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Conceitos Fundamentais de Mecânica dos Fluidos - Laboratório de ...

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ivCorte axial para um jato em escoamento cruzadoVista lateral <strong>de</strong> um jato em escoamento cruzadomostrando a esteira <strong>de</strong> vórtices


Conteúdo1 <strong>Conceitos</strong> <strong>Fundamentais</strong> e Consi<strong>de</strong>rações Gerais 11.1 Sóli<strong>dos</strong>, Líqui<strong>dos</strong>, Gases . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11.2 A Hipótese do Contínuo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11.3 As Proprieda<strong>de</strong>s Físicas <strong>dos</strong> Flui<strong>dos</strong> . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21.4 Revisão <strong>de</strong> Alguns Elementos da Matemática . . . . . . . . . . . . . . . . . 41.4.1 Vetores e Operações Vetoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41.4.2 Teoremas <strong>de</strong> Stokes, Gauss e Green . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71.4.3 Tensores e Operações Envolvendo Tensores . . . . . . . . . . . . . . 71.4.4 Forças que Agem em um Fluido e o Tensor das Tensões . . . . . . . 92 Cinemática <strong>dos</strong> Escoamentos 112.1 Sistemas <strong>de</strong> Referência para a Descrição <strong>dos</strong> Escoamentos . . . . . . . . . . 112.2 A Derivada Material . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122.3 Deformação e Rotação Locais <strong>de</strong> um escoamento . . . . . . . . . . . . . . . 143 Os Princípios <strong>de</strong> Conservação e as Equações do Movimento 193.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 193.2 O Teorema do Transporte <strong>de</strong> Reynolds . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 193.3 Princípio da Conservação da Massa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 223.4 O Princípio da Conservação da Quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Movimento Linear . . . . . 223.5 O Princípio da Conservação da Quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Movimento Angular . . . . 243.6 O Princípio da Conservação da Energia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 253.7 Equações e Variáveis Obtidas Através <strong>dos</strong> Princípios <strong>de</strong> Conservação . . . 273.8 As Equações Constitutivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 273.8.1 As relações para o tensor das tensões . . . . . . . . . . . . . . . . . 273.8.2 As relações para o fluxo <strong>de</strong> calor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 303.8.3 A equação <strong>de</strong> estado para ρ, p e T . . . . . . . . . . . . . . . . . . 323.9 Equações do Movimento e as Equações <strong>de</strong> Contorno . . . . . . . . . . . . . 353.9.1 A Condição <strong>de</strong> Não-Escorregamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . 373.9.2 A Condição <strong>de</strong> Impermeabilida<strong>de</strong> . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 373.9.3 As Condições <strong>de</strong> Contorno para o Campo <strong>de</strong> Temperaturas . . . . 383.9.4 Um Exemplo do Estabelecimento das Condições <strong>de</strong> Contorno . . . . 383.9.5 Um Exemplo do Estabelecimento <strong>de</strong> um Problema <strong>de</strong> Valor <strong>de</strong> Contorno. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39v


vi4 Os Parâmetros que Governam os Escoamentos <strong>de</strong> Flui<strong>dos</strong> 444.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 444.2 O Significado Físico do Número <strong>de</strong> Reynolds . . . . . . . . . . . . . . . . . 454.3 Número <strong>de</strong> Frou<strong>de</strong> . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 454.4 O Número <strong>de</strong> Mach . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 464.5 Outros Grupos Adimensionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 485 As Simplificações das Equações do Movimento e as Diferentes Classes<strong>de</strong> Problemas em Mecânica <strong>dos</strong> Flui<strong>dos</strong> 505.1 Escoamentos Incompressíveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 505.1.1 Soluções Exatas para Escoamentos Incompressíveis . . . . . . . . . 515.2 Escoamentos on<strong>de</strong> Re −→ 0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 555.2.1 Escoamentos on<strong>de</strong> Re −→ ∞ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 585.2.2 As Simplificações para os Escoamentos Bidimensionais . . . . . . . 685.3 A Linearização das Equações do Movimento . . . . . . . . . . . . . . . . . 726 Referências 746.1 Bibliografia Básica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 746.2 Bibliografia Específica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 766.3 Bibliografia Complementar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77


Capítulo 1<strong>Conceitos</strong> <strong>Fundamentais</strong> eConsi<strong>de</strong>rações Gerais1.1 Sóli<strong>dos</strong>, Líqui<strong>dos</strong>, GasesA proprieda<strong>de</strong> fundamental que caracteriza líqui<strong>dos</strong> e gases é, sob o ponto <strong>de</strong> vistamecânico, a “facilida<strong>de</strong>” com que são <strong>de</strong>forma<strong>dos</strong>. Um corpo sólido (ou, pelo menos,a maioria <strong>de</strong>les) “resiste”a esforços externos que ten<strong>de</strong>m a <strong>de</strong>formá-lo sendo as variaçõesdas posições relativas das várias partículas que o constituem “pequenas”quando for “pequena”avariação das forças externas.Em líqui<strong>dos</strong> e gases isso não acontece. Esforços externos arbitrariamente “pequenos”emmagnitu<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m induzir “extensas”<strong>de</strong>formações nos mesmos. Esta característicamecânica permite-nos agrupar a maioria <strong>dos</strong> líqui<strong>dos</strong> e gases, no que se refere ao seu comportamentomecânico, em uma só classe: os flui<strong>dos</strong>.Ao estudo do movimento macroscópico relativo <strong>dos</strong> vários elementos que compõe umcorpo (ou uma região) fluido(a), em face a esforços externos nele(a) atuantes, dá-se onome Mecânica <strong>dos</strong> Flui<strong>dos</strong>.1.2 A Hipótese do ContínuoA física mo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong>screve as proprieda<strong>de</strong>s da matéria como gran<strong>de</strong>zas quânticas. A massa<strong>de</strong> um corpo, por exemplo, não está continuamente distribuída ao longo <strong>de</strong> seu volume,mas concentrada nos núcleos <strong>de</strong> seus átomos. Entretanto, a Mecânica <strong>dos</strong> Flui<strong>dos</strong> normalmentese limita apenas ao estudo do movimento macroscópico <strong>dos</strong> flui<strong>dos</strong>, dispensandouma <strong>de</strong>scrição precisa do movimento a nível molecular. Assim, em tais estu<strong>dos</strong>, o fluidopo<strong>de</strong> ser geralmente tratado como um meio contínuo que possue proprieda<strong>de</strong>s que variamcontinuamente ao longo do seu volume. Tais proprieda<strong>de</strong>s são expressões macroscópicasdas proprieda<strong>de</strong>s quânticas das partículas que constituem o fluido.A hipótese do contínuo pressupõe a existência <strong>de</strong> três escalas <strong>de</strong> comprimento característicaspara os escoamentos <strong>de</strong> flui<strong>dos</strong>. Uma escala <strong>de</strong> comprimento, L 3 característicadas variações das proprieda<strong>de</strong>s do “contínuo”, uma escala <strong>de</strong> comprimento, L 2 , on<strong>de</strong> asvariações <strong>de</strong>ssas proprieda<strong>de</strong>s são assintoticamente pequenas, e uma escala <strong>de</strong> compri-1


3A massa específica ρ é <strong>de</strong>finida como em (1.2), on<strong>de</strong> o limite é tomado somente atéV −→ L 3 2.A viscosida<strong>de</strong> é a proprieda<strong>de</strong> que um fluido possui <strong>de</strong> transmitir quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimentolinear ao longo <strong>de</strong> direções normais à velocida<strong>de</strong> local do mesmo (local, em termosmacroscópicos). O aumento da força eletromagnética repulsiva entre as moléculas quandoelas se aproximam uma das outras explica a transmissão da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimentolinear na direção da velocida<strong>de</strong> local do escoamento. A explicação para o efeito viscoso,entretanto, não é tão simples: uma região fluida inicialmente em repouso po<strong>de</strong> ser vista,na verda<strong>de</strong>, como um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> moléculas que se movimentam com velocida<strong>de</strong>sque variam estocasticamente. Se uma fronteira plana <strong>de</strong>ssa região fluida é colocada emmovimento na direção tangente a sua superfície, o movimento flutuante (ou Browniano)das moléculas faz com que algumas <strong>de</strong>las, que se encontram próximas ao contorno postoem movimento, se choquem contra o mesmo, adquirindo momento linear extra. Através<strong>de</strong>ste mesmo movimento Browniano, moléculas que adquiriram momento linear extra interagemcom outras moléculas no interior da região fluida, transferindo para elas parte<strong>de</strong>ste momento extra. Através <strong>de</strong>sse processo, ilustrado na Fig. 1.2, resulta uma transferêncialíquida <strong>de</strong> momento linear ao longo das direções normais à da velocida<strong>de</strong> média(macroscópica) local, chamada difusão viscosa.Figura 1.2: Difusão viscosa do momento linearA intensida<strong>de</strong> com a qual a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimento linear é transferido por difusãoviscosa <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> características do fluido, tais como sua estrutura molecular,suas proprieda<strong>de</strong>s físicas, como a temperatura (energia cinética média das moléculas) ea massa específica, e também sua taxa <strong>de</strong> variação local da distribuição da velocida<strong>de</strong>“macroscópica” u ao longo da direção normal ao movimento (y).Para o fluido como um contínuo, este processo <strong>de</strong> difusão viscosa permite a associação<strong>de</strong> uma tensão <strong>de</strong> cisalhamento local, ao fluxo normal (por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> área) da componenteda quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimento linear paralela ao escoamento local.Sir Isaac Newton estudou experimentalmente o arrasto em placas planas em movimentoatravés <strong>de</strong> meios flui<strong>dos</strong>, e introduziu o conceito do Coeficiente <strong>de</strong> Viscosida<strong>de</strong>, ou,simplesmente, Viscosida<strong>de</strong>, µ. Newton assumiu que µ é uma proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte unicamenteda natureza do fluido, e que relaciona a tensão <strong>de</strong> cisalhamento (τ) e o gradientenormal da velocida<strong>de</strong> local do escoamento du/dy, através da expressão:


4τ = µ ∂u∂y . (1.3)Flui<strong>dos</strong> on<strong>de</strong> µ não varia com a taxa <strong>de</strong> cisalhamento ∂u/∂y são <strong>de</strong>nomina<strong>dos</strong> Flui<strong>dos</strong>Newtonianos. Neles, τ é uma função linear <strong>de</strong> du/dy. Flui<strong>dos</strong> tais como a água e oar po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>ra<strong>dos</strong> newtonianos pois suas viscosida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m apenas <strong>de</strong> seusesta<strong>dos</strong> termodinâmicos (pelo menos na maioria <strong>dos</strong> escoamentos <strong>de</strong> interesse prático).Por outro lado, existem vários flui<strong>dos</strong> que não satisfazem a relação (1.3): os óleos e assuspensões são exemplos <strong>de</strong> tais flui<strong>dos</strong>. Diferentes relações entre τ e du/dy são ilustradasna Fig. 1.3:Figura 1.3: Relações tensão – taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>formaçãoA compressibilida<strong>de</strong> é a proprieda<strong>de</strong> que traduz a sensibilida<strong>de</strong> da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> umfluido a variações na sua pressão termodinâmica. Escoamentos on<strong>de</strong> as variações <strong>de</strong> ρ são<strong>de</strong>sprezíveis são chama<strong>dos</strong> Escoamentos Incompressíveis. Nos escoamentos on<strong>de</strong> ∂ρ/∂pé significativo, perturbações na pressão se propagam a velocida<strong>de</strong>s comparáveis à doescoamento, permitindo a formação <strong>de</strong> ondas <strong>de</strong> choque, características <strong>de</strong> escoamentossupersônicos. Enquanto o módulo <strong>de</strong> elasticida<strong>de</strong> do ar é da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 3.000 PSF, o módulo<strong>de</strong> elasticida<strong>de</strong> da água é da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 40.000.000 PSF (praticamente ”incompressível”).A compressibilida<strong>de</strong> e outras proprieda<strong>de</strong>s físicas, tais como a Tensão Superficial, serãodiscutidas em maiores <strong>de</strong>talhes em seções subsequentes.1.4 Revisão <strong>de</strong> Alguns Elementos da MatemáticaA análise teórica da dinâmica <strong>dos</strong> escoamentos envolve a aplicação <strong>de</strong> vários elementosda física matemática, alguns <strong>dos</strong> quais são aqui recorda<strong>dos</strong>.1.4.1 Vetores e Operações Vetoriais⃗A = A 1 ⃗e 1 + A 2 ⃗e 2 + A 3 ⃗e 3 , (1.4)


5é um vetor on<strong>de</strong> ⃗e 1 , ⃗e 2 , ⃗e 3 formam uma tría<strong>de</strong> <strong>de</strong> vetores unitários ortogonais, e A 1 , A 2 , A 3são escalares que representam a magnitu<strong>de</strong> das componentes <strong>de</strong> ⃗ A nas direções ⃗e 1 , ⃗e 2 , ⃗e 3respectivamente.Sendo ⃗ A e ⃗ B dois vetores,⃗A ⃗ B = | ⃗ A|| ⃗ B|cosθ, (1.5)é o produto escalar <strong>de</strong> A ⃗ por B, ⃗ on<strong>de</strong> θ é o angulo entre A ⃗ e B. ⃗⎛⎞⃗e 1 ⃗e 2 ⃗e 3AB = C = ⎝A 1 A 2 A 3⎠ (1.6)B 1 B 2 B 3é o produto vetorial <strong>de</strong> A ⃗ por B, ⃗ on<strong>de</strong> ∣C⃗ ∣ = ∣A⃗ ∣ ∣B⃗ ∣ sin θ⃗A × ( B ⃗ × C) ⃗ é o produto vetorial triplo <strong>de</strong> A, ⃗ B, ⃗ C ⃗ e A ⃗ × ( B ⃗ × C) ⃗ = ( A. ⃗ C) ⃗ B ⃗ − ( A ⃗ B) ⃗ C. ⃗As operações <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivação envolvendo vetores po<strong>de</strong>m, geralmente, ser expressas através<strong>de</strong> operações entre esses vetores e o operador vetorial diferencial ∇,on<strong>de</strong>∇ =∂∂x 1⃗e 1 +∂∂x 2⃗e 2 +∂∂x 3⃗e 3 , (1.7)⃗x = x 1 ⃗e 1 + x 2 ⃗e 2 + x 3 ⃗e 3 . (1.8)é o vetor posição. As operações envolvendo ∇ <strong>de</strong> maior importância são:∇E = grad E = ∂E∂x 1e 1 + ∂E∂x 2⃗e 2 + ∂E∂x 3⃗e 3 , (1.9)on<strong>de</strong> E é um campo escalar,e∇. ⃗ A = div ⃗ A = ∂A 1∂x 1+ ∂A 2∂x 2+ ∂A 3∂x 3, (1.10)⎛⎞∇ × A ⃗ = rotA ⃗ ⃗e 1 ⃗e 2 ⃗e 3= ⎝∂/∂x 1 ∂/∂x 2 ∂/∂x 3⎠ (1.11)A 1 A 2 A 3Assim, grad E é um vetor, div ⃗ A é um escalar e rot ⃗ A é um vetor.Uma outra operação importante envolvendo ∇ e dois campos vetoriais ⃗ A e ⃗ B é (verKreyszig).∇( ⃗ A. ⃗ B) = ⃗ A × (∇ × B) + ( ⃗ A.∇) ⃗ B + ⃗ B × (∇ × ⃗ A) + ( ⃗ B.∇) ⃗ A. (1.12)Esta relação é <strong>de</strong> especial importância para a mecânica <strong>dos</strong> flui<strong>dos</strong> quando ⃗ A ≡ ⃗ B ≡ ⃗ U( ⃗ U = vetor velocida<strong>de</strong>),∇(|⃗u| 2 ) = 2[( ⃗ U.∇) ⃗ U + ⃗ U × ⃗ W ], (1.13)


6on<strong>de</strong>⃗W = rot ⃗ U. (1.14)Os significa<strong>dos</strong> físicos associa<strong>dos</strong> a grad ⃗ U, div ⃗ U, rot ⃗ U, e à expressão (1.13) serãodiscuti<strong>dos</strong> mais adiante.Uma outra maneira <strong>de</strong> se representar o vetor ⃗x em (1.8) é escrevê-lo na forma⃗x = x i ⃗e i , i = 1, 2, 3. (1.15)Esta é a notação indicial (ou <strong>de</strong> Einstein), que convenciona a indicação <strong>de</strong> somasatravés da utilização <strong>de</strong> índices repeti<strong>dos</strong>. Assim, po<strong>de</strong>-se representar grad E e div ⃗ A nasformas:egrad E = ∂E∂x i⃗e i , (1.16)div ⃗ A = ∂A i∂x i. (1.17)O produto escalar <strong>de</strong> um vetor unitário ⃗e k por ⃗x po<strong>de</strong> ser escrito na formaComo os vetores ⃗e i são ortogonais entre si,⃗e k .⃗x = ⃗e k .⃗e i .x i . (1.18)⃗e k .⃗e i = 0 se k ≠ i, , ⃗e k .⃗e i = 1 se k = 1 (1.19)Uma notação concisa para ⃗e k .⃗e i é o Delta <strong>de</strong> Kronecker <strong>de</strong>finido por:{1, k = iδ ki =0, k ≠ iAssim,(1.20)⃗e k .⃗x = δ ki x i = x k . (1.21)A equação (1.21) é então uma forma con<strong>de</strong>nsada para se representar as três relaçõesx 1 = ⃗e 1 ⃗x; x 2 = ⃗e 2 ⃗x; x 3 = ⃗e 3 ⃗x. (1.22)Nos casos on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>seja suprimir a convenção da soma ao se escrever índices repeti<strong>dos</strong>,utiliza-se usualmente a notaçãoque representa as três relaçõesa i = λ i b i , i = 1, 2, 3, (1.23)a 1 = λ 1 b 1 ; a 2 = λ 2 b 2 , a 3 = λ 3 b 3 . (1.24)


71.4.2 Teoremas <strong>de</strong> Stokes, Gauss e GreenVários teoremas envolvendo integrais <strong>de</strong> funções e o operador ∇ são emprega<strong>dos</strong> na análisedo escoamento <strong>de</strong> flui<strong>dos</strong>. Destes, três são <strong>de</strong> particular importância. O primeiro <strong>de</strong>les,o Teorema <strong>de</strong> Stokes, relaciona a integral ao longo <strong>de</strong> uma superfície S do rotacional <strong>de</strong>um campo vetorial, com a integral <strong>de</strong> linha ao longo do perímetro C que envolve S:∫∮(∇ × A).⃗n ⃗ ds = ⃗A.⃗t dc, (1.25)Son<strong>de</strong> ⃗m é normal à superfície S e ⃗t é tangente à curva C.O teorema da divergência <strong>de</strong> Gauss relaciona a integral do divergente <strong>de</strong> um campovetorial ao longo <strong>de</strong> um volume V , com a integral <strong>de</strong> linha sobre a superfície S que envolveV :∫∫∇A ⃗ dv = ⃗A.⃗n ds, (1.26)on<strong>de</strong> ⃗n é normal à superfície S.VO teorema <strong>de</strong> Green é apresentado na literatura sob diferentes formas. A sua “primeiraforma”é:∫∫(φ∇ 2 ψ + ∇φ.∇ψ) dv = φ ∂ψ∂n∫Sds = φ⃗n.∇ψds, (1.27)Von<strong>de</strong> φ e ψ são funções escalares, e ∂/∂n representa a <strong>de</strong>rivada na direção normal àsuperfície S. A sua “segunda forma”é:∫V∫(φ∇ 2 ψ − ψ∇ 2 φ)dv =SSSC(φ ∂ψ∂n − ψ ∂φ ) ∫ds = ⃗n.(φ∇ψ − ψ∇φ) ds (1.28)∂nSQuando φ e ψ são funções harmônicas,∫φ ∂ψS ∂n∫Sds = ψ ∂ψ ds (1.29)∂nO teorema <strong>de</strong> Green é <strong>de</strong> particular importância na análise <strong>de</strong> escoamentos irrotacionais,como será visto posteriormente.1.4.3 Tensores e Operações Envolvendo TensoresT i1 i 2. . . in (1.30)é um tensor <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m n, representado em notação indicial. Operações com tensoressão geralmente escritas em notação indicial pela simplicida<strong>de</strong> com que esta notação asrepresenta, e também pela forma direta com que ela <strong>de</strong>nota a or<strong>de</strong>m do tensor.T ij é um tensor <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m, que compreen<strong>de</strong> i.j, componentes escalares. Similarmente,T ijk é um tensor <strong>de</strong> terceira or<strong>de</strong>m, compreen<strong>de</strong>ndo i.j.k componentes escalares.


