em lote de esquina e ladeada por edificaçõestérreas, condições que contribuem para acentuar suavolumetria compacta e simétrica composição. Na partetérrea da fachada frontal, as janelas possuem verga emarco pleno e cercadura em argamassa com enfeites aplica<strong>do</strong>sna sobreverga. A porta da entrada apresenta vergareta, cercadura em argamassa e bandeira de vidro. Já nopavimento superior, uma sacada com balaustrada se projetaà frente de uma porta central franqueada por duasjanelas laterais. A fachada é emoldurada por cunhais ecornija, além de ser coroada por platibanda com frontãotriangular e quatro coruchéus. A fachada direita possui,no pavimento superior, duas janelas com verga em arcopleno. Na fachada esquerda, há quatro janelas com vergaem arco pleno e cercaduras, sobrepostas por outras quatrono pavimento superior. As portas possuem bandeirade vidro e as janelas apresentam venezianas e vidro comfolhas de madeira, na parte interna. Construída a partirde base feita em pedra e de alvenaria em tijolos, o imóvelpossui telha<strong>do</strong> em quatro águas coberto com telha decimento-amianto. O piso é confecciona<strong>do</strong> em tábua corridae o forro é <strong>do</strong> tipo saia-camisa. Uma elegante escadaem madeira dá acesso ao pavimento superior.A edificação original recebeu algumas alterações em consequência,principalmente, <strong>do</strong> aban<strong>do</strong>no e de desmoronamentosocorri<strong>do</strong>s no final da década de 1970. Nopavimento térreo, aos fun<strong>do</strong>s, foi acrescentada uma novaedificação, que segue a decoração empregada na fachadalateral esquerda. Anteriormente, neste local, estavam localiza<strong>do</strong>sa copa, a cozinha e o banheiro da residência dafamília Schwambach.


DOMINGOS MARTINSCASA DA CULTURA DE DOMINGOS MARTINSAvenida Presidente Vargas, s/n, Domingos MartinsProteção Legal: Resolução nº 8/1985 <strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrições no Livro <strong>do</strong> Tombo Histórico sob o nº 87, folhas 9v e 10e no Livro <strong>do</strong> Tombo das Belas Artes sob o nº 61, folhas 14v e 15


DOMINGOS MARTINS


85REFERÊNCIASACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. Lima (Org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>sno Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretariade Esta<strong>do</strong> da Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Inventário de Oferta Turística: DomingosMartins. Vitória: Secretaria de Desenvolvimento Econômico,1997.. Processo de tombamento. Vitória: Conselho Estadual deCultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, nº 21, 1983.MARCHIORI, Elissa Maria Tavares. <strong>Arquitetura</strong> teuto-capixaba nomunicípio de Domingos Martins: Santa Isabel e Campinho. Monografia(Graduação). Departamento de <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo, UniversidadeFederal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, Vitória, 1994.SANTOS, Ezequiel Sampaio; KILL, Miguel; BIGOSSI, Rutiléa;MURARI, Jonas Braz. História, geografia e organização social e política <strong>do</strong>município de Domingos Martins. Vitória: Editora Brasília, 1992.SIMONASSI, Roger. Hotel de Lazer em Santa Teresa. Monografia(Graduação). Departamento de <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo, UniversidadeFederal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, Vitória, 1992.VELTEN, Joel Guilherme (Secretário de Administração da PrefeituraMunicipal de Domingos Martins). Entrevista concedida emmaio de 2006.


DOMINGOS MARTINSIGREJA EVANGÉLICA DE CONFISSÃO LUTERANAPraça Artur Gerhardt, Domingos MartinsProteção Legal: Resolução nº 6/1986<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrições no Livro <strong>do</strong> Tombo Histórico, sob o nº 128, folhas 23v e 24e no Livro <strong>do</strong> Tombo das Belas Artes, sob o nº 63, folhas 14v e 15


87Igreja Evangélica deConfissão LuteranaA colônia de Santa Isabel, fundada em 1847 por LuizPedreira <strong>do</strong> Couto Ferraz, presidente da província <strong>do</strong>Espírito <strong>Santo</strong>, é o primeiro núcleo de colonização aser cria<strong>do</strong> em território capixaba, depois da colônia deaçorianos em Viana. Trinta e oito famílias origináriasda Prússia Renana, na Alemanha, desembarcam no Riode Janeiro, em 17 de janeiro de 1847, e em Vitória, nodia 21 de fevereiro. Estas famílias se instalam no braçonorte <strong>do</strong> rio Jucu, onde são cria<strong>do</strong>s vários povoa<strong>do</strong>s,dentre eles o de Campinho, chama<strong>do</strong> pelos imigrantesde “Campinhoberg”. O território recebe o nome, queconserva até hoje, pois é plano e cerca<strong>do</strong> de morrospor to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s. Ali os imigrantes constroem seu núcleourbano e estabelecem suas primeiras construções.Dentre as famílias de colonos, <strong>do</strong>ze entre trinta e oitosão protestantes. As famílias católicas são assistidas porpadre <strong>do</strong> país originário, ao contrário das protestantes.Somente após 1860, a sede da paróquia de Boa Vistaé transferida para o Campinho. A construção de umtemplo luterano é desejada por muitos <strong>do</strong>s primeirosimigrantes alemães chega<strong>do</strong>s ao Espírito <strong>Santo</strong>. Assim,eles erguem uma primeira capela no centro <strong>do</strong> cemitério.Precária, a construção resiste pouco motivan<strong>do</strong> aconstrução de uma nova igreja, inaugurada em 20 demaio de 1866, no <strong>do</strong>mingo de Pentecostes, pelo pastorHeinrich Eger. Nesta época, somente a nave da igreja éconstruída, com a utilização da taipa de pilão.A Igreja Luterana de Domingos Martins está implantadana praça Artur Gerhardt em patamar eleva<strong>do</strong> emrelação ao nível <strong>do</strong> praça, na qual se destaca pela verticalidadede sua torre, situada na frente da fachada, emconfiguração harmônica com o telha<strong>do</strong> de forte declividade.Esse tem duas águas e é coberto com telhasfrancesas,apresentan<strong>do</strong> terminação em cimalha de argamassa.O acesso ao corpo da igreja é feito por umaescadaria revestida de ardósia. Em frente, na extremidadeoposta da praça, está localizada a casa paroquial e,aos fun<strong>do</strong>s da igreja, encontra-se o cemitério.Internamente, a igreja tem planta retangular e, além danave, possui capela-mor e coro. A nave apresenta forro,elabora<strong>do</strong> em abóbada de berço revestida com frisode madeira e, de cada la<strong>do</strong>, três janelas com vergas emarco pleno, fechadas com caixilharia de vidro colori<strong>do</strong>.Já a capela-mor apresenta planta poligonal com duasportas e duas janelas, todas com vergas em arco pleno.Possui um óculo com vidros colori<strong>do</strong>s e seu telha<strong>do</strong> éde cinco águas coberto com telhas-francesas. Há umaescada de mármore que dá acesso à capela-mor. Separadada nave pelo arco cruzeiro revesti<strong>do</strong> em argamassa,a capela possui piso de ladrilho hidráulico e seu forro,em madeira, subdividi<strong>do</strong> em cinco painéis, acompanhao caimento <strong>do</strong> telha<strong>do</strong>. O altar ali existente é de 1887,mesma época da torre. O púlpito, instala<strong>do</strong> na nave,na origem se integrava a este altar. O acesso ao coro eà torre é realiza<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong> átrio de entrada. O pisodeste átrio e o da circulação central é confecciona<strong>do</strong>com peças de ladrilho hidráulico. Nas laterais da nave,foram utiliza<strong>do</strong>s frisos de madeira.


DOMINGOS MARTINSA Igreja Luterana de Domingos Martins é a primeiraigreja protestante da América Latina a possuir torre.Construída durante a permanência <strong>do</strong> sétimo pastor, Sr.Wilhelm Algust Pagenkouf, entre 1880 e 1887, e inauguradaem 30 de janeiro de 1887, a torre-campanário ocupaposição centralizada na fachada frontal. Grandiosa emsuas dimensões, ela se destaca e <strong>do</strong>mina a composiçãocom suas aberturas delineadas por vergas em arco plenoe cercadura em argamassa, pelos óculos e mostra<strong>do</strong>res<strong>do</strong> relógio e pela cobertura facetada em ardósia. Suasparedes são feitas em barro soca<strong>do</strong> com capim, e têmespessura de um metro. Durante o Império, somente asigrejas católicas podiam ter torres, definin<strong>do</strong>-se o cre<strong>do</strong>das igrejas pela presença ou ausência deste elementoarquitetônico. Assim, as igrejas evangélicas não podiamser concebidas como edificações com características detemplo <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de torre, uma determinação descumpridano caso dessa igreja, e alterada com o advento daRepública.A torre possui três sinos, <strong>do</strong>is compra<strong>do</strong>s pela própriacomunidade e o maior <strong>do</strong>a<strong>do</strong> pela Igreja Luterana da Alemanha.São de fabricação alemã, datam de 1886 e são denomina<strong>do</strong>sGlória, Concórdia e Graça. Quan<strong>do</strong> os sinoschegam a Vitória, dez homens vão buscá-los, mas nãoé possível trazê-los, pois o maior deles (o Glória) pesa300 quilos. Os luteranos pedem ao Sr. Nicolau WilibrotSimmer, católico e único mora<strong>do</strong>r que tem carro de boi,que fosse buscá-los. Ele aceita e manda seu filho e seusescravos na frente para limpar a estrada e facilitar a passagem<strong>do</strong> carro de boi. Na volta, quan<strong>do</strong> passa pela casa<strong>do</strong> Sr. Johann Nikolaus, a mãe <strong>do</strong> Sr. Nikolaus, de nomeMaria Agnes Haar, pára a comitiva, faz três guirlandas deflores e coloca uma em cada sino. Na frente <strong>do</strong> carro deboi veio o emissário avisan<strong>do</strong> que os sinos estavam chegan<strong>do</strong>.Também há na torre um relógio inaugura<strong>do</strong> em31 de Janeiro de 1937 e ainda em funcionamento; construí<strong>do</strong>por João Ricar<strong>do</strong> Hermann Schorling, o mesmoconstrutor <strong>do</strong> relógio da Praça Oito de Setembro, possuiquatro faces e pêndulos de 75 e 65 quilos.


89REFERÊNCIASACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. Lima (Org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>sno Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretariade Esta<strong>do</strong> da Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória:Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, nº.10, 1984.SANTOS, Ezequiel Sampaio; KILL, Miguel; BIGOSSI, Rutiléa;MURARI; Jonas Braz. História, geografia e organização social e política <strong>do</strong>município de Domingos Martins. Vitória: Editora Brasília, 1992.SIMONASSI, Roger. Hotel de lazer em Santa Teresa. Monografia(Graduação). Departamento de <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo, UniversidadeFederal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, Vitória, 1992.VELTEN, Joel Guilherme (Secretário de Administração da PrefeituraMunicipal de Domingos Martins). Entrevista concedida emmaio de 2006.


CASARÃO DA FAMÍLIA AGOSTINIAvenida José Agostini, s/n, FundãoProteção legal: Resolução nº 3/1985 <strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Histórico, sob o nº 82, às folhas 9v e 10e no Livro <strong>do</strong> Tombo das Belas Artes, sob o nº 3, às folhas 1v e 2Fundão


91Casarão da Família AgostiniO município de Fundão tem sua história ligada à NovaAlmeida, primitivamente um aldeamento jesuítico, aAldeia <strong>do</strong>s Reis Magos. Compreenden<strong>do</strong> vasta extensãoterritorial, que incluía a região <strong>do</strong> atual municípiode Fundão, Nova Almeida foi elevada à categoria devila em 1759, à situação de comarca em 1760 para, finalmente,em 1890, ser sede de município. Contu<strong>do</strong>, ainteriorização <strong>do</strong> homem em busca de melhores terrasou à procura de metais preciosos formou novas zonaspioneiras e novos núcleos populacionais. Assim, seupioneirismo e liderança foram sen<strong>do</strong> gradativamentediminuí<strong>do</strong>s. A construção da Ferrovia Vitória-Minas,no início <strong>do</strong> século XX, constituiu o fator decisivo parao declínio de Nova Almeida.A passagem <strong>do</strong>s trilhos pela fazenda <strong>do</strong> Taquaruçu,terreno pertencente ao pioneiro Cândi<strong>do</strong> Vieira, àsmargens <strong>do</strong> rio Fundão, possibilitou a formação de umaglomera<strong>do</strong> populacional que, em 1903, transformousena sede de distrito chama<strong>do</strong> Fundão. Nos primeirosanos da década de 1920, a sede <strong>do</strong> município foi transferidade Nova Almeida para este novo distrito. Esse éo primeiro passo da posterior emancipação de Fundãoque, em 1933, se transforma em município. Contu<strong>do</strong>,sua ascensão à categoria de cidade só ocorreu em 1938.Assim, surgi<strong>do</strong> e desenvolvi<strong>do</strong> em função da ferrovia,Fundão é um <strong>do</strong>s mais antigos municípios capixabas.O sobra<strong>do</strong> foi construí<strong>do</strong> em 1882, nas terras da fazendaTaquaruçu, pertencentes à Cândi<strong>do</strong> Vieira. Umaconstrução exemplar bastante significativa das edifica-ções <strong>do</strong> ciclo <strong>do</strong> café que movimentou os municípioslocaliza<strong>do</strong>s ao norte de Vitória, posteriormente, o sobra<strong>do</strong>foi a leilão e acabou por ser arremata<strong>do</strong> pela FamíliaAgostini. Ergui<strong>do</strong> nas proximidades da estrada deferro, o distrito de Fundão havia cresci<strong>do</strong> em importânciaeconômica. Nesse contexto de progresso, o casarão,agora sede da firma exporta<strong>do</strong>ra de café Ângelo Agostini& Cia., administrada por Ipolyti Agostini, comerciantee representante bancário, adquire relevante papelem sua região de influência. Nesta época, a edificaçãoera ligada por linha telefônica particular com a sede dafazenda Agostini, localizada no interior <strong>do</strong> município.A partir de 1925, passou a morar no sobra<strong>do</strong> o médicoCésar Agostini, figura de destaque na região, principalmente,pelo grande trabalho assistencial que realizou.A edificação possui implantação singular. Trata-se deum sobra<strong>do</strong> localiza<strong>do</strong> em terreno em aclive, que sedestaca na paisagem urbana pelo contraponto de suaarquitetura antiga frente à nova ambiência urbana, peloporte de seu volume edifica<strong>do</strong> e pela simplicidade desua composição estética.Na época de sua construção, o casarão ficava em posiçãoisolada, sobressain<strong>do</strong>-se em território ainda inexplora<strong>do</strong>,onde <strong>do</strong>minava a natureza circundante. Dessaépoca, a edificação conserva, em pequeno afastamentofrontal, uma escada construída em pedra aparente.O Casarão da Família Agostini apresenta planta derígida regularidade e é composta por <strong>do</strong>is pavimentosmais um sótão. No térreo, funcionava o estabelecimento


FUNDÃOao qual se chega por cinco portas-janelas sobrepostas,simetricamente, às portas <strong>do</strong> pavimento térreo. Todasas portas possuem verga reta, ombreira, soleira e folhasem madeira. As portas-janelas <strong>do</strong> pavimento superiorapresentam venezianas, caixilhos com vidro e bandeiras.As fachadas laterais têm janelas duplas, guilhotinapor fora e duas folhas de madeira por dentro. Nestasfachadas, destacam-se os contrafortes de alvenaria,que conferem resistência à estrutura. O sótão tem suasjanelas voltadas para a lateral da residência. Na fachadade fun<strong>do</strong>s, há uma varanda que integra a casa à rua.comercial, ligan<strong>do</strong>-se ao mun<strong>do</strong> exterior por meio decinco portas dispostas sobre o passeio da frente da casa.No pavimento superior, a residência estava organizadaa partir da valorização da iluminação e ventilação dasjanelas e portas. Na fachada da frente, uma sequência decinco vãos se abre para o estreito balcão disposto sobretoda a frente da casa, repetin<strong>do</strong> as portas <strong>do</strong> térreo.O acesso ao pavimento superior, a partir <strong>do</strong> exterior, sefaz por meio de uma escada de <strong>do</strong>is lances, sobrepostaà fachada lateral esquerda ou pela rua <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s queestá no nível <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> andar. A referida escada foiconstruída na reforma que a casa sofreu em 1986. Jáno interior, uma escada de caracol em ferro, une os<strong>do</strong>is pavimentos, e uma escada em madeira dá acessoao sótão.O conjunto é forma<strong>do</strong> por <strong>do</strong>is volumes justapostos,mas distinguíveis pela elevação de suas coberturas.Estruturadas em madeira e cobertas com telhasfrancesas,cada uma delas possui <strong>do</strong>is planos, executa<strong>do</strong>sa partir de uma cumeeira posicionada em paralelo àsfachadas. Internamente, a madeira, aparente ou revestidacom tinta, é o material <strong>do</strong>minante. Utilizada na execuçãode pisos, forros e esquadrias, ela pode ser vislumbradaem sua tosca natureza no pavimento térreo, ou tratadae entalhada no primeiro pavimento. No andar térreo,o piso cimenta<strong>do</strong> e a ausência de forro contribuemna ambientação <strong>do</strong> que um dia foi um movimenta<strong>do</strong>comércio. No pavimento superior, o forro em tabua<strong>do</strong>apresenta suas juntas em macho-e-fêmea, enquantoo piso é confecciona<strong>do</strong> com tábuas de madeira sobrebarrotes. Aí, as divisórias são feitas em tábuas. O sótãoapresenta telha-vã.Comprada pela Prefeitura Municipal de Fundão, entre1985 e 1986 a edificação foi restaurada e adaptadafuncionalmente para abrigar uma Casa da Cultura.Na fachada frontal destaca-se, além <strong>do</strong>s cunhais comdecoração que imita pedra, um estreito balcão contínuo,com gradil em ferro, disposto sobre toda a frente da casa,


93REFERÊNCIASACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. Lima (Org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>sno Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretariade Esta<strong>do</strong> da Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória: ConselhoEstadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, nº 21,1984.IBGE. Fundão, Sudeste, Espírito <strong>Santo</strong>. Coleção de Monografias Municipais.Rio de Janeiro: 1985.INSTITUTO CEPA/ES. Município de Fundão: situação sócioeconômica.Vitória, 1983.INSTITUTO DE APOIO À PESQUISA E AO DESENVOLVI-MENTO JONES DOS SANTOS NEVES. Informações Municipais<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, 1994-1998. Vitória, 2000.


Guarapari


95Igreja de NossaSenhora da ConceiçãoInicialmente uma aldeia indígena fixada à beira-mar pelotemiminó Cão Grande em 1557, Guarapari é o primeiroaldeamento jesuítico no Espírito <strong>Santo</strong> funda<strong>do</strong> ao sulde Vitória, ou seja, da residência e colégio de São Tiago.A data de sua fundação não está definida; contu<strong>do</strong>,considera-se que Nossa Senhora da Conceição seja oresulta<strong>do</strong> da transferência <strong>do</strong>s índios aldea<strong>do</strong>s por CãoGrande para um novo e definitivo sítio, mais eleva<strong>do</strong>e junto à foz <strong>do</strong> rio Guarapari, antes de 1587. Aí, umquesito de primordial importância para o jesuíta, essaproximidade foi exemplarmente aproveitada com aconstrução de um poço para abastecimento de água,localiza<strong>do</strong> aos fun<strong>do</strong>s da residência.Quanto à igreja, sua inauguração, em 1585, teria si<strong>do</strong>celebrada com festa. Certo é que entre 1595 e 1596ali residiam os padres jesuítas Antônio Dias e ManuelDias, situação considerada indicativa da existência deum edifício destina<strong>do</strong> ao culto. Abrigo para padres fixosou visitantes, a aldeia de Nossa Senhora da Conceiçãoera ora de visita, ora de residência, condição indicativade seu estratégico papel, no século XVII, para asações da Companhia de Jesus, junto com a aldeia deSão João, em Carapina, ao norte da vila de Vitória. Aaldeia de Guarapari, contu<strong>do</strong>, será profundamentealterada no século seguinte quan<strong>do</strong>, após a fundação <strong>do</strong>aldeamento de Reritiba, mais ao sul, os padres inacianosa aban<strong>do</strong>nam.Quan<strong>do</strong> aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>, o edifício tinha de pé a igrejae parte da residência, o quarto da quadra contíguo àfachada <strong>do</strong> edifício destina<strong>do</strong> ao culto, da qual apenas osalicerces, ao nível <strong>do</strong> chão, ainda existem. Contu<strong>do</strong>, semuso e exposta a to<strong>do</strong> tipo de agressão, Nossa Senhorada Conceição entra em processo de arruinamento atéser reconstruída pelo arcediago Antônio de SiqueiraQuintal, em 1751, oito anos antes da expulsão <strong>do</strong>sjesuítas. Essa condição, entretanto, não durará. Com amorte <strong>do</strong> arcediago, a igreja, administrada pela Mitra eutilizada esporadicamente, mais uma vez passa por umaprogressiva deterioração até que, em 1819, a residênciaameaça cair e na capela a missa foi proibida. Dura<strong>do</strong>ura,essa situação é registrada por D. Pedro II, em 1860,quan<strong>do</strong>, de passagem, a ela se refere afirman<strong>do</strong>: A capelahavia de ser bonita e a casa contígua é de sobra<strong>do</strong> com 6 janelasde frente, mas pouco fun<strong>do</strong>.Ainda assim, durante as duas décadas seguintes, semconcertos, a primitiva igreja <strong>do</strong>s jesuítas continuou a serutilizada até que, em 21 de agosto de 1880, após serreconstruída, é solenemente reinaugurada na condiçãode matriz, mantida até 25 de julho de 1971. Durante esseperío<strong>do</strong>, ela é internamente modificada em intervençõesque, com exceção <strong>do</strong> alongamento da capela-mor, nãoa descaracterizam. É o caso, por exemplo, <strong>do</strong> piso deladrilho da capela-mor e o mo<strong>do</strong> de assentar o altarmor,o forro apainela<strong>do</strong> <strong>do</strong> corpo da igreja, a elevação<strong>do</strong> nível <strong>do</strong> piso <strong>do</strong> coro e a substituição das colunasde madeira por outras de alvenaria, material tambémutiliza<strong>do</strong> no piso, que passou a ser de alvenaria.Externamente, a principal alteração corresponde à


GUARAPARIIGREJA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃOCentro, GuarapariProteção Legal: Tombamento em 16/09/1970pelo Instituto <strong>do</strong> Patrimônio Histórico e Artístico NacionalInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Histórico, sob o nº 428, folhas 70


GUARAPARIabertura de duas portas laterais e ao recobrimento daportada por reboco com conchas na fachada frontal.De sua primitiva condição, por outro la<strong>do</strong>, são testemunhasas espessas e sólidas alvenarias de pedra e cale os singelos telha<strong>do</strong>s de duas águas, cobertos por telhascapa-canal. Elementos da arquitetura quinhentista,junto com o barroco frontão, a alvenaria e a coberturaconstituem relevantes elementos de conexão históricada igreja de Nossa Senhora da Conceição de Guarapari.Nas faces laterais da nave, eles se encontram fundi<strong>do</strong>sna cimalha, que à maneira de uma moldura, substitui ostradicionais beirais, ocultan<strong>do</strong> o telha<strong>do</strong>. Esses, contu<strong>do</strong>,estão presentes na cobertura da capela-mor e são <strong>do</strong>tipo beira-seveira e bica.Mas não só. Registro da configuração jesuítica noEspírito <strong>Santo</strong>, a igreja apresenta fachada com a típicatríade de janelas sobre o coro, e uma torre única externa,uma exceção no Brasil. Originalmente, com três arcosde vãos livres, to<strong>do</strong>s fecha<strong>do</strong>s, a torre tem cúpula emmeia-laranja apoiada sobre pendentes, como quasetodas as cúpulas de torres de igrejas construídas pelosjesuítas. O frontão, por sua vez, ao contrário <strong>do</strong> frontãosimples, triangular, próprio <strong>do</strong>s séculos XVI e XVII,apresenta empenas remodeladas por volutas rampantessobrepostas ao frontão clássico primitivo, e um óculolobula<strong>do</strong>, posteriormente fecha<strong>do</strong> com um baixorelevosimbolizan<strong>do</strong> o Sagra<strong>do</strong> Coração de Jesus.Quanto à residência, arruinada, só é possível conheceros vestígios de sua base e, indiretamente, reconhecerseu perímetro. Em sua condição original, inusitadamente,ela foi erguida facean<strong>do</strong> a parte traseira da fachadaposterior da torre, onde os padres posicionaramuma porta, por meio da qual entravam diretamente nanave. Alternativamente, uma outra porta comunicavaa residência à capela-mor. Ambas estavam localizadasno térreo.A planta, repetin<strong>do</strong> a configuração a<strong>do</strong>tada pelos jesuítasno Brasil, é de nave única perfeitamente diferenciadada capela-mor em largura e altura. Muito longa,relativamente às demais igrejas inacianas, a capela-mordelas também se diferencia pela curvatura da face internada parede <strong>do</strong> altar. Inicialmente com quatro seteiras,duas em cada uma das paredes laterais, a capela-morapresenta <strong>do</strong>is óculos loba<strong>do</strong>s, como o da fachada, poronde recebe natural iluminação. A nave, como nas primeirase pequenas igrejas construídas, tem três janelasem cada uma das paredes laterais. Iguais às <strong>do</strong> coro,elas são <strong>do</strong> tipo rasga<strong>do</strong> e apresentam parapeito entala<strong>do</strong>de tabua<strong>do</strong> em madeira e esquadrias de caixilho emmadeira e vidro. Originalmente, segun<strong>do</strong> a existênciade vestígios, havia <strong>do</strong>is púlpitos, um de cada la<strong>do</strong>.Quanto à imaginária, na igreja de Nossa Senhora daConceição de Guarapari, além da imagem da padroeira,esculpida no século XVIII, existe uma imagemde roca e modestamente ornada,representan<strong>do</strong> Cristo vesti<strong>do</strong> paraprocissão. Complementarmente,há junto à porta principal umapequena pia executada emmármore português de lioz.


99REFERÊNCIASABREU, Carol de (org.). Anchieta - A restauração de um santuário.Rio de Janeiro: 6ª. C. R./IPHAN, 1998.ACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. Lima (Org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>sno Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretariade Esta<strong>do</strong> da Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong>Espírito <strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.CARVALHO, José Antônio. A Arte no Espírito <strong>Santo</strong> no perío<strong>do</strong>colonial II. <strong>Arquitetura</strong> religiosa. Revista de Cultura da UniversidadeFederal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, Vitória, nº 30, p. 31-50, 1984.. A Arte no Espírito <strong>Santo</strong> no perío<strong>do</strong> colonial II. Pinturae escultura. Revista de Cultura da Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>,Vitória, nº. 32, p. 05-26, 1985.. O colégio e as residências <strong>do</strong>s jesuítas no Espírito <strong>Santo</strong>. Rio deJaneiro: Expressão e Cultura, 1982.IPHAN. Documentação <strong>do</strong> arquivo. Vitória, Instituto <strong>do</strong>Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem ao Espírito <strong>Santo</strong> e rio Doce.Belo Horizonte: Itatiaia, 1974.


GUARAPARIRADIUM HOTELCentro, GuarapariEsquina da Rua Joaquim da Silva Lima e Praça Ciríaco Ramalhete de OliveiraProteção Legal: Resolução nº 4/1998 <strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Histórico, sob o nº 178, folhas 29 v e 30


101Radium HotelInaugura<strong>do</strong> em 1952, o Radium Hotel está edifica<strong>do</strong>em lote de posição estratégica na cidade balneária deGuarapari. Quan<strong>do</strong> de sua concepção, esse se situa emposição de proximidade à área central da cidade, emquadra urbana ligeiramente recuada da linha de praia.Na frente <strong>do</strong> Radium, a praia da Areia Preta ganha famanacional pela qualidade terapêutica de suas areias, apósa divulgação de artigos de Antônio da Silva Mello, médicoestudioso <strong>do</strong> caráter radioativo <strong>do</strong>s quartzos deGuarapari. O terreno, na origem uma propriedade pública,torna-se agente <strong>do</strong> desenvolvimento da cidade aoser adquiri<strong>do</strong> por <strong>do</strong>ação pela Construtora Brasília, <strong>do</strong>Rio de Janeiro, junto à prefeitura municipal. Iniciada noano de 1947, a construção é paralisada <strong>do</strong>is anos após,em decorrência da falência da empresa carioca.À frente <strong>do</strong> governo <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, Jones<strong>do</strong>s <strong>Santo</strong>s Neves retoma a posse <strong>do</strong> terreno para, logoa seguir, arrendá-lo por quinze anos a Alberto QuatriniBianchi, responsável pela conclusão da obra. A festa deinauguração, uma atração em si, traz “personalidades”da capital federal à época, a cidade <strong>do</strong> Rio de Janeiro.Em seu funcionamento, reúne público diversifica<strong>do</strong>,composto por artistas, empresários, políticos, vin<strong>do</strong>s deoutras cidades e envolvi<strong>do</strong>s em seu principal atrativo,o cassino. Fonte de sucesso, contu<strong>do</strong>, os jogos de azarpromovem o fechamento <strong>do</strong> hotel em 1964.A segunda fase <strong>do</strong> hotel se inicia com a retomada públicade sua posse em 1967. Momento de incentivo nacionalà atividade turística, no Espírito <strong>Santo</strong> ela coin-cide com a criação da Empresa Capixaba de Turismo,instituição que passa a administrar o hotel. Até o anode 1990, momento de falência da Empresa Capixabade Turismo, as atividades hoteleiras <strong>do</strong> Radium se mantêm,a despeito das dificuldades encontradas para suamanutenção, num quadro de contínuo agravamento. Énum contexto de aban<strong>do</strong>no e deterioração física quese articula a Associação de Amigos <strong>do</strong> Radium Hotel,um movimento de iniciativa de mora<strong>do</strong>res da cidade deGuarapari em prol da proteção de elemento patrimonialmobiliza<strong>do</strong>r de memória social e identidade urbana.Nessa fase, destaca-se a promulgação de lei de proteção<strong>do</strong> edifício e de seu entorno imediato, uma iniciativa daprefeitura municipal, entre os anos de 1997 e 2000.Projeta<strong>do</strong> e construí<strong>do</strong> entre 1947 e 1952, o RadiumHotel, um edifício de três pavimentos, teve sua configuraçãoestética referenciada no estilo neocolonialsimplifica<strong>do</strong>, uma interpretação livre de elementos arquitetônicosidentifica<strong>do</strong>s com as obras coloniais. Umamanifestação dessa concepção, a composição promoveconexões formais e materiais, expressas em volumetriade discreto dinamismo e em aparência <strong>do</strong>minada pelabranca opacidade das alvenarias externas, onde se destacamportas e janelas de diferentes tamanhos.De grande simplicidade, como as obras em que se inspirouseu desconheci<strong>do</strong> projetista, o edifício tem suavolumetria dinamizada pelo deslocamento em profundidadede diferentes planos de vedação, presente, especialmente,na fachada frontal. Aí, um corpo de posição


GUARAPARIcentralizada se destaca pela superposição de um alpendree uma varanda descoberta. Posiciona<strong>do</strong> no pavimentotérreo, o alpendre é sustenta<strong>do</strong> por uma sequência dearcadas em arco pleno e coberto por telha de barro tipocapa-canal, enquanto a varanda, no pavimento superior,é fechada por um singelo guarda-corpo em madeira. Emcorrespondência com as dimensões <strong>do</strong> edifício, a enormecobertura, um conjunto de planos, contribui para odiscreto dinamismo volumétrico <strong>do</strong> edifício. Executadaem estrutura em madeira, ela está revestida em telhasde barro <strong>do</strong> tipo capa-canal, com clara referência nosgenerosos telha<strong>do</strong>s das casas de fazenda.REFERÊNCIASCARVALHO, Sibele Magnago. Radium Hotel: uma proposta de revitalizaçãopara o resgate da memória. Monografia (Graduação). Vitória,Departamento de <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo, Universidade Federal<strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, 1999.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de Tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, nº08, 1983.


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Ruína da Igrejade Guarapari


GUARAPARI


107A Ruína da Igreja de Guarapari, sua primeira matriz,tem história marcada por intrincadas conexões com aigreja <strong>do</strong>s jesuítas, a de Nossa Senhora da Conceição.Implantadas face a face, voltadas respectivamente parao norte e para o sul, as duas igrejas estão ligadas pelarua da Matriz. A construção da matriz, no ano de 1751,marca o momento em que o arcediago Antônio de SiqueiraQuintal recebe provisão para iniciar a obra. Nessemesmo ano, a igreja jesuíta, então aban<strong>do</strong>nada apósa transferência <strong>do</strong>s padres da Companhia de Jesus paraa aldeia de Reritiba, atual Anchieta, torna-se moradia <strong>do</strong>arcediago. A partir de então, os destinos das duas igrejasestão uni<strong>do</strong>s por uma recorrente deterioração física,condição que se prolonga até o ano de 1880, quan<strong>do</strong>,seguin<strong>do</strong> parecer <strong>do</strong> inspetor geral de Obras Públicasda Província <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, Maximino Maia, é promovidaa transferência <strong>do</strong>s objetos de culto da matrizpara a igreja jesuíta de Nossa Senhora da Conceição quepermanece como matriz da cidade de Guarapari entre21 de agosto de 1880 e 25 de julho de 1971.Os vestígios que resistiram à passagem <strong>do</strong> tempo sugeremum significativo nível de comprometimento einvestimento na construção <strong>do</strong> templo, intenção percebidana qualidade de sua execução e de seus elementosarquitetônicos. Os ornatos denunciam refino criativo eprecioso labor artesanal. Implantada em sítio eleva<strong>do</strong> eem diálogo frontal com a igreja jesuítica de Nossa Senhorada Conceição, a Ruína da Igreja de Guarapari seposiciona em plano típico na tradição eclesiástica, comoelemento de singularidade funcional e estética frente aoentorno residencial. Entretanto, esse senti<strong>do</strong> não parecemais muito relevante. Posicionada entre construçõesde exagerada proximidade, hoje a antiga igreja de Guaraparidepende exclusivamente da aparência de sua robustaestrutura para se integrar ao presente.


GUARAPARImais íntegras correspondem à fachada lateral esquerdae à parede de fun<strong>do</strong> da nave. Em situação oposta, juntocom as paredes <strong>do</strong> corre<strong>do</strong>r lateral, a fachada frontal é amais comprometida pelo arruinamento. Seu fragmentomais representativo está em posição justaposta à torresineira.De base quadrada, a torre é arrematada por uma cúpulae pináculos de forma piramidal, a mesma utilizada paraconformar os ornamentos presentes, no reboco <strong>do</strong> arcocruzeiro e nos cunhais da torre, na forma de losangos.A <strong>do</strong>minante geometrização linguística está interrompidaapenas na base <strong>do</strong> frontão da fachada onde uma linhade curvatura acentuada sugere um delineamento detradição barroca. A torre, o elemento arquitetônico demaior integridade física e estrutural, apresenta composiçãovertical diferenciada em três níveis. No primeiro,correspondente à base, mais fecha<strong>do</strong>, estão dispostos<strong>do</strong>is vãos de porta, sen<strong>do</strong> um na face frontal e outrona face voltada para o corre<strong>do</strong>r lateral. Nos <strong>do</strong>is superiores,cada uma das quatro faces apresenta um vão dejanela, com exceção da face interna <strong>do</strong> último nível.Os fragmentos existentes permitem o reconhecimentoparcial <strong>do</strong> edifício de outrora. Destes, é possível asseguraruma organização espacial simples, estruturada pordisposição em sequência de nave única e capela-mor,separadas por amplo arco cruzeiro, com uma torre eum corre<strong>do</strong>r dispostos na lateral direita. Esse últimopossui dupla comunicação, com a nave e a torre, realizadapor vão de porta arrematada por verga em arco pleno.As paredes, em nível de conservação diferencia<strong>do</strong>,são os vestígios mais evidentes dessa organização. AsConstrutivamente, o edifício foi ergui<strong>do</strong> em alvenariade pedra e tijolo, com cobertura de forma tradicionalem <strong>do</strong>is planos dispostos a partir da linha de cumeeira,posicionada perpendicularmente à fachada. Essa configuraçãopode ser reconhecida em vestígios no fragmentoda fachada frontal, enquanto restos de telhas sobreparede lateral esquerda da nave indicam beiral em beiraseveirade barro.REFERÊNCIASCARVALHO, José Antonio. O Colégio e as residências <strong>do</strong>s jesuítas noEspírito <strong>Santo</strong>. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1982.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, nº49, 1988.


RUÍNA DA IGREJA DE GUARAPARIRua da Matriz, Centro, GuarapariProteção Legal: Resolução nº 11/1989 <strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Histórico sob o nº 173, folhas 29v e 30109


LinharesFarol <strong>do</strong> Rio Doce


LINHARESAs inúmeras viagens realizadas através <strong>do</strong> rio Doce ede seus afluentes, à procura de comunicação com o territóriomineiro, foram um <strong>do</strong>s fatores decisivos para osurgimento <strong>do</strong> povoa<strong>do</strong> de Linhares e de outros ao longodas margens daquele rio, desde Minas Gerais até oAtlântico, no Espírito <strong>Santo</strong>.A partir de 1573, com o interesse na descoberta de ouroe esmeraldas, o afluxo à região foi tão intenso que, porvolta de 1710, visan<strong>do</strong> impedir a evasão da produção,foi determinada a suspensão <strong>do</strong>s trabalhos e o fechamentode to<strong>do</strong>s os caminhos destina<strong>do</strong>s à exploração.Somente em 1800, com a chegada <strong>do</strong> novo governa<strong>do</strong>rda capitania <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, Antônio Pires da SilvaPontes, voltou-se a articular o povoamento e a criaçãode quartéis às margens <strong>do</strong> rio Doce, objetivan<strong>do</strong> protegera navegação contra os ataques <strong>do</strong>s índios botocu<strong>do</strong>s.Diversos postos foram instala<strong>do</strong>s e vários povoa<strong>do</strong>s foramfunda<strong>do</strong>s. Ou seja, quan<strong>do</strong> não era mais possívelencontrar ouro, Portugal autorizou e incentivou a navegação.O rio Doce se transforma em um novo vetor decrescimento no Espírito <strong>Santo</strong>.Alia<strong>do</strong> a esse incremento populacional, a intenção detransformar o rio em caminho favorável à comunicaçãocom Minas Gerais promove a imposição de manter umavigilância em relação aos índios, decisão responsávelpela instalação no início <strong>do</strong> século XIX de vários quartéisna região englobada pelas terras situadas no Espírito<strong>Santo</strong>. Entre eles estavam o de Coutins, localiza<strong>do</strong>na margem esquerda <strong>do</strong> rio, e o de Regência Augusta,situa<strong>do</strong> na barra <strong>do</strong> rio. Esse último, como descrito porAuguste de Saint-Hilaire quan<strong>do</strong> de sua passagem pelaprovíncia, além de ponto de guarda e defesa <strong>do</strong> território,era pouso e lugar onde se alugava embarcação paraa travessia <strong>do</strong> largo Doce:O aspecto <strong>do</strong> Quartel de Regência, que era o fim desta longamarcha, não me alegrou. É uma grande cabana isolada,construída no meio da areia, pouco aquém da embocadura<strong>do</strong> Rio Doce e de onde se descortina o mar. Aí se escuta, semcessar, o estron<strong>do</strong> das ondas; para o oeste, a vista é limitadapor florestas imensas, e para o norte vislumbra-se, entreas brenhas, o rio, cuja margem norte é também coberta dematas. A caserna de Regência fora construída por um destacamentode pedestres destina<strong>do</strong> a proteger a foz <strong>do</strong> rio.Esse destacamento se compõe de cinco homens, incluí<strong>do</strong> ocomandante, que aqui, como em Riacho, é um simples solda<strong>do</strong>.A administração mantém, junto <strong>do</strong> posto de Regência,muitas pirogas, de que se servem os pedestres para trazer asordens <strong>do</strong> Governa<strong>do</strong>r da Província ou de seus delega<strong>do</strong>s.Nessas pirogas é que se transpõe o rio, quan<strong>do</strong> se vai, porterra, <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong> à Província da Bahia.Mas, ainda assim, para alcançar Linhares, os desafiosnão eram apenas os impostos pela natureza e a precariedadedas condições materiais. Habitantes nativos,os botocu<strong>do</strong>s costumavam atacar navegantes pelo rioDoce. Embora os tupinambás tenham si<strong>do</strong> os primeiroshabitantes <strong>do</strong> litoral, os botocu<strong>do</strong>s foram os que,em defesa de sua nação e das densas florestas, resistiramà colonização branca e fizeram história. Destacaram-sedas demais nações pela resistência contra os coloniza<strong>do</strong>res.Povo guerreiro de exímios caça<strong>do</strong>res e pesca<strong>do</strong>res,sobreviventes aos ataques de vorazes mata<strong>do</strong>res deíndios e às tentativas de extermínio declara<strong>do</strong> pelo condede Linhares, na década de 1920 os botocu<strong>do</strong>s foramcompletamente dizima<strong>do</strong>s.Outra dificuldade à navegação era apresentada pelopróprio rio. No final <strong>do</strong> século XIX, a comunicação porterra entre o norte e sul <strong>do</strong> país era penosa. No Espírito<strong>Santo</strong>, a transposição <strong>do</strong> rio Doce representava a maiordificuldade, e alcançar a sua barra também não era fácil.Todavia, conta-se que um vapor cruzou o rio, entre1836 e 1841. Nesta época, a máquina a vapor começa afazer desaparecer a influência <strong>do</strong>s ventos. O país desenvolve-seeconômica e comercialmente. A intensidadeda circulação das riquezas se impõe. Multiplicam-se osbarcos a vapor e a navegação costeira entre os portosnacionais. Há referências sobre firmas que, persistentes,navegam o Doce.


113Iniciada em 1819 com a criação da “Sociedade de Agriculturae Navegação <strong>do</strong> Rio Doce”, a organização desua navegação e <strong>do</strong> comércio se desenvolvem ao longo<strong>do</strong> século XIX e no início <strong>do</strong> século XX. Diversas,as companhias “Viana e Silva”, “Mascarenhas Costa eSilva”, “Navegação <strong>do</strong> Rio Doce” fizeram o comérciocrescer com os vapores Tupi, Tamoio e Juparanã, transportan<strong>do</strong>passageiros e merca<strong>do</strong>rias de Regência até acachoeira das Escadinhas, em Minas Gerais.Todavia, sua navegação encontrava entraves como afamosa barra <strong>do</strong> rio Doce, e as condições marinhaspróximas. Estes três fatores faziam da subida ou dadescida <strong>do</strong> rio uma verdadeira maratona. Navegável,contu<strong>do</strong>, sair ou entrar pela foz <strong>do</strong> Doce nem sempreera possível sem risco. Mesmo guia<strong>do</strong> pelo melhorpatrão-mor encarrega<strong>do</strong> de auxiliar a travessia, o perigoera grande.Da mesma forma, a barra nunca foi completamentenavegável em sua extensão. Havia <strong>do</strong>is canais, em cadauma das margens, mas nem sempre os <strong>do</strong>is davampassagem a barcos e, às vezes, nenhum deles; situaçãoprovocada pela movimentação da areia depositada noleito <strong>do</strong> rio promoven<strong>do</strong> mudança ou fechamento dapassagem pelos canais e o encalhe <strong>do</strong> barco. Na buscade solução, projetos foram estuda<strong>do</strong>s desde o séculoXVIII, sem resulta<strong>do</strong>s. Assim, enquanto a comunicaçãocom a vila de Regência era possível, para os pontos dacosta exigentes de uma passagem rio Doce-Atlântico,dependia-se de extremo cuida<strong>do</strong> e das condiçõesnaturais. Apesar dessas dificuldades, na vila de Regência,principal porto da costa na sua região, lojas e armazénsforam abertos tornan<strong>do</strong>-a foco de desenvolvimentoeconômico e ponto de embarque e desembarque devaria<strong>do</strong>s tipos de merca<strong>do</strong>rias transportadas por navios;movimentação interrompida com a construção da pontesob o rio Doce, em 1954.Da antiga Regência Augusta à Regência <strong>do</strong> século XXI,muitas transformações sociais, econômicas, ambientaise culturais aconteceram, promoven<strong>do</strong> impactos, masmanten<strong>do</strong> sua característica de vila pesqueira e de perfilcaboclo, resultante da miscigenação entre índios botocu<strong>do</strong>se tupiniquins, brancos coloniza<strong>do</strong>res e, mais tarde,baianos e mineiros trabalha<strong>do</strong>res nas roças de cacau.Mas, talvez a mais impactante modificação sofrida peladiminuta vila tenha si<strong>do</strong> aquela oriunda da força daságuas. Ocorrida na década de 1930, uma grande enchenteabre uma nova barra, ao sul, responsável pela gradualdestruição da “velha” Regência, e posterior fundação deuma nova, situada na margem sul da foz <strong>do</strong> rio Doce. Apopulação, mais heterogênea, vem se renovan<strong>do</strong> e adquirin<strong>do</strong>diferentes hábitos, mas sem perder suas raízescomo o congo, a fé nas benzedeiras, as formas de pesca,as festas, algum artesanato, e a história de seu filho maisilustre, o Caboclo Bernar<strong>do</strong>.Nasci<strong>do</strong> no ano de 1855, em Regência Augusta, Bernar<strong>do</strong>José <strong>do</strong>s <strong>Santo</strong>s aprendeu desde criança os segre<strong>do</strong>s<strong>do</strong> rio e <strong>do</strong> mar, de onde tirava seu sustento como pesca<strong>do</strong>re catraieiro. Exímio navega<strong>do</strong>r, Caboclo Bernar<strong>do</strong>entra para a história <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong> no ano de1887 após arriscar sua vida para salvar uma tripulaçãonáufraga no Pontal <strong>do</strong> Rio Doce. Como conta a história,era madrugada <strong>do</strong> dia sete de setembro quan<strong>do</strong> onavio Imperial Marinheiro, em cumprimento a uma missãode estu<strong>do</strong>s da costa brasileira, entre o Rio de Janeiroe Abrolhos na Bahia, em meio a forte tempestade, choca-secom bancos de areia localiza<strong>do</strong>s a 120 metros dapraia. A tripulação, formada por 142 homens, tomadapelo desespero, lançou ao mar <strong>do</strong>ze tripulantes para pedirsocorro, <strong>do</strong>s quais apenas oito conseguem alcançar aterra. Nessa ocasião, o Caboclo Bernar<strong>do</strong>, que navegavana região, salva quase toda tripulação em cinco horas,arriscan<strong>do</strong> sua própria vida.


LINHARESO reconhecimento não tar<strong>do</strong>u a chegar. Leva<strong>do</strong> à Vitóriaem 20 de setembro, Caboclo Bernar<strong>do</strong> é recebi<strong>do</strong>com festa e homenagea<strong>do</strong> pelo presidente da província,para daí, leva<strong>do</strong> à corte no Rio de Janeiro, ser mais umavez homenagea<strong>do</strong>, agora pelo Alto Coman<strong>do</strong> da Marinhae <strong>do</strong> Império. Mas, provém das mãos da princesaIsabel a maior glória, quan<strong>do</strong>, em nome <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>rDom Pedro II, lhe é entregue uma medalha cunhadaem ouro.Passa<strong>do</strong>s seis dias da condecoração, Caboclo Bernar<strong>do</strong>,de volta à pacata Regência Augusta, continua sua vidacaminhan<strong>do</strong> maltrapilho, de pés descalços, até cair noesquecimento, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> assassina<strong>do</strong> aos 55 anos. Noentanto, resgata<strong>do</strong> <strong>do</strong> tempo, o herói está vivo nas páginasde uma história pouco contada, mas viva na lembrançada população de sua terra. Afinal, é plausível queo acidente tenha dissemina<strong>do</strong> a ideia de construir umfarol em Regência.Construí<strong>do</strong> pela Marinha, o Farol <strong>do</strong> Rio Doce é instala<strong>do</strong>em 15 de novembro de 1895 na margem norte <strong>do</strong>rio Doce, onde fica até 1907. Nesse ano, depois de o lugaronde estava originalmente localiza<strong>do</strong> ser considera<strong>do</strong>inadequa<strong>do</strong>, por oferecer mais riscos aos navegantes,o farol foi transferi<strong>do</strong> para a margem sul. Compostopor uma estrutura metálica de 30 metros de altura eportan<strong>do</strong> lentes refletoras e mecanismos de iluminação,o farol sinaliza embarcações situadas em uma área de17 milhas. Sobre ele e a vila de Regência, assim se refereo Sr. José Casais: “Regência, balcão sobre o Atlântico,é uma aldeia pequena de barracos rústicos. Há um cruzeiroatrás da Igreja Paroquial e, sobre as cabanas, comoum gigante ergui<strong>do</strong>, descobre-se o grande farol piscapisca,de moderna armadura mecânica”.Contu<strong>do</strong>, sua imponente e ousada estrutura, a história<strong>do</strong> homem mais importante da vila de Regência, tampoucoas memórias por ele estimuladas foram suficientespara alterar o curso da história <strong>do</strong> farol mais importanteda costa norte <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>. Mas tentou-se.Em 1998, a Associação de Mora<strong>do</strong>res de Regência pedeo tombamento <strong>do</strong> farol, alegan<strong>do</strong> ser ele o representantede toda transformação geográfica, histórica, culturale econômica <strong>do</strong> rio Doce e da vila de Regência. A associaçãotemia a derrubada <strong>do</strong> antigo farol pela Marinhapara a construção de um novo.Efetiva<strong>do</strong> em 1998, o tombamento <strong>do</strong> Farol <strong>do</strong> RioDoce não impediu sua substituição por outro, executa<strong>do</strong>em concreto arma<strong>do</strong>, e <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de atributos técnicosconsidera<strong>do</strong>s mais adequa<strong>do</strong>s às necessidades danavegação na região. Desmonta<strong>do</strong> e removi<strong>do</strong> de seulocal original, medidas consideradas válidas na perspectivade salvaguardar seus componentes, peças valiosascaracteriza<strong>do</strong>ras de seu valor histórico, o antigo farolse encontra preserva<strong>do</strong> e exposto em área aberta, emfrente ao Museu de Regência. A operação foi acompanhadacom expectativa pela comunidade e por técnicosinteressa<strong>do</strong>s em remontar a estrutura metálica na própriavila e atentos para que fossem a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s os cuida<strong>do</strong>snecessários para evitar a danificação das peças. Dooriginal, é possível conhecer apenas sua parte superior,fechada e protegida por placas em ferro fundi<strong>do</strong> juntoà área de ronda, e por vidro onde estavam instala<strong>do</strong>s aslentes refletoras e os mecanismos de iluminação. Da estruturade apoio, uma torre metálica em forma cônica,sustentada em pilares articula<strong>do</strong>s e trava<strong>do</strong>s por peçasintermediárias, nada restou.FAROL DO RIO DOCERegência, LinharesProteção Legal: Resolução nº 5/1998<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 187, folhas 31v e 32


115REFERÊNCIASALMEIDA, Ceciliano Abel. O desbravamento das selvas <strong>do</strong> rio Doce. ColeçãoDocumentos Brasileiros. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1978.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória:Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, n.30, 1998.HISTÓRIA às margens <strong>do</strong> Rio Doce. A Tribuna, Vitória, 9 out.1998.IBGE. Linhares, Sudeste, Espírito <strong>Santo</strong>. Coleção de MonografiasMunicipais Nova, n. 146. Rio de Janeiro, 14 jun. 1984.INSTITUTO CEPA/ES. Município de Linhares: situação sócioeconômica.Vitória, 1983.INSTITUTO DE APOIO À PESQUISA E AO DESENVOLVI-MENTO JONES DOS SANTOS NEVES. Informações Municipais<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, 1994-1998. Vitória, 2000.MARINHA desmonta o farol de Regência. A Gazeta, Vitória, 15nov. 1998.MUSEU DE REGÊNCIA. Textos disponíveis. Acesso em: ago.2007.PINHEIRO, Tarcila Coelho. Linhares: crescer, desenvolver e preservar.Monografia (Graduação). Departamento de <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo,Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória, 2003.SAINT-HILAIRE, Auguste. Viagem ao Espírito <strong>Santo</strong> e rio Doce. BeloHorizonte: Itatiaia, 1974.ZUNTI, Maria Lucia Grossi. Panorama histórico de Linhares. PrefeituraMunicipal de Linhares: 1982.


LMarataízes


Trapiche e Palácio das Águias


MARATAÍZESA mais antiga referência de povoamento da região ondeatualmente fica o município de Itapemirim data <strong>do</strong> anode 1539. Contu<strong>do</strong>, a área não recebe considerável ocupaçãoaté princípios <strong>do</strong> século XVIII. O local só passoua progredir com a abertura de fazendas, que baseavamsua economia na produção de açúcar e aguardente. Em1815, quan<strong>do</strong> foi criada a municipalidade de Itapemirim,seus principais distritos eram Marataízes, Vila de Itapemirime Barra de Itapemirim. Na segunda metade <strong>do</strong>século XIX, devi<strong>do</strong> à queda <strong>do</strong> açúcar e à ascensão <strong>do</strong>café, ocorre uma disparidade econômica entre o litoral,produtor de açúcar, e o interior da região, produtor decafé, que culmina com a emancipação de Cachoeiro deItapemirim. É importante lembrar que para transportaro café <strong>do</strong> interior ao porto no litoral era preciso navegaro rio Itapemirim. Tal movimentação de merca<strong>do</strong>ria fezemergir um centro urbano no litoral, com significativopapel como porto de escoamento da produção. Contu<strong>do</strong>,o gradual assoreamento <strong>do</strong> rio Itapemirim e a construçãoda estrada de ferro ligan<strong>do</strong> Cachoeiro ao Rio deJaneiro, em 1903, e a Vitória, em 1910, promovem aextinção da principal fonte de riqueza da região.Apesar disso, na Barra de Itapemirim ficaram monumentoshistóricos e culturais dessa época áurea. Seupatrimônio arquitetônico remanescente tem como marcoso Trapiche <strong>do</strong> Soares, o Palácio das Águias, a igrejaNossa Senhora <strong>do</strong>s Navegantes, construída em 1771, ea Oficina da Estrada de Ferro Itapemirim, erguida em1937, local de manutenção <strong>do</strong>s trens em trânsito na região.Assim, <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> da região restaram, além daslembranças de mora<strong>do</strong>res e veranistas, alguns imóveisde precioso valor histórico e arquitetônico.Construí<strong>do</strong> na década de 1880, o antigo porto, chama<strong>do</strong>de porto oceânico, destinava-se à armazenagem de merca<strong>do</strong>riasa serem escoadas para o Rio de Janeiro, alémde abrigar o escritório de alfândega responsável pelocontrole <strong>do</strong>s vapores que subiam o rio Itapemirim. OTrapiche está localiza<strong>do</strong> às margens <strong>do</strong> rio Itapemirim,próximo à sua foz. Foi marco de grande importância nanavegação fluvial <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e o sustentáculo principalda economia da região. Mais recentemente, representaum referencial da indústria pesqueira <strong>do</strong> município.O Trapiche foi construí<strong>do</strong> pelo barão de Itapemirim,em local pertencente à Silva Lima & Braga e, mais tarde,ao capitão Deslandes, um pioneiro na navegação avapor no rio Itapemirim. Na década de 1870, o capitãomontou uma sociedade com Manoel Ferreira Braga,forman<strong>do</strong> a empresa Braga & Deslandes, firma que, em1875, inaugura o serviço de barcos a vapor. Essa parecenão perdurar, pois já no ano de 1883, o armazém temcomo quarto proprietário Simão Rodrigues Soares. Foiele quem adquiriu um pequeno barco a vapor, chama<strong>do</strong>Três de Abril, construí<strong>do</strong> para viajar nos perío<strong>do</strong>s deseca <strong>do</strong> rio. Com a morte de Simão Rodrigues Soares,o trapiche passou a ser administra<strong>do</strong> por seu sobrinho,Luis Rodrigues Soares.O Trapiche constituía-se de <strong>do</strong>is edifícios, diferencia<strong>do</strong>sem sua funcionalidade e volumetria. O primeiro éum volume retangular de <strong>do</strong>is pavimentos, delinea<strong>do</strong>por paredes perfuradas por muitas aberturas, segun<strong>do</strong>um ritmo constante. Nesse edifício, aquele destina<strong>do</strong>à armazenagem e à administração, a fachada frontal ébastante simétrica, marcada pela disposição de portase janelas sobrepostas. Posicionadas no térreo, as duasportas se diferenciam em dimensão, interrompen<strong>do</strong>, assim,o ritma<strong>do</strong> das janelas. Essas estão fechadas comesmeradas esquadrias de caixilharia em madeira e vidroe, como as portas, possuem verga em arco pleno, ele-


TRAPICHE E PALÁCIO DAS ÁGUIASBarra de Itapemirim, MarataízesProteção Legal: Resolução nº 1/1998 <strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Histórico sob o nº 184, folhas 30v e 31119


MARATAÍZESmento responsável pelo acento clássico da linguagemque reveste o edifício. Junto ao rio, o segun<strong>do</strong>, destina<strong>do</strong>ao desembarque na sua parte posterior, é um blocoretangular mais baixo, onde o elemento marcante é acobertura em duas águas. Essa avançava em relação aocorpo edifica<strong>do</strong>, crian<strong>do</strong> uma espécie de varanda cobertaligada ao ambiente interno por meio de porta.Além dessa abertura, duas únicas portas, posicionadasem cada uma das fachadas laterais, junto ao armazém,ligam esse edifício ao exterior. Poucas, contu<strong>do</strong>, essasaberturas são os elementos arquitetônicos importantes,pois garantem a unidade compositiva <strong>do</strong> conjunto.No conjunto, construtivamente, o Trapiche é ergui<strong>do</strong>com estrutura de pilares de sustentação em pedra e cal,na parte inferior, e na parte superior em alvenaria debarro associada às paredes em alvenaria mista de pedrae tijolo. As vigas, grossos barrotes de madeira, sustentama laje de piso e o assoalho de tábuas largas. A robustaestrutura tem sua parte posterior sobre o rio. Otelha<strong>do</strong> era coberto por telhas-marselhesas.No início <strong>do</strong> século XX, o rio Itapemirim começou aapresentar dificuldades em sua navegação, perden<strong>do</strong>profundidade devi<strong>do</strong> ao assoreamento de seu leito e aodesmatamento de seu vale. Além disso, o café sofreugrande queda de preço e o Espírito <strong>Santo</strong> foi vítimade uma prolongada seca, fatores decisivos para a criseno transporte fluvial e o consequente desaparecimentodas companhias de navegação. Mas, é a construção daEstrada de Ferro Vitória-Cachoeiro-Rio de Janeiro oprincipal condicionante da decadência e aban<strong>do</strong>no <strong>do</strong>Trapiche. Esse, ao entrar em desuso, passa por contínuoprocesso de deterioração, intensifica<strong>do</strong> com incêndioocorri<strong>do</strong> em 14 de abril de 1988, <strong>do</strong> qual restaram apenasas paredes externas e os pilares, além da plataformana beira <strong>do</strong> rio onde funcionava o cais.Outra construção que marca o início da colonizaçãoda Barra <strong>do</strong> Itapemirim é o Palácio das Águias. A casa,construída no século XIX, deve ter si<strong>do</strong>, originalmente,um hotel, uma antiga pousada de tropeiros, de propriedadede Alfre<strong>do</strong> Duarte e Manoel Duarte. Em 1903,a Família Soares adquire o casarão e o reforma. Estafamília era detentora <strong>do</strong>s direitos de exploração <strong>do</strong> Portode Itapemirim e man<strong>do</strong>u vir <strong>do</strong>is mestres de obraportugueses com o objetivo de transformar sua moradia.O palácio sofreu adequações, ganhou um anexo efachadas ecléticas. Dessas, se destacam, na parte superiorda fachada oeste, as duas águias posicionadas porSimão Soares em homenagem ao nascimento de seus<strong>do</strong>is filhos.O prédio sofreu várias modificações ao longo <strong>do</strong> tempo,sen<strong>do</strong> a mais considerável resultante de uma reformapromovida na década de 1920. Em fotos antigas,nota-se um prédio quase sem a<strong>do</strong>rnos, com muitos vãosde janela dispostos seguin<strong>do</strong> um discreto ritmo. Já emfotos mais recentes, posteriores à reforma, percebe-se aradical transformação promovida por acréscimos especialmentedestina<strong>do</strong>s a adequar a residência aos novospadrões de gosto da época. No Palácio das Águias, elesestão presentes em linguagem marcada por associaçõeshistóricas fragmentadas e variadas.Trata-se de uma construção de um só pavimento sobreporão alto, disposta no terreno de maneira a revelarsuas quatro fachadas. Diferenciadas pela disposição deescadas de acesso e varandas, as fachadas estão unificadaspela sequência das janelas e pela marcante platibandaque contorna o perímetro <strong>do</strong> volume edifica<strong>do</strong>. Portrás da platibanda, o telha<strong>do</strong> se mantém como elementoarquitetônico importante. Executa<strong>do</strong>, originalmente,em quatro águas e coberto com telhas de barro tipomarselha e enquadramento de madeira, o telha<strong>do</strong> é tal-


121vez a única ligação temporal entre o edifício colonial <strong>do</strong>século XIX, e o edifício eclético <strong>do</strong> século XX.As fachadas, todas importantes, são ornadas com cuida<strong>do</strong>estético e apuro construtivo. Contu<strong>do</strong>, entre elasse destaca aquela tratada para receber a entrada <strong>do</strong> Palácio.Para isso, seus artífices se utilizam de duas estratégias.A primeira, de impacto visual, é o delineamentoda platibanda com motivos de múltiplas fontes, entreabstratas e pictóricas, e fragmentação de seu perfil portrês pequenos frontões, onde se alternam traços retilíneose curvos. A segunda, de impacto espacial, é a configuração<strong>do</strong> alpendre de proteção da escada bilateral,apoia<strong>do</strong> em arcada de apoio da platibanda de arremate<strong>do</strong> telha<strong>do</strong>.Quanto à planta, esta era retangular e passou a se configurarcomo um “L”. Sua divisão interna é bastantetradicional para as residências da época: a parte socialse situa na frente, a íntima no centro e a de vivêncianos fun<strong>do</strong>s. Possui um corre<strong>do</strong>r central que dá acessoa to<strong>do</strong>s os cômo<strong>do</strong>s e passagens de um cômo<strong>do</strong> paraoutro. A construção é de alvenaria de barro, implantadadiretamente sobre formação rochosa. O piso e o forrosão de madeira, exceto no acréscimo onde fica a partede serviço, banheiros, cozinha e lavanderia, onde o pisoé de ladrilho hidráulico. No que diz respeito às esquadrias,observa-se que o desenho se manteve.


MARATAÍZESREFERÊNCIASCARVALHO, Heliete; GAIGHER, Marília. Urbanização e ordenaçãourbana de Marataízes – ES. Monografia (Graduação). Departamentode <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo, Universidade Federal <strong>do</strong>Espírito <strong>Santo</strong>, Vitória, 1987.CÓ, Roberta de Resende. Projeto de intervenção em Barra de Itapemirim.Monografia (Graduação). Departamento de <strong>Arquitetura</strong>e Urbanismo, Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, Vitória,2001.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória:Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura,nº 03, 1980.PERFIS municipais. A Tribuna, Vitória, Suplemento especial, 29 nov.999. Patrocínio da Assembleia Legislativa <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>.SUBMARINO nazista em Marataízes. A Tribuna, Vitória, 4 fev.2000.


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Mimoso <strong>do</strong> Sul


MIMOSO DO SUL


127Núcleo Históricode São Pedro de ItabapoanaNÚCLEO HISTÓRICO DE SÃO PEDRO DE ITABAPOANASão Pedro de Itabapoana, Mimoso <strong>do</strong> SulProteção Legal: Resolução nº 2/1987<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrições no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 132 a 171, folhas 24v a 29e no Livro <strong>do</strong> Tombo das Belas Artessob o nº 67 a 106, folhas 14v a 20vA ocupação da região de São Pedro de Itabapoana seconfunde com a <strong>do</strong> sul <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>. É possívelchegar à conclusão de que o povoamento desta regiãoocorre em três momentos distintos. A primeira definiçãode território no litoral sul foi através de Muribeca,sesmaria concedida aos padres da Companhia de Jesuse, no interior, através da fundação da 6ª Aldeia de Camapoana,em 1635. Após a expulsão <strong>do</strong>s jesuítas, em1759, a fazenda Muribeca passa a pertencer, em 1771, àfreguesia de Nossa Senhora <strong>do</strong> Amparo <strong>do</strong> Itapemirim.Nessa época, a 6ª Aldeia de Camapoana, então denominadaCachoeiro de Itabapoana ou Limeira, já desenvolvefunções de porto fluvial, sem que isso signifique umdesbravamento acentua<strong>do</strong> da região interiorana. Emmea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XIX, intensifica-se o desbravamento<strong>do</strong> território, pela presença de mineiros e fluminenses.Por último, em finais <strong>do</strong> século XIX, a implantação daferrovia complementa a ocupação da área, geran<strong>do</strong> novospovoa<strong>do</strong>s ao longo das estações. Em consequência<strong>do</strong> processo de ocupação e das transformações políticase econômicas ocorridas, a conformação territorial deSão Pedro de Itabapoana foi, inúmeras vezes, alterada.Há controvérsias quanto ao primeiro posseiro da regiãode São Pedro. Entre as fontes, algumas apontam o nomede José Lopes da Rocha, que teria chega<strong>do</strong> ao local em1837. Outras indicam o nome de Manoel Joaquim Pereira,que teria chega<strong>do</strong> em 1852. É a partir deste anoque a região recebe maior incremento em sua ocupação,com a chegada de posseiros oriun<strong>do</strong>s de Minas Gerais.


MIMOSO DO SULSão representantes de tradicionais famílias mineiras quechegaram trazen<strong>do</strong> tropas, trastes, escravos, familiares,e iniciaram a construção da história dessa localidade.Também houve grande fluxo migratório proveniente <strong>do</strong>Rio de Janeiro. Os <strong>do</strong>is grupos rumaram para o sul <strong>do</strong>Espírito <strong>Santo</strong> em busca de melhores terras para plantiode café, então em contínua valorização. Assim, surgemarraiais e vilas por toda a região, antes coberta por espessasflorestas. Os forasteiros escolhiam, preferencialmente,glebas nos vales de <strong>do</strong>is pequenos rios, afluentes<strong>do</strong> rio Itabapoana, denomina<strong>do</strong>s de São Pedro e Muqui<strong>do</strong> Sul, ambos desembocan<strong>do</strong> próximo à Limeira. Oarraial de São Pedro de Itabapoana foi crescen<strong>do</strong> e suaslavouras se estenden<strong>do</strong> por toda a região, com fazendasque atestavam o êxito de seus proprietários.A freguesia de São Pedro de Alcântara de Itabapoanafoi criada pela Lei nº 1, de 20 de março de 1880. Ainclusão <strong>do</strong> nome Alcântara foi uma homenagemprestada ao impera<strong>do</strong>r Dom Pedro II ou Pedro deAlcântara, além de estabelecer uma diferença com acapela de São Pedro Apóstolo, localizada no arraialvizinho de Limeira. A vila tinha São Pedro comopatrono, santo ainda hoje venera<strong>do</strong>. Em 1891, SãoPedro de Itabapoana passa à categoria de cidade por ato<strong>do</strong> governo de Antonio Gomes Aguirre. Inicialmente,denominada Monjardim em homenagem ao barão deMonjardim que foi presidente <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong> por curto perío<strong>do</strong>, no ano seguinte a cidade passaa ser chamada de Itabapoana. Com a independênciajurídico-administrativa, a localidade alcança um novoritmo de desenvolvimento.Em 1920, a população <strong>do</strong> município totalizava mais de31 mil habitantes, espalha<strong>do</strong>s entre a sede e os distritos.Durante to<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong> em que foi sede <strong>do</strong> município,São Pedro <strong>do</strong> Itabapoana gozou de enorme reputaçãocomo centro de comércio e cultura. Ali se instalaramempresas comerciais e pequenas fábricas, residiramjuízes, promotores e profissionais liberais. A sociedadefundava colégios, bandas musicais, grêmios literáriose teatrais, irmandades religiosas. Para esse quadroeconômico e social muito contribuiu o isolamentogeográfico <strong>do</strong> núcleo urbano. Situada à relativa distânciade outras localidades, com as quais se ligava porprecários meios de transporte e vias de comunicação,São Pedro <strong>do</strong> Itabapoana tem sua história marcada porintensa vida cultural e política, destacan<strong>do</strong>-se o gostopela música, pela leitura, pelas reuniões de caráterreligioso ou cívico, eventos que reuniam sempre umnúmero expressivo de pessoas. Além da igreja, o coretolocaliza<strong>do</strong> na praça dava oportunidade a momentos delazer e confraternização, com a apresentação de bandasmusicais em várias das festividades locais.No início, os posseiros eram desbrava<strong>do</strong>res, que lutavamcontra o meio físico e as dificuldades financeiras,não possuin<strong>do</strong> recursos nem condições para sedesenvolverem artística e intelectualmente. Entretanto,a riqueza proveniente da produção cafeeira propicioumelhores condições de vida aos mora<strong>do</strong>res da região.Além disso, as relações econômicas com a capital <strong>do</strong>Império, a cidade <strong>do</strong> Rio de Janeiro, fizeram com que SãoPedro de Itabapoana, assim como as demais localidades<strong>do</strong> extremo sul da então província, recebesse muitainfluência da Corte e <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> de vida <strong>do</strong>s barões <strong>do</strong>café fluminenses. Das artes, se destacaram a produçãomusical e a literária, desenvolvidas principalmente nosperiódicos. Tanto na cidade, quanto nas fazendas, aatividade musical se fazia presente: Não [havia] casa que se[prezasse] sem um piano de cauda e não raro sem uma sala especialpara a música. A grande maioria das propriedades de SãoPedro de Itabapoana possuía sua própria banda.


