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O Mobral de dona Ruth - Centro Ruth Cardoso

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ISTOÉ - O <strong>Mobral</strong> <strong>de</strong> <strong>dona</strong> <strong>Ruth</strong> - 28/5/97http://www.zaz.com.br/istoe/politica/144316.htmPágina 1 <strong>de</strong> 325/11/200828 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1997aberturaeditoriaspolítica/brasila semanacomportamentoeconomia & negóciosinternacionalartes & espetáculosseçõesentrevistaimagem da semanaestação da luz - linksséculo 21genteopiniãoeditorialdatascartasserviçosarquivobuscaassine ISTOÉexpedientefale com a genteO <strong>Mobral</strong> <strong>de</strong> <strong>dona</strong> <strong>Ruth</strong>Governo inicia projeto piloto <strong>de</strong> ensino para adultos em 38municípios do Norte e Nor<strong>de</strong>ste do PaísFoto: ANDRÉ DUSEKEDUARDO HOLLANDA, DE ENVIRA (AM)Sala <strong>de</strong> aula emPauini, no Amazonas:cida<strong>de</strong> com 18 milhabitantes e lí<strong>de</strong>r <strong>de</strong>analfabetismo noBrasilTrês vezes por semana, Valcilene Gomes Pinheiro, 21 anos,leciona na Escola Estadual Armando Men<strong>de</strong>s, na pequenacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Envira (AM), em plena floresta amazônica, àsmargens do rio Tarauacá e a 1.500 quilômetros <strong>de</strong> Manaus.No meio dos alunos está Maria Levy Gomes Cavalcanti, 41anos e <strong>de</strong>z filhos, entre eles a professora Valcilene. Mãe efilha se encontram às segundas, quartas e sextas-feiras dassete às <strong>de</strong>z horas da noite para Maria Levy apren<strong>de</strong>r a ler eescrever. Valcilene é um dos 12 alfabetizadores escolhidos nomunicípio pelo programa Alfabetização Solidária, ligado aoComunida<strong>de</strong> Solidária, dirigido pela primeira-dama <strong>Ruth</strong><strong>Cardoso</strong>. O projeto visa a alfabetização <strong>de</strong> brasileiros commais <strong>de</strong> 12 anos. "Eu tinha começado a estudar quando erapequena, mas <strong>de</strong>pois, no seringal, parei, tive filhos e esquecitudo", conta Maria Levy.O último programa <strong>de</strong> alfabetização em escala nacional foi oMovimento Brasileiro <strong>de</strong> Alfabetização, mais conhecidocomo <strong>Mobral</strong>, criado em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1967, com a promessa<strong>de</strong> "erradicar o analfabetismo ao longo da década <strong>de</strong> 70". Setivesse dado certo, Maria Levy, à epoca com 12 anos, nãoestaria recebendo aulas <strong>de</strong> sua filha hoje. O mais recente dadooficial do <strong>Mobral</strong>, <strong>de</strong> 1972, estima em dois milhões o número<strong>de</strong> alunos matriculados naquele ano. "Bem que tentamosresgatar outros dados do <strong>Mobral</strong>, <strong>de</strong>scobrir quantos alunoshaviam sido matriculados durante sua existência e,principalmente, saber os resultados obtidos, mas tudo isso éum mistério completo", afirma a coor<strong>de</strong>nadora doAlfabetização Solidária, Regina Esteves. Quando o programafoi extinto, em 1985, a única herança que <strong>de</strong>ixou foram os 4,5mil funcionários, em sua maioria burocratas.


