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As telenovelas da Rede Globo de televisão: 45 anos de trajetória

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<strong>As</strong> <strong>telenovelas</strong> <strong>da</strong> <strong>Re<strong>de</strong></strong> <strong>Globo</strong> <strong>de</strong> televisão: <strong>45</strong> <strong>anos</strong> <strong>de</strong> trajetóriaSônia Maria Ribeiro JACONI 1Karin MÜLLER 2 .A consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> telenovela no BrasilA Televisão foi inaugura<strong>da</strong> no Brasil em 18 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1950 e, após um ano <strong>da</strong> suachega<strong>da</strong>, a primeira telenovela é produzi<strong>da</strong>. Eram produções não-diárias e ao vivo, pois ain<strong>da</strong> nãohavia o vi<strong>de</strong>oteipe. Antes as novelas ocupavam espaços nas programações do rádio e por isso osprimeiros profissionais <strong>de</strong> TV, antes pertencentes ao rádio, tiveram algumas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s em li<strong>da</strong>rcom as imagens e não apenas com o som.Segundo Ismael Fernan<strong>de</strong>s, “o que os homens <strong>de</strong> tevê <strong>da</strong>quela época não sabiam é queestavam lançando a maior produção <strong>de</strong> arte popular <strong>da</strong> nossa televisão. É o gran<strong>de</strong> fenômeno<strong>de</strong>pois do futebol” (1997, p.35). Fernan<strong>de</strong>s também comenta que a passagem <strong>da</strong> telenovela nãodiáriae ao vivo para diária e grava<strong>da</strong>, com a chega<strong>da</strong> do vi<strong>de</strong>oteipe em 1963, fez com que o gênerose consoli<strong>da</strong>sse (1997, p.36).<strong>As</strong>sim, a telenovela evoluiu como gênero, fazendo parte <strong>da</strong> programação televisiva diária.<strong>As</strong> histórias também evoluíram com o passar do tempo e ganharam vários núcleos, ou seja, váriaspequenas histórias paralelas a uma história central, o que não acontecia com as primeirasproduções que se prendiam apenas a uma trama.A pesquisadora Renata Pallottini, ao <strong>de</strong>finir o gênero telenovela como se vê hoje, diz seruma mistura <strong>de</strong> “diálogo e ação, uma trama principal e muitas subtramas que se <strong>de</strong>senvolvem, secomplicam e se resolvem no discurso <strong>da</strong> apresentação” (1998, p.54).E por fazer parte <strong>da</strong> programação diária <strong>da</strong>s emissoras <strong>de</strong> televisão na época, a telenovelacomeça a ganhar horários fixos na gra<strong>de</strong>. Num primeiro momento, essa atitu<strong>de</strong> em impor horáriosnão foi vista <strong>de</strong> forma positiva, pois afirmavam que não era legítimo e que ain<strong>da</strong> po<strong>de</strong>ria modificar ohábito e a rotina do telespectador, como conta Renato Ortiz (1991, p.62). Em contraparti<strong>da</strong>, osprofissionais <strong>de</strong> TV <strong>de</strong>fendiam a idéia porque traria organização interna para a emissora e facilitariao cotidiano do telespectador que não quer per<strong>de</strong>r nenhum capítulo. Fernan<strong>de</strong>s aponta o hábito <strong>de</strong>acompanhar as <strong>telenovelas</strong>, em horário fixo, como a gran<strong>de</strong> revolução na televisão (1997, p.36).O escritor João Emanuel Carneiro (MEMÓRIA GLOBO 3 , 2008, P.34) diz que “a telenovelatem algo mântrico. (...) A telenovela dá um hábito, um eixo. <strong>As</strong> pessoas chegam a se referir comoforma <strong>de</strong> marcar horários. É importante as pessoas terem essa or<strong>de</strong>nação”.Até meados <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970, as <strong>telenovelas</strong> ocupavam quatro horários <strong>da</strong> programação:18h, 19h, 20h e 22h. No final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970, “a <strong>Globo</strong>, ao consoli<strong>da</strong>r-se como hegemônica,estabelece três gran<strong>de</strong>s horários: seis, sete e oito <strong>da</strong> noite”, <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> lado a novela <strong>da</strong>s <strong>de</strong>z <strong>da</strong>noite, como conta Sandra Reimão, em sua obra Livros e televisão – correlações (2004, p.26).1 Doutoran<strong>da</strong> em Comunicação Social, pela Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Metodista <strong>de</strong> São Paulo - SP.2 Publicitária, Mestre e Doutoran<strong>da</strong> em Comunicação Social pela Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Metodista <strong>de</strong> São Paulo – SP.3 PMG – Projeto Memória <strong>Globo</strong>. A obra Autores – histórias <strong>da</strong> teledramaturgia foi realiza<strong>da</strong> pelo PMG, em 2008.