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MIMOSO DO SULA influência <strong>do</strong> comércio sobre a agricultura se justificavapela subordinação <strong>do</strong> agricultor ao comerciantedevi<strong>do</strong> a adiantamentos para aquisição de merca<strong>do</strong>rias,pagos posteriormente com a produção agrícola. Os comerciantes,enfim, se constituem em importantes figurasno cenário político e social da comunidade, posiçãoesta que impulsiona o poder econômico já conquista<strong>do</strong>na localidade, estabelecen<strong>do</strong> uma estreita relação entrepoder econômico e ascensão política.Contu<strong>do</strong>, um episódio trama<strong>do</strong> muito distante de SãoPedro promove mudanças decisivas para seu futuro.Tu<strong>do</strong> começa em 1892, quan<strong>do</strong> a passagem de trilhosda Estrada de Ferro Leopoldina pela fazenda Mimoso,distantes alguns quilômetros da então sede <strong>do</strong> municípiode São Pedro <strong>do</strong> Itabapoana, e a posterior instalaçãode uma estação ferroviária em 1895, iniciam umgradual deslocamento <strong>do</strong> comércio para aquela região.Assim, tem origem um novo distrito, que logo suplantaem pujança econômica a antiga cidade. Tal situação vaiter seu reconhecimento jurídico-institucional em 1930,quan<strong>do</strong> São Pedro de Itabapoana passa a ser distrito deMimoso <strong>do</strong> Sul.O episódio que marca esta passagem é assim descritopelo escritor Grinalson Francisco Medina:Em 2 de novembro de 1930, dia de Fina<strong>do</strong>s, chega a estacidade, uma caravana da Estação de Mimoso, constituídade 13 caminhões, força policial, chefiada pela autoridade<strong>do</strong> Sr. Waldemar Garcia de Freitas. Dizen<strong>do</strong> ser emissáriode autoridade superior, postou, em seguida, um veículo emcada repartição pública, com o objetivo de retirar dali to<strong>do</strong>o seu arquivo, a fim de transportá-lo para a referida Estação,no momento, núcleo <strong>do</strong>s revolucionários. A populaçãode nossa cidade recebeu com extraordinária surpresa eprofun<strong>do</strong> constrangimento o aconteci<strong>do</strong>, nesse dia de inteiraconsagração universal aos mortos. Sem poder tomar atitudealguma, pelo pavor causa<strong>do</strong>, pela força numérica e superioracompanhan<strong>do</strong> a caravana, o plano em apreço teve o êxitocompleto e espera<strong>do</strong> pelos timoneiros. A igreja matrizcontinuava apinhada de romeiros, em sinal respeitoso, e osfiéis, em seus atos religiosos, prosseguiam a consagraçãohabitual, usada pelos povos civiliza<strong>do</strong>s de cultuar a memória<strong>do</strong>s antepassa<strong>do</strong>s com a afetuosidade inerente às pessoaseducadas e possui<strong>do</strong>ras de sentimentos nobres e eleva<strong>do</strong>s.Aconteceu que, chegan<strong>do</strong> o momento de celebração damissa preceitual, e deven<strong>do</strong> ser anunciada pelo toque de sino,este, septuagenário, não teve som para repercutir a chamada,verifican<strong>do</strong>-se o mesmo estar racha<strong>do</strong> e sem voz.O clima de tensão, cria<strong>do</strong> pela retirada da <strong>do</strong>cumentaçãoreferente à condição de sede municipal, marcounão tanto pelo clima revolucionário, mas por seu significa<strong>do</strong>.To<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>cumentos públicos foram retira<strong>do</strong>se as repartições oficiais transferidas para Mimoso.A peregrinação de são-pedrenses junto ao interventorJoão Punaro Bley foi insuficiente para reverter a situação.No dia 26 de novembro de 1930, sai a homologaçãoemancipa<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> novo município de Mimoso, logodepois denomina<strong>do</strong> João Pessoa, ao qual se integra odistrito de São Pedro de Itabapoana. São Pedro pagavao seu preço por se colocar contra a Revolução de 1930.Assim, São Pedro de Itabapoana, por uma contingênciahistórica, estagnou no começo <strong>do</strong> século XX.Contu<strong>do</strong>, no início de um novo século, seu conjuntoarquitetônico, expressão material de sonhos e realizações,é sinal inequívoco de um significa<strong>do</strong> de múltiplasdimensões vinculadas ao mun<strong>do</strong> da economia e da sociedade,da política e da cultura, da arte e da arquitetura.Na realidade, São Pedro <strong>do</strong> Itabapoana é o registro históricode um ambiente de vida.No âmbito da arquitetura, as técnicas construtivas utilizadassão advindas de uma seleção natural de materiais,reveladas no manuseio e conformação <strong>do</strong> barro, das vedaçõesem pau-a-pique e em tijolo maciço e das telhas


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MIMOSO DO SULtipo capa-canal. A experiência, resultante de um saberfazer, permitiu, por exemplo, soluções muitas vezes promovidaspelas adversidades da natureza. Assim, se fezas paredes de barro resistentes à água das enxurradas,uma constante preocupação. As ruas, por sua vez, forampavimentadas com pedra tipo pé-de-moleque commeio-fio alto, evitan<strong>do</strong> a água e a erosão com a quebrade nível <strong>do</strong>s beirais e com assentamentos planos.Expressão da transformação da natureza, em sua maioria,as construções <strong>do</strong>s homens têm o arcabouço da estruturaexecuta<strong>do</strong> to<strong>do</strong> em madeira, independente dasparedes, que são simples enchimento, e apoiam-se nospróprios esteios ou frechais. O resulta<strong>do</strong> é uma arquiteturaonde é difícil separar expressão estética e soluçãotecnológica. Este processo construtivo foi intensamenteemprega<strong>do</strong> no Rio de Janeiro, em Minas Gerais e noEspírito <strong>Santo</strong>, tanto nas grandes casas das fazendas edas cidades, como nas casas mais modestas e singelas.Em conjunto, as edificações são marcadas pela influência<strong>do</strong>s traços coloniais da arquitetura civil <strong>do</strong>s primeirostrês séculos correspondentes à Colônia. Nesseperío<strong>do</strong>, a arquitetura não apresenta a<strong>do</strong>rnos. Contu<strong>do</strong>,em São Pedro de Itabapoana chegam as novidadesproporcionadas pelo intercâmbio cultural com a capital<strong>do</strong> Império, e o enriquecimento advin<strong>do</strong> da produçãocafeeira. Na arquitetura, essas influências estão representadasno mo<strong>do</strong> simplifica<strong>do</strong> e pouco rigoroso de seapropriar <strong>do</strong> vocabulário clássico, e na a<strong>do</strong>ção de motivaçõesecléticas.<strong>do</strong>s habitantes. Por isso, instalou-se na encosta <strong>do</strong> valede um ribeirão, não muito distante <strong>do</strong> rio Itabapoana,alcança<strong>do</strong> pelas tropas quan<strong>do</strong> tinham que despachar ocafé. Em nível local, essas relações se revelam tambémna maneira de dispor as construções em função de curvasde níveis e as adaptar ao perfil topográfico <strong>do</strong> sítio.Como resulta<strong>do</strong>, os caminhos eram apenas para pedestres,subin<strong>do</strong> o morro e respeitan<strong>do</strong> os obstáculos e asgrandes árvores. Um aspecto de fundamental importânciano contexto urbano de São Pedro de Itabapoanaé a relação que suas edificações antigas mantêm com asáreas livres originais, ainda conservadas.Implanta<strong>do</strong> sobre um platô, com as montanhas próximase o vale <strong>do</strong> rio atravessan<strong>do</strong> suas cercanias, o conjuntourbano de São Pedro é lugar para se percorrera pé, calmamente, sentin<strong>do</strong> as rugosidades das pedras,de to<strong>do</strong> tamanho e forma, que recobrem o caminhoentre as casas; para subir e descer ladeiras, atentamente,perceben<strong>do</strong> os desníveis e as encostas, verdes de váriostons, os caminhos úmi<strong>do</strong>s e inclina<strong>do</strong>s, que ligam a cidadede baixo à cidade de cima; para se aquietar e admirar,entre muros e quintais, paredes e telha<strong>do</strong>s, casase montanhas, a secreta cumplicidade entre arquiteturae natureza.Urbanisticamente despoja<strong>do</strong>, o Núcleo Histórico deSão Pedro de Itabapoana guarda, ainda, outras importantesrelações advindas das conexões com seu território.Suporte à atividade rural desenvolvida nos vales <strong>do</strong>srios Itapemirim e Itabapoana, a preocupação era facilitaro escoamento de seus produtos e o abastecimento


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137Numa milenar tradição, os homens de São Pedro <strong>do</strong>Itabapoana, quan<strong>do</strong> a fundam, não esquecem da praça.Para isso, buscam um espaço plano e amplo. Lugar dafutura matriz, ele deve, ainda, ser eleva<strong>do</strong>, de mo<strong>do</strong> adiferenciá-la e destacá-la de seu entorno.Assim, no ponto mais eleva<strong>do</strong>, onde os caminhos seencontram junto ao topo da ladeira de chegada aonúcleo, surge um alargamento. Esse parece ter si<strong>do</strong>desenha<strong>do</strong>, tão regulares são seus limites e tão central éo lugar da matriz.Como muitas outras vilas no Brasil, em São Pedro apraça da matriz é seu núcleo primordial, vazio deixa<strong>do</strong>entre as construções para o encontro e as práticassociais, para as procissões, as quermesses e para avivência cotidiana. A força desse gesto, a matriz revela.Toda branca, com a cruz no cume de sua torre sineira,a igreja de São Pedro é personagem principal de umcenário arquitetônico.Três conjuntos edifica<strong>do</strong>s são as galerias desse teatrodelimita<strong>do</strong> por fachadas nem sempre contínuas, massempre vazadas pelas janelas; lugar <strong>do</strong> encontro <strong>do</strong>público com o priva<strong>do</strong>.


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141Do conjunto da praça da matriz, aquele situa<strong>do</strong> àesquerda de sua fachada frontal é o menos conserva<strong>do</strong>,condição resultante de intervenções modifica<strong>do</strong>ras<strong>do</strong> edifício tomba<strong>do</strong>, como a substituição detelhas de barro por cobertura em cimento-amianto eo acréscimo de área com a construção de edificaçãonova na parte posterior. Contu<strong>do</strong>, um segun<strong>do</strong> tipode intervenção começa a aparecer, a reconstrução <strong>do</strong>imóvel por meio de uma falsificação histórico-tipológica.Assim, das quatro edificações situadas nessela<strong>do</strong> da praça, chama a atenção aquela situada em seuponto mediano, por sua maior integridade formal econstrutiva. Conformada por três volumes diferencia<strong>do</strong>sem altura, resultante da articulação com construçãoexistente no la<strong>do</strong> direito, e acréscimo de novaárea destinada à garagem, no la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong>, essa sedestaca pela modéstia de suas dimensões e composiçãotipológica.Simplificada e modesta, como a maioria da arquiteturade São Pedro de Itabapoana, a ela se integra pelaregularidade de sua volumetria, pela estrutura independenteem madeira e pela opacidade branca dasvedações. Casa térrea, sua fachada frontal, posicionadasobre a testada frontal <strong>do</strong> terreno, possui porta deacesso centralizada entre duas janelas, todas fechadaspor folhas de madeira. Para completar o perfil colonial,o mesmo telha<strong>do</strong> em quatro águas, coberto comtelhas capa-canal de barro.


MIMOSO DO SULDentre os conjuntos arquitetônicos <strong>do</strong> núcleo de SãoPedro, se destaca a massa configurada por <strong>do</strong>is edifíciossitua<strong>do</strong>s atrás da igreja matriz.Posiciona<strong>do</strong>s como cabeça de quarteirão e implanta<strong>do</strong>sem terrenos contíguos e em cota elevada em relaçãoao entorno, eles chamam a atenção pelo impacto desua branca regularidade, interrompida apenas pelacoloração das telhas de barro e das esquadrias dasportas e janelas que perfuram as fachadas.Volumetricamente muito similares, os edifícios estãoigualmente cobertos por telha<strong>do</strong> de quatro águas, combeiral fecha<strong>do</strong> por cimalha plana de madeira. Essa,pintada da mesma cor nas esquadrias e nas cimalhas,se dá a ver nos esteios de quina e no baldrame.Volumétrica e compositiva, tal semelhança está interrompidaem sutil inserção de moldura em arco plenodesenhada em argamassa sobre os vãos <strong>do</strong> edifícioda direita, responsável pelo tom clássico de sua modernização.


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145No Núcleo Histórico de São Pedro de Itabapoana, oconjunto arquitetônico situa<strong>do</strong> à direita da matriz, umasequência linear de sete imóveis, se particulariza pelamodéstia de suas dimensões e, principalmente, pela ausênciade unidade morfológica. Entre eles, <strong>do</strong>is tiposchamam a atenção.O primeiro e <strong>do</strong>minante em São Pedro se associa à arquiteturacolonial mineira e fluminense, impressionan<strong>do</strong>o olhar com sua branca volumetria, com suas coloridasesquadrias e suas rugosas telhas de barro.O segun<strong>do</strong> tipo, reconheci<strong>do</strong> por suas “modernas” platibandas,por contraste, chama a atenção pelo colori<strong>do</strong>plano de suas fachadas, onde friso, moldura e janela deformato inusita<strong>do</strong> desempenham papel importante.Com a exceção <strong>do</strong> sobra<strong>do</strong> de <strong>do</strong>is pisos, posiciona<strong>do</strong>em uma das extremidades da rua, to<strong>do</strong>s esses imóveissão pequeninos, dimensão que se fortalece quan<strong>do</strong> confrontadacom a imponente e majestosa serra ao fun<strong>do</strong>.Mas, ainda mais, impressiona aí uma sutil intimidadeentre a pequena casa e a grande montanha. Talvez porqueas construções <strong>do</strong> homem e as da natureza têm a mesma importância!Talvez, também, porque ambas são coloridase diversas.


MIMOSO DO SULA rua de acesso ao Núcleo Histórico de São Pedro deItabapoana está calçada no mo<strong>do</strong> antigo, com grandesblocos de pedra, de múltiplas dimensões e formatos.É impossível reconhecer <strong>do</strong>is iguais. Mas não só. Elessão irregulares em sua superfície, muito irregulares! Caminharsobre eles, exige cuida<strong>do</strong> e pouca pressa. Elaestá vazia, quase parada. Em tempo distante, deve terpresencia<strong>do</strong> o ir-e-vir de homens, trazen<strong>do</strong> e levan<strong>do</strong>riqueza material e valor cultural. Talvez por isso ela sejalarga, estranhamente larga para o padrão de sua época.Lugar de passagem, mais <strong>do</strong> que tu<strong>do</strong>, ela tem apenasum de seus la<strong>do</strong>s tradicionalmente constituí<strong>do</strong> pelasequência, mais ou menos contínua, de edificaçõestérreas. No la<strong>do</strong> direito, ao contrário, apenas um edifíciose dispõe sobre a rua. Para reforçar a distinção, esse estáimplanta<strong>do</strong> com a menor de suas fachadas erguida sobrea testada frontal <strong>do</strong> terreno, mudança com importantesimplicações formais.Diversamente, no la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong>, são as frentes maisextensas que se abrem diretamente sobre a rua. Emsintonia com a arquitetura colonial, aí os edifícios estãoconstrutivamente ergui<strong>do</strong>s com madeira e barro. Aí,como na parte alta, eles estão regularmente delinea<strong>do</strong>spor brancas paredes onde, em linha, as portas e janelas,em geral, são azuis ou vermelhas.


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REFERÊNCIASACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A.de Barros; SANCHOTENE, F. Lima (Org.). Catálogode bens culturais tomba<strong>do</strong>s no Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória,Conselho Estadual de Cultura / Secretaria de Esta<strong>do</strong>da Educação e Cultura / Universidade Federal<strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.GARCIA, Milton Teixeira; GARCIA, Maria LuciaTeixeira. O Vale <strong>do</strong> Itabapoana e a História de São Pedro<strong>do</strong> Itabapoana e São José <strong>do</strong> Calça<strong>do</strong>. Vitória: EDUFES,1997.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento.Vitória: Conselho Estadual de Cultura, Secretariade Esta<strong>do</strong> da Cultura, n. 31, 1986.MIMOSO <strong>do</strong> Sul. Site institucional. Disponível em:. Acesso em: jul.2006.SILVA, Jaqueline Monteiro de Barros; PULPPO, JaquelineLoureiro Del. Tombar é preservar? Caso de SãoPedro <strong>do</strong> Itabapoana. Monografia (Graduação). Departamentode <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo, UniversidadeFederal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, Vitória, 1987, v. 1.. Tombar é preservar? Caso de São Pedro <strong>do</strong>Itabapoana. Monografia (Graduação). Departamentode <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo, UniversidadeFederal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, Vitória, 1987, v. 3.


CASA DE PEDRA DO PERLETTINova VenéciaProteção legal: Resolução nº 1/2003<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 189, folhas 31v e 32Nova Venécia


155Casa de Pedra <strong>do</strong> PerlettiA história comercial e industrial <strong>do</strong> município de NovaVenécia foi impulsionada a partir da construção da Casade Pedra. O italiano Battista Perletti acompanhava aconstrução da Estrada de Ferro São Mateus, antiga Estradade Ferro Serra <strong>do</strong>s Aimorés, que ligaria São Mateusa Nova Venécia, iniciada em 1921 pelo engenheiromateense Antônio <strong>Santo</strong>s Neves. Homem de visão,Perletti ergue um barracão de zinco no ponto final daestrada ao la<strong>do</strong> da estação provisória, desenvolven<strong>do</strong>,assim, suas atividades comerciais.A referida Casa foi construída entre 1925 e 1929, perío<strong>do</strong>em que a ferrovia chegou à Nova Venécia. BattistaPerletti visava instalar ali uma máquina a vapor para pilarcafé. O projeto era audacioso, pois, até aquela época,o café era pila<strong>do</strong> por junta de bois que levava muitashoras para a execução desse trabalho. A Casa de Pedrafoi, dessa forma, a esperança de um impulso econômicopara a cidade, possibilita<strong>do</strong> por uma nova tecnologia.Esperança que se fin<strong>do</strong>u com a crise da bolsa deNova Iorque, em 1929, momento em que os Esta<strong>do</strong>sUni<strong>do</strong>s diminuíram as importações de café e o preço<strong>do</strong> produto caiu. Numa reação em cadeia, de abrangênciamundial, no Brasil milhões de sacas de café foramqueimadas, na tentativa de manter os preços. BattistaPerletti foi um <strong>do</strong>s milhares de investi<strong>do</strong>res que se arruinaramao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Ao longo de sua história,a Casa já abrigou diversas atividades, como uma fábricade refrigerante e uma oficina mecânica.O impacto da crise não deve ter si<strong>do</strong> pequeno. A alvenariade pedra exposta sugere rejeição e aban<strong>do</strong>no.Erguida sobre uma extensa laje de pedra aflorada, próximaao rio Cricaré, a estrutura de quatro paredes estáperfurada por vãos de porta e janela de grandes dimensões.Em conjunto, eles possuem verga em arco pleno.A exceção situa-se sobre a parede <strong>do</strong> fun<strong>do</strong> e a paredevoltada para a lateral esquerda da casa, onde <strong>do</strong>is vãosde verga reta sugerem terem si<strong>do</strong> pensa<strong>do</strong>s para por elesserem transpostos sacos de café. A frente da casa, comsua porta e suas duas janelas, simetricamente posicionadas,sugere um uso de escritório.Construção inacabada, em sua aparência a Casa eternizousonhos e dramas. Inesperada, o inusita<strong>do</strong> de suapétrea presença, permite articulações inimagináveis, entreum mun<strong>do</strong> em (re)constituição, de crise promovidapor uma nova articulação de sua base econômica, e ummun<strong>do</strong> ainda por se constituir, de ocupação recentíssima,promovida por uma segunda geração de imigrantesitalianos que, atravessan<strong>do</strong> as águas <strong>do</strong> rio Doce, alcançamo norte <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>.REFERÊNCIASNOVA VENÉCIA (Município). Coletânea de textos. Nova Venécia,2004.INSTITUTO DE APOIO À PESQUISA E AO DESENVOLVI-MENTO JONES DOS SANTOS NEVES. Informações Municipais<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, 1994-1998. Vitória, 2000.


157Igreja de NossaSenhora das NevesA data da construção <strong>do</strong> conjunto jesuítico daFazenda Muribeca, em origem composto de residênciae igreja, é desconhecida. Mas sabe-seque em fins <strong>do</strong> século XVII ele já existia. Anterior,portanto, a 1702, ano em que uma grandesesmaria de terra foi <strong>do</strong>ada à Companhia de Jesuspelo rei de Portugal. As terras pertenciamàs capitanias <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong> e Rio de Janeiro,in<strong>do</strong> da Barreira <strong>do</strong> Siri à Lagoa da Guaxindiba,respectivamente. Totalizan<strong>do</strong> nove léguas defun<strong>do</strong> e nove léguas de frente, as terras <strong>do</strong>adasaos jesuítas tinham na linha <strong>do</strong> Oceano Atlânticoseu limite leste.Os jesuítas vieram pelo rio Itabapoana, limitesul <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, percorren<strong>do</strong> a regiãodesde tempos imemoriais habitada pelos índiosbotocu<strong>do</strong>s. Guia<strong>do</strong>s pelo padre Almada, superiorda companhia na região, eles entrarampor um <strong>do</strong>s afluentes <strong>do</strong> Itabapoana edifican<strong>do</strong>residências em suas margens. Ao afluente e àsterras deram o nome Muribeca. Situava-se entreos rios Muriaé, Paraíba e Itabapoana.Junto com outras três fazendas jesuíticas, Carapinae Itapoca na Serra, e Araçatiba em Viana, aFazenda Muribeca foi importante base produtivapara a sustentação <strong>do</strong> projeto missionáriociviliza<strong>do</strong>rempreendi<strong>do</strong> pela Companhia de


PRESIDENTE KENNEDYPRESIDENTE KENNEDY


153 159Jesus na capitania <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>. Especializada naprodução de carne, no final <strong>do</strong> século XVII abasteciao colégio de Vitória e as residências <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>,além de ter espaçoso pesqueiro para abastecimento de peixe.Em 1707, era a única fazenda na capitania.Preocupa<strong>do</strong>s com cultivo <strong>do</strong> peixe e a criação dega<strong>do</strong>, provavelmente os padres não tiveram tempopara edificar a totalidade <strong>do</strong> conjunto necessário à suapermanência nas terras <strong>do</strong> sul. Quan<strong>do</strong> foram expulsos<strong>do</strong> Brasil, em 1759, apenas a igreja estava concluída. Daresidência, apenas fragmentos de alvenaria e uma portade acesso ao coro, ambos situa<strong>do</strong>s na fachada lateralesquerda, permitem assegurar sua existência.Expulsos os jesuítas, as terras da Fazenda Muribecaficaram aban<strong>do</strong>nadas até serem arrematadas por umcapitão-mor da capitania <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, que asvendeu para o engenheiro português Manuel Pereira. Édesse momento a demarcação das terras. Manuel Pereirafixa marcos de pedra com suas iniciais sem, entretanto,ocupá-las.Dessa maneira, quan<strong>do</strong> da chegada de <strong>do</strong>is de seusherdeiros, Antônio Pereira Viana e Antônio DomingosTinoco, em data desconhecida, grande parte das terrasestava invadida por famílias provenientes da capitaniavizinha, Rio de Janeiro. Enquanto Antônio DomingosTinoco ocupa o conjunto, a residência e a igreja,e grande parte das terras mais próximas; AntônioPereira Viana constrói residência nas margens <strong>do</strong> rioItabapoana, denominan<strong>do</strong> sua parte de Guarulhos. Aterceira geração de proprietários das terras da FazendaMuribeca pertence a Ulisses Viana Fontão, filho de umaneta de Antônio Domingos Viana e responsável pela<strong>do</strong>ação ao Instituto <strong>do</strong> Patrimônio Histórico e ArtísticoNacional de parte das terras.Dominan<strong>do</strong> a vasta e arenosa planície, a igreja de NossaSenhora das Neves é um ponto branco contra o infinitoazul <strong>do</strong> mar <strong>do</strong> leste e o ondulante verde das montanhas<strong>do</strong> oeste. O edifício, destaca<strong>do</strong> em sua envolventepaisagem, é artefato para olhar uma paisagem ou para ser vistodesde longe. Percebê-lo é como ver o tempo imobiliza<strong>do</strong>,uma condição apenas alterada a cada dia cinco de agostoquan<strong>do</strong>, para dar e pedir graças, homens, mulheres ecrianças se encontram para orar e festejar o dia de NossaSenhora das Neves. Evento sem fronteiras, a festa atraidevotos de diferentes localidades <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong> e<strong>do</strong> Rio de Janeiro. São milhares. Mas, é preciso vontade.A igreja, sinal de práticas centenárias, isolada e distante,exige corpo e espírito esperançosos para nela chegar.O parti<strong>do</strong> a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> no conjunto de Muribeca deveter si<strong>do</strong> aquele da quase totalidade da obra jesuítica,disposto em quadra à volta de um pátio, um claustrocentral. Entretanto, não existe <strong>do</strong>cumentação acerca<strong>do</strong> mesmo. Do conjunto, só a igreja transpôs o tempo.Essa ocupava o “quarto” sul da quadra, enquanto aresidência ocupava o “quarto” <strong>do</strong> leste.Para erigir o conjunto, os padres jesuítas utilizaram daspedras <strong>do</strong>s arrecifes existentes na costa <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>. São pedras de pequenas dimensões argamassadascom cal, cujo transporte deve ter exigi<strong>do</strong> o esforçode muitos índios reuni<strong>do</strong>s em torno das atividadesde culto e trabalho da Fazenda Muribeca. Construídacom paredes estruturais de pedra, a igreja encontra-secoberta por telha<strong>do</strong> com armação em madeira e fecha<strong>do</strong>por telhas de barro <strong>do</strong> tipo canal. Sua superfície é plana,constituída por duas águas na nave e outras duas nacapela-mor, e termina em beiral de beira-seveira e bica,com exceção das empenas correspondentes às paredesde fun<strong>do</strong> da nave e da capela-mor, onde a armação seapoia diretamente sobre o topo da parede. Na nave, otelha<strong>do</strong> sem forro, tem as telhas emboçadas – capaspresas por argamassa às telhas <strong>do</strong>s canais.


PRESIDENTE KENNEDYResulta<strong>do</strong> da modéstia e austeridade com que os padresjesuítas empreenderam sua ação, ao mesmo tempocivilizatória e missionária, o edifício apresenta umaconfiguração típica das construções religiosas no BrasilColônia. A planta baixa segue o plano geral compostode nave única, com coro por cima da porta de entrada, ecapela-mor, separadas por arco cruzeiro e diferenciadasem altura e largura.A nave, com três janelas em cada parede, apresenta elementostípicos das igrejas jesuíticas. Entre eles, marcan<strong>do</strong>o salão retangular, <strong>do</strong>is púlpitos foram posiciona<strong>do</strong>ssob a janela central da nave. O acesso se dava atravésde escadas localizadas na “alma” das paredes lateraisda nave, liga<strong>do</strong>s ao exterior por meio de portas, posteriormentefechadas. As janelas tiveram seus vãos emoldura<strong>do</strong>spor quadro de verga recurvada, e compostosem massa, de acabamento liso e ligeiramente ressaltada<strong>do</strong> paramento das paredes. Elas foram fechadas comesquadrias de duas folhas almofadadas em madeira.Na capela-mor e no coro, de maneira distinta, as portastiveram os contornos sublinha<strong>do</strong>s com a sobreposiçãode uma cornija em sobressalto e autônoma relativamenteà moldura <strong>do</strong> vão, duplo indício da inspiraçãobarroquizante, própria <strong>do</strong> século XVIII. A mesma intençãose repete na modenatura de relevo das janelas eda portada da fachada principal. Aí, uma moldura argamassadaem discreta saliência ganha volume ao duplicara verga em desenho de inspiração classicista.Na capela-mor, além <strong>do</strong> altar, <strong>do</strong>is pequenos nichos,destituí<strong>do</strong>s de expressão artística, e um óculo lobula<strong>do</strong>,na parede esquerda, marcam uma composição originalmenteconcebida em acor<strong>do</strong> com a severa arquiteturajesuítica. Aí, o forro abobada<strong>do</strong> é feito com tabuas demadeira justapostas em junta seca, e está constituí<strong>do</strong> deaba e cimalha perfilada em balanço. O acesso externoa ela é realiza<strong>do</strong> por meio de duas portas simétricas eem posição transversal relativamente ao eixo da nave.Essas têm vergas recurvadas sobrepostas por modenaturaem relevo de expressivo ressalto, possivelmenteum acréscimo.O frontispício de Nossa Senhora das Nevesde Muribeca apresentaria, à direita,uma torre única, externa ao corpo daigreja, não concluída. Conservada


161da base até a altura <strong>do</strong> coro, a torre sineira foi posicionada<strong>do</strong> la<strong>do</strong> oposto à residência, como em Reritiba eSão João de Carapina. Seu acesso, pela nave, provavelmentese fazia, em origem, através <strong>do</strong> coro. Esse porsua vez, ligava-se à residência por meio de uma portaposicionada sobre a fachada lateral esquerda da igreja.Na fachada, uma porta central e três janelas sobre ocoro reproduzem a tradicional disposição jesuítica. Oconjunto é arremata<strong>do</strong> por pequeno frontão de empenadelineada por alternância de singelas linhas côncavas econvexas realçadas por friso em ressalto. Duplo, o frisotem suas extremidades movimentadas por acabamentode espirala<strong>do</strong> desenho. Uma inspiração naturalista?Uma analogia aos caracóis marinhos?O tímpano apresenta um óculo loba<strong>do</strong>, marcan<strong>do</strong> umtratamento plástico mais acentua<strong>do</strong> no centro da composição.Assenta<strong>do</strong> sobre cornija de discreto relevo, ofrontão foi ladea<strong>do</strong> por <strong>do</strong>is coruchéus posiciona<strong>do</strong>ssobre o topo de cunhais de discreto relevo. O movimentogera<strong>do</strong>, entretanto, não compromete a contençãoexpressa pela jesuítica construção, onde pre<strong>do</strong>minama linearidade da cornija, e o enquadramento dafachada, obti<strong>do</strong> pelos largos cunhais e a geometrização<strong>do</strong> volume prismático da igreja.


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165IGREJA DE NOSSA SENHORA DAS NEVESPresidente KennedyProteção Legal: Resolução n° 2/2009<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro de Tombo Históricosob o n° 193, folhas 31v e 32REFERÊNCIASALMEIDA, Renata Hermanny de; HOLZ, Carlos. Igreja de NossaSenhora das Neves. Por uma visibilidade. Vitória, Universidade Federal<strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, Departamento de <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo,1996.CARVALHO, José Antônio. A Arte no Espírito <strong>Santo</strong> no perío<strong>do</strong>colonial II. <strong>Arquitetura</strong> religiosa. Revista de Cultura da UniversidadeFederal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, Vitória, n. 30, p. 31-50, 1984.


Santa Leopoldina


Núcleo Históricode Santa LeopoldinaA sede <strong>do</strong> município de Santa Leopoldina é, depois deVitória, ao centro, Itapemirim, ao sul, e São Mateus, aonorte, o mais antigo município espírito-santense. Mais;é um <strong>do</strong>s primeiros núcleos urbanos que se instalaramem terras não costeiras. Se esses <strong>do</strong>is fatores históricosjá falam de seu significa<strong>do</strong>, Santa Leopoldina só tem seuvalor corretamente mesura<strong>do</strong> se focaliza<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong>seu papel enquanto lugar da ocorrência <strong>do</strong> significativoencontro multicultural e social espírito-santense. Atéentão ocupa<strong>do</strong> por descendentes lusos, em suas terrasbaixas, notadamente nas regiões de Mangaraí, Holandae Regência, o território central <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>se torna a nova casa de homens e mulheres. Bravos,eles enfrentam as precárias condições oferecidas pelapolítica imperial de colonização, penetran<strong>do</strong> por terrasdesconhecidas e conviven<strong>do</strong> com condições adversasde conforto e segurança. Desbravan<strong>do</strong> as altas terras,situadas a oeste, eles se instalam e fundam seus lares nasmontanhas. As denominações – Tirol, Luxemburgo,Suíça –, não deixam dúvida. Eles devem lhes fazerlembrar o que deixaram para trás. Imigrantes em buscade seu futuro, eles podem ser prussianos, saxônicos,hessienses, bandenses, holsacianos, nassauenses, alemãesde outras regiões. Diversos em origem, no presente emconstrução, no Espírito <strong>Santo</strong>, eles constituem a basede uma sociedade plural, marcada pela diversidade demisturas promovidas pelas inevitáveis fusões com onegro, o índio e os luso-brasileiros.Assim, fruto de passa<strong>do</strong> e presente, de sonhos e lembranças,de sofrimento e alegria, enfim da necessáriaadaptação de herança e trabalho, os imigrantes de SantaLeopoldina erguem seu espaço geográfico particular,constroem sua espacialidade histórica singular. Muitassão as expressões materiais e imateriais desse evento.Sua magnitude e seu valor podem ser avalia<strong>do</strong>s sob diversasperspectivas, de correspondente multiplicidade.No plano urbano-arquitetônico, o núcleo urbano dasede de Santa Leopoldina é um deles. Não é o maisexpressivo nem o mais representativo, mas, certamente,um das mais nítidas expressões da capacidade empreende<strong>do</strong>rade seus mora<strong>do</strong>res, visível e reconhecível nasofisticação tecnológica e artística de seus artífices, naengenhosidade de seus trabalha<strong>do</strong>res.Institucionaliza<strong>do</strong> sede da colônia na penúltima década<strong>do</strong> século XIX, Porto de Cachoeiro de Santa Leopoldina,como é então denomina<strong>do</strong> o núcleo urbano dacolônia, torna-se o mais importante entreposto comercial<strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>. Não era para menos. Localiza<strong>do</strong>junto ao último trecho navegável <strong>do</strong> rio Santa Maria daVitória, curso de água em cuja foz se situa a capital <strong>do</strong>Esta<strong>do</strong>, Vitória, a vila é centro de armazenagem, comercializaçãoe distribuição <strong>do</strong> produto de maior impactona balança comercial capixaba, o café.Realização no tempo, o núcleo de Santa Leopoldinapode ser compreendi<strong>do</strong> em sua dimensão arquitetônica


169por meio <strong>do</strong> reconhecimento de seu processo de expansãoduplamente econômica e física. Sem pretender umaprecisão cronológica absoluta, é possível indicar a existênciade três unidades espaciais distintas, correspondentesàs etapas de expansão urbana. Correspondentesàs ruas <strong>do</strong> Comércio, Bernardino Monteiro e JerônimoMonteiro, esses setores podem ter sua história associadaà dinâmica urbana <strong>do</strong>minante em Santa Leopoldina,a comercialização de produtos de exportação por meiodas águas <strong>do</strong> rio. O café era o principal deles.Transporta<strong>do</strong> por canoas com aproximadamente 16metros de comprimento, conduzidas por homens comoHorácio Conceição, João Quintiliano Júnior, AntonioCorreia de Freitas e os Mestres João Paulo e Emílio Rodrigues<strong>do</strong>s Anjos, o café, cultiva<strong>do</strong>, colhi<strong>do</strong> e ensaca<strong>do</strong>pelos colonos em suas pequenas propriedades, quan<strong>do</strong>de passagem pela cidade, seja comercializa<strong>do</strong> em casasde negócios, seja armazena<strong>do</strong> em armazéns de homenscomo Duarte Amarante, Alberto Sebastião Wolkart,José Reisen, Francisco Alberto Vervloet, Henrique Brunowe Carl Müller, fazia circular o capital.Situada entre a montanha e o rio, a cidade se estendeao longo de uma única estrada. Do la<strong>do</strong> da montanha,vencen<strong>do</strong> a declividade da encosta ou em terreno plano,as construções são maiores. Afinal, elas se destinam nãosó à habitação de seus proprietários, mas também aocomércio e mesmo à armazenagem de produtos. Emgeral, aí são ergui<strong>do</strong>s os maiores imóveis. De <strong>do</strong>is pavimentos,a maioria, eles podem se elevar com a inclusãode um sótão no último piso. Associadas à escala, a implantaçãoe a volumetria são os fatores arquitetônicosmais importantes para a configuração paisagística quelhes correspondem.


SANTA LEOPOLDINADesse la<strong>do</strong> da rua <strong>do</strong> Comércio, são expressivos, porsua continuidade, <strong>do</strong>is conjuntos. O primeiro delesestá forma<strong>do</strong> pelos imóveis de número 11, 13, 15 e17; e o segun<strong>do</strong> pelos imóveis de número 43, 45-47,51, 53, 57-59.Um segun<strong>do</strong> tipo de construção, ainda no “la<strong>do</strong> damontanha”, configura-se pela excepcionalidade de suainserção urbana. Um edifício de esquina, junto ao largoforma<strong>do</strong> pela rua Barão de Rio Branco, o imóvel denúmero 27, ademais é um <strong>do</strong>s exemplares que mais seaproxima, arquitetonicamente, das referências históricasde seus construtores.Ainda nesse la<strong>do</strong> da rua <strong>do</strong> Comércio, um terceiro padrãode arquitetura resultante da associação de atividadesde residência e comércio pode ser identifica<strong>do</strong> nosimóveis de número 01 e 03. Configura<strong>do</strong> pela justaposiçãode <strong>do</strong>is volumes de duas escalas, o conjunto podeser reconheci<strong>do</strong> pela continuidade de seus acabamentose de sua modenatura.Primeira área de edificação da cidade de SantaLeopoldina, entre o final <strong>do</strong> século XIX e o início <strong>do</strong>século XX, acompanhan<strong>do</strong> o dinamismo de seus agenteseconômicos, o Comércio atravessa a rua e alcança orio. Inicialmente ocupa<strong>do</strong> por improvisa<strong>do</strong>s barracõescobertos, o la<strong>do</strong> <strong>do</strong> rio se transforma com sóli<strong>do</strong>s esóbrios armazéns de café, portas de passagem e ligaçãoentre o lugar e o mun<strong>do</strong>. No la<strong>do</strong> <strong>do</strong> rio, <strong>do</strong>is tiposedifica<strong>do</strong>s se diferenciam segun<strong>do</strong> sua maior ou menorcomplexidade funcional. O primeiro deles, semelhanteao anteriormente apresenta<strong>do</strong>, está exemplifica<strong>do</strong> pelosimóveis de número 54 e 58-60-62, situa<strong>do</strong>s junto à pontede ligação com a rua Bernardino Monteiro. Projeta<strong>do</strong>scom lugares da família e <strong>do</strong> trabalho, hoje segrega<strong>do</strong>spela propriedade, podem ser ainda reconheci<strong>do</strong>s emsua unidade formal.Lugar da sociabilidade <strong>do</strong> trabalho, essencialmente,nesse la<strong>do</strong> da rua <strong>do</strong> Comércio ainda podem ser encontra<strong>do</strong>simóveis de menor escala, exclusivamente comerciais,mas nem por isso menos importantes. Entre eles,destacam-se os de número 26 e 34-36.Situa<strong>do</strong> junto à saída de Santa Leopoldina para SantaMaria de Jetibá e Santa Teresa, o imóvel de número63 se diferencia, por sua vez, pela expressiva carga desociabilidade urbana transmitida por sua configuração.


171Presente na paisagem de forma única, sua perspectiva sefaz longínqua, permitin<strong>do</strong> uma apreciação contaminadapelo ruí<strong>do</strong> das águas <strong>do</strong> Santa Maria.Uma passagem para a rua Bernardino Monteiro, aponte sinaliza, ao mesmo tempo, a entrada na segundaunidade espacial de Santa Leopoldina. Aí, <strong>do</strong>minadaspela imponente paisagem, três habitações testemunhama expansão <strong>do</strong> aglomera<strong>do</strong> urbano em busca de calma eisolamento da rui<strong>do</strong>sa e movimentada vida da “cidade”.Em diálogo com a natureza circundante, a arquiteturaagora busca se isolar, protegen<strong>do</strong>-se em meio à verdevegetação de seus jardins e quintais. Em tipologias quese aproximam da chácara suburbana, os três imóveisexemplificam diferentes formas de relação com oterreno. De todas elas, a residência de José Reisen éaquela mais exemplar.um empreendimento de Luiz Holzmeister enquantoprefeito, entre 1916 e 1919. Situada ao longo <strong>do</strong>caminho para Vitória, a capital, pelas características dasformas de uso e ocupação <strong>do</strong> solo nela promovidas, suaocupação pode ser considerada, como uma síntese dasduas primeiras. Assim, nela é possível encontrar tanto aambiência pitoresca da Bernardino Monteiro quanto oambiente funcional <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho característicoda rua <strong>do</strong> Comércio. Dominante, a primeira tem comosuas mais representativas construções, <strong>do</strong>is imóveis: ode número 02, correspondente à prefeitura municipal, eo de número 10, uma residência.Em resumo, é possível associar as três unidadesurbanas de Santa Leopoldina aos seus três agentes maissignificativos: o Merca<strong>do</strong>, no meio, a Sociedade, de umla<strong>do</strong>, e o Esta<strong>do</strong>, de outro.A terceira e última área de expansão urbana de SantaLeopoldina, a rua Jerônimo Monteiro, é o resulta<strong>do</strong> de


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173Rua <strong>do</strong> Comércio nº 1IMÓVEL À RUA DO COMÉRCIO Nº 1Sede, Santa Leopoldina (atual 1399)Proteção Legal: Resolução nº 5/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 32 e 68, folhas 4v a 7vErgui<strong>do</strong> no início <strong>do</strong> século XX, o imóvel é construçãode um só pavimento implantada sobre a testada <strong>do</strong> lotee o limite lateral direito, e manten<strong>do</strong> um afastamento nalateral esquerda, solução adequada à utilização de umavaranda como espaço de transição e o acesso a umaresidência. O edifício, um volume de base retangular e depequenas dimensões, é uma típica arquitetura comercial.Na fachada propriamente urbana, na qual estãoposicionadas três portas comerciais, o edifício apresentasua face mais elaborada, resultante <strong>do</strong> emolduramento<strong>do</strong>s vãos de porta e da presença de platibanda fechadaem balaústre. Elemento modernizante, a platibanda, umelemento de inserção posterior, esconde parcialmente otelha<strong>do</strong>. Esse está configura<strong>do</strong> em <strong>do</strong>is planos de águacobertos por telha-francesa de barro, e estrutura<strong>do</strong> apartir da cumeeira paralela à via pública, como no mo<strong>do</strong>tradicional de construir. Contu<strong>do</strong>, o edifício parececorresponder à estrutura comercial de uma propriedadeque se complementa com o imóvel situa<strong>do</strong> à sua direita,o número 03 da rua <strong>do</strong> Comércio. Identificada naunidade de elementos de arquitetura e de composiçãopresentes nos <strong>do</strong>is edifícios, essa complementaridadepermite valorizar a dependência da relação programáticae expressão formal resultante dessa associação.REFERÊNCIAESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, n.08, 1980.


161 175Rua <strong>do</strong> Comércio nº 2IMÓVEL À RUA DO COMÉRCIO Nº 2Sede, Santa Leopoldina (atual 1394)Proteção Legal: Resolução nº 5/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 32 a 68, folhas 4v a 7vConstrução <strong>do</strong> final <strong>do</strong> século XIX, o edifício possuivolumetria de base quadrada desenvolvida em um pavimentosobre porão habitável. A residência, propriamente,é acessada por escada erguida em alvenaria eprotegida por guarda-corpo em ferro, de posição centralizadaem relação à fachada frontal. Internamente, aarticulação <strong>do</strong>s ambientes da casa está originalmenteorganizada a partir de uma sala para a qual se abremportas de numerosos quartos, uma reminiscência deseu uso como pouso de parada para viajantes, gerencia<strong>do</strong>por Clementino Bermudes. Implanta<strong>do</strong> segun<strong>do</strong>padrão moderno, isola<strong>do</strong> em relação aos limites <strong>do</strong> terreno,o edifício apresentava suas quatro fachadas livrese marcadas pela sequência de grandes vãos de janelafecha<strong>do</strong>s por esquadrias em veneziana de madeira e vidro.O volume está ressalta<strong>do</strong> pela cobertura configuradapor quatro planos de mesma dimensão, veda<strong>do</strong>s portelha-francesa de barro.REFERÊNCIAESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura,nº. 08, 1980.


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177Rua <strong>do</strong> Comércio nº 3Construí<strong>do</strong> em 1918 com <strong>do</strong>is pavimentos, o edifícioestá implanta<strong>do</strong> sobre os limites <strong>do</strong> terreno, em lote deesquina da rua <strong>do</strong> Comércio com a rua José de Anchieta.Esse, com seu formato triangular é o principalelemento de definição volumétrica <strong>do</strong>minada pela estreitaface da esquina, onde se situam a porta de acessoao pavimento térreo, um pequeno balcão no pavimentosuperior e um discreto frontão resultante da elevaçãoda platibanda. Complementarmente, as fachadas lateraistêm composição <strong>do</strong>minada pelos amplos vãos deporta, simetricamente posiciona<strong>do</strong>s nos <strong>do</strong>is pavimentos.Esses, contu<strong>do</strong>, são arremata<strong>do</strong>s de forma a acentuara diferença funcional <strong>do</strong> edifício. Assim, enquantono térreo uma pesada cantaria emoldura as portas <strong>do</strong>comércio, na residência balaústres em alvenaria arrematame protegem portas-janelas de peitoril entala<strong>do</strong>. Osegun<strong>do</strong> pavimento abrigou a residência da família Sassemburg,posteriormente substituída pelo CachoeiranoFutebol Clube, para, a seguir, ser aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>. Contu<strong>do</strong>,o edifício parece corresponder à estrutura residenciale comercial de uma propriedade que se complementacom o imóvel situa<strong>do</strong> à sua esquerda, o número 01 darua <strong>do</strong> Comércio. Identificada na unidade de elementosde arquitetura e de composição presentes nos <strong>do</strong>is edifícios,essa complementaridade permite valorizar a dependênciada relação programática e expressão formalresultante dessa associação.IMÓVEL À RUA DO COMÉRCIO Nº 3Sede, Santa LeopoldinaProteção Legal: Resolução nº 5/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 32 a 68, folhas 4v a 7vREFERÊNCIAESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, n.08, 1980.


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179Rua <strong>do</strong> Comércio nº 11IMÓVEL À RUA DO COMÉRCIO Nº 11Sede, Santa Leopoldina (atual 1469)Proteção Legal: Resolução nº 5/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 32 a 68, folhas 4v a 7vConstruí<strong>do</strong> no final <strong>do</strong> século XIX, o edifício possuivolumetria desenvolvida a partir de sua implantação emlote de esquina, situação favorece<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> destaque desua presença na paisagem urbana. Um sobra<strong>do</strong> de <strong>do</strong>ispavimentos e implantação tradicional, sobre os limites<strong>do</strong> lote, suas duas fachadas são tratadas de forma diferenciadaem função <strong>do</strong> papel simbólico representa<strong>do</strong>por cada uma delas. Assim, em correspondência àimportância econômica e social da rua <strong>do</strong> Comércio, afachada frontal é valorizada pela repetição de vãos deporta dispostos sobre as paredes <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is pavimentos, epor um maior destaque aos <strong>do</strong> pavimento superior, originalmentedestina<strong>do</strong> à residência de seu proprietário.Ali, além da inserção de bandeiras envidraçadas, gradisde delica<strong>do</strong> desenho protegem pequenos e estreitosbalcões. Em seu conjunto, a arquitetura é aquela típicacolonial, resultante da contraposição entre os vazios dasportas e janelas e a opacidade de pesadas paredes erguidasem alvenaria autoportante. Arrematan<strong>do</strong> a fachadafrontal, em moderna solução, uma singela platibanda seeleva, esconden<strong>do</strong> a cobertura.REFERÊNCIAESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, n.08, 1980.


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181Rua <strong>do</strong> Comércio nº 13IMÓVEL À RUA DO COMÉRCIO Nº 13Sede, Santa LeopoldinaProteção Legal: Resolução nº 5/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 32 a 68, folhas 4v a 7vOriginalmente um hotel, o edifício atualmente abrigaum supermerca<strong>do</strong>, alteração de uso realizada em1984 por seu atual proprietário, o Sr. Evandro Nickel.Incentiva<strong>do</strong>ra de alterações na organização interna,essa é promovida com a inserção de nova estruturaem concreto arma<strong>do</strong>, e a manutenção das paredesexternas, em tijolo, e da cobertura, em telha-francesa debarro. Implanta<strong>do</strong> segun<strong>do</strong> o modelo tradicional sobreos limites e a testada frontal <strong>do</strong> terreno, o edifício éarquitetura de fachada tipicamente colonial resultanteda disposição em linha e justaposta <strong>do</strong>s vãos de porta.Como comum na época de sua construção, realizadano início <strong>do</strong> século XX, esses recebem tratamentodiferencia<strong>do</strong>r das funções comercial e residencial,respectivamente dispostas no primeiro e segun<strong>do</strong>pavimento. Na residência, as portas-janelas são fechadaspor peitoril entala<strong>do</strong> em balaústre de alvenaria. Noconjunto, a fachada está horizontalmente delineada porcimalhas de marcação de pisos e arremate da cobertura.Essa, oculta por platibanda, configura-se seguin<strong>do</strong> atradicional disposição de planos estrutura<strong>do</strong>s a partirde cumeeira paralela à via pública.REFERÊNCIAESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, n.08, 1980.


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183Rua <strong>do</strong> Comércio nº 14, 16, 18 e 20A construção, datada de 1918, a despeito da diversidadede usos que abriga, é uma das mais bem preservadasno núcleo histórico de Santa Leopoldina, condição quepermite conhecer não só o mo<strong>do</strong> de viver de seus habitantes,como processos construtivos a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s na época:alvenaria autoportante de pedra no primeiro pavimentoe de tijolo no segun<strong>do</strong> pavimento. Implanta<strong>do</strong> em lotede esquina, sobre os limites frontais <strong>do</strong> terreno, o edifíciode <strong>do</strong>is pavimentos destaca-se na paisagem urbanapela grandeza de sua escala e pelo aproveitamento dasqualidades estéticas proporcionadas pelo delineamentoda fachada da esquina. Nessa, <strong>do</strong>is largos vãos de portase superpõem acentuan<strong>do</strong> a verticalidade desejada, emcontraponto à horizontalidade <strong>do</strong>minante das demaisfachadas, especialmente naquela situada sobre a via comercialmais importante de Santa Leopoldina. Na fachadasobre essa via, entre as várias portas comerciais,uma, de posicionamento mediano, permite o acessoao segun<strong>do</strong> pavimento, onde originalmente se instaloua residência de seu proprietário, Florêncio FranciscoKrüger. Articula<strong>do</strong>s a uma larga e extensa circulação,os vários cômo<strong>do</strong>s da casa se dispõem em sequênciainterrompida na esquina. Aí, valorizada pelas amplasjanelas rasgadas, guarnecidas e protegidas por guardacorpoem balaústre, uma grandiosa sala social traduz arelevância de seu proprietário original.IMÓVEL À RUA DO COMÉRCIO Nº 14, 16, 18 e 20Sede, Santa Leopoldina (atuais 1438, 1442, 1446 e 1450)Proteção Legal: Resolução nº 5/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 32 a 68, folhas 4v a 7vREFERÊNCIAESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, n.08, 1980.


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185Rua <strong>do</strong> Comércio nº 15IMÓVEL À RUA DO COMÉRCIO Nº 15Sede, Santa Leopoldina (atual 1491)Proteção Legal: Resolução nº 5/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 32 a 68, folhas 4v a 7vErguida no século XIX, essa é uma das construçõesmais antigas da cidade, condição cronológica reforçadapelo uso da madeira como material de arremate <strong>do</strong>s vãosde porta e janela. Contu<strong>do</strong>, seu proprietário originaldeve ter si<strong>do</strong> um homem de posses, pois, valorizan<strong>do</strong> equalifican<strong>do</strong> a moradia, um balcão de delica<strong>do</strong> desenhoe lampiões de iluminação pública executa<strong>do</strong>s em ferroprotegem as portas localizadas junto ao primeiropavimento. Recurso a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> em tempo anterior àintrodução da força elétrica em Santa Leopoldina, em1919, o lampião a querosene é ti<strong>do</strong> como indica<strong>do</strong>rde fortuna e poder social. De traço singelo como nasconstruções erguidas pelos primeiros habitantes lusos, aedificação é adquirida por Frederico Ewald, um imigrantealemão que ali instala seu comércio e residência no final<strong>do</strong> século XIX. Não se sabe a partir de quan<strong>do</strong>, mas odescendente de portugueses e proprietário por herança,Antenor Guedes ali reside até o ano de 1966.REFERÊNCIAESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, n.08, 1980.


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187Museu <strong>do</strong> ColonoIMÓVEL À RUA DO COMÉRCIO Nº 17Sede, Santa Leopoldina (atual 1501)Proteção Legal: Resolução nº 05 de 1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 32 a 68, folhas 4v a 7vConstrução <strong>do</strong> final <strong>do</strong> século XIX, o Museu <strong>do</strong> Colonoocupa o edifício onde residiu seu idealiza<strong>do</strong>r, LuizHolzmeister Júnior. Nasci<strong>do</strong> em 1890, filho de Luiz eEugênia Holzmeister, esse, além de comerciante, destacaseem seu tempo como construtor e empreende<strong>do</strong>rda expansão da cidade de Santa Leopoldina em áreaatualmente correspondente à rua Jerônimo Monteiro.Importante, sobretu<strong>do</strong>, como homem público,Holzmeister é prefeito de Santa Leopoldina entre 1916e 1919, momento em que determina a construção daprefeitura municipal. Moradia de seus filhos, Alice e Luiz,até o ano de 1969, o Museu <strong>do</strong> Colono é o resulta<strong>do</strong> daaquisição <strong>do</strong> imóvel em 1969 pelo governo <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong>Espírito <strong>Santo</strong>. Arquitetonicamente é uma construçãotipicamente colonial, da qual se destaca a fachada frontalcom seus vãos de porta homogeneamente dispostosem linear sequência nos <strong>do</strong>is pavimentos. Fecha<strong>do</strong>spor folhas de madeira sobrepostas por bandeira emgradil de ferro no térreo, no segun<strong>do</strong> pavimento asportas são modernizadas por uma dupla esquadriade madeira e caixilho de vidro. Essa última, com seudesenho de rígida geometria e suas coloridas superfíciesenvidraçadas, é elemento de composição arquitetônicasingular no conjunto <strong>do</strong>s imóveis de Santa Leopoldina,conferin<strong>do</strong>-lhe valor diferencia<strong>do</strong>. A qualidade estética<strong>do</strong> edifício está ainda presente em delica<strong>do</strong> ornato emforma de fita sobreposto aos vãos em posição inferior àcimalha de arremate da fachada. A cobertura em zincosegue a configuração tradicional com a disposição de<strong>do</strong>is planos estrutura<strong>do</strong>s a partir de cumeeira paralelaà via pública. Implanta<strong>do</strong> em terreno posiciona<strong>do</strong> ameia encosta, o edifício conta com quintal desenvolvi<strong>do</strong>em <strong>do</strong>is patamares. O segun<strong>do</strong>, acessa<strong>do</strong> por escada deposição centralizada, é um terraço ajardina<strong>do</strong>.


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SANTA LEOPOLDINAREFERÊNCIASESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, n.08, 1980.SCHWARZ, Francisco. O município de Santa Leopoldina. Vitória:Traço Certo Editora, 1992.


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193Rua <strong>do</strong> Comércio nº 24IMÓVEL À RUA DO COMÉRCIO Nº 24Sede, Santa Leopoldina (atual 1482)Proteção Legal: Resolução nº 5/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 32 a 68, folhas 4v a 7vA construção, erguida <strong>do</strong> início <strong>do</strong> século XX por seuproprietário, um imigrante alemão, destinava-se ao comérciode produtos importa<strong>do</strong>s. É, por consequência,arquitetura de configuração determinada pelo pragmatismoda comunicação <strong>do</strong> edifício com a rua, e, nocaso de Santa Leopoldina, <strong>do</strong> edifício com o rio. Assim,apresenta composição restrita à disposição <strong>do</strong>s vãos deporta na “fachada da cidade” e na “fachada <strong>do</strong> rio”,respectivamente edificadas no limite da rua, sobre a testadafrontal <strong>do</strong> terreno, e no limite da encosta, sobre rioSanta Maria da Vitória. Ponto de passagem da produçãoda colônia de Santa Leopoldina, o edifício de um só pavimentopossui significa<strong>do</strong> e valor arquitetônico quan<strong>do</strong>contempla<strong>do</strong> em sua inserção no conjunto urbanoda rua <strong>do</strong> Comércio. Descaracteriza<strong>do</strong> duplamente pelamudança da modenatura <strong>do</strong>s vãos de porta e pela inserçãode uma marquise plana em concreto arma<strong>do</strong>, oedifício mantém sua destinação comercial, ten<strong>do</strong> comoproprietários membros da família de Valdemar Nickel.REFERÊNCIAESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, n.08, 1980.


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195Rua <strong>do</strong> Comércio nº 26IMÓVEL À RUA DO COMÉRCIO Nº 26Sede, Santa Leopoldina (atual 1490)Proteção Legal: Resolução nº 5/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 32 a 68, folhas 4v a 7vConstruí<strong>do</strong> em 1918 com o uso de materiais “sóli<strong>do</strong>s”e “duráveis” como a pedra e o ferro, o edifício é umexemplar representativo <strong>do</strong> poder econômico <strong>do</strong>s cidadãosde Santa Leopoldina, especialmente aqueles liga<strong>do</strong>sà sua atividade principal, o comércio. Como o edifíciositua<strong>do</strong> à direita de sua fachada frontal, sua arquiteturaestá configurada a partir <strong>do</strong> pragmatismo sugeri<strong>do</strong> pelaatividade de entrada e saída de merca<strong>do</strong>rias e pessoas.É assim, edifício de um só pavimento e composiçãodelineada pela sequência linear de portas de generosasdimensões. Essas estão arrematadas por moldura desenhadasegun<strong>do</strong> modelo de inspiração clássica, presenteno uso <strong>do</strong> arco pleno, no arremate das bandeiras e nopeso compositivo <strong>do</strong>s frisos e da cimalha horizontalmentedispostos sobre as portas.REFERÊNCIAESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, n.08, 1980.


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197Rua <strong>do</strong> Comércio nº 27IMÓVEL À RUA DO COMÉRCIO Nº 27Sede, Santa Leopoldina (atual 1535)Proteção Legal: Resolução nº 5/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 32 a 68, folhas 4v a 7vConstruí<strong>do</strong> em 1890, em lote situa<strong>do</strong> no cruzamentoda rua <strong>do</strong> Comércio com a rua Barão <strong>do</strong> Rio Branco, oedifício é um singular elemento urbano na paisagem deSanta Leopoldina, dela se destacan<strong>do</strong>, duplamente, pelasimplicidade de sua composição arquitetônica e pelaforça de sua volumetria. Dominada pelos planos dasfachadas, essa está reforçada pela cobertura que, comsua cumeeira elevada, confere ao edifício sua escala.Ergui<strong>do</strong> por seus proprietários originais, imigrantessuíços, o sobra<strong>do</strong> possui <strong>do</strong>is pavimentos dispostosno terreno em acor<strong>do</strong> com o modelo tradicional decidades, ou seja, ocupan<strong>do</strong> a totalidade <strong>do</strong> lote, comas paredes dispostas sobre os limites <strong>do</strong> terreno. Emconjunto, o comércio e a residência estão distribuí<strong>do</strong>ssobre a fachada da via comercial, comunican<strong>do</strong>-se comela, por meio de sequência ritmada de portas, no térreo,e janelas, no pavimento superior. Conhecida em suaépoca, a Casa Franz Meyer é posteriormente adquiridapor Franz Müller & Cia., uma das empresas comerciaismais influentes e dinamiza<strong>do</strong>ras da vida econômica epolítica de Santa Leopoldina.REFERÊNCIAESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, n.08, 1980.


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199Rua <strong>do</strong> Comércio nº 34 e 36O edifício, data<strong>do</strong> <strong>do</strong> início <strong>do</strong> século XX, está construí<strong>do</strong>em lote de esquina, entre o rio Santa Maria daVitória e a rua <strong>do</strong> Comércio, posição explorada por comerciantese empresas pelas facilidades proporcionadaspara o escoamento de produtos por via fluvial. De umúnico pavimento, sua arquitetura se delineia pela repetiçãoda sequência em fila de vãos de janela na fachadalateral, e de portas na fachada da rua <strong>do</strong> Comércio. Aí,as portas, os principais elementos de composição formal<strong>do</strong> edifício, além de separadas por módulo delimita<strong>do</strong>por pilares de discreto alto-relevo, são valorizadascom seu arremate em cantaria e bandeira em ferro degeométrico desenho. <strong>Arquitetura</strong> construída com o usode materiais sóli<strong>do</strong>s e duráveis, como a pedra e o ferro,o edifício, como outros na mesma rua, é um exemplarrepresentativo <strong>do</strong> poder econômico <strong>do</strong>s cidadãos deSanta Leopoldina, especialmente aqueles liga<strong>do</strong>s à suaatividade principal, o comércio.IMÓVEL À RUA DO COMÉRCIO Nº 34 e 36Sede, Santa Leopoldina (atuais 1510, 1514 e 1522)Proteção Legal: Resolução nº 5/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 32 a 68, folhas 4v a 7vREFERÊNCIAESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, n.08, 1980.


SANTA LEOPOLDINARua <strong>do</strong> Comércio nº 43IMÓVEL À RUA DO COMÉRCIO Nº 43Sede, Santa LeopoldinaProteção Legal: Resolução nº 5/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 32 a 68, folhas 4v a 7vUma construção da passagem de século, erguida em1901, o edifício se destina, em sua origem, à armazenagemde café comercializa<strong>do</strong> por <strong>do</strong>is <strong>do</strong>s mais importantescomerciantes da cidade de Santa Leopoldina,João Vervloet e José Reisen. Construí<strong>do</strong> pelo primeirodeles, o armazém está configura<strong>do</strong> pela sequência de<strong>do</strong>is volumes, dispostos em paralelo entre si e em relaçãoà rua <strong>do</strong> Comércio. Repete, assim, o padrão arquitetônicoa<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> na cidade para as casas comerciais,com sua fachada marcada pelos vãos de portas. Essas,em correspondência à importância <strong>do</strong>s produtos queguarda e comercializa, apresentam-se em altura e largura,ressaltadas e valorizadas pela moldura em relevo queas contorna. Os vãos das portas, subdividi<strong>do</strong>s por bandeiraprotegida com gradil de ferro e folhas de madeira,são delinea<strong>do</strong>s em arco pleno, seguin<strong>do</strong> o padrão clássico,também comum nas edificações <strong>do</strong> mesmo tipo. Noseu conjunto, o edifício é a expressão <strong>do</strong> lugar social deseu empreende<strong>do</strong>r, explicitamente indica<strong>do</strong> em inscriçãoinserida na fachada em posição centralizada, sobmoldura e cornija de delica<strong>do</strong> desenho: J 1901 V.REFERÊNCIAESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, n.08, 1980.


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203Rua <strong>do</strong> Comércio nº 45 e 47Ergui<strong>do</strong> no início <strong>do</strong> século XX, segun<strong>do</strong> o padrãotradicional e <strong>do</strong>minante na rua <strong>do</strong> Comércio, o imóvelde <strong>do</strong>is pavimentos e um sótão habitável, ocupa a totalidade<strong>do</strong> lote em volume prismático <strong>do</strong>mina<strong>do</strong> pelaverticalidade. Apresenta-se assim, no ambiente urbano,por meio de sua imponente fachada. Essa, o elementode comunicação entre o mun<strong>do</strong> público e o mun<strong>do</strong>priva<strong>do</strong>, recebe ornamentação particularizada em cadaum <strong>do</strong>s pavimentos. Assim, o térreo, lugar da troca e dasociabilidade pública, é diferencia<strong>do</strong> por sua maior rusticidade,especialmente presente no arremate <strong>do</strong>s vãosde porta, em composição de referência clássica maneirista;o primeiro pavimento, lugar da intimidade e da sociabilidadeprivada, tem sua distinção assegurada coma proteção de cada um de seus quatro vãos de porta,por gradil delicadamente forja<strong>do</strong> e orna<strong>do</strong> com máscarade perfil feminino. O terceiro e último pavimento, osótão, abre-se para a fachada por meio de duas janelase <strong>do</strong>is óculos, simetricamente posiciona<strong>do</strong>s. Ele resultada inusitada combinação de cobertura estruturada em<strong>do</strong>is planos articula<strong>do</strong>s em cumeeira perpendicular à fachadae a superposição de frisos, cornija e platibanda,elementos de composição associa<strong>do</strong>s ao uso de calhascondutoras de água pluvial e, portanto, à cobertura comcumeeira paralela à rua.IMÓVEL À RUA DO COMÉRCIO Nº 45 e 47Sede, Santa Leopoldina (atuais 1591 e 1599)Proteção Legal: Resolução nº 5/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 32 a 68, folhas 4v a 7vREFERÊNCIAESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, n.08, 1980.


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205Rua <strong>do</strong> Comércio nº 51 e 53Construí<strong>do</strong>s pela família Vervloet em <strong>do</strong>is momentos,o da esquerda no final <strong>do</strong> século XIX e o da direita nasegunda década <strong>do</strong> século seguinte, os edifícios estãoergui<strong>do</strong>s em continuidade ao padrão formal <strong>do</strong>minantena cidade de Santa Leopoldina, especialmente para essetrecho da rua <strong>do</strong> Comércio. Ocupan<strong>do</strong> a totalidade <strong>do</strong>lote, os <strong>do</strong>is se desenvolvem em pavimentos correspondentesao comércio, no térreo, e à residência, no pavimentosuperior. Diferencia<strong>do</strong>s por falsos pilares emrelevo, os imóveis estão unifica<strong>do</strong>s pela a<strong>do</strong>ção de umamesma volumetria, escala e linguagem. Em conjunto,essa unificação tem como princípio a caracterização e adiferenciação <strong>do</strong>s usos, ambas obtidas com o tratamento<strong>do</strong>s pavimentos por meio de uma maior rusticidadeno térreo e alvenaria lisa no pavimento superior. Essetem sua composição marcada por estreitos balcões protegi<strong>do</strong>spor gradil em ferro, e posiciona<strong>do</strong>s à frente decada um <strong>do</strong>s cinco vãos de porta situa<strong>do</strong>s na fachadada residência. De influente participação na vida social,política e econômica de Santa Leopoldina no perío<strong>do</strong>de sua afirmação enquanto centro comercial <strong>do</strong> esta<strong>do</strong><strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, a família Vervloet é proprietáriade vários outros imóveis na cidade. Nesse senti<strong>do</strong>, osimóveis de números 51 e 53 impressionam em si, mas,sobretu<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> contempla<strong>do</strong>s e compreendi<strong>do</strong>s emconjunto com os imóveis de número 55, 57-59 e 58-60-62, situa<strong>do</strong>s na mesma rua.IMÓVEL À RUA DO COMÉRCIO Nº 51 e 53Sede, Santa Leopoldina (atual1609 e 1617)Proteção Legal: Resolução nº 5/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 32 a 68, folhas 4v a 7vREFERÊNCIAESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, n.08, 1980.