8T ij po<strong>de</strong> ter a representação compacta T . T = R + S é o tensor formado pela soma<strong>de</strong> R e S, eT ij = R ij + S ij . (1.31)a = T ij S ij , (1.32)é o produto interno <strong>de</strong> dois tensores, on<strong>de</strong> a é um escalar.u i = T ij v j = v j T ij , (1.33)é o produto vetorial entre T e ⃗v, ou seja,é um vetor.⃗u = T : ⃗v, (1.34)é o produto tensorial <strong>de</strong> ⃗u por ⃗v, também representado porO tensorT ij = u i v j , (1.35)T = ⃗u ⊗ ⃗v (1.36)⎧⎪⎨ 1 i, j, k = 1, 2, 3; 2, 3, 1; ou 3, 1, 2ɛ ijk = 0 se quaisquer <strong>dos</strong> indices são iguais⎪⎩−1 se i, j, k = 3, 2, 1; 2, 1, 3; ou 1, 3, 2(1.37)é chamado tensor unitário alternado. Este tensor é utilizado na representação indicial doproduto vetorial entre dois vetores; ⃗w = ⃗u × ⃗v po<strong>de</strong> ser representado porw i = ɛ ijk u j v k (1.38)O gradiente <strong>de</strong> um campo vetorial é um tensor, <strong>de</strong>finido porO divergente <strong>de</strong> um tensor é um vetor, <strong>de</strong>finido por∇⃗v = ∇ ⊗ ⃗v = ∂v i∂x j. (1.39)∇T = ∂T ij∂x j. (1.40)O gradiente <strong>de</strong> um tensor <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m N é um tensor <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m (N + 1), e o divergente<strong>de</strong> um tensor <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m N é um tensor <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m N − 1. Vetores são tensores <strong>de</strong> primeiraor<strong>de</strong>m e escalares são tensores <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m zero. Assim, não é <strong>de</strong>finido o divergente <strong>de</strong> umescalar.


91.4.4 Forças que Agem em um Fluido e o Tensor das TensõesPo<strong>de</strong>-se distinguir dois tipos <strong>de</strong> forças que agem sobre uma região fluida arbitrária:1. Forças <strong>de</strong> corpo, que atuam à distância através <strong>de</strong> um campo, tais como forçasgravitacionais ou eletromagnética.2. Forças <strong>de</strong> superfície ou <strong>de</strong> contato, resultantes do contato físico da superfície que<strong>de</strong>limita a região fluida com a matéria ( sólida ou fluida) que o cerca.Forças <strong>de</strong> corpo são representadas através <strong>de</strong> campos vetoriais, pois as direções eintensida<strong>de</strong>s das mesmas são <strong>de</strong>terminadas pelo próprio campo que as gera.Forças <strong>de</strong> contato, por outro lado, possuem componentes normais e tangenciais que<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da orientação da superfície <strong>de</strong> referência. Assim, forças <strong>de</strong> contato são representadasatravés <strong>de</strong> tensores. O tensor <strong>de</strong> tensões representa o estado <strong>de</strong> tensões local,e relaciona a tensão atuante em uma superfície localmente plana, com o vetor unitárionormal à essa superfície.Sendo ⃗ T a força <strong>de</strong> contato por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> área, área que atua através do elemento<strong>de</strong> área dA, no tempo t, e na posição ⃗ X,⃗T (⃗n, ⃗x, t)δA = σ : ⃗n δA, (1.41)representa a força <strong>de</strong> contato total que atua em σ ⃗ A, on<strong>de</strong> ⃗n é o vetor unitário normalà superfície. ⃗ T é <strong>de</strong>nominado tensão local, e se convenciona que ⃗ T é a tensão exercidapelo fluido existente no lado para o qual ⃗n é direcionada, sobre o fluido do lado oposto dasuperfície. Assim, ⃗ T é uma função ímpar <strong>de</strong> ⃗n, ou seja,− ⃗ T (⃗n, ⃗x, t) = ⃗ T (−⃗n, ⃗x, t). (1.42)O estado <strong>de</strong> tensões local é representado pelo tensor <strong>de</strong> tensões σ cujas componentesrepresentam as componentes normais e tangenciais <strong>de</strong> ⃗ T sobre os planos ortogonais<strong>de</strong>fini<strong>dos</strong> pelo sistema <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas ortogonal local:σ = σ ij , (1.43)on<strong>de</strong> σ ij = componente da tensão local na direção i, sobre o plano normal à direção j.Os elementos diagonais <strong>de</strong> σ, σ ij , i = j, representam as tensões normais sobre assuperfícies ortogonais <strong>de</strong>finidas por ⃗e i (unitários do sistema <strong>de</strong> referência ortogonal local),e os elementos σ ij , para i ≠ j, representam as tensões cisalhantes na direção j sobre assuperfícies <strong>de</strong>finidas por ⃗e i .A Figura 1.4 ilustra a representação da tensão <strong>de</strong> contato ⃗ T que atua sobre a superfícieS através das componentes do tensor <strong>de</strong> tensões σ e do unitário normal ⃗n,É sempre possível encontrar-se uma orientação para os eixos ortogonais <strong>de</strong> referênciapara a qual os elementos σ ij para i ≠ j são to<strong>dos</strong> nulos. As direções <strong>dos</strong> eixos x i paraesta orientação são chamadas direções principais , e os elementos σ ij da diagonal (i =j) do tensor <strong>de</strong> tensões são <strong>de</strong>nominadas tensões principais σ ′ 11, σ ′ 22, σ ′ 33 para o espaçotridimensional. A invariância do traço <strong>dos</strong> tensores <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m é uma proprieda<strong>de</strong>bem conhecida, <strong>de</strong> maneira que


10Figura 1.4: Representação da tensão <strong>de</strong> contato através do tensor <strong>de</strong> tensõesσ ′ 11 + σ ′ 22 + σ ′ 33 = σ ii . (1.44)Escolhendo-se um sistema <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas que coinci<strong>de</strong> localmente com as direçõesprincipais, e escrevendo o tensor <strong>de</strong> tensões na forma⎛⎞1/3σ ii 0 0⎝ 0 1/3σ ii 0 ⎠ +0 0 1/3σ ii⎛⎞σ 11 ′ − 1/3σ ii 0 0⎝ 0 σ 22 ′ − 1/3σ ii 0 ⎠0 0 σ 33 ′ − 1/3σ iipo<strong>de</strong>-se separar a tensão local em duas componentes: uma isotrópica, <strong>de</strong>vido ao primeirotensor acima, que representa um esforço <strong>de</strong> compressão uniforme ( o sinal <strong>de</strong> σ ii é normalmentenegativo) sobre um elemento infinitesimal <strong>de</strong> fluido local, e uma anisotrópica, on<strong>de</strong>a soma algébrica das tensões normais é zero, que representa um esforço <strong>de</strong> <strong>de</strong>formaçãosobre o elemento fluido.Como um elemento <strong>de</strong> fluido não po<strong>de</strong> suportar esforços externos que ten<strong>de</strong>m a <strong>de</strong>formá-lo,todas as componentes do segundo tensor mostrado acima <strong>de</strong>vem ser iguais a zeropara que um fluido permaneça em repouso. Isso significa que σ ′ 11 = σ ′ 22 = σ ′ 33 = 1/3σ iipara um fluido em repouso, ou seja, o tensor <strong>de</strong> tensões é isotrópico neste caso e apenasesforços normais agem sobre qualquer superfície escolhida. Flui<strong>dos</strong> em repouso estãonormalmente em estado <strong>de</strong> compressão, <strong>de</strong> maneira que é conveniente se escreveron<strong>de</strong> p é <strong>de</strong>nominada Pressão Hidrostática.σ ij = −pδ ij (para um fluido em repouso), (1.45)


Capítulo 2Cinemática <strong>dos</strong> Escoamentos2.1 Sistemas <strong>de</strong> Referência para a Descrição <strong>dos</strong> EscoamentosOs escoamentos <strong>de</strong> flui<strong>dos</strong> são caracteriza<strong>dos</strong> cinematicamente por um Campo <strong>de</strong> Velocida<strong>de</strong>s.O Campo <strong>de</strong> Velocida<strong>de</strong>s é um campo vetorial que associa a cada ponto doescoamento um vetor velocida<strong>de</strong>. Os campos <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>scritos através<strong>de</strong> dois sistemas <strong>de</strong> referência distintos:1. no Sistema Lagrangeano <strong>de</strong> referência, as variáveis do escoamento são representadascomo funções do tempo, e da especificação <strong>de</strong> elementos materiais do escoamento. Aespecificação <strong>de</strong> elementos materiais do fluido se faz através da <strong>de</strong>scrição da posição⃗x do centro <strong>de</strong> massa do elemento, em um <strong>de</strong>terminado tempo <strong>de</strong> referência t 0 .Assim, ⃗u = ⃗u(⃗x ′ , t), on<strong>de</strong> ⃗x ′ = ⃗x ′ (⃗x, t 0 ), ⃗x = vetor posição.O sistema Lagrangeano <strong>de</strong> referência tem a vantagem <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver a história domovimento <strong>de</strong> partículas individuais do escoamento, mas torna complicada a análisedo mesmo, principalmente por não fornecer diretamente os gradientes espaciais <strong>de</strong>velocida<strong>de</strong>.2. no Sistema Euleriano <strong>de</strong> referência, a velocida<strong>de</strong> é expressa como uma função dovetor posição ⃗x ( que <strong>de</strong>fine pontos no espaço ) e do tempo t, i.e., ⃗u = ⃗u(⃗x, t).Neste sistema, <strong>de</strong>screve-se o escoamento através da distribuição espacial do vetorvelocida<strong>de</strong>. Este sistema <strong>de</strong> referência leva a uma análise mais simples <strong>dos</strong> escoamentos,sendo largamente utilizado na <strong>de</strong>scrição <strong>dos</strong> mesmos.Na análise que se segue, ⃗u(⃗x, t) será a principal variável <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, e as outras gran<strong>de</strong>zastais como a pressão ou a temperatura serão também <strong>de</strong>scritas como funções <strong>de</strong> ⃗x et.Em conexão com os méto<strong>dos</strong> Lagrangeano e Euleriano <strong>de</strong> referência, surgem <strong>de</strong>finiçõespara <strong>de</strong>terminadas linhas que se esten<strong>de</strong>m ao longo <strong>de</strong> escoamentos, e que possuem importantessignifica<strong>dos</strong> físicos.Linhas <strong>de</strong> Corrente (Streamlines)11


12São linhas cujas tangentes são instantaneamente paralelas a ⃗u(⃗x, t). A família <strong>de</strong> linhas<strong>de</strong> corrente <strong>de</strong> um escoamento compreen<strong>de</strong> as soluções <strong>de</strong>dx 1u 1 (⃗x, t) = dx 2u 2 (⃗x, t) = dx 3u 3 (⃗x, t) , (2.1)on<strong>de</strong> u 1 , u 2 , u 3 são as componentes <strong>de</strong> ⃗u nas direções ortogonais x 1 , x 2 , x 3 respectivamente.Um tubo <strong>de</strong> corrente é a superfície formada instantaneamente por todas as linhas <strong>de</strong>correntes que passam por uma curva fechada qualquer C.Trajetórias (Pathlines)São as linhas que representam as trajetórias das partículas <strong>de</strong> um escoamento. Enquantoas linhas <strong>de</strong> corrente po<strong>de</strong>m ser calculadas diretamente a partir da <strong>de</strong>scriçãoEuleriana <strong>de</strong> um escoamento, as trajetórias só po<strong>de</strong>m ser diretamente avaliadas atravésda <strong>de</strong>scrição Lagrangeana do mesmo. É interessante observar que linhas <strong>de</strong> corrente e trajetóriasão linhas distintas, que coinci<strong>de</strong>m, entretanto, quando o escoamento é permanente(não varia com o tempo).Linhas <strong>de</strong> Emissão (Streaklines)São linhas que contém as partículas do fluido que passam por um dado ponto doescoamento. Essas linhas também coinci<strong>de</strong>m com linhas <strong>de</strong> corrente e trajetórias emescoamentos permanentes.2.2 A Derivada MaterialSendo α(⃗x, t) uma função <strong>de</strong>scrita através <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> referência Euleriano (⃗x =vetor posição, invariante em t), a taxa <strong>de</strong> variação <strong>de</strong> α com o tempo t em cada posição ⃗xé chamada Derivada Parcial <strong>de</strong> α com relação a t. Esta taxa <strong>de</strong> variação é representadapor:∂α(⃗x, t). (2.2)∂tSe α(⃗x, t) é uma proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> um escoamento, por exemplo, ∂α/∂t representa a taxacom que α varia ao longo do tempo, quando o escoamento é observado <strong>de</strong> um ponto fixono espaço (⃗x = ⃗x 0 ).Com relação a um segundo sistema <strong>de</strong> referência Euleriano (⃗x), que se move comuma velocida<strong>de</strong> U ⃗ com relação ao primeiro, a taxa <strong>de</strong> variação <strong>de</strong> α na posição ⃗x ′ é,evi<strong>de</strong>ntemente, diferente <strong>de</strong> ∂α(⃗x, t)/∂t. Assim, para se exprimir ∂α(⃗x ′ , t)/∂t no sistema<strong>de</strong> referência (⃗x, t) <strong>de</strong>ve-se tomar o limiteem lugar <strong>de</strong>limδt→0α[⃗x + Uδt ⃗ + 0(δt 2 ), t + δt] − α(⃗x + t), (2.3)δtlimδt→0α(⃗x, t + δt) − α(⃗x, t). (2.4)δt


13O limite (2.3) é chamado <strong>de</strong>rivada total <strong>de</strong> α com relação ao tempo, é representadopor dα(⃗x, t)/dt, e po<strong>de</strong> ser avaliado através da somadα ∂αα(⃗x + Uδt,(⃗x, t) =dt ∂t (⃗x′ , t) = lim⃗ t + δt) − α(⃗x, t + δt)+δt→0 δtα(⃗x, t + δt) − α(⃗x, t)lim+ lim 0(δt), (2.5)δt→0 δtδt→0ou seja (aplicando-se a regra da ca<strong>de</strong>ia para a diferenciação),Como ⃗ U = dx i /dt, entãoou, em notação indicial,dα ∂α dx i(⃗x, t) =dt ∂x i dt + ∂α∂t . (2.6)dαdt (⃗x, t) = ⃗ U∇α + ∂α∂t , (2.7)dαdt = U ∂αi + ∂α∂x i ∂t . (2.8)Novamente, se α(⃗x, t) é uma proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> um escoamento, dα/dt representa a taxacom que α varia ao longo do tempo, quando o escoamento é observado <strong>de</strong> um ponto quese move com velocida<strong>de</strong> ⃗ U. Observe que dα/dt é uma função <strong>de</strong> ⃗ U.Um caso particular da relação (2.8) acontece quando se avalia dα/dt para ⃗ U = ⃗u(⃗x, t),on<strong>de</strong> ⃗u é a velocida<strong>de</strong> local do escoamento. Neste caso dα/dt é representado por Dα/Dt,recebendo o nome Derivada Material <strong>de</strong> α. A expressão para a <strong>de</strong>rivada material <strong>de</strong> α éentãoDα∂α(⃗x, t) = ⃗u∇α +Dt ∂t . (2.9)Observe que (2.9) é a taxa <strong>de</strong> variação <strong>de</strong> α com relação a t, quando o escoamentoé representado através <strong>de</strong> um sistema Lagrangeano <strong>de</strong> referência, pois ⃗u = d⃗x ′ /dt, on<strong>de</strong>⃗x ′ é o vetor <strong>de</strong> posição que acompanha as partículas <strong>de</strong> fluido. Assim, (2.9) <strong>de</strong>screve avariação <strong>de</strong> α com t, vista por um observador que se move com o fluido. A Figura 2.1ilustra o significado das três simbologias utilizadas para representar as diferentes taxas <strong>de</strong>variação <strong>de</strong> α.Em (2.9), ∂α/∂t é a taxa <strong>de</strong> variação local <strong>de</strong> α. Para se <strong>de</strong>terminar a taxa <strong>de</strong> variação<strong>de</strong> α para um elemento material <strong>de</strong> fluido é preciso somar a ∂α/∂t, a taxa <strong>de</strong> variaçãoconvectiva <strong>de</strong> α, ⃗u∇α.Derivadas materiais <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>zas vetoriais tem expressões similares a (2.9). A aceleração⃗a <strong>de</strong> uma partícula <strong>de</strong> fluido, por exemplo, é dada por:ou, em notação indicial,⃗a(⃗x, t) = D⃗u∂⃗u(⃗x, t) = (⃗u .∇)⃗u +Dt ∂t , (2.10)


14Figura 2.1: Ilustração do significado <strong>de</strong> ∂/∂t, d/dt e D/Dta i = Du iDt = u ∂u ij + ∂u i∂x j ∂t . (2.11)Uma outra aplicação do conceito <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivada material surge quando se quer exprimira condição <strong>de</strong> que a gran<strong>de</strong>za α é constante ao longo <strong>de</strong> uma superfície cuja geometria é<strong>de</strong>scrita por uma equação do tipo F (⃗x, t) = 0. Neste caso, DF/Dt = 0, nos pontos on<strong>de</strong>F (⃗x, t) = 0.2.3 Deformação e Rotação Locais <strong>de</strong> um escoamentoOs esforços exerci<strong>dos</strong> entre porções adjacentes <strong>de</strong> um fluido <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da <strong>de</strong>formação localimposta pelo escoamento. Assim, preliminarmente ao estudo da dinâmica <strong>dos</strong> escoamentos,uma análise cinemática do movimento relativo local se faz necessária. Consi<strong>de</strong>rando⃗u(⃗x) um campo <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>screve um escoamento, a velocida<strong>de</strong> nas vizinhançasdo ponto ⃗x, (⃗x + δ⃗x), é ⃗u + δ⃗u, on<strong>de</strong>δu i = δx j∂u i∂x j+ 0(δx 2 ). (2.12)O tensor ∂u i /∂x j po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>composto em duas componentes, uma simétrica e umaanti-simétrica, i.e,on<strong>de</strong>e ij = 1 2( ∂ui+ ∂u )j∂x j ∂x i∂u i∂x j= e ij + ξ ij , (2.13), ξ ij = 1 2( ∂ui∂x j− ∂u j∂x i), (2.14)