<strong>Re<strong>de</strong></strong> <strong>Globo</strong> e o início <strong>de</strong> suas <strong>telenovelas</strong>A primeira telenovela produzi<strong>da</strong> pela <strong>Re<strong>de</strong></strong> <strong>Globo</strong> foi Ilusões perdi<strong>da</strong>s, que estreou no dia 26<strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1965, com apenas 56 capítulos. A trama foi protagoniza<strong>da</strong> por Leila Diniz e ReginaldoFaria. “No Rio <strong>de</strong> Janeiro, a novela era exibi<strong>da</strong> às 19:30, <strong>de</strong> segun<strong>da</strong> a quarta-feira. A partir <strong>de</strong>maio, passou para as 22h, <strong>de</strong> segun<strong>da</strong> a sexta-feira”, relata a última publicação do Projeto Memória<strong>Globo</strong> Guia Ilustrado – Novelas e Minisséries (2010, p. 34). No mesmo ano, 1965, ain<strong>da</strong> foramproduzi<strong>da</strong>s outras nove produções.Com a consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> emissora e o sucesso <strong>da</strong>s primeiras produções, iniciou-se umaépoca <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> padrões <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, como <strong>de</strong>staca Ortiz & Borelli, <strong>da</strong>ndo mais espaçoàqueles que estavam investindo e não apenas apostando em televisão, pois “todo um know-how vaisendo absorvido na feitura <strong>da</strong> telenovela (e <strong>da</strong> televisão) nos <strong>anos</strong> 1970, e um novo padrãotecnológico vai se cristalizando” (1991, p.123)Além disso, Reimão <strong>de</strong>staca que ao ser <strong>de</strong>cretado, em 1968, o Ato Institucional n. 5 (AI-5),ou seja, a censura aos meios <strong>de</strong> comunicação, o governo investiu em função <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m nacional“em um sistema <strong>de</strong> microon<strong>da</strong>s que unificasse a nação. A TV <strong>Globo</strong> foi quem soube tirar partido<strong>de</strong>ssa política, pois <strong>de</strong>s<strong>de</strong> seu começo, investiu na idéia <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> re<strong>de</strong>” (2004, p.23).Em 1969, com a estréia do Jornal Nacional entre as novelas <strong>da</strong>s 7 e <strong>da</strong>s 8, quando passoua ser transmitido para gran<strong>de</strong> parte do país, houve uma integração nacional que trouxe a formação<strong>da</strong> re<strong>de</strong> imaginária, que hoje se impõe. Só a partir <strong>de</strong> 1983, quando a <strong>Re<strong>de</strong></strong> <strong>Globo</strong> passou a ter umcanal no satélite Intelsat, a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> televisão passou a operar via satélite, alcançando 98% dosdomicílios, ou seja, porcentagem próxima <strong>da</strong> atual.Sendo assim, a <strong>Re<strong>de</strong></strong> <strong>Globo</strong>, apoia<strong>da</strong> pelo governo e com uma melhor visão empresarial,além <strong>de</strong> possuir uma programação padroniza<strong>da</strong>, atinge os maiores índices <strong>de</strong> audiência, ficando àfrente <strong>da</strong>s suas concorrentes. A esse respeito, FERNANDES aponta:(...) casamento perfeito realizado pela <strong>Re<strong>de</strong></strong> <strong>Globo</strong> com dinheiro e inteligênciaenriqueceu a tal ponto a telenovela brasileira (e to<strong>da</strong> programação televisiva)que hoje se po<strong>de</strong> falar