IMÓVEL À RUA DO COMÉRCIO Nº 54Sede, Santa LeopoldinaProteção Legal: Resolução nº 5/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 32 a 68, folhas 4v a 7v


207Rua <strong>do</strong> Comércio nº 54Construção <strong>do</strong> final <strong>do</strong> século XIX, o imóvel é partede um conjunto urbano-arquitetônico constituí<strong>do</strong> porresidência, comércio e armazém. Pertencente originalmentea João Vervloet, sua escala e refino estético fazemdele o testemunho mais representativo <strong>do</strong> significa<strong>do</strong>comercial de Santa Leopoldina na economia e sociedadeurbana <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong> até a terceira década <strong>do</strong>século XX. Sua configuração, pensada em continuidadecom a arquitetura da residência, particulariza-se peladeterminação programática de sua principal função, acomercialização e o armazenamento <strong>do</strong> café adquiri<strong>do</strong>junto aos colonos produtores de toda a região central<strong>do</strong> esta<strong>do</strong>. Diretamente ligada a essa abrangência,o edifício se distingue na cidade pela grandiosidade deseu volume e escala, e pelo requinte de sua linguagemcompositiva. Essa última está especialmente presentena moldura que contorna os vãos de porta e na sequênciade frisos e cornija que percorrem horizontalmente afachada em toda a sua extensão. Juntos, eles são os elementosresponsáveis pela unidade estética <strong>do</strong> conjunto.Os vãos possuem duas dimensões, sen<strong>do</strong> os menorescorrespondentes às portas de acesso ao comércio, e omaior à entrada para o espaço de estocagem das sacasde café. Essa situação, correspondente ao projeto original,é alterada com a abertura de mais um vão de porta,à esquerda da entrada <strong>do</strong> armazém. No conjunto, osvãos são fecha<strong>do</strong>s com esquadrias compostas por duasfolhas de madeira e bandeiras em gradil de ferro de delica<strong>do</strong>desenho. O mesmo material e o mesmo desenhoestão presentes no vão de acesso à residência de seuproprietário, situada no primeiro pavimento <strong>do</strong> imóvelde número 58-60-62, à sua esquerda.REFERÊNCIAESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, n.08, 1980.


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209Rua <strong>do</strong> Comércio nº 55Ergui<strong>do</strong> no final <strong>do</strong> século XIX segun<strong>do</strong> o padrão <strong>do</strong>minanteno núcleo urbano de Santa Leopoldina, o imóvel,de <strong>do</strong>is pavimentos e um sótão habitável, ocupa atotalidade <strong>do</strong> lote, em volume resultante de ampliaçãode sua área construída. A fachada, elemento remanescenteda construção original, é edificada a partir dasuperposição de vãos de portas nos <strong>do</strong>is pavimentosprincipais. Segue, assim, a alternância <strong>do</strong> pre<strong>do</strong>míniode cheios e vazios, em arquitetura construída de acor<strong>do</strong>com o mo<strong>do</strong> tradicional. Nessa continuidade, a distinçãoentre os pavimentos está marcada pela linha dabase da estreita sacada que percorre a frente <strong>do</strong> edifíciono nível da residência, e pelos relevos horizontais dacornija. Em uma arquitetura <strong>do</strong>minada pela solidez deseus materiais e pelo peso de suas paredes, esses ornamentosencontram seu contraponto estético na delicadaleveza <strong>do</strong> gradil metálico, usa<strong>do</strong> para o fechamento<strong>do</strong> guarda-corpo da sacada e das bandeiras das portasno pavimento térreo. Contu<strong>do</strong>, seu verdadeiro significa<strong>do</strong>só se faz perceber quan<strong>do</strong> visto em conjuntocom os imóveis de número 45-47, 51 e 53. Edifica<strong>do</strong>sem justaposição, esses constituem um <strong>do</strong>s fragmentosurbanos mais valiosos da rua <strong>do</strong> Comércio. Unifica<strong>do</strong>spela homogeneidade de sua volumetria e escala, elesimpressionam e sugerem um projeto executa<strong>do</strong>, a priori,em sua totalidade.IMÓVEL À RUA DO COMÉRCIO Nº 55Sede, Santa LeopoldinaProteção Legal: Resolução nº 5/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 32 a 68, folhas 4v a 7vREFERÊNCIAESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura,n. 08, 1980.


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211Rua <strong>do</strong> Comércio nº 57 e 59IMÓVEL À RUA DO COMÉRCIO Nº 57 e 59Sede, Santa Leopoldina (atual 1645)Proteção Legal: Resolução nº 5/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 32 a 68, folhas 4v a 7vA construção, um típico edifício comercial construí<strong>do</strong>no final <strong>do</strong> século XIX, é uma pequena edificação de umsó pavimento, implantada no mo<strong>do</strong> tradicional sobrea testada frontal e os limites laterais <strong>do</strong> terreno. Comoresulta<strong>do</strong>, o edifício se desenvolve em um volume debase retangular, coberto por telha<strong>do</strong> configura<strong>do</strong> por<strong>do</strong>is planos de água dispostos sobre a fachada frontal ea fachada <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s. Estrutura<strong>do</strong> a partir de cumeeiraparalela à rua, sua cobertura em telha-francesa debarro avança sobre o alinhamento da fachada geran<strong>do</strong>pequeno beiral. Com qualidade construtiva, pequenasdimensões e modesta linguagem, o edifício possui valorpor ser um <strong>do</strong>s últimos testemunhos da arquitetura <strong>do</strong>núcleo urbano de Santa Leopoldina em sua primeirafase.REFERÊNCIAESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, nº08, 1980.


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213Rua <strong>do</strong> Comércio nº 58, 60 e 62IMÓVEL À RUA DO COMÉRCIO Nº 58, 60 e 62Sede, Santa Leopoldina (atuais 1634, 1638, 1640 e 1644)Proteção Legal: Resolução nº 5/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 32 a 68, folhas 4v a 7vSitua<strong>do</strong> em lote de esquina, na extremidade oeste darua <strong>do</strong> Comércio, junto à ponte sobre o rio Santa Mariada Vitória, o edifício está implanta<strong>do</strong> na totalidade <strong>do</strong>terreno. Esse posicionamento, soma<strong>do</strong> à rígida configuraçãovolumétrica, é responsável pela impactante presença<strong>do</strong> imóvel na paisagem da cidade, especialmenteperceptível em sua tridimensionalidade. A esse destaquese soma o efeito resultante da unidade compositivaque conduz a disposição, o ritmo e o equilíbrio dasfachadas, especialmente aquelas posicionadas sobre oambiente propriamente urbano. Em número de quatro,essas espelham os usos comercial e residencial, respectivamentedispostos no térreo e no primeiro pavimento.A residência tem seu acesso realiza<strong>do</strong> por ampla escadadisposta na lateral direita, em espaço resultante dediscreto afastamento em relação ao limite <strong>do</strong> terreno.Inicia-se aí o lugar originalmente destina<strong>do</strong> à sociabilidadee à convivência íntima, a varada. Ocupan<strong>do</strong> todaa extensão da fachada <strong>do</strong> rio, para o qual se abre promoven<strong>do</strong>vista de impressionante beleza, a varanda é oespaço de transição entre o mun<strong>do</strong> público e o mun<strong>do</strong>priva<strong>do</strong>. Esse, com suas amplas dimensões, apresentaseconserva<strong>do</strong>, permitin<strong>do</strong> a compreensão <strong>do</strong> mo<strong>do</strong>de viver da família Vervloet. Por sua vez, as fachadasda rua são marcadas pelo ritmo da disposição <strong>do</strong>s dezvãos de comunicação com o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> comércio e deexpressão <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> priva<strong>do</strong>. Posiciona<strong>do</strong>s em linha esuperpostos nos <strong>do</strong>is pavimentos, esses são articula<strong>do</strong>spela continuidade horizontal <strong>do</strong> plano da fachada, apenasinterrompida por uma cornija posicionada no nível<strong>do</strong>s balcões <strong>do</strong> pavimento da casa, e na esquina, ondeuma superfície vertical de discreta curvatura marca atransição. De primorosos ornatos e qualifica<strong>do</strong>s materiais,o edifício é a representação arquitetônica melhorconservada de um tempo de acontecimentos dinâmicose transforma<strong>do</strong>res.REFERÊNCIAESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, n.08, 1980.


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SANTA LEOPOLDINAIMÓVEL RUA DO COMÉRCIO Nº 63Sede, Santa Leopoldina (atuais 1655 e 1659)Proteção Legal: Resolução nº 5/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 32 e 68, folhas 4v a 7v


217Rua <strong>do</strong> Comércio nº 63Erguida no ano de 1914 em lote posiciona<strong>do</strong> no eixoda ponte que atravessa o rio Santa Maria da Vitória, nadireção da rua Bernardino Monteiro, a edificação possuiinscrição urbanística peculiar no núcleo histórico deSanta Leopoldina, responsável pela ampliação da qualidadeestética da sua fachada. Essa, poden<strong>do</strong> ser percebidaem perspectiva frontal, tem sua apreensão valorizadapor uma contemplação que se faz segun<strong>do</strong> diferentespontos de vista. No conjunto, o imóvel segue o padrãotradicional, com a exploração da fachada frontal comoo principal elemento de comunicação entre o mun<strong>do</strong>priva<strong>do</strong> e o mun<strong>do</strong> público. Disposta sobre o limitefrontal <strong>do</strong> terreno, a fachada está configurada a partirde sua divisão em duas faixas horizontais, separadas porestreito balcão com balaústre, e em três módulos verticaisde mesma largura, marca<strong>do</strong>s pela disposição emlinha e superpostos por três vãos de porta.Regular em sua divisão, a composição explora o módulocentral como eixo de centralidade, nele amplian<strong>do</strong> as dimensões<strong>do</strong> vão e elevan<strong>do</strong>, discretamente, a platibandacom um singelo frontão delinea<strong>do</strong> em linha curva ondefoi inscrito o ano corresponde à construção <strong>do</strong> edifício.O acesso ao primeiro pavimento, possibilita<strong>do</strong> comum discreto recuo em relação ao limite lateral direito<strong>do</strong> terreno, é feito por uma íngreme escada em alvenaria.Mas são os ornatos, com sua qualidade construtivae requinta<strong>do</strong> desenho, os principais responsáveis pelosignifica<strong>do</strong> e valor de sua arquitetura. Portão, portas ebandeiras, especialmente, mas, também a estrutura deapoio da cobertura da varanda, executa<strong>do</strong>s em madeirae ferro, desenha<strong>do</strong>s com inspiração floral, e envidraça<strong>do</strong>scom coloração diversificada refletem motivaçõesadvindas, provavelmente, <strong>do</strong> desejo de inserção socialde seu primeiro proprietário, de origem alemã. Valorizadapor uma sociedade com atividade social e culturalintensa, essa qualidade pode explicar porque o “sobra<strong>do</strong>da ponte” foi sede de clubes recreativos e esportivosde Santa Leopoldina.REFERÊNCIAESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, n.08, 1980.


SANTA LEOPOLDINAIMÓVEL À RUA BERNARDINO MONTEIRO Nº 14Sede, Santa LeopoldinaProteção Legal: Resolução nº 5/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 32 a 68, folhas 4v a 7v


219Rua Bernardino Monteiro nº 14De localização urbana deslocada em relação ao núcleocomercial de Santa Leopoldina, o edifício está construí<strong>do</strong>em terreno de posição frontal ao rio Santa Maria daVitória, junto à ponte que o atravessa. Aliada à implantaçãoda construção em nível eleva<strong>do</strong> e à grandiosidadede sua dimensão, essa situação é responsável pela fortepresença da casa na paisagem da cidade. Percebida àdistância, sua composição volumétrica se destaca contrao verde da fron<strong>do</strong>sa mangueira que o tempo fezcrescer. De base quadrada, a chácara está rodeada porlarga varanda em três de seus la<strong>do</strong>s. Elemento arquitetônicoinova<strong>do</strong>r para a época, a varanda liga-se ao interiorda casa por meio de uma sequência de portas ejanelas de grandes dimensões responsáveis pela relaçãoda edificação com o quintal, em nível mais próximo, ecom a cidade, <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> <strong>do</strong> rio. Essa, em temposde sintonia com seu significa<strong>do</strong>, propicia um belo panorama,especialmente desfrutável por seu proprietáriooriginal. Comerciante de influência na vida política eeconômica de Santa Leopoldina, José Reisen é um <strong>do</strong>ssócios e diretores da Companhia de Viação Geral, empresaresponsável pela construção da estrada que a partirde 1919 liga Santa Leopoldina a Santa Teresa. Nãose conhece a data de construção da residência. Contu<strong>do</strong>,presume-se que essa tenha aconteci<strong>do</strong> na primeiradécada <strong>do</strong> século XX, pois em 1913 nela se hospedaMarcondes Alves de Souza, então presidente <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>.Distante desse tempo, a Cúria Metropolitana de Vitória,proprietária <strong>do</strong> imóvel desde os anos de 1970, utiliza-opara abrigar as atividades de sua casa paroquial. O edifício,um objeto urbano isola<strong>do</strong>, possui valor patrimonialrelaciona<strong>do</strong> tanto à sua dimensão material, perceptívelem arquitetura de expressiva concepção formal e espaciale qualificada estrutura material, bem como à suadimensão social, derivada de sua inserção em conjuntode iniciativas e acontecimentos de impacto na dinâmicaeconômica de seu tempo e de seu lugar.REFERÊNCIASCOSTA, João Ribas da. Canoeiros <strong>do</strong> Rio Santa Maria. 2ª ed. fac-similada.Vitória: Prefeitura Municipal de Santa Leopoldina / FundaçãoCeciliano Abel de Almeida, 1982.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, nº.08, 1980.


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221Rua Bernardino Monteiro nº 16De localização urbana deslocada em relação ao núcleocomercial de Santa Leopoldina, o edifício residencialestá construí<strong>do</strong> em terreno às margens <strong>do</strong> rio SantaMaria da Vitória, junto à ponte que o atravessa,permitin<strong>do</strong> a ligação dessa cidade com Santa Teresa,ao norte. Com exceção da fachada da rua BernardinoMonteiro, a residência, posicionada de forma isoladaem lote estreito, profun<strong>do</strong> e de topografia irregular,desenvolve-se em um pavimento sobre porão habitáveldisposto na fachada voltada para o rio. Originalmenteum volume regular com telha<strong>do</strong> delinea<strong>do</strong> por <strong>do</strong>isplanos de água cobertos com telha-francesa de barro, aoedifício é acrescida uma larga varanda coberta por telhasde fibrocimento em duas de suas fachadas. Apoiadasobre laje pré-moldada de concreto e lajota cerâmica,a acrescida varanda está fechada por guarda-corpo emferro, o mesmo que protege a escada de acesso. Essa,em posição central em relação à fachada frontal, ligaseao portão de entrada, posiciona<strong>do</strong> no vértice <strong>do</strong>lote. Ergui<strong>do</strong> no início <strong>do</strong> século XX, o imóvel, umum edifício urbano isola<strong>do</strong>, possui valor patrimonialenquanto testemunho histórico <strong>do</strong> desenvolvimentourbano da cidade e elemento referencial na paisagem deSanta Leopoldina.IMÓVEL À RUA BERNARDINO MONTEIRO Nº 16Sede, Santa Leopoldina (atual 171)Proteção Legal: Resolução nº 5/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 32 a 68, folhas 4v a 7vREFERÊNCIAESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, nº.08, 1980.


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223Rua Bernardino Monteiro nº 18IMÓVEL À RUA BERNARDINO MONTEIRO Nº 18Sede, Santa LeopoldinaProteção Legal: Resolução nº 05/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 32 a 68, folhas 4v a 7vPróximo à ponte sobre o rio Santa Maria da Vitória,visto à distância, em meio ao verde de fron<strong>do</strong>sasárvores, o imóvel marca a bucólica paisagem da ruaBernardino Monteiro com sua rígida configuraçãovolumétrica. O edifício, de planta retangular, possuium único pavimento ergui<strong>do</strong> sobre porão eleva<strong>do</strong>,e coberto por telha<strong>do</strong> em <strong>do</strong>is planos estrutura<strong>do</strong>s apartir de cumeeira paralela à fachada mais longa. Essa,seguin<strong>do</strong> o modelo tradicional, foi posicionada sobrea testada frontal, condição que reforça o impactorepresenta<strong>do</strong> pelo volume edifica<strong>do</strong>. As demais, aocontrário, apresentam-se livres <strong>do</strong>s limites <strong>do</strong> terreno,permitin<strong>do</strong>, de um la<strong>do</strong>, o posicionamento de entradalateral, e de outro, a constituição de pequeno jardim. Umanovidade na cidade de Santa Leopoldina. No conjunto,o edifício impressiona pela nitidez de seus contornos,defini<strong>do</strong>s por maciças paredes singelamente marcadaspor vãos de porta e de janela. Esses foram fecha<strong>do</strong>s poresquadrias de impressionante dimensão, especialmenteaqueles das fachadas frontal e lateral esquerda. Quatronas fachadas laterais e na fachada frontal, os vãosestão delinea<strong>do</strong>s por moldura em relevo e fecha<strong>do</strong>spor austeras esquadrias em veneziana de madeira.Junto com a porta social, as janelas são os principaiselementos da composição estética da residência. Delocalização centralizada e acessível por escada de <strong>do</strong>islaces simetricamente posiciona<strong>do</strong>s em relação a umpequeno patamar, a porta, em madeira delicadamenteentalhada, sugere a qualidade construtiva <strong>do</strong> imóvel.Uma residência, o imóvel, ergui<strong>do</strong> no final <strong>do</strong> séculoXIX para sediar a primeira escola de Santa Leopoldina, éum empreendimento de Sebastião Wolkart, comerciantede madeira e <strong>do</strong>no de canoa, embarcação utilizada parao transporte de merca<strong>do</strong>rias entre os portos de SantaLeopoldina e Vitória. Um objeto urbano isola<strong>do</strong>, oedifício possui valor patrimonial enquanto testemunhohistórico <strong>do</strong> desenvolvimento da cidade, e arquitetônico,seja pelo caráter de sua expressão formal, seja por suapresença na paisagem urbana de Santa Leopoldina.REFERÊNCIAEspírito <strong>Santo</strong> (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, nº08, 1980.


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225Prefeitura Municipal de Santa LeopoldinaConstruí<strong>do</strong> entre 1916 e 1918 pelo então prefeito LuizHolzmeister Júnior o edifício, com sua nova forma deimplantação isolada no terreno, representa uma renovação<strong>do</strong> molde tradicional de construir em Santa Leopoldina.Esse tipo determina e reforça, de maneira imediata,o papel de sua volumetria e escala na constituiçãode um ambiente urbano com características espaciaisdistintas, com a presença de passeio e de jardim. Separadada rua por muro executa<strong>do</strong> em alvenaria e gradilmetálico, a edificação possui duas portas de entradacorrespondentes aos seus <strong>do</strong>is pavimentos. A primeiradelas, em posição centralizada na fachada frontal, apresentaas mesmas características <strong>do</strong> conjunto de janelassitua<strong>do</strong> no perímetro <strong>do</strong> volume, dele se diferencian<strong>do</strong>apenas por sua discreta amplitude. Para acessar a segunda,a entrada <strong>do</strong> salão da câmara propriamente dita,um pequeno patamar posiciona<strong>do</strong> na lateral esquerdasurge no topo da escada que, em um só lance, liga ojardim fronteiro ao segun<strong>do</strong> pavimento. A independênciaentre os <strong>do</strong>is pavimentos, uma solução poucocomum em arquitetura palaciana, exige de seu projetistao recurso a soluções compositivas indutoras de suadesejada simbologia política. No palácio municipal deSanta Leopoldina esse papel é reserva<strong>do</strong> ao tratamentodiferencia<strong>do</strong> <strong>do</strong> módulo central da fachada frontal coma exploração de elementos referencia<strong>do</strong>s na arquiteturaclássica de influência francesa como frontão de formatriangular, colunas e cornija. Contu<strong>do</strong>, seguramente, éo brasão municipal seu principal elemento.IMÓVEL À RUA JERÔNIMO MONTEIRO Nº 2Sede, Santa Leopoldina (atual 1022)Proteção Legal: Resolução nº 5/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 32 a 68, folhas 4v a 7vREFERÊNCIAESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, nº08 / 1980.SCHWARZ, Francisco. O município de Santa Leopoldina. Vitória: TraçoCerto Editora Limitada, 1992.


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227Rua Jerônimo Monteiro nº 8Construí<strong>do</strong> em 1917 o edifício representa um novo tipode residência, a casa de porão alto isolada no terreno.Muito comum em construções desse tipo, a residênciamantém a tradicional posição frontal à rua, dela se afastan<strong>do</strong>por meio de um pequeno jardim delimita<strong>do</strong> pormuro baixo. Associada a essa situação urbana, e coma perspectiva de solucionar o desnível entre o piso dahabitação e o passeio, uma estreita escada ascende avaranda lateral, onde se situa a porta de entrada, protegidapor cobertura acrescida à construção. Arquitetonicamente,a casa é um volume regular, encoberto por<strong>do</strong>is planos de água uni<strong>do</strong>s pela elevada cumeeira daempena, e modela<strong>do</strong> com simplicidade por uma equilibradadisposição das janelas. Essas, particularmenteas da frente, abertas para a rua, apresentam dimensõesavantajadas, oferecen<strong>do</strong> amplas possibilidades de arejamentoe iluminação. Em número de três, as elevadasjanelas, executadas em madeira com veneziana e caixilhode vidro, protegem a intimidade de seus mora<strong>do</strong>res.Mas, além de uma resposta a requerimentos de ordemtécnica, as janelas são modeladas em perfil marca<strong>do</strong> porfriso de relevo discreto. Complementan<strong>do</strong> a ornamentaçãoe amenizan<strong>do</strong> o acento vertical da fachada, umpar de molduras de traça<strong>do</strong> retilíneo percorre horizontalmentea fachada, sobrepon<strong>do</strong>-se aos falsos pilaresposiciona<strong>do</strong>s em suas arestas laterais. Contemporâneoà abertura da rua Jerônimo Monteiro, junto com outrasedificações da mesma rua, o edifício é um marco daexpansão urbana de Santa Leopoldina.IMÓVEL RUA JERÔNIMO MONTEIRO Nº 8Sede, Santa Leopoldina (atual 1051)Proteção Legal: Resolução nº 5/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 32 a 68, folhas 4v a 7vREFERÊNCIASESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, n.08, 1980.SCHWARZ, Francisco. O município de Santa Leopoldina. Vitória:Traço Certo Editora, 1992.


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229Rua Jerônimo Monteiro nº 10A construção, <strong>do</strong> início <strong>do</strong> século XX, se insere noconjunto de residências situadas à rua JerônimoMonteiro, a partir de sua abertura entre 1916 e 1919.Implantada sobre porão eleva<strong>do</strong>, a casa se sobressaiem seu entorno imediato, com o qual se comunica pormeio de pequeno jardim frontal. Entre um e outro, ummuro em alvenaria e gradil separa de forma inova<strong>do</strong>ra oespaço priva<strong>do</strong> e o espaço público. Edifica<strong>do</strong>s em sólidaarquitetura, muro e casa têm seus contornos ressalta<strong>do</strong>spela rigidez de sua regularidade e pela precisão deseus elementos. Com sua volumetria impactante emmeio a um entorno de rarefeita ocupação urbana, acasa tem apreciação favorecida pela amplitude de suacobertura. Essa, além <strong>do</strong> destaque proporciona<strong>do</strong>pela coloração avermelhada de seus <strong>do</strong>is planos,constitui parte importante da fachada frontal com aqual se articula por meio de elevada empena triangular.Separadas da fachada por cornija e friso horizontais,empena e fachada frontal se complementam emrígida simetria estabelecida entre os <strong>do</strong>is óculos daprimeira e as cinco janelas da segunda. Contornan<strong>do</strong> operímetro da edificação, as amplas e numerosas janelassão duplamente testemunho de progresso técnicoe de variação formal, particularmente as da fachadada frente. Na lateral direita, se situa a porta de acessoao interior da casa. Conservada em sua integridadeespacial, material – de que são exemplos o piso e oforro <strong>do</strong> tipo saia-camisa em madeira – e estrutural, acasa inclui anexo, construí<strong>do</strong> posteriormente junto àfachada de fun<strong>do</strong>.IMÓVEL À RUA JERÔNIMO MONTEIRO Nº 10Sede, Santa Leopoldina (atual 1076)Proteção Legal: Resolução nº 5/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 32 a 68, folhas 4v a 7vREFERÊNCIAESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, nº.08, 1980.


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231Rua Jerônimo Monteiro nº 16Construção da segunda década <strong>do</strong> século XX, aresidência é um registro de importante transformação naresidência urbana, duplamente identificada em discretodesnível em relação à rua e ao terreno. Na primeirasituação ela exemplifica um tipo distinto entre o sobra<strong>do</strong>colonial e a casa térrea, <strong>do</strong>s quais conserva a tradiçãode configurar sua fachada frontal em linha contínuasobre o alinhamento frontal <strong>do</strong> terreno. Na segunda, elatraduz a intenção de recuar o edifício <strong>do</strong>s limites laterais<strong>do</strong> lote, dele se desvinculan<strong>do</strong> em sua lateral direita, emespaço aproveita<strong>do</strong> para a inserção de passagem deacesso à porta da casa. Arquitetonicamente, a residênciaé o resulta<strong>do</strong> da disposição sequencial de caixilharia depeitoril reto e vergas em arco pleno. Fechadas comesquadria de madeira em veneziana e caixilho de vidro,e posicionadas sobre balaústres empareda<strong>do</strong>s, as setejanelas são os principais elementos de uma composição<strong>do</strong>minada pela exatidão de sua volumetria e coberturacomposta por quatro águas, as maiores dispostas sobreas fachadas maiores.IMÓVEL À RUA JERÔNIMO MONTEIRO Nº 16Sede, Santa LeopoldinaProteção Legal: Resolução nº 5/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 32 a 68, folhas 4v a 7vREFERÊNCIAESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, n°.08, 1980.


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233Rua Jerônimo Monteiro nº 43Uma construção de 1920, historicamente o edifício seinsere num conjunto de iniciativas particulares promovidaspelas perspectivas de dinamismo econômico e social,projetadas com a ligação por estrada entre SantaLeopoldina e Santa Teresa e a inauguração de serviçode iluminação elétrica na cidade. Arquitetonicamente,situa<strong>do</strong> em terreno estreito e profun<strong>do</strong>, entre a rua JerônimoMonteiro e a encosta, o edifício marca o encontrode novos e antigos padrões expressos pela sínteseformal de sua fachada de frente e pelo deslocamentoda construção <strong>do</strong>s limites laterais <strong>do</strong> lote. A fachada,dividida pela funcionalidade comercial e residencial daedificação, desenvolve-se a partir da garage, no térreo.Elemento inova<strong>do</strong>r para a época, a garage implica umasolução compositiva capaz de articular funções até entãorigorosamente separadas entre os pavimentos. Oresulta<strong>do</strong> é uma configuração em que horizontalidade everticalidade se contrapõem mesmo com o pre<strong>do</strong>mínioda primeira, num efeito resultante das características <strong>do</strong>lote, mas também da concentração compositiva em tornodas portas da garage e da sala de visita situada noprimeiro pavimento. De significa<strong>do</strong> relaciona<strong>do</strong> a acontecimentosque marcam a história da cidade de SantaLeopoldina, o edifício é testemunho de transformaçõesartísticas e construtivas relevantes no quadro da arquiteturade seu tempo e lugar.IMÓVEL RUA JERÔNIMO MONTEIRO Nº 43Sede, Santa LeopoldinaProteção Legal: Resolução nº 5/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 32 a 68, folhas 4v a 7vREFERÊNCIASESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, n.08, 1980.SCHWARZ, Francisco. O município de Santa Leopoldina. Vitória:Traço Certo Editora, 1992.


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235Rua Jerônimo Monteiro nº 59Implantada em amplo terreno, em situação urbana detransição entre as ruas <strong>do</strong> Comércio e Jerônimo Monteiro,a residência assemelha-se a uma pequena chácara.Um volume de base retangular de pavimento único, oedifício tem sua fachada urbana voltada para um pequenojardim delimita<strong>do</strong> por muro em alvenaria e gradilmetálico. Em sua configuração original, a casa tem acessopela varanda lateral, ambiente intermediário entre omun<strong>do</strong> da rua e da casa volta<strong>do</strong> para o que outrora deveter si<strong>do</strong> um límpi<strong>do</strong> afluente <strong>do</strong> rio Santa Maria. Assim,o edifício tem seu valor determina<strong>do</strong> pelo caráter inova<strong>do</strong>rde sua implantação, sugestiva, por sua vez, <strong>do</strong> <strong>do</strong>minantepapel <strong>do</strong>s numerosos vãos de janela. Valorizadascom a aplicação de molduras em alto e baixo relevo deeclética referência histórica, junto com a configuraçãoda cobertura, as janelas são as principais responsáveispelo “ar romântico” que envolve a residência.IMÓVEL À RUA JERÔNIMO MONTEIRO Nº 59Proteção Legal: Resolução nº 5/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 32 a 68, folhas 4v a 7vREFERÊNCIAESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, n.08, 1980.


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237Rua Barão de Rio Branco nº 10 e 26IMÓVEL À RUA BARÃO DE RIO BRANCO Nº 10 E 26Sede, Santa LeopoldinaProteção Legal: Resolução nº 5/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 32 a 68, folhas 4v a 7vConstruí<strong>do</strong> em 1890, o edifício está situa<strong>do</strong> em pequenarua entre o rio e a montanha, próximo à rua<strong>do</strong> Comércio. Uma área de transição para a zona maisestritamente residencial da cidade, a rua Barão de RioBranco configura-se urbanisticamente a partir de umlargo e uma escadaria, onde se situam, respectivamente,o acesso para o térreo, por meio de amplas portas situadassobre o alinhamento frontal <strong>do</strong> terreno, e para osegun<strong>do</strong> pavimento, por meio de portas dispostas sobreestreito afastamento lateral. No conjunto, sua arquiteturaestá traçada segun<strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>sa proporção e linhasde clássica inspiração presentes no acabamento <strong>do</strong>svãos de porta e de janela, respectivamente, no térreo,arco pleno e verga reta e, no pavimento superior, pequenosfrontões de desenho triangular. Contu<strong>do</strong>, alémde sua representatividade formal, o edifício se destacapela qualidade de sua condição construtiva e material,percebida no esta<strong>do</strong> de conservação de suas esquadrias,acabamentos, ornatos e cobertura. Essa se desenvolveem duas águas cobertas com telha-francesa de barro eestruturadas a partir de cumeeira paralela à fachada, ebeiral de perfil resultante da superposição de fiadas detijolo cerâmico assenta<strong>do</strong>s diagonalmente em relaçãoao plano da parede, e de inusita<strong>do</strong> efeito.REFERÊNCIAESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, n.08, 1980.


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241Rua Porfírio Furta<strong>do</strong> s/nO pequeno edifício da delegacia de polícia, umaconstrução de volumetria regular, destaca-se em seuentorno tanto por sua inserção na paisagem urbana,quanto pelo simbolismo conti<strong>do</strong> nas linhas de suafachada, o principal elemento de comunicação <strong>do</strong>edifício com o ambiente urbano. Concentran<strong>do</strong> oesforço de elaboração estética, sua composição seguerigorosa divisão a partir de um módulo central, defini<strong>do</strong>por discreto recuo <strong>do</strong> plano da fachada, onde se situaa porta de acesso, e pela disposição bilateral de umpar de colunas. Complementan<strong>do</strong> e acentuan<strong>do</strong> asimetria desejada, duas amplas janelas são dispostas nosmódulos laterais. O telha<strong>do</strong>, de configuração definidapor quatro planos cobertos com telha-francesa debarro, encaixa-se no perímetro quadra<strong>do</strong> <strong>do</strong> edifício,formalmente delimita<strong>do</strong> por discreta platibanda. Além<strong>do</strong> reboco com ranhuras horizontais, esse é o elementoarquitetônico responsável pela unidade compositiva.Construí<strong>do</strong> em área deslocada <strong>do</strong> centro comercialde Santa Leopoldina, o edifício substitui a fábrica deNorberto Van de Kamp que até a década de 1940 produzdiferentes tipos de cerveja, branca, escura e dupla, euma célebre gasosa. O imóvel, um edifício urbanoisola<strong>do</strong>, possui valor patrimonial devi<strong>do</strong> à sua inserçãoem conjunto de iniciativas relacionadas à relevânciahistórica desempenhada por Santa Leopoldina nadinâmica econômica de seu tempo e de seu espaçoterritorial.RUA PORFÍRIO FURTADO S/NSede, Santa LeopoldinaProteção Legal: Resolução nº 5/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 32 a 68, folhas 4v a 7vREFERÊNCIASESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, n°08, 1980.SCHWARZ, Francisco. O município de Santa Leopoldina. Vitória:Traço Certo Editora, 1992.


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243Igreja <strong>do</strong> TirolReligiosos da Missão Steyl, ou Sociedade <strong>do</strong> Verbo Divino,a caminho da Argentina e de passagem por Vitóriaforam informa<strong>do</strong>s da difícil situação <strong>do</strong>s imigrantescatólicos da colônia de Santa Leopoldina. Assim, resolveramfazer uma visita ao local. Estes missionários acabaramfixan<strong>do</strong>-se na região e construin<strong>do</strong> uma igrejana comunidade Tirol, a primeira comunidade católicade Santa Leopoldina. A construção da capela <strong>do</strong> DivinoEspírito <strong>Santo</strong> foi iniciada em 1888 e concluída em1898. Entretanto, seu projeto deve ter si<strong>do</strong> feito bemantes, por volta de 1860, quan<strong>do</strong> da vinda <strong>do</strong>s imigrantes.Em 1898, a capela tornou-se a matriz provisória daparóquia de Cachoeiro de Santa Leopoldina, permanecen<strong>do</strong>assim até 1911, quan<strong>do</strong> foi iniciada, na sede, aconstrução da igreja católica.Em termos estilísticos, a edificação apresenta elementose aspectos que remetem simultaneamente ao neogóticoe ao neorromânico, fato compreensível, ten<strong>do</strong>em vista a vigência <strong>do</strong> auge <strong>do</strong> ecletismo na Europa.Trata-se de uma pequena igreja de nave única e plantaretangular. A nave possui <strong>do</strong>is pequenos altares laterais,um de cada la<strong>do</strong>. Seu forro, abobada<strong>do</strong>, é confecciona<strong>do</strong>em madeira. O altar-mor configura-se em um monumentalarco pleno, que possui acabamento também emmadeira. Neste espaço da capela, o forro é compostopor um pano pinta<strong>do</strong> e prega<strong>do</strong> no teto. To<strong>do</strong> o pisoé em ladrilho hidráulico. Além <strong>do</strong> altar principal e <strong>do</strong>s<strong>do</strong>is altares laterais, constam no interior da capela umórgão de procedência alemã <strong>do</strong> final <strong>do</strong> século XIX, umpúlpito e um coro com acesso por escada lateral. Tantoo púlpito, quanto o coro são feitos em madeira. A capelaconserva ótima imaginária composta por imagens deprocedência europeia e de canteiros locais.A fachada principal apresenta grande porta com vergaem arco pleno sobreposta por uma rosácea. As fachadaslaterais são compostas por janelas, também em arcopleno, e pelas rosáceas das capelas secundárias. Estas,porém, são menores <strong>do</strong> que a existente na fachada frontal.A capela possui a peculiaridade de possuir uma pontiagudatorre sineira em volume independente <strong>do</strong> corpoprincipal, aos fun<strong>do</strong>s da edificação e no la<strong>do</strong> direito <strong>do</strong>altar-mor, que, em sua parte inferior, abriga a sacristia.A torre é coberta com telhas de zinco. O telha<strong>do</strong> dacapela possui grande inclinação e é coberto com telhasfrancesas,substitutas das originais em ardósia.REFERÊNCIASACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. Lima (Org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>sno Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretariade Esta<strong>do</strong> da Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong>Espírito <strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória:Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, n.08, 1980.SCHWARZ, Francisco. Da<strong>do</strong>s históricos, sócioeconômicos <strong>do</strong> município deSanta Leopoldina. Vitória: Arquivo Público <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>, 1980.SIMONASSI, Roger. Hotel de lazer em Santa Teresa. Monografia(Graduação). Departamento de <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo,Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, Vitória, 1992.


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IGREJA DO TIROLComunidade <strong>do</strong> TirolDistrito de Mangaraí, Santa LeopoldinaProteção Legal: Resolução nº 5/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de Culturasob o nº 32 a 68, folhas 4v a 7v245


SANTA LEOPOLDINACASA PAROQUIAL DO TIROLComunidade <strong>do</strong> TirolDistrito de Mangaraí, Santa LeopoldinaProteção Legal: Resolução nº 5/1983 <strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Histórico, sob o nº 32 a 68, folhas 4v a 7v


247Casa Paroquial <strong>do</strong> TirolA Casa Paroquial <strong>do</strong> Tirol é uma construção da décadade 1920, implantada ao la<strong>do</strong> da capela <strong>do</strong> Divino Espírito<strong>Santo</strong>. O imóvel configura uma importante ambiênciajunto à capela, não só por materializar espaciale simbolicamente o centro da comunidade de orígemtirolesa no município, mas também pela utilização deuma linguagem estilística similar, o ecletismo, com seuselementos formais e seus aspectos compositivos.A casa tem planta retangular, apresentan<strong>do</strong> telha<strong>do</strong>em duas águas, beirais em cachorrada e cobertura emtelhas-francesas. A edificação é elevada em relação aonível <strong>do</strong> solo, forman<strong>do</strong> um porão, cujas aberturas sãobastante destacadas na fachada frontal. Além <strong>do</strong> pisoprincipal e <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> porão, há ainda um sótão, possívelgraças à generosa inclinação empregada no telha<strong>do</strong>.O acesso à residência é feito por uma pequena varandaque, devi<strong>do</strong> às suas características, parece ser posteriorà construção maior.em arco pleno e uma com verga em arco ogival. Todassão sobrepostas por óculos ogivais, que contribuem nailuminação e na ventilação <strong>do</strong> sótão. A fachada lateralesquerda apresenta cinco janelas com verga em arcopleno e uma com verga em arco ogival. Aqui, as aberturastambém são sobrepostas por óculos ogivais. Nafachada posterior, há uma porta ladeada por duas janelascom verga em arco pleno e sobrepostas por umajanela central em arco pleno e duas laterais com vergaem arco ogival.Localiza<strong>do</strong> na lateral posterior direita <strong>do</strong> imóvel, há outroanexo, que também parece ser mais recente, principalmentepor sua menor altura e pelo desenho de suasaberturas, que apresentam verga reta, ao contrário detodas as outras <strong>do</strong> bloco principal, que são em arco plenoou arco ogival.A fachada frontal conta com uma porta flanqueada porduas janelas, todas com verga em arco pleno. As janelassão em madeira e vidro. No nível <strong>do</strong> sótão, há quatroaberturas com vergas ogivais e um nicho central, tambémcom verga em arco ogival ressaltan<strong>do</strong> a simetria<strong>do</strong> conjunto.A fachada lateral direita possui três janelas com vergaREFERÊNCIASACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. Lima (Org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>s noEspírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretaria deEsta<strong>do</strong> da Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória:Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, n.08, 1980.


SANTA LEOPOLDINACASARÃO HOLANDA INúcleo HolandaDistrito de Mangaraí, Santa LeopoldinaProteção Legal: Resolução nº 5/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 32 a 68, folhas 4v a 7vComo outras antigas sedes de fazenda situadasno município de Santa Leopoldina,especialmente aquelas edificadas nas terrasbaixas, a fazenda Holanda I é registro de<strong>do</strong>is importantes momentos históricos <strong>do</strong>Espírito <strong>Santo</strong>. Construída entre 1860 e1875, seu primeiro proprietário, o coronelJosé Alves <strong>do</strong> Nascimento, a substituiu poruma segunda sede, conhecida como HolandaII. Essa denominação, contu<strong>do</strong>, é ovestígio mais direto de seu segun<strong>do</strong> perío<strong>do</strong>histórico. Integrante de terras constituintesde colônia de holandeses organizada pelogoverno imperial na segunda metade <strong>do</strong> séculoXIX, em sua estrutura física a fazendaHolanda I é o resulta<strong>do</strong> de ampla modificaçãode sua configuração funcional.Não há <strong>do</strong>cumentação acerca dessa mudança, alémdaquela apresentada pela edificação antes de iniciarseseu arruinamento e quase total desaparecimento.Como <strong>do</strong>cumentada na década de 1980, a primeirasede da fazenda Holanda era um imóvel de plantaquadrada com térreo e sótão usa<strong>do</strong>s como armazéme depósito. Resultante da implantação <strong>do</strong> edifício, umpequeno pátio, disposto em uma de suas fachadas, era,provavelmente, o local <strong>do</strong> movimento mais intenso,onde acontecia o vai-e-vem de merca<strong>do</strong>rias e pessoas embusca de alimento, ferramentas e utensílios necessáriosà sobrevivência na mais recente região de colonização<strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>.Acessa<strong>do</strong> por cinco portas no pavimento térreo, dispostasem três de suas fachadas, e internamente articula<strong>do</strong>por outras cinco, no edifício havia, ainda nopiso térreo, quatro janelas dispostas na fachada voltadapara o rio Fumaça e que eram responsáveis pelailuminação <strong>do</strong> armazém, enquanto na fachada posterior,havia quatro óculos de ventilação. No pavimentosuperior, cinco janelas estavam presentes em cada um<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is amplos oitões. Posiciona<strong>do</strong>s em harmonia,to<strong>do</strong>s os vãos de porta e de janela eram fecha<strong>do</strong>s comesquadrias em madeira fixadas em quadros executa<strong>do</strong>sem igual material. Em conjunto, a regularidade volumétricae o retilíneo das linhas são significativos indí-


249Casarão Holanda Icios <strong>do</strong> tempo histórico da construção de Holanda I.O fechamento lateral era feito de pedra e taipa. As paredesque ainda restam apresentam grande espessura.No espaço destina<strong>do</strong> às vendas, o piso era cimenta<strong>do</strong> eo forro em friso de madeira. Movimentada por quatroáguas, a cobertura era feita com telhas-francesas de cerâmicana fachada principal e de cimento nas demais. Aterminação era em cachorro revesti<strong>do</strong> de madeira.REFERÊNCIASACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. Lima (Org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>sno Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretariade Esta<strong>do</strong> da Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória:Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, n.08, 1980.MUNIZ, Maria Izabel Perini. <strong>Arquitetura</strong> rural <strong>do</strong> século XIX no Espírito<strong>Santo</strong>. Vitória: Aracruz Celulose / Fundação Jônice Tristão /Rede Gazeta / Xerox <strong>do</strong> Brasil, 1989.


SANTA LEOPOLDINACASARÃO HOLANDA IINúcleo HolandaDistrito de Mangaraí, Santa LeopoldinaProteção Legal: Resolução nº 5/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 32 a 68, folhas 4v a 7vA formação <strong>do</strong> Núcleo Holanda data da segundametade <strong>do</strong> século XIX. A residência foi uma dasprimeiras edificações <strong>do</strong> núcleo e sua construçãoocorreu em 1905, por iniciativa <strong>do</strong> coronel José Alves<strong>do</strong> Nascimento, que possuiu uma grande fazenda comescravos e uma venda com armazém para depósitode merca<strong>do</strong>rias. Essa se situava na Holanda I, umaconstrução remodelada e re-funcionalizada por ocasiãoda transferência da sede residencial da fazenda para anova edificação, a Holanda II. Posteriormente, as duasedificações foram adquiridas por imigrantes holandeses,descendentes da família Krüger.Implantada em uma elevação às margens <strong>do</strong> rioFumaça, junto à estrada para o Tirol, trata-se de umaedificação térrea, com planta retangular elevada <strong>do</strong>chão, situação responsável pela configuração de umporão. Além disso, a residência apresenta um apêndicecom as mesmas características volumétricas e formaisda residência principal, onde estavam abriga<strong>do</strong>s acozinha, um depósito e uma loja. Passa<strong>do</strong> um século desua construção, essa parte está parcialmente arruinada.A existência dessa associação, da residência e <strong>do</strong> comércio,comum em edificações de localização isolada, maserguidas junto a um caminho de ligação de núcleos oufazendas, é um claro indício <strong>do</strong> papel aglutina<strong>do</strong>r da fazendaHolanda em sua região. Mas não só. A existênciade um jardim lateralmente disposto em relação à fachadade acesso à residência, e sua austera e disciplinadaarquitetura denunciam um gosto atualiza<strong>do</strong> por novida-


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SANTA LEOPOLDINA


253des emergentes ao longo <strong>do</strong> século XIX, especialmenteexperimentadas no ambiente citadino, as quais lhegarantem inusitada aparência. Complementan<strong>do</strong> o conjunto,uma igreja construída em 1893, tem sua fachadafrontal voltada para o rio Fumaça.As paredes externas da edificação foram confeccionadasem pedra e as internas em estuque. O pé-direito e asdimensões <strong>do</strong>s espaços são maiores relativamente aosdas demais fazendas situadas na sua região, condiçõesque evidenciam sua diferenciação, especialmente reconhecívelna configuração espacial, elementos e materiaisconstrutivos. O piso é feito de tábuas de madeira, emvárias larguras, material repeti<strong>do</strong> no forro <strong>do</strong> teto, executa<strong>do</strong>com encaixe tipo saia-camisa. Por sua vez, correspondentesà residência e ao comércio, <strong>do</strong>is telha<strong>do</strong>sem duas águas foram cobertos com telhas capa-canal,com terminação em cachorro revesti<strong>do</strong> de madeira. Nacirculação há uma generosa claraboia revestida em madeira,em continuação ao forro principal, responsável,junto com os vidros das bandeiras das portas internas,pela iluminação desse ambiente da residência.A fachada principal, cuida<strong>do</strong>samente tratada de maneiraa ressaltar seu caráter, apresenta escada em semicírculo,por meio da qual se alcança a porta da entrada,ladeada por duas janelas. Complementarmente, a distinçãoalmejada para esta fachada é obtida com cunhaise cornija, um pequeno óculo central e uma inscriçãorevela<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> proprietário original <strong>do</strong> imóvel e a datade sua construção.REFERÊNCIASESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória:Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, n.08, 1980.MUNIZ, Maria Izabel Perini. <strong>Arquitetura</strong> rural <strong>do</strong> século XIX noEspírito <strong>Santo</strong>. Vitória: Aracruz Celulose / Fundação Jônice Tristão/ Rede Gazeta / Xerox <strong>do</strong> Brasil, 1989.Justapostos mas diferencia<strong>do</strong>s em sua largura e altura, aresidência e o comércio foram ergui<strong>do</strong>s em alinhamentode discreto paralelismo em relação à estrada, de ondese pode vislumbrar sua descontínua e extensa fachadalateral. Essa, de composição singela, mas de clara proporcionalidade,apresenta duas portas e cinco janelasarrematadas com verga em arco pleno. Fecha<strong>do</strong>s pordupla esquadria, uma externa em caixilho de madeirae vidro, e uma interna em duas folhas executadas comfrisos também em madeira, os vãos são refina<strong>do</strong>s pelocolori<strong>do</strong> <strong>do</strong>s vidros de fechamento das bandeiras. Noentanto, o impacto dessa presença só pode ser corretamentemedi<strong>do</strong> internamente. Aí, à contraluz, verdes,amarelos, vermelhos e azuis, eles impressionam pela radianteluminosidade derivada da qualidade da matériavítrea com que foram executa<strong>do</strong>s.


SANTA LEOPOLDINAO Núcleo Luxemburgo, onde está situa<strong>do</strong> o casarão, foipovoa<strong>do</strong> pela família Braver, em local distante e situa<strong>do</strong>em elevadas altitudes relativamente à sede da entãocolônia de Cachoeiro de Santa Leopoldina. O imóveldata de fins <strong>do</strong> século XIX e sua construção foi empreendidapor Joseph Vervloet. Não deve ter si<strong>do</strong> nadafácil caminhar por entre a mata fechada, enfrentan<strong>do</strong>os perigos <strong>do</strong> desconheci<strong>do</strong> e <strong>do</strong>minante mun<strong>do</strong> natural.Muito mais difícil deve ter si<strong>do</strong> realizar o percursotransportan<strong>do</strong> instrumentos e materiais necessários aodesafio. Afinal, além da água, da pedra, da madeira, e <strong>do</strong>barro, nada mais estava disponível, para a realização <strong>do</strong>sonho <strong>do</strong> recomeço. Talvez por isso, quan<strong>do</strong> vislumbrada<strong>do</strong> alto da serra, encravada no fun<strong>do</strong> de seu estreitovale, junto ao encontro de caminhos, como expressão<strong>do</strong> fazer humano, artefato rigidamente delinea<strong>do</strong> e emcontraste com a sinuosidade das linhas e o verde dasmontanhas, essa epopeia se revele tão impactante.Situada entre as margens de um córrego e um corte demorro, próxima a uma pequena ponte, a edificação, umsobra<strong>do</strong> de <strong>do</strong>is pavimentos, tem à sua frente uma irregularcalçada realizada com pedras de variada dimensão,e especialmente posicionada na frente das amplasportas de acesso ao pavimento comercial. O acesso àresidência, originalmente realiza<strong>do</strong> por escada situadasobre a fachada lateral esquerda, por meio da qual sechegava provavelmente a uma varanda, se faz por meiode um pátio eleva<strong>do</strong>, situa<strong>do</strong> junto a essa fachada. Aí,como resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> fechamento da primeira varanda,surge uma outra, menor e ornada com painel inspira<strong>do</strong>em paisagem europeia.O sobra<strong>do</strong> tem sua planta retangular acentuada pela coberturae pela ritmada disposição das portas e janelassobre as fachadas. Um telha<strong>do</strong> em quatro águas, a coberturaestá confeccionada com telhas-francesas, substitutivasdas tabuinhas, muito utilizadas pelos colonosalemães. Ao beiral, em cachorrada e revesti<strong>do</strong> com frisosde madeira, foram acrescidas calhas instaladas aore<strong>do</strong>r de toda a cobertura.Das fachadas da edificação, a frontal se destaca pelo<strong>do</strong>mínio de sua presença e pelo conjunto resultante <strong>do</strong>enfileiramento de seis portas com verga de madeira emarco abati<strong>do</strong> e bandeira em ferro. Estas aberturas sãosobrepostas por seis janelas fechadas em madeira e vidro,e arrematadas com vergas retas e bandeiras comas mesmas características. No pavimento superior dafachada lateral direita, há três janelas iguais às existentesna fachada principal. A fachada posterior possui umajanela ao nível <strong>do</strong> térreo sobreposta por outras três, todascom o mesmo tratamento das demais.A mesma regularidade observada externamente pareceter orienta<strong>do</strong> a organização da casa, rigidamente estruturadaao longo de um extenso corre<strong>do</strong>r, através <strong>do</strong>qual se tem acesso aos inúmeros quartos e à sala de visitas.Posicionada sobre a fachada lateral direita e <strong>do</strong>mi-


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SANTA LEOPOLDINAnada pelas envidraçadas janelas, a generosamente amplasala <strong>do</strong> Casarão em Luxemburgo apresenta acabamentorefina<strong>do</strong>, realiza<strong>do</strong> em madeira no piso em tábua corrida,e no forro tipo saia-camisa, solução repetida emto<strong>do</strong> o pavimento residencial. No entanto, sua marcadistintiva são as paredes internas, inteiramente decoradascom afrescos, em geral com motivos florais, feitosna década de 1930 por um artista alemão de passagempela região.REFERÊNCIASACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. Lima (Org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>sno Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretariade Esta<strong>do</strong> da Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória:Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, n.08, 1980.As paredes <strong>do</strong> pavimento térreo são feitas em pedra erevestidas com argamassa. As <strong>do</strong> pavimento superiorlevam o mesmo revestimento, porém são de tijolo debarro. No pavimento térreo <strong>do</strong> imóvel, os materiais deacabamento são diferencia<strong>do</strong>s de acor<strong>do</strong> com o uso <strong>do</strong>espaço. No antigo local de comercialização de produtos,o piso é feito em tábuas corridas e o forro é <strong>do</strong> tiposaia-camisa; já no espaço destina<strong>do</strong> à estocagem, o pisoé de cimento e o forro é o assoalho aparente <strong>do</strong> pisosuperior.


CASARÃO EM LUXEMBURGONúcleo LuxemburgoDistrito de Mangaraí, Santa LeopoldinaProteção Legal: Resolução nº 5/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 32 a 68, folhas 4v a 7v257


SANTA LEOPOLDINAO casarão da Fazenda Bela Vista, arruina<strong>do</strong> na últimadécada <strong>do</strong> século XX, foi bela e austera residência colonialerguida em finais <strong>do</strong> século XIX sobre lote deterra posiciona<strong>do</strong> junto a uma acentuada curva da estradaque liga Mangaraí e Tirol. Tratava-se de edificaçãocom planta retangular de grande dimensão, trintametros de comprimento por nove metros de largura.O térreo, originalmente, abrigava escravos e, mais tarde,implementos agrícolas. No segun<strong>do</strong> pavimento, sesituava uma residência com características tradicionaisdas construídas no século XIX, em que a sala se liga àcozinha por um extenso corre<strong>do</strong>r ao longo <strong>do</strong> qual seabrem as portas <strong>do</strong>s quartos.A edificação era contornada com pátio calça<strong>do</strong> com pedra.No entorno imediato <strong>do</strong> edifício, a cerca de dezmetros de distância, encontra-se uma construção que,provavelmente, destoava da arquitetura <strong>do</strong> antigo casarão.Os pilares eram confecciona<strong>do</strong>s em pedra e asvigas em madeira. O fechamento lateral <strong>do</strong> térreo tambémera feito em pedra e o <strong>do</strong> andar superior em madeira.Internamente, havia uma escada que unia a salaao térreo. O telha<strong>do</strong> apresentava quatro águas. O piso<strong>do</strong> andar superior era em tábua corrida. Com exceçãoda cozinha, cuja cobertura era em telha-vã, o encaixe <strong>do</strong>forro era <strong>do</strong> tipo saia-camisa.As fachadas principal e lateral esquerda apresentavamaberturas com verga em arco abati<strong>do</strong> e ombreiras emmadeira, assim como algumas soleiras e folhas nas janelas.Na fachada principal, existiam seis portas sobrepostaspor nove janelas. Na fachada lateral esquerda, haviatrês vãos sobrepostos por outros três, provavelmentejanelas. As janelas <strong>do</strong> andar superior tinham esquadriasem guilhotina com vidro e folhas internas. As aberturasinternas possuíam verga reta. Há vestígios de ter havi<strong>do</strong>uma varanda na fachada posterior <strong>do</strong> edifício, que teriasi<strong>do</strong> a entrada principal para o segun<strong>do</strong> pavimento.REFERÊNCIASACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. Lima (Org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>sno Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretariade Esta<strong>do</strong> da Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória:Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, n°08, 1980.


261Fazenda Bela VistaFAZENDA BELA VISTADistrito de Mangaraí, Santa LeopoldinaProteção Legal: Resolução nº 5/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 32 a 68, folhas 4v a 7v


SANTA LEOPOLDINAFAZENDA DA FUMAÇADistrito de Mangaraí, Santa LeopoldinaProteção Legal: Resolução nº 5/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 32 a 68, folhas 4v a 7v


263Fazenda da FumaçaO casarão da Fazenda da Fumaça está situa<strong>do</strong> no topode uma colina à beira da estrada <strong>do</strong> Tirol. Abre-se, também,para o vale <strong>do</strong> rio Fumaça, que nessa região apresenta-seencachoeira<strong>do</strong>, compon<strong>do</strong> belíssima paisagem.É uma construção <strong>do</strong> século XIX, inicialmente possui<strong>do</strong>rade um engenho, aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> seu proprietáriose lança ao cultivo <strong>do</strong> café. Da fazenda, seus produtossaíam em tropas, seguin<strong>do</strong> precárias trilhas até orio Santa Maria da Vitória.Trata-se de uma casa térrea erguida sobre topografia irregular,condição responsável pela conformação de umporão inabitável. Assim, posicionadas a aproximadamenteum metro e meio <strong>do</strong> nível <strong>do</strong> solo, as duas portasde entrada são acessadas, cada uma delas, por umaescada de <strong>do</strong>is lanços uni<strong>do</strong>s em patamar. Erguidas empedra revestida com argamassa, em continuidade a umcaminho de pedra que cerca a construção, as escadasparticipam significativamente para a singela, mas imponentearquitetura da Fazenda da Fumaça.Erguida com as paredes externas confeccionadas empedra e as internas em taipa, a residência está <strong>do</strong>minadapor uma rígida volumetria, por sua vez realçadapela branca coloração da superfície de suas fachadas,e pelos vermelhos planos da cobertura. Essa, em conformidadecom a planta, possui quatro águas, sen<strong>do</strong> asduas maiores correspondentes às paredes mais longasdas fachadas frontal e <strong>do</strong> fun<strong>do</strong>. Do tipo francês, astelhas aparecem sobre o topo das paredes externas forman<strong>do</strong>inusita<strong>do</strong> beiral em beira-seveira, com exceçãoda fachada posterior, onde o beiral é em cachorrada esem revestimento.Contu<strong>do</strong>, é o conjunto de aberturas, posicionadas sobreas duas fachadas laterais e a fachada frontal, o elementoresponsável pela qualidade estética da casa. Distribuídasde maneira simétrica e de harmoniosa proporcionalidade,o ritmo empreendi<strong>do</strong> por elas é salienta<strong>do</strong> pelohomogêneo de suas dimensões e <strong>do</strong> desenho das esquadrias.Com fechamento em tabua<strong>do</strong>, essas são fixadasem quadros de madeira com vergas curvas.Internamente, a regularidade volumétrica da residência


SANTA LEOPOLDINA


265se repete na organização <strong>do</strong>s ambientes de vivência<strong>do</strong>méstica a partir de uma circulação de posiçãocentralizada e paralela às paredes maiores. Em clássicadistribuição, duas salas ocupam as extremidades, sen<strong>do</strong>a maior delas, sobre a lateral direita, destinada aoconvívio social e destacada no acabamento, na cuida<strong>do</strong>sadisposição <strong>do</strong> mobiliário e, sobretu<strong>do</strong>, nas valorizadaspanorâmicas oferecidas pelos amplos vãos das janelas.A qualidade construtiva e o esmera<strong>do</strong> acabamento serepetem na circulação e nos quartos, onde o piso é detábua corrida em tamanhos varia<strong>do</strong>s, assim como oforro, cujo encaixe é <strong>do</strong> tipo saia-camisa. As aberturasinternas exibem vergas retas, exceto as que dão para a salaprincipal, com vergas em arco abati<strong>do</strong> com bandeiras devidro. A cozinha configurava-se, originalmente, comoum volume anexo, mas está, atualmente, incorporadaao corpo <strong>do</strong> edifício.REFERÊNCIASACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. Lima (Org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>sno Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretariade Esta<strong>do</strong> da Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong>Espírito <strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória:Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, nº08, 1980.MUNIZ, Maria Izabel Perini. <strong>Arquitetura</strong> rural <strong>do</strong> século XIX noEspírito <strong>Santo</strong>. Vitória: Aracruz Celulose / Fundação Jônice Tristão/ Rede Gazeta / Xerox <strong>do</strong> Brasil, 1989.


SANTA LEOPOLDINACasarão Regência Irante, esse devia proporcionar a João Nunes <strong>do</strong>minantevisibilidade sobre suas terras.O imóvel denomina<strong>do</strong> Casarão Regência I foi edifica<strong>do</strong>em 1873 para ser a sede da fazenda de João Nunes, seuproprietário original. Uma realização anterior à decretação<strong>do</strong> fim da escravidão no Brasil, sua construçãoenvolveu negros cativos, provavelmente os mesmos utiliza<strong>do</strong>sno cultivo da cana, inicialmente, e <strong>do</strong> café, baseprodutiva da propriedade de Nunes em um segun<strong>do</strong>momento.Posicionada em solo de topografia discretamente acidentada,próximo ao córrego São Miguel, o Casarãoda Fazenda Regência foi ergui<strong>do</strong> em <strong>do</strong>is pavimentosoriginalmente liga<strong>do</strong>s por duas escadas. Dessas, apenasuma pode ser observada. Posicionada sobre a fachadalateral direita, a escada de acesso à residência é umarobusta alvenaria de pedra executada segun<strong>do</strong> as maisrudimentares técnicas construtivas. Estreita e de um sólance, ela alcança a porta de entrada principal por meiode um pequeno patamar situa<strong>do</strong> no topo. Como um mi-A residência, seguin<strong>do</strong> padrão observável em outrasedificações da região, estava organizada com a disposição<strong>do</strong>s quartos ao longo de uma circulação central,a mesma responsável pela ligação da sala ao espaço reserva<strong>do</strong>da cozinha. A mesma continuidade distributivaacontecia no pavimento térreo, originalmente um únicoambiente destina<strong>do</strong> ao armazenamento e comercializaçãode produtos. Anteriormente, a casa se estendia sobreo limite lateral esquer<strong>do</strong>, em construção estruturadaem pedra e acessada pela segunda escada, localizada sobrea extremidade esquerda da fachada frontal.O casarão possui planta retangular solidamente delimitadapelas espessas alvenarias de pedra, as mesmasresponsáveis pela estruturação <strong>do</strong> piso <strong>do</strong> pavimentoda casa e da cobertura. Internamente as paredes são detaipa de mão, mais adequada pela leveza de sua matéria.Essas eram erguidas diretamente sobre o piso, umtabua<strong>do</strong> em madeira fixa<strong>do</strong> em barrotes <strong>do</strong> mesmomaterial. Para cobertura, um conjunto de quatro águasapresentan<strong>do</strong> beiral simples, o material escolhi<strong>do</strong> foi atelha de barro <strong>do</strong> tipo canal estruturada em armaçãode madeira, um importante testemunho tecnológico dainscrição temporal de Regência I. Essa, contu<strong>do</strong>, podeser observada em outros elementos de dimensão estéticacomo a rugosa opacidade <strong>do</strong>s planos de vedação, oaustero <strong>do</strong>mínio de cheios sobre vazios, a regularidade<strong>do</strong>minante das linhas.


CASARÃO REGÊNCIA IFazenda RegênciaDistrito de Mangaraí, Santa LeopoldinaProteção Legal: Resolução nº 5/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 32 a 68, folhas 4v a 7vREFERÊNCIASACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. Lima (Org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>sno Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretariade Esta<strong>do</strong> da Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.MUNIZ, Maria Izabel Perini. <strong>Arquitetura</strong> rural <strong>do</strong> século XIX no Espírito<strong>Santo</strong>. Vitória: Aracruz Celulose / Fundação Jônice Tristão /Rede Gazeta / Xerox <strong>do</strong> Brasil, 1989.


SANTA LEOPOLDINACASARÃO REGÊNCIA IIFazenda RegênciaDistrito de Mangaraí, Santa LeopoldinaProteção Legal: Resolução nº 5/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 32 e 68, folhas 4v a 7v


269Casarão Regência IIO imóvel designa<strong>do</strong> Casarão Regência II foi construí<strong>do</strong>pela família Nunes, de origem portuguesa, que seinstalou nas terras baixas de Santa Leopoldina, ededicava-se ao cultivo <strong>do</strong> café. A produção chegava atéVitória escoada pelo rio Santa Maria, através <strong>do</strong> Porto deItava. A edificação, além de sede da fazenda, funcionavacomo entreposto comercial, condição parcialmenteconservada pelo herdeiro da família, João Nunes, nadestinação <strong>do</strong> piso térreo à guarda da produção e <strong>do</strong>sutensílios de trabalho.Posicionada em pequeno platô situa<strong>do</strong> a meia encostade um acidenta<strong>do</strong> sítio, a casa tem sua fachada principalvoltada para o vale onde se situa a primeira sededa Fazenda Regência. Assim, vista da estrada de acesso,sua branca volumetria se destaca sobre o verde da paisagem,sem, contu<strong>do</strong> revelar sua verdadeira dimensão.Essa só se revela quan<strong>do</strong>, após percorrer íngreme estradae adentrar o terreiro de café situa<strong>do</strong> à frente, suaimponente presença se revela por inteiro. Não só. Ali,entre pilhas de café, em giro de 360º, como num túnel<strong>do</strong> tempo, é possível vislumbrar o passa<strong>do</strong>, impregna<strong>do</strong>nas superfícies, conforma<strong>do</strong> pelo fazer humano, territorialmentedelimita<strong>do</strong>. Ainda no terreiro, um amplo chãorudemente cimenta<strong>do</strong>, vestígios de um portão delimita<strong>do</strong>por robusta alvenaria de pedra, sugere uma estreitaligação entre as duas sedes.A Regência II, propriamente, é uma sóbria edificaçãoerguida em <strong>do</strong>is pavimentos dispostos em planta retangularrigidamente delimitada pelas paredes externas, e


SANTA LEOPOLDINAUm prisma de base retangular, esteticamente a FazendaRegência II é um típico casarão colonial ergui<strong>do</strong>sobre espessa alvenaria portante de pedra, condiçãoresponsável pelo aspecto maciço de suas paredes. Essas,simplesmente caiadas, impressionam por sua rugosaaparência, cujo contraponto, as inúmeras portas e janelasem madeira, são, antes de tu<strong>do</strong>, uma confirmação de suasólida construção. Dispostas no pavimento térreo, asportas são simples proteção constituída por grade emmadeira, assim como o quadro de arremate. Nelas, asvergas são retas. Nas dezesseis janelas, todas dispostassobre o piso da residência, as vergas são curvas, e asesquadrias guilhotináveis, com quadros em vidro, uminequívoco indício de sofisticação tecnológica.diferencia<strong>do</strong>s por singela cornija horizontal e discretaornamentação da parte superior <strong>do</strong>s cunhais.O acesso à residência se faz por singela e bem acabadaporta disposta em posição centralizada na fachadaprincipal, e destacada por delica<strong>do</strong> ornato responsávelpelo registro de sua idade e por fazer lembrar o peso<strong>do</strong> café na sua sustentabilidade. Alcançada por meio deescada um só lanço, a partir de pequeno patamar, a portase abre para a sala de visitas, um recinto de dimensãoacanhada e austero acabamento, a partir <strong>do</strong> qual surgea circulação. No extremo oposto, uma segunda sala,destinada a um convívio mais restrito, se comunica coma cozinha. No meio, posiciona<strong>do</strong>s em linha, estão osseis quartos, <strong>do</strong>s quais <strong>do</strong>is se comunicam entre si pormeio de portas, um padrão bastante comum nas casasbrasileiras até o século XX, assim como suas paredesdivisórias, feitas em taipa de mão. No térreo funcionao depósito de café, aberto para o pátio de secagem. Nafachada lateral esquerda, existe outra escada através daqual se acessa o anexo eleva<strong>do</strong> da cozinha. O pavimentotérreo desta construção abriga garagem e depósito parato<strong>do</strong> tipo de coisas, como madeira, ferramentas, galõesde plástico, etc.O telha<strong>do</strong>, composto por quatro águas, era originalmentecoberto com telhas de barro tipo capa-canal como beiral tipo beira-seveira disposto sobre uma bem delineadacimalha. Entretanto, as telhas foram substituídaspelas <strong>do</strong> tipo francesa. No pavimento superior, o piso éde tabua<strong>do</strong> e o forro é em saia-camisa. No depósito, aalvenaria é aparente, não existe forro e o piso é de terrabatida.REFERÊNCIASACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. Lima (Org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>sno Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretariade Esta<strong>do</strong> da Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong>Espírito <strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.MUNIZ, Maria Izabel Perini. <strong>Arquitetura</strong> rural <strong>do</strong> século XIX noEspírito <strong>Santo</strong>. Vitória: Aracruz Celulose / Fundação Jônice Tristão/ Rede Gazeta / Xerox <strong>do</strong> Brasil, 1989.