15que possuem significa<strong>dos</strong> físicos importantes.O significado físico <strong>de</strong> e ij torna-se evi<strong>de</strong>nte ao se analisar a <strong>de</strong>formação local <strong>de</strong> umelemento <strong>de</strong> um fluido:Sendo δl a distância entre dois pontos materiais do fluido,Assim,ou ainda,D(δl) 2DtD(δl) 2Dt(δl) 2 = δx i δx i . (2.15)= 2δx iD(δx i )Dt= 2δx i δu i , (2.16)( )∂u i∂u i= 2δx i δx j = δx i δx j + ∂u j, (2.17)∂x j ∂x j ∂x ipois a soma parcial <strong>dos</strong> termos <strong>de</strong> δx i δx j ∂u i /∂x j que envolvem a componente antisimétricaξ ij é nula.Portanto, a <strong>de</strong>formação <strong>de</strong> um elemento fluido <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> apenas <strong>de</strong> e ij , uma vez quea variação da distância entre dois pontos quaisquer do elemento é in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> ξ ij ,sendo função apenas <strong>de</strong> e ij .A natureza da contribuição <strong>de</strong> δx j e ij para δu i torna-se ainda mais clara ao se representaro tensor e ij no sistema <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas que coinci<strong>de</strong> com os eixos principais <strong>de</strong> e ij .As componentes e ∗ ij <strong>de</strong>sta nova representação são:e ∗ ij = ∂(δx k)∂(δx ∗ i ) ∂(δx i )∂(δx ∗ j )e kl, (2.18)que são nulas para i ≠ j (tensores simétricos têm sempre três direções principais distintas),e satisfazem a relação invariantee ii = e ∗ ii = ∂u i∂x i. (2.19)Então, sendo a 1 , a 2 e a 3 as componentes da diagonal <strong>de</strong> e ∗ ij, a contribuição <strong>de</strong> δx je ij para a velocida<strong>de</strong> relativa tem três componentes (a 1 δx ∗ 1, a 2 δx ∗ 2, a 3 δx ∗ 3) com relação aoseixos principais <strong>de</strong> e ij . Assim, a distância entre dois pontos quaisquer ao longo da direção<strong>de</strong> δx ∗ 1 varia à taxa a 1 , e estes pontos permanecem sobre esta direção. Similarmente, adistância entre pontos ao longo <strong>de</strong> δx ∗ 2 varia à taxa a 2 , e ao longo <strong>de</strong> δx ∗ 3, à taxa a 3 . Linhasmateriais não paralelas aos eixos principais são “esticadas” e mudam <strong>de</strong> direção, mascompativelmente com o “esticamento puro” para as linhas paralelas aos eixos principais.Portanto, δx j e ij representa a contribuição à velocida<strong>de</strong> relativa δu i em virtu<strong>de</strong> da<strong>de</strong>formação local do fluido.O tensor e ij é, portanto, <strong>de</strong>nominado tensor taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação, e a relação funcionalentre ele e o tensor das tensões (Seção 1.5) é <strong>de</strong> fundamental importância no estabelecimentodas equações que governam os escoamentos <strong>de</strong> flui<strong>dos</strong>.É interessante observar que o campo <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>s relativas


16δu (s)i= δx j∂u i∂x j, (2.20)transforma um elemento <strong>de</strong> fluido, inicialmente esférico, em um elipsói<strong>de</strong> cujos diâmetrosprincipais estão orienta<strong>dos</strong> segundo as direções principais <strong>de</strong> e ij e que mantém essas orientações,cujas taxas <strong>de</strong> variação são a 1 , a 2 e a 3 , respectivamente.Como ∂u i /∂x i = 0 para um fluido incompressível (como veremos mais adiante) oelipsói<strong>de</strong> tem volume constante e e ij =0. Assim, para um fluido compressível, a <strong>de</strong>formaçãopura po<strong>de</strong> ser vista como a superposição <strong>de</strong> uma expansão isotrópica na qual a taxa <strong>de</strong><strong>de</strong>formação <strong>de</strong> qualquer linha material é 1/3 e ii , e um cisalhamento puro (sem variação<strong>de</strong> volume) on<strong>de</strong> a <strong>de</strong>formação é <strong>de</strong>scrita por (e kl − 1/3e ii δ kl ).Quanto ao significado físico <strong>de</strong> ξij, po<strong>de</strong>-se fazer a seguinte análise. Por ser um tensoranti-simétrico, ξ ij po<strong>de</strong> ser representado na formaon<strong>de</strong>ξ ij = − 1 2 ɛ ijk h k , (2.21)( ∂ujh k = ɛ ijk − ∂u )i. (2.22)∂x i ∂x jA contribuição <strong>de</strong> ξ ij para a velocida<strong>de</strong> relativa δu i , δx j ξ ij , po<strong>de</strong> ser representada naformaδu a i = δx j ξ ij = − 1 2 ɛ ijkδx j h k . (2.23)Mas, −1/2ɛ ijk δx j h k é a i-ésima componente do vetor 1/2 ⃗ h × δ⃗x. Assim, δ⃗u a é avelocida<strong>de</strong> relativa (a ⃗x) na posição δ⃗x <strong>de</strong>vida a uma rotação <strong>de</strong> corpo rígido em tornodo ponto ⃗x, com velocida<strong>de</strong> angular 1/2 ⃗ h.De (2.22) tem-se a forma explícita para as componentes <strong>de</strong> ⃗ h,h 1 = ∂u 3∂x 2− ∂u 2∂x 3, h 2 = ∂u 1∂x 3− ∂u 3∂x 1, h 3 = ∂u 2∂x 1− ∂u 1∂x 2. (2.24)Examinando-se (2.24) conclui-se que⃗ h = ∇ × ⃗u. (2.25)O vetor ⃗ h é o rotacional do campo <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>s. Ele é <strong>de</strong>nominado vorticida<strong>de</strong>, e seumódulo equivale ao dobro da velocida<strong>de</strong> angular local do escoamento.Portanto, o campo <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>s nas vizinhanças do ponto ⃗x po<strong>de</strong> ser visto como asuperposição <strong>de</strong> três efeitos (com erros da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> δ⃗x 2 ):• uma translação uniforme com velocida<strong>de</strong> ⃗u(x);• uma <strong>de</strong>formação simples, caracterizada pelo tensor taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação, e ij , quepo<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>composta em uma dilatação isotrópica e uma <strong>de</strong>formação pura;


17• uma rotação <strong>de</strong> corpo rígido com velocida<strong>de</strong> angular 1/2h.Assim, o vetor velocida<strong>de</strong> na posição ⃗x + ⃗r po<strong>de</strong> ser representado aproximadamente(erros <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m 0(δx 2 )) por:u i (⃗x + ⃗r) = u i (⃗x) + ∂Ψ∂r i+ 1/2ɛ ijk h j r k , (2.26)on<strong>de</strong> Ψ = 1/2r j r k e jk , e e ij e h j são avalia<strong>dos</strong> em ⃗x.É interessante observar que r j e ij po<strong>de</strong> ser escrito como ∂Ψ/∂r i por ser e ij um tensorsimétrico. Em forma vetorial (2.26) fica⃗u(⃗x + ⃗r) = ⃗u(⃗x) + ∇ r Ψ(⃗x) + 1/2 ⃗ h(⃗x) × ⃗r. (2.27)on<strong>de</strong> ⃗ h = ∇ r × ⃗u, e ∇ r envolve <strong>de</strong>rivadas em ⃗r. Desta maneira, o campo <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>srelativas em torno <strong>de</strong> ⃗x po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>composto em uma soma <strong>de</strong> dois campos: um irrotacional(rotacional nulo), ∇ r Ψ, pois ∇ r × (∇ r Ψ) = 0, e um solenoidal (divergência nula),1/2 ⃗ h(⃗x) × ⃗r, pois ∇ r ( ⃗ h(⃗x) × ⃗r) = (∇ r × ⃗ h(⃗x))⃗r = 0.Na verda<strong>de</strong>, a <strong>de</strong>composição <strong>de</strong> um campo vetorial contínuo, cuja magnitu<strong>de</strong> <strong>dos</strong>vetores e <strong>de</strong> suas primeiras <strong>de</strong>rivadas ten<strong>de</strong>m a zero no infinito, na soma <strong>de</strong> um campoirrotacional e um campo solenoidal, é um teorema fundamental da física matemática,apresentado por Stokes em 1849. De acordo com esse teorema, um campo <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>s⃗nu satisfazendo as condições acima po<strong>de</strong> ser escrito comoon<strong>de</strong>⃗u(⃗x) = ⃗u (i) (⃗x) + ⃗u (s) (⃗x), (2.28)∇ × ⃗u (i) = 0 , ∇.⃗u (s) = 0. (2.29)Campos ⃗u (i) e ⃗u (s) satisfazendo a (2.30) po<strong>de</strong>m ser representa<strong>dos</strong> como:⃗u (i) = ∇φ , ⃗u (s) = ∇ × ⃗ A, (2.30)on<strong>de</strong> φ é um campo escalar, <strong>de</strong>nominado Potencial <strong>de</strong> Velocida<strong>de</strong>, e ⃗ A é um campo vetorial(solenoidal) <strong>de</strong>nominado, geralmente, “Potencial Vetorial”. Como ⃗u = ⃗u (i) + ⃗u (s) ,entãoe∇⃗u = ∇ 2 φ ≡ ∆ (taxa <strong>de</strong> expansão local) (2.31)∇ × ⃗u = ∇ × (∇ × ⃗ A) = −∇ 2 ⃗ A = ⃗ h (2.32)Desta forma, as distribuições da taxa <strong>de</strong> expansão local, ∇ L e da vorticida<strong>de</strong> ⃗ h, contémbastante informação a respeito <strong>de</strong> ⃗u.A <strong>de</strong>composição (2.28) po<strong>de</strong> ser extendida a campos <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> quaisquer, quando⃗u é <strong>de</strong>composto na forma⃗u(⃗x) = ⃗u (i) (⃗x) + ⃗u (s) (⃗x) + ⃗v(⃗x), (2.33)


18on<strong>de</strong> ⃗v(⃗x) satisfaz as condições não-homogêneas no infinito. Po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>monstrado que⃗v(x) é irrotacional e solenoidal, i.e.,∇.⃗v = 0, , ∇ × ⃗v = 0 (2.34)(ver Batchelor, Seção 2.4). Assim, as distribuições <strong>de</strong> ∆ e h, e as condições <strong>de</strong> contornopara ⃗u estão relacionadas biunivocamente ao campo ⃗u, sendo então suficientes para seespecificar um escoamento.


Capítulo 3Os Princípios <strong>de</strong> Conservação e asEquações do Movimento3.1 IntroduçãoAs equações do movimento para os meios contínuos são <strong>de</strong>duzidas a partir <strong>dos</strong> princípios<strong>de</strong> conservação aplica<strong>dos</strong> a “volumes materiais”, i.e., volumes <strong>de</strong> controle <strong>de</strong>fini<strong>dos</strong> em sistemasLagrangeanos <strong>de</strong> referência. Tais volumes envolvem “porções”<strong>de</strong>finidas <strong>de</strong> matéria,comportando-se como corpos <strong>de</strong>formáveis.Os princípios <strong>de</strong> conservação, quando aplica<strong>dos</strong> aos volumes materiais, geram equaçõeson<strong>de</strong> aparecem <strong>de</strong>rivadas Lagrangeanas <strong>de</strong> quantida<strong>de</strong>s integrais. Contudo, as equaçõesdo movimento para meios contínuos são preferencialmente <strong>de</strong>scritas através <strong>de</strong> sistemasEulerianos <strong>de</strong> referência, principalmente pela simplicida<strong>de</strong> e maior aplicabilida<strong>de</strong> a problemas<strong>de</strong> engenharia.Assim, aplica-se os princípios <strong>de</strong> conservação a um volume matéria V (t) (um ”corpo”)para se obter as equações do movimento em <strong>de</strong>rivadas Lagrangeanas, e então se utilizao “Teorema <strong>de</strong> Transporte <strong>de</strong> Reynolds” para se reescrevê-las sob a forma <strong>de</strong> equaçõesintegrais cujos integran<strong>dos</strong> envolvem apenas <strong>de</strong>rivadas Eulerianas.3.2 O Teorema do Transporte <strong>de</strong> ReynoldsConsi<strong>de</strong>rando-se α uma proprieda<strong>de</strong> extensiva específica (por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> volume) docontínuo, especificada através <strong>de</strong> um sistema Lagrangeano <strong>de</strong> referência, <strong>de</strong>fine-se a taxa<strong>de</strong> variação da integral <strong>de</strong> α sobre o volume material V (t), <strong>de</strong>finido pela superfície S(t)(um “corpo <strong>de</strong>formável que se move”), através do limite:ddt∫V (t)1α(t)dv = limδt→0 δt∫V (t+δt)∫α(t + δt)dv −V (t)α(t)dv (3.1)É interessante observar que como V (t) é um volume material, então a superfície S(t +δt) é formada pelos mesmos “pontos materiais” que formam a superície S(t). Assim,sendo S(t) <strong>de</strong>finida pelos “pontos” cujos vetores posição são ⃗x (s) (t), então S(t + δt),quando δt −→ 0, é <strong>de</strong>finida pelos vetores posição19


20⃗x S (t + δt) = ⃗x S (t) + δt d⃗x S(t)+ 0(δt) 2 , (3.2)dt(aproximação linear), on<strong>de</strong>i.e.,d⃗x Sdt= ∂⃗x S∂t + (⃗u.∇)⃗x S, (3.3)⃗x S (t + δt) = ⃗x S (t) + δt D⃗x sDt + 0(δt)2 . (3.4)Por esse motivo se i<strong>de</strong>ntifica a <strong>de</strong>rivada total da equação (3.1) através da simbologiaD/Dt (<strong>de</strong>rivada material) em lugar <strong>de</strong> d/dt. A expressão (3.1) po<strong>de</strong> ser reescrita naforma:∫∫D1α(t)dv = limα(t + δt) dv+Dt V (t)δt→0 δt V (t+δt)−V (t)∫limV (t)δt→0(através <strong>de</strong> puro algebrismo), ou seja,∫∫D1α(t) dv = limDtδt→0 δtV (t)α(t + δt) − α(t)dv, (3.5)δtV (t+δt)−V (t)∫α(t + δt) dv +V (t)∂α∂tdv (3.6)O limite em (3.6) po<strong>de</strong> ser avaliado através <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rações geométricas: a Figura 3.1mostra o volume <strong>de</strong> controle V (t) nos instantes t e t + δt. A integral <strong>de</strong> volume avaliadaem V (t + δt) − V (t) (representado pela área hachurada) po<strong>de</strong> ser calculada através <strong>de</strong>uma integral <strong>de</strong> superfície em S(t), poiseAssim,Comoentão∫V (t+δt)−V (t)dV (t)V (t + δt) − V (t) = δt + 0(δt 2 ), (3.7)dtdV (t)dt∫=S(t)∫V (t + δt) − V (t) =(⃗u.⃗n) ds, (3.8)S(t)∫dv = V (t + δt) − V (t) =(⃗u.⃗n)δt ds. (3.9)S(t)(⃗u.⃗n)δt ds, (3.10)


21e∫V (t+δt)−V (t)dVdS= (⃗u(t).⃗n(t))δt; (3.11)∫α(t + δt) dv =s(t)Substituindo (3.12) em (3.6), tem-se:∫∫1limα(t + δt) dv =δt→0 δtV (t+δt)−V (t)α(t + δt)[⃗u.⃗n]δt ds. (3.12)S(t)α(t)⃗u.⃗n ds, (3.13)e (3.6) po<strong>de</strong> ser avaliada através <strong>de</strong> uma soma <strong>de</strong> duas integrais avaliadas sobre regiõesfixas (o domínio V e seu contorno S no instante t), i.e.,∫ ∫∫D∂αα dv = α⃗u.⃗n ds + dv. (3.14)Dt∂tV (t)SO Teorema da Divergência <strong>de</strong> Gauss po<strong>de</strong> ser aplicado à integral <strong>de</strong> superfície <strong>de</strong> (3.14),convertendo-a em uma integral <strong>de</strong> volume. Assim, (3.14) po<strong>de</strong> ser escrita na forma:∫ ∫DαdV = [ ∂α + ∇.(α⃗u)] dv, (3.15)Dt∂tV (t)VVFigura 3.1: Representação do volume V nos instantes t e t + δt.ou, em rotação tensorial,∫DDtV (t)∫α dv =V[ ∂α∂t + ∂∂x i(αu i )]dv. (3.16)As expressões (3.14), (3.15) e (3.16) são formas alternativas do Teorema <strong>de</strong> Transporte<strong>de</strong> Reynolds.


223.3 Princípio da Conservação da MassaConsi<strong>de</strong>rando a massa como uma proprieda<strong>de</strong> conservada pela matéria (não é criada nem<strong>de</strong>struída), i.e., uma proprieda<strong>de</strong> conservada por um volume material V (t) (<strong>de</strong>finido porS(t)), a expressão matemática para essa conservação po<strong>de</strong> ser estabelecida através damassa específica ρ, através da seguinte expressão:DDt∫V (t)ρ dv = 0. (3.17)Esta expressão po<strong>de</strong> ser convertida através do Teorema <strong>de</strong> Transporte <strong>de</strong> Reynolds auma expressão envolvendo somente integrais e <strong>de</strong>rivadas Eulerianas:∫∂ρV ∂t∫Sdv + ρ⃗u.⃗n ds = 0. (3.18)A expressão acima indica que o fluxo <strong>de</strong> massa através da superfície S, agora <strong>de</strong>finidaespacialmente (invariante com o tempo), é igual à taxa <strong>de</strong> variação da massa existente<strong>de</strong>ntro do volume V , agora também <strong>de</strong>finido espacialmente (invariante com o tempo).A expressão (3.18) po<strong>de</strong> ser escrita como uma única integral <strong>de</strong> volume, ao se aplicaro Teorema da Divergência. Assim,∫V[ ∂ρ∂t + ∂∂x i(ρu i )]dV = 0 (3.19)Como o volume V em (3.19) é arbitrário, então a equação diferencial que exprime aconservação da massa é dada por:ou seja,ou ainda,∂ρ∂t + ∂ (ρu i ) = 0, (3.20)∂x i∂ρ∂t+ ∇.(ρ⃗u) = 0, (3.21)Dρ+ ρ div⃗u = 0. (3.22)DtAs equações diferenciais (3.20), (3.21) e (3.21) expressam o princípio da conservaçãoda massa, sendo formas alternativas da Equação da Continuida<strong>de</strong>.3.4 O Princípio da Conservação da Quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Movimento LinearMovimento LinearA quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimento linear (ou momento linear) <strong>de</strong> um volume material V (t)(<strong>de</strong>finido por S(t)), po<strong>de</strong> ser avaliada pela integral:


23∫V (t)ρ⃗u dv (= mov. linear corpo, V(t)). (3.23)Sendo P ⃗ a resultante das forças <strong>de</strong> superfície por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> área, e f ⃗ a resultante dasforças <strong>de</strong> corpo por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> massa que atuam sobre o “corpo” V (t), po<strong>de</strong>-se escrevera segunda Lei <strong>de</strong> Newton para o volume material V (t) na seguinte forma:dDt∫V (t)∫ρ⃗u dv =S(t)∫⃗p ds +V (t)ρ ⃗ f dv. (3.24)Aplicando-se o Teorema do Transporte <strong>de</strong> Reynolds a (3.24) (3 equações escalares),esta equação vetorial po<strong>de</strong> ser escrita na forma:∫∫ ∫∂V ∂t∫S(ρ⃗u) dv + (ρ⃗u)(⃗u⃗n) ds = ⃗P ds +SVρf ⃗ dv, (3.25)ou, em notação indicial,∫∫∫ ∫∂∂t (ρu j) dv + (ρu j )u k n k ds = P j ds + ρf j dv. (3.26)VSRepresentando-se a força <strong>de</strong> superfície por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> área, ⃗ P , que atua no elemento<strong>de</strong> área ds, em função das nove componentes do Tensor <strong>de</strong> Tensões, σ ij , po<strong>de</strong>-se escrever(3.26) na forma:∫VS∫∫∫∂∂t (ρu j) dv + (ρu j )u k n k ds = σ ij n i ds + ρf j dv. (3.27)SSVAplicando-se o Teorema da Divergência à expressão acima, tem-se:∫[ ∂ ∂t (ρu j) + ∂∫∫∂σ ij(ρu j u k )] dv = dv + ρf j dV. (3.28)∂x k ∂x iComo V é arbitrário, então:VVVVou seja,∂∂t (ρu j) +∂ (ρu j u k ) = ∂σ ij+ ρf j , (3.29)∂x k ∂x iρ ∂u j∂t + u ∂ρj∂t + u jObservando-se que, através da equação da continuida<strong>de</strong>,∂∂u j(ρu k ) + ρu k = ∂σ ij+ ρf j . (3.30)∂x k ∂x k ∂x i∂ρu j∂t + u ∂j (ρu k ) = 0. (3.31)∂x kEntão a equação diferencial para a conservação da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimento linear édada por:ρ ∂u j∂t + ρu ∂u jk = ∂σ ij+ ρf j , (3.32)∂x k ∂x i