que ela passou a ser o néctar para milhões <strong>de</strong> abelhasespalha<strong>da</strong>s pelos oitos milhões e meio <strong>de</strong> quilômetros do país. (1997, p. 134).Diante <strong>de</strong>ste cenário, a emissora não parou mais <strong>de</strong> produzir teledramaturgia. Até este ano,2010, a emissora já produziu 252 <strong>telenovelas</strong> e 66 minisséries. Segundo o Guia Ilustrado –Telenovelas e Minisséries, “a TV <strong>Globo</strong> produz cerca <strong>de</strong> 2.500 horas anuais <strong>de</strong> novelas eprogramas – recor<strong>de</strong> mundial <strong>de</strong> teledramaturgia que equivale a 100 longa-metragens por mês”(2010, p.05). <strong>As</strong> produções são realiza<strong>da</strong>s <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> Central <strong>Globo</strong> <strong>de</strong> Produção, conhecido comoProjac, que “ocupa uma área <strong>de</strong> um milhão <strong>de</strong> e 650 mil m², com capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> para aten<strong>de</strong>r a todosos programas <strong>de</strong> entretenimento <strong>da</strong> emissora” (2010, p.30).A teledramaturgia também acabou ganhando espaço internacional com a telenovela O Bemamado, produzi<strong>da</strong> em 1973, que abriu as portas para a exportação quando foi vendi<strong>da</strong> para umatelevisão uruguaia. Atualmente, o ranking entre as <strong>telenovelas</strong> mais exporta<strong>da</strong>s está a novela Dacor do pecado (2004), em primeiro lugar, que foi vendi<strong>da</strong> para 100 países. Na sequência aparecemas novelas Terra Nostra (1999) para 95 países, O Clone (2001) para 91 países, Escrava Isaura(1976) para 79 países e Laços <strong>de</strong> Família (2000) para 77 países (MEMÓRIA GLOBO GUIAILUSTRADO, 2010, p.31).


A evolução <strong>da</strong>s histórias nas <strong>telenovelas</strong>- Déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1960: a herança dos melodramas<strong>As</strong> primeiras <strong>telenovelas</strong> produzi<strong>da</strong>s pela <strong>Re<strong>de</strong></strong> <strong>Globo</strong>, na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1960, mantinham suashistórias volta<strong>da</strong>s para o melodrama. Eram histórias distantes <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> nacional e assuntosparecidos com aqueles tratados em teleteatros, on<strong>de</strong> se utilizavam muitos autores estrangeiros, etambém influência do rádio que tinham como principal inspiração os dramalhões latinos,principalmente cub<strong>anos</strong> (FERNANDES, 1997, p.66).Além disso, foi uma déca<strong>da</strong> marca<strong>da</strong> pelas novelas <strong>de</strong> época, on<strong>de</strong> 10 do total <strong>de</strong> 25 foramhistórias que retratavam épocas anteriores. Entre elas, Eu compro esta mulher (1966), A RainhaLouca (1966), Anastácia, a mulher sem <strong>de</strong>stino (1967) e Rosa Rebel<strong>de</strong> (1969).Frequentemente as novelas <strong>de</strong> época são basea<strong>da</strong>s em obras literárias que retratam essecenário, como é o caso <strong>de</strong> Eu Compro esta mulher, basea<strong>da</strong> no romance <strong>de</strong> Alexandre Dumas, OCon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Monte Cristo. Além <strong>de</strong> beber em fontes literárias <strong>de</strong> romances <strong>de</strong> época, outro recurso ébuscar nos