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Santa Teresa


Capela de NossaSenhora da Conceição273A construção de capelas era o típico processo queenvolvia toda a comunidade, que colaborava espontaneamentesob a direção de uma comissão eleita eencarregada de distribuir tarefas de acor<strong>do</strong> com ashabilidades e a capacidade de cada um. Utilizan<strong>do</strong> osistema de mutirão, os colonos dedicavam dias inteirosao trabalho comunitário. As tarefas especiais eramexecutadas pelos mais competentes, que eram substituí<strong>do</strong>spelos demais nos trabalhos de sua lavoura.Além de contribuírem com mão-de-obra, materiais edinheiro, muitos traziam produtos da terra que eramvendi<strong>do</strong>s em benefício da construção. Para o colonoimigrante, a religião era o principal elo social com outrosindivíduos.A Capela de Nossa Senhora da Conceição está localizadaem frente à residência de Virgilio Lambert, ten<strong>do</strong>si<strong>do</strong> traçada e construída no ano de 1899 pelo mesmoprojetista da casa, Antonio Lambert, irmão de Virgilio.Na obra Collonie Imperiali Nella Terra Del Caffe, RenzoGrosselli cita Virgilio Lambert como líder espirituale carismático <strong>do</strong>s primeiros grupos de trentinos quechegaram à Colônia de Santa Teresa. Muito religioso,foi o promotor da construção das primeiras capelas <strong>do</strong>local e, com o auxílio <strong>do</strong> irmão, dedicou-se à esculturade algumas obras sacras em madeira. Assim que o primeirobispo da Diocese <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, Dom JoãoBaptista Correia Nery, criou a Paróquia <strong>do</strong> Sagra<strong>do</strong>Coração de Maria, Virgilio Lambert, que já contavacom seus 62 anos, pediu permissão para construir aCapela de Nossa Senhora da Conceição nas proximidadesda vila. Em 1899, foi abençoada e passou a serutilizada por Norma Lambert, que oferecia aulas decatecismo.Sobre a relação entre o Virgilio Lambert e a sua capelahá a seguinte nota assinada por Virgilio TomasiLambert e extraída <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumento Memoria Anno 1923Santa Teresa:Corria o ano de 1922 e, depois de 24 anos, o escultor dessacapela morreu com a idade de 86 anos, conforta<strong>do</strong> comto<strong>do</strong>s os sacramentos, em 12 de outubro às 5h20min deuma tarde silenciosa e bela como seu pensamento, assisti<strong>do</strong>por seus caros até o último suspiro, e seu último olhar foipara o crucifixo esculpi<strong>do</strong> por ele mesmo, mostran<strong>do</strong> até aúltima hora o caminho certo onde poderíamos encontrá-loum dia, seguin<strong>do</strong> o seu exemplo.


SANTA TERESAAs paredes da edificação, que têm cinquenta centímetrosde espessura, são em alvenaria de pedra e barro. Oteto é abobada<strong>do</strong> e pinta<strong>do</strong> com motivos religiosos. Aúnica entrada é uma porta com verga em arco abati<strong>do</strong>sobreposta por óculo central. O piso é cimenta<strong>do</strong>. Otelha<strong>do</strong>, em duas águas, apresenta forte inclinação e écoberto com telhas de zinco, substituin<strong>do</strong> as originaistabuinhas. No que diz respeito à ambiência, nota-seque uma recente edificação, localizada nos fun<strong>do</strong>s dacapela, compromete consideravelmente a percepção<strong>do</strong> valor <strong>do</strong> imóvel, descaracterizan<strong>do</strong> e desvalorizan<strong>do</strong>seu entorno. Na fachada, está a inscrição:A.D. MDCCCLXXXXIXcom Carlo Avancini a oeste, ao norte da estrada que conduzà Santa Joana desta Província <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>. A pedrafundamental desta capela foi colocada no dia 30 de agostode 1898, ao meio-dia. A imagem representa Maria SantíssimaImaculada. A imagem foi posta na capela em 19 de agosto de1899. Presentes para ajudar a transportá-la e colocá-la na Capela:Virgilio Lambert, proprietário, Matteo Pomarolli, BadaCarlo, Bortolini Guglielmo, Fillipi Emmanuele, Casoti Luigi.A imagem foi benta em 22 de outubro de 1899 pelo PadreMarcelino Moronio Agnadello. Esta Capela da Imaculada,nesta colônia, está distante cerca de 6 minutos da Igreja Paroquiale a primeira Santa Missa foi celebrada pelo segun<strong>do</strong>pároco Rvmo. Padre Eugenio, no dia de São Pedro, 29 dejunho. A segunda Santa Missa foi celebrada no mesmo diapelo pároco Matia, de Santa Isabel.Turris FortitudinisRegina Sine Labe Originali ConceptaOra Pro Nobis.No altar, confecciona<strong>do</strong> em madeira, Virgilio instalouuma imagem de Nossa Senhora feita em 1896. Apeça foi esculpida a quatro mãos – as de Antonio eas de Virgilio Lambert – e teve como modelo umajovem de 15 anos, descendente de imigrantes. Antonioiniciou o serviço, mas não o concluiu por julgar quea madeira era de qualidade ruim. Posteriormente,seu irmão a terminou e, mais recentemente, os olhosoriginais foram substituí<strong>do</strong>s por outros de vidro. No<strong>do</strong>cumento Memoria della Capella esistente nella colloniadi Virgilio Lambert, seu projetista declara o seguinte arespeito de sua empreitada:Eu, Virgilio Lambert, pela graça de Deus, Cristão, Católico,Apostólico, Romano, por mim e por meus herdeiros e família,pelo bem de to<strong>do</strong>s, esculpi uma imagem e edifiquei estapequena capela no meu terreno, com limite de 18 metros


CAPELA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃORua São Lourenço, s/n, Santa TeresaProteção Legal: Resolução nº 7/1985 <strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrições no Livro <strong>do</strong> Tombo Histórico sob o nº 86, folhas 9v e 10e no Livro <strong>do</strong> Tombo das Belas Artes sob o nº 60, folhas 14v e 15275


SANTA TERESAREFERÊNCIASACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. Lima (Org.). Catálogo de bens culturaistomba<strong>do</strong>s no Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura/ Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Educação e Cultura / UniversidadeFederal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.BIASUTTI, Luís Carlos. Álbum de recortes: centenário <strong>do</strong> município deSanta Teresa. Belo Horizonte: Inédita Editora de Arte, 1991.CUNHA, Maria Teresinha <strong>do</strong>s <strong>Santo</strong>s; MENEGHELLI, MonichBuzette. A arquitetura da imigração italiana no município de SantaTeresa. Monografia (Graduação). Departamento de <strong>Arquitetura</strong>e Urbanismo, Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, Vitória,1988.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória:Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura,nº 09, 1980.MÜLLER, Frederico. Fundação e fatos históricos de Santa Thereza.Vitória: Diário da Manhã Marcondes & C, 1925.NOVAES, Maria Stella. Os italianos e seus descendentes no Espírito<strong>Santo</strong>. Vitória: Instituto Jones <strong>do</strong>s <strong>Santo</strong>s Neves, CoordenaçãoEstadual de Planejamento, Governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>, 1980.ORATÓRIOS, capelas e igrejas <strong>do</strong> município de Santa Teresa.Vitória: Centro Educacional Leonar<strong>do</strong> da Vinci, 2001.


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SANTA TERESARESIDÊNCIA VIRGILIO LAMBERTRua São Lourenço, nº 578, Santa TeresaProteção Legal: Resolução nº 7/1985<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrições no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 85, folhas 9v e 10 e no Livro <strong>do</strong> Tombodas Belas Artes sob o n° 57, folhas 14v e 15


279Residência Virgilio LambertA Residência Virgilio Lambert, projetada e construídaem 1875, é uma das primeiras casas erguidas na região.Pertencente a uma das famílias de imigrantes de maiordestaque no esta<strong>do</strong>, o imóvel apresenta valor enquantoedificação e enquanto marco, visto que possui notávelexpressão histórica para a comunidade de Santa Teresa epara a história da imigração italiana no Espírito <strong>Santo</strong>.Virgilio Lambert nasce em 1836 e chega ao Esta<strong>do</strong>em 1875, pelo navio Rivadávia. Com ele vêm o irmãoAntonio e a filha Ermínia. Virgilio e Antonio formamuma estranha dupla de imigrantes. O primeiro, trabalharanos portos europeus com a manutenção de navios,profissão obtida graças ao bom conhecimento dalíngua francesa. Pessoa de personalidade forte, Virgiliologo assume uma posição de liderança na pequenacomunidade de Santa Teresa e alguns o definiam comolíder intelectual <strong>do</strong>s colonos. Já o segun<strong>do</strong>, frequentara<strong>do</strong>is cursos na Academia de Belas Artes de Veneza eera excelente pintor e escultor. É autor <strong>do</strong> projeto daresidência de Virgilio.profundidade quatro vezes a largura, a locação da casapróximo ao seu limite diminuía a extensão das estradas.Em consequência de alterações <strong>do</strong> sistema viário e daestrutura fundiária, atualmente, a residência pode serencontrada no início da atual estrada que liga SantaTeresa à Itaguaçu, em um terreno de esquina.A residência tem <strong>do</strong>is pavimentos, um sótão e umaescada em madeira que interliga os <strong>do</strong>is pisos principais.Tanto no térreo quanto no pavimento superior, háuma sala e <strong>do</strong>is quartos, além <strong>do</strong> hall da escada. Doisanexos são acresci<strong>do</strong>s ao edifício original, um banheiroem lajotas furadas e uma cozinha em tijolos aparentes.A cobertura de ambos é feita em telhas de cimentoamianto.A base da edificação é em pedra onde se fixa a estruturaApenas sob o ponto de vista prático, pode parecer maislógico situar a casa no centro <strong>do</strong> lote, onde o mora<strong>do</strong>rficaria em meio às plantações, ten<strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio globalde sua propriedade. Contu<strong>do</strong>, para a implantação<strong>do</strong> imóvel em questão parecem ter prevaleci<strong>do</strong> oscritérios da integração social e da proximidade com ovizinho. Além disso, consideran<strong>do</strong> que o lote tinha em


281independente feita em madeira de lei e as paredesconfeccionadas em pau-a-pique com armação emdiagonal, conforme costume <strong>do</strong> norte da Itália. AntonioLambert opta pelo não assentamento de reboco na faceexterna das paredes da casa e essa contribuição serviupara conferir maior clareza estrutural à edificação, um<strong>do</strong>s principais motivos para que o tombamento daresidência fosse recomenda<strong>do</strong>. Na fachada frontal, umajanela é fechada com tijolo, sen<strong>do</strong> manti<strong>do</strong>s os marcosem madeira. O telha<strong>do</strong>, com caimento em duas águase originalmente coberto por tabuinhas, é substituí<strong>do</strong>por telhas de zinco e, mais recentemente, por telhas decimento-amianto. O piso <strong>do</strong> térreo, originalmente emterra batida, é substituí<strong>do</strong> por madeira. O pavimentosuperior possui piso em madeira e forro <strong>do</strong> tipo saiacamisa.Todas as aberturas possuem verga reta eombreiras em madeira e folhas abrin<strong>do</strong> para o interior.A casa, com a cor e textura das paredes, emana certobucolismo; um ar de interior, de passa<strong>do</strong>, reforça<strong>do</strong>por sua cerca de madeira, onde a vegetação cresce e seespalha. Tem-se a impressão de que pela rua em frentesó passarão charretes, cavalos ou pessoas caminhan<strong>do</strong>.Mais que uma casa, um lar, a edificação é um lugarde viver, condição que faz dela um artefato pessoal,impregna<strong>do</strong> <strong>do</strong>s sonhos movi<strong>do</strong>s pela força daquelesque a idealizaram e a construíram. Virgilio Lambertmorreu em 1922, aos 86 anos e a sua casa ainda hojepertence à família, que cuida de sua preservação com notávelespírito público e emocionante desprendimento. Conservan<strong>do</strong>as principais características da época da construção, éum importante símbolo da cidade e da arquitetura daimigração italiana.


SANTA TERESAREFERÊNCIASACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. Lima (Org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>sno Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretariade Esta<strong>do</strong> da Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong>Espírito <strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.CUNHA, Maria Teresinha <strong>do</strong>s <strong>Santo</strong>s; MENEGHELLI, MonichBuzette. A arquitetura da imigração italiana no município de SantaTeresa. Monografia (Graduação). Departamento de <strong>Arquitetura</strong>e Urbanismo, Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, Vitória,1988.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória:Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, nº09, 1980.MARROCHI, Rosiane. Entran<strong>do</strong> na cidade: um ensaio em SantaTeresa. Monografia (Graduação). Departamento de <strong>Arquitetura</strong>e Urbanismo, Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, Vitória,2004.ORATÓRIOS, capelas e igrejas <strong>do</strong> município de Santa Teresa.Vitória: Centro Educacional Leonar<strong>do</strong> da Vinci, 2001.SIMONASSI, Roger. Hotel de lazer em Santa Teresa. Monografia(Graduação). Departamento de <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo,Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, Vitória, 1992.


SANTA TERESARESIDÊNCIA AUGUSTO RUSCHIAvenida Jerônimo Monteiro nº 115Centro, Santa TeresaProteção Legal: Resolução nº 9/1990<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 177, folhas 29v e 30


289Residência Augusto RuschiO imóvel no qual o naturalista Augusto Ruschi residiufoi construí<strong>do</strong> em 1876 pelo imigrante Antônio Roatti,seu avô materno. Trata-se de uma das primeiras casasedificadas na localidade e um <strong>do</strong>s últimos remanescentesde edifícios ergui<strong>do</strong>s em Santa Teresa pelos imigrantesitalianos. Originalmente, moradia da família de Ruschi,hoje, porém, tem seu pavimento térreo ocupa<strong>do</strong>por uma loja, enquanto o pavimento superior, transforma<strong>do</strong>,é espaço para residência. O imóvel é um sobra<strong>do</strong>constituí<strong>do</strong> por <strong>do</strong>is pavimentos e sótão habitável. Noandar térreo, estão uma loja e o acesso para a residência,além de <strong>do</strong>is anexos que abrigam o banheiro e depósitoe que parecem terem si<strong>do</strong> acrescenta<strong>do</strong>s posteriormenteao corpo da edificação, já que a cobertura é de fibrocimentoe descontínua da principal. No andar superior,se encontram quatro cômo<strong>do</strong>s, a cozinha, o banheiro eo acesso onde está a escada. O sistema construtivo utiliza<strong>do</strong>para a vedação é a taipa. A cobertura, que apresentaduas tesouras e é recoberta com telhas-francesas,compõe-se de duas águas, com caimento para a calçadae para os fun<strong>do</strong>s.Contu<strong>do</strong>, para compreender a importância da edificação,é essencial conhecer a trajetória e o trabalho, empreendi<strong>do</strong>spor seu ilustre mora<strong>do</strong>r. Nasci<strong>do</strong> em 12 dedezembro de 1915, Ruschi é o oitavo filho <strong>do</strong> casal GiuseppeRuschi e Maria Roatti Ruschi. Desde criança umcurioso pelas flores que seu pai cultiva, logo adquire ohábito de observar e coletar plantas e animais. Ainda jovem,nos anos de 1920, Ruschi inicia suas observaçõessobre os beija-flores e as orquídeas <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>.Em 1933, já organiza e estuda suas coleções cientificamente,forman<strong>do</strong> o que viria ser parte significativa <strong>do</strong>acervo <strong>do</strong> Museu de Biologia Professor Mello Leitão.Em perío<strong>do</strong> posterior, publica escritos sobre a fauna ea flora espírito-santenses, frequenta simpósios e conferênciassobre ciências naturais, botânica e zoologia, eexplora incansavelmente o Museu Nacional na Quintada Boa Vista e o Jardim Botânico, em atividades degrande importância para a sistematização de seus conhecimentos.Um acontecimento político contribui para que Ruschitivesse grande estímulo em sua trajetória de naturalista:em 6 de fevereiro de 1936, seu irmão mais velho, EnricoIldebran<strong>do</strong> Aurélio Ruschi, assume a Prefeitura Municipalde Santa Teresa. Com apenas 21 anos, Ruschi énomea<strong>do</strong> agente municipal de estatística <strong>do</strong> município epassa a dedicar-se integralmente à sua paixão. Contu<strong>do</strong>,o início decisivo da sua carreira ocorre um ano após,por ocasião da visita <strong>do</strong> professor Mello Leitão e <strong>do</strong>professor Filippo Silvestre ao laboratório particular deestu<strong>do</strong>s de zoologia e botânica de Ruschi, na então chácaraAnita, futura sede <strong>do</strong> museu de biologia e recintoparticular de pesquisas. Desse encontro, surge o interessee o convite para que Ruschi fosse para o MuseuNacional. Nesse ano, Ruschi se torna professor titularde botânica da então Universidade <strong>do</strong> Brasil, atual Uni-


SANTA TERESAversidade Federal <strong>do</strong> Rio de Janeiro e cientista pesquisa<strong>do</strong>r<strong>do</strong> Museu Nacional <strong>do</strong> Rio de Janeiro, o que muitocontribui para o seu aperfeiçoamento científico e parao desenvolvimento de suas pesquisas.A fundação <strong>do</strong> Museu de Biologia Professor Mello Leitão,que abriga o trabalho realiza<strong>do</strong> por Ruschi, ocorreem 26 de junho de 1949. O nome é uma homenagempóstuma à Cândi<strong>do</strong> Firmino de Mello Leitão, seu professor,amigo e incentiva<strong>do</strong>r. Incansável, Ruschi dedicase,ainda, à criação de reservas e unidades de conservaçãocomo a Reserva de Santa Lúcia e a antiga ReservaBiológica de Nova Lombardia, o Parque Nacional deCaparaó e a Reserva Florestal <strong>do</strong> Rio Doce. Mas nãosó. Divulgan<strong>do</strong> suas pesquisas, profere conferências emuniversidades e instituições científicas no Brasil e no exterior,e publica centenas de trabalhos científicos. Emseu conjunto, a dedicação de Ruschi resulta na divulgaçãodas riquezas da Mata Atlântica na região de SantaTeresa. Porém, seu principal objeto de estu<strong>do</strong> são osbeija-flores. Sem nenhuma bibliografia sobre eles, Ruschidedica sua vida ao levantamento de da<strong>do</strong>s sobre estafamília de aves, reproduzin<strong>do</strong>-as, pela primeira vez, emcativeiro. Belíssimo e minúsculo beija-flor, o TopetinhoVermelho é escolhi<strong>do</strong> pelo naturalista como símbolo<strong>do</strong> museu e, posteriormente, da cidade de Santa Teresa.De sua segunda paixão, as orquídeas, resultou a identificaçãode 45 novas espécies, incluin<strong>do</strong> a que leva o seunome, a Ruschia.Famoso, Ruschi se torna personagem de grande interessepúblico, fato que o leva a se isolar e a se dedicar,exclusivamente, às pesquisas, a seus livros e à montagem<strong>do</strong> acervo científico <strong>do</strong> museu. Dali saía apenas para asincursões nas matas ou para brigar pela preservação dasmesmas. Para ele, “o segre<strong>do</strong> de uma vida empolgantenão está em descobrir maravilhas, mas em procurálas”.Mas, a mesma natureza protegida por Ruschi seráa responsável pela interrupção de sua vida, comprometidapor envenenamento. Assim, no perío<strong>do</strong> de 1984 a1986, trava uma batalha contra o tempo, motiva<strong>do</strong> pelodesejo de concluir livros inicia<strong>do</strong>s. Muitas foram as iniciativasde cura, inclusive com o envolvimento de cientistasna busca de um antí<strong>do</strong>to, mas ela não foi possível.Faleci<strong>do</strong> a três de junho de 1986, Ruschi é sepulta<strong>do</strong> nodia cinco de junho na Reserva Biológica de Santa Lúcia,que atualmente tem oseu nome. Toda a obrade Ruschi se encontraabsolutamente ativa,cuidada e consultadapor estudantes e pesquisa<strong>do</strong>resde instituiçõesnacionais e internacionais,no Museude Biologia ProfessorMello Leitão.


291REFERÊNCIASBIASUTTI, Luiz Carlos. No coração capixaba:120 anos de história da mais antiga colônia italiana<strong>do</strong> Brasil, Santa Teresa – ES. Belo Horizonte:Barvalle, 1994.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo detombamento. Vitória: Conselho Estadual deCultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, nº09, 1990.MARROCHI, Rosiane. Entran<strong>do</strong> na cidade: umensaio em Santa Teresa. Monografia (Graduação).Departamento de <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo,Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>,Vitória, 2004.NOVAES, Maria Stella. Os italianos e seus descendentesno Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória: Instituto Jones<strong>do</strong>s <strong>Santo</strong>s Neves, 1980.PRATTI, Fernan<strong>do</strong>. O Santuário Capixabada Mata Atlântica. Trilhas, Revista de Turismo eEcologia. Vitória, ano V, n. 15, p. 16-21, jun./jul. 1998.SANTA TERESA. A Gazeta, Vitória, 18 jun.2005. Encarte especial, p. 02-11.A Gazeta, Vitória, 1 jul. 2005. Encarteespecial, p. 02-16.SANTA TERESA (Município). Site institucional.Disponível em: . Acesso em: jun. 2006.SIMONASSI, Roger. Hotel de lazer em SantaTeresa. Monografia (Graduação). Departamentode <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo, Universidade Federal<strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, Vitória, 1992.


São Mateus


PORTO DE SÃO MATEUSCentro, São MateusProteção legal: Resolução nº 1/1976<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 1 a 21, folhas 2 a 4


295Núcleo Histórico<strong>do</strong> Porto de São MateusOs primeiros coloniza<strong>do</strong>res portugueses chegaramà região de São Mateus por volta de 1544. Assim,o local é um marco na colonização <strong>do</strong> solo da entãocapitania <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>. O início <strong>do</strong> povoamentose deu em função <strong>do</strong> estabelecimento de uma frente decombate aos numerosos indígenas, que se encontravamconcentra<strong>do</strong>s naquele território. Segun<strong>do</strong> registroshistóricos, em 1558, na estreita faixa de terra situadaentre o rio Mariricu e o mar, travaram feroz batalhaFernão de Sá, filho <strong>do</strong> governa<strong>do</strong>r-geral <strong>do</strong> Brasil Memde Sá, e os índios aimorés, da qual resultou a morte<strong>do</strong> nobre lusitano e o massacre de suas tropas. Emcontrapartida, os portugueses organizaram uma forçapunitiva aos aimorés, que foram obriga<strong>do</strong>s a procurarrefúgio nas serras situadas nas cabeceiras <strong>do</strong> rio Cricaré.Esse episódio configura-se como a primeira derrota <strong>do</strong>sportugueses na costa brasileira e, também, como um<strong>do</strong>s genocídios cometi<strong>do</strong>s contra os índios no Brasil.O núcleo de povoação recebe, inicialmente, a denominaçãode Cricaré, assim como o rio que o cruza. Segun<strong>do</strong>alguns autores, seu nome foi altera<strong>do</strong> em funçãoda visita <strong>do</strong> padre Anchieta, que ocorreu no dia de SãoMateus, no ano de 1596. O jesuíta teria como intençãoacalmar os ânimos <strong>do</strong>s nativos, exalta<strong>do</strong>s desde osconfrontos de 1558. Aparentemente, o trabalho obteveêxito, pois rapidamente conseguiu estabelecer contatocom os aimorés.Em 1564, a povoação recebe uma força policial queimpediria a subida no rio Cricaré, cujas nascentesficavam próximas às minas de ouro, como se acreditava.Atraí<strong>do</strong>s pelo boato de que havia minerais preciososna cabeceira <strong>do</strong> rio, aventureiros de toda parte nãotardaram a chegar à região. Em Portugal, sabia-se,detalhadamente, tu<strong>do</strong> o que estava acontecen<strong>do</strong> no vale<strong>do</strong> Cricaré. Essas informações soavam atrativas tantona Metrópole como na Colônia.Apesar da existência <strong>do</strong> ouro, o futuro <strong>do</strong> fértil valeestaria fundamenta<strong>do</strong>, principalmente, na agricultura.Desde 1621 chegavam, ao Espírito <strong>Santo</strong>, negros cativospara o trabalho da lavoura. Eles conheciam a agriculturae trouxeram novas técnicas e novos produtos. Com achegada <strong>do</strong>s africanos, o desenvolvimento da regiãotomou impulso e gerou muita riqueza.No início <strong>do</strong> século XVIII, estabeleceu-se na povoação<strong>do</strong> Cricaré o português Domingos Antunes, natural dacidade <strong>do</strong> Porto. Ele era <strong>do</strong>no de terras às margens <strong>do</strong>rio. Por carta ao capitão-mor da capitania Antônio deOliveira Madail, informou sobre a fertilidade <strong>do</strong> vale, apiscosidade <strong>do</strong> rio e a relativa harmonia com os índios.O capitão-mor ao receber tal carta tomou providênciasimediatas para incentivar o povoamento da região,conceden<strong>do</strong> licenças, oferecen<strong>do</strong> garantias, transportesgratuitos e outras vantagens a quem quisesse fixarresidência no povoa<strong>do</strong>.


SÃO MATEUSEm 1751, o antigo povoa<strong>do</strong> passou a distrito e, em 1764,foi transforma<strong>do</strong> em vila, pertencen<strong>do</strong> à comarca dePorto Seguro, capitania da Bahia. Nessa época, com aeconomia mais desenvolvida, São Mateus produzia farinhade mandioca, açúcar e cereais, e explorava madeira.Durante muito tempo, cerca de sessenta anos, a vila deSão Mateus permaneceu sob jurisdição baiana e prosseguiase desenvolven<strong>do</strong> como o primeiro pólo de riqueza<strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, capaz de levar vida autônoma em relaçãoao resto <strong>do</strong> território, em uma época que nem Vitória,como sede da capitania, tinha recursos próprios parasobreviver. Com as atribuições administrativas em mãoscompetentes, São Mateus conheceu dias venturosos, tantoem relação à economia, quanto em relação a seus habitantes.Pelo rio Cricaré chegavam barcos de vários locais,em especial de Porto Seguro, trazen<strong>do</strong> comerciantes queali praticavam o comércio de diversos produtos. A povoação,que se formou na parte alta <strong>do</strong> vale, prosperavacada vez mais.Devi<strong>do</strong> à distância da capital, sua produção se voltou, emgeral, para as pequenas cidades <strong>do</strong> sul da Bahia. Contu<strong>do</strong>,a farinha de mandioca encontrará merca<strong>do</strong> certo até


297mesmo em Salva<strong>do</strong>r, Vitória e Rio de Janeiro. Tal era aimportância da produção de farinha <strong>do</strong> município que,em 1856, foram exporta<strong>do</strong>s 25 mil sacos somente para oRio de Janeiro. A cultura da mandioca manteve-se comofonte de riqueza, mesmo após a implantação da cultura<strong>do</strong> café. Até o final <strong>do</strong> século XIX, a produção de farinhade mandioca era o principal esteio da economia mateensee a cidade era o principal produtor da costa brasileira.A respeito <strong>do</strong> comércio desse produto e da economiade São Mateus, Auguste Saint-Hilaire, em 1818, no livroViagem ao Espírito <strong>Santo</strong> e Rio Doce, escreve: “De tempo emtempo, chegam barcos a São Mateus, da Vila de Vitória,de Campos, por vezes mesmo da Bahia e <strong>do</strong> Rio de Janeiro,e se carregam com farinha de milho e mandioca”.Nessa dinâmica, é possível entender a modernização <strong>do</strong>porto, ocorrida durante o século XIX. É graças à economiada mandioca, que haverá infraestrutura para a exportação<strong>do</strong> café. A cultura deste produto vai ocorrer naparte mais elevada <strong>do</strong> rio, nas proximidades da Serra <strong>do</strong>sAimorés, onde se abririam as primeiras fazendas. Estaárea abrigaria os retirantes cearenses vin<strong>do</strong>s para o Espírito<strong>Santo</strong> e os imigrantes italianos, fundan<strong>do</strong> o muni-


SÃO MATEUScípio de Nova Venécia. Graças a essas iniciativas, a zonanoroeste <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> foi sen<strong>do</strong> povoada e sua cafeiculturaintensificada.Na metade <strong>do</strong> século XIX, o comenda<strong>do</strong>r Antônio Rodriguesda Cunha <strong>do</strong>minava a política local e possuía prestígiojunto à Corte. Do casamento <strong>do</strong> comenda<strong>do</strong>r com aSra. Rita Maria da Conceição Cunha nasceu outra grandepersonalidade da história <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>, Antônio Rodriguesda Cunha, o barão de Aimorés. O comenda<strong>do</strong>r faleceuem 1863 e, nesta época, seu filho já estava instala<strong>do</strong> nasua fazenda da Cachoeira <strong>do</strong> Cravo. O barão desenvolveuuma cultura modelar de café. Trouxe máquinas daEuropa e represou parte <strong>do</strong> rio São Mateus, instalan<strong>do</strong>um engenho de açúcar, com moenda hidráulica. Foi porintermédio <strong>do</strong> prestígio <strong>do</strong> barão, que São Mateus voltoua pertencer à província <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>. Mesmo assim,as relações comerciais entre São Mateus e Bahia mantiveramum comprometimento mútuo entre as duas sedesadministrativas.Em 1848, São Mateus é elevada à categoria de cidade. Énesse perío<strong>do</strong> que o porto vive sua época mais representativa,com um comércio marítimo-fluvial intenso. Desdesua inauguração, em 1680, o porto vinha contribuin<strong>do</strong>para aumentar a importância de São Mateus no contextoda capitania <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>. Por ele, eram feitas todasas exportações e as comunicações das merca<strong>do</strong>rias produzidasna região, já que o transporte marítimo e fluvialeram os únicos existentes no local. As embarcações quesubiam o rio Cricaré com o objetivo de explorar o interiornecessitavam de um ponto para atracação. A posição<strong>do</strong> sítio geográfico <strong>do</strong> Porto de São Mateus, nas terrasaltas à margem <strong>do</strong> rio, era bastante favorável.Entretanto, o porto só podia ser alcança<strong>do</strong> nas marés altas,quan<strong>do</strong> o rio Cricaré atingia 12 metros de profundidade.Sua navegação era subvencionada para beneficiarempresários ou associações que mantivessem um pequenovapor entre Barra de São Mateus e São Mateus. Assim,em 1864, foi destina<strong>do</strong> um imposto de 1% sobre aexportação, visan<strong>do</strong> subsidiar a realização das obras <strong>do</strong>cais. Na década de 1870, foi celebra<strong>do</strong> o primeiro contratode navegação, ao qual se seguiram outros que assegurarama realização de viagens mensais de vapores àprovíncia <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, parti<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio e atracan<strong>do</strong>em Itapemirim, Santa Cruz e, finalmente, em São Mateus.Nesta época, o Porto de São Mateus era ti<strong>do</strong> comoum <strong>do</strong>s mais importantes <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>.Conta-se que fazendeiros, como o barão de Aimorés,chegaram a possuir infraestrutura suficiente para a construçãode embarcações de porte, como o Santa Rita, oMaria e o Constância, que pela barra <strong>do</strong> São Mateus, transportavamaçúcar, farinha e café para o Rio de Janeiro epara a Bahia. Além das embarcações à vela, pelas quais osprodutores rurais faziam o comércio com as provínciasvizinhas, São Mateus tornou-se escala obrigatória <strong>do</strong>svapores. Naquele porto, foram registradas as presenças<strong>do</strong> Diligente, <strong>do</strong> Juparanã, <strong>do</strong> Alice e <strong>do</strong> Santa Clara, pertencentesà Companhia Espírito <strong>Santo</strong> e Caravelas. Maistarde, os navios <strong>do</strong> Lloyd Brasileiro, Mayrink e Vitória. Oapogeu veio com os vapores de Miranda, Jordão & Cia.,que de 15 em 15 dias aportavam à cidade.O desenvolvimento de São Mateus foi notável. A áreasituada próxima ao rio e ao porto tornou-se um centroaristocrático e o principal núcleo de atividades da população.Essa aristocracia local trouxe, no auge de sua economia,arquitetos portugueses que edificaram a maioria <strong>do</strong>scasarões <strong>do</strong> porto. Além disso, as ruas foram calçadascom pedras trazidas pelos navios e o cais <strong>do</strong> porto pôdeser protegi<strong>do</strong>, facilitan<strong>do</strong> a atracação segura <strong>do</strong>s navios.


SÃO MATEUSmaram em cabarés. Ainda assim, por quase meio século,o casario foi preserva<strong>do</strong> até que, a partir de 1968, coma expulsão <strong>do</strong>s cabarés, toda a área entra em um grandeprocesso de deterioração física e social.A decadência <strong>do</strong> porto nas atividades comerciais e deexportação afeta a economia <strong>do</strong> município, que voltariaa ser incrementada com a instalação de indústrias degrande porte, como a Petrobrás e a Aracruz Florestal, apartir da década de 1960. São Mateus torna-se um <strong>do</strong>smaiores arrecada<strong>do</strong>res <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>.Para resguardar as características históricas e culturais<strong>do</strong> porto, o Conselho Estadual de Cultura efetiva, em1976, o tombamento de 33 edifícios, térreos e sobra<strong>do</strong>s;um ato que institucionaliza o primeiro tombamento emnível estadual <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>. Mas a significação <strong>do</strong>sítio histórico urbano <strong>do</strong> Porto de São Mateus só podeser plenamente compreendida quan<strong>do</strong> este é percebi<strong>do</strong>em sua totalidade espacial, ou seja, no conjunto articula<strong>do</strong>pelos edifícios, ruas, ladeiras, praça, porto e, especialmente,pelo rio.Situa<strong>do</strong> na parte baixa da cidade, o Porto de São Mateustem sua forma urbana fortemente determinada pela topografia.Assim, seguin<strong>do</strong> a tradição luso-brasileira deerguer cidades, caracteriza-se por ruas de aspecto uniforme,delinea<strong>do</strong>ras de quarteirões de perímetro de relativaregularidade, fecha<strong>do</strong>s pela justaposição de edifíciosconstruí<strong>do</strong>s sobre o alinhamento das vias públicase as paredes laterais sobre os limites <strong>do</strong> terreno. Vincula<strong>do</strong>à uniformidade <strong>do</strong>s lotes encontra<strong>do</strong>s na área<strong>do</strong> porto, em geral profun<strong>do</strong>s e estreitos, o seu casariose constitui de sobra<strong>do</strong>s e casas térreas. Herda<strong>do</strong>s <strong>do</strong>perío<strong>do</strong> colonial, esses <strong>do</strong>is tipos de edificações se diferenciavampelo porte e pelo padrão de seu acabamento.Assim, o sobra<strong>do</strong>, geralmente <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de fachada estreita,apresentava piso em assoalho separan<strong>do</strong> as lojas earmazéns, no térreo, da residência, situada no primeiropavimento, enquanto na casa térrea, em geral de fachadamais larga, se pisava sobre o chão de terra batida.Assim, constituída em direta correspondência com adimensão e a forma <strong>do</strong> lote, os tipos arquitetônicos noPorto de São Mateus apresentam restrita variação. Essatambém era o resulta<strong>do</strong> da aplicação de normas fixadasem carta régia ou em posturas municipais, que tinhamo objetivo de garantir a aparência portuguesa das vilase cidades erguidas no Brasil. Assim, por exemplo, a dimensãoe o número de aberturas, a altura <strong>do</strong>s pavimentose os alinhamentos com as edificações vizinhas eramexigências correntes no perío<strong>do</strong> em que o Porto de SãoMateus se desenvolveu. As repetições, entretanto, nãoficavam somente nas fachadas. Ao contrário, os interioresdas edificações apresentavam uma nítida correspondência,com as salas e as lojas na frente aproveitan<strong>do</strong>as aberturas sobre a rua, e os ambientes de trabalhoe vivência <strong>do</strong>méstica voltadas para o logra<strong>do</strong>uro, áreanão construída localizada no fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> terreno. Entreestas duas partes, sem iluminação natural, ficavam as alcovas,destinadas à permanência noturna. A circulaçãorealizava-se por um corre<strong>do</strong>r que, em geral, conduzia daporta da rua aos fun<strong>do</strong>s.No sistema construtivo, as técnicas utilizadas eram bastantetradicionais. Entre elas, <strong>do</strong>minava o sistema deparede portante executada com alvenaria de pedra, associadaaos pisos em barrote de madeira revesti<strong>do</strong> detabua<strong>do</strong> <strong>do</strong> mesmo material. As telhas utilizadas nascoberturas eram <strong>do</strong> tipo capa-canal e o forro existenteem alguns sobra<strong>do</strong>s, de friso de madeira. Presume-seque os alicerces fossem em pedra e cal. As esquadriasde madeira se diferenciavam principalmente no formatodas vergas, ora em arco de centro abati<strong>do</strong> ora retas,marcas da arquitetura colonial.


303O sistema de cobertura seguia os padrões coloniais, comtelha<strong>do</strong>s de duas águas, lançan<strong>do</strong> uma parte da água dachuva recebida sobre a rua e a outra sobre o quintal.Desse mo<strong>do</strong>, o emprego de calhas ou quaisquer sistemasde captação e condução das águas pluviais constituíamraridade.Dominante na área <strong>do</strong> Porto de São Mateus, esse tipode edificação ocorre de forma associada a outros padrõesde dimensão estética. Assim, por exemplo, a arquiteturaclássica influencia no acabamento de algumasfachadas, introduzin<strong>do</strong> elementos como platibanda, eportas e janelas arrematadas com vergas de arco pleno,em substituição aos arcos de centro abati<strong>do</strong>, típicos daarquitetura colonial. Internamente, a distribuição <strong>do</strong>sespaços correspondia ao padrão funcional da primitivacasa luso-brasileira.Para chegar ao Porto de São Mateus é preciso, primeiro,desafiar a acentuada declividade de uma das ladeiras,que sain<strong>do</strong> <strong>do</strong> centro da cidade, vencem a escarpadaencosta que o separa <strong>do</strong> sitio histórico. Por qualqueruma delas, o olhar somente se põe na linha <strong>do</strong> horizontequan<strong>do</strong>, penetran<strong>do</strong> no quadrilátero forma<strong>do</strong> pelaampla praça-porto, de imediato, é atraí<strong>do</strong> pela plácidasuperfície esverdeada <strong>do</strong> lento rio Cricaré. Nesse ponto,impossível não imaginar embarcações em seu ir-evir,homens circulan<strong>do</strong>, desembarcan<strong>do</strong> e embarcan<strong>do</strong>merca<strong>do</strong>rias, mulheres compran<strong>do</strong>, crianças corren<strong>do</strong>.Num segun<strong>do</strong> momento, complementan<strong>do</strong> a cena imaginada,o casario histórico se impõe. De porte acanha<strong>do</strong>,ele está composto por um conjunto de imóveis tradicionalmentedispostos em linha sobre a testada frontal <strong>do</strong>terreno, com suas paredes laterais justapostas e posicionadassobre os limites <strong>do</strong> lote. O conjunto edifica<strong>do</strong>está delinea<strong>do</strong> em três faces que, junto com a borda <strong>do</strong>rio, desenham o perímetro urbano <strong>do</strong> antigo largo, sucessivamentecentraliza<strong>do</strong> em torno <strong>do</strong> pelourinho, <strong>do</strong>merca<strong>do</strong> e <strong>do</strong> chafariz. Um vazio residual, local de encontrosocial e vivências, ele está revesti<strong>do</strong> com pedrasde superfície e assentamento irregulares.Nas duas faces menores, transversais à linha de água, deum la<strong>do</strong> está situada uma sequência de cinco imóveis,sen<strong>do</strong> o último originalmente um trapiche. Do outrola<strong>do</strong>, uma longa fachada, de um só pavimento, se abrepara o exterior urbano através de vinte portas <strong>do</strong>tadasde verga em arco pleno.Posiciona<strong>do</strong> no alinhamento da ladeira <strong>do</strong>s Remédios,também conhecida como Graciano Neves, na esquinacom a rua <strong>do</strong> Vintém, ou Mateus Antônio, esse edifíciotem sua presença na paisagem <strong>do</strong> Sítio Histórico<strong>do</strong> Porto de São Mateus marcada pelo inusita<strong>do</strong> de suahomogênea configuração. Reforçada pela cobertura emtelhas de barro capa-canal, apenas um pequeno beiralinterrompe o aspecto plano de sua composição, de fortecaráter comercial.Contrária a essa, situada no la<strong>do</strong> oposto e em continuaçãoà rua <strong>do</strong> Comércio, via derivada da ladeira deSão Benedito, a segunda face <strong>do</strong> largo <strong>do</strong> Chafariz é o


SÃO MATEUSresulta<strong>do</strong> da justaposição de três sobra<strong>do</strong>s de <strong>do</strong>is pisose duas edificações térreas. Esses estão posiciona<strong>do</strong>ssobre a rua G. Andrade, via paralela à praça-porto que,descen<strong>do</strong> em plano de suave inclinação, chega ao nível<strong>do</strong> Cricaré. Local de conexão direta com o leito navegável<strong>do</strong> rio, em seu ponto mais extremo se instalouum pequeno trapiche. Para unir as portas de acesso àsresidências, historicamente instaladas no primeiro pavimento,e ao comércio, no nível <strong>do</strong> térreo uma estreitacalçada se estende ocupan<strong>do</strong> toda a frente edificadapara, na extremidade da água, se abrir em forma de umpequeno ancora<strong>do</strong>uro.Arquitetonicamente concebi<strong>do</strong>s como numa “rua corre<strong>do</strong>r”,os <strong>do</strong>is grupos de imóveis, inicialmente diferencia<strong>do</strong>sem altura, apresentam um segun<strong>do</strong> nível dedistinção resultante da solução escolhida para a cobertura.Assim, enquanto os sobra<strong>do</strong>s apresentam fachadaarrematada na forma de uma platibanda, nos imóveistérreos os planos de telha<strong>do</strong>, dispostos em paralelo aoespaço da rua, avançam sobre a fachada, revelan<strong>do</strong> emseu beiral o madeiramento da estrutura da cobertura.De posição frontal ao leito <strong>do</strong> rio Cricaré, a terceiraface da praça devia impressionar àqueles que, descen<strong>do</strong>das embarcações, entravam no recinto <strong>do</strong> Porto de SãoMateus. Recua<strong>do</strong> para fazer surgir o amplo espaço dapraça, e com alinhamento ligeiramente divergente emrelação ao traça<strong>do</strong> da borda <strong>do</strong> cais, seu casario impressionapela unidade de sua arquitetura. São oito edifícios,seis sobra<strong>do</strong>s de <strong>do</strong>is pavimentos e <strong>do</strong>is edifícios térreos,cuja força resulta da simplicidade de sua composiçãoe da rigidez de sua estrutura construtiva.


305REFERÊNCIASACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. Lima (Org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>sno Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretariade Esta<strong>do</strong> da Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.BITTENCOURT, Gabriel. Notícias <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>. Rio de Janeiro:Real Rio Gráfico Editora, 1989.BRIOSCHI, Lúcio. Preservação cultural <strong>do</strong> Porto de São Mateus. Monografia(Graduação). Departamento de <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo,Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória, 1988.SAINT-HILAIRE, Auguste. Viagem ao Espírito <strong>Santo</strong> e rio Doce. BeloHorizonte: Itatiaia, 1974.SÃO MATEUS (Município). Disponível em: . Acesso em: out. 2006.TEIXEIRA, Aparecida Netto; PÁDUA, Rogério Pedrinha. SãoMateus: porto, favelas, mansões. Monografia (Graduação). Departamentode <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo, Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória:Conselho Estadual de Cultura, nº 17, 1975.HISTÓRIA DE SÃO MATEUS. Disponível em: .Acesso em: out. 2006.INSTITUTO CEPA/ES. Município de São Mateus: situação sócioeconômica.Vitória, 1978.INSTITUTO DE APOIO À PESQUISA E AO DESENVOLVI-MENTO JONES DOS SANTOS NEVES. Informações municipais<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, 1994-1998. Vitória, 2000.NARDOTO, Eliezer Ortolani; OLIVEIRA, Herinéa Lima. Históriade São Mateus. 1. ed. São Mateus: Editora Atlântica, 1999.


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307Capela de São João BatistaO sítio onde hoje se encontra a capela de São João Batista,no distrito de Carapina, é parte de uma das primeirasaldeias fundadas pelos padres da Companhia deJesus no Espírito <strong>Santo</strong>, e de uma articulada rede dealdeamentos implanta<strong>do</strong>s ao longo <strong>do</strong> litoral, em territóriocompreendi<strong>do</strong> pelos atuais municípios de Serra,ao norte, e Anchieta, ao sul. Posicionada entre o maciçorochoso <strong>do</strong> Mestre Álvaro, o rio Santa Maria da Vitóriae a baía <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, a aldeia de São João se constitui,inicialmente, pelo agrupamento de parentes <strong>do</strong> índioMaracaiaguaçu, ou Gato Grande, índio da tribo temiminóque, após cruzar o rio, funda nas proximidades<strong>do</strong> morro <strong>do</strong> Mestre Álvaro, a primeira aldeia jesuíticana capitania de Vasco Fernandes Coutinho.Fundada por volta <strong>do</strong> ano de 1562, São João é umapequena aldeia constituída, inicialmente, por igreja e residência,o que permitia aos religiosos promoverem oensino, além da conversão <strong>do</strong>s indígenas aldea<strong>do</strong>s. Essacondição, contu<strong>do</strong>, se altera com o desenvolvimento,em fins <strong>do</strong> século XVI, de Reis Magos, aldeamento <strong>do</strong>ta<strong>do</strong>de igreja e residência que logo adquire posição dedestaque na rede de estabelecimentos jesuíticos.A igreja de São João Batista é, assim, a expressão físicadas difíceis condições materiais enfrentadas pelospadres jesuítas e indígenas envolvi<strong>do</strong>s em um <strong>do</strong>s empreendimentosde maior impacto social e econômicono Brasil Colônia. Sua construção, entre 1594 e 1746, énão somente longa, mas, também, descontínua, marcadapor perío<strong>do</strong>s de aban<strong>do</strong>no e arruinamento, condiçãoque promove a constituição de um complexo articula<strong>do</strong>por estruturas arquitetônicas e arqueológicas de longaduração histórica. Inexistem referências quanto ao responsávelpor seu traço e construção, mas, à época desua implantação, os padres Pedro da Costa e Diogo Jácomesão os responsáveis pelo aldeamento de São JoãoBatista. O conjunto estava organiza<strong>do</strong> segun<strong>do</strong> planotípico das construções jesuíticas, onde a residência ocupauma face de uma quadra configurada em seus outrostrês la<strong>do</strong>s pela residência.Em São João, a residência, possivelmente, estava construídaà direita e em alinhamento contíguo à face frontalda igreja. Aban<strong>do</strong>nada após o deslocamento da populaçãopara a aldeia de Reis Magos, o conjunto inicia umprocesso de arruinamento entre a construção <strong>do</strong> conjuntode Reis Magos e a expulsão da ordem jesuítica <strong>do</strong>território colonial em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XVIII. Nessemomento, a capela apresenta frontão triangular, janelase portas com vergas retas e capela-mor pouco profunda.Num segun<strong>do</strong> momento, inicia<strong>do</strong> em 1746, alteraçõesde caráter essencialmente remodela<strong>do</strong>r, promovidasno arco cruzeiro, na capela-mor e no frontispício,transformam a contida e austera composição original,com a inserção de traços de linguagem barroca. Para<strong>do</strong>xalmente,esse, que pode ser considera<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong>áureo da obra jesuítica de Carapina, tem curta duração.


SERRAA seguinte expulsão <strong>do</strong>s jesuítas e o consequente aban<strong>do</strong>node São João Batista resultam em perío<strong>do</strong> de descui<strong>do</strong>e deterioração, uma situação que só será alteradaem mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XIX quan<strong>do</strong> a elevação da aldeiaà categoria de freguesia promove reformas e consertos.É a partir desse contexto de transformações que seinicia, em 1870, uma terceira fase histórica na qual sedestaca a construção de uma torre e de <strong>do</strong>is corre<strong>do</strong>reslaterais, num conjunto de obras das quais resultam aatual configuração da igreja. Contu<strong>do</strong>, essa não é mais aconstrução oitocentista. Isso porque, novamente aban<strong>do</strong>nada,no final <strong>do</strong> século XX a igreja se torna alvo dedemolição da qual resulta seu quase total arruinamento.Por fim, na década de 1990, para resgatar a integridadefísica e funcional de São João Batista, uma obra de restaurorestitui tipológica e linguisticamente a configuraçãoarquitetônica <strong>do</strong> século XVII.Uma pequena igreja <strong>do</strong>tada de nave, capela-mor, coro,sacristia e corre<strong>do</strong>res laterais, São João é tipo que serepete, com sutis diferenças, nos edifícios ergui<strong>do</strong>spelos padres da Companhiade Jesus. Externamente, elaestá <strong>do</strong>tada de torre sineira,justaposta e alinhada à fachadafrontal, em sua lateral esquerda,arrematada com abóbadaem meia-laranja. Internamente,está constituída de naveúnica, espacialidade da obrajesuíta (1584), sacristia e coro,acréscimos introduzi<strong>do</strong>s emobra executada em mea<strong>do</strong>s<strong>do</strong> século XVIII (1746), e<strong>do</strong>is corre<strong>do</strong>res laterais, comacesso pela face posterior eindependente da igreja. Nãohá referência exata quanto àépoca dessa ampliação, assim como da remodelaçãointroduzida no frontão <strong>do</strong> frontispício, mas acreditaseque ambos sejam obras posteriores aos acréscimos<strong>do</strong> século XVIII, um tempo de movimentar os estáticose desnu<strong>do</strong>s frontões de arremate triangular típicosdas primeiras construções erguidas pelas diversas ordensreligiosas no Brasil. Em São João Batista, as alteraçõesse manifestam no emolduramento com cunhaise cornijas, e na introdução de curvas e contracurvasno perfil <strong>do</strong> frontão e de seu óculo central.Construtivamente, a igreja e a torre estão edificadasem estrutura autoportante em alvenaria de pedra.Acréscimo <strong>do</strong> século XIX, a sacristia está executadacom paredes em taipa. O telha<strong>do</strong>, estrutura<strong>do</strong> em perfisde madeira, está coberto com telhas de barro capacanal.Complementarmente, a madeira é o material<strong>do</strong>minante nas esquadrias de fechamento de vãos, nasombreiras e vergas em arco abati<strong>do</strong> de portas e janelas.Em edifício de volumetria pouco movimentada,de escala reduzida, restrita verticalidade e <strong>do</strong>minan-


309te opacidade, as perfurações de portas e janelas adquiremimportância. Na igreja de São João Batista daSerra, elas se distribuem a partir de porta posicionadano térreo e janelas sobre o coro. Nítida no frontispício,essa disposição se apresenta discreta nas faces laterais.REFERÊNCIASACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHO TENE, F. L. (Org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>s noEspírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretariade Esta<strong>do</strong> da Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.CARVALHO, José Antônio. O colégio e as residências jesuíticas no Espírito<strong>Santo</strong>. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1982.DUARTE, Maria Cristina Coelho. Intervenção projetiva (Especialização).Salva<strong>do</strong>r, Curso de Especialização em Conservação e Restauro,Universidade Federal da Bahia 199_.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de Tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, nº02, 1981.FUNDAÇÃO JONES DOS SANTOS NEVES. Patrimônio ambientale natural da Grande Vitória. Vitória, ago. 1978.Revista <strong>do</strong> Instituto Jones <strong>do</strong>s <strong>Santo</strong>s Neves, Vitória, n. 4, p. 10-11,dez. 1979.CAPELA DE SÃO JOÃO BATISTACarapina, SerraProteção legal: Resolução nº 2/1984<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o n° 78, folhas 8v e 9


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313FazendaNatividadeEm mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XIX, a população da província<strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong> se concentra nos núcleos urbanos deSão Mateus, Vitória e Itapemirim. Posicionadas na linhada costa, as pequenas vilas se desenvolviam junto à fozde três <strong>do</strong>s mais importantes rios que cortam o territóriocapixaba ligan<strong>do</strong> o interior ao mar: o Cricaré, o SantaMaria da Vitória e o Itapemirim. Elemento naturalhistoricamente influente no processo de penetração eexpansão das áreas de colonização, no Espírito <strong>Santo</strong>só tardiamente os cursos de água pluvial começam adesempenhar esse papel. Em processo determina<strong>do</strong>pela política de proteção às áreas de mineração dametrópole portuguesa, a ocupação interior <strong>do</strong> territórioespírito-santense ganha impulso, na primeira metade<strong>do</strong> século XIX, com a introdução da cultura <strong>do</strong> café,especialmente concentrada ao sul da capital.Na região central, as áreas de cultivo se desenvolvemem terras baixas, situadas na margem direita <strong>do</strong> rioSanta Maria da Vitória, ao longo <strong>do</strong>s rios Mangaraíe São Miguel, em fazendas denominadas Fumaça,<strong>Santo</strong> Antônio, Mangaraí, Boa Esperança, Regência,Sapucaia, Ibiapaba. Como essas, a Fazenda Natividade


SERRAé propriedade de descendentes de luso-brasileiros queali se instalam, nas primeiras décadas <strong>do</strong> século XIX,em grandes estruturas produtivas baseadas no trabalhoescravo para o cultivo de cana-de-açúcar e de café,pre<strong>do</strong>minantemente.No início da década de 1860, a Fazenda Natividade éestrategicamente construída na margem esquerda <strong>do</strong>rio Santa Maria da Vitória, logo abaixo <strong>do</strong> porto deMangaraí, benefician<strong>do</strong>-se, assim, das facilidades deescoamento de sua produção e comunicação com acapital, promovidas pelo intenso fluxo de canoas quediariamente sobem e descem o rio. Situada quase a meiocaminho entre Cachoeiro de Santa Leopoldina e Vitória,e erguida a cerca de cinquenta metros <strong>do</strong> rio, comsua volumetria regular e ordenada composição, a casada Fazenda Natividade pertence ao conjunto das residênciasrurais brasileiras nas quais <strong>do</strong>minam as espessassuperfícies das paredes autoportantes e a singela, masprecisa disposição das aberturas de porta e janela.Um sobra<strong>do</strong> de <strong>do</strong>is pavimentos implanta<strong>do</strong> em sítiode topografia irregular, a construção aproveita um desnível<strong>do</strong> terreno para distinguir os ambientes da fazendaem duas áreas funcionalmente distintas. A primeiraárea, a moradia, se desenvolve no primeiro pavimento,enquanto a segunda, o comércio e o armazém deinstrumentos e produtos agrícolas, é instalada no pavimentotérreo. A residência propriamente dita é acessadapor meio de uma escada, disposta na fachada lateralesquerda, a partir de pequeno patamar. Localizadas notérreo, e voltadas para o rio, as lojas-depósitos se comunicamcom o ambiente externo por uma sequência detrês portas e três janelas dispostas em um ritmo que serebate no plano superior da fachada por meio de seisvãos de janela. Em seu conjunto, os vãos das portase janelas possuem vergas em arco abati<strong>do</strong>, executadasem madeira, assim como as molduras verticais e o peitoril.Para fechar, no térreo, as esquadrias são em folhade madeira, enquanto no pavimento superior, essas sãoacrescidas de uma segunda esquadria, executada comcaixilho de madeira e vidro.Internamente, a casa se organiza em torno de uma circulaçãode onde partem os vãos de acesso aos ambientesda vida familiar, as salas, os quartos e os banheiros.De posição alinhada com a porta de entrada, a circulaçãoliga as duas salas da casa. Uma delas, posicionadana parte de trás, se une à cozinha e a uma varanda,acréscimos provavelmente realiza<strong>do</strong>s com a finalidadede adaptar a residência a necessidades de seus mora<strong>do</strong>res.Ocupan<strong>do</strong> toda a fachada lateral direita, a varanda éconstruída sem interferir de forma impactante na configuraçãovolumétrica original da casa. É assim que, vistaà distância, a casa-sede da Fazenda Natividade mantémseu destaque na paisagem pelo branco de suas paredese pelo marrom-avermelha<strong>do</strong> de seu grande telha<strong>do</strong>. Estrutura<strong>do</strong>em madeira, esse está coberto por telhas debarro <strong>do</strong> tipo capa-canal.Construtivamente, com exceção da parede da face posterior,correspondente ao pavimento superior, a fazendaestá edificada com paredes portantes de pedra, àsquais se fixa o piso <strong>do</strong> primeiro pavimento, um tabua<strong>do</strong>de madeira apoia<strong>do</strong> em vigas-barrotes também demadeira. Complementarmente, o sistema estrutural écomposto por <strong>do</strong>is pilares de mesmo material e posiciona<strong>do</strong>sde forma a dividir em três partes iguais a área<strong>do</strong> pavimento térreo.À singeleza da aparência e da estrutura da Fazenda Natividade,o tempo acrescentou elementos de composiçãode caráter essencialmente ornamental, identifica<strong>do</strong>res<strong>do</strong> refino estético em trânsito na vivência cultural


FAZENDA NATIVIDADEMargem <strong>do</strong> rio Santa Maria da Vitória,Municípios de Santa Leopoldina e SerraProteção Legal: Resolução 5/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 69, folhas 7v e 8315


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317da família Cerqueira Lima, proprietária <strong>do</strong> imóvel. Concentra<strong>do</strong>na fachada frontal, mas estenden<strong>do</strong>-se para asfachadas laterais, o decoro arquitetônico acresci<strong>do</strong> à fazendapode ser reconheci<strong>do</strong> em frisos horizontais, dispostosno nível <strong>do</strong> piso <strong>do</strong> primeiro pavimento e juntoà linha <strong>do</strong> beiral, em ornatos em alto relevo, na formade um falso pilar junto às arestas externas e de falsoscapitéis posiciona<strong>do</strong>s em eixo junto aos frisos. Em umdeles, no nível <strong>do</strong> pavimento térreo, o relevo emolduraa data da construção da casa. Complementarmente, oguarda-corpo da escada é arremata<strong>do</strong> com coruchéu.REFERÊNCIASACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. Lima (Org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>sno Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretariade Esta<strong>do</strong> da Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, nº02, 1980.MUNIZ, Maria Izabel Perini. <strong>Arquitetura</strong> rural <strong>do</strong> século XIX no Espírito<strong>Santo</strong>. Vitória, Aracruz Celulose / Fundação Jônice Tristão /Rede Gazeta / Xerox <strong>do</strong> Brasil: 1989, p. 63-73.A família Cerqueira Lima, herdeira <strong>do</strong> coronel MarcondesAlves de Souza, presidente <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong> entre 1912 e 1916, possui outros <strong>do</strong>is imóveis,localiza<strong>do</strong>s na área urbana central da cidade de Vitória,ambos comumente conheci<strong>do</strong>s como “residência CerqueiraLima”, um situa<strong>do</strong> na rua Dionísio Rosen<strong>do</strong> eoutro na rua Muniz Freire. Os <strong>do</strong>is, indica<strong>do</strong>s comode interesse de preservação municipal, são o resulta<strong>do</strong>formal da remodelação urbana projetada para a capitalquan<strong>do</strong> de sua modernização estética. Em conjunto, os<strong>do</strong>is imóveis também são expressões simbólicas das relaçõesde dependência entre os ambientes urbano e rural,<strong>do</strong>minante na primeira metade <strong>do</strong> século XX. Essefator pode explicar a modernização estética e funcionalda residência-sede da Fazenda Natividade. Pode, também,ser a base para as condições de conservação <strong>do</strong>imóvel que em seus cento e quarenta e cinco anos deexistência se mantém íntegro.


SERRAIgreja e Residênciade Reis MagosO aldeamento de Reis Magos, como os demaisfunda<strong>do</strong>s pelos padres jesuítas no Espírito <strong>Santo</strong>, foiespecialmente implanta<strong>do</strong> em um sítio caracteriza<strong>do</strong>,<strong>do</strong> ponto de vista geográfico, pela proximidade ao mar,junto à foz de um rio, e em posição elevada. Associa<strong>do</strong>s,esses três condicionantes físicos permitiam fácilarticulação e <strong>do</strong>mínio sobre o vasto território e, emconsequência, sobre o conjunto de aldeias indígenasformadas ao norte <strong>do</strong> colégio e residência de São Tiagona vila de Vitória. Formada para substituir a aldeia deNossa Senhora da Conceição, em Santa Cruz, mais aonorte, a nova aldeia foi instalada na margem direita <strong>do</strong>rio <strong>do</strong>s Reis Magos em data desconhecida, entre 1578e 1588. Acredita-se que a igreja tenha si<strong>do</strong> construídaem 1580. Sabe-se, contu<strong>do</strong>, que nela residiram <strong>do</strong>isimportantes catequistas da Ordem de Inácio deLoiola, os padres Domingos Garcia e João Martins,que a dirigiu por quase vinte anos.Importante centro de formação e catequese de nativoshabitantes da região, o aldeamento de Reis Magos éo registro mais conserva<strong>do</strong> <strong>do</strong> conjunto urbano earquitetônico a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> pela Companhia de Jesus paraseu empreendimento no Brasil. No Espírito <strong>Santo</strong>,é o único integralmente salvaguarda<strong>do</strong> das adversascondições de uso e degradações físicas de que foi


SERRAvitima<strong>do</strong> no perío<strong>do</strong> posterior à expulsão de seusoriginais residentes, em 1759. Esse fato é ainda maisrelevante ten<strong>do</strong> em vista que Reis Magos foi a aldeiade experimentação e consolidação mais completa <strong>do</strong>sistema jesuítico de civilização e estruturação produtivaerguida em solo espírito-santense. Essa era abastecidade água por meio de um poço aberto próximo à suafachada su<strong>do</strong>este, um pouco distante da residência.Expressão da mudança na política de colonização daCoroa portuguesa em solo brasileiro, no Espírito <strong>Santo</strong>o exílio imposto aos padres promove o aban<strong>do</strong>no dasigrejas, residências, fazendas e de seu colégio. Esses, leiloa<strong>do</strong>sno Rio de Janeiro, recebem diferentes destinaçõesdurante os séculos que se seguiram, até seu resgate históricoe artístico ocorri<strong>do</strong> em fins da primeira metade<strong>do</strong> século XX. Assim, durante cerca de duzentos anos,a herança jesuítica de Reis Magos foi seguidamente utilizada.Iniciada com sua ocupação pela própria IgrejaCatólica, na figura <strong>do</strong> padre José Correia de Azeve<strong>do</strong>,já em 1760, posteriormente o conjunto abriga a sede daCâmara e Cadeia e aposenta<strong>do</strong>ria <strong>do</strong> juiz, pelo menos apartir de 1786.Contu<strong>do</strong>, a despeito da importância de seu significa<strong>do</strong>,só em 1855 se faz registro de pequenos reparos na igrejae na residência, que adentram o século XX bastantearruina<strong>do</strong>s, até serem restaura<strong>do</strong>s em 1944, intervençãoresponsável pelas condições com que se faz conhecer apartir de então.Das aldeias jesuíticas, Reis Magos é a mais bemconservada em seu traça<strong>do</strong> original, urbanístico earquitetônico. A aldeia, conjunto constituí<strong>do</strong> pelaquadra e pela praça fronteiriça, esteve hipoteticamentecompleta na primeira metade <strong>do</strong> século XVII. Simples eaustera, para os padrões das ordens religiosas no Brasil,ela é imponente em sua grandeza e proporção. A grandepraça, um retângulo irregular, mede 184,43m x 84,70m x206,15m x 91,15m, sen<strong>do</strong> que esta última medida faceiaa fachada da igreja, enquanto as outras os alinhamentosAinda assim, em princípios <strong>do</strong> século XIX se encontravabastante arruina<strong>do</strong>, condição registrada em pedi<strong>do</strong>sde reforma a partir <strong>do</strong>s anos de 1840. Quan<strong>do</strong>de sua passagem pela vila, já renomeada, em 1818 oviajante francês Auguste de Saint-Hilaire registra suaimpressão:Passei alguns ribeiros sem importância e por fim alcancei aVila de Almeida, quase totalmente construída pelos índiosciviliza<strong>do</strong>s. Essa vila, fundada pelos jesuítas antes <strong>do</strong> ano de1587, tinha outrora o nome de Aldeia <strong>do</strong>s Reis Magos. Seunovo título lhe foi da<strong>do</strong> em 1760 e, na mesma época, fez-sede Almeida a cabeça de Comarca de uma paróquia. [...] Oantigo convento <strong>do</strong>s jesuítas e sua igreja ficam ao norte dapraça e ocupam um <strong>do</strong>s seus la<strong>do</strong>s menores. Entre as casasque se veem de distância a distância há altares destina<strong>do</strong>s àsestações da semana santa, cada um coloca<strong>do</strong> em pequenonicho, uma espécie de caixinha alongada.


321das casas. Por tu<strong>do</strong> isso, dá-se o reconhecimento <strong>do</strong> valor<strong>do</strong> conjunto por meio da extensão <strong>do</strong> tombamento daigreja para o conjunto paisagístico <strong>do</strong> outeiro, em 1965.Por sua vez, junto com o colégio de Vitória, o conjuntoconstituí<strong>do</strong> pela residência e igreja de Reis Magos é oexemplo mais representativo das construções em quadraerguidas pelos jesuítas no Espírito <strong>Santo</strong>.Disposta à volta de um claustro, a quadra apresentaquatro fachadas correspondentes, cada uma delas, a umde seus “quartos”. A igreja foi erguida no “quarto” oeste,enquanto os outros serviam para abrigar a residência, asacristia e um amplo vestíbulo. Sua volumetria é regulare acentuadamente opaca, onde se destacam a torre únicae os planos inclina<strong>do</strong>s da cobertura da igreja. A torresineira, com sua discreta verticalidade, segun<strong>do</strong> a regrano Brasil, foi posicionada entre a igreja e a residêncianum alinhamento único, sem reentrâncias ou saliências,forman<strong>do</strong> um conjunto <strong>do</strong>mina<strong>do</strong> pela simplicidadee harmonia. Externamente veda<strong>do</strong>, o acesso à torre éfeito pelo claustro onde existe uma porta, em cada um<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is pavimentos. Essa por sua vez, comunica-secom o coro por um vão de porta situa<strong>do</strong> no pavimentosuperior. A cúpula da torre é em meia-laranja e seapoia em pendentes, como outras construídas pelosjesuítas. Da mesma maneira, assim como em Guarapari,Anchieta, Vitória e Araçatiba, ela foi arrematada porquatro pináculos posiciona<strong>do</strong>s em sua base e um quinto,em seu ponto mais eleva<strong>do</strong>.Também como a grande maioria das construções religiosaserguidas junto à linha <strong>do</strong> litoral, Reis Magos teve


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323suas paredes estruturadas em pedra recolhidas nos recifes<strong>do</strong> mar. Autoportantes e de larga espessura, as alvenariassustentam o madeiramento <strong>do</strong>s pisos e telha<strong>do</strong>sda cobertura em telhas de barro. Esses apresentam beiralde cachorrada, e são na forma de telha-vã na navee nos corre<strong>do</strong>res <strong>do</strong> pavimento superior <strong>do</strong> claustro, ecom forro curva<strong>do</strong> na capela-mor.Em contraponto com sua sobriedade e solidez, a “caixade pedra” foi perfurada por portas, janelas, seteira eóculo, diversamente emoldura<strong>do</strong>s e fecha<strong>do</strong>s, de maneiraa valorizar suas funções. Assim, enquanto todasapresentem quadro com verga reta e foram fechadascom esquadrias de tabua<strong>do</strong> em madeira, as janelas <strong>do</strong>coro, as portas externas da igreja e a porta de entradada residência possuem molduras em pedra de lioz. Aportada da fachada da igreja, especialmente, foi ornamentadacom decoração classicista presente em outrasportadas jesuíticas.Inaugurada em 1615, a igreja, de singela composição,apresenta planta de nave única com púlpito acessa<strong>do</strong>pelo claustro, e grande arco cruzeiro de acesso à capelamor,o local <strong>do</strong> mais relevante <strong>do</strong>s retábulos encontra<strong>do</strong>sno Espírito <strong>Santo</strong>, considera<strong>do</strong> <strong>do</strong> ponto de vista histórico,a peça mais importante da escultura [colonial] no esta<strong>do</strong>.Uma belíssima talha onde elementos da fauna, cobrase cabeça de felino, e elementos florais desenham eminusita<strong>do</strong> movimento, o retábulo de Reis Magos é umacomposição marcada pela mistura de tradição universale inspiração local, onde traça<strong>do</strong> erudito, desenho jesuítae mão-de-obra indígena se fundem. Uma sofisticada eexuberante escultura, o retábulo de Reis Magos foi enriqueci<strong>do</strong>pelo quadro A<strong>do</strong>ração <strong>do</strong>s Reis Magos, cujaautoria é conferida ao irmão pintor Belchior Paulo porSerafim Leite. Por sua vez, analisa<strong>do</strong> em seus elementosfigurativos, em suas cores e detalhes, o quadro foi considera<strong>do</strong>pintura com forte influência da arte flamengapor José Antônio Carvalho, primeiro estudioso da artecolonial no Espírito <strong>Santo</strong>.Considerada junto com a igreja de São Tiago de Vitória,a mais austera e despojada igreja jesuítica, Reis Magosapresenta fachada composta por uma porta central, trêsjanelas na parte superior, sobre o coro, e um óculo lobula<strong>do</strong>.Sem a linha de base, seu frontão, como era comumnas igrejas <strong>do</strong>s séculos XVI e XVII, é simples etriangular. Esse, em continuidade ao relevo <strong>do</strong>s cunhaisligeiramente destaca<strong>do</strong>s <strong>do</strong> plano da fachada, teve seusla<strong>do</strong>s inclina<strong>do</strong>s arremata<strong>do</strong>s por <strong>do</strong>is coruchéus e encima<strong>do</strong>spor uma singela cruz.Organizada a partir <strong>do</strong> claustro, recinto <strong>do</strong> encontro eda convivência entre o laico e o sagra<strong>do</strong>, além da sacristiaa residência abrigava as celas, pequenos ambientesde recolhimento e reflexão, to<strong>do</strong>s acessa<strong>do</strong>s por meio<strong>do</strong> corre<strong>do</strong>r térreo e <strong>do</strong> corre<strong>do</strong>r avaranda<strong>do</strong>, umaaconchegante galeria com piso de tabua<strong>do</strong> de madeirae protegida por parapeito em madeira, no pavimentosuperior. Em sua maioria dispostas sobre o “quarto”leste da quadra, em geral cada uma das celas tinha suaporta aberta para o corre<strong>do</strong>r e sua janela de assento, achamada conversadeira, aberta para a aquosa paisagem<strong>do</strong> Atlântico.Artisticamente relevante, no interior de Reis Magos sedestacam, ainda, as pias executadas em mármore portuguêse localizadas na nave da igreja e na sacristia. Naigreja, são uma bacia de pé e três bacias de água bentafixadas à parede e uma de pé. Na sacristia, há uma pelola<strong>do</strong> de fora, junto à porta, e outra no interior, com águacorrente e <strong>do</strong>tada de caixa d’água. De to<strong>do</strong>s os edifíciosque os jesuítas construíram no Espírito <strong>Santo</strong>, Reis Magosé o que apresenta o maior número de elementos empedra de lioz trabalhada.