ISTOÉ - O <strong>Mobral</strong> <strong>de</strong> <strong>dona</strong> <strong>Ruth</strong> - 28/5/97http://www.zaz.com.br/istoe/politica/144316.htmPágina 2 <strong>de</strong> 325/11/2008Trinta anos <strong>de</strong>pois da criação do <strong>Mobral</strong>, o governo FernandoHenrique volta a falar em resgatar parte da dívida socialrepresentada pelos atuais 30 milhões <strong>de</strong> analfabetos. Prometenão repetir os erros do passado, a começar por não fixar metasirreais a serem atingidas. O objetivo agora é implantar ummo<strong>de</strong>lo que possa ser reproduzido gradualmente em outraspartes do País. Nessa primeira etapa, foram escolhidos 38municípios das regiões Norte e Nor<strong>de</strong>ste com índices <strong>de</strong>analfabetismo superiores a 55%, registrados pelo censo <strong>de</strong>1991, último levantamento feito sobre o assunto. No total,9.150 analfabetos estão participando das aulas <strong>de</strong>s<strong>de</strong>fevereiro. "Levamos anos criticando as políticas sociais eindicando quais eram os principais pontos negativos. Agora éhora <strong>de</strong> colocarmos as idéias em prática, com um projeto<strong>de</strong>scentralizado, autonomia <strong>de</strong> execução e parceria entregoverno e socieda<strong>de</strong>", afirma <strong>Ruth</strong> <strong>Cardoso</strong>.A participação <strong>de</strong> empresas e entida<strong>de</strong>s não-governamentais éuma das principais diferenças do projeto sob o comando <strong>de</strong><strong>dona</strong> <strong>Ruth</strong> em relação ao <strong>Mobral</strong>, custeado quase totalmentepelos cofres públicos. Dos R$ 34 gastos mensalmente comcada aluno, o Ministério da Educação paga a meta<strong>de</strong> emlivros e material didático. Os salários dos alfabetizadores e amerenda escolar e transporte, por exemplo, são patrocinadosem sua maior parte por empresas privadas e por instituiçõescomo a Unesco, organismo das Nações Unidas. "Gostamosdos resultados da fase inicial e <strong>de</strong>cidimos ampliar nossaparticipação", afirma Sérgio Hilleshein, gerente corporativodo Grupo Ipiranga, uma das 11 empresas incluídas noprograma. Pelo mo<strong>de</strong>lo estabelecido, cada município tem umaempresa patrocinadora. A Ipiranga financiou o projeto emduas cida<strong>de</strong>s, mas vai aumentar para 20 a partir do segundosemestre. Nessa primeira etapa, a Volkswagen custeou oprograma em Pauini (AM), recordista nacional emanalfabetismo. De seus 18 mil habitantes, 81,83% não sabemler ou escrever. "O município não teria recursos para umprograma <strong>de</strong>sses", diz o prefeito Francisco Gomes da Costa(PSDB).Há 37 universida<strong>de</strong>s, como a São Marcos, <strong>de</strong> São Paulo,participando do programa. Elas fazem treinamento dosprofessores e uma avaliação mensal. Para facilitar o contatocom os alunos, os alfabetizadores são recrutados nos própriosmunicípios. "Como eu conheço bem a rotina <strong>de</strong>les, possoa<strong>de</strong>quar com mais facilida<strong>de</strong> as aulas ao horário <strong>de</strong> trabalho",afirma Maria <strong>de</strong> Jesus Pereira <strong>de</strong> Araújo, alfabetizadora ruralem Água Preta, povoado <strong>de</strong> 30 casas no município <strong>de</strong> Pauini.Este recrutamento é feito entre pessoas que tenham pelomenos a oitava série, mas há exceções e a própria Maria <strong>de</strong>Jesus é uma <strong>de</strong>las. "Procuro ler muito para compensar a falta<strong>de</strong> mais estudos formais", conta a alfabetizadora, que tem aquarta série primária e recebe um salário mínimo por mês. Emcada cida<strong>de</strong>, existe um coor<strong>de</strong>nador com remuneração <strong>de</strong> R$


ISTOÉ - O <strong>Mobral</strong> <strong>de</strong> <strong>dona</strong> <strong>Ruth</strong> - 28/5/97http://www.zaz.com.br/istoe/politica/144316.htmPágina 3 <strong>de</strong> 325/11/2008200. Pelo menos uma vez por semana, Maria <strong>de</strong> Jesus sereúne com o coor<strong>de</strong>nador do programa em Pauini, que fica auma hora e meia <strong>de</strong> barco <strong>de</strong> Água Preta.Ainda é cedo para avaliar os resultados. Está certo, noentanto, que no próximo semestre o número <strong>de</strong> municípiosbeneficiados aumentará <strong>de</strong> 38 para 118 e a previsão é <strong>de</strong> que29.500 alunos sejam atingidos. E os primeiros resultados têmrecebido aprovação. "A iniciativa do governo brasileiro teveresultados excelentes nas avaliações feitas até agora", dizJorge Werthein, diretor da Unesco no Brasil. A aceitação foitão boa que <strong>dona</strong> <strong>Ruth</strong> recebeu convite para apresentar oprojeto na Conferência Geral da Unesco marcada paraoutubro em Paris. Enquanto não é mostrado fora do Brasil, oprojeto conquista a simpatia interna. "Nas primeiras vezes queescrevi meu nome, não ficou bom, mas já estou gostando",comemora Edvar Costa <strong>de</strong> Araújo, 19 anos, que nunca tinhafrequentado uma escola e é aluno <strong>de</strong> Maria José em Pauini."Agora, quero tirar minha carteira <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> com o nomeassinado e nunca mais pedir almofada <strong>de</strong> carimbo paramanchar meu <strong>de</strong>do", completa.Copyright 1996, 1997 Editora Três

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