24ou seja,ou ainda,ρ ∂⃗u∂t + ρ(⃗u∇)⃗u = div σ + ρ ⃗ f, (3.33)ρ D⃗uDt = div σ + ρ ⃗ f. (3.34)3.5 O Princípio da Conservação da Quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Movimento AngularA quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimento angular <strong>de</strong> um volume material V (t), <strong>de</strong>finida pela superfíciefechada S(t), com relação a um ponto genérico do espaço, ⃗x 0 , po<strong>de</strong> ser avaliada atravésda integral ∫ ⃗r × (ρ⃗u) dV (= momento angular do “corpo” V (t) em relacao ao pontoV (t)⃗x 0 ), on<strong>de</strong>⃗r = ⃗x − ⃗x 0 . (3.35)Sendo P ⃗ a resultante das forças <strong>de</strong> superfície por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> área, e f a resultante dasforças <strong>de</strong> corpo por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> massa, po<strong>de</strong>-se representar o princípio da conservação domomento angular para o volume material V (t) na seguinte forma:DDt∫V (t)∫⃗r × (ρ⃗u) dv =S(t)∫⃗r × P ⃗ ds +V (t)⃗r × ρ ⃗ f dr. (3.36)Aplicando-se o Teorema do Transporte <strong>de</strong> Reynolds a (3.36) (3 equações escalares),tem-se:∫V∫∫∂∂t∫S[⃗r × (ρ⃗u)]dv + [⃗r × (ρ⃗u)]⃗u.⃗n ds = ⃗r × P ⃗ ds + ⃗r × ρf ⃗ dv, (3.37)SVque em notação indicial, tem a forma:∫V∫∫∫∂∂t (ρɛ ijkr i u j ) dv + (ρɛ ijk r i u j )u l n l ds = ɛ ijk r i P j ds + ρɛ ijk r i f j dv. (3.38)SSVAplicando-se o Teorema da Divergência a (3.38), e representando as forças <strong>de</strong> superfíciepor unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> área através do Tensor das Tensões (ver 1.43), tem-se:∫V[ ∂ ∂t (ρe ijkr i u j ) + ∂∫∂(ρe ijk r i u j u l )]dv = [e ijk (r i σ ej + ρe ijk r i f i ]dv. (3.39)∂x l V ∂x lComo o volume v é arbitrário, e comoe ijk∂∂(ρr i u j u l ) = e ijk r i (ρu j u l ) + e ijk ρu j u i , (3.40)∂x l ∂x l


25(observe que ∂r i /∂x l = 0 para i ≠ l e = 1 para i = l), entãopoise ijk∂∂(ρr i u j u l ) = e ijk r i (ρu j u l ), (3.41)∂x l ∂x lEntão (3.39) po<strong>de</strong> ser reduzida a:e ijk ρu j u i = ρe ijk u j u i = ρ(⃗u × ⃗u) = 0. (3.42)∂e ijk r i∂t (ρu ∂∂σ ljj) + e ijk r i (ρu j u l ) = e ijk r i + e ijk σ ij + e ijk r i ρf i . (3.43)∂x l ∂x lTomando-se agora o ponto arbitrário <strong>de</strong> referência para os torques <strong>de</strong>ntro do volumeV , isto é, ⃗x 0 ∈ V , e analisando (3.43) quando V → 0(⃗r → 0), conclui-se que e ijk σ ij = 0,ou seja, σ é simétrico. i.e., σ ij = σ ij .3.6 O Princípio da Conservação da EnergiaO princípio da conservação da energia po<strong>de</strong> ser expresso matematicamente através daprimeira Lei da Termodinâmica. A primeira Lei da Termodinâmica estabelece que avariação da energia ”total”<strong>de</strong> um sistema durante um processo é igual à soma do trabalhototal realizado sobre o mesmo e o calor total a ele transferido.Consi<strong>de</strong>rando o volume material V (t) <strong>de</strong> um fluido um sistema termodinâmico quese transforma assumindo esta<strong>dos</strong> termodinâmicos “não muito distantes <strong>dos</strong> esta<strong>dos</strong> <strong>de</strong>equilíbrio”, e cuja “energia total”é a soma <strong>de</strong> suas energias cinética ( ∫ 1/2ρ⃗u.⃗u dv)V (t)e interna ( ∫ ρe dv), o princípio da conservação da energia po<strong>de</strong> ser então “aproximado”(supõe-seprocessos quase-estáticos) pelaV (t)relação:∫∫∫∫D(ρe + 1/2ρ⃗u.⃗u) dv = ⃗u. PDt⃗ ds + ⃗u.ρf ⃗ dv − ⃗q.⃗n ds. (3.44)V (t)S(t)V (t)S(t)on<strong>de</strong> ⃗q é o fluxo <strong>de</strong> calor por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> área da superfície, e e a energia interna específica(proprieda<strong>de</strong> termodinâmica para sistemas em equilíbrio), ∫ S(t) ⃗u. ⃗ P ds, é o trabalho realizadopelas forças <strong>de</strong> superfície e ∫ V (t) ⃗u.ρ ⃗ f dv é o trabalho realizado pelas forças <strong>de</strong> corpo,ambas por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tempo.Torna-se interessante observar que a energia interna (por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> massa) e é umagran<strong>de</strong>za <strong>de</strong>finida na Termodinâmica Clássica, e se aplica, em princípio, somente a sistemasem equil´brio termodinâmico. No entanto, os processos termodinâmicos pelos quaispassam elementos materiais <strong>de</strong> fluido em escoamentos genéricos não são processos quasiestáticos,envolvendo esta<strong>dos</strong> <strong>de</strong> inequilíbrio. Assim, a própria <strong>de</strong>finição das gran<strong>de</strong>zastermodinâmicas que se aplicam aos escoamentos <strong>de</strong> flui<strong>dos</strong> <strong>de</strong>ve ser analisada cuida<strong>dos</strong>amente.A massa específica ρ po<strong>de</strong> ser claramente <strong>de</strong>finida, mesmo para sistemas em estado <strong>de</strong>inequilíbrio termodinâmico, uma vez que a massa e o volume <strong>de</strong> um sistema são gran<strong>de</strong>zasmensuráveis mesmo nestes casos.


26A energia interna, <strong>de</strong>finida através da primeira lei da termodinâmica para processosquasi-estáticos, é um conceito que po<strong>de</strong> ser extendido a esta<strong>dos</strong> <strong>de</strong> inequilíbrio termodinâmico,ao se <strong>de</strong>finir e, nestes casos, como sendo a energia interna do ”sistema”(elementomaterial <strong>de</strong> fluido) após o mesmo ser ”isolado”do fluido que o cerca, e atingir o equilíbriotermodinâmico sem realizar trabalho ou transferir calor através <strong>de</strong> sua superfície.Assim, pelo menos duas propieda<strong>de</strong>s termodinâmicas, ρ e e, po<strong>de</strong>m ser associadas aprocessos irreversíveis, e (3.44) é uma relação satisfeita pelos escoamentos <strong>de</strong> flui<strong>dos</strong>. Aextensão da <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> outras proprieda<strong>de</strong>s termodinâmicas, tais como a temperatura,para esta<strong>dos</strong> <strong>de</strong> inequilíbrio serão discutidas posteriormente.Aplicando-se o Teorema do Transporte <strong>de</strong> Reynolds a (3.44) tem-se:∫∫∫ ∫∫∂V ∂t (ρe+1/2ρu j.u j ) dv + (ρe+1/2u j u j )u l n l ds = u j P j ds+ u j ρf j ds− q j n j dv.SSVS(3.45)Através do Teorema da Divergência, (3.45) toma a forma (on<strong>de</strong> P j é representadoatravés <strong>de</strong> σ ij ):∫V∂∂t (ρe + 1/2ρu ju j ) +∂∫[(ρe + 1/2ρu j u j )u k ]d v = [ ∂ (u j σ ij ) + u j ρf j − ρf j]d v.∂x k V ∂x i ρx j(3.46)Como o volume V é arbitrário, então,∂∂t (ρe + 1/2ρu ju j ) +∂∂x k[(ρe + 1/2ρu j u j )u k ] =∂∂x i(u j σ ij ) + u j ρf j − ∂q j∂x j. (3.47)Consi<strong>de</strong>rando a equação da continuida<strong>de</strong>, o membro esquerdo <strong>de</strong> (3.47) po<strong>de</strong> ser escritocomo:∂∂t (ρe+1/2ρu ju j )+ ∂ [(ρe+1/2ρu j u j )u k ] = ρ ∂e∂x k ∂t +ρu ∂e ∂u jk +ρu j∂x k ∂t +ρu ∂u jju k . (3.48)∂x kAssim (3.47) po<strong>de</strong> ser representado na formaρ ∂e∂t + ρu ∂e ∂u jk + ρu j∂x k ∂t ρu ∂u j ∂σ ijju k = u j∂x k ∂x i+ σ ij∂u j∂x i+ u j ρf j − ∂q j∂x j. (3.49)Consi<strong>de</strong>rando ainda a equação da conservação da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimento linear, aexpressão acima se reduz a:ou seja,ρ ∂e∂t + ρu ∂e ∂u jk = σ ij − ∂q j, (3.50)∂x k ∂x i ∂x jρ ∂e∂t + ρ⃗u.∇e = σ.(∇ ⊗ ⃗ U) − ∇.⃗q, (3.51)


27ou ainda,ρ De = σ(∇ ⊗ ⃗u) − div⃗q (3.52)DtAs expressões (3.50), (3.51) e (3.52) são formas alternativas da equação diferencial queexprime o princípio da conservação da energia.3.7 Equações e Variáveis Obtidas Através <strong>dos</strong>Princípios <strong>de</strong> ConservaçãoAs equações obtidas através da aplicação <strong>dos</strong> princípios <strong>de</strong> conservação da massa, quantida<strong>de</strong><strong>de</strong> movimento (linear e angular) e energia perfazem um sistema <strong>de</strong> oito (8) equaçõesescalares: 1 para a conservação da massa, 3 para a conservação da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimentolinear (1 para cada componente), 3 para a conservação da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimentoangular (1 para cada componente) e 1 para a conservação da energia. Entretanto, essasequações apresentam 17 variáveis: φ, e, σ, ⃗q e ⃗u.Para se obter um sistema completo, <strong>de</strong>vem ser estabelecidas mais n equações queintroduzam m variáveis adicionais, <strong>de</strong> maneira que n − m = 9. Tais equações adicionaissão obtidas através das Equações Constitutivas, que estabelecem relações <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendênciaentre o tensor <strong>de</strong> tensões σ e o fluxo <strong>de</strong> calor ⃗q, e as outras variáveis do sistema.O tensor <strong>de</strong> tensões σ é escrito como uma função do campo <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>s (atravésdo tensor taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação), introduzido mais seis equações ao sistema. A pressãohidrostática p é introduzida como uma função do traço <strong>de</strong> σ (ver 1.45), introduzindo maisuma equação e uma variável. O fluxo <strong>de</strong> calor ⃗q é relacionado ao campo <strong>de</strong> temperaturasT , introduzindo mais três equações e uma variável ao sistema. Uma Equação <strong>de</strong> Estadoenvolvendo ρ, p e T é utilizada (mais uma equação), completando o sistema <strong>de</strong> 19 equaçõese 19 variáveis (e, ρ, p, T , ⃗u, ⃗q e σ).As Relações Constitutivas envolvendo σ e ⃗q envolvem parâmetros que são proprieda<strong>de</strong>sdo fluido (a viscosida<strong>de</strong> µ, e a condutivida<strong>de</strong> térmica k). Para a solução do sistema <strong>de</strong>equações <strong>de</strong>scritos acima, µ e k <strong>de</strong>vem ser funções conhecidas das variáveis do sistema.3.8 As Equações Constitutivas3.8.1 As relações para o tensor das tensõesA expressão (1.45) mostra que, em um fluido em repouso, não atuam esforços cisalhantes,e que a tensão normal é in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da direção da superfície sobre a qual ela atua. Poresse motivo, po<strong>de</strong>-se representar o campo <strong>de</strong> tensões para um fluido em repouso através <strong>de</strong>um campo escalar <strong>de</strong>nominado pressão fluido-estática (ou hidrostática) como em (1.45).Para um fluido movimento, entretanto, não se po<strong>de</strong> pressupor a isotropia do tensor <strong>de</strong>tensões. A própria noção <strong>de</strong> uma pressão atuando isotropicamente sobre um elemento <strong>de</strong>fluido é perdida neste caso. Entretanto, po<strong>de</strong>-se caracterizar o esforço <strong>de</strong> ”compressão”ou”expansão”sobre um elemento <strong>de</strong> fluido através do escalar 1/3σ ii (ver Capítulo 1). σ ii é otraço do tensor das tensões (invariante sob a rotação <strong>dos</strong> eixos <strong>de</strong> referência), e a constante


281/3 é utilizada pois 1/3σ ii representa a média das componentes normais da tensão local,i.e.,∫14π σ ij n i n j dΩ(⃗n) = 1 3 σ ijδ ij = 1 3 σ ii, (3.53)on<strong>de</strong> δΩ(⃗n) é um elemento <strong>de</strong> ângulo sólido cuja direção é <strong>de</strong>terminada por ⃗n.Assim, o escalar 1/3σ ii , que se reduz à pressão estática (hidrostática) <strong>de</strong>finida em(1.45), tem um significado físico apropriado à generalização do conceito <strong>de</strong> pressão estáticaa flui<strong>dos</strong> em movimento, on<strong>de</strong>p = − 1 3 σ ii. (3.54)É interessante observar que p, <strong>de</strong>finido em (3.54), é uma gran<strong>de</strong>za mecânica, que nãotem, necessariamente, conexão direta com a pressão termodinâmica <strong>de</strong>finida na TermodinâmicaClássica para sistemas em equilíbrio termodinâmico. Elementos <strong>de</strong> fluido emmovimento relativo não estão em equilíbrio termodinâmico. Assume-se, entretanto, aequivalência entre p e a pressão termodinâmica como uma aproximação satisfatória paraum fluido em movimento por razões que serão discutidas em 3.8.3.Desta forma, o tensor das tensões po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>composto na soma <strong>de</strong> uma componenteisotrópica e uma não-isotrópricaσ ij = −pδ ij + d ij , (3.55)on<strong>de</strong> d ij é <strong>de</strong>nominado Tensor das Tensões Desviatórias, que existe unicamente em <strong>de</strong>corrênciado movimento do fluido.O tensor das tensões <strong>de</strong>sviatórias po<strong>de</strong> ser relacionado ao tensor taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação,uma vez que este último tensor é o parâmetro do escoamento <strong>de</strong> maior relevância paraas tensões <strong>de</strong>sviatórias, uma vez que, localmente, as tensões po<strong>de</strong>m ser tomadas comofunções únicas <strong>dos</strong> gradientes <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>s em um meio contínuo (ver Seção 1.3).A relação entre d ij e ∂u i /∂x j <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> das características <strong>de</strong> cada fluido. Para umagran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> flui<strong>dos</strong> po<strong>de</strong>-se admitir que d ij é uma função linear das várias componentesdo gradiente <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>s. Isso po<strong>de</strong> ser expresso na seguinte forma:d ij = A ijkl∂u k∂x l, (3.56)on<strong>de</strong> o tensor <strong>de</strong> quarta or<strong>de</strong>m A ijkl <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do estado local do fluido, mas é in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nteda distribuição local <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>s, e é, necessariamente, simétrico em i e j pois d ij ésimétrico.Decompondo-se ∂u k /∂x l em suas partes simétrica e anti-simétrica, tem-se:d ij = A ijkl e kl − 1 2 A ijkle klm h m . (3.57)Para flui<strong>dos</strong> cuja estrutura molecular é estatisticamente isotrópica, o tensor das tensões<strong>de</strong>sviatórias <strong>de</strong>ve ser isotrópico para um dado gradiente <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>s. Desta forma, A ijkl<strong>de</strong>ve ser um tensor isotrópico, po<strong>de</strong>ndo ser escrito na forma:


29A ijkl = µδ ik δ jl + µ ′ δ il δ jk + µ ′′ δ ij δ kl , (3.58)on<strong>de</strong> µ, µ ′ e µ ′′ são coeficientes escalares, e, como A ijkl é simétrico em i e j,Assim,µ ′ = µ. (3.59)A ijkl = 2µδ ik δ jl + µ ′′ δ ij δ kl , (3.60)e, consequentemente, o tensor A ijkl é simétrico também em k e l.A simetria <strong>de</strong> A ijkl em k e l implica eme (3.57) se reduz auma vez que ɛ klm h m é um tensor anti-simétrico.Aplicando-se (3.60) a (3.62) tem-se:on<strong>de</strong>, ∆ = e kk é a taxa <strong>de</strong> expansão local <strong>de</strong>finida em (2.31).Como o traço <strong>de</strong> d ij é nulo, entãopara qualquer valor <strong>de</strong> ∆, implicando emAssim, a expressão para d ij po<strong>de</strong> ser reduzida aA ijkl ɛ klm h m = 0, (3.61)d ij = A ijkl e kl , (3.62)d ij = 2µe ij + u∆δ ij , (3.63)d ii = (2µ + 3µ ′′ )∆ = 0 (3.64)2µ + 3µ ′′ = 0. (3.65)d ij = 2µ(e ij − 1/3∆δ ij ). (3.66)Torna-se interessante observar que o termo entre parênteses em (3.66) é a parte nãoisotrópicado tensor taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação, discutido na seção 2.3.Aplicando-se (3.66) ao escoamento simplesmente cisalhado on<strong>de</strong> ∂u 1 /∂x 2 é a única<strong>de</strong>rivada não nula da velocida<strong>de</strong>, tem-se que todas as componentes <strong>de</strong> d ij são nulas, comexceção <strong>de</strong>d 12 = d 21 = µ ∂u 1∂x 2. (3.67)Comparando (3.67) com (1.2), tendo-se em vista (3.56), conclui-se que a constante µintroduzida em (3.58) é a viscosida<strong>de</strong>, introduzida na Seção (1.3).Observe-se que, para o caso <strong>de</strong> flui<strong>dos</strong> não-newtonianos, o tensor <strong>de</strong> coeficientes A ijklem (3.56) não é constante com relação a ∂u k /∂x l . No caso <strong>de</strong> substâncias com estrutura


30molecular estatisticamente anisotrópicas (óleos, por exemplo), A ijkl , além <strong>de</strong> ser umafunção da taxa <strong>de</strong> cisalhamento, é também um tensor anisotrópico. Assim, nestes casos,a viscosida<strong>de</strong> local não po<strong>de</strong> ser caracterizada por um escalar (µ), necessitando <strong>de</strong> umtensor para a <strong>de</strong>finição precisa da “viscosida<strong>de</strong>’ local”.Portanto, para flui<strong>dos</strong> newtonianos,on<strong>de</strong>σ ij = −pδ ij + 2µ(e ij − 1/3∆δ ij ), (3.68)e ij = 1 2( )∂u i+ ∂u j, ∆ = e ii . (3.69)∂x j ∂x iA equação do momento (equação 3.30) para flui<strong>dos</strong> newtonianos (equação 3.68) tomaentão a formaρ Du iDt = ρf i − ∂p +∂ {2µ(e ij − 1/3∆δ ij , }. (3.70)∂x i ∂x j<strong>de</strong>nominada Equação <strong>de</strong> Navier-Stokes. C. L. M. H. Navier (1785-1836) e G. S. Stokes(1819-1903) <strong>de</strong>terminaram in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente a expressão (3.70).Para escoamentos on<strong>de</strong> µ po<strong>de</strong> ser admitida como constante ao longo do mesmo, (3.70)po<strong>de</strong> ser reduzida a()ρ Du iDt = ρf i − ∂p ∂ 2 u i+ µ + 1/3 ∂∆ . (3.71)∂x i ∂x j ∂x j ∂x iCaso, adicionalmente, a compressibilida<strong>de</strong> do escoamento seja <strong>de</strong>sprezível, (3.71) po<strong>de</strong>ser ainda reduzida à formaou, em notação vetorial,ρ Du iDt = ρf i − ∂p∂x i+ µ ∂2 u i∂x j ∂x j, (3.72)ρ D⃗uDt = ρ ⃗ f − ∇p + µ∇ 2 ⃗u. (3.73)A equação (3.73) é <strong>de</strong> particular importância em Mecânica <strong>dos</strong> Flui<strong>dos</strong>, uma vez queé extensa a classe <strong>de</strong> escoamentos que satisfaz esta equação. Por vezes, na literatura, se<strong>de</strong>nomina “Equação <strong>de</strong> Navier-Stokes”a equação (3.73).3.8.2 As relações para o fluxo <strong>de</strong> calorO fluxo <strong>de</strong> calor instantâneo ⃗q em um ponto ⃗x do contínuo po<strong>de</strong> ser representado atravésda Lei <strong>de</strong> Fourier como (para flui<strong>dos</strong> termicamente isotrópicos):⃗q = −k∇T, (3.74)