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SERRARESIDÊNCIA E IGREJA DE REIS MAGOSNova Almeida, SerraProteção Legal: Tombamento em 21/09/1943 peloInstituto <strong>do</strong> Patrimônio Histórico e Artístico NacionalInscrições no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 223, folha 37 e noLivro <strong>do</strong> Tombo das Belas Artes sob o n° 289, folha 61


REFERÊNCIASABREU, Carol de (Org.). Anchieta - A restauração de um santuário.Rio de Janeiro: 6ª C. R./IPHAN, 1998.ACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. Lima (Org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>sno Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretariade Esta<strong>do</strong> da Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.CARVALHO, José Antônio. A Arte no Espírito <strong>Santo</strong> no perío<strong>do</strong>colonial II. <strong>Arquitetura</strong> religiosa. Revista de Cultura da UniversidadeFederal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, Vitória, nº 30, p. 31-50, 1984.A Arte no Espírito <strong>Santo</strong> no perío<strong>do</strong> colonial II. Pinturae escultura. Revista de Cultura da Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>,Vitória, nº. 32, p. 05-26, 1985.O colégio e as residências <strong>do</strong>s jesuítas no Espírito <strong>Santo</strong>. Rio deJaneiro: Expressão e Cultura, 1982.COSTA, Lúcio. A <strong>Arquitetura</strong> jesuítica no Brasil. <strong>Arquitetura</strong> religiosa.São Paulo: Ministério da Educação e da Cultura, Instituto <strong>do</strong> PatrimônioHistórico e Artístico Nacional / Universidade de São Paulo,Faculdade de <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo, 1978, pp. 10-98.IPHAN. Documentação <strong>do</strong> arquivo. Vitória, Instituto <strong>do</strong> PatrimônioHistórico e Artístico Nacional.NOVAES, Maria Stella de. História <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória: Fun<strong>do</strong>Editorial <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, [s.d.].SALETTO, Nara. Donatários, colonos, índios e jesuítas: o início da colonização<strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória: Arquivo Público Estadual, 1998,Coleção Canaã, v.4.SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem ao Espírito <strong>Santo</strong> e rio Doce.Belo Horizonte: Itatiaia, 1974, pp. 38-40.SERRA (Município). Site institucional. Disponível em: .Acesso em: 09 jan. 2008.WIED-NEUWIED, Maximiliano. Viagem ao Brasil. Belo Horizonte:Itatiaia / São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,1989.


SERRARuína da Igreja deSão José <strong>do</strong> Queima<strong>do</strong>Situada em sítio eleva<strong>do</strong>, próximo à margem esquerda<strong>do</strong> rio Santa Maria da Vitória, a igreja de São José <strong>do</strong>Queima<strong>do</strong> tem sua pedra fundamental cimentada em15 de agosto de 1845. Inicialmente, a existência da igrejade São José <strong>do</strong> Queima<strong>do</strong> está vinculada a um projetode cunho religioso, protagoniza<strong>do</strong> pelo frei franciscanoGregório José Maria de Bene, responsável pela decisãode construir o templo na freguesia <strong>do</strong> Queima<strong>do</strong>, umpouso <strong>do</strong>s canoeiros <strong>do</strong> Santa Maria, entre Cachoeirode Santa Leopoldina e a capital Vitória. Para viabilizarseu projeto, estrategicamente, frei Gregório de Bene sealia a uma segunda ideia. Essa, coletiva e de cunho político,é conduzida por escravos lidera<strong>do</strong>s por Elisiárioque, mobiliza<strong>do</strong>s pelo projeto da liberdade, se dedicam,noite e dia, à obra da igreja. Isso porque, para viabilizarseu projeto, em troca da construção da igreja, como relata<strong>do</strong>pela história, o frei promete aos negros escravosa almejada alforria.Contu<strong>do</strong>, sem as condições concretas de realização deseu compromisso frei Gregório de Bene rompe com oacor<strong>do</strong>, incitan<strong>do</strong> o movimento insurrecional <strong>do</strong> Queima<strong>do</strong>,levante inicia<strong>do</strong> no dia de 19 de março de 1849,dia de São José, data da prometida libertação. Mais deduzentos homens participam da luta, agora conduzi<strong>do</strong>spor Chico Prego, em movimento cujo impacto na sociedadeda época pode ser aferi<strong>do</strong> pela rapidez e violênciada ação contrária. Finalizada com a entrega de trintaescravos a seus proprietários e o aprisionamento deoutros trinta e seis, além <strong>do</strong>s líderes Chico Prego, Joãoda Viúva Monteiro, Elisiário e Carlos, a Insurreição <strong>do</strong>RUÍNA DA IGREJADE SÃO JOSÉ DO QUEIMADODistrito de Queima<strong>do</strong>, SerraProteção legal: Resolução nº 4/1992<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 183, folhas 30 v e 31<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaPlano Diretor Urbano <strong>do</strong>Município de Serra Lei nº 2100/1998


SERRAQueima<strong>do</strong> tem em seu desfecho final, o enforcamentode Chico Prego próximo à matriz da Serra e João, emfrente à igreja que aju<strong>do</strong>u a construir, o sinal mais evidenteda força de sua ameaça.A igreja, uma homenagem a São José, era uma construçãoconstituída de <strong>do</strong>is volumes correspondentes ànave e à capela-mor, internamente interliga<strong>do</strong>s por umrobusto arco cruzeiro, e externamente diferencia<strong>do</strong>spor sua largura e altura. A cobertura, estruturada emmadeira e realizada com telhas de barro <strong>do</strong> tipo capa-canal,possuía <strong>do</strong>is planos uni<strong>do</strong>s pela cumeeira dispostaperpendicularmente ao plano da fachada. Essa tinha suacomposição <strong>do</strong>minada por um frontão de singelo traça<strong>do</strong>curvilíneo e pela articulada disposição da porta e dastrês janelas sobre o coro. Na frente, um átrio, de mesmalargura da fachada, fecha<strong>do</strong> nas laterais por mureta ena frente por uma singela cerca, era acessa<strong>do</strong> por umapequena escada em semicírculo, um elemento singelo,mas indica<strong>do</strong>r <strong>do</strong> discreto refinamento estético de seuidealiza<strong>do</strong>r. Situada em frente a um adro resultante <strong>do</strong>desnível <strong>do</strong> terreno, a igreja se impunha ao seu entornopelo caráter singular de sua implantação e disposiçãofrontal à pequena vila de São José <strong>do</strong> Queima<strong>do</strong>.Internamente, a igreja de São José <strong>do</strong> Queima<strong>do</strong> repetiatipo comum das construções religiosas brasileiras.Assim, logo na entrada, uma escada permitia o acessoa um avantaja<strong>do</strong> coro, seguramente delimita<strong>do</strong> por umguarda-corpo, to<strong>do</strong>s talha<strong>do</strong>s em madeira. Adentran<strong>do</strong>a nave, à direita, <strong>do</strong>is nichos de dimensões distintasdeviam receber santos de devoção. O segun<strong>do</strong> delessitua-se onde anteriormente esteve um púlpito, acessa<strong>do</strong>por escada em madeira a partir da nave. Mas, seguramente,era o arco cruzeiro o principal elemento decomposição estética <strong>do</strong> ambiente religioso. Desenha<strong>do</strong>a partir de nítidas e clássicas relações métricas, em SãoJosé ele realizava austera passagem para a capela-mor.No meio, marcan<strong>do</strong> a transição, havia uma sequência


337de duas guardas, em madeira, executadas em consoantesingeleza com o altar, onde ficava a imagem <strong>do</strong> santo dedevoção <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Queima<strong>do</strong>.Construtivamente erguida em paredes estruturais de pedra,<strong>do</strong> tipo canjica<strong>do</strong>, sobre fundação de pedra, materialidaderesponsável por sua imponente robustez, masincapaz de resistir ao arruinamento promovi<strong>do</strong> duranteo decorrer da segunda metade <strong>do</strong> século XX, complementarmente,a madeira é o material <strong>do</strong>minantementeutiliza<strong>do</strong> para a execução das esquadrias das janelas sobrea nave, a portada e as duas portas laterais.A vila <strong>do</strong> Queima<strong>do</strong> foi um importante ponto de conexãopara os que transitavam pelo rio Santa Maria duranteo século XIX e as primeiras décadas <strong>do</strong> séculoseguinte. Com um porto dinamiza<strong>do</strong> por sua estratégicaposição, por ele chegou, em dia de grandes festejosmarca<strong>do</strong>s por bandeirolas, guirlandas e fogos de artifício,a imagem de São José vinda de Vitória, desde o cais<strong>do</strong> Impera<strong>do</strong>r, em disputa<strong>do</strong> cortejo no qual estiverampresentes autoridades eclesiásticas e políticos de relevânciaà época. Um fato a falar de um tempo de árduolabor, esforço desmedi<strong>do</strong> e cultivadas esperanças porhomens a construir o presente.REFERÊNCIASALEIXO, Alceu. Histórias da história capixaba. Imprensa Oficial: Vitória,1958.ASSIS, Francisco Eujênio de. Levante de escravos no Distrito de São José<strong>do</strong> Queima<strong>do</strong>. Serra: [s.n.], 1948.BARROS, Paulo de. Memória fotográfica da Serra: imagens de um municípiobrasileiro. Vitória: Ed. <strong>do</strong> Autor, 2002.CLÁUDIO, Afonso. Insurreição <strong>do</strong> Queima<strong>do</strong>: episódio da história daProvíncia <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>. FCAA: Vitória, 1979.DERENZI, Luiz Serafim. Biografia de uma ilha. Rio de Janeiro: Pongetti,1965.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, nº71, 1990.FUNDAÇÃO JONES DOS SANTOS NEVES. Patrimônio ambientalurbano e natural da Grande Vitória. Vitória, ago., 1978.MACIEL, Cleber. Apresentação. In: Coordenação de Folclore daSub-Reitoria da UFES (Produção). A Insurreição <strong>do</strong> Queima<strong>do</strong>. Vídeo.NEVES, Luiz Guilherme <strong>Santo</strong>s. Queima<strong>do</strong>s: <strong>do</strong>cumento cênico. Vitória:[s.n.], 1977.VALLE, Eurípedes Queiroz <strong>do</strong>. O Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong> e os espírito-santenses:da<strong>do</strong>s, fatos e curiosidades, os 10 mais. [s.l.]: APEX, 1971.


VENDA NOVA DO IMIGRANTECASARÃO DA FAMÍLIA SCABELORo<strong>do</strong>via Pedro Cola (ES 166), Venda Nova <strong>do</strong> ImigranteProteção Legal: Resolução nº 3/1998 <strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Histórico sob o nº 186, folhas 30v e 31Venda Nova<strong>do</strong> Imigrante


339Casarão da Família ScabeloPrimitivamente, a área compreendida pelo atualmunicípio de Venda Nova <strong>do</strong> Imigrante era ocupada ehabitada por grupos indígenas denomina<strong>do</strong>s puris. Essaregião era privilegiada por grande riqueza e variedade deespécies vegetais e animais. Conta-se que a comunidadelevava uma vida tranquila e saudável e mantinha-seisolada, sem contato com a sociedade “civilizada”.Contu<strong>do</strong>, em princípio <strong>do</strong> século XVIII, ocorreum processo de miscigenação com a chegada debandeirantes, que objetivavam explorar as riquezasnaturais, sobretu<strong>do</strong> as minerais. A Serra <strong>do</strong> Castelomostrou ser a maior região aurífera <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>. A notícia da descoberta das minas transferiujesuítas para tais locais, juntamente com os índioscatequiza<strong>do</strong>s, visan<strong>do</strong> contribuir com sua assistênciaaos núcleos urbanos em processo de formação. Muitosconflitos entre silvícolas e portugueses resultaram noenfraquecimento da hegemonia <strong>do</strong>s povos indígenas,e em seu gradual processo de aculturação. Em 1845,os silvícolas foram definitivamente enfraqueci<strong>do</strong>s,<strong>do</strong>mina<strong>do</strong>s e expulsos, sen<strong>do</strong> fundada uma povoaçãopara abrigá-los, com a denominação de AldeamentoImperial Afonsino. Gradativamente, os índios foramaban<strong>do</strong>nan<strong>do</strong> o Aldeamento, entre 1858 e 1871. No finaldesse intervalo, a aglomeração foi elevada à categoriade freguesia, sob a denominação de Nossa Senhora daConceição de Castelo.As fazendas surgiram na região, principalmente na segundametade <strong>do</strong> século XIX, fundadas por fazendeirosde origem luso-brasileira, provenientes de Minas Gerais


VENDA NOVA DO IMIGRANTEe <strong>do</strong> Rio de Janeiro. Tinham sua economia baseada namonocultura <strong>do</strong> café e utilizavam mão-de-obra escrava.Essas grandes propriedades foram responsáveis peloinício <strong>do</strong> importante ciclo cafeeiro da região, transforma<strong>do</strong>e implementa<strong>do</strong> com a chegada <strong>do</strong>s primeirosimigrantes italianos, em 1892. Destina<strong>do</strong>s à colonizaçãono território <strong>do</strong> futuro município de Venda Nova<strong>do</strong> Imigrante, os italianos se dedicam à exploração dacultura <strong>do</strong> café. Nessa época, os cafezais, abertos nasreduzidas clareiras das florestas e cultiva<strong>do</strong>s no perío<strong>do</strong>escravista, refletin<strong>do</strong> a carência de mão-de-obra decorrente<strong>do</strong> processo abolicionista de 1888, encontravamseem esta<strong>do</strong> de aban<strong>do</strong>no ou de decadência.Ocorre, então, uma transformação resultante <strong>do</strong>processo de retalhamento das grandes fazendas cafeeirasem pequenas propriedades e seu associa<strong>do</strong> povoamentopor descendentes de indígenas, negros, portugueses eitalianos. Em poucos anos, a comunidade melhorousensivelmente seu padrão de vida, com os lucrosobti<strong>do</strong>s no cultivo <strong>do</strong> café, após o desbravamento dasflorestas, apesar da adversidade das condições de vidae trabalho. Os imigrantes, especialmente, encontramum mo<strong>do</strong> de vida bastante diverso <strong>do</strong> país de origeme a ambientação foi conseguida apenas gradualmente.A primeira etapa de colonização italiana compreendea transposição de inúmeros obstáculos. Além disso,a tecnologia rudimentar constituía sempre um <strong>do</strong>smaiores problemas. O clima, a língua, o trabalho e asculturas tropicais, como é o caso <strong>do</strong> café, exigiramtempo, persistência e vontade <strong>do</strong>s colonos.Entre 1935 e 1950, segue-se uma fase de extração demadeira de lei, em face da prolongada crise <strong>do</strong> café, comsuperprodução e incineração <strong>do</strong> excedente. As finanças<strong>do</strong>s cafeicultores não chegaram a ser prejudicadas,graças à demanda externa e interna de madeira de lei.É incalculável a quantidade de madeira comercializadanesse perío<strong>do</strong>. As matas existentes foram reduzidas aum terço. Porém, entre os anos 1950 e 1960, o cafévoltou a alcançar alta cotação no merca<strong>do</strong> e a produçãoatingiu seu auge.Nesta época, iniciaram-se os trabalhos de demarcaçãoe abertura da BR 262. No final de 1950, equipes <strong>do</strong>Departamento Nacional de Estradas de Rodagemforam incumbidas de delinear o traça<strong>do</strong> da ro<strong>do</strong>via e osacampamentos das empresas construtoras começaram aaparecer. Logo depois são iniciadas as obras. Em 1967,a BR 262 foi oficialmente inaugurada. Antes disso, em1963, Venda Nova foi elevada à sede de distrito, <strong>do</strong>então município de Conceição <strong>do</strong> Castelo. Em 1988,Venda Nova <strong>do</strong> Imigrante recebeu esse nome quan<strong>do</strong>,foi constituí<strong>do</strong> em município independente.Casas como a da Família Scabelo, construídas naépoca da ocupação luso-brasileira, seguem o padrão dearquitetura das grandes fazendas. Contu<strong>do</strong>, o mesmonão se pode dizer de seu entorno, altera<strong>do</strong> de maneiraa melhor atender às exigências da agricultura familiar,típica <strong>do</strong>s imigrantes, seus novos proprietários desde1923. Erguida sobre um pavimento de cerca de <strong>do</strong>ismetros de altura, como a maioria das casas construídaspor luso-brasileiros na região, a residência possui plantaem “L”, com a parte maior voltada para a estrada eabrigan<strong>do</strong> sala e quartos; e a parte menor, dispostasobre os fun<strong>do</strong>s, abrigan<strong>do</strong> cozinha, depósitos e áreade serviço. Essa tem seu piso em tabua<strong>do</strong> de madeirafixa<strong>do</strong> em barrotes toscamente talha<strong>do</strong>s, os quais, porsua vez, apoiam-se em grossas paredes autoportantesexecutadas em alvenaria de pedra. Revestida por camadade reboco protegi<strong>do</strong> por camada de cal no nível daresidência, a parede em pedra se revela no pavimentotérreo, intercalada com esteios também em madeira.A sala é ampla, ladeada por quartos e ligada à cozinhae ao depósito por uma circulação. A área de serviço éexterna e coberta por um prolongamento <strong>do</strong> telha<strong>do</strong>.Além disso, a residência apresenta um pé-direito bastanteeleva<strong>do</strong>, cerca de quatro metros. Há poucos elementosdecorativos, basicamente presentes nos lambrequins


343<strong>do</strong> beiral. Também não é possível reconhecer qualquerpreocupação com a simetria. Porém, há certo ritmo namarcação das muitas e grandes aberturas, resultan<strong>do</strong> noequilíbrio entre cheios e vazios e amenizan<strong>do</strong> o impactoda austeridade decorativa.Por tu<strong>do</strong> isso, a Casa Scabelo tem seu precioso valorhistórico associa<strong>do</strong> duplamente ao tipo residencialde que é testemunho, e ao efeito promovi<strong>do</strong> por suatectônica. Presente no seu porte e solidez, na opacidadee na rugosidade de suas paredes, na diversidade decores <strong>do</strong>s materiais, ela impregna o olhar de imediato.Aparente, essa qualidade está associada à dimensão daestrutura, confeccionada em madeira e constituída porpilares na vertical e baldrames, barrotes e frechais nahorizontal, com peças fixadas umas às outras, em encaixe<strong>do</strong> tipo macho-e-fêmea. A vedação é em estuque, tantonas paredes internas quanto nas externas, enquanto opiso é feito em madeira, com tábuas largas e encaixes<strong>do</strong> tipo junta seca, com exceção da cozinha onde opiso original de terra batida foi recoberto por lajotascerâmicas. Nas salas e nos quartos, o forro em madeira<strong>do</strong> tipo saia-camisa esconde o telha<strong>do</strong>.REFERÊNCIASBISSOLI, Márcia. Venda Nova: a cultura também na arquitetura.Monografia (Graduação). Departamento de <strong>Arquitetura</strong> eUrbanismo, Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, Vitória,2003.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória:Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, n.22, 1998.MENEGHETTI, Itamar Henrique. Venda Nova, a ro<strong>do</strong>via e o urbano:um exercício de percepção e de intervenção. Monografia (Graduação).Departamento de <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo, Universidade Federal<strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, Vitória, 1989.ZANDONADI, Maximo. Venda Nova: um capítulo da imigraçãoitaliana. São Paulo: Escolas Profissionais Salesianas, 1980.Em quatro águas e coberta com telhas de barro tipocapa-canal, a cobertura apresenta sua estrutura emmadeira e é composta por robustas peças de palmito,devi<strong>do</strong> aos grandes vãos <strong>do</strong> telha<strong>do</strong>. Há indícios deque havia uma grande varanda na maior lateral da casa.Os vãos da residência exibem um quadro maciço demadeira com seção quadrada, fechada nas janelas deguilhotina em vidro e madeira, e nas folhas de abrir deduas bandas em madeira maciça. As portas, também emmadeira, possuem duas folhas de abrir. As paredes sãopintadas com cal e as esquadrias em tons de azul.


Viana


345Igreja de NossaSenhora da AjudaSegun<strong>do</strong> nos conta o padre Serafim Leite em seuestu<strong>do</strong> sobre a Companhia de Jesus no Brasil, a fazendade Araçatiba, da qual a igreja de Nossa Senhora daAjuda é o seu único remanescente, estava inicialmenteconstituída pelos edifícios correspondentes ao engenhoe à residência. Existentes em 1716, eles foram ergui<strong>do</strong>spelo padre Rafael Macha<strong>do</strong> em muito ajuda<strong>do</strong> pelomora<strong>do</strong>r e benfeitor Jorge Fraga.Relativamente próxima ao colégio e residência de SãoTiago de Vitória, com o qual se comunicava através <strong>do</strong>canal de Camboapina, além de núcleo produtivo, como asdemais fazendas jesuíticas no Espírito <strong>Santo</strong>, Araçatibaexerce importante papel ao interiorizar a ação <strong>do</strong>sjesuítas. Em 1730, padres jesuítas viviam habitualmentena grande fazenda, então ampliada com os edifícioscorrespondentes à igreja, senzalas e oficinas.No Espírito <strong>Santo</strong>, a primeira fazenda jesuítica ficavaem Carapina e estava destinada à produção de açúcar,como Araçatiba. Ali, além <strong>do</strong> engenho havia uma olariae uma igreja. Em Itapoca, na mesma região, a segundafazenda <strong>do</strong>s jesuítas situada ao norte da vila de Vitória,em 1750 havia uma residência, igreja e uma fábrica defarinha. De localização geograficamente antagônica,a fazenda de Muribeca foi implantada no limite sul<strong>do</strong> território da capitania, nas proximidades <strong>do</strong> rioItabapoana. Para ela os padres jesuítas destinaram aprodução de carne bovina e o abastecimento de peixe.Em fins <strong>do</strong> século XVII, tinha residência e igreja. Delocalização mais central na capitania e favorecida pelapossibilidade de comunicação fluvial com Vitória,onde os padres possuíam porto próprio, a fazendade Araçatiba se destacou pela escala de sua produção.Expressa fisicamente, sua magnitude impressiona oviajante Maximiliano Wied-Neuwied, em sua passagem,em 1816.Dessa majestosa penumbra passamos inesperadamente paraum trecho escampo, e tivemos grata surpresa quan<strong>do</strong>, desúbito, descortinamos o grande edifício branco da fazenda deAraçatiba, com as suas duas torres pequenas, situada numalinda planura verde, ao pé <strong>do</strong> altaneiro Morro de Araçatiba,montanha rochosa coberta de mata.E ainda,Foi a maior fazenda que encontrei durante a minha viagem.O edifício possui extensa fachada de <strong>do</strong>is pavimentos, e umaigreja; as choças <strong>do</strong>s negros, como o engenho de açúcar eas casas de trabalho, ficam ao pé de uma colina, perto daresidência.Da fazenda apenas a igreja dedicada a Nossa Senhora daAjuda e ruínas da residência resistiram à ação <strong>do</strong> tempoe ao aban<strong>do</strong>no. A residência, como nas demais erguidasno padrão jesuítico no Espírito <strong>Santo</strong>, tinha <strong>do</strong>is andarese correspondia ao “quarto” da fachada, já que emViana a quadra jesuítica não foi erguida por completo.Aban<strong>do</strong>nada, no século XIX o espaço correspondenteà residência foi transforma<strong>do</strong> em cemitério público.A igreja tem nave única, coro sobre a porta principal ecapela-mor, diferenciadas em largura e altura e unidaspor um pesa<strong>do</strong> arco cruzeiro. Por trás da capela-mor,


VIANAIGREJA DE NOSSA SENHORA DA AJUDAAraçatiba, VianaProteção Legal: Tombamento em 20/03/1950pelo Instituto <strong>do</strong> Patrimônio Histórico e Artístico NacionalInscrições no Livro <strong>do</strong> Tombo Histórico sob o nº 267, folha 46e no Livro <strong>do</strong> Tombo das Belas Artes sob o n° 353, folha 72situa-se a sacristia, por sua vez sobreposta por uma sala<strong>do</strong>tada de duas janelas com conversadeira e abertas paraextensa planície. Nesse pavimento foram dispostos <strong>do</strong>isgrandes vãos com tribuna.Na fachada, ao contrário da planta, o traço já não sefaz tão fiel e uniforme. Repeti<strong>do</strong>, ordena a disposiçãode uma porta de entrada central e três janelas na partesuperior, e a a<strong>do</strong>ção de uma única e externa torre.Fechadas por esquadrias em madeira, as aberturastiveram verga delineada em arco recurva<strong>do</strong>, e enfatiza<strong>do</strong>por moldura em argamassa na portada.Originalmente colocada entre a igreja e o edifício daresidência, com sua discreta elegância, a torre ergue-se<strong>do</strong> la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> da fachada, destacada <strong>do</strong> frontão ecoberta por uma cúpula que, externamente, apresentaaspecto piramidal. De base quadrada, a torre temquatro aberturas para sino sobrepostas por cimalha ecercadura de geométrico desenho, e arestas marcadas


347por coruchéus. Entre a porta de entrada e as janelas dafachada, há uma janela emoldurada por quadro de vergareta e fechada por folha de tabua<strong>do</strong> em madeira.Manti<strong>do</strong> no acabamento da torre sineira, o parti<strong>do</strong>jesuítico aparece discretamente diluí<strong>do</strong> no frontispício.Mais largo <strong>do</strong> que o frontão, condição intensificadapor uma extensa cimalha entre <strong>do</strong>is coruchéus, ofrontispício foi dividi<strong>do</strong> em três partes, duas delas maisestreitas e delimitadas por falsos cunhais, os mesmosque se repetem nas arestas da torre. Aí, a modenaturarepete a geometrização a<strong>do</strong>tada na cercadura superiorda cimalha e da torre, sobrepon<strong>do</strong> losangos isola<strong>do</strong>spor frisos. O frontão, ao contrário, foi traça<strong>do</strong> comas curvas e contracurvas características <strong>do</strong> séculoXVIII. Além disso, foi perfura<strong>do</strong> por óculo lobula<strong>do</strong>,como ocorreu na maioria das igrejas, e arremata<strong>do</strong> pordelicada cruzeta.Junto com as espessas alvenarias portantes de pedra,como denuncia<strong>do</strong> pelos vestígios da residência, acobertura da igreja de Nossa Senhora da Assunção ésua mais legítima expressão tecnológica. As paredes,simplesmente caiadas, apenas no frontispício falam de seutempo tardio, indício explicita<strong>do</strong> em seu delineamentoe na sua modulação. A mesma percepção se revelainternamente na contraposição entre o acabamento dasesquadrias e a estrutura da cobertura, entre o tornea<strong>do</strong>balaústre e os rígi<strong>do</strong>s tirantes, entre o translúci<strong>do</strong> vidroe a opaca telha cerâmica, apenas encoberta com forroapainela<strong>do</strong> na capela-mor.Internamente, como nas igrejas pequenas, além dasjanelas sobre o coro e a porta, Nossa Senhora da Ajudaapresenta três janelas sobre a nave, em cada la<strong>do</strong>. Essas,muito altas, são <strong>do</strong> tipo rasga<strong>do</strong> com parapeito saca<strong>do</strong> eveda<strong>do</strong> por balaústre em madeira. Aí, as esquadrias, deduas folhas, foram executadas com tabua<strong>do</strong> e caixilho demadeira e vidro. As <strong>do</strong> coro, duplas, foram executadas,externamente com caixilho em madeira e vidro, einternamente com duas folhas de tabua<strong>do</strong> em madeira.Do tipo guilhotina, a elas se assemelham as duas janelasexistentes na capela-mor, uma em cada la<strong>do</strong>. Há, aí, umaporta lateral que dá acesso ao cemitério, uma exceçãoentre as igrejas menores.Posiciona<strong>do</strong> sobre a porta principal, o coro, to<strong>do</strong> emmadeira, é uma laje <strong>do</strong> tipo tradicional – tabua<strong>do</strong> fixa<strong>do</strong>em barrotes –, apoiada em <strong>do</strong>is pilares. Sobre o coro,posiciona<strong>do</strong> em sua parede esquerda, havia vão deporta por meio da qual a residência se ligava ao edifício<strong>do</strong> culto.


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VIANAREFERÊNCIASABREU, Carol de (Org.). Anchieta - A restauração de um santuário.Rio de Janeiro: 6ª C. R./IPHAN, 1998.ACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. Lima (Org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>sno Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretariade Esta<strong>do</strong> da Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.CARVALHO, José Antônio. A Arte no Espírito <strong>Santo</strong> no perío<strong>do</strong> colonialII. <strong>Arquitetura</strong> religiosa. Revista de Cultura da UniversidadeFederal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, Vitória, n. 30, p. 31-50, 1984.. A Arte no Espírito <strong>Santo</strong> no perío<strong>do</strong> colonial – IV. Pinturae escultura. Revista de Cultura da Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>. Vitória, n. 32, p. 05-26, 1985.IPHAN. Documentação <strong>do</strong> arquivo. Vitória, Instituto <strong>do</strong>Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. Tomo VI.Belo Horizonte: Itatiaia, 1938.WIED-NEUWIED, Maximiliano. Viagem ao Brasil. Belo Horizonte:Itatiaia / São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,1989.


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VIANAIGREJA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃOPraça Solda<strong>do</strong> Apolinário, Centro, VianaProteção Legal: Resolução nº 3/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 30, folhas 3v e 4


355Igreja de NossaSenhora da Conceição


VIANAA chegada <strong>do</strong>s açorianos que ocupam o “sertão” conheci<strong>do</strong>como <strong>Santo</strong> Agostinho, em 1814, marca oinício da política de colonização das terras interiores<strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>. Incipiente, contu<strong>do</strong>, dela resulta afundação de um núcleo de curato em 1817, e da paróquiade <strong>Santo</strong> Agostinho, três anos depois. Lugarde fazendas produtoras de cana-de-açúcar, como aCalabouço, Tanque, Borba, Jucu, Belém, Jucuruaba eAraçatiba, além de outras, a colônia de Viana tem suaprimeira igreja construída por iniciativa <strong>do</strong> intendentede polícia, Paulo Fernandes Viana, por ordem <strong>do</strong> prínciperegente Dom João. Nessa época, é governa<strong>do</strong>rda capitania Francisco Alberto Rubim, político quese destaca na história <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong> pela primeirainiciativa de colocar em comunicação a capitania à vizinhaMinas Gerais por meio da estrada São Pedro deAlcântara que, em 1816, ligou Vitória a Ouro Preto.Construída nesse perío<strong>do</strong> fundacional, entre 1815 e1817, logo que os colonos se instalaram convenientemente,a matriz é inaugurada com festa na qual forambatiza<strong>do</strong>s diversos índios catequiza<strong>do</strong>s pelo comandantemilitar da colônia. Não se tem registro dessaedificação, parcialmente destruída em incêndio, ocorri<strong>do</strong>no ano de 1848, que atinge seu madeiramentoprimitivo, sua imagens, seus paramentos e parte de seuarquivo paroquial, salvos por Luiza Aurélia da Conceição.Contu<strong>do</strong>, ela nos chega por meio <strong>do</strong> relato deSaint-Hilaire, um viajante francês que percorre o Espírito<strong>Santo</strong> no ano de 1818, para quem a matriz deNossa Senhora de Viana é um <strong>do</strong>s mais belos templosque encontrou em sua longa viagem pelas terras brasileiras.Do trágico incidente, restaram as torres e asparedes, além da imagem de Nossa Senhora e algunslivros. Provisoriamente coberta por palhas de coqueiro,a igreja é restaurada pelo padre João Pinto Pestana,numa obra responsável por sua configuração atual.A igreja de Nossa Senhora da Conceição está erguidaem pequena colina, posição responsável por seu destaquee <strong>do</strong>minância na paisagem da pequena Viana, e porsua condição de marco de referência em seu território,principalmente, a partir da ro<strong>do</strong>via BR 262, de ondese desfruta sua impressionante visão. Ela está erguidaem frente a um pequeno adro, ao qual se tem acessopor duas escadarias, uma de posição centralizada emrelação à sua fachada e outra à direita. Essa, por suasdimensões e seu delica<strong>do</strong> perfil, deve ser a original.Entre o adro e a igreja, um átrio posiciona<strong>do</strong> em discretodesnível e desenha<strong>do</strong> segun<strong>do</strong> um semicírculoanuncia e aproxima fiéis e visitantes <strong>do</strong> templo religioso.Uma construção de planta retangular constituídade nave, capela-mor, batistério, coro e sacristia encimadapor consistório, a igreja de Nossa Senhora daConceição tem sua cobertura em duas águas revestidapor telhas-francesas e beiral <strong>do</strong> tipo beira-seveira. Nafachada, uma porta central, em verga reta com moldurasem madeira, e três janelas sobre o coro, fechadaspor arco ogival, com caixilho de madeira e vidro, marcama composição onde se destacam as arestas lateraise as cornijas. A igreja conta com duas imponentes torressineiras arrematadas por cúpulas ladeadas de coruchéus,das quais apenas a da direita possui sino.Destacadas em relação aos limites da nave, as duas torresdevem ter si<strong>do</strong> erguidas em diferentes momentos,fato denuncia<strong>do</strong> pelo arremate de suas cúpulas. A da


357direita, onde estão os sinos, foi executada seguin<strong>do</strong> aforma piramidal com a disposição de vãos circularese vaza<strong>do</strong>s em cada uma de suas quatro faces. Já ada esquerda, uma cúpula de pregas, provavelmente éposterior e corresponde a um momento de diluiçãoda rígida regularidade <strong>do</strong> edifício em sua concepçãooriginal. Em ambas, uma grimpa metálica, um catavento,assume a forma de um galo sob uma cruz.Junto com as torres, o frontão é importante elementode composição <strong>do</strong> robusto frontispício de NossaSenhora da Conceição de Viana.Internamente, a igreja tem seu piso revesti<strong>do</strong> em ladrilhohidráulico na nave e na capela-mor e em cantariairregular no átrio, forro em frisos de madeira, e corosustenta<strong>do</strong> por duas colunas com fuste tronco-cônicoe base facetada. Modernamente executa<strong>do</strong> em concretoarma<strong>do</strong>, o coro está delinea<strong>do</strong> por uma sequênciade linhas curvas, em perfil reforça<strong>do</strong> por delica<strong>do</strong>guarda-corpo entalha<strong>do</strong> em madeira.


VIANA


359REFERÊNCIASACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. Lima (Org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>sno Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretariade Esta<strong>do</strong> da Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong>Espírito <strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura,n. 02, 1980.FUNDAÇÃO JONES DOS SANTOS NEVES. Patrimônio ambientalurbano e natural da Grande Vitória. Vitória, ago. 1978.SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem ao Espírito <strong>Santo</strong> e rio Doce.Belo Horizonte: Itatiaia, 1974, p. 110.


VIANARuína da Igreja deNossa Senhora de Belém


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VIANARUÍNA DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DE BELÉMPróximo à Ro<strong>do</strong>via BR 101 Sul, VianaProteção legal: Resolução nº 2/1993<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 182, folha 30v e 31


363A fazenda Belém, sítio original da igreja de Nossa Senhorade Belém, é uma propriedade de destaque no séculoXIX. Nesse momento, pertencen<strong>do</strong> ao primeiroarcipreste da província <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, a igreja seintegra à casa da fazenda, constituin<strong>do</strong> um tipo muitoconheci<strong>do</strong> de estruturas arquitetônicas rurais. É possívelque essa proximidade tenha relação com o incêndioque atinge a igreja nesse mesmo século. Contu<strong>do</strong>, seráa obra de abertura da BR 101-Sul, executada no séculoXX, a principal responsável pelo arruinamento parcialda igreja quan<strong>do</strong>, um corte de terreno executa<strong>do</strong> nasproximidades da sacristia compromete sua estabilidade.Associa<strong>do</strong> ao impacto da estrada, mas talvez de repercussãomais devasta<strong>do</strong>ra, a busca de um tesouro, supostamenteenterra<strong>do</strong> no interior da nave, parece ter si<strong>do</strong> aresponsável mais significativa da destruição promovidano edifício.Implantada em posição de destaque em pequenacolina, a igreja de Nossa Senhora de Belém é hoje umaruína constituída de nave, torre e vestígios de paredede residência, dispostos à direita e recua<strong>do</strong>s em relaçãoao plano da fachada frontal. Sua configuração internaoriginal se constitui pela sequência linear de nave,capela-mor e sacristia, as duas últimas demolidas noúltimo terço <strong>do</strong> século XX, em conjunto regular ondese destaca uma torre sineira. Essa, de base quadrada,chanfrada nas arestas e arrematada por discreto bulbode mesma planimetria, possui vãos de janela, sen<strong>do</strong>três deles situa<strong>do</strong>s na torre e quatro no nível <strong>do</strong> sino.A fachada frontal, uma tradicional composiçãodelineada pela disposição de três janelas sobre o coro,simetricamente posicionadas a partir da porta central,possui um frontão delicadamente desenha<strong>do</strong> por umasequência de voltas e contravoltas, onde um óculode posição central e ornatos de desenhos alusivos aelementos naturais são dispostos em refina<strong>do</strong> fazer.Internamente, um mesmo requinte contorna as janelase o arco cruzeiro.Construtivamente a igreja foi erguida com a utilização<strong>do</strong> sistema tradicional de parede autoportante em alvenariade pedra associada ao tijolo para o arremate<strong>do</strong>s vãos de porta e de janela. O telha<strong>do</strong>, em planimetriasegun<strong>do</strong> modelo de planos uni<strong>do</strong>s em cumeeira deposição perpendicular ao plano da fachada, está cobertocom telha-francesa de cerâmica, uma alteraçãointroduzida provavelmente pela urgência da proteção<strong>do</strong> imóvel.REFERÊNCIASESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, nº02, 1992.FUNDAÇÃO JONES DOS SANTOS NEVES. Patrimônio ambientalurbano e natural da Grande Vitória. Vitória, ago. 1978.REVISTA <strong>do</strong> Instituto Jones <strong>do</strong>s <strong>Santo</strong>s Neves. Vitória, n. 04, p.11, 1979.


Vila Velha


Convento deNossa Senhora da Penha


VILA VELHApela adequação de sua topografia, um pequeno campoaberto. Nele, valoriza<strong>do</strong> pela panorâmica visibilidadepara o infin<strong>do</strong> território, o abrigo <strong>do</strong> quadro maisantigo <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong> é construí<strong>do</strong>. Desconhecida,a data é anterior a 1570, ano de sua morte, ocorrida<strong>do</strong>is dias após a chegada da imagem de Nossa Senhorada Penha, esculpida em Portugal a seu pedi<strong>do</strong>. Além daermida Palácios deixou uma pequena capela, erguida na base <strong>do</strong>morro, dedicada a São Francisco e que lhe servia de moradia.O sítio onde se encontra o Convento de Nossa Senhorada Penha, um outeiro situa<strong>do</strong> na entrada da baía deVitória, muito próximo ao primeiro assentamentoportuguês na capitania <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, foi escolhi<strong>do</strong>por Pedro Palácios. Espanhol de Medina <strong>do</strong> Rio Seco,junto com outros religiosos o frei franciscano aporta napequena aldeia em 1558 e, nesse mesmo ano, funda oconvento. A escolha, motivada por fervorosas intenções,tinha como propósito erguer ermida protetora deNossa Senhora das Alegrias, representação pictóricaque trouxera consigo de Portugal.A construção não tarda a acontecer. O lugar, asegunda escolha de Pedro Palácios, foi reconheci<strong>do</strong>Iniciada sob sua inspiração, a obra é complementadacom a ampliação da ermida à qual foi acrescida casa demoradia. No entanto, para sua definitiva consecução,muito deve ter contribuí<strong>do</strong> a <strong>do</strong>ação <strong>do</strong> morro àOrdem Franciscana feita por Luiza Grinalda, viúva <strong>do</strong>segun<strong>do</strong> <strong>do</strong>natário, realizada em 1591. O fato é que,cerca de quarenta anos depois, a capela primitiva éampliada transforman<strong>do</strong>-se em capela-mor da igrejade Nossa Senhora da Penha. De mesma importânciapode ser considerada a fundação <strong>do</strong> convento peloCapítulo Custodial da Bahia, autorizada em 1650. Noplano estavam previstas nove celas para os religiosos dacomunidade e duas para hóspedes, com as varandas (corre<strong>do</strong>res)e oficinas (cozinha, dispensa, etc.) por baixo, obedecen<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> àconfiguração <strong>do</strong> roche<strong>do</strong>.É <strong>do</strong> ano seguinte o lançamento de sua pedra fundamental,junto à capela.Concluí<strong>do</strong> em sua primeira fase, o segun<strong>do</strong> conventofranciscano no Espírito <strong>Santo</strong> receberá definitivaampliação em 1750, noventa anos após, quan<strong>do</strong> éconstruí<strong>do</strong> mais um corre<strong>do</strong>r com celas, situa<strong>do</strong> entrea sala destinada à portaria e a sala de recreio. Contu<strong>do</strong>,a realização de obras no convento acompanha suahistória, como a reconstrução da casa <strong>do</strong>s romeirosna década de 1770, sua renovação interna e externa nadécada de 1850, reparos na igreja de danos provoca<strong>do</strong>spor raios que incluíram paredes, talhas e o zimbório


367em 1871, quatro anos após o incidente; e trabalhos deescultura de retábulos, cornijas, capitéis e arcadas.Posteriores a essas intervenções, duas outras promovemsignificativa interferência na configuração externa e naambientação interna <strong>do</strong> edifício religioso. A primeira,o acréscimo de um pórtico fecha<strong>do</strong>, resultou naalteração de expressivas particularidades da fachada daigreja, como o fechamento de duas janelas <strong>do</strong> coro e atransformação da terceira em uma porta de acesso aoterraço que cobre o pórtico; e o ocultamento de seufrontão. Promovi<strong>do</strong>s pela Mitra, administra<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>convento após 1898, o restabelecimento <strong>do</strong> culto divinoe a celebração de festas incentivam obras internas, entreas quais se incluem o <strong>do</strong>uramento da capela-mor e aincorporação de altar em mármore.Concluí<strong>do</strong>, o conjunto <strong>do</strong> convento e igreja de NossaSenhora da Penha exige de seus destemi<strong>do</strong>s residentese <strong>do</strong>s fiéis devotos à Virgem, penosa obstinação. Noinício, apenas caminhan<strong>do</strong> ou no lombo de algum animal<strong>do</strong>mestica<strong>do</strong> era possível chegar até ele. O caminhoprimitivo, exclusivo para pedestres, foi analogamentedenomina<strong>do</strong> ladeira das Sete Voltas ou, como também


VILA VELHAé conheci<strong>do</strong>, ladeira da Penitência. O percurso éagradavelmente ambienta<strong>do</strong> pela mata densa, resultantede reflorestamento empreendi<strong>do</strong> no século XX. Calça<strong>do</strong>em pedras por mão-de-obra escrava, numa iniciativa <strong>do</strong>frei Paulo de <strong>Santo</strong> Antônio de 1643, a ele se chegaapós ultrapassar um portão construí<strong>do</strong> em 1774, comofez o impera<strong>do</strong>r Pedro II e sua comitiva em 1860.Não sem razão, esse foi posiciona<strong>do</strong> próximo àprimeira “morada” <strong>do</strong> quadro de Nossa Senhora dasAlegrias, uma espécie de gruta escolhida por frei PedroPalácios, situação comum no Velho Mun<strong>do</strong>, propícia aoincentivo <strong>do</strong> fervor e <strong>do</strong> espírito devoto <strong>do</strong>s habitantesda Vila de Vasco Fernandes Coutinho e <strong>do</strong>s nativosindígenas. Afinal, teria si<strong>do</strong> a vontade de pacificar oNovo Mun<strong>do</strong> a motivação <strong>do</strong> <strong>do</strong>natário ao mandarvir padres. Impróprio para o trânsito <strong>do</strong>s modernosveículos automotores, o Portão da Gruta é destina<strong>do</strong>aos pedestres. Nas imediações, outro foi construí<strong>do</strong>em 1952, mais amplo. Sua linguagem, contu<strong>do</strong>, é umaatualização daquela presente no portal antigo, exemplarimportante da arquitetura colonial em solo capixaba.Uma verdadeira fortaleza religiosa, o Convento deNossa Senhora da Penha, é a expressão mais legítimada determinação <strong>do</strong>s homens que o ergueram. Nadafácil, o desafio incluiu vencer muitas centenas de metroscarregan<strong>do</strong> to<strong>do</strong> tipo de ferramenta, instrumento ematerial. Afinal, com exceção da pedra, to<strong>do</strong> o resto veiode baixo! Quan<strong>do</strong> finalizada, como não poderia deixarde ser, ela é homogeneamente <strong>do</strong>minante. É assim que,apesar da branca aparência e da regular conformação desuas alvenarias, ao emergirem em aparente continuidadecom a natureza pétrea de seu solo-pavimento, igreja e


CONVENTO DE NOSSA SENHORA DA PENHAPrainha, Vila VelhaProteção Legal: Tombamento em 21/09/1943pelo Instituto <strong>do</strong> Patrimônio Histórico e Artístico NacionalInscrições no Livro <strong>do</strong> Tombo Histórico, sob nº 224, folhas 37e no Livro <strong>do</strong> Tombo das Belas Artes, sob o n° 290-A, folhas 61369


VILA VELHAoeste e o alpendre dafachada sul –, é arquiteturafeita para <strong>do</strong>mar ocorpo; a igreja – nave ecapelas – é espaço paraclamar ao espírito.convento remetem, inequivocamente, à técnica com queforam executa<strong>do</strong>s.Comumente utilizada no litoral, a pedra estrutura portões,conforma escadas, reveste o solo, orna portadas,recobre assentos. Complementarmente, a terra e o barro,a areia e a cal, são materiais presentes nas argamassas,nas vedações, nas telhas, no piso. Mas não só. Internamente,a madeira recobre pisos, enquadra e fecha vãosde porta e janela, protege escadas. Contu<strong>do</strong>, as sensaçõespromovidas pelas duas unidades são diferentes.No convento, por exemplo, em conjunto, aparência e estrutura,unidas em uma só expressão artística, transmitemsolidez, durabilidade e, sobretu<strong>do</strong>, severidade. Nele,as formas <strong>do</strong>s pormenores são naturalmente decorrentes<strong>do</strong> material e da técnica emprega<strong>do</strong>s. Na igreja, aocontrário, a sensação é artificiosa. Nela, a forma <strong>do</strong>spormenores é obtida pela transposição de soluções tecnológicas.Assim, se o espaço conventual – corre<strong>do</strong>res ecelas, especialmente, mas também o terraço da fachadaPróprio das capelas rudimentares<strong>do</strong>s primeirostempos, o corpoúnico, é dividi<strong>do</strong> emnave e capela-mor ligadaspor arco cruzeiro,e a construção de umacapela dedicada a SantaAna, no senti<strong>do</strong> transversal.Mas não só. Almejan<strong>do</strong>intensificar oefeito persuasivo <strong>do</strong> ambiente religioso da igreja, internamentea estrutura imóvel, recoberta pelas camadas<strong>do</strong>s decora<strong>do</strong>s, das obras de talha e da marcenaria, setransmuta em cena movimentada por traços e perfis delinhagem barroca e rococó. Aí, planos lisos, linhas retase ângulos agu<strong>do</strong>s dão lugar à abobada e à cúpula, às linhascôncavas e convexas, à continuidade <strong>do</strong>s planos.Impactantes na dual coloração negra e <strong>do</strong>urada, essesefeitos preenchem o pequeno espaço da nave e dacapela-mor na forma de frontões, fitas, frisos e apliques.Entre eles, no fun<strong>do</strong>, o altar-mor se destaca, com arósea coloração de sua refinada talha. Protegida poranjos, entre colunas e sob arcos movimenta<strong>do</strong>s, NossaSenhora da Penha saudada se apresenta: Salve Rainha!Para intensificar as sensações, o ambiente, coberto poruma cúpula de pendentes, recebe natural iluminação apartir de um zênite circular, por sua vez protegi<strong>do</strong> porum zimbório de singela configuração.É também na igreja onde podem ser reconhecidas


371partes ornamentais esculpidas em mármore português –a portada sul, a pia de parede à esquerda da nave, e outramenor na parte interna da torre, as escadas da capelamore as bases <strong>do</strong> altar-mor, além de suas laterais.Observada em conjunto, a arquitetura “da Penha” é umasó geométrica regularidade, apenas interrompida pelamultiplicidade de planos, verticais e inclina<strong>do</strong>s resultante<strong>do</strong>s múltiplos níveis <strong>do</strong>s pisos e das coberturas. Vistoà distância, à maneira de uma grande escultura, suaapreensão se diferencia. A fachada sul, correspondenteao frontispício da igreja, com as linhas <strong>do</strong> frontão e datorre sineira é a mais vertical, mas com a oblíqua linhada escadaria, é também a mais dinâmica. Na fachadaoeste, essa relação se repete, apesar da <strong>do</strong>minantehorizontalidade da linha da fachada lateral da igreja. Aí,é o volume <strong>do</strong> Museu e da Sala <strong>do</strong>s Milagres o principalelemento de ruptura. Ao contrário, na fachada oposta,correspondente ao sol nascente, são <strong>do</strong>minantes aslinhas horizontais <strong>do</strong>s extensos planos das coberturase das sequenciais janelas das celas <strong>do</strong>s frades. Ao final,é a fachada norte, voltada para o campinho, a maisequilibrada. Um único e proporcional plano, ondequatro janelas foram dispostas em harmoniosa relação.Uma regularidade pontualmente rompida pela discretaelevação da chaminé da cozinha.Contundente, essa ideia pode ser experimentada aoultrapassar o primeiro umbral e empreender a subidapela sinuosa e escarpada ladeira da Penitência, ao venceros inúmeros degraus praticamente esculpi<strong>do</strong>s na rocha eultrapassar o segun<strong>do</strong> umbral junto à Sala <strong>do</strong>s Milagres,ao escalar a inclinada escadaria e entrar no batistério,ao orar diante de Nossa Senhora da Piedade, esculturade Carlo Crepaz, e ultrapassar a portada da igreja, ao sedefrontar com a imagem da santa e, de pé, mergulharno interior de si.No convento, preenchen<strong>do</strong> extensa alvenaria <strong>do</strong> corre<strong>do</strong>rlateral, retratada na pintura de Benedito Calixto, ahistória em pedra se revela em cor e luz; e, junto à portade entrada situada sobre a torre e que dá acesso aoreferi<strong>do</strong> corre<strong>do</strong>r, inúmeras inscrições registram graçasalcançadas. Contu<strong>do</strong>, essas surgem em toda a sua incisivapresença na Sala <strong>do</strong>s Milagres, em origem um espa-Um objeto arquitetônico de longa duração históricae rara expressão artística, a obra concebida paraabrigar a valiosa bagagem de Pedro Palácio estava,em origem, predestinada a ser o mais importanterecinto de manifestação religiosa no Espírito <strong>Santo</strong>.Comprovada pelo tempo, a ideia de erguer um temploque, eternizan<strong>do</strong> a palavra uniria o diverso, aplacariaas <strong>do</strong>res, animaria os desampara<strong>do</strong>s, se concretizou.Incorporada e transmitida pela memória de incontáveisfiéis e devotos, ela é cotidianamente reafirmada,anualmente comemorada.


VILA VELHAço para exposição de ex-votos oferta<strong>do</strong>s à Virgem daPenha, organizada no pavimento térreo da antiga Casa<strong>do</strong>s Romeiros e ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> Museu. Reinaugurada em1998, nela encontra-se uma réplica da imagem de NossaSenhora da Penha, em destaque e à frente de evocativopainel de Atílio Colnago, enquanto, nas paredes laterais,as inúmeras placas de agradecimento e quadros comfotografia de fiéis e devotos, reconfirmam o valor daigreja e <strong>do</strong> Convento da Penha.


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VILA VELHAREFERÊNCIASACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. Lima (Org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>sno Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretariade Esta<strong>do</strong> da Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.CARVALHO, José Antônio. A Arte no Espírito <strong>Santo</strong> no perío<strong>do</strong>colonial II. <strong>Arquitetura</strong> religiosa. Revista de Cultura da UniversidadeFederal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, Vitória, n. 30, p. 31-50, 1984.. A Arte no Espírito <strong>Santo</strong> no perío<strong>do</strong> colonial – IV. Pinturae escultura. Revista de Cultura da Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>. Vitória, n. 32, p. 05-26, 1985.IPHAN. Documentação <strong>do</strong> arquivo. Vitória, Instituto <strong>do</strong> PatrimônioHistórico e Artístico Nacional.SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem ao Espírito <strong>Santo</strong> e rio Doce.Belo Horizonte: Itatiaia, 1974, pp. 38-40.WIED-NEUWIED, Maximiliano. Viagem ao Brasil. Belo Horizonte:Itatiaia: São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,1989.


VILA VELHA


379Estação Ferroviária Pedro NolascoMuseu ValeESTAÇÃO FERROVIÁRIA PEDRO NOLASCOMUSEU VALEArgolas, Vila VelhaProteção legal: Resolução nº 5/1986<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 127, folhas 23v e 24A penúltima passagem de século consoli<strong>do</strong>u importantesinvestimentos de perspectiva tecnológica eeconômica para o Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>. Iniciadano século XIX, a mutação almejada teve como basea instalação de redes ferroviárias de conexão ao territórioregional e nacional, a construção <strong>do</strong> cais e oaparelhamento <strong>do</strong> porto de Vitória, e a modernizaçãoda cidade. Em conjunto, as iniciativas se direcionavampara a transformação da capital em póloconvergente <strong>do</strong> fluxo econômico, seja na forma daprodução cafeeira, seja na <strong>do</strong> transporte e distribuição<strong>do</strong> minério de ferro. Proporciona<strong>do</strong>s e viabiliza<strong>do</strong>spela ação <strong>do</strong>s governos estadual e municipaldurante toda a primeira metade <strong>do</strong> século XX, essesprojetos foram responsáveis pela modernizaçãoestética, pela garantia de maior fluidez viária e pelainstalação de equipamentos e serviços públicos nacidade. É nesse quadro de investimentos que Vitória,agora cidade portuária, passa a se articular com osmerca<strong>do</strong>s nacional e internacional.A construção da Estação Pedro Nolasco, em 1927,erguida em substituição a uma antiga e provisóriaedificação de madeira, datada de 1905, se situa nesseconjunto de iniciativas. Denominada inicialmenteSão Carlos, em 23 de maio de 1935 a estação recebesua denominação definitiva, uma homenagem ao engenheiroidealiza<strong>do</strong>r da interligação da costa <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong> com Minas Gerais, por meio da Estrada


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381de Ferro Vitória-Minas. Inicialmente um ancora<strong>do</strong>urode pedra, construí<strong>do</strong> em 1905, a estação interligava-sea Vitória por meio <strong>do</strong> transporte marítimo queintegrava a ilha ao continente, especialmente aos municípiosde Cariacica e Vila Velha. Das estruturas dearmazenagem, a primeira que se tem notícia data <strong>do</strong>ano de 1927, coincidente com a construção definitiva<strong>do</strong> edifício da estação. Trata-se de um galpão executa<strong>do</strong>em alvenaria de pedra, que provisoriamenteabriga o embarque e o desembarque de passageiros.Esses chegam por um cais de madeira, conduzi<strong>do</strong>spor barcas.A construção definitiva foi erguida por Bartolomeude Oliveira, entre 1914 e 1927. Projeta<strong>do</strong> por um arquitetofrancês vin<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro, o edifícioestava desenvolvi<strong>do</strong> em <strong>do</strong>is pavimentos em um volumede base retangular <strong>do</strong> qual se destacava umacúpula centralizada em relação às fachadas. As duasfrentes maiores, uma voltada para a baía de Vitória,onde se situa a porta de entrada da estação, e outra,voltada para a plataforma, se ligam internamente porum vestíbulo simetricamente posiciona<strong>do</strong>, por ondecirculam passageiros em seu ir-e-vir. Então uma novidade,a Estação Ferroviária Pedro Nolasco realizaa almejada articulação da capital <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>com seu território regional e nacional. Nessa época,no térreo, funcionavam os guichês, o acesso público,


VILA VELHAe o embarque e desembarque; no segun<strong>do</strong>, situavasea via permanente com as administrações de linha,correspondentes a Vitória, Colatina, Aimorés e ConselheiroPena. Esse é o perío<strong>do</strong> áureo da estação,quan<strong>do</strong> por ela transitam passageiros, mas, também,progresso, riqueza, e impulso social e cultural.década de 1930 se inicia uma ampliação da qual resultouo acréscimo de um terceiro pavimento. Propostode forma a manter a unidade e o padrão estético daedificação, contu<strong>do</strong>, esse resulta na diluição <strong>do</strong> papel dacúpula, que até então se posicionava como importantereferência visual <strong>do</strong> edifício da estação.Nesse tempo, as pessoas tinham o hábito de ir àestação assistir ao movimento, à passagem <strong>do</strong>s trens,principalmente aos <strong>do</strong>mingos e feria<strong>do</strong>s, quan<strong>do</strong> tinhama oportunidade de ver a partida e a chegada de parentes,amigos e pessoas ilustres, de comprar jornais e revistas,de receber e enviar encomenda, de ver pessoas diferentes,enfim. (Ribeiro, 1986, apud Marchesi, 1993).O dinâmico fluxo de objetos e ações, proporciona<strong>do</strong>pela estação, não deve ter si<strong>do</strong> desprezível, pois já naA partir da década de 1940, a especialização da ferroviano transporte de minério de ferro, a conexão da estaçãocom a cidade de Vitória, propiciada com a instalação daponte Florentino Avi<strong>do</strong>s no final da década de 1920,e a inexistência de espaço para as manobras de trenspromovem impactos de âmbito funcional e de configuraçãona Pedro Nolasco. Funcionalmente, esses processosse refletem na estação pela progressiva diminuição


383da condução de passageiros, até a definitiva transferênciadessa atividade para a estação de Jardim América, nomunicípio de Cariacica. Fisicamente, as transformaçõesse manifestam na descaracterização <strong>do</strong> edifício, promovidapor contínuas adaptações e ampliações realizadaspara abrigar setores administrativos da Companhia Vale<strong>do</strong> Rio Doce. Esse duplo processo culmina com a desocupaçãoe a degradação da estação, entre os anos de1980 e 1995, quan<strong>do</strong> são iniciadas obras de restauro eadaptação <strong>do</strong> edifício, para abrigar o Museu da Vale <strong>do</strong>Rio Doce, inaugura<strong>do</strong> em 1998.REFERÊNCIASACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. Lima (Org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>sno Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretariade Esta<strong>do</strong> da Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.CURBANI, Sáira Glazar. Piuí, Piuí; Atenção para a próxima pausa<strong>do</strong> olhar. Revista Imagem Urbana – Revista Capixaba de <strong>Arquitetura</strong>, Design& Urbanismo. Vitória, ano 03, n. 13, p. 36-43, set./out. 2002.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, n.02, 1984.MARCHESI, Jacqueline. Preservação e revitalização da antiga EstaçãoFerroviária Pedro Nolasco. Monografia (Graduação). Volumes 1 e 2,Vitória, Departamento de <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo, UniversidadeFederal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, 1993.


V I L A V E L H A


387Igreja deNossa Senhora <strong>do</strong> RosárioComo não poderia deixar de ser, para fixar-se às terrasde sua capitania Vasco Fernandes Coutinho escolheum sítio, nele estabelece uma vila particular – fundadapelo <strong>do</strong>natário, às próprias custas –, e logo faz construiruma igreja. O assentamento, seguin<strong>do</strong> a conformaçãoindicada por Portugal, foi estrutura<strong>do</strong> a partir de umlargo onde, ocupan<strong>do</strong> o menor la<strong>do</strong> e ligeiramentealtaneira, a igreja foi erguida com sua frente voltada parao mar, enquanto os la<strong>do</strong>s maiores foram destina<strong>do</strong>s àmoradia <strong>do</strong>s novos habitantes.Ao escolher um sítio quase ao nível <strong>do</strong> mar, entreroche<strong>do</strong>s, e ten<strong>do</strong> ao fun<strong>do</strong> uma extensa planície, ofunda<strong>do</strong>r da vila <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong> deve ter imagina<strong>do</strong>que ela seria transitória. Afinal, quinze anos apósaportar na nova terra, em 1550, Coutinho transferea sede da capitania para um novo sítio, agora insulare no alto, propício à defesa. Os constantes ataques<strong>do</strong>s indígenas e a economia incipiente pressionavamos colonos, impedin<strong>do</strong>-os de progredir. Ao chegar,em 1535, a população coloniza<strong>do</strong>ra se constituía desessenta pessoas e, segun<strong>do</strong> viajantes estrangeiros, noinício <strong>do</strong> século XIX, não mais que um aldeamento, avila contava com quarenta casas.Tão provisória quanto a vila, a igreja de Nossa Senhora<strong>do</strong> Rosário, cuja pedra de ara tem grava<strong>do</strong> o anoanterior ao da chegada <strong>do</strong> <strong>do</strong>natário e o nome da cidadede origem, Lisboa, não passava de construção em taipade mão coberta por folha de palmeira. Além <strong>do</strong> mais,segun<strong>do</strong> os primeiros relatos <strong>do</strong> padre jesuíta Leonar<strong>do</strong>


VILA VELHANunes, data<strong>do</strong>s de 1549, ela era pequena, tão pequenaque a maioria <strong>do</strong>s escravos assistia à missa <strong>do</strong> la<strong>do</strong> defora, por não caberem to<strong>do</strong>s dentro dela.Não se sabe ao certo, mas a igreja definitiva, consideradauma ampliação da primeira edificação, teria comoautores os padres jesuítas Afonso Brás e Simão Gonçalves,recém-chega<strong>do</strong>s na capitania. É uma das primeirasconstruídas no Espírito <strong>Santo</strong>. O ano, 1551. A obra,conforme relata a história, teria si<strong>do</strong> realizada com oaproveitamento de alicerces e paredes existentes, porserem mínimos os recursos disponíveis. Essa, contu<strong>do</strong>,não muito resistente, foi reedificada no século XVII,após arruinar-se, passan<strong>do</strong> a abrigar as ações da Irmandadeda Misericórdia.Situação não muito diferente devia apresentar a vila.Fundada para ser a sede da capitania, aban<strong>do</strong>nada pelocoloniza<strong>do</strong>r, ainda no início <strong>do</strong> século XIX, Vila Velhamantém rudimentar e precária condição física. Nessemomento, na descrição de Auguste de Saint-Hilaire, umviajante francês de passagem pelo Espírito <strong>Santo</strong>, éapenas um aldeamento forma<strong>do</strong> quase exclusivamente decabanas semiarruinadas. Embora, vizinhas das montanhas,essas cabanas são construídas num terreno plano e chegamsó a cerca de quarenta. As menos danificadas se alongavam,mais ou menos juntas, até o mar e o la<strong>do</strong> oposto a este étoma<strong>do</strong> pela igreja.Ainda assim, singular em sua religiosa vocação, aigreja de Nossa Senhora <strong>do</strong> Rosário foi, em definitivo,edificada segun<strong>do</strong> técnica e materiais preferi<strong>do</strong>s paraa arquitetura destinada a ser dura<strong>do</strong>ura: erguida comalvenaria estrutural e coberta por telhas capa-canal debarro, as mesmas utilizadas para executar os beirais, embeira e bica.


389A obra, seguin<strong>do</strong> o padrão generaliza<strong>do</strong>, próprio dasigrejas mais antigas ou de programa mais modesto, apresentanave única e capela-mor, perfeitamente diferenciadasna largura e pé-direito, e pequena sacristia atrás<strong>do</strong> altar-mor. Complementarmente, há um coro sobrea entrada. Há indícios de que foram projetadas torres,uma de cada la<strong>do</strong> <strong>do</strong> frontispício, de bases quadradas ecom comunicação com o interior da nave e com o coro.Essa intenção e a qualidade estética <strong>do</strong> frontispício, especialmentede seu frontão, são indícios seguros de umaépoca de promissoras perspectivas para a Vila Velha.Em traço análogo ao <strong>do</strong> Rosário de Vitória, o frontão,arremata<strong>do</strong> por uma cruz, teve suas empenas delineadaspor amplas e elegantes volutas, seu tímpano recobertopor decora<strong>do</strong> de naturalista inspiração e singularmenteperfura<strong>do</strong> por óculo loba<strong>do</strong>. Ten<strong>do</strong> por base umacimalha de discreto relevo, onde se apoiam <strong>do</strong>is altoscoruchéus, o frontão foi dimensiona<strong>do</strong> para configurarharmoniosa proporção com o plano da fachada. Essatem suas arestas reforçadas por discretos cunhais, entreos quais foram dispostas uma porta de entrada e trêsjanelas sobre o coro. A porta tem seu vão guarneci<strong>do</strong>,pelo la<strong>do</strong> de fora, por aro de pedra, arremata<strong>do</strong> porverga em formato curvo, o mesmo a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> para asjanelas. Essas foram emolduradas por quadro delinea<strong>do</strong>por argamassa, sobreposto por moldura em arco, omesmo <strong>do</strong>s vãos, e apresentam singulares esquadriascom caixilhos de madeira e vidro.Nas fachadas laterais, maciços muros, a branca opacidadeprevalente é apenas pontualmente interrompida pelosvãos de porta e janela. Ao to<strong>do</strong>, são oito janelas, <strong>do</strong>isóculos, uma porta em cada elevação, e uma outra naempena posterior. Diferenciadas em seu desenho, asjanelas foram fechadas por esquadrias de caixilho evidro, sen<strong>do</strong> as da nave semelhantes às <strong>do</strong> coro, entreas quais, uma abriga os sinos. Arrematadas por arcocurvo, são despidas de acabamento interno e externo.Na empena da capela-mor, a mais opaca das fachadas,há uma porta sem acabamento, duas pinhas arrematamsuperiormente o topo das alvenarias e uma cruz a pontada cumeeira.Para entrar no interior da nave, situada em nível eleva<strong>do</strong>,é necessário alçar o pequeno platô sobre o qual NossaSenhora <strong>do</strong> Rosário está situada. Mais estreito na faceda fachada frontal, ele pode ser acessa<strong>do</strong> por uma largaescada de retilíneo alinhamento, pela qual se chega à portade entrada. Nas laterais, ao contrário, ele é mais largoe acessível por duas escadas simétrica e frontalmenteposicionadas junto às portas laterais. Como a da entrada,essas estão guarnecidas pelo la<strong>do</strong> de fora da parede compedras de lancil – granito lavra<strong>do</strong> – trazidas de Portugal,inclusive na soleira. Os vãos, arremata<strong>do</strong>s por vergacurva e ombreiras apoiadas em socos, também foramfecha<strong>do</strong>s por portas de duas folhas em madeira com


VILA VELHAalmofadas. Das duas portas, contu<strong>do</strong>, a voltada para oConvento da Penha foi especialmente tratada com ainserção de frontispício em pedra no qual se pode ler ainscrição latina Totus Mariae, To<strong>do</strong> seu, Maria.Sobre a entrada, o coro original apresentava piso detabua<strong>do</strong> fixa<strong>do</strong> sobre barrotes e apoia<strong>do</strong> em <strong>do</strong>ispilares, tu<strong>do</strong> em madeira. Substituí<strong>do</strong> por um outro,executa<strong>do</strong> em concreto arma<strong>do</strong>, por ele se chega pormeio de escada posteriormente inserida com o mesmomaterial da original, a madeira. Nele, o guarda-corpoem concreto se encontra encoberto por painéis dessematerial. Sob ele encontram-se uma pia batismal emlioz e uma bacia de água benta em pedra-sabão.A nave foi forrada por um apainela<strong>do</strong> em três planos:<strong>do</strong>is inclina<strong>do</strong>s, um para cada parede maior, e umterceiro fechan<strong>do</strong> superiormente o espaço deixa<strong>do</strong>pelos outros <strong>do</strong>is. Diferencia<strong>do</strong>, na capelamoro forro abobada<strong>do</strong> apresenta o mesmoacabamento da nave, um tabula<strong>do</strong> liso emmadeira, destina<strong>do</strong> a valorizar o singelo eaustero interior. Ainda assim, ao longo <strong>do</strong>sséculos XVIII e XIX, à “caixa de pedra” <strong>do</strong>Rosário são acresci<strong>do</strong>s altares com retábulosexecuta<strong>do</strong>s em talha em madeira e pinturasdecorativas de múltipla coloração, as mesmasque temporariamente esconderam a brancacaiação. Igual perspectiva deve ter motiva<strong>do</strong>o recobrimento, por um tabula<strong>do</strong> largo, <strong>do</strong>original piso em pé-de-moleque – seixosrola<strong>do</strong>s e assenta<strong>do</strong>s sobre terra batida –, esua posterior substituição por revestimentoem ladrilho hidráulico, muito utiliza<strong>do</strong> emedifícios construí<strong>do</strong>s ao longo <strong>do</strong> séculoXIX.Os retábulos, próprios <strong>do</strong> século XIX e início<strong>do</strong> XX, apresentam diversificada composiçãoonde se destacam elementos e traçosclassicistas, especialmente visualiza<strong>do</strong>s, emmaior unidade, no altar lateral, enquanto nos<strong>do</strong>is altares colaterais e no altar-mor prevaleçauma “maneira” própria de seu artífice.