fatos históricos, principalmente nacionais, o pano <strong>de</strong> fundo para a criação <strong>da</strong>s novelas,como foi o caso <strong>de</strong> O Casarão, exibi<strong>da</strong> em 1976, que retratou os costumes e valores <strong>de</strong> um povoque vivia sob o regime do autoritarismo patriarcal e do ciclo cafeeiro do norte <strong>de</strong> São Paulo. Omesmo se repetiu com a trama Rosa Rebel<strong>de</strong> (1969) que retratou a luta entre espanhóis efranceses, na época <strong>de</strong> Napoleão Bonaparte.- Déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970: a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileiraA déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970 foi a fase <strong>de</strong> consoli<strong>da</strong>ção do produto telenovela na gra<strong>de</strong> <strong>de</strong>programação e também do momento em que suas histórias se aproximaram mais <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>brasileira e do cotidiano.Com a fixação dos horários para quatro diferentes produções na gra<strong>de</strong>, a emissora tambémresolve especificar um tema para ca<strong>da</strong> hora. “O horário <strong>da</strong>s 18h voltou-se para as histórias leves eromânticas e muitas tramas <strong>de</strong> época; o <strong>da</strong>s 19h, para as comédias (...) e o <strong>da</strong>s 20h para enredosmais <strong>de</strong>nsos” (MEMÓRIA GLOBO GUIA ILUSTRADO, p.03), assim como o horário <strong>da</strong>s 22h.Em 1973, vai ao ar Os ossos do Barão, uma novela que, apesar <strong>de</strong> ser caracteriza<strong>da</strong> como“trama <strong>de</strong> época”, pois retrata a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 30 e a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> dosBan<strong>de</strong>irantes, também leva ao público temas ligados ao cotidiano, como o preconceito <strong>de</strong> classes eo medo que as pessoas têm <strong>de</strong> assumirem suas <strong>de</strong>cadências.Outra trama que também expõe temas próximos do cotidiano do público é a novelaEscala<strong>da</strong> (1975). Em seu enredo há a questão do fracasso e <strong>da</strong> vingança que se perpetua pordéca<strong>da</strong>s, tudo encenado em um cenário que retrata momentos importantes <strong>da</strong> história do Brasil.Nesta mesma déca<strong>da</strong>, surgem Escrava Isaura (1976), a 2ª versão <strong>de</strong> A Moreninha, também em1975, e Senhora (1976).- Déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980: a política brasileira nas <strong>telenovelas</strong><strong>As</strong> <strong>telenovelas</strong> até a déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970 eram mais curtas, conclusão que se chega ao verificara quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> produções por ano. Enquanto na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970 a emissora produziu 65 novelas,na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980 este número <strong>de</strong>sce para 42, lembrando que as produções são produzi<strong>da</strong>sconstantemente, sem intervalos entre elas.<strong>As</strong>sim como na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970, os temas <strong>da</strong>s tramas eram voltados para a reali<strong>da</strong><strong>de</strong>,porém ain<strong>da</strong> mais realistas. <strong>As</strong> novelas <strong>de</strong> época têm pouco espaço nesta déca<strong>da</strong>.