31on<strong>de</strong> k é o Coeficiente <strong>de</strong> Condutibilida<strong>de</strong> Térmica e T = T (⃗x, t) é o campo <strong>de</strong> temperaturas.Observe que K é uma proprieda<strong>de</strong> física do fluido.O conceito “Temperatura”é <strong>de</strong>finido pela Termodinâmica Clássica para sistemas termodinâmicosem equilíbrio, mas po<strong>de</strong> ser estendido aos escoamentos <strong>de</strong> flui<strong>dos</strong> através <strong>de</strong>argumentação similar àquela utilizada para a energia interna e. Um elemento infinitesimal<strong>de</strong> fluido é um sistema termodinâmico irreversível, ao qual é associado, a cada instante,uma temperatura igual àquela do meio no qual o elemento po<strong>de</strong> ser instantaneamenteinserido e <strong>de</strong>ixado atingir o estado <strong>de</strong> equilíbrio, sem que realize trabalho ou troque calorcom o meio.Aplicando-se (3.74) à equação da conservação da energia (3.52) tem-se:ρ De = σ.(∇ ⊗ ⃗u) + ∇.(k∇T ), (3.75)Dton<strong>de</strong> T é <strong>de</strong>finido segundo o parágrafo acima.A equação (3.75) <strong>de</strong>screve a variação da energia interna do fluido, sendo interessanteobservar que (3.75) po<strong>de</strong> ser representada na forma indicial( )ρ DeDt = σ ∂u iij + ∂ k ∂T , (3.76)∂x j ∂x i ∂x ique, para flui<strong>dos</strong> newtonianos, se reduz aou ainda,ρ DeDt = −p∆ + 2µ(e ije ij − 1/3∆) + ∂∂x i(k ∂T∂x i), (3.77)( )ρ DeDt = (−pδ ij)(1/3∆δ ij ) + 2µ(e ij − 1/3∆σ ij )(e ij − 1/3∆δ ij ) + ∂ k ∂T . (3.78)∂x i ∂x imostrando separadamente as contribuições à variação da energia interna, providas pelotrabalho realizado pela parte isotrópica do tensor das tensões (−pδ ij )(1/3∆δ ij ), pela suaparte <strong>de</strong>sviatória, d ij (e ij −1/3∆ ij ) (quando d ij = 2µ(e ij −1/3∆δ ij )), e pelo fluxo <strong>de</strong> calor,∂∂x i(k ∂T∂x i). Observe que a contribuição <strong>de</strong>vida a parte <strong>de</strong>sviatória do tensor <strong>de</strong> tensões ésempre positiva, indicando uma inevitável transferência <strong>de</strong> energia do escoamento para aenergia interna do fluido.Assim, o termoΦ = 2µ ρ (e ije ij − 1/3∆ 2 ), (3.79)representa a dissipação <strong>de</strong> energia mecânica, por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> massa do fluido, <strong>de</strong>vido àviscosida<strong>de</strong>. O efeito <strong>de</strong>ssa dissipação <strong>de</strong> energia mecânica é uma adição irreversível <strong>de</strong>calor ao fluido.


323.8.3 A equação <strong>de</strong> estado para ρ, p e TAs proprieda<strong>de</strong>s termodinâmicas ρ e T , <strong>de</strong>finidas para esta<strong>dos</strong> <strong>de</strong> equilíbrio, foram estendidaspara os esta<strong>dos</strong> <strong>de</strong> inequilíbrio termodinâmico ao se <strong>de</strong>finir estas proprieda<strong>de</strong>s,nestes casos, como aquelas <strong>de</strong> sistemas em equilíbrio que não trocariam calor ou trabalhocom o elemento infinitesimal <strong>de</strong> fluido instantaneamente em inequilíbrio.Os mesmos argumentos utiliza<strong>dos</strong> para a extensão do conceito <strong>de</strong> “Pressão Termodinâmica”a sistemas em estado <strong>de</strong> inequilíbrio po<strong>de</strong>m ser também aqui aplica<strong>dos</strong>.Denotando-se esta pressão termodinâmica por p e , po<strong>de</strong>-se observar que, sendo p a“pressão mecânica”, <strong>de</strong>finida como sendo 1/3σ ii , p = p e para um fluido em repouso,pois, neste caso, o fluido está em equilíbrio termodinâmico. Entretanto, nos escoamentos<strong>de</strong> flui<strong>dos</strong>, p ≠ p e .O valor aproximado <strong>de</strong> p − p e para um elemento infinitesimal <strong>de</strong> fluido escoando po<strong>de</strong>ser <strong>de</strong>terminado através <strong>de</strong> argumentos similares aos utiliza<strong>dos</strong> na <strong>de</strong>terminação do tensor<strong>de</strong> tansões <strong>de</strong>sviatórias. Assumindo-se que p−p e <strong>de</strong>penda unicamente <strong>dos</strong> gradientes locais<strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>,p − p e = B ij∂u i∂x j= B ij e ij − 1/2B ij ɛ ijk h k . (3.80)Para um fluido estatisticamente isotrópico, B ijrepresentado na formaé também isotrópico, po<strong>de</strong>ndo serB ij = −Kδ ij , (3.81)on<strong>de</strong> K é um coeficiente escalar (com dimensões <strong>de</strong> viscosida<strong>de</strong>), que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> apenas doestado local do fluido. Assim,p − p e = −K∆, (3.82)sendo in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> ɛ ijk h k .O coeficiente K é suficientemente pequeno, para uma gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> flui<strong>dos</strong>,para que p seja admitido como sendo idêntico a p e , <strong>de</strong> maneira que a pressão mecânicae a pressão termodinâmica são usualmente admitidas como idênticas sendo <strong>de</strong>notadassimplesmente por p.Admitindo-se então a igualda<strong>de</strong> entre p, p e (em 3.82), po<strong>de</strong>-se relacionar φ.ρ e T através<strong>de</strong> uma equação <strong>de</strong> estado, uma vez que o ”meio fluido”utilizado para se esten<strong>de</strong>r as<strong>de</strong>finições <strong>de</strong>ssas proprieda<strong>de</strong>s a sistemas em inequilíbrio, se encontram em equilíbriotermodinâmico.Para um gás i<strong>de</strong>al a equação <strong>de</strong> estado épρ= RT, (3.83)on<strong>de</strong> R é a constante do gás. Entretanto, para gases a baixas temperaturas e para líqui<strong>dos</strong>,a equação (3.83) não é satisfeita. As relações entre ρ, p e T nesses casos não po<strong>de</strong>m serrepresentadas através <strong>de</strong> expressões simples como (3.83).


33Como a maioria <strong>dos</strong> líqui<strong>dos</strong> escoam incompressivelmente na maioria <strong>dos</strong> escoamentos<strong>de</strong> aplicação prática, as variações da energia interna do fluido, nestes casos, são <strong>de</strong>terminadasapenas pela dissipação viscosa e pela transmissão <strong>de</strong> calor no meio fluido. Aconsequência <strong>de</strong>ste fato é que os campos <strong>de</strong> temperatura e <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> (constante, nestecaso) não estão mais relaciona<strong>dos</strong>, e o escoamento do fluido passa a ser um problemapuramente mecânico, acoplado ao campo <strong>de</strong> temperaturas unicamente pela relação entreµ e T . Nos vários casos on<strong>de</strong> µ é constante, a equação da energia não é mais uma equaçãoin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte no que diz respeito às variáveis mecânicas do escoamento (⃗u e p), e nãosendo portanto necessária para a solução <strong>dos</strong> campos <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> e pressão.Uma vez que se conheça a equação <strong>de</strong> estado envolvendo ρ, p e T po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>terminarrelações envolvendo e, p e T ou e, ρ e T nas formas:ee = e(ρ, T ) (3.84)e = e(p, T ). (3.85)Tais relações permitem a representação da equação da energia através <strong>de</strong> relações nasquais a variável principal é T , em lugar <strong>de</strong> e. Consi<strong>de</strong>rando (3.84),( ) ( )De ∂eDt = DT ∂e∂T Dt + Dρ∂ρ Dt , (3.86)on<strong>de</strong>e( )∂e∂ρTρ( )∂e∂T( ) ( )∂e ∂s=∂s ∂ρρρT= C v (3.87)T( )∂e+ . (3.88)∂ρon<strong>de</strong> C v é o calor específico a ρ constante, e S é a entropia específica (proprieda<strong>de</strong> termodinâmica),pois (3.84) po<strong>de</strong> ser representada comoA relação (3.88) po<strong>de</strong> ser representada na forma( ) ( )∂e= − T ∂ρ∂ρ ρ 2 ∂Tpois, das equações <strong>de</strong> estado,( )∂e∂ρse = e(s (ρ, T ), ρ). (3.89)TSρρ+ p ρ 2 , (3.90)( )= p ρ , ρe= T, (3.91)2 ∂s


34e, das relações <strong>de</strong> Maxwell,( )∂s∂ρT( )= − 1 ∂p. (3.92)ρ 2 ∂pAssim, combinando-se (3.86), (3.88), (3.90) e a equação da continuida<strong>de</strong>, tem-se:( )DeDt = C DTvDt + [ p ρ − T ∂ρ](−ρ∆), (3.93)2 ρ 2 ∂Tou seja,ρ DeDt = ρC DTvDtρρ+ [T (∂p∂T ) ρ − p] ∂u k∂x k. (3.94)A expressão (3.94) po<strong>de</strong> ser agora substituída na equação da energia, fornecendo umaexpressão envolvendo apenas as variáveis ρ, p, T, ⃗u e d:ouρC vDTDt= −T (∂p∂T ) ρ∆ + d ij∂u i∂x j+ ∂∂x i(k ∂T∂x i), (3.95)DT ∂pρC v = −T (Dt ∂T ) ρ∆ + d.(∇ ⊗ ⃗u) + ∇.(k∇T ), (3.96)on<strong>de</strong> C v e (∂p/∂T ) ρ são funções do estado termodinâmico do fluido.No caso <strong>de</strong> escoamentos incompressíveis, p e T são variáveis in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, e ∂p/∂T =0.Alternativamente à expressão (3.96). po<strong>de</strong>-se utilizar o calor específico a p constante,C p = (∂h/∂T ) p , on<strong>de</strong> h = entalpia específica = e + p/ρ, na representação da Equação daEnergia, obtendo-se:on<strong>de</strong>ρC pDTDt= βTDpDt+ d.(∇ ⊗ ⃗u) + ∇.(k∇T ), (3.97)β = −1ρ ( ∂ρ∂T ) p (3.98)é <strong>de</strong>nominado Coeficiente <strong>de</strong> Expansão Térmica.Para flui<strong>dos</strong> newtonianos vale a relação (3.66) e as expressões (3.95) e (3.96) tomamas formas:( )( )DTρC vDt = −T ∂p∆ + 2µ(e ij e ij − 1/3∆ 2 ) + ∂ k ∂T , (3.99)∂T∂x i ∂x ieρC pDTDtρ= βTDpDT + 2µ(e ije ij − 1/3∆ 2 ) + ∂∂x i(k ∂T∂x i). (3.100)


35A expressão (3.100) é talvez a forma mais utilizada na solução <strong>de</strong> problemas aplica<strong>dos</strong>,mas diversas outras formas para a representação da equação da energia po<strong>de</strong>m ser obtidas.Bird, Stewart e Lightfoot apresentam uma extensa relação <strong>de</strong> formas para esta equação.3.9 Equações do Movimento e as Equações <strong>de</strong> ContornoO conjunto das equações diferenciais estabelecidas neste capítulo constitui um conjunto<strong>de</strong> “leis”que governam os escoamentos <strong>dos</strong> flui<strong>dos</strong>. Apesar <strong>de</strong> se <strong>de</strong>sconhecer precisamenteem que condições o tensor <strong>de</strong>sviatório po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrito como uma função linear da taxa<strong>de</strong> <strong>de</strong>formação, ou em que condições a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> entre as pressões mecânica e termodinâmicapo<strong>de</strong> ser realmente <strong>de</strong>sprezada, este conjunto <strong>de</strong> equações tem se mostradorazoavelmente confiável, e a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> diversos escoamentos através <strong>de</strong> suas soluçõestem sido largamente verificada.Torna-se conveniente, neste caso, se reapresentar essas equações, para o caso <strong>de</strong> flui<strong>dos</strong>newtonianos:DρDt + ρ(∂u j∂x j) = 0, (continuida<strong>de</strong>) (3.101)ρ Du iDt = ρf i − ∂p∂x i+ ∂∂x i{2µ(e ij − 1/3∆δ ij )}, (momento) (3.102)ρC pDTDt= βTDpDt + ρΦ + ∂∂x i(k ∂T∂x i), (energia) (3.103)f(p, ρ, T ) = 0, (equacão <strong>de</strong> estado) (3.104)on<strong>de</strong> f(p, ρ, T ) representa a equação <strong>de</strong> estado do fluido. Em (3.101-3.104), Φ é a taxa <strong>de</strong>dissipação <strong>de</strong> energia mecânica através <strong>de</strong> mecanismos viscosos, <strong>de</strong>finida em (3.79), C p éo calor específico a pressão constante, β é o coeficiente <strong>de</strong> expansão térmica, <strong>de</strong>finido em(3.98), k é o coeficiente <strong>de</strong> condutibilida<strong>de</strong> térmica, e µ a viscosida<strong>de</strong> do fluido. C p , β, ke µ são funções do estado termodinâmico do fluido.Assim, os escoamentos teóricos <strong>de</strong> flui<strong>dos</strong> po<strong>de</strong>m ser representa<strong>dos</strong> genericamenteatravés <strong>de</strong> uma região fluida, D, que é a região do espaço ocupada pelo fluido, cujo escoamentosatisfaz as equações (3.101-3.104), <strong>de</strong>finidas pelo contorno Γ, on<strong>de</strong> as soluções que<strong>de</strong>screvem o escoamento satisfazem relaçoes <strong>de</strong>nominadas condições <strong>de</strong> contorno (figura3.3).O conjunto <strong>de</strong> equações diferenciais (3.101-3.104) tem diversas famílias <strong>de</strong> funçõescomo soluções, e a função que <strong>de</strong>screve um <strong>de</strong>terminado escoamento é a solução do Problema<strong>de</strong> Valor <strong>de</strong> Contorno formado pelas equações (3.101-3.104) e as Condições <strong>de</strong>Contorno Características do Escoamento.As condições <strong>de</strong> contorno <strong>de</strong> um problema envolvem, geralmente, a <strong>de</strong>terminação dageometria do contorno, isto é, a localização do contorno no espaço (que po<strong>de</strong> ser umafunção do tempo), e as condições que <strong>de</strong>vem ser satisfeitas pelas variáveis do problema(campos <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> e pressão, por exemplo) sobre esses contornos.


36A geometria <strong>dos</strong> contornos <strong>de</strong> regiões fluidas po<strong>de</strong> ser, na maioria <strong>dos</strong> casos, <strong>de</strong>terminadamatematicamente através <strong>de</strong> uma função f, on<strong>de</strong> f = 0 (ou uma constante qualquer)é uma curva <strong>de</strong> nível f que coinci<strong>de</strong> geometricamente com o contorno Γ. Expressa-se a<strong>de</strong>finição do contorno Γ pela curva <strong>de</strong> nível f = 0 através da representação:Γ : f = 0; f = f(⃗x, t). (3.105)Figura 3.2: Representação Genérica do Problema <strong>de</strong> <strong>de</strong> Contorno Associado a um EscoamentoTeórico. As variáveis ρ, p, T e ⃗u satisfazem as equações (3.101-3.104) em D, e suasdistribuições em Γ = Γ 1 + Γ 2 são Condições <strong>de</strong> Contorno.A região D não é necessariamente simplesmente conexa, e parte do contorno Γ po<strong>de</strong>eventualmente se distanciar infinitamente <strong>de</strong> uma dada sub-região <strong>de</strong> D. No escoamentoao redor <strong>de</strong> uma esfera, por exemplo, a região fluida po<strong>de</strong> se exten<strong>de</strong>r in<strong>de</strong>finidamentepara longe da esfera, on<strong>de</strong> o contorno infinitamente distante da mesma é representado pelolim ⃗r −→ ∞ on<strong>de</strong> ⃗r é o vetor posição no espaço. A Figura 3.3 ilustra essa representação.Aqui, a superfície da esfera, Γ e , po<strong>de</strong> ser representada como:on<strong>de</strong> r e é o raio da esfera.Γ e : f = 0, f = |⃗x| − r e = 0 (3.106)Figura 3.3: Representação <strong>de</strong> Contornos no Infinito.Com relação à Figura 3.3, as distribuições <strong>de</strong> ⃗u, ρ, p e T nos contornos Γ e e Γ ∞ sãoas Condições <strong>de</strong> Contorno para o escoamento teórico ao redor <strong>de</strong> uma esfera. As funçõesque <strong>de</strong>screvem ⃗u, ρ, p e T satisfazem as equações (3.101-3.104) em D e as condições <strong>de</strong>contorno em Γ = Γ e + Γ ∞ .Assim, na solução <strong>de</strong> escoamentos teóricos, o estabelecimento das Condições <strong>de</strong> Contornoa serem satisfeitas pelas funções que <strong>de</strong>screvem as variáveis <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes em D é


37<strong>de</strong> fundamental importância, uma vez que são elas que <strong>de</strong>terminam qual solução, <strong>de</strong>ntreas várias famílias <strong>de</strong> soluções possíveis para (3.101-3.104), <strong>de</strong>screve um <strong>de</strong>terminadoescoamento.Não existem, na Matemática, teoremas <strong>de</strong>monstrando a existência e a unicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>soluções para problemas <strong>de</strong> valor <strong>de</strong> contorno, a não ser para casos muito especiais (escoamentossimultaneamente incompressíveis, irrotacionais e não viscosos, por exemplo). Naverda<strong>de</strong>, existem várias classes <strong>de</strong> escoamentos teóricos on<strong>de</strong> as condições <strong>de</strong> contorno admitemuma multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> soluções ( a convecção natural em uma região bidimensionalretangular, por exemplo), on<strong>de</strong> a <strong>de</strong>terminação da solução que representa o escoamento éatacada através da análise da estabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas múltiplas soluções.Assim, a prescrição <strong>de</strong> condições <strong>de</strong> contorno para a solução <strong>de</strong> problemas <strong>de</strong> valor<strong>de</strong> contorno que preten<strong>de</strong>m <strong>de</strong>screver aproximadamente um escoamento real é umaquestão <strong>de</strong>licada, uma vez que não existe uma teoria matemática <strong>de</strong>senvolvida a respeitodo assunto ( a não ser em casos particulares).Entretanto, existem classes <strong>de</strong> condições <strong>de</strong> contorno <strong>de</strong> larga aplicação em problemas<strong>de</strong> engenharia, on<strong>de</strong> a argumentação física permite o estabelecimento <strong>de</strong>ssas relações.3.9.1 A Condição <strong>de</strong> Não-EscorregamentoNa interface entre dois flui<strong>dos</strong>, ou entre um fluido e uma superfície rígida, po<strong>de</strong>-se admitira relação⃗u| w = ⃗v| w na interface (3.107)on<strong>de</strong> ⃗u| w é a velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um <strong>dos</strong> flui<strong>dos</strong> e ⃗v| w a velocida<strong>de</strong> do outro fluido ou da superfíciematerial (com v restrito à superfície, neste caso).Essa condição traduz o não-escorregamento entre as superfícies em contato, por açãoda viscosida<strong>de</strong>.3.9.2 A Condição <strong>de</strong> Impermeabilida<strong>de</strong>Nos casos <strong>dos</strong> escoamentos teóricos on<strong>de</strong> os efeitos da viscosida<strong>de</strong> são <strong>de</strong>spreza<strong>dos</strong>, acondição <strong>de</strong> não-escorregamento não é mais satisfeita, e em lugar <strong>de</strong> (3.107) utiliza-se acondição <strong>de</strong> impermeabilida<strong>de</strong>, i.e.,u n = v n na interface, (3.108)on<strong>de</strong> u n é a componente normal da velocida<strong>de</strong> com relação à superfície <strong>de</strong> contato, paraum <strong>dos</strong> flui<strong>dos</strong>, e v n a componente normal <strong>de</strong> ⃗v do outro fluido, ou da superfície material<strong>de</strong> contato (com ⃗ V também restrito à superfície, neste caso).A representação matemática da condição <strong>de</strong> impermeabilida<strong>de</strong> em um contorno Γ,<strong>de</strong>finido pela curva <strong>de</strong> nível f(⃗x, t) = 0, tem uma forma particular, como é <strong>de</strong>monstradaa seguir:f(⃗x, t) é uma função <strong>de</strong>finida em todo o domínio D, e sua taxa <strong>de</strong> variação com otempo para um dado elemento material infinitesimal <strong>de</strong> fluido (f sendo avaliado em seucentro geométrico, por exemplo) é dada por Df/Dt; a <strong>de</strong>rivada material <strong>de</strong> f. Entretanto,