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VILA VELHAIGREJA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIOPrainha, Vila VelhaProteção Legal: Tomba<strong>do</strong> em 20/03/1950pelo Instituto <strong>do</strong> Patrimônio Histórico e ArtísticoNacional Inscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 354, folha 46


393REFERÊNCIASACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. Lima (Org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>sno Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretariade Esta<strong>do</strong> da Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong>Espírito <strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.CARVALHO, José Antônio. A arte no Espírito <strong>Santo</strong> no perío<strong>do</strong>colonial – III. <strong>Arquitetura</strong> religiosa secular. Revista de Cultura daUniversidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>. N° 31, Vitória, n. 31, p. 61-83,1984.IPHAN. Documentação <strong>do</strong> arquivo. Vitória, Instituto <strong>do</strong>Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.ELTON, Elmo. São Benedito: sua devoção no Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória:Departamento Estadual de Cultura: Ministério da Cultura, 1988.OLIVEIRA, Luciana; LEÔNCIO, Roberta. Igreja Nossa Senhora<strong>do</strong> Rosário. Vitória, Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>,Departamento de <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo, Disciplina PatrimônioHistórico Artístico e <strong>Cultural</strong>, 1995.


VILA VELHA


395Museu Homero MassenaConstrução de data desconhecida, o edifício <strong>do</strong> MuseuHomero Massena tem sua história identificada com avida <strong>do</strong> pintor que ali viveu entre os anos de 1951 e1974. Nesse senti<strong>do</strong>, falar <strong>do</strong> edifício-museu é falar <strong>do</strong>homem-artista. E esse tem sua vida dedicada ao seu trabalhopreferi<strong>do</strong>, pintar a paisagem. Nasci<strong>do</strong> em 1885,portanto em mun<strong>do</strong> cultural ainda <strong>do</strong>mina<strong>do</strong> pela influênciada estética clássica, e forma<strong>do</strong> em cursos depintura da Academia Brasileira de Belas Artes, comaperfeiçoamento em Paris, junto com Levino Fanzeres,Homero Massena perpetua sua admiração romântica.Na capital francesa, os <strong>do</strong>is frequentam ateliês de pintoresacadêmicos onde exercitam a pintura de paisagenscampestres. De volta ao Brasil, residin<strong>do</strong> no Espírito<strong>Santo</strong>, Massena se dedica à formação de jovens estudantes,atuan<strong>do</strong> como diretor da Escola de Artes daUniversidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, quan<strong>do</strong> estaainda estava em formação.Edificação típica de ambiente praiano, muito comum emáreas urbanas <strong>do</strong> litoral <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, o Museu HomeroMassena é pertencente a um grupo de três residênciasoriginalmente construídas segun<strong>do</strong> um mesmomodelo arquitetônico, em rua situada de frente para omar da Prainha de Vila Velha. As residências, apesar deestarem construídas em terreno de pequenas dimensões,posicionam-se no lote de forma isolada em relação aosseus limites, uma condição de implantação que possuiimportantes relações com a configuração da casa.De volumetria regular, a edificação está desenvolvidaem um único pavimento onde estão dispostos os setoressocial, íntimo e de serviço, em articulação espacialsimplificada, por meio de um pequeno vestíbulo interno.Junto com o jogo de planos no telha<strong>do</strong> da coberturae com o vazio correspondente à pequena varanda frontal,o setor de serviço, ligeiramente saliente <strong>do</strong> corpoprincipal, é responsável pelo discreto dinamismo volumétricodas edificações. Da varanda, fechada para abrigarum vestíbulo de recepção de visitantes, destaca-se o


VILA VELHAMUSEU HOMERO MASSENARua Antônio Ferreira Queiroz, nº 281Prainha, Vila VelhaProteção Legal: Resolução nº 6/1984<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 80, folhas 9v e 10


397trabalho de revestimento em lascas de pedra aparente,dispostas de maneira livre em trechos da alvenaria. Essastambém estão presentes no muro frontal e, juntocom o uso da madeira como material de carpintaria e dacor branca, são os principais elementos de composição<strong>do</strong> bucólico ar litorâneo da construção. Realizada como uso <strong>do</strong> sistema de concreto arma<strong>do</strong>, o edifício é cobertopor telha<strong>do</strong> estrutura<strong>do</strong> em madeira e revesti<strong>do</strong>por telhas-francesas de barro, oportunamente escondidaspor meio <strong>do</strong> uso de recobrimento <strong>do</strong> beiral comripas de madeira.Contu<strong>do</strong>, é internamente que o museu ganha suadimensão. Residência por opção de Homero Massenapor cerca de vinte anos – em entrevista ele afirma quelugar bom para morar somente Paris... ou a Prainha– o edifício é suporte de manifestação concreta <strong>do</strong>labor artístico <strong>do</strong> mestre que, por meio de sua técnica,impregna as paredes da cozinha, <strong>do</strong> banheiro, <strong>do</strong> quarto.Sempre singelos, os motivos são a expressão de suabusca pelo retrato da paisagem não-citadina em toda asua luz e cor.REFERÊNCIASACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. Lima (Org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>sno Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretariade Esta<strong>do</strong> da Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, n.04, 1983.LOPES, Almerinda da Silva. Passagens e itinerários da arte. In:MUSEU VALE DO RIO DOCE. Passagens e itinerários da arte: catálogoda exposição. Vitória, Fundação Vale <strong>do</strong> Rio Doce, 2005.


Vitória


VITÓRIAARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTORua Pedro Palácios, nº 76, Cidade Alta, Centro, VitóriaProteção legal: Resolução nº 2/1983 <strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Histórico sob o nº 25, folhas 3v e 4


401Arquivo Público <strong>do</strong>Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>No inicio <strong>do</strong> século XX, a capital <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong> é ainda uma cidade de dimensão acanhada evida social dinamizada pela fé. Apertada em um pequenoplatô, situa<strong>do</strong> a meia encosta <strong>do</strong> grande afloramentogranítico que <strong>do</strong>mina a ilha, o núcleo urbano, estendi<strong>do</strong>em uma área pouco diferente daquela existente no séculoXVIII, estava constituí<strong>do</strong> pelo <strong>do</strong>mínio arquitetônico<strong>do</strong>s sobra<strong>do</strong>s herda<strong>do</strong>s <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> colonial, e pelapresença diferenciada das igrejas, especialmente da antigaSão Tiago, construção jesuítica ainda intocada.Contu<strong>do</strong>, esse cenário urbano e social não demorará aser transforma<strong>do</strong>. Recente, a República enseja mudançasde dimensão e multiplicidade capazes de fazer deVitória uma nova e moderna cidade. É preciso estruturare aparelhar o Esta<strong>do</strong>, mas, sobretu<strong>do</strong>, é preciso fazerda cidade o lugar de intercâmbio de valores. Esses podemser fisicamente ergui<strong>do</strong>s, mas precisam, também,ser simbolicamente representa<strong>do</strong>s. Fazem parte desseprojeto, formar mentalidades, educar gestos, conformarusos e atualizar costumes sociais. Um <strong>do</strong>s caminhos éo da educação de homens nos valores da civilização,especialmente europeia; educação que se promove melhoran<strong>do</strong>,amplian<strong>do</strong> e construin<strong>do</strong> escolas, organizan<strong>do</strong>e arquivan<strong>do</strong> <strong>do</strong>cumentos, constituin<strong>do</strong> acervos econstruin<strong>do</strong> bibliotecas e arquivos.Cria<strong>do</strong> em 18 de julho de 1908, no contexto de afirmaçãode instituições de inserção cívica na sociedadecapixaba, promovida pelo então presidente <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>Jerônimo Monteiro, o Archivo Público Espírito-Santensefoi provisoriamente instala<strong>do</strong> no edifício <strong>do</strong> Palácio <strong>do</strong>Governo, atual Anchieta, como um acervo anexo ao daBiblioteca Estadual. Nesse momento, entre seus objetivosestá o abrigo de <strong>do</strong>cumentos de diferentes origens,legislativa, executiva e judiciária, e âmbitos, como histórico,geográfico, literário e artístico. Contu<strong>do</strong>, sua relevânciainstitucional se consolidará apenas nos anos de1920 quan<strong>do</strong>, por iniciativa da presidência estadual deFlorentino Avi<strong>do</strong>s, entre 1924 e 1926, é construí<strong>do</strong> umedifício especialmente destina<strong>do</strong> ao Arquivo Público <strong>do</strong>Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>.Situa<strong>do</strong> na rua Pedro Palácios, via da Cidade Alta queliga diretamente o Palácio Anchieta e a Catedral Metropolitana,de localização próxima ao Palácio DomingosMartins, à Escola Maria Ortiz e ao Palácio da Justiça, oArquivo Público <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong> constituiimportante conjunto histórico e arquitetônico estadual.Quan<strong>do</strong> de sua construção, a Pedro Palácios é umavia <strong>do</strong>minada por sobra<strong>do</strong>s de configuração tradicional,implanta<strong>do</strong>s sobre os limites laterais e a testada frontal<strong>do</strong> terreno. Nesse contexto urbano, o prédio <strong>do</strong> ArquivoPúblico se destacava por sua discreta austeridade,modelada com forte influência da linguagem clássicarenascentista.Inicialmente abrigan<strong>do</strong> em suas instalações o ArquivoPúblico Estadual, no térreo e a Biblioteca PúblicaEstadual, no primeiro pavimento, a destinação exclusivade seus espaços às atividades arquivistas se dá a partir<strong>do</strong> início <strong>do</strong>s anos 1980, um ano após a transferência dabiblioteca para sede localizada na Enseada <strong>do</strong> Suá. Essaalteração suscita a adaptação das estruturas precedentes,


403visan<strong>do</strong> seu funcionamento com a incorporação deatividades de restauração de papel e microfilmagem de<strong>do</strong>cumentos; e a ampliação de sua área resultante daconstrução de anexo localizan<strong>do</strong> no fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> terreno.Arquitetonicamente edifica<strong>do</strong> em <strong>do</strong>is pavimentos, oArquivo tem sua presença anunciada no pavimento térreo,pelo tratamento rustica<strong>do</strong> <strong>do</strong> reboco e pela portade acesso, e se fortalece no pavimento superior. Aí, adisposição concentrada de elementos arquitetônicos éresponsável pela configuração de um eixo de simetriaonde, em sequência, se sobrepõem um emolduramentodiferencia<strong>do</strong> <strong>do</strong> vão de porta e uma discreta elevaçãoda platibanda. No regular conjunto, o tratamento dassuperfícies das fachadas, a composição hierárquica e oajuste proporcional entre as partes e o to<strong>do</strong> são estratégiasexploradas na caracterização arquitetônica <strong>do</strong> edifício.Assim, se o pavimento térreo, diferenciadamenterustica<strong>do</strong> para conferir peso, recebe janelas valorizadaspor austera bossagem; com sua aparência refinada,resultante da aplicação de reboco liso, o primeiropavimento é composto por equilibrada disposição dejanelas ornadas por molduras em argamassa. Elementode transição, uma cimalha percorre horizontalmente asfachadas, acentua a nobre expressão desejada. Inspiradana disciplina e na ordem para o exterior, internamenteuma contida expressividade se manifesta na escada deligação de pavimentos, artesanalmente construída emmadeira ornada, e na ornamentação de paredes compintura <strong>do</strong> tipo estêncil, especialmente localizadas emsua porção superior.Construtivamente, o Arquivo é um tradicional edifícioergui<strong>do</strong> sobre paredes autoportantes de pedras e tijolos,colocadas sobre alicerces de pedras, responsáveis peloapoio das vigas horizontais, os barrotes de madeira, sobreos quais foi fixa<strong>do</strong> tabua<strong>do</strong>, também em madeira.Na cobertura, em sua situação original, a telha-francesade barro estruturava-se em madeira de lei. Material preferi<strong>do</strong>para o acabamento, a madeira se repete em composiçãono forro de teto, executa<strong>do</strong> segun<strong>do</strong> o tipo saiae camisa, com tabeira e aba, poden<strong>do</strong> ser vislumbra<strong>do</strong>em sua situação original no vestíbulo da escada. Complementarmentesão escolhi<strong>do</strong>s os modernos materiaisda época, como o ferro, utiliza<strong>do</strong> na fabricação <strong>do</strong> gradilda bandeira da porta principal, o ladrilho hidráulico,originalmente usa<strong>do</strong> no revestimento <strong>do</strong> piso <strong>do</strong> térreoe posteriormente substituí<strong>do</strong> por diferentes soluções,e o cimento, a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> para a confecção <strong>do</strong>s balcões embalaústre.Elemento decisivo para a expressiva arquitetura, no ArquivoPúblico as janelas e suas esquadrias envidraçadassão responsáveis por generosa ambientação. Mas nãosó. Posicionadas ao longo das fachadas, elas permitemver o mun<strong>do</strong>. Na sala de consulta, antes da ampliaçãoem altura <strong>do</strong>s edifícios situa<strong>do</strong>s na parte posterior <strong>do</strong>terreno, ele era estendi<strong>do</strong> pelas águas da baía de Vitória,por onde navios navegavam anuncian<strong>do</strong> riqueza e sugerin<strong>do</strong>desenvolvimento.REFERÊNCIASALMEIDA, Renata Hermanny de, et al.. <strong>Arquitetura</strong> <strong>do</strong> historicismoem Vitória. Vol. 1, Vitória, Núcleo de Estu<strong>do</strong>s de <strong>Arquitetura</strong> eUrbanismo, Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, 1997.ALMEIDA, Renata Hermanny de; CAMPOS, Martha Macha<strong>do</strong>;FREITAS, José Francisco Bernardino. Méto<strong>do</strong> de intervenção urbanaem área central: o papel da arquitetura no Centro de Vitória (ES). Relatóriofinal (Pesquisa). Vitória, Núcleo de Estu<strong>do</strong>s de <strong>Arquitetura</strong> eUrbanismo, Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, 2000.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Presidente (Florentino Avi<strong>do</strong>s).Mensagem final... 1924-1928. Vitória, 1928.. Presidente (Jerônimo Monteiro). Exposição sobre osnegócios <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> no quadriênio de 1908 a 1912. Vitória, 1913.. Processo de tombamento. Vitória, Conselho Estadual deCultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, nº 05, 1982.. Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura: Gerência de Memória ePatrimônio. Lau<strong>do</strong> técnico – GMP nº 001/2007. Vitória, 25 de maiode 2007.SANTOS, Ademir Ramos <strong>do</strong>s. Um Eterno Cuida<strong>do</strong> com a História.ES Revista. Vol. 1, nº 3, maio 1981, p. 25-7.


VITÓRIA


405Capela de NossaSenhora das NevesConstruída na primeira metade <strong>do</strong> século XIX nosterrenos <strong>do</strong> antigo convento de São Francisco, a Capelade Nossa Senhora das Neves tem sua finalidade originalaban<strong>do</strong>nada já no ano de 1856. Nesse momento, umaepidemia de cólera atinge a população da cidade deVitória, provocan<strong>do</strong> urgentes adaptações de edifíciospúblicos para o atendimento aos necessita<strong>do</strong>s.Localiza<strong>do</strong> em terreno situa<strong>do</strong> fora da área deconcentração urbana mais intensa, o convento de SãoFrancisco se torna ambiente adequa<strong>do</strong> para abrigara necrópole da cidade. Isso se deve, principalmente,ao fato de até então, seguin<strong>do</strong> um hábito antigo,os enterramentos serem efetua<strong>do</strong>s em áreas livressituadas nos terrenos das ordens e irmandadesreligiosas. É nesse contexto de comprometimento <strong>do</strong>quadro sanitário de Vitória, situação agravada comas contínuas epidemias que afligem os mora<strong>do</strong>res dacidade durante toda a segunda metade <strong>do</strong> século XIX,que a Capela de Nossa Senhora das Neves passa aabrigar o necrotério da cidade. Essa situação de usose mantém até o ano de 1908 quan<strong>do</strong>, por iniciativada administração estadual de Jerônimo Monteiro,é construí<strong>do</strong> o cemitério de <strong>Santo</strong> Antônio, bairroantigo da cidade, situa<strong>do</strong> às margens da baía, em suaporção noroeste, além da Vila Rubim.Desocupada, a Capela de Nossa Senhora das Nevespassa a abrigar usos que pouco ou nada contribuírampara sua integração ao cotidiano <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res ouusuários da cidade de Vitória, e mesmo daqueles de suaárea central. Em sua situação mais adversa, é ocupadapor famílias de favela<strong>do</strong>s, até que, no final da décadade 1940 e durante toda a década de 1950, passa a sediara Comissão Espírito-santense de Folclore, perío<strong>do</strong> emque abriga exposições de artesanato capixaba.De volumetria originada por planta em cruz grega,em espaço composto por nave, capela-mor e duassacristias, o edifício tem sua configuração <strong>do</strong>minadapela opacidade de espessas paredes executadas emalvenaria portante de pedra, onde pequenas janelasestão dispostas de forma equilibrada e simetria<strong>do</strong>minante. De dimensões e escala modestas, oconjunto se destaca em seu entorno pela unidade desua composição. Singela e modesta, a capela é umasequência de brancas superfícies recortadas por janelasvedadas por esquadrias de madeira em venezianae vidro, das quais se destaca a fachada frontal. Emalça<strong>do</strong> configura<strong>do</strong> pela disposição de austero, masimponente, frontão de volutas singelas, ladea<strong>do</strong> por<strong>do</strong>is pináculos, a entrada da pequena capela, uma portaconstituída por folhas secas e bandeira em madeira evidro, está delineada por cantaria em arco pleno, porsua vez contorna<strong>do</strong> por moldura de argamassa emacabamento liso. O telha<strong>do</strong>, um conjunto de múltiplosplanos cobertos com telha de barro capa-canal, tempor acabamento uma cimalha executada em argamassaque contorna o perímetro superior das paredes.Inserida no morro de São Francisco e situada em posi-


VITÓRIAção excêntrica ao núcleo urbano da cidade, junto como frontispício <strong>do</strong> antigo convento e igreja de São Francisco,a pequena capela se diferencia em seu entornopelo caráter bucólico advin<strong>do</strong> <strong>do</strong> ambiente ainda <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>pela vegetação <strong>do</strong> morro da Fonte Grande.Alterações nessa relação se iniciam com a abertura darua Uruguai e a consequente urbanização promovidapela construção de edifícios residenciais, unifamiliares,num primeiro momento, e multifamiliares já nosanos de 1950 e 1960. Posteriormente intensificada, adesconexão funcional e visual da capela em relação aoCentro de Vitória corresponde ao ritmo e à intensidadeda verticalização que se segue.CAPELA DE NOSSA SENHORA DAS NEVESRua Solda<strong>do</strong> Abílio <strong>Santo</strong>s, nº 47Centro, VitóriaProteção legal: Resolução nº 2/1984<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 77, folhas 8v e 9REFERÊNCIASALMEIDA, Renata Hermanny de; CAMPOS, Martha Macha<strong>do</strong>;FREITAS, José Francisco Bernardino. Méto<strong>do</strong> de intervenção urbanaem área central: o papel da arquitetura no Centro de Vitória (ES). Relatóriofinal (Pesquisa). Vitória, Núcleo de Estu<strong>do</strong>s de <strong>Arquitetura</strong>e Urbanismo, Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, 2000.ELTON, Elmo. Velhos templos de Vitória & outros temas capixabas.Vitória, Conselho Estadual de Cultura, 1987.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura,nº 04, 1982.


VITÓRIA


411Capela de Santa LuziaConsiderada a construção mais antiga de Vitória, nomea<strong>do</strong> <strong>do</strong> século XVI a Capela de Santa Luzia foierguida na então ilha de <strong>Santo</strong> Antônio por desejode Duarte de Lemos, seu proprietário por <strong>do</strong>açãorecebida em 1537 <strong>do</strong> primeiro <strong>do</strong>natário da capitania<strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, Vasco Fernandes Coutinho. Segun<strong>do</strong>consta, Lemos a teria manda<strong>do</strong> construir em suas terraspara incentivar a devoção e aprimorar a educação deseus familiares e escravos. Além da capela, a fazendaestaria constituída de uma residência, um engenho deaçúcar e um quitungo para fazer farinha; um conjuntoexpressivo, se considerada a brevidade da estadia deDuarte de Lemos na capitania, já que de 1540 a 1549ele presumivelmente se encontra em Portugal, e atuacomo capitão-mor de Porto Seguro por quatro anos, apartir de 1550.Já no ano seguinte, após tentativas de resistir aos ataquesde indígenas à vila <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, o <strong>do</strong>natário transferea sede da capitania para a ilha de <strong>Santo</strong> Antônio. Aí,lentamente, e com muitas dificuldades, os coloniza<strong>do</strong>res,aos quais se haviam junta<strong>do</strong> os padres jesuítas, fazemsurgir uma Vila Nova, a seguir denominada Vila deNossa Senhora da Vitória. Essa, como na tradiçãoportuguesa, ocupa as áreas mais propícias à defesa, ouseja, nas altas terras da fazenda de Duarte de Lemos.Assim, cerca de <strong>do</strong>is séculos após esse acontecimento,em 1767, é possível reconhecer a Capela de Santa Luziano conjunto edifica<strong>do</strong> da Vila de Vitória, ten<strong>do</strong>, à suafrente, um pequeno largo, resultante <strong>do</strong> encontro dediversos caminhos convergentes. Essa situação serámantida até as primeiras décadas <strong>do</strong> século XX, quan<strong>do</strong>intervenções moderniza<strong>do</strong>ras promovem a alteraçãode seu entorno. Até então, a Capela é uma delicadaconstrução emparedada entre duas outras, erguidasobre afloramento de pedra, condição responsável porseu discreto destaque.Com relação à sua destinação, a informação maisremota data <strong>do</strong> ano de 1845 quan<strong>do</strong>, por lei provinciala Irmandade de Nossa Senhora <strong>do</strong>s Remédios secompromete a zelar e conservar a capela. Essa promovialeilões e realizava concorridíssima procissão no dia 13de dezembro, conduzin<strong>do</strong> os an<strong>do</strong>res de Santa Luziae Nossa Senhora <strong>do</strong>s Remédios pelas estreitas ruasda cidade, em festas anuais anunciadas com fogosde artifícios e iniciadas com missa solene. Homenshumildes, entre seus fiéis destacaram-se Manoel <strong>do</strong>sRemédios e Maturino, esse um ex-escravo <strong>do</strong> padre


VITÓRIAJoaquim de Santa Maria Madalena Duarte. Devem tersi<strong>do</strong> os principais responsáveis pela manutenção <strong>do</strong>edifício e pela promoção das procissões, pois após amorte de ambos raramente se faz festa, entran<strong>do</strong> aigreja em decadência. Ainda assim, nas duas primeirasdécadas <strong>do</strong> século XX, eram celebradas missas semanais,situação mantida até 1928, apesar da precariedade desua conservação.Provavelmente em desuso e aban<strong>do</strong>nada, a pequenacapela sofre grave arruinamento, somente reverti<strong>do</strong> noano de 1943 após ação de restauro conduzida por AndréCarloni, representante <strong>do</strong> então SPHAN no Espírito<strong>Santo</strong> reprojetista e construtor <strong>do</strong> Theatro CarlosGomes e <strong>do</strong> Palácio Domingos Martins, entre váriosoutros edifícios de Vitória. A partir desse momento,de posse <strong>do</strong> governo estadual, a capela é adaptada paraabrigar o Museu de Arte Religiosa, uso manti<strong>do</strong> poraproximadamente trinta anos, e parcialmente altera<strong>do</strong>em 1976, quan<strong>do</strong> nela se instala a Galeria de Arte ePesquisa, da Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>.Além de garantir o uso <strong>do</strong> secular edifício, a organização<strong>do</strong> Museu promoveu uma intensa mobilizaçãode cidadãos, to<strong>do</strong>s interessa<strong>do</strong>s em participar na constituição<strong>do</strong> acervo. Assim, iniciada por personalidadespolítica e socialmente relevantes, como o interventorJoão Punaro Bley, Mario Aristides Freire, Américo PoliMonjardim e a Comissão Administra<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> Museu, ainiciativa se amplia com o envolvimento de numerososresidentes anônimos. Em conjunto, as <strong>do</strong>ações incluírampeças religiosas como alfaias, missais, rosário,resplen<strong>do</strong>res, imagens em madeira e terracota, senhorcrucifica<strong>do</strong>, e também peças de arte popular de manufaturalocal, realizadas por escravos e índios. Mais, a organização<strong>do</strong> Museu possibilitou a retomada de bensde valor inestimável, muitos originalmente pertencentesàs primeiras construções religiosas da cidade, como asimagens em madeira de São Francisco de Assis, SantaAna e Nossa Senhora das Dores, pertencentes ao conventode São Francisco, e Nossa Senhora da Conceição,da igreja <strong>do</strong>s jesuítas de Vitória.A capela ocupava a parte mais elevada da fazenda e,posteriormente, da vila emergente. Assim, é possívelimaginar que, junto com a residência, tenha si<strong>do</strong> edificadade maneira a ser vista à distância e, sobretu<strong>do</strong>, permitiramplo <strong>do</strong>mínio das terras. Da residência não hávestígio algum. Contu<strong>do</strong>, o porte da capela sugere usorestrito aos familiares, agrega<strong>do</strong>s e escravos da fazenda,o que por sua vez indica uma provável proximidade emrelação à morada de Duarte de Lemos.Construída sobre um afloramento de pedra, a pequenaedificação emerge em delica<strong>do</strong> equilíbrio resultanteda adaptação às irregularidades da sua base granítica,condição determinante de uma particular presença noconjunto urbano da rua José Marcelino. Como nas maisprimitivas construções religiosas, Santa Luzia é uma pequena“caixa de pedra”, destacada pela branca continuidade<strong>do</strong>s muros da alvenaria de pedra, coberta por telhascapa-canal de barro. Seguin<strong>do</strong> a forma de sua base,ela foi posicionada com o altar-mor orienta<strong>do</strong> para ola<strong>do</strong> <strong>do</strong> nascente, situação repetida na totalidade dasigrejas situadas nos limites <strong>do</strong> pequeno platô escolhi<strong>do</strong>para instalar a vila de Vitória.Para vencer o desnível entre a rua e o interior da capelinha,sobe-se por uma escada escavada diretamente napedra. Essa, com seu perfil irregular e sua linear disposiçãojunto à fachada mais longa <strong>do</strong> edifício, é responsávelpor inusitada aproximação ao sítio, em sua dupladimensão histórica e geográfica. Pela escada chega-se aum patamar igualmente imperfeito, para o qual se abreuma portada de híbrida configuração.Não só ela. Resultante das fusões transcorridas aolongo <strong>do</strong>s mais de quatro séculos de existência, externae internamente, Santa Luzia é um amálgama de tempos


413técnicos e artísticos. Inicialmente uma severa obra dearquitetura delineada pelo rigor das alvenarias de pedra,apenas pontualmente rompi<strong>do</strong> por janelas e portas, comfrontaria marcada pelo retilíneo traço renascentista; emalgum momento da linha <strong>do</strong> tempo a capela recebe traçosbarroquistas, presentes em sua fachada e no interior.Na fachada, a atualização se faz evidente no movimenta<strong>do</strong>perfil de <strong>do</strong>is delica<strong>do</strong>s frontões, um sobre aportada e outro sobre a sineira. Apoia<strong>do</strong>s em cimalhasmodeladas com diferentes perfis, os <strong>do</strong>is frontões estãoigualmente ladea<strong>do</strong>s por coruchéus. O maior correspondenteà entrada, é o mais orna<strong>do</strong>, receben<strong>do</strong> relevosem forma de coroa e ramos, simetricamente dispostossobre a empena, e um delica<strong>do</strong> crucifixo no vértice superior.O menor está situa<strong>do</strong> sobre a sineira. Essa, justapostae com prumada seguin<strong>do</strong> o paramento da fachada,está delineada por falsos cunhais ressalta<strong>do</strong>s pordiscreta rusticação.


415Reminiscência da edificação quinhentista, como numtúnel <strong>do</strong> tempo, o umbral da portada é severa passagempara o interior de uma modesta nave, apenas realçadapor precioso retábulo esculpi<strong>do</strong> em madeira colorida e<strong>do</strong>urada com pintura provavelmente contemporânea àsmodernizações <strong>do</strong> frontispício. Posiciona<strong>do</strong> em estreitoaltar-mor, separa<strong>do</strong> da nave por amplo arco cruzeiro, oretábulo de Santa Luzia apresenta fina talhada ornadacom flores e frutas estilizadas, valoriza<strong>do</strong> pela luminosaclaridade promovida pela pequena janela existente naparede frontal. A sofisticação da nave também pode serreconhecida na execução de sua cobertura, internamentevisível nos três tirantes estruturais e no forro em gamela,executa<strong>do</strong> em tabua<strong>do</strong> de madeira, material quese repete no piso.Ainda na nave, um púlpito executa<strong>do</strong> em madeira naforma septaédrica encontra-se situa<strong>do</strong> sobre paredelateral direita. O acesso a ele se realizava pela ala lateral.Essa, provavelmente o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> fechamento de umprimitivo alpendre, local de abrigo para os festeiros epalco para os leilões das quermesses, está dividida porparedes executadas com modernos materiais. Aí, aofun<strong>do</strong>, e em nível mais eleva<strong>do</strong>, situa-se a sacristia, comseu piso em tijoleira que, por sua vez, liga-se ao altarmorpor meio de íngreme escada em madeira, de um sólance. Além da escada, uma porta liga a sacristia ao altar.Os desníveis encontra<strong>do</strong>s no interior da Capela de SantaLuzia são uma das formas de expressão, interna, <strong>do</strong>irregular solo pétreo sobre o qual a capela foi erguida.todas executadas com duas folhas almofadadas em madeira,enquadradas em ombreira e verga curva <strong>do</strong> mesmomaterial.Mas, seguramente é na alvenaria oposta ao altar-moronde se encontram os vestígios mais significativos dahistórica transformação de Santa Luzia. Revelada emduas seteiras emparedadas pela construção vizinha, eem registros fotográficos de um sino existente sobreessa fachada, ela encontra-se oculta pelas camadas derevestimento que um dia fecharam um óculo centralmenteposiciona<strong>do</strong> sobre sua empena.Por tu<strong>do</strong> isso, a Capelinha que um dia abrigou a irmandadede Nossa Senhora <strong>do</strong>s Remédios, devota de SantaLuzia, é uma joia rara. Sua pequenez e sua solidez foramprotegidas pelo singelo telha<strong>do</strong> colonial, uma esparramadacobertura, disposta sobre uma bela cornija de beira,sobeira e bica, de perfeita execução.A ala lateral, coberta por plano inclina<strong>do</strong>, apresenta seisjanelas modernamente fechadas com dupla esquadria;uma interna, com folhas duplas em tabua<strong>do</strong> de madeiracom juntas em macho-fêmea, e outra externa, deguilhotina em caixilho de madeira e vidro. Essas, juntocom enquadramento e a verga reta, são claros sinais deintervenções promovidas nos séculos XIX e XX, situaçãorepetida nas portas internas e na porta de entrada,


VITÓRIACAPELA DE SANTA LUZIARua José Marcelino, Centro, VitóriaTombamento em 1º/08/1946 peloInstituto <strong>do</strong> Patrimônio Histórico e Artístico NacionalInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 245, folhas 41 (4)REFERÊNCIASACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. L. (org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>s noEspírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretaria deEsta<strong>do</strong> de Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.DRUMOND, Andréia. Convivência de épocas. Integração de um Museude Arte Sacra à Capela de Santa Luzia. Monografia (Graduação).Vitória, Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, Departamento de<strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo, 2004.FACHETTI, Myrion Syrrah. Restauração da Capela de Santa Luzia:primeira fase. Trabalho de disciplina (Graduação). Vitória, UniversidadeFederal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, Departamento de <strong>Arquitetura</strong> eUrbanismo, Patrimônio Histórico, Artístico e <strong>Cultural</strong>, 1995.IPHAN. Documentação <strong>do</strong> arquivo. Vitória, Instituto <strong>do</strong> PatrimônioHistórico e Artístico Nacional.


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419Catedral Metropolitanade VitóriaErguida no exato lugar onde esteve edificada a singelamatriz de Vitória, uma construção datada de mea<strong>do</strong>s<strong>do</strong> século XVI e reconstruída na passagem <strong>do</strong> séculoXVIII para o século XIX, a Catedral Metropolitana éparte <strong>do</strong> projeto de modernização cultural da capital,<strong>do</strong>minante na primeira metade <strong>do</strong> século XX.Seu primeiro projeto, executa<strong>do</strong> em 1913 por PauloMotta, o mesmo que havia traça<strong>do</strong> o Parque Moscoso,segue linhas neogóticas, com fachada composta portorre única, em edifício de escala modesta. Começadana véspera <strong>do</strong> início <strong>do</strong> primeiro conflito mundial, aobra da catedral é paralisada em 1918, provavelmentecomo reflexo das restrições econômicas impostas pelaguerra. Sua retomada se dará apenas em 1930, agoraem novo projeto, executa<strong>do</strong> pelo influente construtorAndré Carloni, o mesmo que recentemente havia projeta<strong>do</strong>e construí<strong>do</strong>, na Praça Costa Pereira, o TheatroCarlos Gomes.Um momento histórico de gosto mutante e aspiraçõescrescentes, a Catedral de Motta deve ter pareci<strong>do</strong> poucoadequada, pois, em sua nova versão, ainda que inspiradanas linhas da arquitetura gótica, sua dimensão é ampliadae sua fachada alterada e marcada pela projeção deduas torres. Internamente inaugurada em 1933, a catedralde Vitória estará definitivamente concluída apenasem 1971, após contínuas paralisações.A nova Catedral de Carloni inclui ainda outras modificaçõescomo a abertura de portas laterais, localizadas nasnaves <strong>do</strong> transepto, e de um respira<strong>do</strong>uro para a cripta,e a execução da Capela <strong>do</strong> Santíssimo Sacramento e dasacristia. Da construção projetada por Motta, Carloni


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VITÓRIAaproveita seus vitrais visan<strong>do</strong> obter unidade entre a navee o transepto. Para isso, desloca vitrais localiza<strong>do</strong>s nopresbitério, substituin<strong>do</strong>-os por peças pré-moldadas decimento e areia. Complementa a organização e a composiçãocom a elevação da parte frontal <strong>do</strong> presbitério,a disposição de uma grande cruz em eixo com a nave,e a construção de <strong>do</strong>ze nichos ossários e um sarcófagona cripta. Na nave propriamente dita, Carloni retiraos altares laterais e as imagens das paredes, buscan<strong>do</strong>assim, uma semelhança estilística com o neogótico pre<strong>do</strong>minantenas fachadas. Estruturalmente, são tambémexecuta<strong>do</strong>s serviços de reparo buscan<strong>do</strong> recuperar astorres. Como resulta<strong>do</strong> desse conjunto de intervençõesse a Matriz já se destacava em altura e dimensão <strong>do</strong> restanteda cidade, o novo prédio multiplicou ainda mais a desproporçãoentre as escalas. Pouco a pouco sob os andaimes,surgia a Catedral com suas torres, pináculos, rendilha<strong>do</strong>s,arcos ogivais, abóbadas de nervuras e vitrais. O estilo Neogóticoera considera<strong>do</strong> o mais excelente para representara mística religiosa e renovar a antiga matriz colonial; e, porconseguinte, para representar também a renovação e o progressomaterial e cultural que invadia a cidade. (PRADO,2002).da cidade, propagan<strong>do</strong> a inserção da Igreja na vida sociale cultural de Vitória, a trama de significa<strong>do</strong>s da CatedralMetropolitana é tão antiga quanto viva. De duração vinculadaà genealogia da cidade e à experiência articuladapela rede de vivências cotidianas e acontecimentoscomemorativos da devoção religiosa, sua presença estáfirmada no imaginário <strong>do</strong>s capixabas. Destaca-se, nessesenti<strong>do</strong>, por testemunhar a cada <strong>do</strong>ze meses a saída daprocissão <strong>do</strong>s homens durante os festejos comemorativosda devoção à padroeira <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, NossaSenhora da Penha. Mas não só. O adro da catedral, quena Festa da Penha é ponto de partida, recebe a procissãode São Benedito <strong>do</strong> Rosário <strong>do</strong>s Homens Pretos,que ali conclui seu percurso a cada dia 27 de dezembro,após percorrer ruas <strong>do</strong> Centro de Vitória.A fachada frontal é uma composição tripartite <strong>do</strong>minadapela disposição de suas duas torres, e pela disposiçãocentralizada da entrada principal, uma porta de vergareta e um vitral, arremata<strong>do</strong>s por modenaturas ogivais.A centralidade desse corpo é reforçada por seu coroamentoem frontão triangular culmina<strong>do</strong> pela imagem deNossa Senhora Auxilia<strong>do</strong>ra com o Menino Jesus, e peladisposição bilateral das duas torres onde vãos ogivaisapresentam terminações piramidais ricamente trabalhadas.Essa decoração se repete nas demais fachadas <strong>do</strong>edifício.Internamente, o edifício se constitui pela sequência decoro, nave, transepto, capela-mor, sacristia, e cripta, emconstrução erguida modernamente com a utilização daestrutura em concreto arma<strong>do</strong>, emprega<strong>do</strong> à maneiradas pedras das catedrais góticas, e paredes preenchidaspor tijolos maciços e vitrais.Edifício urbano ergui<strong>do</strong> para se diferenciar na paisagem


425CATEDRAL METROPOLITANA DE VITÓRIAPraça Dom Luiz Scortegagna, Centro, VitóriaProteção Legal: Resolução nº 2/1984<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 74, folhas 8v e 9REFERÊNCIASACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. L. (org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>s noEspírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretariade Esta<strong>do</strong> de Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.ALMEIDA, Renata Hermanny de; CAMPOS, Martha Macha<strong>do</strong>;FREITAS, José Francisco Bernardino. Méto<strong>do</strong> de intervenção urbanaem área central: o papel da arquitetura no Centro de Vitória (ES). Relatóriofinal (Pesquisa). Vitória, Núcleo de Estu<strong>do</strong>s de <strong>Arquitetura</strong> eUrbanismo, Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, 2000.CASTRO, Andressa Egito de. Web Vitória: divulgação da evoluçãourbana e da arquitetura <strong>do</strong> Centro de Vitória na internet. Monografia(Graduação). Vitória, Departamento de <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo,Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, 1998.CURBANI, Sáira Glazar. Cidade alta: uma viagem no tempo. Monografia.(Graduação). Vitória, Departamento de <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo,Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, 2000.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, nº04, 1982.FUNDAÇÃO JONES DOS SANTOS NEVES. Patrimônio históricoda Grande Vitória: edificações a serem preservadas em Vitória. Vitória,maio, 1978, 222 p..PRADO, Michele Monteiro. A Modernidade e o seu retrato: imagens erepresentações da paisagem urbana de Vitória (1890 - 1950). Dissertação(Mestra<strong>do</strong>). Salva<strong>do</strong>r, Programa de Pós-Graduação em <strong>Arquitetura</strong>e Urbanismo, Universidade Federal da Bahia, 2002.ZILMO JÚNIOR, Henrique. André Carloni: viven<strong>do</strong> a construção da cidade.Monografia (Graduação). Vitória, Departamento de <strong>Arquitetura</strong>e Urbanismo, Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, 2002.


VITÓRIAChafariz da CapixabaAssocia<strong>do</strong> ao embelezamento e à melhoria das condiçõesde circulação na cidade, o controle sanitário é umaquestão fundamental das políticas de urbanização nodecorrer <strong>do</strong> século XIX, principalmente a partir <strong>do</strong> últimoquartel, e, em especial, com o advento da República.Nesse contexto, o abastecimento de água é considera<strong>do</strong>o principal melhoramento a ser conquista<strong>do</strong>.Em Vitória, a conservação <strong>do</strong>s mananciais de água potávele sua canalização se destacam como necessáriasà garantia <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> sanitário da cidade. Entretanto, aregularização <strong>do</strong> abastecimento de água na cidade nãose torna realidade senão durante o governo de JerônimoMonteiro (1908-1912), quan<strong>do</strong> é instalada uma redede abastecimento, por meio de bicas, poços artesianose chafarizes.Pelo Decreto nº 15 de 27 de maio de 1893, existem trêsseções de fiscalização e conservação das fontes e <strong>do</strong>schafarizes. A primeira seção compreendia o reservatórioda Fonte Grande e os chafarizes das praças CostaPereira e Alfândega e <strong>do</strong> Cais <strong>do</strong> Impera<strong>do</strong>r; a segunda,o reservatório da Capichaba e os chafarizes da rua CristóvãoColombo; e a terceira, o reservatório da Lapa eo chafariz da Vila Moscoso. Servin<strong>do</strong> aos habitantes daCidade Alta, havia, ainda, um chafariz na esquina da ruaMuniz Freire, junto ao largo da capela de Santa Luzia.Com a implantação <strong>do</strong> sistema de abastecimento deágua, por meio da instalação de rede <strong>do</strong>miciliar, comtubos de ferro, em 1910, estes chafarizes foram demoli<strong>do</strong>s,com exceção <strong>do</strong> Chafariz da Capichaba. Desativa<strong>do</strong>,ele é testemunha de um tempo cujas marcas foramapagadas com as sucessivas transformações <strong>do</strong> espaçourbano de Vitória. Mas, não só. A inexistência de registrosdessas fontes e chafarizes é indício <strong>do</strong> desejo<strong>do</strong> esquecimento. Esquecimento de um passa<strong>do</strong> ti<strong>do</strong>como velho e como sinal de atraso.Em sua passagem pelo Espírito <strong>Santo</strong>, em 1818, AugusteSaint-Hilaire, descreve suas impressões acerca deVitória. Entre elas, a precariedade material da cidade égeneralizada, seja no traça<strong>do</strong> das ruas, seja na aparênciae nas dimensões <strong>do</strong>s edifícios, entre os quais, segun<strong>do</strong>o viajante francês, alguns têm janelas com vidraças elindas varandas trabalhadas na Europa. Na cidade privadade ornato, também os espaços públicos, as ruas,os largos e as praças o impressionam. Em suas palavrasas ruas “são calçadas, porém mal, têm pouca largura, não apresentan<strong>do</strong>qualquer regularidade”. Da mesma forma, registra“fontes públicas, que também não concorrem para embelezar acidade, mas, pelo menos, fornecem, aos habitantes, água de excelentequalidade”.A construção <strong>do</strong> Chafariz da Capichaba, de 1828, é umainiciativa <strong>do</strong> governo <strong>do</strong> presidente Ignácio Accioli deVasconcellos, ano em que se dá a ampliação <strong>do</strong>s chafarizesda Lapa e da Fonte Grande, construí<strong>do</strong>s no séculoanterior. Ainda assim, a insuficiência <strong>do</strong>s mananciais de


427CHAFARIZ DA CAPIXABARua Barão de Monjardim, Centro, VitóriaProteção Legal: Resolução nº 8/1989 <strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Histórico sob o nº 174, folhas 29v e 30e no Livro de Tombo das Belas Artes sob o nº 109, folhas 20v e 21


VITÓRIAVitória origina estratégias alternativas, como o transporteda água de rios próximos, a exemplo <strong>do</strong> Marinhoe <strong>do</strong> Jucu, por meio de canoas, ou ainda, de poços artesianos.A contratação <strong>do</strong> fornecimento de água emcarroças era outra solução a<strong>do</strong>tada, até a implantação<strong>do</strong> sistema “moderno” de abastecimento, por JerônimoMonteiro.Executadas pelo mestre-pedreiro Francisco Pinto deJesus, iniciadas em 12 de fevereiro de 1828 e finalizadasem 02 de março <strong>do</strong> mesmo ano, as obras <strong>do</strong> Chafarizda Capichaba compreendem a construção de pórticoprotetor da nascente de água da Fonte Grande e de umaqueduto. O chafariz, propriamente, fica concluí<strong>do</strong> em1850, a partir das obras executadas no governo de FelipePereira Leal. Não se conhece sua configuração naquelemomento, entretanto, sabe-se que, anexo à fonte, existia,desde 1848, um local para a lavagem de roupas. De to<strong>do</strong>mo<strong>do</strong>, não deve ter si<strong>do</strong> uma construção muito sólida,pois em 1855 é realizada reforma <strong>do</strong>s encanamentos.Novas alterações ocorrem ao longo das últimas décadas<strong>do</strong> século XIX. A primeira, em 1878, realizada nogoverno interino de Alfeu Adelfo Monjardim, resultana construção também anexa à fonte, de uma casa de“banhos frios”. Em 1929, o Chafariz da Capixaba estavaconstituí<strong>do</strong> de uma caixa d’água; mas sua parede eo largo fronteiriço são formaliza<strong>do</strong>s apenas no final dadécada de 1940, com as obras realizadas na administraçãode Américo Poli Monjardim.Realizadas por Laurentino Proença, as obras resultaramna reconstrução total <strong>do</strong> chafariz, respeitan<strong>do</strong>-se sempre[suas] linhas originais. Depois dela, a alteração mais significativaocorre na década de 1970, quan<strong>do</strong> é realizadaa substituição da azulejaria de recobrimento da base daparede <strong>do</strong> chafariz, a inscrição da sigla “PMV” no interiorde um medalhão em alto relevo, a elevação <strong>do</strong> piso<strong>do</strong> largo, e a construção de mureta contornan<strong>do</strong> o mesmo.Em outra intervenção foram retira<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is lampiõesque ladeavam a frontaria <strong>do</strong> chafariz, e <strong>do</strong>is pináculosque encimavam suas duas pilastras. As duas torneirasgrandes, de colo e bico de cisne, inseridas em 1939/40, foramposteriormente roubadas.Desativa<strong>do</strong> o Chafariz, a água da Fonte da Capixaba jánão corre pelo aqueduto, uma alvenaria de pedra encimadapor canais compostos de telha cerâmica, tipobica. Esses encontram-se secos, e a profética lenda,Quem bebe água na fonte da Capichaba não sairá mais de Vitória,perdida no tempo.O Chafariz da Capixaba localiza-se junto à entrada <strong>do</strong>Parque Municipal Gruta da Onça, pertencente à Áreade Proteção Ambiental <strong>do</strong> Maciço Central onde se situam,ainda, a área remanescente de Mata Atlântica <strong>do</strong>Parque Estadual da Fonte Grande, a Reserva EcológicaPedra <strong>do</strong>s Olhos, e o Parque <strong>do</strong> Tabuazeiro. Ocupan<strong>do</strong>expressiva área da ilha de Vitória, o Parque da FonteGrande é ambiente onde podem ser observadas espéciesarbóreas como o angico, a sapucainha, o louro, opau-d’alho, o juazeiro, o jacarandá-bravo, a embaúba,a unha-de-vaca, a quixabeira. Da fauna, é refúgio, porexemplo, para o sagui-da-cara-branca, e de encanta<strong>do</strong>rasborboletas azuis.Construí<strong>do</strong> em alvenaria de pedra, o Chafariz compreendiaos terminais de uma canalização, um reservatório,onde se dava a captação de água propriamente dita,e estava provi<strong>do</strong> de duas bicas ou torneiras, por ondecorria a água. Na sua base, encontrava-se uma baciaconstituída de placas de pedra, de borda larga e espessa.Granítica, a bacia é o elemento de maior vínculohistórico funcional.Sem muita fidelidade, o Chafariz da Capixaba é umareconstrução de senti<strong>do</strong> arqueológico <strong>do</strong> lega<strong>do</strong> lusitanoe <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> colonial brasileiro, contamina<strong>do</strong> pela


429referência clássica. Numa livre exploração da forma,em composição planimétrica dinamizada pela alternânciade linhas, retas e curvas, e de profundidade, obtidapelo recurso <strong>do</strong> relevo e de molduras, em termosarquitetônicos, o chafariz é uma espessa parede-murocoroada por pesada arquitrave de simplificada modenatura,a mesma que delineia o par de pilares posiciona<strong>do</strong>snos flancos laterais <strong>do</strong> corpo central. Responsáveis peloacento vertical da construção, os pilares eram virtualmentealonga<strong>do</strong>s por <strong>do</strong>is pináculos, posiciona<strong>do</strong>s sobrepesadas bases, dispostas nas extremidades da arquitrave.Um discreto frontão de linha curva, inspira<strong>do</strong> nasedificações religiosas, junto com um par de volutas e orecobrimento da superfície mural inferior por azulejariatonalizada pelo azul, pelo branco e pelo vermelho-terra,são os responsáveis pela referência histórica presente naconfiguração, a arquitetura colonial brasileira. O repertóriose completa no arremate, também curvilíneo, de<strong>do</strong>is segmentos de alvenaria mais baixa, simetricamentedispostos, onde nichos, discretamente cava<strong>do</strong>s na alvenariaportante, são delinea<strong>do</strong>s por arco pleno.REFERÊNCIASASSIS, F. Eugênio de. Fonte Grande. Vida Capixaba. Vitória, 15 demarço de 1940.DEREZI, Luiz Serafim. Biografia de uma ilha. Rio de Janeiro: Pongetti,1965.ESTADO (Espírito <strong>Santo</strong>), Presidente (Jerônimo Monteiro), Mensagemfinal, Vitória, 1911.MUNICÍPIO (Vitória), Prefeito (Américo Poli Monjardim), Mensagemfinal, Vitória.NOVAES, Maria Stella de. História <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória: Fun<strong>do</strong>Editorial <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, s/d.SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem ao Espírito <strong>Santo</strong>. São Paulo:EDUSP : Itatiaia, vol. 6.http://www.vitoria.es.gov.br/secretarias/meio/gruta.htm - Acessoem 08 de dezembro de 2008.http://www.vitoria.es.gov.br/secretarias/meio/fonte.htm - Acessoem 08 de dezembro de 2008.


VITÓRIACONCHA ACÚSTICAParque Moscoso, Centro, VitóriaProteção Legal: Resolução nº 10/1986 <strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrições no Livro <strong>do</strong> Tombo Histórico sob o nº 129, folhas 23 v e 24e no Livro de Tombo das Belas Artes sob o n° 64, folhas 15 v e 16


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433Na metade <strong>do</strong> século XX, a cidade de Vitória inicia umsegun<strong>do</strong> momento de sua modernidade cultural. Comoocorrera até então, o poder público é o principal agente<strong>do</strong>s investimentos de sua ampliação territorial, alcançadacom o aterro da Esplanada da Capixaba, de suamudança de escala, resultante <strong>do</strong> aumento em altura dasconstruções, e de sua nova imagem urbana, obtida coma introdução de equipamentos e edificações ergui<strong>do</strong>ssegun<strong>do</strong> a moderna arquitetura.Entre os governa<strong>do</strong>res especialmente dedica<strong>do</strong>s à implantaçãodas novidades, Jones <strong>do</strong>s <strong>Santo</strong>s Neves sediferencia pelo conjunto de sua iniciativa. Na capital,essa se apresentará de maneira inusitada no cenário <strong>do</strong>Parque Moscoso. Ali, em paisagem <strong>do</strong>minada pelo pitorescode caminhos, lagos, ilha, ruína, pontes e canteirossinuosos, a abstrata e geométrica configuração da ConchaAcústica e <strong>do</strong> Jardim de Infância Ernestina Pessoaé um <strong>do</strong>s sinais da onda de modernização estética porque está passan<strong>do</strong> a cidade. Projeta<strong>do</strong>s pelo arquitetoFrancisco Bolonha, em 1952, escola e concha dialogamentre si na clareza de seu caráter, na intrínseca correspondênciaentre a forma e a função a que se destinam,na qualidade <strong>do</strong> repertório formal com que foram desenha<strong>do</strong>se, sobretu<strong>do</strong>, pelo valor de sua proposta tecnológica,manifesto na escolha <strong>do</strong> sistema construtivo e,especialmente, em sua indissociável expressão formal.inclina<strong>do</strong>, com sua face côncava voltada para o palco. Aplateia, materializada em uma sequência de bancos semencosto dispostos em linhas de curvatura crescente, éum convite à assistência em atenta atitude. A ideia deconjunto é obtida por meio de estratégias de configuraçãoexpressas na a<strong>do</strong>ção da curva, e soluções construtivasresultantes <strong>do</strong> emprego <strong>do</strong> concreto arma<strong>do</strong>,as quais são unificadas no revestimento realiza<strong>do</strong> porpequeninas pastilhas de cerâmica vitrificada na cor azul,para a concha, e nas cores azul e branco, para os bancos.No conjunto, a aparência e a estrutura se encontram emformação de discreto dinâmico equilíbrio.REFERÊNCIASESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, nº06, 1984.MUNIZ, Maria Izabel Perini. Parque Moscoso: <strong>do</strong>cumento de vida. Vitória:Fundação Ceciliano Abel de Almeida & Fundação JôniceTristão, 1985.Construída ainda em 1952, a Concha Acústica <strong>do</strong> ParqueMoscoso é duplamente um elemento escultóricoe arquitetural, condição obtida pela ênfase plástica que<strong>do</strong>mina sua concepção. Em si, é simbólica proteção deum palco de teatro disposto ao ar livre, modernamenteorganiza<strong>do</strong> em <strong>do</strong>is espaços principais, um palco euma plateia, uni<strong>do</strong>s em planta por um prisma de basetrapezoidal. A concha, propriamente, é uma calota esféricafincada em uma porção <strong>do</strong> pavimento cerca<strong>do</strong>por um espelho-d’água, e disposta segun<strong>do</strong> um plano


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435Convento <strong>do</strong> CarmoEntre a chegada <strong>do</strong>s carmelitas calça<strong>do</strong>s no Espírito<strong>Santo</strong>, em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XVII, e o início da construção<strong>do</strong> convento e da igreja de Nossa Senhora <strong>do</strong>Monte <strong>do</strong> Carmo, em 1682, a Ordem Carmelita recebepor herança <strong>do</strong> capitão Manuel Tôrres de Sá uma dasmelhores e mais rentáveis fazendas da província. Situadaem Piranema, terras <strong>do</strong> atual município de Cariacica,a fazenda tinha sua produção baseada no uso <strong>do</strong> trabalhoescravo, o mesmo que deve ter ergui<strong>do</strong> a capela dapropriedade, invocada a Nossa Senhora <strong>do</strong> Desterro.A obra de construção <strong>do</strong> convento tem à frente de suaadministração frei Agostinho de Jesus, considera<strong>do</strong> porvários historia<strong>do</strong>res seu primeiro prior. Em Vitória,os carmelitas não eram numerosos e poucos são osresidentes no convento, entre sua fundação e o ano de1855 quan<strong>do</strong>, por decreto ministerial, é determina<strong>do</strong>o fechamento <strong>do</strong>s novicia<strong>do</strong>s no Brasil. Nesse ano,reside no convento o frei carmelita Antônio de NossaSenhora das Neves, seu último prior, faleci<strong>do</strong> em 1871.Aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>, no ano seguinte o convento passa aser utiliza<strong>do</strong> como sede <strong>do</strong> quartel da Companhia deInfantaria, em situação de curta duração já que, em 1896,devolvi<strong>do</strong> e anexa<strong>do</strong> à recém-criada diocese <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>, o imóvel passa a abrigar a residência <strong>do</strong> bispo e oAteneu Diocesano, instituição de ensino ali instala<strong>do</strong> até1899, quan<strong>do</strong> é transferi<strong>do</strong> para o Convento de NossaSenhora da Penha.Uma outra etapa da história, a mais conhecida, seinicia no novo século, com a fundação <strong>do</strong> Colégiode Nossa Senhora Auxilia<strong>do</strong>ra, o conheci<strong>do</strong> Colégio


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VITÓRIAMilagrosa, uma situação de transição, visto que duranteas duas últimas décadas <strong>do</strong> século XX, além de ofíciosreligiosos, funcionam, em anexo, uma creche e umaescola privada.<strong>do</strong> Carmo, e a instalação de um internato feminino.Entregue às irmãs de caridade Filhas de São Vicentede Paulo, o colégio torna-se instituição educacional dereferência para a população <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>. Filhas deresidentes na cidade e proprietários de terra no interior<strong>do</strong> esta<strong>do</strong>, as alunas <strong>do</strong> Carmo são conhecidas por suacontribuição social e cultural. São, sobretu<strong>do</strong>, guardiãsde memoráveis reminiscências, individuais e coletivas,décadas após a desativação promovida pelo arcebispoDom João Batista da Motta e Albuquerque. A de MarziaFigueira é prazerosamente impregnada pelo cheiro dagoma <strong>do</strong>s chapéus das irmãs de caridade.Com o fechamento <strong>do</strong> Colégio no final da décadade 1960, somente a igreja <strong>do</strong> Carmo se mantém emuso, então sob a denominação de Capela da MedalhaErgui<strong>do</strong> em pequena elevação na parte mais interior davila de Vitória, o Convento <strong>do</strong> Carmo compreende, emorigem, residência, igreja conventual e capela da OrdemTerceira, em configuração praticamente inalterada até oinício <strong>do</strong> século XX. Nesse momento, precisamente entreos anos de 1910 e 1913, segun<strong>do</strong> projeto de autoriade André Carloni, junto com a demolição da capela, sãoacresci<strong>do</strong>s um terceiro pavimento à residência e uma varandaem torno de seu pátio interno, e é executada umaprofunda remodelação estilística. Concentrada no frontispício,essa se expande para um módulo de transiçãoentre a igreja e a residência. Aí, em substituição às linhasbarrocas precedentes, de ambígua inspiração histórica,o novo traço possui forte vinculação com as referênciasromânticas das construções medievais. Transitan<strong>do</strong>entre o românico e o gótico, a linguagem está unificadapela a<strong>do</strong>ção <strong>do</strong> arco ogival para o arremate <strong>do</strong>s vãos eesquadrias de porta e janela, e <strong>do</strong> frontispício, na formade delica<strong>do</strong> rendilha<strong>do</strong>.Posicionada na fachada principal, elemento compreendi<strong>do</strong>pelo tombamento estadual, a porta de acesso à igreja,guarnecida por arquitrave ornada por pequenas torresreforça o aspecto medieval <strong>do</strong> conjunto. Ainda de diretavinculação com o caráter <strong>do</strong> edifício, pequenas capelasencimadas por cruzeiros e pináculos de perfil dentea<strong>do</strong>percorrem o perfil triangular <strong>do</strong> frontão e a torre sineira.Complementarmente, o ar medieval da composição estápresente na rusticação <strong>do</strong>s cunhais da fachada por meiode reboco imitan<strong>do</strong> pedras naturais. Um elemento linguisticamentedissonante, a escadaria de acesso, tambémremodelada pela intervenção <strong>do</strong> início <strong>do</strong> século XX,possui nítidas conexões com composição de inspiraçãobarroca de origem italiana, presente em alinhamento curvilíneoe fechamento lateral em balaustrada.


439CONVENTO DO CARMOPraça Irmã Josepha HozanahCentro, VitóriaProteção Legal: Resolução nº 2/1984<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 75, folhas 8v e 9REFERÊNCIASACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. L. (org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>s noEspírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretariade Esta<strong>do</strong> de Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.CASTRO, Andressa Egito de. Web Vitória: divulgação da evoluçãourbana e da arquitetura <strong>do</strong> Centro de Vitória na Internet. Monografia(Graduação). Vitória, Departamento de <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo,Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, 1998.CURBAIN, Sáira Glazar. Cidade alta: uma viagem no tempo. Monografia.(Graduação). Vitória, Departamento de <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo,Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, 2000.ELTON, Elmo. Velhos templos de Vitória e outros temas capixabas. Vitória:Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> de Educaçãoe Cultura, 1987.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória:Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, nº04, 1982.FIGUEIRA, Márzia. O cheiro <strong>do</strong>s bons velhos tempos. In PrefeituraMunicipal de Vitória. Escritos de Vitória: merca<strong>do</strong>s e feiras. Vitória,Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, Vol. 11, 1995, p.185-7.NOVAES, Maria Stella de. O Carmo – Colégio Nossa Senhora Auxilia<strong>do</strong>ra:1650-1900-1950. Vitória, 1949.. História <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória: Fun<strong>do</strong> Editorial <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>, [s.d.].


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441Escola de Artes FAFIConstruída para ser a sede <strong>do</strong> Grupo Escolar GomesCardim, durante a administração de Florentino Avi<strong>do</strong>s,a FAFI sempre foi considerada palco para as muitasmanifestações culturais e políticas promovidas evivenciadas por gerações de jovens capixabas, crian<strong>do</strong>dessa forma, laços emocionais com grande parte dapopulação.É assim que na década de 1950 o edifício é ocupa<strong>do</strong> peloColégio Estadual <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, para finalmente, noano de 1957, abrigar a Faculdade de Filosofia, Ciênciase Letras <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, época responsávelpor sua atual denominação. É nesse momento, também,que o edifício passa a integrar parte importante damemória política local. Sede <strong>do</strong> movimento estudantilcapixaba, que nele se reúne entre os anos de 1968 e1972, quan<strong>do</strong> passa a integrar o patrimônio da UniversidadeFederal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>. É a partir dessa dataque a edifícação abrigará as atividades da Assessoria deSegurança e Informação, a ASI da Ufes, num perío<strong>do</strong>encerra<strong>do</strong> no ano de 1975.Desocupa<strong>do</strong> em 1976, após a transferência daFaculdade de Filosofia para o Campus Universitáriode Goiabeiras, o edifício sofre um contínuo processode deterioração física, até sua definitiva adaptação daEscola de Artes FAFI. Uma iniciativa de âmbito culturale artístico consolidada ao longo da década de 1990, oedifício da FAFI pode ser considera<strong>do</strong> um testemunhodas transformações promovidas no desenvolvimento


VITÓRIAeducacional e social da cidade de Vitória e mesmo<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, durante o século XX.Complementarmente, e de igual relevância, deve serconsidera<strong>do</strong> seu papel na produção e difusão da culturalocal, em suas mais variadas expressões, ao reunir em suassalas e auditório, capixabas anima<strong>do</strong>s com a criação <strong>do</strong>Teatro Universitário Capixaba, <strong>do</strong> Coral Universitário,<strong>do</strong> jornal O Coruja e <strong>do</strong> Cineclube Alvorada.Projeta<strong>do</strong> por Josef Pitilick, em 1925, e construí<strong>do</strong> entre1925 e 1928, o edifício da Escola Gomes Cardim,um volume de forma triangular resultante da adequaçãoda planta aos limites <strong>do</strong> terreno, um lote de esquina,apresenta implantação tradicional. Suas duas fachadasprincipais, voltadas para o ambiente urbano, estão articuladaspor um estreito plano vertical responsável pelainova<strong>do</strong>ra inserção perspéctica da arquitetura da escolano recente e moderno bulevar da cidade, a avenida JerônimoMonteiro.A fachada mais importante, voltada para a nova avenida,é estruturada a partir de um módulo central, simetricamenteladea<strong>do</strong> por outros três. Esses módulos sãodistintos em suas larguras, no tratamento de reboco, eem sua posição em relação ao plano da fachada, comdiscretos recuos e avanços. Por outro la<strong>do</strong>, apresentamunidade no arremate <strong>do</strong>s vãos, em arco pleno no térreoe em verga reta no pavimento superior, e por eliminarema tradicional diferenciação de pavimentos. Omódulo central, por sua vez, é o principal responsávelpela explicitação clássica de sua referência, presente nadisposição <strong>do</strong> frontão triangular sobre falsas colunascolossais, em uma composição classicista de influênciafrancesa.Internamente, o edifício da escola foi organiza<strong>do</strong> a partirdas circulações horizontais, posicionadas em paraleloàs fachadas, e da circulação vertical. Posicionada juntoao vestíbulo de acesso à escola, a escada é um delica<strong>do</strong>


443artefato executa<strong>do</strong> com a associação <strong>do</strong> concreto arma<strong>do</strong>para os degraus e <strong>do</strong> ferro para o gradil <strong>do</strong> guardacorpo.Aí, como no interior das salas de aula, as paredesforam ornadas com frisos posiciona<strong>do</strong>s como arrematedas suas superfícies junto ao forro <strong>do</strong> teto.Executada com paredes portantes de tijolo, a escola jáincorpora em sua construção laje de concreto arma<strong>do</strong>,à qual é associa<strong>do</strong> o revestimento de piso em ladrilhohidráulico. Complementarmente, são <strong>do</strong>minantes amadeira nas esquadrias, o ferro nos gradis e o barro nastelhas de tipo marselha.ESCOLA DE ARTES FAFIAvenida Jerônimo Monteiro, nº 656Centro, VitóriaProteção Legal: Resolução nº 4/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 31, folhas 3v e 4


VITÓRIAREFERÊNCIAACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. Lima (Org.). Catálogo de bens culturaistomba<strong>do</strong>s no Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura/ Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Educação e Cultura / UniversidadeFederal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.ALMEIDA Renata Hermanny de; et al. <strong>Arquitetura</strong> <strong>do</strong> Historicismoem Vitória. Vitória, Núcleo de Estu<strong>do</strong>s de <strong>Arquitetura</strong> eUrbanismo, 1997.ALMEIDA, Renata Hermanny de; CAMPOS, Martha Macha<strong>do</strong>;FREITAS, José Francisco Bernardino. Méto<strong>do</strong> de intervençãourbana em área central: o papel da arquitetura no Centro de Vitória(ES). Relatório final (Pesquisa). Vitória, Núcleo de Estu<strong>do</strong>s de<strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo, Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>, 2000.CASTRO, Andressa Egito de. Web Vitória: divulgação da evoluçãourbana e da arquitetura <strong>do</strong> Centro de Vitória na Internet. Monografia(Graduação). Vitória, Departamento de <strong>Arquitetura</strong> eUrbanismo, Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, 1998.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Presidente (Florentino Avi<strong>do</strong>s).Mensagem final... 1924-1928. Vitória, 1928.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura,n. 08, 1982.OLIVEIRA, Demerval Macha<strong>do</strong>. FAFI: preservação e uso. Graduação(Monografia). Vitória, Departamento de <strong>Arquitetura</strong> eUrbanismo, Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, 1987.PRADO, Michele Monteiro. A Modernidade e o seu retrato: imagense representações da paisagem urbana de Vitória (1890-1950).Dissertação (Mestra<strong>do</strong>). Salva<strong>do</strong>r, Programa de Pós-Graduaçãoem <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo, Universidade Federal daBahia, 2002.