Além <strong>de</strong> outras produções importantes como De corpo e alma (1992) que trouxe adiscussão <strong>da</strong> doação <strong>de</strong> órgãos, Renascer (1993) com uma personagem hermafrodita que muitosantes <strong>da</strong> novela não sabiam do que se tratava e também mostrou a luta pela posse <strong>de</strong> terras querepercutiu fora <strong>da</strong> produção , A Viagem (1994) que polemizou a questão <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> após a morte,outros assuntos mais comuns como assassinato, vingança, ascensão social, conflitos amorosos,preconceito racial também foram pautas <strong>de</strong> muitas histórias.A telenovela Por Amor (1998) além <strong>de</strong> trazer pela primeira vez o personagem Helena, <strong>de</strong>Manoel Carlos, também soube explorar esse espaço para conversar com a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e pedir aju<strong>da</strong>para encontrar pessoas <strong>de</strong>sapareci<strong>da</strong>s, quando se juntou às ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iras Mães <strong>da</strong> Cinelândia quese misturaram com os personagens fictícios <strong>da</strong> produção para expor a foto <strong>de</strong> seus parentes que<strong>de</strong>sapareceram. A história <strong>de</strong> Maneco, como o autor é chamado pela emissora, também fez questão<strong>de</strong> falar sobre problemas femininos como a violência contra a mulher, a gravi<strong>de</strong>z precoce emadolescentes, o <strong>de</strong>sejo doentio <strong>de</strong> uma mulher em ser mãe e dos conflitos comuns entre pais efilhos.- Déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 2000:A <strong>Re<strong>de</strong></strong> <strong>Globo</strong> produziu 53 novelas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ano <strong>de</strong> 2000. A primeira produção <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> foia novela Terra Nostra (2000), no horário <strong>da</strong>s 20h30min. Contou a história <strong>da</strong> chega<strong>da</strong> <strong>de</strong> imigrantesitali<strong>anos</strong> ao Brasil e os encontros e <strong>de</strong>sencontros amorosos do casal protagonista. Porém, não foi aúnica a retratar os imigrantes itali<strong>anos</strong> que também foram prestigiados pela produção Esperança(2002).Foi uma fase on<strong>de</strong> as novelas <strong>de</strong> época voltaram a ganhar espaço no horário <strong>da</strong>s 18hcomo, por exemplo, O Cravo e a rosa (2000), A Padroeira (2001), Chocolate com pimenta (2003) eAlma gêmea (2005), entre outras. Também ficou mais caracteriza<strong>da</strong> a intenção <strong>da</strong> emissora em<strong>de</strong>ixar o horário <strong>da</strong>s 19h para atrações que tivesse um toque <strong>de</strong> comédia, como foi o caso <strong>de</strong> OBeijo do vampiro (2002), Kubanacan (2003), Bang Bang (2005) e Pé na jaca (2006), porém sem<strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> fora outros temas como ambição, suspense, drama e assuntos sociais.Já o horário <strong>da</strong>s 21h permaneceu como espaço <strong>de</strong> temas mais sérios e contemporâneos,como na déca<strong>da</strong> anterior. Os assuntos sociais também tomaram conta <strong>da</strong>s <strong>telenovelas</strong>, pois ManoelCarlos teve a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> escrever quatro novelas on<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixou claro que uma <strong>de</strong> suas marcas,além <strong>da</strong>s tramas sempre apresentarem um mesmo personagem, Helena, é abor<strong>da</strong>r dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s,preconceitos e qualquer outro problema social do momento.<strong>As</strong> produções Laços <strong>de</strong> família (2000), Mulheres apaixona<strong>da</strong>s (2003), Páginas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>(2006) e a última Viver a vi<strong>da</strong> (2010) escritas por Manoel Carlos talvez <strong>de</strong>screvam o perfil <strong>da</strong>s<strong>telenovelas</strong> nesta déca<strong>da</strong>. Na produção Páginas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> foi a primeira vez que <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong>pessoas reais apareceram no final <strong>da</strong> telenovela, tentando trazer ain<strong>da</strong> mais a teledramaturgia paraperto <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>.Além