38a condição <strong>de</strong> não-percolação implica na permanência <strong>de</strong>sses elementos infinitesimais <strong>de</strong>fluido sobre a superfície Γ, <strong>de</strong>finida por f = 0, pois esta condição requer que a componentenormal da velocida<strong>de</strong> relativa entre o fluido e a superfície seja nula. Assim, o valor <strong>de</strong>f para pontos do fluido que se encontram sobre o contorno Γ (f = 0, por exemplo) éconstante ao longo do tempo, <strong>de</strong> maneira queDf= 0, em f = 0 (Γ : f(⃗x, t) = 0) (3.109)DtEsta condição traduz matematicamente a condição (3.108).A condição (3.109) tem a seguinte interpretação física: o gradiente <strong>de</strong> f em f = 0 é umvetor normal ao contorno Γ <strong>de</strong> maneira que ∇f/∇f é um unitário normal a Γ. Assim,−⃗u| f=0 (∇f/|∇f|) é a componente normal <strong>de</strong> ⃗µ sobre Γ. Por outro lado, a componentenormal da velocida<strong>de</strong> com que o contorno Γ se move é (∂f/∂t)/|∇f|. Assim, u n = v n emΓ implica em (∂f/∂t)/|∇f| = −⃗u| f=0 (∇f/|∇f|), ou ainda, Df/Dt = 03.9.3 As Condições <strong>de</strong> Contorno para o Campo <strong>de</strong> TemperaturasNo caso da temperatura, geralmente se utilizaT | w = T w , (3.110)on<strong>de</strong> T | w é a temperatura do fluido junto à superfície w, e T w é a temperatura da superfície,ou se prescreve um fluxo <strong>de</strong> calor através da superfície, i.e.,k∇T | w = k w ∇T w = −⃗q w , (3.111)on<strong>de</strong> k∇T | w é o fluxo <strong>de</strong> calor que a<strong>de</strong>ntra a região fluida através da superfície w, e q w éo fluxo <strong>de</strong> calor que <strong>de</strong>ixa esta superfície (k w é o coeficiente <strong>de</strong> contutibilida<strong>de</strong> térmica domaterial da superfície e ∇T w o gradiente da temperatura do material junto à superfície.A <strong>de</strong>terminação das condições <strong>de</strong> contorno a serem utilizadas no estabelecimento doProblema <strong>de</strong> Valor <strong>de</strong> Contorno que “preten<strong>de</strong>”fornecer uma solução teórica que <strong>de</strong>screvaa essência <strong>de</strong> um escoamento real é um problema <strong>de</strong>licado, para o qual inexistem regraspré-estabelecidas, a não ser em casos particulares. De maneira geral, é a sensibilida<strong>de</strong> à“física do problema”que indica as condições <strong>de</strong> contorno a serem utilizadas.Problemas <strong>de</strong> Valor <strong>de</strong> Contorno (PVC) “bem postos”tem solução única. PVCs “malpostos”po<strong>de</strong>m admitir várias soluções, ou mesmo a inexistência <strong>de</strong> soluções.3.9.4 Um Exemplo do Estabelecimento das Condições <strong>de</strong> ContornoSeja uma região fluida bidimensional que se esten<strong>de</strong> infinitamente ao longo das direçõesnormais ao campo gravitacional g, limitada verticalmente pelas superfícies 1 e 2, conformemostra a figura 3.4.Admitindo-se que se possa manter a superfície superior à temperatura T 1 e a inferiorà temperatura T 2 , uma solução que satisfaz às equações (3.101-3.104), on<strong>de</strong> ⃗ f existe


39Figura 3.4: Nomenclatura e Definição para o Problema <strong>de</strong> Convecção Natural <strong>de</strong> Bérnard.unicamente <strong>de</strong>vido ao campo g, e que satisfaz às condições T (y = d) = T 1 e T (y = 0) = T 2, é a solução on<strong>de</strong> ⃗u = 0 e T = T 2 − (T 2 − T 1 )y/d.Entretanto, quando T 2 > T 1 esta solução é instável (mas ainda existe) e o problemaadmite uma outra solução. O aumento <strong>de</strong> ρ com y causa a existência <strong>de</strong> forças <strong>de</strong> empuxo(ou flutuação) no fluido, causando um movimento circulatório alternado, cuja configuraçãoé representada também na Figura 3.4 (as células <strong>de</strong> recirculação <strong>de</strong> Bernard). Assim, oPVC formado pelas equações (3.101-3.104), cujo domínio D é bidimensiional, com 0 ≤y ≤ d e −∞ ≤ x ≤ ∞, e com as condições <strong>de</strong> contorno T (y = d) = T 1 e T (y = 0) = T 2admite múltiplas soluções.É interessante observar que apesar das duas soluções mencionadas acima satisfazeremo PVC em referência, o fluxo <strong>de</strong> calor através das superfícies 1 e 2 são diferentes para essasduas soluções. No primeiro caso ⃗q é constante ao longo <strong>de</strong> ⃗x, mas no caso da configuração<strong>de</strong> Bernard, ⃗q é uma função periódica <strong>de</strong> ⃗x. Assim, a primeira solução po<strong>de</strong>ria ser igualmenteobtida ao se modificar as condições <strong>de</strong> contorno para a temperatura, exigindo-seum fluxo <strong>de</strong> calor ⃗q nas superfícies 1 e 2 em lugar <strong>de</strong> se prescrever T 1 e T 2 , mas a segundasolução mencionada não mais satisfaria o PVC modificado.Evi<strong>de</strong>ntemente, os problemas físicos <strong>de</strong>scritos pelas soluções <strong>dos</strong> PVCs envolvendo aprescrição <strong>de</strong> T ou ⃗q no contorno são diferentes e, em princípio, envolvem campos para ⃗ue T diferentes. Entretanto, o exemplo <strong>de</strong>monstra tanto a existência <strong>de</strong> soluções múltiplasmesmo para problemas aparentemente ”bem postos”, quanto a sensitivida<strong>de</strong> das soluçõesàs condições <strong>de</strong> contorno.Maiores discussões a respeito das condições <strong>de</strong> contorno apropriadas à cada classe <strong>de</strong>problemas serão discutidas mais adiante.3.9.5 Um Exemplo do Estabelecimento <strong>de</strong> um Problema <strong>de</strong> Valor<strong>de</strong> ContornoConsi<strong>de</strong>re o escoamento <strong>de</strong> um fluido ao redor <strong>de</strong> um corpo cilíndrico, como mostra aFigura 3.5.Consi<strong>de</strong>rando ainda que, neste escoamento, a distribuição <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> é virtualmenteuniforme longe do cilindro, e que a região fluida é praticamente ilimitada, ⃗u(⃗x, t) −→ ⃗ Uquando ⃗x −→ ∞, on<strong>de</strong> ⃗ U é o vetor velocida<strong>de</strong> do escoamento ”longe“ do cilindro e ⃗x é o


40Figura 3.5: Escoamento <strong>de</strong> um fluido ao redor <strong>de</strong> um cilindro.vetor posição.Assim, a região fluida D, para o escoamento teórico que ”preten<strong>de</strong>”<strong>de</strong>screver o escoamentoreal em questão, se exten<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as pare<strong>de</strong>s do cilindro até o ”infinito”. Emtoda a região D, as distribuições <strong>de</strong> ρ, p, ⃗u e T satisfazem as equações diferenciais (3.101-3.104), caso o fluido em questão se comporte aproximadamente como um fluido newtoniano.Junto às pare<strong>de</strong>s do cilindro, po<strong>de</strong>-se assumir a condição <strong>de</strong> não escorregamento,escrevendo-se⃗u| pare<strong>de</strong> = 0. (3.112)ao se tomar o sistema <strong>de</strong> referência solidário ao corpo.Suponha-se ainda que o fluido escoa incompressivelmente (um líquido, por exemplo),<strong>de</strong> maneira que a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> é constante, e os campos <strong>de</strong> pressão e temperatura estão<strong>de</strong>sacopla<strong>dos</strong>. Nesse caso, ⃗u é in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do campo <strong>de</strong> temperaturas, e a equação daenergia está <strong>de</strong>sacoplada das equações do momento e da continuida<strong>de</strong>. A <strong>de</strong>terminação doescoamento passa a ser um problema puramente mecânico, cuja solução satisfaz o PVCdiv ⃗u = 0, (3.113)ρ D⃗uDt = −∇p + µ∇2 ⃗u, (3.114)on<strong>de</strong> f = 0 por estarem sendo <strong>de</strong>spreza<strong>dos</strong> os efeitos das forças <strong>de</strong> corpo (supõe-se nãoexistirem campos gravitacionais ou magnéticos), ee⃗u(⃗x, y) −→ ⃗ U, (3.115)⃗p(⃗x, t) −→ P, (3.116)quando |⃗x| −→ ∞, ⃗u = 0, nas pare<strong>de</strong>s do cilindro on<strong>de</strong> P é a pressão quando |⃗x| −→ ∞


41A solução que satisfaz as equações (3.113) a (3.116) <strong>de</strong>screve em princípio o escoamentoteórico em questão. Não se po<strong>de</strong> garantir, entretanto, que exista uma soluçãosatisfazendo (3.113) a (3.116) simultaneamente, e nem mesmo se po<strong>de</strong> afirmar que, casoexista uma solução, que ela seja única. Por outro lado, ao se observar o escoamento real,verifica-se que existe o escoamento on<strong>de</strong> ⃗u −→ U ⃗ quando |⃗x| −→ ∞, e, portanto, seas equações (3.101-3.104) e a condição <strong>de</strong> não-escorregamento exprimem “razoavelmentebem”o comportamento do fluido, uma solução para o PVC, mesmo que não seja única,<strong>de</strong>ve existir.A solução para o campo <strong>de</strong> temperaturas do escoamento <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>dos</strong> campos <strong>de</strong>velocida<strong>de</strong>s ⃗u , e das temperaturas do fluido para |⃗x| −→ ∞, e das pare<strong>de</strong>s do cilindro.Uma vez obtida a distribuição <strong>de</strong> ⃗u que satisfaz (3.113) a (3.116), T po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>terminadoatravés do PVC que tem a equação da energia como equação do domínio (⃗u conhecido) eas condições <strong>de</strong> contorno para a temperatura em ⃗x −→ ∞ e nas pare<strong>de</strong>s do cilindro.Soluções para (3.113-3.114), sujeitas às condições <strong>de</strong> contorno (3.115-3.116) não po<strong>de</strong>mser <strong>de</strong>scritas analiticamente <strong>de</strong>vido à sua complexida<strong>de</strong>. No entanto, o escoamento aoredor <strong>de</strong> seções do cilindro da Figura 3.5 que se encontram ”suficientemente”distantesdas extremida<strong>de</strong>s <strong>dos</strong> mesmos, i.e., no caso <strong>de</strong> cilindros longos (d/l d 2(3.119)⃗u(⃗x, t) −→ ⃗ U; p(⃗x, t) −→ P, para |⃗x| −→ ∞ (3.120)⃗u(⃗x, t) = 0, em |˜x| = d 2(3.121)on<strong>de</strong> ∇ = (∂/∂x 1 , ∂/∂x 2 ), ⃗x = (x 1 , x 2 ).


42As soluções para (3.117-3.121) <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>dos</strong> parâmetros ⃗ U, ρ, µ e d, uma vez que aequação do momento estabelece uma relação entre ⃗u e ∇p, e não entre ⃗u e p diretamente.Assim, diferentes valores atribuí<strong>dos</strong> a P não <strong>de</strong>terminam diferentes campos ⃗u, e os camposp diferem entre si através <strong>de</strong> uma constante apenas. Sendo ⃗u e p as soluções do PVC (3.88)on<strong>de</strong> P = P 0 , a solução <strong>de</strong> (3.117-3.121) on<strong>de</strong> P = P 1 é ⃗u e p + (P 1 − P 0 ).Assim, ⃗ U, ρ, µ e d são parâmetros característicos do escoamento, po<strong>de</strong>ndo ser utiliza<strong>dos</strong>para se adimensionalizar o PVC (3.117-3.121) através da Velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Referência | ⃗ U|, daPressão <strong>de</strong> Referência ρ| ⃗ U| 2 , do Comprimento <strong>de</strong> Referência d, e do Tempo <strong>de</strong> Referênciad/| ⃗ U|. O PVC (3.117-3.121) toma então a forma∇⃗u = 0, (3.122)paraD⃗uDt = −∇p + µ| U|ρd ⃗ ∇2 ⃗u, (3.123)|⃗x| > 1 2 ; (3.124)⃗u(⃗x, t) −→ ⃗1; p(⃗x, t) −→Pρ| U| ⃗ , para |˜x| −→ ∞ (3.125)2⃗u(⃗x, t) = 0, em |˜x| = 1 2(3.126)on<strong>de</strong> todas as variáveis são agora variáveis adimensionais.Assim, o processo <strong>de</strong> adimensionalização mostra que, essencialmente as soluções parao problema (3.117-3.121) <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m somente do parâmetroRe = µUρd . (3.127)<strong>de</strong>nominado número <strong>de</strong> Reynolds (em (3.127), U = | ⃗ U|), pois os escoamentos com amesma relação µ/Uρd são dinamicamente semelhantes.Análises aprofundadas <strong>de</strong>sse escoamento teórico <strong>de</strong>monstram a existência <strong>de</strong> múltiplassoluções para (3.122-3.126). Soluções in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes do tempo existem para qualquer valor<strong>de</strong> Re. Entretanto essas soluções são instáveis para Re > 40, aproximadamente, e somentesoluções que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m do tempo são estáveis para Re > 40.Esses resulta<strong>dos</strong> são confirma<strong>dos</strong> através <strong>de</strong> experimentos nos quais tem sido verificadaa existência <strong>de</strong> escoamentos em Regime Permanente (in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do tempo) somentepara Re < 40, aproximadamente. Dentro da faixa 40 < Re < 2500, aproximadamente,o escoamento tem carater periódico , on<strong>de</strong> a emissão <strong>de</strong> vórtices alterna<strong>dos</strong> tem sidoobservada (ver Fig. 3.7). Para Re > 2500 o escoamento é geralmente turbulento naesteira do cilindro. Os mecanismos físicos que <strong>de</strong>terminam esses diferentes padrões <strong>de</strong>escoamento serão aborda<strong>dos</strong> mais adiante.


Figura 3.7: Padrões do Escoamento ao Redor <strong>de</strong> um cilindro circular longo para diferentesfaixas <strong>de</strong> Re.43


Capítulo 4Os Parâmetros que Governam osEscoamentos <strong>de</strong> Flui<strong>dos</strong>4.1 IntroduçãoQualquer Problema <strong>de</strong> Valor <strong>de</strong> Contorno, cuja solução <strong>de</strong>screva um escoamento teórico,po<strong>de</strong> ser adimensionalizado, similarmente ao exemplo da seção (3.9.5).Os escoamentos <strong>de</strong> flui<strong>dos</strong> envolvem sempre uma velocida<strong>de</strong> característica , ⃗ U, <strong>de</strong>magnitu<strong>de</strong> U = | ⃗ U|, que <strong>de</strong>termina a magnitu<strong>de</strong> global do campo <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>s. Po<strong>de</strong>-sesempre <strong>de</strong>finir também uma Temperatura Característica, T c , que <strong>de</strong>termina a magnitu<strong>de</strong>global do campo <strong>de</strong> temperaturas, no caso <strong>de</strong> escoamentos que envolvem a transferência<strong>de</strong> calor. Estas gran<strong>de</strong>zas características são geralmente <strong>de</strong>terminadas pelas condições <strong>de</strong>contorno do problema em questão.Outras gran<strong>de</strong>zas características in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m muitas vezes das condições <strong>de</strong> contorno,por serem proprieda<strong>de</strong>s físicas <strong>dos</strong> fluido. Uma <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> característica ρ o , uma viscosida<strong>de</strong>característica µ o , uma condutibilida<strong>de</strong> térmica K 0 , são exemplos <strong>de</strong>ssas gran<strong>de</strong>zas,que po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>finidas in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente das condições <strong>de</strong> contorno. No PVC (3.88),por exemplo, ρ e µ são constantes, sendo, os seus valores, característicos da solução correspon<strong>de</strong>nte.Se um PVC tem solução única, cada conjunto <strong>de</strong> valores para as suas gran<strong>de</strong>zas características<strong>de</strong>terminam uma única solução que <strong>de</strong>screve um escoamento teórico. Entretanto,Grupos Adimensionais po<strong>de</strong>m ser forma<strong>dos</strong> com essas gran<strong>de</strong>zas características, <strong>de</strong>tal maneira que escoamentos para os quais tais Grupos Adimensionais tem o mesmo valorsão Dinamicamente Semelhantes.O escoamento abordado na seção (3.9.5), por exemplo, é caracterizado unicamentepelo Número <strong>de</strong> Reynolds, e escoamentos envolvendo diferentes valores para U, ρ, µ e dsão dinamicamente semelhantes quando a razão Uρd/µ para os mesmos fôr idêntica.As diferentes classes <strong>de</strong> problemas em Mecânica <strong>dos</strong> Flui<strong>dos</strong> tem diferentes gruposadimensionais características, e o número <strong>de</strong> grupos adimensionais envolvi<strong>dos</strong> em cadacaso está relacionado ao número <strong>de</strong> diferentes mecanismos físicos envolvi<strong>dos</strong> nesses escoamentos.44