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447Escola Maria OrtizDe três terrenos <strong>do</strong>a<strong>do</strong>s em 1873 para a construção deum liceu se faz a atual Escola Maria Ortiz, estabelecimentode ensino que no decorrer <strong>do</strong> século XX se fixacomo instituição de referência na produção e difusão<strong>do</strong> conhecimento. Localiza<strong>do</strong>s nas proximidades <strong>do</strong>palácio <strong>do</strong> governo, atual Anchieta, em parcela estreitae de irregular topografia, os terrenos se situavam naextremidade oeste <strong>do</strong> platô onde originalmente se edificoua vila de Vitória, com frente para a baía.A primeira construção, finalizada e inaugurada no anode 1892, destinou-se ao Ateneu Provincial, então umpavilhão de conformação assobradada. Mas, em tempode mudanças emergentes, logo o edifício <strong>do</strong> Ateneu éreforma<strong>do</strong> e amplia<strong>do</strong> para abrigar a então denominadaEscola Normal, em 1908. Obra de impacto restrito ecaráter formalístico, responsável pela reconstrução estilísticada primeira edificação, a nova roupagem ecléticase insere no conjunto de iniciativas embeleza<strong>do</strong>raspromovidas pelo governo <strong>do</strong> então presidente de esta<strong>do</strong>Jerônimo Monteiro. Governan<strong>do</strong> o Espírito <strong>Santo</strong>entre 1908 e 1912, Monteiro executa simultaneamentea reconstrução <strong>do</strong> vizinho palácio <strong>do</strong> governo, iniciaa construção da próxima sede da Assembleia Legislativae a implantação <strong>do</strong> parque Moscoso, entre outrasobras moderniza<strong>do</strong>ras da capital. No conjunto dessesempreendimentos, a renovação estilística e a ampliaçãoda Escola Normal participam de maneira decisiva paraa almejada renovação da imagem colonial apresentadapela cidade de Vitória.Para a reconstrução, Jerônimo Monteiro convida oengenheiro Justin Norbert. Nessa obra, além <strong>do</strong> alongamentoda primeira construção e a anexação de umaoutra enviesada em relação ao eixo longitudinal <strong>do</strong> pavilhãooriginal, são incorpora<strong>do</strong>s ao programa funcionalda escola um salão nobre, dependências administrativase um museu de história natural.A atual denominação da escola tem sua origem noGinásio Estadual Maria Ortiz onde, a partir de 1936,complementarmente, são ofereci<strong>do</strong>s cursos para diplomarprofessores primários. Em 1971 o ginásio recebeo nome de Escola de Primeiro Grau Maria Ortiz. Nessetempo, o valor da escola está firma<strong>do</strong> em coraçõese mentes de gerações de estudantes nela qualifica<strong>do</strong>s.Tanto assim é que em 1976, um projeto de reforma, aoprever o fechamento da área <strong>do</strong> pátio onde se encontramfron<strong>do</strong>sas castanheiras, suscita um bem sucedi<strong>do</strong>movimento em defesa das árvores da escola.Em 1978-1979, toda a edificação foi restaurada paraabrigar uma casa de cultura, o que não se efetivou. Desdeentão, duas intervenções de restauração, em 1984 e1998, procuram adaptar o edifício às demandas das novasescalas, das novas meto<strong>do</strong>logias, das novas tecnologiase <strong>do</strong>s novos níveis de comodidade. O custo dessasdemandas nem sempre foi positivo, pois em sua maioriaresultaram em modificações de ambiências internas características.Mesmo assim, por muito tempo a MariaOrtiz se insere no imaginário da sociedade capixaba por


VITÓRIAsua relevante contribuição na formação de mentalidadese na qualificação de competências.Em origem um edifício de configuração colonial influenciadapela arquitetura clássica de origem europeia,presente na volumetria prismática de base retangular, notelha<strong>do</strong> de cobertura aparente em planos de forte inclinação,nas portas e janelas arrematadas em arco pleno,e na rítmica disposição de vãos <strong>do</strong> Ateneu Provincial, aEscola Maria Ortiz é expressão da face estética da modernizaçãoda cidade de Vitória.A grande reforma conduzida por Justin Norbert abrange,também, as dimensões funcionais e construtivas <strong>do</strong>edifício. No plano formal, as alterações compreendemampliação da área construída e responsável por sua<strong>do</strong>minante horizontalidade. Reforçada pela sequênciaritmada <strong>do</strong>s vãos de janela, no pavimento térreo, e deporta, no primeiro pavimento; pelas ranhuras <strong>do</strong> reboco;e pela linha da platibanda, a horizontalidade tem seucontraponto vertical discretamente delinea<strong>do</strong> na fachadafrontal por módulos defini<strong>do</strong>s por falsos pilares epela disposição das entradas de acesso ao edifício. Osmódulos verticais são reforça<strong>do</strong>s, ainda, pela disposiçãoconcentrada da ornamentação em frontões de delineamentomaneirista que, ao interromper a linha da cimalha,se elevam acima da platibanda.Estruturada em paredes portantes em alvenaria de tijolosmaciços, da construção tradicional se destaca a modernavaranda estruturada em colunas e fechada porgradil de ferro, disposta ao longo da fachada posterior.Complementarmente, a construção está realizada comaplicação frequente da madeira nos pisos e forros, nasportas e janelas. Essas, modernamente, são executadascom a associação de veneziana e vidro, propícioà iluminação, especialmente das salas de aula. Outromaterial explora<strong>do</strong>, o ferro, junto com as argamassas,aparece modela<strong>do</strong> em elementos responsáveis por ornarambientes, sejam eles de dimensão funcional oupuramente decorativa.Internamente, a escola se apresenta rigidamente estruturadaa partir de uma circulação longitudinal responsávelpela acessibilidade às salas de aula e aos demaisambientes educacionais, igualmente disposta nos <strong>do</strong>ispavimentos. Para uni-los uma belíssima escada, executadaem madeira, se lança a partir da entrada principal,cortan<strong>do</strong> transversalmente o edifício.Assim, com seu guarda-corpodelicadamente tornea<strong>do</strong>, a escada,importante elemento funcional, éagente de embelezamento. Mas,não só ela. Na Maria Ortiz, o laborimpregna<strong>do</strong> na serralheria <strong>do</strong>sbalcões e bandeiras das portas, adelicadeza <strong>do</strong>s ornatos dispostossobre as fachadas, a qualidade damarcenaria das esquadrias, to<strong>do</strong>acabamento é refina<strong>do</strong>, a expressara decidida vontade de civilizarmentes e edificar o belo.


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451ESCOLA MARIA ORTIZRua Francisco Araújo, s/n, Centro, VitóriaProteção Legal: Resolução nº 2/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 26, folhas 3v e 4REFERÊNCIASACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. L. (org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>s noEspírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretariade Esta<strong>do</strong> de Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.ANJOS, Eril<strong>do</strong> <strong>do</strong>s (dir.). Atenção: Estamos Salvan<strong>do</strong> uma Escola.Revista ES Agora, nº 25. Jun / Jul., 1978, p. 20-22.CARMO, Elaine Alves <strong>do</strong>, et al. Escola de 1° e 2° Graus Maria Ortiz:levantamento histórico e análise arquitetônica. Trabalho de Disciplina(Graduação). Vitória, Patrimônio Histórico, Artístico e <strong>Cultural</strong>,Departamento de <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo, Universidade Federal<strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, 1998.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Exposição sobre os negócios <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> noquadriênio de 1908 a 1912, <strong>do</strong> Exmo. Sr. Jerônimo Monteiro – Presidente<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> durante o perío<strong>do</strong>. Vitória, 1913.______ . Processo de Tombamento. Vitória, Conselho Estadual deCultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, nº 05, 1982.FUNDAÇÃO JONES DOS SANTOS NEVES. Patrimônio Históricoda Grande Vitória: Edificações a serem preservadas em Vitória. Vitória,maio, 1978, 222 p.______ . Patrimônio Histórico da Grande Vitória: Edificações a serempreservadas em Vitória. Anexo, Plantas. Vitória, mai. 1978a.PESSALI, Hésio. A última promessa. Revista ES Agora, nº 33, abr.1979, p. 40-41.SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA, ESPORTE E TU-RISMO. Escritos de Vitória. 10 – Escolas. Vitória: Secretaria Municipalde Cultura, Esporte e Turismo, Prefeitura Municipal de Vitória,jul., 1995.SILVA, Gislene Rosa, et. al. Escola Maria Ortiz: levantamento históricoe análise arquitetônica. Vitória, Departamento de <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo,Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, 1997.


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453Forte São JoãoO século XVII é um perío<strong>do</strong> particular na história dacidade de Vitória, núcleo urbano estrategicamente implanta<strong>do</strong>em sítio eleva<strong>do</strong> e protegi<strong>do</strong> pelas águas dabaía interior <strong>do</strong> rio Santa Maria da Vitória, com acessogeograficamente controla<strong>do</strong> pela estreita passagem delimitadapelas pedras <strong>do</strong> Pene<strong>do</strong>, a sul, e de São João, anorte. Encravada no fun<strong>do</strong> da baía, ainda assim, a pequenavila de Vitória é alvo de tentativas de invasão eposse de seu território por homens de além-mar. Fatonão muito raro, o assédio à costa capixaba adquire maiorrelevância quan<strong>do</strong> lhe é conferi<strong>do</strong> o papel de barreira àpenetração <strong>do</strong> território de Minas Gerais.Nesse contexto de defesa, a construção de fortalezasse torna ainda mais importante. Assim, desde a entradaexterior da baía de Vitória, posicionada nas proximidades<strong>do</strong> morro de Jaburuna em Vila Velha, e <strong>do</strong> morrode Bento Ferreira, em Vitória, até a frente <strong>do</strong> colégio eigreja de São Tiago, na Cidade Alta, são ergui<strong>do</strong>s pequenosfortins, to<strong>do</strong>s eles de denominação invoca<strong>do</strong>ra daproteção santa, São Francisco, São Miguel, São Diogo,São João.Entre os fortins de Vitória, o de São João, em 1678denomina<strong>do</strong> Forte São Miguel, tem acesso instala<strong>do</strong> naparte superior da encosta, comunican<strong>do</strong>-se diretamentecom o interior da ilha. Como descrito pelo capitãomorDionísio de Carvalho de Abreu, em relatório de1724, o forte possuía forma semi-sextavada irregular,com muro sobre o qual estava disposta uma artilhariacomposta de sete peças. Desse relatório, cuja finalidadeera apresentar um diagnóstico das condições materiaisda defesa da Colônia em terras capixabas, resulta a decisãode enviar o engenheiro sargento-mor Nicolau deAbreu de Carvalho como encarrega<strong>do</strong> <strong>do</strong> coman<strong>do</strong> dasobras de reparos <strong>do</strong> Forte de São João. As obras compreendemintervenção em parapeito, torreão, portada,esplanada, porta, casa de arma e casa de pólvora.Emergencial, provavelmente, a intervenção realizadano ano de 1734 aponta para a necessidade de permanentesinspeções de manutenção, confirman<strong>do</strong>, ao mesmotempo, a persistência da importância representadapelo território <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong> na defesa das riquezasem exploração nas terras mineiras durante to<strong>do</strong> o séculoXVIII. Nesse contexto, a cidade de Vitória, local deentreposto comercial importante na faixa litorânea <strong>do</strong>esta<strong>do</strong>, continua receben<strong>do</strong> intenso aparato militar. NoForte de São João, esse se reflete no reaparelhamentoda muralha com a inclusão de onze canhões.Expressão material <strong>do</strong> primeiro perío<strong>do</strong> da ocupação <strong>do</strong>solo capixaba, essencialmente determina<strong>do</strong> pela defesa,no século XIX o Forte de São João será vitima<strong>do</strong> peloaban<strong>do</strong>no e pela destruição. Resultante da alteração<strong>do</strong> papel de seu núcleo urbano mais central, agoratransforma<strong>do</strong> em ponto de penetração de homensem busca de outras oportunidades, a cidade de Vitória


VITÓRIAse torna alvo de intervenções destinadas a <strong>do</strong>tar suapopulação de serviços, infraestrutura e equipamentosvolta<strong>do</strong>s para seu bem-estar e prosperidade social.Aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>, após manter-se em atividade até o anode 1888, o Forte de São João, agora situa<strong>do</strong> em áreaadjacente ao núcleo urbano da cidade na forma dechácara, é adquiri<strong>do</strong> e denomina<strong>do</strong> Chácara <strong>do</strong> Bispo.De caráter priva<strong>do</strong>, a nova condição é mantida até oano 1924 quan<strong>do</strong>, sob nova propriedade, é construí<strong>do</strong>o Cassino Trianon. De curta existência, o edifício <strong>do</strong>cassino é arremata<strong>do</strong> em leilão por um <strong>do</strong>s sócios <strong>do</strong>Clube Saldanha, funda<strong>do</strong> em 1902.Dessa maneira, transcorri<strong>do</strong>s cerca de 250 anosdesde sua construção, o edifício <strong>do</strong> Forte de SãoJoão, desvirtua<strong>do</strong> pelo arruinamento resultante deaban<strong>do</strong>no, é parcialmente reutiliza<strong>do</strong> como fundaçãopara a construção de arquitetura destinada a umclube recreativo. Não é fácil reconhecer as pistasdessa topografia arquitetônica. Os vestígios estãodesconecta<strong>do</strong>s, seus valores altera<strong>do</strong>s, sua configuraçãoocultada ou pouco visível. Reencontrar o Forte deSão João exige olhar atento e passo sem pressa, açõesduplamente comprometidas frente à sua nova inscriçãourbana.Posiciona<strong>do</strong> em trecho de curvatura acentuada daavenida que margeia a baía de Vitória, o trecho de murosobrevivente, com as ameias <strong>do</strong> parapeito de arremate<strong>do</strong> terrapleno <strong>do</strong> Forte, emerge inusita<strong>do</strong> em paisagemdiluída pela velocidade exigida pelo fluxo viário. Sobreela, dispostos em posição de defesa, estão alguns <strong>do</strong>s


455canhões outrora ameaça<strong>do</strong>res. Complementarmente,a estrutura defensiva está interrompida por robustoportão posiciona<strong>do</strong> junto à base da encosta <strong>do</strong> morrode São João, na extremidade esquerda <strong>do</strong> muro.Elemento de configuração refinada, apesar da singelezade seus traços, a portada tem seu arremate delinea<strong>do</strong>por curvas e contracurvas, em desenho de francaanalogia com os frontispícios <strong>do</strong>s edifícios religiososbrasileiros. Nele, em centralizada posição, um escu<strong>do</strong>se apresenta ladea<strong>do</strong> por folhagens e encima<strong>do</strong> porcoroa. O portão, propriamente dito, não é o original.Em contraste evidente com a robustez construtiva e ocuida<strong>do</strong>so delineamento de seu arcabouço, é um gradilsem significa<strong>do</strong> e valor.De composição volumétrica dinamizada e composiçãoarquitetônica inspirada nas residências balneárias erguidasno litoral brasileiro a partir <strong>do</strong> primeiro quarto <strong>do</strong> séculoXX, o Clube Saldanha da Gama se encontra edifica<strong>do</strong>sobre a encosta <strong>do</strong> morro de São João. O edifíciodebruça-se sobre as águas da baía interior de Vitória,em posição frontal ao pétreo Pene<strong>do</strong>, em implantaçãointernamente valorizada com a disposição e a organização<strong>do</strong>s diferentes andares e ambientes de maneira a explorare potencializar suas relações com a paisagem circundante.Dominadas por janelas de amplas dimensões, as fachadasestão dinamizadas pelo recurso a avanços e recuos deplanos e pela recorrência de varandas e terraços. De igualdinamismo, a cobertura está estruturada em peças demadeira e revestida por telhas de barro capa-canal, comoera usual nas casas grandes <strong>do</strong> Brasil Colônia.


FORTE SÃO JOÃOAvenida Vitória, VitóriaProteção Legal: Resolução n° 4/1991<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 176, folhas 29v e 30v


REFERÊNCIASACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. L. (org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>s noEspírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretariade Esta<strong>do</strong> de Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.ALMEIDA, Leandro Ribeiro; BATISTA, Vanessa Siqueira; XA-VIER, Tatiana Camello. Trabalho (Disciplina). Vitória, PatrimônioHistórico, Artístico e <strong>Cultural</strong>, Departamento de <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo,Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, 2004.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, nº51, 1990.LEAL, João Eurípides Franklin. Fortificações: um lega<strong>do</strong> esqueci<strong>do</strong>.Revista Fundação Jones <strong>do</strong>s <strong>Santo</strong>s Neves – O passa<strong>do</strong> agoniza noEspírito <strong>Santo</strong>. Vitória, ano II, v. 1, nº 4, p. 17-18, out. / dez., 1979.VILAÇA, Adilson. Clubes Esportivos de Vitória – Série: Esportee Memória. Vitória: Secretaria Municipal de Esportes, nº 2, 1997,p. 08.


VITÓRIAFrontispício <strong>do</strong> Conventode São Francisco


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VITÓRIAFRONTISPÍCIO DO CONVENTO DE SÃO FRANCISCORua Padre Nóbrega com Adão BenezathCentro, VitóriaProteção Legal: Resolução nº 2/1984 <strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Histórico sob o nº 76, folhas 8v e 9


461No Brasil, os frades franciscanos se fixam em fins <strong>do</strong>século XVI. Em Vitória, eles chegam em 1589, momentoem que erguem uma residência provisória <strong>do</strong>tada decapela, inician<strong>do</strong> a organização da Irmandade de SãoBenedito. De significativa importância na história religiosa,social e política de Vitória, a irmandade dá inícioà construção <strong>do</strong> Convento de São Francisco, no ano de1591. Para essa obra, os frades Antônio <strong>do</strong>s Mártires eAntônio das Chagas, oriun<strong>do</strong>s de Olinda, contam coma ajuda da população.Implanta<strong>do</strong> no morro da Fonte Grande, em terreno depropriedade de Manuel Pereira, Juliana e Antonio Gonçalvesposiciona<strong>do</strong> em área deslocada da vila, o conventode Vitória é a primeira obra franciscana erguidaao Sul da capitania da Bahia. A construção se desenvolveem duas grandes etapas correspondentes às alas<strong>do</strong> convento propriamente dito, de 1596, e à da igreja,erguida cinco anos depois. A importância da construçãofranciscana de Vitória está indicada pelo porte epela qualidade artística <strong>do</strong> conjunto, mas, também, peloaparato tecnológico de apoio ao seu funcionamento,presente em robusta estrutura de muros e em inova<strong>do</strong>raqueduto, construí<strong>do</strong>s entre 1639 e 1643 para o abastecimentode água das instalações conventuais, a primeiraedificação de Vitória a contar com essa facilidade.Ergui<strong>do</strong> pela devoção franciscana, o papel <strong>do</strong> Conventode São Francisco na vida <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res de Vitóriae sua região de influência se ampliou no decorrer <strong>do</strong>século XIX, perío<strong>do</strong> histórico marca<strong>do</strong> por constantesfocos epidêmicos. Assim, entre 1850 a 1898, o localonde hoje se ergue a Capela de Nossa Senhora das Nevesabrigou diversos usos, como enfermaria para abrigarpobres contamina<strong>do</strong>s pela varíola, em 1874; abrigo paraimigrantes cearenses, em 1878; enfermaria para contagia<strong>do</strong>spor febre amarela, em 1895. Da mesma maneira,vinculadas à preocupação de ordem sanitária, modificaçõesrealizadas em 1856 viabilizam a instalação decemitério provisório em parte <strong>do</strong> terreno <strong>do</strong> convento.A ênfase assistencial da vinculação religiosa <strong>do</strong> convento,manifesta em ações cari<strong>do</strong>sas de amparo à vida depobres materiais e espirituais, <strong>do</strong>minou a relação <strong>do</strong> edifíciocom a cidade até o final <strong>do</strong> século XIX, momentoem que, incorpora<strong>do</strong> à estrutura administrativa da MitraDiocesana, se tornou seminário, condição de uso deduração centenária.Numa intervenção promotora de amplas modificações,em 1744, o frontispício da igreja é reforma<strong>do</strong> com asubstituição de suas linhas retas e sem a<strong>do</strong>rnos pordelineamento influencia<strong>do</strong> pelo estilo barroco, com ainclusão de alpendre delimita<strong>do</strong> por cinco arcos e cobertopor telhas de barro capa-canal. Complementarmente,junto com a construção da casa de novicia<strong>do</strong>,um cruzeiro é posiciona<strong>do</strong> na base da ladeira de acessoao convento, no ponto de encontro da murada erguidade maneira a delimitar a área frontal <strong>do</strong> edifício religioso.Em conjunto, essas intervenções, além da finalidadeestética, têm como objetivo facilitar, duplamente, ascondições de uso por ocasião das festas religiosas e oacesso <strong>do</strong>s devotos até a portaria <strong>do</strong> convento. Complementarmente,em 1789, a torre sineira é reformada. Denatureza destrutiva são as alterações promovidas coma invasão e a ocupação ilegal da área <strong>do</strong> convento, em1880 manifestas, por exemplo, na destruição <strong>do</strong>s muros<strong>do</strong> aqueduto, cujo material é posteriormente utiliza<strong>do</strong>na construção <strong>do</strong> Quartel de Infantaria de Vitória.Contu<strong>do</strong>, para além da significativa representatividadeartística <strong>do</strong> convento, sua importância possui origemem acontecimentos de que foi testemunha. Diversassão as reminiscências mobilizadas, mas talvez nenhumatão impregnada no imaginário daqueles que conhecemos fatos históricos presencia<strong>do</strong>s pelo frontispício <strong>do</strong>Convento de São Francisco como a rivalidade desenca-


VITÓRIAdeada em torno da devoção de São Benedito. Dividi<strong>do</strong>snas irmandades <strong>do</strong> Rosário e de São Francisco, eles seencontram no conjunto de estratégias de construção deidentidades, todas articuladas em torno de suas cores,azul e verde, respectivamente representadas pelo peroáe pelo caramuru, na divisão <strong>do</strong> ano pela posse da vara –de janeiro ao dia de Corpus Christi, com os caramurus,e <strong>do</strong> dia seguinte até o final <strong>do</strong> ano com os peroás –,nos trajes das mulheres e nas gravatas masculinas, namusicalidade da cidade, na representação teatral...


4631ª peroáEu sou peroá de fama!até morrê!2ª caramuruE eu sou caramuru, minha ama!cumu quê!1ª peroáPodeis visti vosso verdecaramuruque a cô que eu visto não perde<strong>do</strong> céu azul!‘Stou no mês d’ alegria,da festa das peroáem que passo noite e diadançan<strong>do</strong> no camundá...CORO GERAL‘Stou no mês d’ alegria,da festa das peroáem que passo noite e diadançan<strong>do</strong> no camundá...1ª caramuruAgora que estais p’ru ribafalá podeis,mas depois na pindaíbaficareis...1ª peroáA cô azul que é celestee divináAs peroá é que vestepra machucá...1ª caramuruDeixai-vos de pabulageai peroáque eu também trago no trajea cô <strong>do</strong> má...Ergui<strong>do</strong> segun<strong>do</strong> o padrão típico das estruturas arquitetônicasfranciscanas, o Convento de Vitória está originalmenteorganiza<strong>do</strong> a partir da igreja conventual, coma disposição de claustro reserva<strong>do</strong> à direita, e a capelada ordem terceira à esquerda e em posição perpendicularà mesma. Desse conjunto, pouco resta, com exceção<strong>do</strong> frontispício com alpendre, da capela da ordem terceirae de pequena varanda situada em posição intermediáriaaos <strong>do</strong>is primeiros. Empreendida a partir da primeiradécada <strong>do</strong> século XX, a destruição <strong>do</strong> conjuntofranciscano se intensificou na segunda metade <strong>do</strong>s anosde 1920. Nesse momento duas grandes intervençõesconsolidaram sua configuração: uma demolição paraaumentar a capela da ordem terceira e a destruição <strong>do</strong>convento para a construção <strong>do</strong> orfanato Cristo Rei. Adescaracterização <strong>do</strong> conjunto é de abrangência e intensidadetal que dela só sobreviveram em sua integridadeo frontispício e a edificação da capela da ordem terceira.Isso porque o alpendre é uma reconstrução executadapor André Carloni, representante <strong>do</strong> Serviço <strong>do</strong>Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no Espírito<strong>Santo</strong>, em 1950, momento em que também restaura apequena varanda da capela da ordem terceira e a antigasala de reuniões da irmandade.Novas alterações, resultantes de acréscimos, ocorreramao longo <strong>do</strong> século XX, comprometen<strong>do</strong> o significa<strong>do</strong>simbólico e o impacto visual <strong>do</strong> conjunto de São Franciscoem sua paisagem. Assim, com sua presença enfraquecida,em princípio <strong>do</strong> novo milênio, o Frontispício<strong>do</strong> Convento de São Francisco é vestígio precioso deum tempo em que, diante de um longínquo horizonte,o complexo franciscano <strong>do</strong>minou as águas da baía,compon<strong>do</strong> o majestoso cenário rochoso que contornae protege a ilha de Vitória.


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467REFERÊNCIASACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. L. (org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>s noEspírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretariade Esta<strong>do</strong> de Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.CASTRO, Andressa Egito de. Web Vitória: divulgação da evoluçãourbana e da arquitetura <strong>do</strong> Centro de Vitória na Internet. Monografia(Graduação). Vitória, Departamento de <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo,Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, 1998.CURBAIN, Sáira Glazar. Cidade alta: uma viagem no tempo. Monografia.(Graduação). Vitória, Departamento de <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo,Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, 2000.ELTON, Elmo. Devoção em Vitória (caramurus e peroás). In SãoBenedito: sua devoção no Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Departamento Estadualde Cultura <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>; Ministério da Cultura,1988, pp. 15-40.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, nº04, 1982.PACHECO, Heitor Bonino. O que restou <strong>do</strong>s jesuítas. Revista Capixaba.Vol. 3, Vitória, nº 3, fev., 1970, pp. 09-11.FUNDAÇÃO JONES DOS SANTOS NEVES. Patrimônio históricoda Grande Vitória: edificações a serem preservadas em Vitória. Vitória,maio, 1978, 222 p.______ . Patrimônio histórico da Grande Vitória: edificações a serem preservadasem Vitória. Anexo, Plantas. Vitória, maio, 1978a.


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469Igreja de NossaSenhora <strong>do</strong> RosárioEm mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XVIII, a pequena vila de Vitóriaestava física e socialmente orientada pelo posicionamentoe pela dinâmica das ordens e irmandades religiosas.Cerca de duzentos anos após sua fundação, a então Vilade Nossa Senhora da Vitória estava concentrada noplatô <strong>do</strong>mina<strong>do</strong> pelo colégio e igreja de São Tiago <strong>do</strong>sjesuítas e pela igreja matriz de Vitória, e na estreita faixade terra situada junto à linha das águas da baía. Alémdesses limites, duas edificações religiosas orientavam aocupação: o convento de São Francisco, ao norte, e o<strong>do</strong>s Carmelitas, a nordeste.No Brasil, a devoção a Nossa Senhora <strong>do</strong> Rosário éescolhida pelos escravos em data anterior a 1640, anoem que elegem a santa como sua protetora e, paramelhor se confraternizarem, formam a confraria ouirmandade com seu nome na igreja de São Sebastião<strong>do</strong> Rio de Janeiro. Em Vitória, a data da fundação daIrmandade <strong>do</strong> Rosário <strong>do</strong>s Pretos não é conhecida, massua existência é anterior ao ano de 1765, pois em 23 dejulho, por <strong>do</strong>ação <strong>do</strong> capitão Felipe Gonçalves, sua filhaBernardina de Oliveira e seu genro, o alferes InácioFernandes Rebelo, a congregação recebeduzentos e vinte palmos em quadro, para neles fazer amesma Irmandade uma igreja à dita Senhora, sua sacristiae o mais que necessário, com a condição, porém, que o juiz,irmãos e mor<strong>do</strong>mos que presentes são como outros que lhesucederem no ano vin<strong>do</strong>uro serão obriga<strong>do</strong>s a dar início àobra da dita igreja dentro de <strong>do</strong>is anos e meio, contanto queseja logo principiada de pedra e cal.


VITÓRIAde uma irmandade em sua honra e presente emimagem posicionada em um <strong>do</strong>s altares laterais de seuconvento.Iniciada nesse dia, a construção da capela foi impulsionadapor provisão <strong>do</strong> Bispa<strong>do</strong> da Bahia em favor daIrmandade de Nossa Senhora <strong>do</strong> Rosário, datada de 14de setembro <strong>do</strong> mesmo ano. Como prescrito pelo <strong>do</strong>cumento<strong>do</strong>a<strong>do</strong>r, após <strong>do</strong>is anos e meio a mesa diretora daIrmandade, contan<strong>do</strong> com a mão-de-obra de escravos enegros libertos, conclui a obra. Dá-se inicio, então, a umperío<strong>do</strong> de encontros e realizações, festas e procissões,sempre guiadas pelo fervor devocional à santa.No entanto, não satisfeitos com a veneração mariana,os escravos congrega<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Rosário ampliam suadevoção religiosa a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong>, para prestar culto, o santonegro. No Espírito <strong>Santo</strong>, a devoção a São Benedito,que havia se inicia<strong>do</strong> em 1595, data próxima à chegada<strong>do</strong>s frades franciscanos, estava manifesta na existênciaNa igreja <strong>do</strong> Rosário, o santo negro terá morada apóssua retirada <strong>do</strong> altar <strong>do</strong> convento de São Francisco, atosegui<strong>do</strong> de audaciosa fuga pelas ruas da pequena vila,até sua chegada ao largo da Conceição onde, ao som<strong>do</strong>s sinos da capela, foi acolhi<strong>do</strong> em festa por irmãosrosarianos. Era 23 de setembro <strong>do</strong> ano de 1833, datasignificativa para as duas irmandades, a <strong>do</strong> Conventoe a <strong>do</strong> Rosário, que passam a se rivalizar em eventosde múltiplas dimensões. No âmbito da devoção, asolução encontrada foi dividir o ano: de primeiro dejaneiro ao dia de Corpus Christi, a vara ficava com oscaramurus, como passaram a ser chama<strong>do</strong>s os irmãosde São Francisco, e <strong>do</strong> dia seguinte até o final <strong>do</strong> ano,a vara ficava com os peroás, denominação <strong>do</strong>s irmãos<strong>do</strong> Rosário. Num evento secular, a Irmandade de SãoBenedito <strong>do</strong> Rosário realiza sua procissão a cada 27 dedezembro, dia em que, após percorrer as ruas <strong>do</strong> Centrode Vitória, sobre an<strong>do</strong>r fervorosamente carrega<strong>do</strong>, SãoBenedito entra na Catedral Metropolitana.Responsáveis pela condução da vida espiritual, as irmandadestambém se dedicavam a incentivar a organizaçãosocial de congrega<strong>do</strong>s e mora<strong>do</strong>res da cidade.No auge de sua atuação, especialmente durante to<strong>do</strong> oséculo XIX, as irmandades tinham suas bandas compostaspor músicos dignamente uniformiza<strong>do</strong>s. A FilarmônicaRosariense, ou simplesmente Banda de MúsicaRosariense, tinha local de ensaio à rua <strong>do</strong> Piolho, atualrua Treze de Maio, e músicos componentes de prestígio juntoàs camadas mais populares da cidade. A irmandade foi tãoimportante que chegou a ter sede própria, uma pequenaedificação construída com frente voltada para o adro daIgreja, onde foram inscritas as iniciais V S B, VenerávelSão Benedito, as mesmas modeladas em ferro e fixadasnas janelas <strong>do</strong> frontispício.


471Erguida sobre uma encosta, à época denominadaPernambuco, a igreja de Nossa Senhora <strong>do</strong> Rosário <strong>do</strong>sHomens Pretos tem seu frontispício ergui<strong>do</strong> à frentede um pequeno adro, no topo de uma extensa escadariadividida em <strong>do</strong>is lanços e margeada por colunastoscanas. O primeiro deles, inicia<strong>do</strong> na rua <strong>do</strong> Rosário,se desenvolve em diagonal até alcançar um patamarque, em tempo anterior à modernização urbanística dasegunda metade <strong>do</strong> século XX, era verdadeiro mirante.O segun<strong>do</strong> lanço, alinha<strong>do</strong> com o eixo da fachada,termina em nível inferior ao piso da nave. Assim, poruma escada delineada por linha côncavo-convexa,realiza-se a passagem para o interior da igreja.Essa, construída ao longo de cento e cinquenta anos,foi concebida para abrigar a devoção fervorosa e aorganização dedicada à liberdade e à sociabilidade.Assim, em consonância com a ampliação de seus fiéise a importância de suas atividades junto à sociedadeda época, aos poucos a capela é ampliada. Inicialmente


VITÓRIAuma igreja com nave e capela-mor – <strong>do</strong>is nichosexistentes em cada uma de suas paredes marcam asantigas janelas –, edificada em pedra argamassada comcal de conchas e óleo de baleia, no final <strong>do</strong> séculoXVIII o Rosário ganhou a torre <strong>do</strong> sino, enquanto suafachada e seu interior eram enfeita<strong>do</strong>s com desenhosem relevo pinta<strong>do</strong> na argamassa de estuque. A grandeampliação, contu<strong>do</strong>, ocorreu no final <strong>do</strong> século XIX,com a expansão da capela-mor e da sacristia, e coma incorporação <strong>do</strong> corre<strong>do</strong>r lateral <strong>do</strong>s ossários. Atorre foi então integrada ao prédio. Além disso, foramerguidas paredes de tijolos sobre os muros de pedra,os telha<strong>do</strong>s eleva<strong>do</strong>s e prolonga<strong>do</strong>s para a construçãode um segun<strong>do</strong> pavimento, e as salas divididas comparedes de pau-a-pique.Ao final, a igreja apresenta arquitetura de rígida regularidadeapenas interrompida nas linhas da escada frontale da laje <strong>do</strong> piso <strong>do</strong> coro, onde a inspiração barroca serevela no traço côncavo-convexo de seus perfis. Assim,a solidez de seus espessos muros pétreos, recobertospor alva caiação sobre rugoso acabamento, e os extensosplanos avermelha<strong>do</strong>s da cobertura são as expressões<strong>do</strong>minantes de uma colonial configuração; e é namovimentada ornamentação <strong>do</strong> frontispício e, internamente,nos delica<strong>do</strong>s relevos executa<strong>do</strong>s por hábeismãos, onde se revela uma franca inspiração barroca.Anunciada no frontão, no caprichoso desenho das volutase no delica<strong>do</strong> relevo <strong>do</strong> tímpano, onde elípticoóculo foi encima<strong>do</strong> por uma cruz, a inspiração barrocase acentua em uma proeminente cimalha sobre a qualirrompem <strong>do</strong>is pináculos marcan<strong>do</strong> a prumada de decora<strong>do</strong>scunhais. Esses de maneira singular, relativamenteàs edificações religiosas de Vitória, ao formaremchanfros, reforçam o inquieto desenho da fachada <strong>do</strong>Rosário. Entre eles, uma porta de entrada e três janelasposicionadas no coro complementam a composição.A porta tem seu rasgo guarneci<strong>do</strong>, pelo la<strong>do</strong> de fora,por arco de pedra, e as ombreiras apoiadas em socos.Fechada por esquadria de duas folhas almofadadas emmadeira, a porta tem sua verga curva enfatizada pormoldura em argamassa. As janelas, <strong>do</strong> tipo rasga<strong>do</strong>,foram fechadas por guarda-corpo entala<strong>do</strong>, em ferro,onde foram inscritas, em cada uma delas, umas das iniciaisV S B. Emolduradas por quadro delinea<strong>do</strong> por argamassa,elas foram fechadas por esquadrias de duasfolhas em madeira, com almofadas.Do la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> da fachada ergue-se a torre, um poucomais alta <strong>do</strong> que o frontão e coberta por uma cúpulaque, externamente, apresenta aspecto piramidal.De base quadrada, a torre tem quatro aberturas parasino sobrepostas por cimalha e delicada cercadura dedesenho geométrico e arestas marcadas por coruchéus.Na altura das janelas da fachada, há uma janela rasgadacom parapeito curvo, saca<strong>do</strong> e guarneci<strong>do</strong> por gradilmetálico.Do la<strong>do</strong> direito, a igreja não apresenta a outra torre,embora tu<strong>do</strong> indique que ela constasse no projetooriginal. Inclusive, no coro, existe a porta de passagem.À volta da capela-mor há um corre<strong>do</strong>r de contorno,assobrada<strong>do</strong> com cômo<strong>do</strong>s para servir de sacristia ede consistório, onde se reunia a Irmandade. Pelo la<strong>do</strong>esquer<strong>do</strong>, o corre<strong>do</strong>r lateral à capela-mor acaba no


prolongamento da parede <strong>do</strong> arco cruzeiro, com umaporta para o exterior.Mais sóbrias e severas, as fachadas laterais apresentamcomposição marcada pelo contraste entre os cheios eos vazios. Esses, representa<strong>do</strong>s pelas portas e janelas,se assemelham na modenatura, mas se diferenciam peloacabamento de suas esquadrias. As mais elaboradas,apresentam caixilhos de madeira e vidro, como as seissituadas nas paredes da nave; enquanto as demais, emgeral mais comuns, são esquadrias de duas folhas detabua<strong>do</strong> em madeira.No interior, onde o parti<strong>do</strong> segue o das igrejas coma nave e a capela-mor perfeitamente diferenciadas eseparadas por arco cruzeiro, a ornamentação recobre asbrancas alvenarias, unin<strong>do</strong> e aproximan<strong>do</strong> elementos dearquitetura. Na nave ela encima as duas portas lateraise recobre as seis sacadas dispostas sob as janelas,arre<strong>do</strong>ndan<strong>do</strong> cantos e ressaltos e unin<strong>do</strong> planos, coma mesma graciosa e naturalista decoração utilizadano frontispício, no arco cruzeiro e no frontispício dacapela-mor.Complementarmente, a nave apresenta <strong>do</strong>is altarescolaterais e um altar lateral, com risco e ornamentaçãorepresentativos <strong>do</strong> século XVIII. O último apresentadesenho e talha compostos por ornatos elegantes egraciosos, <strong>do</strong>ura<strong>do</strong>s e pinta<strong>do</strong>s em branco sutilmentecontrasta<strong>do</strong> com azul e rosa. Essas cores e o <strong>do</strong>uramentoforam utiliza<strong>do</strong>s para recobrir os retábulos colateraisonde as linhas ganham sobriedade e unidade.


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475Na capela-mor, ao contrário, <strong>do</strong>mina a sobriedade <strong>do</strong>sprimeiros edifícios religiosos, apenas rompida pela áuricaluminosidade provinda de uma claraboia aberta emseu forro abobada<strong>do</strong>, um tabua<strong>do</strong> liso em madeira. Esseacabamento se repete no forro da nave, um apainela<strong>do</strong>em três planos, <strong>do</strong>is inclina<strong>do</strong>s, um para cada paredemaior, e um terceiro fechan<strong>do</strong> superiormente o espaçodeixa<strong>do</strong> pelos outros <strong>do</strong>is.IGREJA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIORua <strong>do</strong> Rosário, Centro, VitóriaProteção Legal: Resolução n° 24/1946<strong>do</strong> Instituto <strong>do</strong> Patrimônio Histórico e Artístico NacionalInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o n° 241-A, folha 40


VITÓRIAREFERÊNCIASCARVALHO, José Antônio. A arte no Espírito <strong>Santo</strong> no perío<strong>do</strong>colonial – III. <strong>Arquitetura</strong> religiosa secular. In Revista de Cultura daUniversidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>. N° 31, Vitória: Fundação CecilianoAbel de Almeida, 1984, p. 61-83.ELTON, Elmo. São Benedito: sua devoção no Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória:Departamento Estadual de Cultura: Ministério da Cultura, 1988.IPHAN. Documentação <strong>do</strong> arquivo. Vitória, Instituto <strong>do</strong> PatrimônioHistórico e Artístico Nacional.


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479Igreja de São GonçaloConsiderada uma das mais antigas edificações coloniaisde Vitória, a igreja de São Gonçalo tem sua histórialigada às irmandades de Nossa Senhora <strong>do</strong> Amparo eda Boa Morte e Assunção. A primeira teria si<strong>do</strong> fundadaem 1679 e, posteriormente, se uni<strong>do</strong> à segunda, em1707, evento incentiva<strong>do</strong>r da construção, neste mesmoano, de uma capela para abrigar as atividades da entãodenominada Irmandade de Nossa Senhora da Boa Mortee Assunção. Essa, por sua vez, teria si<strong>do</strong> substituídapor uma outra, sob a invocação de São Gonçalo, emmomento posterior ao ano de 1715.A construção da igreja parece ser de fins <strong>do</strong> séculoXVIII – autores indicam o ano de 1766 –, quan<strong>do</strong>,de sóli<strong>do</strong> acabamento, ela é consagrada ao santo.No entanto, Mario Freire acredita que, nesse ano, elafoi benzida como Capela de N. S. da Assunção e Amparo.Elevada à categoria de confraria, em 1858, a Irmandadede Nossa Senhora da Boa Morte e Assunção, mantémviva desde então a devoção à santa. Nessa época, estavacomposta por par<strong>do</strong>s livres de ambos os sexos, comidade superior a quinze anos, e dedica<strong>do</strong>s a prestar serviçosà virgem santíssima.Edificada em época de sociabilidade e religiosidadeindiscerníveis, junto com a capela de Santa Luzia, amatriz, a igreja da Misericórdia e a igreja de São Tiago,<strong>do</strong>s jesuítas, São Gonçalo <strong>do</strong>minava a paisagem daacanhada vila de Vitória. Edificada na borda noroeste<strong>do</strong> platô onde a cidade fora fundada, a visibilidade desua singular presença era imaginariamente repetida nasonoridade de seus sinos. Assim se manteve duranteos séculos XVIII e XIX, até que, na República recémcriada,em meio à afirmação <strong>do</strong>s poderes públicos, oconjunto jesuítico desaparece para fazer surgir umoutro, de estranha e magnificente beleza.Nesse contexto de mutação, São Gonçalo inicialmenterecebe as imagens de <strong>Santo</strong> Inácio de Loiola e de SãoFrancisco Xavier, oriundas de São Tiago, ambas datadas<strong>do</strong> século XVIII. Posteriormente, em 1919, recebeos ofícios religiosos da matriz de Nossa Senhora daVitória. Esse acontecimento, em si isola<strong>do</strong> e pontual,constituirá, na verdade, a motivação de uma radicaltransformação da igreja. Iniciadas em 1929, no governode Aristeu de Aguiar; promovidas por uma comissão


VITÓRIAum edifício sobre o limitelateral esquer<strong>do</strong> da Igreja.Estopim de um processoamplia<strong>do</strong> durante a décadaseguinte, o aumento daaltura das construções noentorno da igreja, o encobrimentode uma das facesde São Gonçalo tem repercussãoúnica ao comprometersua secular condiçãode marco referencial na paisagemda cidade.especialmente constituída para angariar fun<strong>do</strong>s parasua “reconstrução”; e conduzidas por Luiz de Matteo, asobras alterariam a condição de ruína apresentada pelaigreja de São Gonçalo.Em conjunto, os serviços visavam conformá-la emconcordância com sua condição de catedral provisória,adquirida enquanto a matriz de Vitória ia sen<strong>do</strong>reconstruída com a finalidade de abrigar a catedral dacidade. Ao final das obras, <strong>do</strong> templo original, restouo arcabouço para uma nave remoçada e destituída daspesa<strong>do</strong>nas obras de entalhe em estilo colonial. Assim,com altares, de desenhos caprichosos e coro e púlpitos decimento arma<strong>do</strong>, foi reaberta em 21 de abril de 1930, emacor<strong>do</strong> com projeto e plantas de Paulo de Vasconcellos,e execução de J. B. Politti.Contu<strong>do</strong>, as condições de manutenção deviam ser precáriase custosas, pois duas décadas após sua grande remodelação,entre 1953 e 1967, várias são as reformas eintervenções executadas no telha<strong>do</strong>, no forro, nas paredes,no piso e altar. No entanto, nada comparável àsconsequências advindas com a construção, em 1968, deImplantada em pequeno“chão de terra”, São Gonçalopode ser acessada por diferentes caminhos. Umdeles, uma curta e estreita travessa, inicia-se no antigoLargo Afonso Brás, um outro, um caminho sinuosoe íngreme, parte da rua Cais de São Francisco, e aindaum terceiro, uma inclinada escadaria, origina-se narua <strong>do</strong> Egito. Essa, com sua orientação leste-oeste, estávirtualmente posicionada no eixo da nave da igreja, situaçãofavorável a, de seu topo, vislumbrar uma atípicaconfiguração destituída de torre e <strong>do</strong>tada de três portasde entrada, sen<strong>do</strong> a <strong>do</strong> meio, mais alta, situação rara nasigrejas <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong> anteriores ao século XIX.Delineada por cunhais de discreto relevo, a fachadafrontal apresenta três janelas sobre o coro, sobrepostaspor cornija de base <strong>do</strong> movimenta<strong>do</strong> frontão. Umconjunto centraliza<strong>do</strong> a partir de óculo re<strong>do</strong>n<strong>do</strong>, mascom três lóbulos internos, de perfil reforça<strong>do</strong> por cordõessalientes de onde se elevam <strong>do</strong>is pináculos e umcrucifixo, o frontão é o principal ornamento da fachadafrontal, e o mais claro indício de uma barroquizanteatualização.Nas fachadas laterais, ao contrário, a contenção e a


481sobriedade, próprias da arquitetura religiosa colonial,se apresentam na <strong>do</strong>minante opacidade das alvenarias,apenas pontualmente interrompida pelas portas e janelas,e no perfil curvo de suas vergas. As janelas são maiorese fechadas com basculante de ferro e vidro na nave, emenores e fechadas com folhas em tabua<strong>do</strong> de madeiranas demais fachadas. No coro, uma em cada fachadaapresenta sinos. Entre as portas, a de acesso lateral ànave está ornada com uma moldura argamassada e umpequeno nicho, posiciona<strong>do</strong>s sobre a verga.Internamente constituída por nave, capela-mor, sacristia,corre<strong>do</strong>res laterais e tribunas, espaços diretamenteliga<strong>do</strong>s à experiência da fé, a igreja de São Gonçalotem na ampla sala de reuniões o mais evidente vestígio<strong>do</strong> papel desempenha<strong>do</strong> pela irmandade na sua consecução.Posicionada sobre a sacristia, e generosamente<strong>do</strong>tada de seis janelas, a sala de reuniões se vincula diretamenteàs tribunas, situação propícia à participaçãoprivilegiada de seus componentes nas missas e rituais.Há ainda, um porão, sob a sacristia, com acessos internoe externo.Contu<strong>do</strong>, seus elementos de maior destaque são, seguramente,o retábulo <strong>do</strong> altar-mor, acréscimo <strong>do</strong> séculoXIX, e a imaginária, especialmente <strong>Santo</strong> Inácio deLoiola e São Francisco Xavier, antes posiciona<strong>do</strong>s emdestaque em nichos da parede da nave, lateralmente aoarco cruzeiro, e agora coloca<strong>do</strong>s no retábulo <strong>do</strong> altarmor. Antecedi<strong>do</strong> por guarda-corpo em balaústre de madeira,possivelmente pertencente à demolida matriz deNossa Senhora da Vitória, o arco cruzeiro está orna<strong>do</strong>de maneira a valorizar suas clássicas proporções.Construtivamente, São Gonçalo é obra sobre fundaçãode pedra, material também a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> em suas paredes.Seguin<strong>do</strong> o tipo tradicional, elas são autoportantes,condição determinante da solidez de seu aspecto, a despeitodas aberturas de porta e janela. Repetida internamente,em sua rugosa aparência, a alvenaria de pedraé a mais evidente expressão da condição histórica <strong>do</strong>imóvel, junto com os pisos da sacristia e da sala de reuniões,um tabua<strong>do</strong> de madeira fixa<strong>do</strong> em barrotes deigual material.Afinal, externamente, a cobertura em telha-francesa sóem sua configuração e na cor lembra as de tipo capacanal,e as esquadrias, basculantes de ferro, só no perfilremetem às de madeira; condição repetida internamentejá que o coro em concreto arma<strong>do</strong> e a escada de acessosão nitidamente modernos, e a associação de forroem tabua<strong>do</strong> altea<strong>do</strong> e liso, cornija perfilada e tirantemetálico, são a expressão da fragmentada condiçãohistórica e estética de São Gonçalo.


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IGREJA DE SÃO GONÇALOCidade Alta, Centro, VitóriaProteção Legal: Tombamento em 6/11/1948pelo Instituto <strong>do</strong> Patrimônio Histórico e Artístico NacionalInscrições no Livro <strong>do</strong> Tombo Histórico, sob o nº 251, folha 42e no Livro <strong>do</strong> Tombo das Belas Artes, sob o nº 317, folha 67483


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VITÓRIAREFERÊNCIASACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTA-RELLO, F. A. de Barros; SANCHOTENE,F. L. (org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>s noEspírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual deCultura / Secretaria de Esta<strong>do</strong> de Educaçãoe Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.ALMEIDA, Renata Hermanny de. Projeto derestauração: igreja de São Gonçalo. Trabalho programa<strong>do</strong>(Mestra<strong>do</strong>). Salva<strong>do</strong>r, Programa dePós-Graduação em <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo,Universidade Federal da Bahia, 1992.CARVALHO, José Antônio. A arte no Espírito<strong>Santo</strong> no perío<strong>do</strong> colonial III. Revistade Cultura – UFES. N° 31. Vitória, 1984, p.61-83.IPHAN. Documento <strong>do</strong> arquivo. Vitória, Instituto<strong>do</strong> Patrimônio Histórico e ArtísticoNacional


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IMÓVEL À RUA MUNIZ FREIRERua Muniz Freire, nº 43, Centro, VitóriaProteção Legal: Resolução nº 8/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o número 70, folhas 7v e 8


Imóvel à Rua Muniz Freire 43Uma das primeiras ruas da cidade de Vitória, a MunizFreire pode ser considerada um de seus vestígios maispreciosos. Como em uma típica rua-corre<strong>do</strong>r, sua facecolonial está configurada até 1983 pela justaposição decerca de onze imóveis, intercala<strong>do</strong>s por três terrenosdesocupa<strong>do</strong>s, em sequência arrematada por <strong>do</strong>is edifíciosde implantação de transição, representada por afastamentoem uma de suas faces laterais.Como conjunto sobrevivente a diferentes processos detransformação da estrutura morfológica e tipológica <strong>do</strong>Centro de Vitória, promovi<strong>do</strong>s durante o século XX, aMuniz Freire mobiliza o reconhecimento da qualidadede sua arquitetura urbana na forma de tombamento deimóveis pertencentes ao Governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>. Contu<strong>do</strong>, surpreendentemente, em contradiçãoadministrativa e jurídica, em ação promovida nosdias 17 e 18 de novembro de 1983, uma instituição públicaestadual determina a demolição de três <strong>do</strong>s cincoimóveis tomba<strong>do</strong>s. Sobrevivente a esse episódio, juntocom outros edifícios remanescentes da Vitória tradicional,além da Residência Cerqueira Lima, da Maçonariae da Escola São Vicente de Paulo, no início <strong>do</strong> séculoXXI, o imóvel de nº 43 da rua Muniz Freire é rugosidadea falar de um tempo a conservar e de um tempo deconstruir a cidade.numa tentativa de superar limitações impostas pelamorfologia urbana da Cidade Alta e atender aos modernospadrões de iluminação e aeração.A fachada frontal, elemento de comunicação entre oedifício e a cidade, está referenciada na arquitetura colonial,explorada na utilização de espacialidades típicascomo balcão, varanda e terraço, e na linguagem de elementosde composição. Esses, apesar da inexistência derigor estilístico, apresentam-se sob o <strong>do</strong>mínio de suareferência. Nesse âmbito, o passa<strong>do</strong> se (re)apresenta notratamento <strong>do</strong>s revestimentos de parede, com a<strong>do</strong>çãode pedra de aparência natural no nível térreo e rebocoreticula<strong>do</strong> imitan<strong>do</strong> painel cerâmico no pavimento superior,no fechamento de guarda-corpo em escama depeixe <strong>do</strong> balcão, e no arremate <strong>do</strong> platibanda de formasimplificada, retoman<strong>do</strong>, em primeiro plano, os frontispíciosde igrejas conventuais. Complementan<strong>do</strong> a composiçãoda fachada, o arremate da parede lateral direitasegue uma linha de sequência côncavo-convexa de meiaaltura, posteriormente emparedada por construção. Encobertapela platibanda e executada em telhas de barro<strong>do</strong> tipo capa-canal com acabamento em beira-seveira, acobertura confirma a escolha histórica da casa.O edifício, de <strong>do</strong>is pavimentos, apresenta implantaçãode transição, resultante da combinação <strong>do</strong> padrão colonial,para as paredes laterais, e de recuo, na fachada,


REFERÊNCIAELTON, Elmo. Logra<strong>do</strong>uros antigos de Vitória. Vitória: EDUFES:Secretaria Municipal de Cultura, 1999, Coleção José Costa, volumetrês.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, nº07 / 1982.


VITÓRIAJARDIM DE INFÂNCIA ERNESTINA PESSOAParque Moscoso, Centro, VitóriaProteção Legal: Resolução n° 7/1990 <strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Histórico sob o nº 175, folhas 29v e 30v


493Jardim de InfânciaErnestina Pessoa


VITÓRIAComo a Concha Acústica, implantada na face sul <strong>do</strong> ParqueMoscoso, o edifício <strong>do</strong> Jardim de Infância ErnestinaPessoa, ao norte, é abstrata e geométrica representaçãoda almejada modernização estética da cidade deVitória. Essa, em sua segunda fase, recentemente reinstauradapela ação <strong>do</strong> então governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> Jones<strong>do</strong>s <strong>Santo</strong>s Neves, como em outras obras executadasno Espírito <strong>Santo</strong>, está representada pela moderna arquiteturabrasileira. Projeta<strong>do</strong>s pelo arquiteto FranciscoBolonha, em 1952, a escola e a concha dialogam na clarezade seu caráter, na intrínseca correspondência entrea forma e a função a que se destinam, na qualidade <strong>do</strong>repertório formal com que foram desenha<strong>do</strong>s e, sobretu<strong>do</strong>,pelo valor de sua proposta tecnológica, manifestona escolha <strong>do</strong> sistema construtivo e, sobretu<strong>do</strong>, em suaindissociável expressão formal.Construtivamente o Ernestina Pessoa é edifício modernoestrutura<strong>do</strong> em sistema independente de concretoarma<strong>do</strong>, o principal responsável por sua expressiva qualidadeformal, aparente em preciso conjunto articula<strong>do</strong>por laje repousada sobre fileiras paralelas de colunas.Executada na forma de “borboleta”, a laje é plana econstitui a regular e precisa volumetria, resultante daarticulação de <strong>do</strong>is trapézios uni<strong>do</strong>s pela base menor.Volumétrica e espacialmente a escola transmite leveza eflexibilidade. Externamente, essas qualidades se revelamem configuração conduzida pelo princípio da não hierarquizaçãodas fachadas. Para acentuar esse princípio,o edifício é posiciona<strong>do</strong> no parque de maneira a explorarem potência a relação entre o interior e o exterior.Diferenciadas por suas relações funcionais e por condicionantesclimáticos, cada uma das quatro fachadas sãocuida<strong>do</strong>samente desenhadas.limítrofe, a fachada norte é delineada a partir de duassoluções: a disposição de cobogó cerâmico vaza<strong>do</strong>, emformato de colmeia; e de um muro-painel externamenterevesti<strong>do</strong> na forma de mosaico cerâmico. Arte aplicadacriada por Anísio Medeiros, o painel é uma regularcomposição regida pela repetição de singelo peixinho.Nas duas outras fachadas, as mais estreitas, o tratamento,também diferencia<strong>do</strong> e especializa<strong>do</strong>, segue a funcionalidade<strong>do</strong>minante <strong>do</strong>s espaços por elas articula<strong>do</strong>s.Na fachada oeste, um quebra-sol vertical móvel, executa<strong>do</strong>em madeira protege a ampla sala de recreação;enquanto na fachada oposta, voltada para leste, as vedaçõessão feitas com o uso de esquadrias em venezianae vidro associada a quebra-sol fixo horizontal, ambosem madeira.Complementarmente, um segun<strong>do</strong> muro mais baixo edisposto na direção leste-oeste, em sequência ao senti<strong>do</strong>longitudinal da edificação, constitui elemento deproteção e separação <strong>do</strong> ambiente de vivência infantil<strong>do</strong> movimento citadino. Esteticamente, esse se apresentaem duplo recobrimento: fragmentos pétreos, na facevoltada para a cidade; e mosaico cerâmico, também deAnísio Medeiros, na face direcionada ao parque.Internamente, a escola foi concebida a partir de rígi<strong>do</strong>zoneamento funcional, expresso na separação das salasde aula, dispostas em sequência na fachada sul, voltadapara o interior <strong>do</strong> Parque Moscoso; e na disposição dasáreas destinadas aos ambientes de serviço e administra-Assim, na fachada sul, voltada para o parque, uma amplaesquadria de madeira e vidro promove a integraçãoentre as salas e o pátio, disposto na frente <strong>do</strong> edifício,e a luminosidade e aeração desejadas. Por sua vez, destinadaa delimitar e isolar a escola <strong>do</strong> ambiente urbano


tivos, junto ao limite norte com a rua José de Anchieta.Essas, por sua vez, são unidas por circulação de acessoàs salas de aula. Posicionada segun<strong>do</strong> o alinhamentodas colunas verticais de apoio, livremente dispostasem paralelo ao plano da parede de vedação das salas deaula, a circulação recebe farta ventilação e iluminaçãopropiciada pela colmeia <strong>do</strong> cobogó cerâmico. Externamente,a volumetria reflete essa divisão. Tratada comsemelhante acuidade e rigor formal, a sala de refeições,lugar <strong>do</strong> encontro coletivo <strong>do</strong>s pequenos usuários, éuma pequena “floresta” de cilíndricas colunas. Aí, o generosoe amplo espaço amplifica a visibilidade da forçaconstrutiva e atributo maior de uma das mais expressivasmanifestações da moderna arquitetura brasileira noEspírito <strong>Santo</strong>.Em sua origem, a escola foi implantada em jardim singelamentegrama<strong>do</strong> e orna<strong>do</strong> pela estátua da professoraErnestina Pessoa. Em seu posicionamento frontal,como guardiã da entrada de seus pequenos usuários, aescultura, como num túnel <strong>do</strong> tempo, realizava a passagementre o pitoresco e romântico ambiente <strong>do</strong> ParqueMoscoso e o moderno e racional Jardim de Infância.REFERÊNCIASACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. L. (org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>s noEspírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretariade Esta<strong>do</strong> de Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.ALMEIDA, Marcelene; FONSECA, Luciana; RESENDE, LeandraF. Jardim de Infância Ernestina Pessoa - levantamento histórico e análisearquitetônica. Trabalho de Disciplina (Graduação). Vitória, PatrimônioHistórico, Artístico e <strong>Cultural</strong>, Departamento de <strong>Arquitetura</strong> eUrbanismo, Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, 1997.ALMEIDA, Renata Hermanny de; CAMPOS, Martha Macha<strong>do</strong>;FREITAS, José Francisco Bernardino de. Méto<strong>do</strong> de intervençãourbana em área central: o papel da arquitetura no Centro de Vitória(ES). Vitória, Núcleo de Estu<strong>do</strong>s de <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo,Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, 2000.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, nº03, 1982.MUNIZ, Maria Izabel Perini. Parque Moscoso: <strong>do</strong>cumento de vida. Vitória:Fundação Ceciliano Abel de Almeida & Fundação JôniceTristão, 1985.SILVA, Mônica Cristina de Souza, et. al. Memórias Restauradas:Jardim de Infância Ernestina Pessoa. Revista Imagem Urbana. RevistaCapixaba de <strong>Arquitetura</strong>, Design & Urbanismo. Vitória, ano 01, n° 03,p. 26-30, jul./ago., 1999.


VITÓRIA


497Merca<strong>do</strong> da CapixabaViabiliza<strong>do</strong> por meio de contrato firma<strong>do</strong> entre os governosestadual e municipal, assina<strong>do</strong> em 1921, o programade Avi<strong>do</strong>s visa à execução de um conjunto deobras urbanas articula<strong>do</strong> para finalizar um antigo projeto:tornar Vitória fluída, salubre e bela. Por esse contrato,o município, executor da obra inaugurada no anode 1927, adquire o direito de ocupação e uso <strong>do</strong> edifíciopor vinte e cinco anos, condição mantida até 1970.Nesse momento, de posse <strong>do</strong> Merca<strong>do</strong>, o Governo <strong>do</strong>Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong> repassa o direito de uso, portempo indetermina<strong>do</strong>, para duas empresas privadas dedireito público, a Fundação de Esporte Ama<strong>do</strong>r e Recreação<strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, e a Empresa Capixaba deTurismo – Emcatur.Construí<strong>do</strong> entre 1924 e 1928 como parte <strong>do</strong> programade construção e remodelação da cidade, empreendi<strong>do</strong>pelo governo de Florentino Avi<strong>do</strong>s, desde então umareferência na vida econômica e social de Vitória, o Merca<strong>do</strong>da Capixaba tem sua história vinculada às modificaçõespromovidas em sua condição de propriedade nodecorrer <strong>do</strong> século XX.Essa é uma alteração com expressivos impactos sobre acondição de uso e de conservação <strong>do</strong> edifício, resultantes,especialmente, da locação de sua área para estabelecimentoscomerciais sem vínculos com sua destinaçãooriginal. Manifestos física e funcionalmente, os impactosmobilizam a retomada da posse <strong>do</strong> Merca<strong>do</strong> da Capixabapela Prefeitura Municipal de Vitória, a partir de1993. Mas não só. Associadas às mudanças na natureza<strong>do</strong>s produtos comercializa<strong>do</strong>s, as modificações promovidasno entorno urbano <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> contribuem significativamentenas vivências próprias às dinâmicas dacompra e da venda.


VITÓRIAConstruí<strong>do</strong> em terreno situa<strong>do</strong> entre a baía de Vitória ea mais nova via urbana da cidade, a Capixaba, em áreaconquistada por aterro, o Merca<strong>do</strong> da Capixaba, uma“praça comercial” protegida por quatro alas dispostassobre o perímetro de uma das quadras resultantes darecente urbanização, além de entreposto de secos e molha<strong>do</strong>s,de carnes e frutas, de verduras e legumes frescos,é um ponto de encontro e de passagem. Com suasquatro e amplas portas de entrada, seu espaço amplia-se,atrain<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>res exigentes ou transeuntes. Afinal,os aromas deviam ser cativantes, o burburinho dasnegociações intrigantes, os petiscos estimulantes. Nessaépoca, correspondente ao perío<strong>do</strong> compreendi<strong>do</strong> entreas décadas de 1920 e 1940, um hotel, o Avenida, atraí<strong>do</strong>pelo dinamismo <strong>do</strong> mais novo bulevar da cidade, ocupavao pavimento superior da “ala da avenida”.Numa segunda fase, correspondente às décadas de 1950e 1960, duas alterações promovem concorrentes dinamismos.Vinculada à dinâmica de usos, a ocupação <strong>do</strong>piso superior da ala da avenida pelo auditório da RádioClub <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong> agita uma cativa audiência. Esseé um perío<strong>do</strong> marca<strong>do</strong> por elos musicais inesquecíveis.Enquanto isso, no térreo, a atividade comercial vinculadaao abastecimento alimentício se mantém. Mas, aomesmo tempo, a execução de aterros visan<strong>do</strong> expandira cidade e melhorar sua ligação com os bairros litorâneos,e o incremento <strong>do</strong> fluxo de veículos automotivos,enseja sutis mudanças. De lugar de encontro e passagematenta, o Merca<strong>do</strong> da Capixaba se transforma emespaço para se ver distraidamente, de passagem.Contu<strong>do</strong>, será a chegada <strong>do</strong> comércio de produtos industrializa<strong>do</strong>s,os artigos de consumo de massa, própriaaos anos seguintes à década de 1970, o momento <strong>do</strong>seventos de maior impacto em sua dinâmica. Seus ocupantes,cada vez mais estrangeiros e efêmeros, trazema mudança constante. O desenraizamento. E ele é implacávelno desejo da novidade mais nova. Assim, atrásde consumi<strong>do</strong>res, as lojas são recobertas com anúnciospublicitários, as áreas construídas são ampliadas, os materiaisoriginais são substituí<strong>do</strong>s por outros mais modernos.Finalmente, um incêndio resulta no aban<strong>do</strong>no eno desuso de sua ala mais valorizada, a da avenida.Momento de ruptura, o final <strong>do</strong> século XX consolidauma mutação, à espera de alternativa criativa capaz depromover o reatar das qualidades físicas às potencialidadessociais e econômicas testemunhadas pela história.Lugar de acontecimentos de uma época e de um lugar,o Merca<strong>do</strong> da Capixaba povoa a memória de alguns<strong>do</strong>s muitos que nele trabalharam ou se divertiram, ou,também, por ele perambularam atrás <strong>do</strong> peixe fresco,da fruta da época ou, simplesmente, de um bom batepapo.Historia<strong>do</strong>r, Fernan<strong>do</strong> Achiamé traz em sua memóriao“Seu” Car<strong>do</strong>so e sua mercearia, embrião <strong>do</strong>s faleci<strong>do</strong>s Supermerca<strong>do</strong>sSanta Martha. E <strong>do</strong> pátio interno calça<strong>do</strong> depedras com barracas venden<strong>do</strong> frutas. E os peixes em cimade pedras altas e lisas. E a carne de ga<strong>do</strong> no açougue. E asmercearias sortin<strong>do</strong> o seco e o molha<strong>do</strong>. E o sumiço de tu<strong>do</strong>isso. Agora temos lá um supermerca<strong>do</strong> de remédio, outrosupermerca<strong>do</strong> de telefones e o maior deles o de artezanato(com z de mentira).Já para o jornalista José Costa, ele “está ancoran<strong>do</strong> em[suas] vagas lembranças uma lanchinha verde, vin<strong>do</strong><strong>do</strong>s la<strong>do</strong>s de Santana (?), trazen<strong>do</strong> carne de boi para omerca<strong>do</strong> da Capixaba.”Por outro la<strong>do</strong>, para o escritor Marien Calixteo merca<strong>do</strong> da Capixaba oferecia uma atração especial. Naparte superior da sua fachada, pela avenida Capixaba, estavainstalada a Rádio Espírito <strong>Santo</strong>, seus estúdios e auditório.Era um requinte da época. Passean<strong>do</strong> pelas lojas ou no interior<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> podiam-se encontrar radialistas famosos emsua época: Bertino Borges, Cody Santana Có, os irmãos vio-


499linistas José e Maurício de Oliveira, Mundico e os músicos desua orquestra, Maria Cibele, dentre outros. Uns iam lá saborearum aperitivo, outros para fazer o jogo <strong>do</strong> bicho, outrospara reunir-se aos colegas da rádio e, também, apreciar os“rabos de saia” que glorificavam o local. [...] íamos apreciar omar nos fun<strong>do</strong>s <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> [...] Os merca<strong>do</strong>s da Vila Rubim[...] e o da Capixaba [...] <strong>do</strong>tam a cidade de memória.Edifício de um só pavimento, com exceção da ala dispostasobre a avenida, o Merca<strong>do</strong> da Capixaba, segun<strong>do</strong>uma tradicional configuração morfológica, está implanta<strong>do</strong>sobre os limites de uma quadra de perímetrorígi<strong>do</strong>. Decorrente dessa situação, o volume edifica<strong>do</strong>apresenta franca regularidade, responsável por grandeparte <strong>do</strong> papel representa<strong>do</strong> pelo merca<strong>do</strong> na constituição<strong>do</strong> novo padrão estético proposto para Vitória nastrês primeiras décadas <strong>do</strong> século XX.Acompanhan<strong>do</strong> o novíssimo bulevar da cidade, a recém-abertaCapixaba, a principal fachada <strong>do</strong> Merca<strong>do</strong>foi especialmente tratada com ranhuras horizontais noreboco, faixa lisa com molduras retangulares na altura<strong>do</strong> peitoril <strong>do</strong> pavimento superior e relevos horizontaisna platibanda. Aí, uma discreta elevação, associada à posiçãocentral <strong>do</strong> vão de porta de acesso ao pátio interno,marca simbolicamente o caráter público <strong>do</strong> edifício.Em conjunto, as quatro faces da quadra <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>apresentam uma horizontalidade <strong>do</strong>minante, reforçadapela sequência rítmica de vãos de portas e pela platibandade arremate, em uma composição estética carente dereferências históricas precisas. Internamente, o espaço,organiza<strong>do</strong> a partir de um pátio central, é o principalresponsável pela ligação <strong>do</strong> interior com o exterior, pormeio de suas múltiplas portas.