disso, a alta tecnologia e o alto investimento em produções como A Favorita (2008) eCaminho <strong>da</strong>s Índias (2009) também resumem a época atual. A última produção cita<strong>da</strong> chegou aganhar o prêmio internacional <strong>de</strong> televisão Emmy 2009, ain<strong>da</strong> inédito para a teledramaturgiabrasileira.Algumas observaçõesDiante <strong>de</strong> 252 <strong>telenovelas</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>45</strong> <strong>anos</strong> que a <strong>Re<strong>de</strong></strong> <strong>Globo</strong> comemora este ano, épossível dizer que as histórias foram sendo construí<strong>da</strong>s a partir <strong>de</strong> acontecimentos reais que talvez


precisassem entrar em discussão <strong>de</strong> alguma maneira, e parecem ter encontrado uma forma através<strong>da</strong> telenovela.Nesse sentido, Renata Pallottini afirma que a televisão acaba sendo o meio <strong>de</strong> maiorpenetração, principalmente nas classes baixas, o que cria um tipo <strong>de</strong> hipnose ruim.Porém, a pesquisadora percebe a telenovela como uma forma para mostrar os problemas<strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, pois “a ficção televisiva não é cria<strong>da</strong> por robôs, mas sim por seres hum<strong>anos</strong>, porescritores especializados, por técnicos, atores e autores que pensam e evoluem” (1998, p.201).A pesquisadora Esther Hamburger (1998) diz que ao longo do tempo e <strong>da</strong> evolução dogênero, as <strong>telenovelas</strong> se tornaram gran<strong>de</strong>s termômetros <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> cotidiana e dos costumes <strong>da</strong>socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, mostrando a vi<strong>da</strong> priva<strong>da</strong> para o gran<strong>de</strong> público. A autora ain<strong>da</strong> acrescenta que:E talvez o fascínio e a repercussão pública <strong>da</strong>s novelas estejam relacionados aessas ousadias na abor<strong>da</strong>gem dos dramas privados <strong>de</strong> todo dia; e o quanto amoral final correspon<strong>de</strong> a mo<strong>de</strong>los convencionais ou liberalizantes comfreqüência tem a ver com uma negociação imaginária indireta e cheia <strong>de</strong>medições que envolvem autores, produtores, pesquisadores <strong>de</strong> mercado,instituições como a censura, a Igreja e o público. (HAMBURGER, 1998, p. 475)<strong>As</strong>sim, a novela, além <strong>de</strong> exercer o fascínio no telespectador através <strong>da</strong> trama e dospersonagens, reflete cenas do cotidiano pessoal e social <strong>da</strong>queles que acompanham a evolução <strong>de</strong>seus capítulos, reforçando uma possível i<strong>de</strong>ntificação entre o mundo real do telespectador e omundo <strong>da</strong> ficção.Ao longo dos quarenta e cinco <strong>anos</strong> <strong>de</strong> exibição ininterrupta, muitas novelas <strong>da</strong> <strong>Re<strong>de</strong></strong><strong>Globo</strong> <strong>de</strong> Televisão exibiram cenas <strong>de</strong> histórias e épocas que marcaram um povo através <strong>de</strong> seuscostumes, valores e lutas.Referências BibliográficasBALLOGH, Anna Maria. Conjunções, disjunções e transmutações: <strong>da</strong> literatura ao cinema e àTV. São Paulo: Annablume, 1996.DANIEL FILHO. O circo eletrônico: fazendo TV no Brasil. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar, 2003.FERNANDES, Ismael. Memória <strong>da</strong> telenovela brasileira. 4ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1997.FERREIRA, Raquel Marques Carriço. Motivos para audiência em televisão. 2003. Dissertação(Mestrado em Comunicação Social) Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Metodista <strong>de</strong> São Paulo, São Bernardo doCampo.LOBO, Narciso Julio Freire. Ficção e Política: o Brasil nas minisséries. Manaus: Valer, 2000.MELO, José Marques <strong>de</strong>. <strong>As</strong> <strong>telenovelas</strong> <strong>da</strong> <strong>Re<strong>de</strong></strong> <strong>Globo</strong>: produção e exportação. São Paulo:Summus, 1988.ORTIZ, Renato; BORELLI, Silvia Simões; RAMOS, José Mario Ortiz. Telenovela. História eprodução. 2ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1991.PALLOTTINI, Renata. Dramaturgia <strong>de</strong> televisão. São Paulo: Mo<strong>de</strong>rna, 1998.


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