454.2 O Significado Físico do Número <strong>de</strong> ReynoldsO escoamento em torno do cilindro, abordado em (3.9.5), envolve, essencialmente, doismecanismos físicos in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes que governam todo o escoamento: o primeiro <strong>de</strong>les éa inércia, caracterizada pela quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimento possuída pelo fluido. O segundomecanismo físico que influencia no movimento é a viscosida<strong>de</strong>. Assim, o que <strong>de</strong>terminao movimento do fluido <strong>de</strong> uma maneira global é a razão entre a magnitu<strong>de</strong> global dasForças Inerciais, proporcionais ao produto Uρ, e a magnitu<strong>de</strong> global das Forças Viscosas, proporcionais a µ/d (Uρ é o coeficiente <strong>dos</strong> termos <strong>de</strong> inércia e pressão em (3.89) quandoµ/d é o coeficiente do termo viscoso). Assim, o Número <strong>de</strong> Reynolds é o parâmetro<strong>de</strong>terminante do escoamento da seção (3.9.5) porque ele é uma medida da importânciarelativa entre a magnitu<strong>de</strong> global <strong>dos</strong> esforços <strong>de</strong> natureza viscosa que atuam no fluido.Como U e d são características das condições <strong>de</strong> contorno do problema, e ρ e µ sãocaracterísticas do fluido, <strong>de</strong>fine-se a Viscosida<strong>de</strong> Cinemática, ν, como sendoν = µ ρ , (4.1)on<strong>de</strong> µ é a viscosida<strong>de</strong> Dinâmica, e o Número <strong>de</strong> Reynolds po<strong>de</strong> ser então representadoalternativamente como4.3 Número <strong>de</strong> Frou<strong>de</strong>Re = Udν . (4.2)No caso <strong>de</strong> existir um campo gravitacional ⃗g no escoamento teórico representado na Figura3.6, forças gravitacionais serão também exercidas sobre o fluido, e o escoamento será<strong>de</strong>terminado pela magnitu<strong>de</strong> global relativa das forças inerciais, viscosas, e gravitacionais.Agora, são necessários dois grupos adimensionais para se <strong>de</strong>terminar o escoamento;sendo um <strong>de</strong>les o Número <strong>de</strong> Reynolds, o outro po<strong>de</strong> representar tanto a razão entre asmagnitu<strong>de</strong>s globais das forças inerciais e das forças gravitacionais, como a razão entre asmagnitu<strong>de</strong>s globais das forças viscosas e as forças gravitacionais.Adimensionalizando-se a equação do momento em (3.88), modificada <strong>de</strong> maneira a seintroduzir os efeitos do campo gravitacional ⃗g, i.e.,ρ D⃗uDt = ρ⃗g − ∇p + µ∇2 ⃗u, (4.3)obtém-se a expressão contendo variáveis adimensionaisρU D⃗uDt = ρd/Ug⃗ k − ρU∇p + µ/d∇ 2 ⃗u. (4.4)Assim, o outro grupo adimensional característico do problema é (quando um <strong>de</strong>les éRe)gdU 2 , ou F r =U √ gd(4.5)


46on<strong>de</strong> F r = Número <strong>de</strong> Frou<strong>de</strong>.Na verda<strong>de</strong>, os Números <strong>de</strong> Reynolds e <strong>de</strong> Frou<strong>de</strong> não são <strong>de</strong>fini<strong>dos</strong> exclusivamentepara escoamentos ao redor <strong>de</strong> cilindros, e, para escoamentos quaisquer on<strong>de</strong> L é umcomprimento característico e U é uma velocida<strong>de</strong> característica,eRe = ULν , (4.6)F r =U √ gL. (4.7)Por relacionar forças inerciais e forças gravitacionais, o Número <strong>de</strong> Frou<strong>de</strong> é utilizadopara se caracterizar escoamentos envolvendo uma superfície livre, on<strong>de</strong> os efeitos viscosospo<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>spreza<strong>dos</strong> (as ondas em um oceano, por exemplo). Neste caso, Re −→ ∞, eF r é o único grupo adimensional característico do escoamento.4.4 O Número <strong>de</strong> MachConsi<strong>de</strong>rando-se um escoamento compressível, no qual os efeitos da viscosida<strong>de</strong> possamser <strong>de</strong>spreza<strong>dos</strong>, a equação do momento toma a formaρ D⃗u = −∇p. (4.8)DtSendo a viscosida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sprezível, a conversão irreversível <strong>de</strong> energia mecânica em energiainterna é portanto <strong>de</strong>sprezível, e se o fluido possui baixa condutibilida<strong>de</strong> térmica, o escoamentoé aproximadamente isoentrópico <strong>de</strong> maneira que a equação <strong>de</strong> estado p = p(ρ, T )po<strong>de</strong> ser aproximada porAssim,e (4.8) se reduz ap = p(ρ)| s (4.9)( )∂p∇p = ∇ρ,∂ρsρ D⃗uDt = −c2 ∇ρ, (4.10)on<strong>de</strong> c 2 = ( ∂ρ∂ρ ) s é uma Proprieda<strong>de</strong> do Fluido.Adimensionalizando (4.10) com relação à velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> referência U, o comprimento<strong>de</strong> referência L, e a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> referência ρ o , (4.10) toma a formaρ D⃗uDt = − c2∇ρ, (4.11)U2


47on<strong>de</strong> as variáveis em (4.11) são adimensionais, e o grupo adimensional característico daequação éc 2U , ou M = U 2 c , (4.12)on<strong>de</strong> M = Número <strong>de</strong> MachDeve-se observar que c = √ (∂p/∂ρ) s tem a dimensão <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>, e seu significadofísico é bastante importante: Consi<strong>de</strong>re um tubo longo preenchido por um gás, conformemostra a Figura 4.1, on<strong>de</strong> o gás, inicialmente em repouso, é perturbado pelo <strong>de</strong>slocamentoinfinitesimal impulsivo do pistão que bloqueia uma <strong>de</strong> suas extremida<strong>de</strong>s.Figura 4.1: Frente <strong>de</strong> Onda em um Tubo Preenchido com um Fluido Compressível.Esse movimento gera uma variação infinitesimal no estado termodinâmico do gás, quese propaga ao longo do tubo com velocida<strong>de</strong> c, quando o gás entre o pistão e a frente daonda <strong>de</strong> pressão se move com velocida<strong>de</strong> dV . Para o escoamento adiabático, a equaçãoda energia toma a forma (regime permanente)e, da equação da continuida<strong>de</strong>,dh − cdU ≃ 0, (4.13)cdρ − ρdU ≃ 0. (4.14)Como T ds = dh − dp , e o processo é isoentrópico, então (4.13) po<strong>de</strong> ser representadaρna formae, consi<strong>de</strong>rando (4.14), tem-sedpρ− cdU = 0, (4.15)( )∂p∂ρs= c 2 . (4.16)Assim, a proprieda<strong>de</strong> do fluido, c 2 , em (4.10) é o quadrado da velocida<strong>de</strong> com queuma onda infinitesimal <strong>de</strong> pressão se propaga no meio do fluido (a velocida<strong>de</strong> do som), eo Número <strong>de</strong> Mach representa a razão entre a velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> referência do escoamento e avelocida<strong>de</strong> do som no meio fluido.


48Escoamentos on<strong>de</strong> M ≃ 1 são chama<strong>dos</strong> Transônicos e os escoamentos on<strong>de</strong> M > 1são chama<strong>dos</strong> Supersônicos.Os escoamentos transônicos constituem uma classe <strong>de</strong> problemas em mecânica <strong>dos</strong>flui<strong>dos</strong> on<strong>de</strong> as soluções das equações do movimento po<strong>de</strong>m apresentar <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>snos campos <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>, pressão, <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> e temperatura. Tais discontinuida<strong>de</strong>s são<strong>de</strong>nominadas Ondas <strong>de</strong> Choque, das quais a frente <strong>de</strong> onda da Figura 4.1 é um exemplo.4.5 Outros Grupos AdimensionaisOs números <strong>de</strong> Reynolds, Frou<strong>de</strong> e Mach são os parâmetros característicos <strong>dos</strong> escoamentosque envolvem inércia, viscosida<strong>de</strong>, compressibilida<strong>de</strong> e um campo gravitacional.Entretanto, outras classes <strong>de</strong> escoamentos envolvem diferentes mecanismos físicos, paraos quais a importância relativa entre esses mecanismos físicos é quantificada através <strong>de</strong>outros grupos adimensionais.Nos escoamentos em rotação, a importância relativa da Força <strong>de</strong> Coriolis é medidaatravés <strong>dos</strong> números <strong>de</strong> Rossby, R, e <strong>de</strong> Ekman, E, <strong>de</strong>fini<strong>dos</strong> comoR = U ΩL , (4.17)E =νΩL , (4.18)2on<strong>de</strong> Ω é a velocida<strong>de</strong> angular global do escoamento indicando as razões entre as forçasinerciais e <strong>de</strong> Coriolis, e entre as forças viscosas e <strong>de</strong> Coriolis, respectivamente.Nos escoamentos que envolvem a transmissão <strong>de</strong> calor a similarida<strong>de</strong> dinâmica <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>não só <strong>dos</strong> campos <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> e pressão, como nos casos das seções (4.2), (4.3) e (4.4),mas também do campo <strong>de</strong> temperaturas. Assim, tanto a equação do momento quanto aequação da energia <strong>de</strong>vem ser adimensionalisadas e analisadas para a <strong>de</strong>terminação <strong>dos</strong>grupos adimensionais característicos do escoamento.Escoamentos com convecção <strong>de</strong> calor forçada são escoamentos on<strong>de</strong> as forças <strong>de</strong> flutuaçãoprovocadas pelos gradientes <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> são <strong>de</strong>sprezíveis quando comparadascom as forças inerciais e as forças viscosas, <strong>de</strong> modo que esses escoamentos são caracteriza<strong>dos</strong>por Re e pela razãoP e = ULK , (4.19)on<strong>de</strong> P e = Número <strong>de</strong> Péclet, que representa a razão entre a taxa <strong>de</strong> convecção <strong>de</strong> calore a taxa <strong>de</strong> difusão <strong>de</strong> calor ( K = k/ρC p = difusivida<strong>de</strong> térmica do fluido). Assim,nos escoamentos com convecção forçada (on<strong>de</strong> as variáveis mecânicas são virtualmentein<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes do campo <strong>de</strong> temperaturas), a similarida<strong>de</strong> para o campo <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>sé governada por Re, e a similarida<strong>de</strong> para o campo <strong>de</strong> temperaturas é governada por Ree P e. Como Re = UL/ν, a similarida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses escoamentos po<strong>de</strong> ser alternativamente<strong>de</strong>terminada pelos parâmetros Re e P r (= Número <strong>de</strong> Prandtl), on<strong>de</strong>P r = P eRe = ν K . (4.20)


49O número <strong>de</strong> Prandtl é uma proprieda<strong>de</strong> do fluido, sendo in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do escoamentoem si.Nos escoamentos on<strong>de</strong> ocorre a Convecção Natural <strong>de</strong> Calor, as forças <strong>de</strong> flutuaçãoprovocadas pelos gradientes <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> são dominantes, e são elas que induzem o movimentodo fluido, <strong>de</strong>terminando assim a magnitu<strong>de</strong> das forças inerciais. Os grupos adimensionaisque <strong>de</strong>terminam a similarida<strong>de</strong> nestes casos são o Número <strong>de</strong> Grashof, Gr,on<strong>de</strong>Gr = gβ(∆t)L3ν 2 , (4.21)(on<strong>de</strong> g é a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> do campo gravitacional, β é o coeficiente <strong>de</strong> expansão térmica dofluido e (∆t) é a diferença <strong>de</strong> temperaturas característica do escoamento), e o Número <strong>de</strong>Prandtl, P r. Na <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong>stes grupos adimensionais é utilizada a aproximação <strong>de</strong>Boussinesq, na qual os efeitos das variações <strong>de</strong> ρ são ignora<strong>dos</strong>, com exeção da induçãodo aparecimento <strong>de</strong> forças <strong>de</strong> flutuação. As forças <strong>de</strong> flutuação, proporcionais a (∆ρ)g,são linearizadas com respeito à temperatura, sendo então assumido que (∆ρ) = βρ 0 (∆t)é uma aproximação razoável. Alternativamente, utiliza-se também o grupo adimensionalRa = Gr P r = gβ(∆t)L3 = Número <strong>de</strong> Rayleigh, (4.22)νKjuntamente com P r para se estabelecer a similarida<strong>de</strong> dinâmica <strong>de</strong>stes escoamentos.Um outro grupo adimensional <strong>de</strong> importância prática em problemas <strong>de</strong> convecção é oNúmero <strong>de</strong> Nusselt. Este grupo adimensional envolve o fluxo <strong>de</strong> calor através <strong>de</strong> superfíciesem contato com flui<strong>dos</strong>. O número <strong>de</strong> Nusselt, Nu é <strong>de</strong>finido comoNu =q sLk(∆t) , (4.23)on<strong>de</strong> q s é o fluxo <strong>de</strong> calor através da superfície e k é o coeficiente <strong>de</strong> condutibilida<strong>de</strong>térmico. Nu representa a razão entre o fluxo <strong>de</strong> calor existente através da superfície eo fluxo <strong>de</strong> calor que existiria caso a transferência <strong>de</strong> calor ocorresse apenas através <strong>de</strong>mecanismos <strong>de</strong> condução térmica.Classes <strong>de</strong> escoamentos envolvendo ainda outros mecanismos físicos, tais como camposmagnéticos ou tensões superficiais em interfaces entre dois flui<strong>dos</strong> imiscíveis, sãocaracterizadas por ainda outros grupos adimensionais. Estes casos, entretanto, não serãoaborda<strong>dos</strong> neste curso.


Capítulo 5As Simplificações das Equações doMovimento e as Diferentes Classes<strong>de</strong> Problemas em Mecânica <strong>dos</strong>Flui<strong>dos</strong>A complexida<strong>de</strong> <strong>dos</strong> Problemas <strong>de</strong> Valor <strong>de</strong> Contorno obti<strong>dos</strong> através das equações domovimento e <strong>de</strong> condições <strong>de</strong> contorno apropriadas po<strong>de</strong>, para uma gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>escoamentos, ser reduzida através <strong>de</strong> Hipóteses Simplificadoras.Diferentes classes <strong>de</strong> escoamentos em Mecânica <strong>dos</strong> Flui<strong>dos</strong> são obtidas a partir dasdiferentes hipóteses simplificadoras admitidas. Algumas <strong>de</strong>ssas classes <strong>de</strong> escoamento (as<strong>de</strong> maior interesse prático) são analisadas a seguir.5.1 Escoamentos IncompressíveisOs escoamentos on<strong>de</strong> a compressibilida<strong>de</strong> do fluido po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>sprezada (i.e., ∆ ≃ 0)são chama<strong>dos</strong> escoamentos incompressíveis. Como já foi comentado, esta classe <strong>de</strong> escoamentosenvolve um <strong>de</strong>sacoplamento entre os campos <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> (e pressão) e <strong>de</strong>temperaturas. Apesar <strong>de</strong> o campo <strong>de</strong> temperaturas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r do escoamento, i.e., docampo <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>s, este último in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do primeiro. A <strong>de</strong>terminação <strong>dos</strong> campos<strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> e pressão é aqui um problema puramente mecânico, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>dos</strong>fenômenos termodinâmicos e <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> calor envolvi<strong>dos</strong>. Um outro aspecto interessante<strong>de</strong>sses escoamentos é que, uma vez que ρ é constante, perturbações no campo <strong>de</strong>pressão se ”propagam a velocida<strong>de</strong> infinita”, e, consequentemente, eles não apresentamo fenômeno das ondas <strong>de</strong> choque, ilustrado na seção (4.4). A equação do momento resultanteé parabólica (a equação 4.8 é hiperbólica), não admitindo <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>s nassuas soluções. Um escoamento incompressível tem Número <strong>de</strong> Mach nulo (M a = 0), pois,para eles, C −→ ∞.Para flui<strong>dos</strong> newtonianos, as equações do movimento para os escoamentos incompressíveissão a equação da continuida<strong>de</strong> e a equação <strong>de</strong> Navier-Stokes, que, ao assumir-seµ constante, tomam a forma50


51∇⃗u = 0,ρ D⃗uDt = ρ ⃗ f − ∇p + µ∇ 2 ⃗u. (5.1)5.1.1 Soluções Exatas para Escoamentos IncompressíveisSoluções exatas para PVC’s envolvendo as equações (5.1) só são obtidas para algunsescoamentos on<strong>de</strong> a geometria do contorno é relativamente simples. São apresentadasaqui as <strong>de</strong>terminações das soluções <strong>de</strong> duas classes <strong>de</strong> escoamentos simples, em regimepermanente: o escoamento <strong>de</strong> Hagen-Poiseuille e o escoamento <strong>de</strong> Couette.Escoamento <strong>de</strong> Hagen-PoiseuilleConsi<strong>de</strong>re o escoamento bidimensional incompressível <strong>de</strong> um fluido newtoniano em umcanal como mostra a Figura 5.1.Figura 5.1: Escoamento em um Canal Longo.Consi<strong>de</strong>rando ainda que o canal se “exten<strong>de</strong> infinitamente”na direção x, e que o escoamentoestá em regime permanente, a equação do momento se reduz a∇p = µ∇ 2 ⃗u, (5.2)quando inexistem forças <strong>de</strong> corpo atuando sobre o fluido.Aplicando-se a condição <strong>de</strong> não escorregamento em y = L e em y = −L, e uma vezque ⃗u = ⃗u(y), pois o campo <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>s in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> x neste caso, o PVC para oproblema é:∇p = µ d2 ⃗udy 2 para − L ≤ y ≤ L, (5.3)⃗u = 0 em y = L e em y = −L.O escoamento é <strong>de</strong>terminado pelas pressões na entrada e na saída do canal, e, como⃗u é invariante com x, então v = 0 ( v é a componente <strong>de</strong> ⃗u na direção y) e, portanto,∂p/∂y = 0. Ainda, as pressões na entrada e na saída <strong>de</strong>terminam o valor <strong>de</strong> dp/dx (queé constante em x), que é também assim uma ”condição <strong>de</strong> contorno”do problema.Assim,


52d 2 udy 2 = G µ ,∂pon<strong>de</strong> G =∂x , (5.4)on<strong>de</strong> u é a componente <strong>de</strong> ⃗u na direção x, cujas soluções gerais são do tipou = A + By + G 2µ y2 , (5.5)on<strong>de</strong> A e B são constantes arbitrárias.Aplicando-se agora as condições <strong>de</strong> contorno para u, tem-seeu = 0 em y = L ⇒ A + BL + G 2µ L2 = 0, (5.6)u = 0 em y = L ⇒ A − BL + G 2µ L2 = 0.O sistema <strong>de</strong> equações (5.6) tem como soluçãoA = −G2µ L2 , B = 0.Assim a solução para o perfil <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>s u = u(y) éu = G 2µ (y2 − L 2 ). (5.7)Portanto, a distribuição <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>s através do canal “bidimensional” ilustrado nafigura (5.1) apresenta uma distribuição parabólica, que é uma função <strong>de</strong> µ e do gradiente<strong>de</strong> pressão, G, imposto ao escoamento.A solução <strong>de</strong>scrita por (5.7) é instável. Para Re = u médio L/ν > R c , on<strong>de</strong> R c é um Recrítico, e escoamentos on<strong>de</strong> Re > R c apresentam um campo <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>s turbulento.O escoamento laminar através <strong>de</strong> um tubo circular é <strong>de</strong>nominado Escoamento <strong>de</strong>Hagen-Poiseuille (estudado por G. Hagen em 1839 e J. L. M. Poiseuille em 1840), tendovários aspectos similares ao escoamento ilustrado na Figura 5.1. O problema <strong>de</strong> valor <strong>de</strong>contorno para este escoamento é similar ao PVC (5.3);∇p = µ∇ 2 ⃗u, para − L ≤ z ≤ L,⃗u = 0 em z = L e em z = −L,on<strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas cilíndricas, (r, θ, z) é utilizado.Agora, ∇p = dp/dz = G, e como u r e u θ (componentes <strong>de</strong> ⃗u nas direções r e θ,respectivamente) são nulos, a equação do momento se reduz adpdz = u∇2 µ z ,on<strong>de</strong> u z é a componente <strong>de</strong> ⃗u na direção z.


53Em coor<strong>de</strong>nadas cilíndricas,∇ 2 u z = ∂2 u z∂r + 1 2 rComo, por hipótese, u = u(r), então(dpdz = µ d 2 u zdr + 1 2 re, integrando em r,∂ 2 u z∂rdu zdr+ 1 r 2 ∂ 2 u z∂θ 2)= u r+ ∂2 u z∂z 2 .( )dr du zdr dr,G r22 + C = µr du z, on<strong>de</strong> C = constante.drA solução geral da equação acima éu z = A + C µ ln r + G 4µ r2 .Como u z é contínuo e finito em r = 0, então C = 0. Como u z = 0 em z = −L e emz = L, entãou z = G 4µ (r2 − L 2 ). (5.8)e o perfil <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>s é igualmente parabólico neste caso.Experimentos realiza<strong>dos</strong> por Osborn Reynolds em 1883 <strong>de</strong>monstraram que escoa mentosem tubos são laminares para Re < 2000, aproximadamente (Re = µ médio L/ν). Atransição para a turbulência ocorre na faixa 2000 < Re < 10.000, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da intensida<strong>de</strong>das perturbações impostas ao escoamento.O escoamento <strong>de</strong> Hagen-Poiseville tem aplicações imediatas na solução <strong>de</strong> problemas<strong>de</strong> engenharia que envolvem o escoamento laminar em tubulações. Uma boa aproximaçãopara a perda <strong>de</strong> carga nestes escoamentos é obtida através da solução (5.8).O Escoamento <strong>de</strong> CouetteConsi<strong>de</strong>re o escoamento bidimensional e incompressível gerado pelo movimento <strong>de</strong>uma das superfícies sólidas <strong>de</strong> um canal, como mostra a Figura 5.2:Figura 5.2: O Escoamento <strong>de</strong> Couette Plano.