VITÓRIAConstrutivamente, o edifício foi originalmente ergui<strong>do</strong>com o uso de paredes portantes em tijolos, associadasà viga metálica, na forma de trilhos de ferro. Complementarmente,para ornar sua discreta arquitetura, a madeirae o ferro são os materiais mais utiliza<strong>do</strong>s. Nas esquadriasdas janelas situadas no pavimento superior, asmais refinadas, a madeira aparece em venezianas associadasao vidro, enquanto nas portas das lojas, elas sãotipicamente resolvidas com o uso <strong>do</strong> ferro em placas deenrolar e nos gradis das bandeiras.REFERÊNCIASACHIAMÉ, Fernan<strong>do</strong>. Para a cidade e para o mun<strong>do</strong>. In PrefeituraMunicipal de Vitória. Escritos de Vitória: merca<strong>do</strong>s e feiras. Vitória: SecretariaMunicipal de Cultura e Turismo. Vol. 11, 1995, pp. 81-64.ALMEIDA, Renata Hermanny de, et al. <strong>Arquitetura</strong> <strong>do</strong> historicismoem Vitória. Vitória, Núcleo de Estu<strong>do</strong>s de <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo,Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, 1997.ALMEIDA, Renata Hermanny de; CAMPOS, Martha Macha<strong>do</strong>;FREITAS, José Francisco Bernardino. Méto<strong>do</strong> de intervenção urbanaem área central: o papel da arquitetura no Centro de Vitória (ES). Relatóriofinal (Pesquisa). Vitória, Núcleo de Estu<strong>do</strong>s de <strong>Arquitetura</strong> eUrbanismo, Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, 2000.CALIXTE, Marien. Bananas, curiós e peras. In Prefeitura Municipalde Vitória. Escritos de Vitória: merca<strong>do</strong>s e feiras. Vitória: SecretariaMunicipal de Cultura e Turismo. Vol. 11, 1995, pp. 169-74.COSTA, José. Merca<strong>do</strong> em baixa. In Prefeitura Municipal de Vitória.Escritos de Vitória: merca<strong>do</strong>s e feiras. Vitória: Secretaria Municipalde Cultura e Turismo. Vol. 11, 1995, pp. 137-39.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Presidente (Florentino Avi<strong>do</strong>s).Mensagem final... 1924-1928. Vitória, 1928.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória, ConselhoEstadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, nº 05, 1982.FUNDAÇÃO JONES DOS SANTOS NEVES. Patrimônio histórico daGrande Vitória: edificações a serem preservadas. Vitória, mai., 1978, 222 pp..SANTOS, Simone Cypreste. Merca<strong>do</strong> da Capixaba: uma questão de intervenção.Graduação (Monografia). Vitória, Departamento de <strong>Arquitetura</strong>e Urbanismo, Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, 1994.


501MERCADO DA CAPIXABAAvenida Jerônimo Monteiro, Centro, VitóriaProteção Legal: Resolução nº 2/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 29, folhas 3v e 4


VITÓRIAMUSEU DE ARTE DO ESPÍRITO SANTO MAESAvenida Jerônimo Monteiro, nº 577, Centro, VitóriaProteção Legal: Resolução nº 2/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 28, folhas 3v e 4


503Museu de Arte<strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong> - MAESConstruí<strong>do</strong> para abrigar a sede <strong>do</strong>s Serviços de Melhoramentosde Vitória, o edifício se insere no projetode modernização da Capital, especialmente na transformaçãode sua estrutura urbana. Empreendida pelogoverno de Florentino Avi<strong>do</strong>s, entre 1924 e 1928, amodernização de Vitória é conduzida por um conjuntode ações orientadas por três preocupações centrais,o embelezamento, a salubridade e a fluidez.Nesse conjunto de perspectivas que é possível compreendera importância da abertura da avenida Capixaba.Responsável pela conexão da cidade com a regiãodas praias, pela extensão de seu solo edificável epela melhoria das condições de circulação viária nointerior <strong>do</strong> núcleo, a Capixaba é a expressão urbanística<strong>do</strong> embelezamento de Vitória. Afinal, constituídacomo um largo e extenso bulevar, o maior que os capixabasjá haviam visto em sua cidade, a novíssima avenidaserá escolhida como o espaço ideal para espelharcivilização e progresso. Nela então serão construí<strong>do</strong>sedifícios residenciais, comerciais e de serviço, estimulan<strong>do</strong>a incipiente indústria da construção civil, mas,também nela, serão erguidas a Escola Gomes Cardime a sede <strong>do</strong>s Serviços de Melhoramentos de Vitória.De implantação tradicional, ocupan<strong>do</strong> os limites delote de esquina, a construção de <strong>do</strong>is pavimentos sedesenvolve em volume regular deriva<strong>do</strong> <strong>do</strong> perfil triangular<strong>do</strong> terreno. Com exceção da fachada da esquina,verticalizada por sua menor largura, bem como peladisposição em eixo de vãos de porta correspondentesaos <strong>do</strong>is pavimentos, e pela interrupção da cornija dearremate para a inserção de ornamento em relevo, asduas fachadas laterais estão homogeneamente estruturadaspela sequência de vãos de porta. Esses, justapostosnos <strong>do</strong>is pavimentos, são os principais responsáveis pelacadência rítmica de cheios e vazios defini<strong>do</strong>s a partirde um módulo central defini<strong>do</strong>r de simetria bilateral.A horizontalidade derivada dessa composição em filaé discretamente diluída pelo contraponto de arcos plenose vergas retas, a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s para o arremate <strong>do</strong>s vãosde porta, e pelo movimento da linha de platibanda, resultantede elevação em seu ponto mediano. Essa mes-


VITÓRIAma elevação, promovida por uma sequência de linhascôncavas e convexas, se repete na fachada da esquina,poden<strong>do</strong> ser considerada o elemento unifica<strong>do</strong>r dacomposição.Construí<strong>do</strong> em sistema moderno de laje, pilar e vigaem concreto arma<strong>do</strong>, o edifício recebe acréscimo àcobertura original, uma estrutura em madeira comrecobrimento em telha-francesa de barro, resultantede uma intervenção realizada na segunda metade <strong>do</strong>sanos de 1990, a mesma responsável pela incorporaçãode uma claraboia em ferro e vidro. Complementama base material da construção, esquadrias de ferro evidro, no pavimento térreo, e madeira e vidro com veneziana,no primeiro pavimento.Funcionalmente, a sede <strong>do</strong>s Serviços de Melhoramentosde Vitória é continuamente adaptada durante a segundametade <strong>do</strong> século XX visan<strong>do</strong> sua adequaçãoa diferentes instituições públicas que ali se instalam.Entre elas, destacam-se o Departamento de ImprensaOficial, em 1950, e a Secretaria de Administração <strong>do</strong>Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, entre 1972 e 1983. Desocupa<strong>do</strong>nesse último ano, o edifício se mantém em desusopor quase uma década para, após ser restaura<strong>do</strong>e refuncionaliza<strong>do</strong> segun<strong>do</strong> projeto de 1995, abrigar oMuseu de Artes <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong> – MAES.REFERÊNCIASALMEIDA, Renata Hermanny de; CAMPOS, Martha Macha<strong>do</strong>;FREITAS, José Francisco Bernardino. Méto<strong>do</strong> de intervenção urbanaem área central: o papel da arquitetura no Centro de Vitória (ES). Relatóriofinal (Pesquisa). Vitória, Núcleo de Estu<strong>do</strong>s de <strong>Arquitetura</strong>e Urbanismo, Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, 2000.CASTRO, Andressa Egito de. Web Vitória: divulgação da evoluçãourbana e da arquitetura <strong>do</strong> Centro de Vitória na Internet. Monografia(Graduação). Vitória, Departamento de <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo,Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, 1998.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura,nº 05, 1982.


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PALÁCIO ANCHIETAPraça João Clímaco, Centro, VitóriaProteção Legal: Resolução nº 2/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 23, folhas 3v e 4


507Palácio AnchietaNo início <strong>do</strong> século XXI, a cidade de Vitória guardaseus traços mais genuínos. Entre eles, o Palácio Anchietapode ser considera<strong>do</strong> o mais representativo. Ergui<strong>do</strong>sobre a estrutura <strong>do</strong> Colégio e Residência de São Tiago,ele oculta em seus alicerces e encerra em suas paredes aobra arquitetônica de maior relevância histórica e socialerguida em solo capixaba. A fundação da vila, no final<strong>do</strong>s primeiros quinze anos de colonização da capitaniapor Vasco Fernandes Coutinho, foi comemorada soba proteção de São Tiago, santo a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> pelos padresda Companhia de Jesus em sua missão civiliza<strong>do</strong>ra.Naquele dia, coincidente com a festa da Natividade daSantíssima Virgem, empunhava o estandarte <strong>do</strong> santo opadre Brás Lourenço. É o 8 de setembro de 1551, diaem que, rebatizada, a ilha de <strong>Santo</strong> Antônio passa a serconhecida como Vila de Nossa Senhora da Vitória.Nesse mesmo ano, havia si<strong>do</strong> inaugurada a primeiraconstrução jesuítica na capitania. Um empreendimentofísico e material, a igreja de Vitória é, antes de mais nada,o testemunho de fé e devoção <strong>do</strong>s irmãos Afonso Brás eSimão Gonçalves que, com o envolvimento de colonose indígenas iniciam a obra. Mas essa não é uma açãofácil. Além das dificuldades decorrentes da incipientevida econômica e social da vila, os religiosos e seus fiéissegui<strong>do</strong>res precisam enfrentar a resistência de nativosnão converti<strong>do</strong>s. A data da inauguração da igreja, 25de julho, não deixa dúvidas quanto ao empenho <strong>do</strong>shomens de então. Afinal, entre essa data e a chegada deAfonso Brás, transcorreram-se poucos meses. Imaginase,contu<strong>do</strong>, que essa seja uma estrutura provisória,pois os relatos da obra final indicam uma construçãoexecutada em uma longa duração, concluída às vésperasda expulsão <strong>do</strong>s padres jesuítas, em 1759.Inicialmente, informa o historia<strong>do</strong>r Fernão Cardim, existema casa e o colégio com sete celas e partes comuns,constituídas de enfermaria, refeitório e salas de ensino,correspondente à fachada voltada para o largo AfonsoBrás, atual praça João Clímaco. É o ano de 1584. Nummomento posterior, correspondente à primeira metade<strong>do</strong> século XVIII, em sequência são erguidas outras duasalas, sen<strong>do</strong> uma delas a fachada voltada para a baía deVitória, complementada com escadaria fronteiriça.Da chegada à capitania até o final <strong>do</strong> século XVII,a ação religiosa se amplia com a constituição deuma base produtiva de apoio e desenvolvimento <strong>do</strong>projeto na Colônia. Nesse tempo, os padres jesuítasabrem caminhos, erguem portos, instalam fazendase negociam produtos, constituin<strong>do</strong> um complexo eautônomo sistema de ação estranho ao projeto colonial.


VITÓRIAA reação da metrópole portuguesa indica a força daameaça representada pela Companhia de Jesus. Em1759 os jesuítas são expulsos. O processo, inicia<strong>do</strong> como reitor padre Silvério Pinheiro receben<strong>do</strong> um mandatode prisão, tem sua concretização efetivada no dia 22 dejaneiro <strong>do</strong> ano seguinte, quan<strong>do</strong>...com suas capas aos ombros e crucifixos ao peito, [os jesuítas]embarcam no Liburnia, como se fossem galés condena<strong>do</strong>s.[...] Encerrava-se o grande ciclo de <strong>do</strong>is séculos decomunhão fraterna, de cooperação sincera e leal. Escolas,assistência, trabalho agrícola, justiça e moral desmoronaramsecomo um castelo construí<strong>do</strong> na areia...Aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong> após a expulsão <strong>do</strong>s padres, o conjuntojesuítico de Vitória tem nova destinação quan<strong>do</strong>,com o confisco <strong>do</strong>s bens da Companhia de Jesus noEspírito <strong>Santo</strong>, os mesmos são leiloa<strong>do</strong>s na cidade <strong>do</strong>Rio de Janeiro, em 1782. Arremata<strong>do</strong>s pelo alferesFrancisco Antônio de Carvalho, eles incluem chãosurbanos, móveis, utensílios e objetos de culto e propriedadesrurais.A partir desse episódio, o Colégio de São Tiago passaa abrigar a sede <strong>do</strong> governo da capitania, e as igrejas eresidências situadas fora da capital, câmaras municipaise cadeias. Esse é um perío<strong>do</strong> de quase aban<strong>do</strong>no <strong>do</strong>edifício, durante o qual a estrutura jesuítica é vitimadanão só por acidentes, como o incêndio de 1796, mastambém pelas diversas obras de adaptação <strong>do</strong> edifícioà sua nova função. Assim, no final <strong>do</strong> século XVIII,sob a determinação <strong>do</strong> Governo Geral da Bahia, alise instalou o Hospital Militar, no térreo da ala <strong>do</strong> mar.Posteriormente, a residência de governo passa a abrigaro Quartel <strong>do</strong> Batalhão de Linha e o Corpo de Polícia.No decorrer da segunda metade <strong>do</strong> século XIX as obrascontinuam. Entre elas, destacam-se aquelas empreendidaspara recepcionar e abrigar Suas Majestades Imperiais,em 1860, e as reformas internas empreendidas paraadaptar o edifício a uma multiplicidade de unidades degoverno tais como o Liceu, a Tesouraria, Fazenda, Administração<strong>do</strong>s Correios, armazém de artigos bélicos,Biblioteca Pública, escola de primeiras letras.Contu<strong>do</strong>, será o século XX o tempo da definitiva destruiçãoda obra jesuítica mais importante no Espírito<strong>Santo</strong>. Empreendi<strong>do</strong> no governo <strong>do</strong> presidente de esta<strong>do</strong>Jerônimo Monteiro, o projeto de reconstrução deJustin Norbert abrange o conjunto de colégio, igreja eescadaria, e estará concluí<strong>do</strong> em 1922, quan<strong>do</strong> o presidentecoronel Nestor Gomes autoriza a demolição dasegunda torre da igreja de São Tiago. Complementarmente,e de pequeno impacto na configuração <strong>do</strong> novoedifício, o presidente Florentino Avi<strong>do</strong>s autoriza a ampliaçãoe o aproveitamento da ala térrea voltada para olargo Afonso Brás, posteriormente praça João Clímaco,sobretu<strong>do</strong> de seu subsolo.O mesmo não se pode dizer <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> da reconstruçãointerna e da ampliação resultante <strong>do</strong> aproveitamentointegral <strong>do</strong> pavimento térreo, no la<strong>do</strong> fronteiroà Escola Maria Ortiz, realizada no ano de 1935. Essaintervenção, responsável pela demolição interna <strong>do</strong> edifícioe pela sua reconstrução em estrutura de concretoarma<strong>do</strong>, representa a alteração definitiva <strong>do</strong> caráter deseus ambientes. Assim, incorpora<strong>do</strong>s ao arcabouço daantiga edificação, tetos estuca<strong>do</strong>s e sancas em gesso deautoria de Waldemar Bogdanoff, russo residente na cidadee autor de baixos-relevos e <strong>do</strong> altar-mor da CatedralMetropolitana, e quadros de Levino Fanzeres, porexemplo, apagam definitivamente a atmosfera austera,sóbria e despojada <strong>do</strong> complexo jesuítico, conferin<strong>do</strong> àsede <strong>do</strong> governo estadual a grandeza pública e a magnificênciaestética que se deseja sinalizar.Na área correspondente à antiga sacristia da igreja deSão Tiago se situa o túmulo <strong>do</strong> padre José de Anchieta.A permanência <strong>do</strong>s despojos <strong>do</strong> padre em solo capixaba,na realidade a parte não embarcada em caravela quenaufraga no trajeto entre o Rio de Janeiro e Roma,no ano de 1609, incita devoção, manifesta em preces


e romarias. Contu<strong>do</strong>, em 1734, mais uma vez aberto,retiram-se os últimos despojos <strong>do</strong> túmulo.Constitui<strong>do</strong>r <strong>do</strong> conjunto histórico mais antigo deVitória, o Palácio Anchieta destaca-se em seu ambientepela <strong>do</strong>minância de sua escala, de sua volumetria e desua linguagem arquitetural. Da mesma maneira, a suahistória, ao confundir-se com a <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>, encerra homens, ideias e projetos, uma condiçãoantecipada por Luiz Serafim Derenzi, para quem...a velha mansão jesuítica falou, fala e falará às gerações <strong>do</strong>seu passa<strong>do</strong> de esperança [...]. Ela foi a oficina de reparose é hoje o laboratório de novos méto<strong>do</strong>s para agredir ofuturo que está presente...O edifício resultante da obra de Justin Norbert, é umvolume regular constituí<strong>do</strong> por <strong>do</strong>is pavimentos maisporão, ergui<strong>do</strong>s em forma de alas em torno de um pátiocentral, princípio arquitetônico responsável pela configuraçãoda quadra. Internamente, os ambientes estãoorganiza<strong>do</strong>s por circulação disposta no perímetro internodas alas e por passagens entre os diversos cômo<strong>do</strong>s.De suas quatro fachadas, a posicionada de frente paraa baía de Vitória, desenhada para abrigar a nova entradapalaciana, recebe atenção especial com a inclusão deuma galeria avançada no nível <strong>do</strong> primeiro pavimento,crian<strong>do</strong> um avaranda<strong>do</strong> ao nível <strong>do</strong> pavimento superior.Mas não só. Remodelada com a roupagem ecletizantede Norbert, junto com a fachada da praça João Clímaco,ela é tratada de forma a obter maior magnificência.


VITÓRIAPara isso, os vãos de porta e de janela recebem moldurase ornatos, os balcões são fecha<strong>do</strong>s com balaústres,as paredes são rebocadas com a inserção de ranhurase de falsas pilastras intercalan<strong>do</strong> os vãos, o telha<strong>do</strong> éescondi<strong>do</strong> por platibanda com a inclusão de frontão eelementos escultóricos.As demais fachadas, voltadas para o interior <strong>do</strong> teci<strong>do</strong>urbano, de menor impacto e visual e presença paisagística,foram as menos alteradas. Dessa maneira, <strong>do</strong>tadas<strong>do</strong> despojamento e da simplicidades, marcas principaisdas construções inacianas no Brasil, são elas que maisintegralmente remetem à construção colonial. Contu<strong>do</strong>,por sua fraca visibilidade, esse traço exige um olharatento e interessa<strong>do</strong> para que, num percurso envolvente<strong>do</strong> conjunto edifica<strong>do</strong> <strong>do</strong> Palácio Anchieta, sua condiçãohistórica possa ser reconhecida.


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VITÓRIAApós intervenções modifica<strong>do</strong>ras da estrutura física <strong>do</strong>edifício jesuítico, no perío<strong>do</strong> de 2004 a 2009 o PalácioAnchieta passou por uma ampla obra de restauro. Iniciadapelas fachadas e pelo telha<strong>do</strong>, ela inclui a manutençãode espaços internos, entre os quais os salões, e acriação de ambientes destina<strong>do</strong>s a exposições e eventos.Importante por revelar aspectos desconheci<strong>do</strong>s <strong>do</strong> edifício,como técnica e materiais construtivos utiliza<strong>do</strong>sem sua edificação, a obra de restauro resulta, ainda, naexposição <strong>do</strong> edifício em sua condição de <strong>do</strong>cumentohistórico.REFERÊNCIAACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. L. (org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>s noEspírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretariade Esta<strong>do</strong> de Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.ALMEIDA, Renata Hermanny de; CAMPOS, Martha Macha<strong>do</strong>;FREITAS, José Francisco Bernardino. Méto<strong>do</strong> de intervenção urbanaem área central: o papel da arquitetura no Centro de Vitória (ES). Relatóriofinal (Pesquisa). Vitória, Núcleo de Estu<strong>do</strong>s de <strong>Arquitetura</strong> eUrbanismo, Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, 2000.ALMEIDA, Renata Hermanny de, et. al. <strong>Arquitetura</strong> <strong>do</strong> historicismoem Vitória. Vitória, Núcleo de Estu<strong>do</strong>s de <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo,Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, 1997.DERENZI, Luiz Serafim. História <strong>do</strong> Palácio Anchieta. Rio de Janeiro:Artenova, 1971.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Exposição sobre os negócios <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> noquadriênio de 1908 a 1912, <strong>do</strong> Exmo. Sr. Jerônimo Monteiro – Presidente<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> durante o perío<strong>do</strong>. Vitória, 1913.______. Processo de tombamento. Vitória, Conselho Estadual de Cultura,Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, nº 05, 1982.FUNDAÇÃO JONES DOS SANTOS NEVES. Patrimônio ambientalurbano e natural da Grande Vitória. Vitória, ago., 1978.______. Patrimônio histórico da Grande Vitória: edificações a serem preservadasem Vitória. Anexo, Plantas. Vitória, maio, 1978.PRADO, Michele Monteiro. A Modernidade e o seu retrato: imagens erepresentações da paisagem urbana de Vitória (1890-1950). Dissertação(Mestra<strong>do</strong>). Salva<strong>do</strong>r, Programa de Pós-Graduação em <strong>Arquitetura</strong>e Urbanismo, Universidade Federal da Bahia, 2002.


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515Palácio Domingos MartinsErgui<strong>do</strong> no sítio da igreja da Misericórdia, em terrenositua<strong>do</strong> na ponta de um <strong>do</strong>s quarteirões mais antigosde Vitória, junto com o conjunto urbano configura<strong>do</strong>pela praça João Clímaco, o Palácio Anchieta, aEscola Maria Ortiz, o edifício <strong>do</strong> Palácio DomingosMartins é expressão estética <strong>do</strong> projeto moderniza<strong>do</strong>rempreendi<strong>do</strong> na cidade durante a primeira metade <strong>do</strong>século XX.Conduzi<strong>do</strong> entre 1908 e 1912 por Jerônimo Monteiro,esse projeto é a expressão arquitetônica da negação<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> luso-brasileiro, ergui<strong>do</strong> por mais de trêsséculos, e sua substituição pelo ecletismo europeu.Do conjunto, a praça João Clímaco é a primeira areceber intervenção de embelezamento de Vitória, em1907. Em intervenção sequencial, entre 1910 e 1912,são amplia<strong>do</strong>s e remodela<strong>do</strong>s a Escola Maria Ortiz, oPalácio <strong>do</strong> Governo, e a escadaria fronteiriça com asobreposição de roupagem referenciada na linguagemclássica de matriz barroca. Por sua vez, o PalácioDomingos Martins, da mesma época, é construçãonova, erguida sobre solo resultante da demolição daigreja da Misericórdia.Projeta<strong>do</strong> por André Carloni em 1908, o edifício foiergui<strong>do</strong> durante a administração de Monteiro, sen<strong>do</strong>inaugura<strong>do</strong> no ano de 1912. Para a construção <strong>do</strong> novoedifício, Carloni aproveita algumas paredes e os alicerces daantiga igreja da Misericórdia, uma estrutura executada empedra argamassada com espessura de aproximadamenteum metro. Edifica<strong>do</strong>s sobre essa base, <strong>do</strong>is pavimentosse elevam, fecha<strong>do</strong>s por três fachadas dispostas sobre oslimites <strong>do</strong> terreno e por uma face posicionada sobre aesquina. Essa, desenhada de maneira a receber a entradaprincipal ao interior <strong>do</strong> Palácio, é hierarquizada com adisposição de detalhes e a composição simétrica deelementos de arquitetura hierarquicamente dispostossobre sua superfície semicircular.Resultante <strong>do</strong> desnível <strong>do</strong> terreno, a porta de entradaé acessada por escada implantada em curva, soluçãoresponsável pela criação de ambiência protegida e, aomesmo tempo, de discreta monumentalidade. Fechadapor balaústres, a sacada é um espaço de significativoimpacto na volumetria <strong>do</strong> edifício, não só pela ideia demovimento por ela gerada, mas também pelo conjuntode que faz parte, no qual estão incluí<strong>do</strong>s elementosde forte simbologia como uma rosácea e uma cúpula,arrematada por pequeno lanternim. Internamente,local de deslocamento, apresenta patamares emsemicírculo, a partir <strong>do</strong>s quais é possível vislumbraro sítio original de Vitória, o largo Afonso Brás, ondeestiveram o colégio jesuítico e a igreja de São Tiago, ea igreja da Misericórdia. Diferentemente, as fachadaslaterais são projetadas para garantirem ordem econtinuidade à composição, ideia concretizada com adisposição, em equilibrada repetição, de um conjuntode elementos e ornamentos, em geral desenha<strong>do</strong>s semrigor historicista, como na fachada principal. Assim,enquanto na platibanda pequenos frontões e pináculosseguem motivos de inspiração romântica, no segun<strong>do</strong>pavimento as janelas recebem gradis de desenho artnouveau e coroamento clássico.


VITÓRIAOriginalmente ergui<strong>do</strong> com paredes portantes em alvenariade tijolo, sobre as quais se apoiava estruturahorizontal em barrotes de madeira revesti<strong>do</strong>s comtabua<strong>do</strong> de mesmo material, em 1967, o edifício <strong>do</strong>Palácio Legislativo é moderniza<strong>do</strong>, com substituição<strong>do</strong> sistema tradicional por uma estrutura independentede laje, pilar e viga em concreto arma<strong>do</strong>. Complementarmente,a madeira é o material utiliza<strong>do</strong> para asesquadrias em veneziana e vidro, o ferro para os gradisdas sacadas e a telha cerâmica para o recobrimento daestrutura de madeira.O interior da edificação foi reforma<strong>do</strong> diversas vezes,visan<strong>do</strong> adaptações funcionais e tecnológicas. Na primeiraque se tem notícia, executada no governo de JoãoPunaro Bley, entre 1930 e 1935, foi feito um reforço daestrutura com o acréscimo de dez pilares em concretoarma<strong>do</strong> e perfis de aço. Contu<strong>do</strong>, serão as reformasempreendidas em 1967 as de maior impacto sobre oprédio, com construção de um anexo, na fachada darua Muniz Freire, a modificação <strong>do</strong> teto, a ampliação dealgumas salas e a substituição das escadas de madeirapor escadas em concreto revestidas com mármore, e acriação de um pavimento térreo sob a fachada da ruaPedro Palácios. Ainda nessa reforma, as fachadas originaissofreram modificações, como fechamento e aberturade vãos de janelas, transformação de janela em vãode porta. Ampliadas em 1969, as modificações são retomadasno ano de 1985 quan<strong>do</strong>, em uma nova reforma,é construí<strong>do</strong> um entrepiso entre os pavimentos e sãoacrescentadas divisórias visan<strong>do</strong> aumentar o número desalas. Essas, de caráter essencialmente utilitário, podemser consideradas as de maior impacto sobre o ambienteinterno <strong>do</strong> edifício.Contu<strong>do</strong>, uma rugosidade herdada <strong>do</strong> contínuo transformarurbano, o Palácio Domingos Martins se mantém,como marco referencial, a lembrar aos homens seusignifica<strong>do</strong> histórico e seu valor urbanístico.PALÁCIO DOMINGOS MARTINSPraça João Clímaco, Centro, VitóriaProteção Legal: Resolução nº 2/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 24, folhas 3v e 4


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VITÓRIAREFERÊNCIASACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. Lima (Org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>sno Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretariade Esta<strong>do</strong> da Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.ALMEIDA, Renata Hermanny de; et. al. <strong>Arquitetura</strong> <strong>do</strong> Historicismoem Vitória. Vol. 1, Vitória, Núcleo de Estu<strong>do</strong>s de <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo,Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, 1997.ALMEIDA, Renata Hermanny de; CAMPOS, Martha Macha<strong>do</strong>;FREITAS, José Francisco Bernardino. Méto<strong>do</strong> de intervenção urbanaem área central: o papel da arquitetura no Centro de Vitória (ES). Relatóriofinal (Pesquisa). Vitória, Núcleo de Estu<strong>do</strong>s de <strong>Arquitetura</strong> eUrbanismo, Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, 2000.DIAS, Maria Cláudia; LARANJA, Latussa Bianca; MODENESI,Keydmam; NASCIMENTO, Luciana Celin; RIBEIRO, Flávia Pulcheri.Assembleia Legislativa e Praça João Clímaco: análise arquitetônica eurbanística. Vitória, Graduação (Trabalho de disciplina). PatrimônioHistórico, Artístico e <strong>Cultural</strong>, Departamento de <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo,Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, 1996.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Exposição sobre os negócios <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> noquadriênio de 1908 a 1912, <strong>do</strong> Exmo. Sr. Jerônimo Monteiro – Presidente<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> durante o perío<strong>do</strong>. Vitória, 1913.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória, ConselhoEstadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, nº 05/ 1982.FUNDAÇÃO JONES DOS SANTOS NEVES. Patrimônio históricoda Grande Vitória: edificações a serem preservadas em Vitória. Vitória,maio 1978. 222 p.. Patrimônio histórico da Grande Vitória: edificações a serem preservadasem Vitória. Anexo, Plantas. Vitória, maio 1978.ZILMO JUNIOR, Henrique. André Carloni: viven<strong>do</strong> a construção da cidade.Monografia (Graduação). Vitória, Departamento de <strong>Arquitetura</strong>e Urbanismo, Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, 2002.PRADO, Michele Monteiro. A Modernidade e o seu retrato: imagens erepresentações da paisagem urbana de Vitória (1890-1950). Dissertação(Mestra<strong>do</strong>). Salva<strong>do</strong>r, Programa de Pós-Graduação em <strong>Arquitetura</strong>e Urbanismo, Universidade Federal da Bahia, 2002.SERVINO, André Luís; FRINHANI, Carolini; CUNHA, Érikada; RUAS, Luciana; RODRIGUES, Tatiana. Levantamento históricoe análise arquitetônica. Vol. 1. Graduação (Trabalho de disciplina).Vitória, Patrimônio Histórico, Artístico e <strong>Cultural</strong>, Departamentode <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo, Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>, 199_.


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Ponte Florentino Avi<strong>do</strong>s


VITÓRIAAté a década de 1920 a capital <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong> estácondicionada à condição insular de sua geografia.Fundada no século XVI, na porção mais interior dabaía de Vitória, próxima ao estuário <strong>do</strong> rio Santa Maria,no início <strong>do</strong> último século, a cidade tem na Ponte daPassagem seu único ponto de contato com o continente.Essa, situada na face nordeste da ilha, ligava Vitóriaao município vizinho de Serra em área de ocupaçãorarefeita e desconectada de seu núcleo urbano maisimportante.Esse, contu<strong>do</strong>, após a instauração <strong>do</strong> governo republicano,passa a receber um conjunto de investimentosdestina<strong>do</strong>s transformá-lo em centro não somente políticomas, sobretu<strong>do</strong>, econômico. Inicia<strong>do</strong>s no governode Muniz Freire, primeiro presidente <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>, os projetosimplementa<strong>do</strong>s no decorrer das primeiras décadas<strong>do</strong> século XX se destinam a fazer da capital a principal,senão única, praça comercial <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>. Compreendidasnesse projeto, estão as obras de remodelaçãoe saneamento das ruas e edifícios, a execução de aterros,a instalação de estruturas portuárias e a construção deestradas de ferro de ligação de Vitória ao seu territórioregional e nacional.composta por seis vãos, sen<strong>do</strong> um deles o responsávelpela ligação entre a ilha de Vitória e a ilha <strong>do</strong> Príncipe,pequeno afloramento rochoso situa<strong>do</strong> no meio <strong>do</strong> caminho.Presidente <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> desde o dia 23 de maio de 1924,Florentino Avi<strong>do</strong>s designa uma turma de engenheirospara compor sua equipe de trabalho. Dentre eles estáseu filho, Moacir Avi<strong>do</strong>s que, ao dirigir o Serviço deMelhoramentos de Vitória, também ficou responsávelpela construção das pontes de ligação. Embarca<strong>do</strong>s naAlemanha, os vãos vêm desmonta<strong>do</strong>s em porões denavios para, em seu destino, serem arma<strong>do</strong>s e monta<strong>do</strong>ssobre pilares previamente construí<strong>do</strong>s. Os trabalhos seiniciaram no dia 1º de março de 1926 e foram concluí<strong>do</strong>sno ano seguinte. Pressupon<strong>do</strong> um sistema estruturalarticula<strong>do</strong> e previsível, a montagem da Ponte FlorentinoAvi<strong>do</strong>s foi fartamente registrada por meio de fotografias.Essas, além <strong>do</strong> registro histórico da dimensão arrojada einova<strong>do</strong>ra contida na obra, suscitam o assombro frenteao inusita<strong>do</strong> de um acontecimento que durante mesesmovimentou a paisagem da plácida baía.Adianta<strong>do</strong> pelo governo de Jerônimo Monteiro, entre1908 e 1912, e interrompi<strong>do</strong> nos anos <strong>do</strong> primeiro conflitomundial, esse conjunto de serviços é retoma<strong>do</strong> eamplia<strong>do</strong> por Florentino Avi<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong>, após conduziro programa de obras de Nestor Gomes, entre 1920 e1922, enfrenta um de seus maiores desafios, a ligaçãoviária entre o Porto de Vitória e as estradas de ferroVitória-Minas e a Leopoldina Railway. Para isso, encomendaa uma fábrica alemã uma ponte metálica. Adistância e a dificuldade, somadas à dimensão <strong>do</strong> vãoa vencer sobre as águas da baía de Vitória, podem tersi<strong>do</strong> determinantes no parti<strong>do</strong> a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> na fabricação daponte. Nominada oficialmente Ponte Florentino Avi<strong>do</strong>s,a popular Cinco Pontes é uma singular estrutura


PONTE FLORENTINO AVIDOSSobre a baía de VitóriaProteção legal: Resolução nº 4/1986<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 126, folhas 23v e 24REFERÊNCIAACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. Lima (Org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>sno Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretariade Esta<strong>do</strong> da Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.CURBANI, Sáira Glazar. Cidade alta: uma viagem no tempo. Monografia.(Graduação). Vitória, Departamento de <strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo,Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, 2000.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Presidente (Florentino Avi<strong>do</strong>s).Mensagem final... 1924 – 1928. Vitória: Oficinas da “Vida Capixaba”,1925.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória, ConselhoEstadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, n. 04,1984.


525Relógio da Praça OitoInaugura<strong>do</strong> em 1942, o Relógio da Praça Oito de Setembroé marco referencial para quem passa pelas avenidasJerônimo Monteiro e Princesa Isabel, no Centro deVitória. Na realidade, um conjunto de quatro relógios,dispostos cada um deles em uma das faces de sua torre,o Relógio se confunde com a mesma. Isso porque, comsua implantação centralizada, a torre é o elemento gera<strong>do</strong>rda configuração da “Praça Oito”, denominação aomesmo tempo preguiçosa e carinhosa <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>resde Vitória e <strong>do</strong>s usuários de sua área central. A praça,de origem coincidente com a vila colonial, é o resulta<strong>do</strong>de lenta e contínua transformação de um <strong>do</strong>s mais importantesespaços públicos da cidade.RELÓGIO DA PRAÇA OITO DE SETEMBROPraça Oito de Setembro, Centro, VitóriaProteção Legal: Resolução n° 1/1992<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 181, folhas 30v e 31Inicialmente denomina<strong>do</strong> Cais Grande, no ano de 1900o largo passa a ser chama<strong>do</strong> Cais da Alfândega, em diretaassociação ao edifício homônimo nele edifica<strong>do</strong> naesquina com a rua comercial mais importante da entãovila de Vitória, a rua da Alfândega. Num segun<strong>do</strong> momentode transformação física e funcional, remodela<strong>do</strong>com a introdução de canteiros ajardina<strong>do</strong>s, o espaço <strong>do</strong>cais passa a ser conheci<strong>do</strong> como Praça <strong>Santo</strong>s Dumont.Por fim, em 1940, com novo desenho de piso e limitesaltera<strong>do</strong>s, recebe a denominação de Praça Oito de Setembro,em homenagem ao dia da fundação de Vitória,evento histórico data<strong>do</strong> <strong>do</strong> ano de 1551. Sucessivamentecais de embarque e desembarque de merca<strong>do</strong>rias,ancora<strong>do</strong>uro para o transbor<strong>do</strong> de viajantes, ponto deencontros e vivências sociais, e palco de atos públicos emanifestações políticas, a praça é um espaço urbano de


VITÓRIAespecial significa<strong>do</strong> para a memória coletiva <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>resde Vitória e mesmo de sua região metropolitana.Projetada por Jayme Figueira e construída sob a responsabilidadede Radagásio Alves e Chico Francês, a torre<strong>do</strong> relógio possui 16 metros de altura edifica<strong>do</strong>s com orecurso de uma tecnologia construtiva bastante singelae tradicional, a disposição de tijolos em fieira <strong>do</strong>brada,revesti<strong>do</strong>s com cimento granula<strong>do</strong>. Solução a<strong>do</strong>tadanas construções da primeira metade <strong>do</strong> século XX, essetipo de revestimento buscava obter uma aparência similaràs alvenarias executadas em pedra aparente.Quanto aos relógios, existem duas versões sobre suafabricação. Na primeira delas, a mais conhecida, elesseriam obra de João Ricar<strong>do</strong> Hermann Schorling, umimigrante alemão, residente no município de DomingosMartins, desde o ano de 1919. Artesão especializa<strong>do</strong>,visan<strong>do</strong> desenvolver seu ofício em sua nova pátria,Schorling monta uma oficina de conserto de armase fabricação de relógios na cidade de Campinho.Profissional raro no Espírito <strong>Santo</strong>, naquele momento,Schorling se torna conheci<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> chama<strong>do</strong> pararealizar serviços em diferentes cidades. Assim, antes deexecutar os relógios da Praça Oito de Setembro, ele éo responsável pela construção <strong>do</strong> relógio da igreja deBiriricas, em 1925, e o da torre da igreja luterana deDomingos Martins, em 1937.municipal de Monjardim, o Relógio da Praça Oito deSetembro é oficialmente conheci<strong>do</strong> como obra <strong>do</strong>imigrante alemão.Em seu desenho, os relógios guardam relações com aestética moderna, identificada no desenho geométrico esimplifica<strong>do</strong> <strong>do</strong> mostra<strong>do</strong>r e na utilização de simbologiaabstrata para a representação numérica, realizada comtraços e pontos. Por outro la<strong>do</strong>, em termos construtivos,os ponteiros foram executa<strong>do</strong>s com a utilização dechapas de ferro e alumínio. Em funcionamento desdesua inauguração, contu<strong>do</strong>, há muito não se ouvem osprimeiros acordes <strong>do</strong> Hino <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>, que originalmente soavam de hora em hora.Numa segunda versão de sua história, o Relógio da PraçaOito teria si<strong>do</strong> compra<strong>do</strong> na Bélgica pelo engenheiroMoacir Avi<strong>do</strong>s, quan<strong>do</strong> era prefeito de Vitória, em 1928.Não instala<strong>do</strong>, ele teria si<strong>do</strong> guarda<strong>do</strong> em um depósitoda Prefeitura Municipal de Vitória localiza<strong>do</strong> no ForteSão João. Resgata<strong>do</strong> pelo prefeito Américo Monjardim,no início da década de 1940, ele teria si<strong>do</strong> envia<strong>do</strong> aJoão Ricar<strong>do</strong> Hermann Schorling, para ser restaura<strong>do</strong>.Inaugura<strong>do</strong> no ano de 1942, ainda na administração


REFERÊNCIASALMEIDA, Renata Hermanny de CAMPOS, Martha Macha<strong>do</strong>;FREITAS, José Francisco Bernardino. Méto<strong>do</strong> de intervenção urbanaem área central: o papel da arquitetura no Centro de Vitória (ES). Relatóriofinal (Pesquisa). Vitória, Núcleo de Estu<strong>do</strong>s de <strong>Arquitetura</strong> eUrbanismo, Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, 2000.CAMPOS JUNIOR, Carlos Teixeira de. A história da construção e dastransformações da cidade. Vitória: <strong>Cultural</strong>-ES, 2005.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória, ConselhoEstadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, n. 08,1992.FARIA Willis de. Catálogo <strong>do</strong>s monumentos históricos e culturais da capital.Vitória: Lei Rubem Braga, 1992.GONÇALVES, Cristiane de Souza; PRADO, Michele Monteiro.Viver Vitória. Monografia (Graduação). Vitória, Departamento de<strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo, Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>,1995.TATAGIBA, José. Vitória, Cidade Presépio. Vitória: Editora Multiplicidade,2005.


VITÓRIA


529Residências àRua José MarcelinoO expressivo conjunto de duas casas está edifica<strong>do</strong>sobre terrenos situa<strong>do</strong>s em uma das mais antigas ruasde Vitória. De traça<strong>do</strong> irregular, sinal inequívoco <strong>do</strong>tradicional mo<strong>do</strong> de fazer cidade no Brasil, junto coma Muniz Freire, a rua José Marcelino é um <strong>do</strong>s maisimportantes registros urbanísticos de Vitória. Não sesabe a data em que foi construí<strong>do</strong>, mas, pela maneiracomo foi disposto sobre os lotes, e, sobretu<strong>do</strong>, peloselementos materiais e formais com que foi modela<strong>do</strong>, épossível reconhecer o recuo de seu tempo histórico.Como outros da cidade de Vitória herdada <strong>do</strong> séculoXIX, os <strong>do</strong>is edifícios são representantes da arquiteturacivil edificada segun<strong>do</strong> os preceitos provenientes <strong>do</strong>perío<strong>do</strong> colonial: ocupam a quase totalidade <strong>do</strong>s lotes;apresentam pavimentos em diferentes níveis, seguin<strong>do</strong> atopografia <strong>do</strong> terreno; são cobertos por telhas capa-canalapoiadas em armação em madeira e dispostas em duaságuas unidas por cumeeiras paralelas às fachadas; têm nasportas e janelas os principais elementos de composiçãoestética. Por tu<strong>do</strong> isso, especialmente posiciona<strong>do</strong>ssobre acentuada curva <strong>do</strong> logra<strong>do</strong>uro, edifica<strong>do</strong>s com asfrentes voltadas para a Catedral Metropolitana, as casastêm seu valor arquitetônico identifica<strong>do</strong> na singularidadede suas fachadas, especialmente a <strong>do</strong> imóvel de nº 203-205. Isso porque, internamente, as duas edificaçõesapresentam consideráveis modificações em relação aoque devem ter si<strong>do</strong> suas condições originais.Edificadas em pau-a-pique, mo<strong>do</strong> primitivo deconstruir com o uso de madeira e barro, materiaissimples e perecíveis se expostos a agressões externas,as paredes das duas casas se apresentam totalmenterenovadas, situação repetida nos elementos estruturais.A princípio em madeira, os pilares e a laje em barrotessobre os quais se dispunha o piso em tabua<strong>do</strong>, foramsubstituí<strong>do</strong>s por outros de concreto arma<strong>do</strong>. O mesmoaconteceu com as esquadrias internas, modernizadaspor portas almofadadas e <strong>do</strong>tadas de caixilhos comvidro em bandeiras fixas.Por terem abriga<strong>do</strong> não só residências – na casa número197 funcionou a Sociedade São Vicente de Paulo e aFederação das Congregações Marianas da Arquidiocesede Vitória, e na de número 203-205, a Escola AmâncioPereira – as duas edificações foram expressivamentemodificadas em sua organização interna. A de número197 mantém o posicionamento das circulações horizontale vertical, um corre<strong>do</strong>r justaposto à lateral direita euma escada transversalmente disposta no meio <strong>do</strong>s pavimentos;a de número 203-205, diversamente, apresentacirculação horizontal no centro <strong>do</strong> pavimento, paraa qual se abrem os numerosos cômo<strong>do</strong>s. Apresentan<strong>do</strong>fachada com <strong>do</strong>is pavimentos, a casa da esquerda, a denúmero 197, foi ampliada com um pequeno aposento,uma camarinha.Por tu<strong>do</strong> isso, são as fachadas <strong>do</strong> conjunto de sobra<strong>do</strong>sseus elementos mais encanta<strong>do</strong>res e atraentes. Elas sãosingelas, mas com a ordenada disposição das aberturas,com a solidez de suas alvenarias e com a naturezamaterial de suas esquadrias revelam a matriz formal desua composição, a arquitetura brasileira de linhagemportuguesa. Mas, ainda que expressão de uma mesma


VITÓRIArealidade; mesmo na semelhança da estrutura e <strong>do</strong>smeios com que foram erguidas, é possível reconhecerentre as duas fachadas uma nítida diferença estética,expressa nos ornatos, nas dimensões e proporções, e namanufatura de seus elementos arquitetônicos.O imóvel de número 197 apresenta vãos com enquadramentoem madeira maciça e arremata<strong>do</strong> com verga reta,onde foram dispostas esquadrias de diferentes tipos. Nasduas portas posicionadas no pavimento térreo, elas foramexecutadas em uma só folha constituída por tabuas unidaspor juntas <strong>do</strong> tipo macho-e-fêmea. Nas três janelas posicionadasno piso superior, além de uma esquadria internade duas folhas em tabua<strong>do</strong>, e uma intermediária em caixilhode vidro, há uma terceira, externa, fixa e em veneziana,de altura reduzida, provavelmente um acréscimo paraproteger o interior de olhares externos. No último piso, acamarinha, encontra-se uma esquadria basculante providade caixilhos de vidro que preenche totalmente a fachada.O imóvel de número 203-205, de maior unidade formal,também apresenta vãos com enquadramento em madeiramaciça, mas diferencia<strong>do</strong>s no formato em arco de círculodas vergas. No entanto, é nas janelas <strong>do</strong> piso superior ondese encontra um de seus principais elementos distintivos.Aí, isoladas e dispostas em simétrica tríade, elas são <strong>do</strong> tiporasga<strong>do</strong>, com guarda-corpo saca<strong>do</strong> e veda<strong>do</strong> por treliça,vedação muito usual na arquitetura tradicional. Aqui elassão compostas por réguas de madeira, pregadas em diagonal,de elegante efeito. Como as esquadrias e o guardacorpo,as três sacadas são revestidas de tábua em madeira,no topo e por baixo. O desenho, de singela geometria,encontra ressonância no traço <strong>do</strong>s cunhais extremos daconstrução, assim como no delineamento da cimalha sobo beiral. Esse, aliás, é outro importante traço histórico e artístico<strong>do</strong> imóvel 203-205. Distintamente <strong>do</strong> seu par, ondeo beiral foi executa<strong>do</strong> de maneira mais simples, em beirae bica, nele o avantaja<strong>do</strong> beiral apresenta beira, sobeirae bica, uma solução de ordem construtiva de belo efeitocompositivo.RESIDÊNCIAS À RUA JOSÉ MARCELINOnº 197 e nº 203/205, Centro, VitóriaProteção Legal: Tombamento em 5/10/1967 e 13/11/1967pelo Instituto <strong>do</strong> Patrimônio Histórico e Artístico NacionalInscrições no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 406 e nº 408, folhas 65 e 66REFERÊNCIASACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. Lima (Org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>sno Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura /Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Educação e Cultura / Universidade Federal<strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.IPHAN. Documento <strong>do</strong> arquivo. Vitória, Instituto <strong>do</strong> PatrimônioHistórico e Artístico Nacional.


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VITÓRIARuínas <strong>do</strong> PalácioNestor GomesNos anos de 1980, o Palácio Nestor Gomes está arruina<strong>do</strong>,condição adquirida após a desativação de umhospital e a transferência de uma escola que, até a décadade 1970, dividiram o terreno da residência. Noentanto, em aparente contradição com sua situação deaban<strong>do</strong>no e ruína, é feita solicitação de sua proteçãopor tombamento. A essa época, 1985, a inexistência de<strong>do</strong>cumentação fotográfica que permitisse sua restauração,motivou a determinação de execução de trabalhosde consolidação. Como esses não se realizaram, oimóvel se manteve sujeito à ação de diferentes agentes,num processo responsável pelo agravamento de suaruína.Edifica<strong>do</strong> entre 1923 e 1924 em terreno situa<strong>do</strong> noalto <strong>do</strong> morro da Santa Clara, o Palácio Nestor Gomesé fruto da riqueza gerada pela movimentação da economiacafeeira. Típico das primeiras décadas <strong>do</strong> séculoXX, o aumento das rendas públicas e sua dependênciafrente ao merca<strong>do</strong> internacional de preços, é permanente.Presidente <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de 1920 a 1924, NestorGomes decide construir uma residência presidencialde repouso. O processo inicia-se com a aquisição deuma casa de propriedade de Antônio Ramalho. Essa,conforme descrição apresentada na escritura de comprae venda, revela o real interesse de Nestor Gomes.Uma casa simples, coberta de zinco, <strong>do</strong>tada de duasjanelas frontais, o imóvel, sem valor, é logo demoli<strong>do</strong>.Seu terreno, contu<strong>do</strong>, de posição privilegiada, é aproveita<strong>do</strong>e explora<strong>do</strong>. Assim é que, recém-construí<strong>do</strong>,o palacete implanta<strong>do</strong> com sua fachada principal de-bruçada sobre as águas da baía de Vitória, <strong>do</strong>minava apaisagem <strong>do</strong> morro <strong>do</strong> Parque Moscoso.O palacete, uma residência de um só pavimento, estavaconcebi<strong>do</strong>, no molde de uma vila italiana, com adisposição de um avaranda<strong>do</strong> que percorria a fachadaconferin<strong>do</strong>-lhe aspecto duplamente gracioso e festivo.Posiciona<strong>do</strong> de mo<strong>do</strong> a explorar os desníveis <strong>do</strong>terreno, o palacete era acessa<strong>do</strong> por meio de uma sequênciade escadas posicionadas em eixo. A primeiradelas, partia <strong>do</strong> nível de uma calçada elevada ligan<strong>do</strong>um platô intermediário que ocupava grande parte dafrente <strong>do</strong> terreno. Desse, partin<strong>do</strong> de um segun<strong>do</strong> patamar,<strong>do</strong>is lances de escada se desenvolviam em curvaaté alcançar o avaranda<strong>do</strong>.De configuração simétrica, o edifício apresentava volumetriamovimentada pela alternância de duas alaslaterais avançadas em relação a um corpo central recua<strong>do</strong>,e unificada no desenho da fachada, uma sequênciahomogênea de arcos plenos apoia<strong>do</strong>s em colunas


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VITÓRIAe fecha<strong>do</strong>s por balaústres, os mesmos que se repetemna platibanda. Essa possuía, em seu centro, um vão demaior largura sobre o qual estava disposto um frontãotriangular. Esse, posiciona<strong>do</strong> sobre a linha da cimalha,interrompia a linha contínua da platibanda conferin<strong>do</strong>-lhediscreto movimento. Concebida com requintee certo grau de ostentação, relativos à sua época, a residênciaera ornada com uma grande águia esculpidaem sua frontaria, adereço que será responsável por suaoutra denominação, Palácio das Águias.REFERÊNCIASSEDUR/DPU/DRU. Projeto de revitalização <strong>do</strong> Palácio da SantaClara. Vitória, Divisão de Revitalização Urbana, Departamento deProjetos e Planejamento Urbano, Secretaria de DesenvolvimentoUrbano da Prefeitura Municipal de Vitória, agosto de 1999[cópia].ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de Tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura,nº 05, 1980.RUÍNAS DO PALÁCIO NESTOR GOMESLadeira Santa Clara, Centro, VitóriaProteção Legal: Resolução nº 2/1985<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrições no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 81, folhas 9v e 10e no Livro <strong>do</strong> Tombo das Belas Artessob o nº 2, folhas 1v e 2


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Solar Monjardim537


VITÓRIAde Vitória. Em sua vista, a fazendapontua a encosta <strong>do</strong> morro,em estranha proximidade àságuas, em cenário <strong>do</strong>mina<strong>do</strong> pelanatureza.Os habitantes da vila, então dependentes<strong>do</strong> comércio para ofornecimento de produtos manufatura<strong>do</strong>s,entre os quais utensíliose matérias-primas mais sofisticadas,abasteciam-se de gênerosalimentícios cultiva<strong>do</strong>s na própriailha e em terras continentais próximas.Segun<strong>do</strong> o viajante francês,na fazenda de produção deaçúcar em Jucutuquara, o capitãomora<strong>do</strong>tava méto<strong>do</strong>s herda<strong>do</strong>sErguida na passagem <strong>do</strong> século XVIII para o séculoXIX pelo então capitão-mor da vila de Vitória,Francisco Pinto Homem de Azeve<strong>do</strong>, a casa-sede daFazenda Jucutuquara é o único exemplar da arquiteturarural <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> da Colônia remanescente no Espírito<strong>Santo</strong>. Situada à margem da estrada que ligava a sede daprovíncia à vila da Serra, ao norte, sobre um roche<strong>do</strong>nu, arre<strong>do</strong>nda<strong>do</strong> no topo e cilíndrico a fazenda eraum importante ponto de referência para viajantes. Umdeles, Auguste de Saint-Hilaire relata o impacto de suapresença.Ao pé da colina de cujo cimo admirava esse magníficopanorama, vi as águas <strong>do</strong> Aribiri juntarem-se às da baía,após haverem serpea<strong>do</strong> na pradaria. A Vila de Vitória estavaescondida, por fim; entretanto, algumas cabanas apareciamaqui e ali sobre os morros e a visão da bela residênciade Jucutuquara tornava menos austera a das montanhasvizinhas.Semelhante admiração motiva Maximiliano de Wied-Neuwied, quan<strong>do</strong> a registra a partir <strong>do</strong> interior da baía<strong>do</strong>s jesuítas na administração de suas terras, e plantava,além da cana, algodão, cará, mandioca, milho, arroz e feijão.Na descrição de Saint-Hilaire, a habitação de Jucutuquaraestava construída na localização mais agradável e à sua frente seestendia um vale corta<strong>do</strong> por um regato ladea<strong>do</strong> por montanhascobertas de mato, a mais notável das quais era a que dá nomeà própria habitação. Essa, estrategicamente posicionadade maneira a permitir um amplo <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> entorno,também possibilitava a seu proprietário o controlesobre o engenho e a senzala de seus escravos.Transmiti<strong>do</strong> por herança, no século XX o imóvel éresidência da família Monjardim, condição mantidaaté a instalação em suas dependências <strong>do</strong> MuseuCapixaba, administra<strong>do</strong> pelo Governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. Adesapropriação <strong>do</strong> prédio pela União se deu em fins dadécada de 1970. De posse da Universidade Federal <strong>do</strong>Espírito <strong>Santo</strong> em 1978, passa a abrigar o Museu SolarMonjardim, instituição responsável pela guarda de


539acervo prioritariamente vincula<strong>do</strong> à história da moradiano Espírito <strong>Santo</strong>. À frente <strong>do</strong> museu, a Universidadetransfere o imóvel, com respectiva área e acervo, para ainstituição responsável pela preservação <strong>do</strong> patrimôniohistórico e artístico nacional.É também <strong>do</strong> século XX a maioria das intervençõesresponsáveis pelas alterações <strong>do</strong> imóvel, mas, talvez, amais significativa tenha si<strong>do</strong> a substituição das originaisvedações em taipa por alvenaria de tijolo, quan<strong>do</strong> aindaabrigava os Monjardim. No entanto, ainda antes detornar-se museu, a área interna da casa teve seu estiloligeiramente modifica<strong>do</strong>.Implanta<strong>do</strong> em cota platô <strong>do</strong> morro de Jucutuquara,para alcançar o Solar Monjardim é preciso vencer umcurto, mas enladeira<strong>do</strong> caminho. De traça<strong>do</strong> sinuoso,por ele se passa sob fron<strong>do</strong>sas mangueiras em refrescantee perfuma<strong>do</strong> passeio. Esse se encerra em um terreiroque acompanha toda a frente da residência. Nessenível, situa-se um estreito porão resultante <strong>do</strong> aproveitamento<strong>do</strong> desnível <strong>do</strong> terreno, aberto para o exteriorpor meio de um conjunto de portas e uma janela, e ondeprimitivamente deveria ser a senzala.O percurso até o Solar continua por uma escada executadaem pedra e protegida por guarda-corpo em alvenaria,justaposta à lateral direita da casa. Com lances dedegraus intercala<strong>do</strong>s a patamares de descanso, o últimodeles mais longo, por ela se alcança uma porta de entrada.Aí, uma sineira constitui robusto portal posiciona<strong>do</strong>em continuidade à fachada posterior, onde em um estreitoalpendre se encontra uma segunda entrada.Ao transpor a entrada da escada, pode-se atravessar acasa ou percorrer uma longa e ampla varanda, espaçocaracterístico das moradias rurais. Aí, de um la<strong>do</strong>, oitojanelas rasgadas garantem reconfortante ventilação eiluminação, além de expandir o olhar para a verdejantepaisagem <strong>do</strong> entorno, enquanto <strong>do</strong> outro, portas e


VITÓRIAcirculação, <strong>do</strong>is cômo<strong>do</strong>s foram dispostos. Um delesé um amplo salão generosamente ilumina<strong>do</strong> por cincojanelas isoladas, três sob a fachada frontal e uma emcada lateral.Os três pisos configuram um edifício <strong>do</strong>mina<strong>do</strong> porrígida regularidade e impressionante horizontalidade,responsáveis pela intensificação de sua branca robustez.Expressão das espessas alvenarias portantes, executadasem pedra, a opacidade das paredes é apenasinterrompida pelo vaza<strong>do</strong> das aberturas das portas edas janelas dispostas sobre as quatro faces da casa. Simplesou duplas, em sua maioria, as portas são constituídaspor folhas de calhas e emolduradas por quadrosde madeira e vergas curvas, solução repetida nas janelas,com exceção das posicionadas sobre a camarinha,externamente fechadas por guilhotinas em madeira evidro. Internamente, as portas e janelas foram originalmentedispostas em paredes de vedação feitas de taipade mão.janelas de peitoril abrem o aconchegante interior dacasa. Seguin<strong>do</strong> pela varanda, ao final, chega-se a umacapela particular e sua pequena sacristia. Por dentro dacasa, entra-se na sala de jantar, espaço central com importantepapel na articulação <strong>do</strong>s muitos cômo<strong>do</strong>s daresidência. Entre eles, a sala de visitas ambientava asreuniões e as festas, promoven<strong>do</strong> o encontro da famíliacom o mun<strong>do</strong> público. Também nesse piso ficam osquartos, a cozinha e o banheiro, esse último uma modernidadeda primeira metade <strong>do</strong> século XX.Posiciona<strong>do</strong> na fachada posterior, em eixo com a salade jantar, um alpendre foi parcialmente ocupa<strong>do</strong> paranele fazer surgir uma escada de acesso ao terceiro piso<strong>do</strong> edifício, uma camarinha. Aí, a partir de uma pequenaMas, se em conjunto a arquitetura <strong>do</strong> Solar revela seuvalor, percebi<strong>do</strong> em singela e disciplinada ordenação,é no detalhe que está sua qualidade. Executada emacor<strong>do</strong> com as remotas tradições, ela se expressa emmodesto apuro, especialmente presente nos balaústresde madeira recortada <strong>do</strong>s guarda-corpos das janelas desua fachada.A cobertura, de quatro águas nos <strong>do</strong>is níveis, foiestruturada em armação de madeira e fechada comtelhas de barro capa-canal. No segun<strong>do</strong>, correspondenteà camarinha, o telha<strong>do</strong> apresenta beiral cachorra<strong>do</strong>sem guarda-pó. No primeiro nível, correspondente aopiso da casa, a cobertura é em telha-vã no corre<strong>do</strong>ravaranda<strong>do</strong>, enquanto nos outros cômo<strong>do</strong>s foi usa<strong>do</strong> oforro plano, de tabua<strong>do</strong> de saia e camisa, com exceçãoda sala de visitas e <strong>do</strong> quarto principal da camarinhadiferencia<strong>do</strong>s com forros de gamela.


SOLAR MONJARDIMJucutuquara, VitóriaProteção Legal: Tombamento em 25/10/1940pelo Instituto <strong>do</strong> Patrimônio Histórico e Artístico NacionalInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo das Belas Artessob o nº 289, folha 50541


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543REFERÊNCIASACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. L. (org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>sno Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretariade Esta<strong>do</strong> de Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito<strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.CARVALHO, José Antônio. A arte no Espírito <strong>Santo</strong> no perío<strong>do</strong>colonial III. Revista de Cultura – UFES. N° 31. Vitória, 1984, p.27-35.IPHAN. Documento <strong>do</strong> arquivo. Vitória, Instituto <strong>do</strong> PatrimônioHistórico e Artístico Nacional.SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem ao Espírito <strong>Santo</strong> e rio Doce.Belo Horizonte: Itatiaia, 1974, p. 38-40.WIED-NEUWIED, Maximiliano. Viagem ao Brasil. BeloHorizonte: Itatiaia: São Paulo: Editora da Universidade de SãoPaulo, 1989.


545Theatro Carlos GomesA praça Costa Pereira tem sua história vinculada à <strong>do</strong>steatros de Vitória. Poucos, eles são o Teatro Melpômene,o Theatro Carlos Gomes e o Cine-Teatro Glória.O primeiro, o Melpômene, foi construí<strong>do</strong> ainda noséculo XIX, por ordem <strong>do</strong> então presidente <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>,Muniz Freire. Localiza<strong>do</strong> no largo da Conceição, o teatrofoi ergui<strong>do</strong> em pinho-de-riga ten<strong>do</strong>, no seu interior,colunas executadas em ferro fundi<strong>do</strong>. Esse largo,um pedaço de chão vazio localiza<strong>do</strong> na extremidadeleste da cidade, próximo às águas da baía, receberaessa denominação porque nele fora erguida a igrejade Nossa Senhora da Conceição da Prainha, padroeira<strong>do</strong>s pesca<strong>do</strong>res que por ali residiam. Inaugura<strong>do</strong> noano de 1896, com capacidade para quatrocentas pessoas,o Melpômene foi considera<strong>do</strong> a maior e mais importantecasa de espetáculos <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>. Contu<strong>do</strong>,essa condição não o salvou de um princípio deincêndio, ocorri<strong>do</strong> durante uma sessão noturna. Esseincidente deve ter estimula<strong>do</strong> os planos <strong>do</strong> presidente<strong>do</strong> esta<strong>do</strong>, Florentino Avi<strong>do</strong>s, implementa<strong>do</strong>s com oprojeto de alargamento e ajardinamento da praça CostaPereira, aberta no ano <strong>do</strong> centenário da Independência,após a demolição <strong>do</strong> teatro de madeira.É nesse contexto de mudanças que o construtor eprojetista André Carloni obtém auxílio <strong>do</strong> governoestadual, na forma de <strong>do</strong>ação <strong>do</strong> terreno e empréstimomonetário, e da prefeitura municipal, na formade isenção de imposto predial, para erguer o Theatro


VITÓRIATHEATRO CARLOS GOMESPraça Costa Pereira, Centro, VitóriaProteção Legal: Resolução nº 2/1983<strong>do</strong> Conselho Estadual de CulturaInscrição no Livro <strong>do</strong> Tombo Históricosob o nº 27, folhas 3v e 4Carlos Gomes. Projeta<strong>do</strong> em 1925 e construí<strong>do</strong> entre1925 e 1927, o edifício, de quatrocentos e oitentae cinco lugares na plateia e três andares de galeria,destinava-se a espetáculos de teatro e operetas mastambém à projeção de películas. Em sua construção,modernamente executada com o uso de cimento arma<strong>do</strong>,Carloni aproveita peças retiradas da demolição<strong>do</strong> Melpômene, como as colunas de ferro fundi<strong>do</strong> quesustentam os camarotes. Estabelece assim, sem intençãoexplícita, uma relação de parentesco entre os <strong>do</strong>isteatros.Vendi<strong>do</strong> ao governo <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> sob a administração dePunaro Bley, em 1934, a partir de então o teatro temseu uso restringi<strong>do</strong> quase exclusivamente ao cinema,sen<strong>do</strong> rara a encenação de peças teatrais. A reversãodessa condição só ocorre no final da década de 1960,quan<strong>do</strong> o teatro recebe obras de restauro que incluema adequação <strong>do</strong> palco e <strong>do</strong> proscênio, permitin<strong>do</strong> aexibição de espetáculos teatrais; a transformação <strong>do</strong>scamarotes; a inserção de um lustre no centro <strong>do</strong> teto ea repintura <strong>do</strong>s painéis <strong>do</strong> teto, executada pelo pintorHomero Massena. Essa intervenção resulta na reinauguração<strong>do</strong> teatro, em 1970, momento a partir <strong>do</strong> qualpassa a integrar à Fundação <strong>Cultural</strong> <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>.Ainda assim, nas duas últimas décadas <strong>do</strong> séculoXX reparos exigem o fechamento <strong>do</strong> teatro.O Theatro Carlos Gomes tem seu projeto basea<strong>do</strong> nomodelo italiano de “teatro em ferradura”, tipologia


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VITÓRIAcaracterizada por uma série de galerias superpostasem torno de uma plateia. Essa tem à frente umpalco inseri<strong>do</strong> em uma caixa que abriga complexosmecanismos cênicos e dispositivos de iluminaçãoresponsáveis pelo apoio à ambiência <strong>do</strong> espetáculo.A separação entre plateia e palco, promovida pelaorquestra em fosso, que desapareceu na reformade 1969-1970, também se integra a essa tipologiaarquitetônica, que encontra o arquétipo de seu modelono Teatro Alla Scalla, de Milão.O edifício, um volume prismático regular forma<strong>do</strong>por <strong>do</strong>is pavimentos, tem a fachada frontal voltadapara a praça Costa Pereira simetricamente dividida emtrês partes, sen<strong>do</strong> a <strong>do</strong> meio constituída por um perfilcôncavo. No térreo, esse corpo central apresenta trêsportas com vergas em arco pleno e portões em gradilde desenho art nouveau, as quais são ladeadas por duasoutras de vergas retas, responsáveis pelo acesso aosfoyers laterais. Esses, no projeto original, destinavam-sea um café e a um bar. Repetida no segun<strong>do</strong> pavimento,a composição se estrutura pela disposição de cincoportas envidraçadas em caixilhos de madeira, onde serepete o arco pleno, protegidas por guarda-corpo veda<strong>do</strong>por balaústres. Articula<strong>do</strong>r das portas centrais, olongo e estreito balcão reforça o movimento sugeri<strong>do</strong>pela concavidade da fachada em sua associada articulaçãocom os planos laterais, avança<strong>do</strong>s em relação aocentro e com limites marca<strong>do</strong>s por arestas chanfradas.As demais fachadas <strong>do</strong> edifício apresentam portas ejanelas com vergas retas e composição simplificada.triangulares com tímpano ornamenta<strong>do</strong> por concha,enquanto a parte central é marcada por um conjuntoescultórico, onde se encontra esculpi<strong>do</strong> o busto deCarlos Gomes. Unifican<strong>do</strong> o coroamento, uma cornijasaliente percorre toda a fachada. As quatro esculturasrepresentan<strong>do</strong> musas gregas, encontradas nos corposlaterais da fachada principal, foram feitas por artistaitaliano radica<strong>do</strong> no Rio de Janeiro.No conjunto, o tratamento <strong>do</strong> reboco é feito comranhuras horizontais, ten<strong>do</strong> os arremates executa<strong>do</strong>sde forma a simular pilastras que culminam em capitéisde ordem compósita. O coroamento <strong>do</strong> edifícioé feito por uma platibanda formada por cornucópias,folhagens e instrumentos musicais. Nos corpos lateraisda fachada principal, a platibanda recebe frontões


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557REFERÊNCIAACHIAMÉ, F. A. de Moraes; BETTARELLO, F. A. de Barros;SANCHOTENE, F. L. (org.). Catálogo de bens culturais tomba<strong>do</strong>sno Espírito <strong>Santo</strong>. Vitória, Conselho Estadual de Cultura / Secretariade Esta<strong>do</strong> de Educação e Cultura / Universidade Federal <strong>do</strong>Espírito <strong>Santo</strong>: Massao Ohno, 1991.ALMEIDA, Renata Hermanny de; CAMPOS, Martha Macha<strong>do</strong>;FREITAS, José Francisco Bernardino. Méto<strong>do</strong> de intervenção urbanaem área central: o papel da arquitetura no Centro de Vitória (ES).Relatório final (Pesquisa). Vitória, Núcleo de Estu<strong>do</strong>s de <strong>Arquitetura</strong>e Urbanismo, Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>, 2000.DADALTO, Maria Cristina. Centro de Vitória. Coleção Elmo Elton,n° 2. Vitória: Secretaria Municipal de Cultura, 1999.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Presidente (Florentino Avi<strong>do</strong>s).Mensagem final... 1924-1928. Vitória, 1928.ESPÍRITO SANTO (Esta<strong>do</strong>). Processo de tombamento. Vitória,Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura,nº 05, 1982.FUNDAÇÃO JONES DOS SANTOS NEVES. Patrimônio históricoda Grande Vitória: edificações a serem preservadas em Vitória.Vitória, maio, 1978.______. Patrimônio histórico da Grande Vitória: edificações a serempreservadas em Vitória. Anexo, Plantas. Vitória, maio, 1978.______. Patrimônio ambiental urbano e natural da Grande Vitória.Vitória, ago., 1978.PRADO, Michele Monteiro. A Modernidade e o seu retrato: imagense representações da paisagem urbana de Vitória (1890-1950).Dissertação (Mestra<strong>do</strong>). Salva<strong>do</strong>r, Programa de Pós-Graduação em<strong>Arquitetura</strong> e Urbanismo, Universidade Federal da Bahia, 2002.TATAGIBA, José. Vitória, Cidade Presépio. Vitória: Editora Multiplicidade,2005.ZILMO JÚNIOR, Henrique. André Carloni: viven<strong>do</strong> a construçãoda cidade. Monografia (Graduação). Vitória, Departamento de <strong>Arquitetura</strong>e Urbanismo, Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito <strong>Santo</strong>,2002.


OBRA EDITADA PELO GOVERNO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTOVENDA PROIBIDA


Este livro, composto com as famílias tipográficas Garamond e Humanist, foiprojeta<strong>do</strong> por Edison Arcanjo na interativa.art.br e contou com a colaboraçãode Cida Louzada, Luara Monteiro, Ícaro Gavazza e Hélio Mattos Jr.O miolo foi impresso em couché fosco 150 g/m², capa dura revestida em couchéfosco 180 g/m² pela Gráfica RONA em setembro de 2009.

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