54Consi<strong>de</strong>rando ainda que o fluido é newtoniano, e que o canal se exten<strong>de</strong> infinitamentena direção x, o PVC para o problema po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrito como:µ d2 u= 0, em 0 ≤ y ≤ L, (5.9)dy2 u = 0 em y = 0 e u = L em y = L.Aqui, não existe um gradiente <strong>de</strong> pressão imposto ao problema, e, portanto ∇p = 0.Como a região fluida se exten<strong>de</strong> infinitamente na direção x, ⃗u = (u(y), 0).A solução geral da equação <strong>de</strong> domínio em (5.9) é:u = C 1 y + C 2 , (5.10)on<strong>de</strong> C 1 e C 2 são constantes arbitrárias. Aplicando as condições <strong>de</strong> contorno em y =L e y = 0, tem-seu = U y. (5.11)LA distribuição <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>s é linear neste caso, e o escoamento em questão é <strong>de</strong>nominadoescoamento <strong>de</strong> Couette.A solução <strong>de</strong>ste escoamento tem uma extensão imediata: o Escoamento <strong>de</strong> Couetteem rotação.Consi<strong>de</strong>re dois cilindros anulares concêntricos, infinitamente longos, cujo espaço anularentre eles é preenchido por um fluido newtoniano incompressível. Quando as velocida<strong>de</strong>sangulares <strong>dos</strong> cilindros são Ω e e Ω i , respectivamente, (ver Fig. 5.3), e não existe gradiente<strong>de</strong> pressão imposto ao escoamento, o campo <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>s é dado por:u θ = Ω eRe 2 − Ω 1 R 2 i(Re 2 − R 2 i ) r + (Ω i − Ω e )R 2 i Re 2(Re 2 − R 2 i )r . (5.12)on<strong>de</strong> ⃗u = (u r , u θ , u z ), e u r = u z = 0, ( (r, θ, z) = coor<strong>de</strong>nadas cilíndricas), pois o PVCpara o escoamento é dado porµ∇ 2 ⃗u = −∇p, em R i ≤ r ≤ Re (5.13)⃗u = (0, Ω i R i , 0) em r = R i , e ⃗u = (0, Ω e R e , 0) em r = R eAqui, não existe gradiente <strong>de</strong> pressão ao longo <strong>de</strong> z, <strong>de</strong> maneira que ∇p = (p(r), 0, 0),e ∂p/∂r simplesmente contrabalança a força centrífuga. Assim, ⃗u e ∇p são normais entresi e o PVC para u 0 écuja solução é (5.12).( dµ∇ 2 2 u θu θ = µdr 2+ 1 r)du θdr − u θ= 0, (5.14)r 2u θ = Ω i R i em r = R i ; u θ = Ω e Re em r = Re,


55Figura 5.3: O escoamento <strong>de</strong> Couette em rotação.O Escoamento <strong>de</strong> Couette em rotação encontra importantes aplicações práticas emproblemas <strong>de</strong> lubrificação com escoamentos laminares. O torque necessário para manteros cilindros da fig.(5.3) girando com velocida<strong>de</strong>s angulares constantes, por exemplo, po<strong>de</strong>ser obtido diretamente da expressão (5.12), pois as tensões locais <strong>de</strong> cisalhamento naspare<strong>de</strong>s <strong>dos</strong> cilindros são τ i = µ ∂u θ| ∂r r=R ie τ e = µ ∂u θ| ∂r r=Re respectivamente.Vários outros escoamentos teóricos possuem soluções exatas para as equações <strong>de</strong>Navier-Stokes, mas estas não estão incluídas no escopo <strong>de</strong>ste curso.Quando soluções exatas para as equações <strong>de</strong> Navier-Stokes não po<strong>de</strong>m ser encontradas,aproximações para as mesmas têm, muitas vezes, valor prático, quando o escoamentoapresenta Re ”muito gran<strong>de</strong>s”ou “muito pequenos”.5.2 Escoamentos on<strong>de</strong> Re −→ 0Os escoamentos on<strong>de</strong> o Número <strong>de</strong> Reynolds é ”muito pequeno”formam uma classe <strong>de</strong>escoamentos incompressíveis que apresentam fenômenos físicos particulares comuns. Escoamentoson<strong>de</strong> a viscosida<strong>de</strong> do fluido é <strong>de</strong>sprezível ou on<strong>de</strong> a massa específica do fluidoé <strong>de</strong>sprezível (ρ −→ 0, embora o escoamento seja ainda incompressível) são escoamentoson<strong>de</strong> Re −→ 0. Nestes casos, a pressão <strong>de</strong> referência ρU 2 utilizada em (3.89) para seadimensionalizar a pressão, é uma escala inapropriada, pois ela pressupõe que os feitos dainércia e da pressão tem a mesma or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za. Nos escoamentos on<strong>de</strong> Re −→ 0,os efeitos viscosos são dominantes e o campo das pressões <strong>de</strong>ve ter a mesma or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>magnitu<strong>de</strong> que os esforços viscosos para equilibrá-los.Uma pressão <strong>de</strong> referência mais apropriada quando Re −→ 0, ép =on<strong>de</strong> o asterisco <strong>de</strong>nota a pressão dimensional.p∗µU/L , (5.15)


56Utilizando-se a escala (5.15) para se adimensionalizar a equação <strong>de</strong> Navier-Stokes,tem-se:Re D⃗uDt = −∇p + ∇2 ⃗u. (5.16)Na equação (5.16), o termo à esquerda é <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> magnitu<strong>de</strong> menor que a <strong>dos</strong>outros termos quando Re ≪ 1, <strong>de</strong> maneira que a diferença entre ∇p e ∇ 2 ⃗u é da or<strong>de</strong>m<strong>de</strong> magnitu<strong>de</strong> do termo à esquerda. Este fato permite fazer-se uma aproximação paraa equação (5.16), cujos escoamentos por ela <strong>de</strong>scritos são <strong>de</strong>nomina<strong>dos</strong> Escoamentos <strong>de</strong>Stokes (Stokes propôs pela primeira vez tal aproximação em 1851).Escoamentos <strong>de</strong> StokesA aproximação sugerida por Stokes consiste em se abandonar o termo <strong>de</strong> pequenamagnitu<strong>de</strong> em (5.16), simplificando esta equação para a forma∇p = ∇ 2 ⃗u. (5.17)Os escoamentos governa<strong>dos</strong> por esta equação, <strong>de</strong>nomina<strong>dos</strong> Escoamentos <strong>de</strong> Stokes,possuem certas proprieda<strong>de</strong>s interessantes:Tomando-se o divergente <strong>de</strong> (5.17), tem-se:∇ 2 p = 0. (5.18)Assim, o campo das pressões po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>terminado in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do campo <strong>de</strong>velocida<strong>de</strong>s.O campo <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>terminado a partir da expressão:∇.∇ 2 ⃗u = ∇ 2 (∇ × ⃗u) = ∇ 2 ⃗ h = 0, (5.19)que mostra serem os campos <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> e vorticida<strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>dos</strong> unicamente peladifusão viscosa. Entretanto, a aproximação <strong>de</strong> Stokes não é unicamente válida para casoson<strong>de</strong> ∇⃗u −→ 0 em certas regiões do domínio, como nos casos <strong>de</strong> escoamentos ao redor <strong>de</strong>corpos on<strong>de</strong> a região fluida é infinitamente extensa. Quando ∇⃗u −→ 0, o termo ∇ 2 ⃗u em(5.16) é nulo, e, mesmo quando Re −→ 0, o campo das pressões é equilibrado por efeitosinerciais, isto é, o termo Red⃗u/Dt não po<strong>de</strong> ser eliminado <strong>de</strong> (5.16). C.W. Oseen apontoupela primeira vez, em 1910, o caráter não-uniforme das soluções <strong>de</strong> Stokes, e propôs umadiferente aproximação para (5.16), quando Re −→ 0: a aproximação <strong>de</strong> Oseen.A aproximação <strong>de</strong> OseenOseen <strong>de</strong>rivou, <strong>de</strong> uma maneira intuitiva, uma aproximação para a equação <strong>de</strong> Navier-Stokes, uniformemente válida em todo o domínio. Oseen argumentou que o termo (⃗u.∇)⃗una equação do momento po<strong>de</strong>ria ser substituído por ( ⃗ U.∇)⃗u, on<strong>de</strong> ⃗ U = ⃗u(|⃗x| −→ ∞)gerando uma equação aproximada quando Re −→ 0:∂u iρU j = − ∂p +∂2 u i, (5.20)∂x j ∂x i ∂x j ∂x j


57que, em notação vetorial, tem a formaρ( ⃗ U.∇)⃗u = −∇p + µ∇ 2 ⃗u. (5.21)A aproximação <strong>de</strong> Oseen produz uma solução cujos efeitos <strong>de</strong> ρ( ⃗ U.∇)⃗u perto do corposão <strong>de</strong>sprezíveis (efetivamente, da mesma or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za do erro cometido na aproximação<strong>de</strong> Stokes), mas, longe do corpo, os efeitos <strong>de</strong>ste termo passam a ser dominantese a solução continua válida em |⃗x −→ ∞.Só muitos anos mais tar<strong>de</strong> é que a aproximação <strong>de</strong> Oseen pô<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>duzida matematicamenteatravés da Teoria das Expansões Assintóticas Combinadas, introduzida porKaplun (1957) e Proudman & Pearson (1957). Essa teoria permite também a <strong>de</strong>duçãomatemática das aproximações das equações do movimento para a Camada Limite, propostaspor L. Prandtl em 1904, e obtidas através <strong>de</strong> <strong>de</strong>duções intuitivas. A Camada Limiteé um assunto que será abordado mais adiante neste texto.Os escoamentos <strong>de</strong> Stokes são quasi-permanentes, uma vez que o termo D⃗u/Dt em(5.16) é multiplicado por Re −→ 0. Estes escoamentos são também <strong>de</strong>nomina<strong>dos</strong> “CreepingFlows”.O escoamento axisimétrico <strong>de</strong> Stokes ao redor <strong>de</strong> uma esfera possui solução exata tantopara a aproximação <strong>de</strong> Stokes, cuja solução é( ) 2Ψ rr0U = −1 sen θ[2 1 + 1 ( ) 3 r0− 3 ( )]r0, (5.22)2 2 r 0 2 r 2 ron<strong>de</strong> (r, Θ) são coor<strong>de</strong>nadas cilíndricas sobre o plano que contém a direção do escoamentoprincipal (o escoamento é axisimétrico), r 0 é o raio da esfera, U é o módulo da velocida<strong>de</strong>para |⃗x| −→ ∞, e Ψ é um escalar (Função <strong>de</strong> Corrente Axisimétrica) tal queu r = 1 ∂Ψr 2 senθ ∂θ , u θ = − 1r senθquanto para a aproximação <strong>de</strong> Oseen, cuja solução é[Ψr0U = −1 22 4( ) 2 r+ r or 0 r]sen 2 θ − 32Re (1 + cos θ) [∂Ψ∂r ,1 − exp − Re]r(1 − cosθ) . (5.23)2 r 0Observe que a solução <strong>de</strong> Oseen é uma função <strong>de</strong> Re, e que, exceto quando r −→ ∞,o termo exponencial po<strong>de</strong> ser expandido em uma Série <strong>de</strong> Taylor em torno <strong>de</strong> Re = 0,quando Re −→ 0, resultando emΨr0U = 1 [ ) 2 ( ) ( )r r r2(− 3 + +2 4 r 0 r 0 r 0( )]r0senθ + Re(...). (5.24)rAssim, quando Re −→ 0 a solução <strong>de</strong> Oseen −→ solução <strong>de</strong> Stokes, exceto quandor −→ 0. Quando r −→ ∞ a aproximação <strong>de</strong> Stokes per<strong>de</strong> a valida<strong>de</strong>, mas a aproximação<strong>de</strong> Oseen continua válida.No caso <strong>de</strong> escoamentos bidimensionais, a solução geral <strong>de</strong> Stokes para o escoamento aoredor <strong>de</strong> um corpo cilíndrico não po<strong>de</strong> satisfazer as condições <strong>de</strong> contorno no infinito poiso termo logarítmico que aparece na solução diverge rapidamente. Esta impossibilida<strong>de</strong>


58<strong>de</strong> se encontrar uma solução <strong>de</strong> Stokes para o problema plano é <strong>de</strong>nominada Paradoxo <strong>de</strong>Stokes. A solução <strong>de</strong> Oseen, entretanto, existe também neste caso.5.2.1 Escoamentos on<strong>de</strong> Re −→ ∞Os escoamentos incompressíveis on<strong>de</strong> Re −→ ∞ formam, talvez, a classe <strong>de</strong> escoamentos<strong>de</strong> maior interesse para os problemas <strong>de</strong> engenharia.Em princípio, Re −→ ∞ significa que as forças <strong>de</strong> origem inercial são dominantes, e aviscosida<strong>de</strong> tem papel secundário na <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong>sses escoamentos.A Equação <strong>de</strong> EulerUma aproximação para a equação <strong>de</strong> Navier-Stokes quando Re −→ ∞ é aEquação <strong>de</strong> Euler, que exprime a conservação da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimento para flui<strong>dos</strong>não-viscosos (quando inexistem forças <strong>de</strong> corpo):ρ D⃗u = −∇p. (5.25)DtTorna-se interessante observar que, aqui, o termo <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> maior or<strong>de</strong>m (∇ 2 ⃗ufoi eliminado, <strong>de</strong> maneira que (5.25) exige um número <strong>de</strong> condições <strong>de</strong> contorno menorque (5.1-b). Uma vez que (5.25) <strong>de</strong>screve o comportamento <strong>de</strong> um fluido não-viscoso,a condição <strong>de</strong> não-escorregamento exigida quando (5.1-b) é utilizada é substituída pelacondição <strong>de</strong> impermeabilida<strong>de</strong>. Esta condição exige apenas que as componentes normaisda velocida<strong>de</strong> sejam contínuas através <strong>de</strong> interfaces sólido-fluido ou fluido-fluido, e <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>sna componente tangencial <strong>de</strong> ⃗u através <strong>de</strong>ssas interfaces são característicasdas soluções <strong>de</strong>sses PVCs.Quando as únicas forças <strong>de</strong> corpo atuantes sobre o fluido são forças gravitacionais<strong>de</strong>vidas a um campo uniforme ⃗g = g ⃗ k, a equação correspon<strong>de</strong>nte a (5.25) é:ouρ D⃗uDt = −ρg⃗ k − ∇p, (5.26)ou ainda:(⃗u ∇)⃗u + g ⃗ k + ∇pρ= ∂⃗u∂t ,∇(1/2⃗u.⃗u + gz + p/ρ) = ⃗u × ⃗ h − ∂⃗u/∂t, (5.27)on<strong>de</strong> z é a componente do vetor posição na direção ⃗ k.Para escoamentos irrotacionais e em regime permanente ⃗z = 0 e ∂⃗u/∂t =, <strong>de</strong> maneiraqueon<strong>de</strong> H é uma constante.12 ⃗u.⃗u + gz + p ρ= H, (5.28)


59A expressão (5.28) é conhecida como a Equação <strong>de</strong> Bernoulli, on<strong>de</strong> os termos domembro esquerdo representam a energia cinética, a energia potencial gravitacional, e apressão, por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> massa, respectivamente. A soma <strong>de</strong>stas três parcelas é usualmente<strong>de</strong>nominada “head”, que é uma gran<strong>de</strong>za conservada nesses escoamentos.Escoamentos em regime permanente on<strong>de</strong> ⃗ h ≠ 0, isto é, escoamentos rotacionais, nãosatisfazem (5.28) em toda a região fluida. Nestes casos, (5.28) só é válida sobre as superfíciesformadas pelas linhas <strong>de</strong> corrente e pelas linhas <strong>de</strong> vorticida<strong>de</strong> (curvas ao longodas quais ⃗ h é tangente a elas) – as superfícies <strong>de</strong> Lamb – pois ⃗u × ⃗ h é normal à estassuperfícies.Assim, em escoamentos rotacionais (em regime permanente), o “head” é constanteunicamente ao longo <strong>de</strong> superfícies <strong>de</strong> Lamb, e, em diferentes regiões do escoamento, ofluido tem diferentes “heads” (energia “total”), conserva<strong>dos</strong>, obviamente, ao longo daslinhas <strong>de</strong> corrente.Os escoamentos rotacionais on<strong>de</strong> ⃗u e ⃗ h são colineares constituem uma exceção às consi<strong>de</strong>raçõesacima, uma vez que, nesses casos, ⃗u × ⃗ h = 0, e o escoamento satisfaz (5.28) emtodo o domínio. Escoamentos on<strong>de</strong> ⃗u × ⃗ h = 0 são <strong>de</strong>nomina<strong>dos</strong> Escoamentos <strong>de</strong> Beltrami(E. Beltrami investigou esses escoamentos em 1889).A aproximação da equação <strong>de</strong> Navier-Stokes pela equação <strong>de</strong> Euler conduz, entretanto,a soluções não-uniformemente válidas em todo o domínio. Perto <strong>de</strong> uma interface sólidolíquido,por exemplo, a velocida<strong>de</strong> local po<strong>de</strong> ser “pequena” o suficiente, <strong>de</strong> maneira que,localmente, os efeitos da viscosida<strong>de</strong> sejam importantes.No escoamento bidimensional ao redor do cilindro da fig. 3.6, por exemplo, a magnitu<strong>de</strong>do campo <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>s é proporcional a | ⃗ U o |, mas, junto à superfície do cilindro,⃗u = 0, e os efeitos viscosos são dominantes nessa região, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> Re. Aregião do escoamento junto ao corpo é, portanto, uma região on<strong>de</strong> as soluções da equação<strong>de</strong> Euler não são válidas e somente soluções da equação completa <strong>de</strong> Navier-Stokes po<strong>de</strong>msatisfazer a condição <strong>de</strong> não-escorregamento na pare<strong>de</strong> do corpo. Assim, as soluções daequação <strong>de</strong> Euler são válidas em quase toda a região fluida, com exceção <strong>de</strong> uma regiãojunto a superfície do corpo: a Camada Limite.A Camada LimiteA região <strong>de</strong> um escoamento que se encontra junto a uma superfície sólida apresenta,geralmente, eleva<strong>dos</strong> gradientes no campo <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>s. Tais regiões são <strong>de</strong>nominadasCamadas Limites.Uma placa <strong>de</strong> espessura <strong>de</strong>sprezível, por exemplo, quando colocada longitudinalmentea um escoamento uniforme, “perturba” este escoamento, pois a velocida<strong>de</strong> relativa dofluido junto à sua superfície é nula, enquanto que em regiões “não muito próximas” àplaca |⃗u| é da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za <strong>de</strong> | ⃗ U ∞ | (ver Figura 5.4).Assim, enquanto o campo <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>s satisfaz aproximadamente a equação <strong>de</strong> Eulerfora da camada limite, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la isto não acontece.L.Prandtl <strong>de</strong>duziu intuitivamente, em 1904, aproximações para a equação <strong>de</strong> Navier-Stokes para a região da Camada Limite. Mais tar<strong>de</strong>, a Teoria das Expansões AssintóticasCombinadas, comentadas na seção 5.1.2.2 formalizaram este procedimento e permitirama <strong>de</strong>dução das correções <strong>de</strong> or<strong>de</strong>ns superiores para as aproximações <strong>de</strong> Prandtl. O estudo<strong>de</strong>sta teoria não está, entretanto, <strong>de</strong>ntro do escopo <strong>de</strong>ste curso.


60Figura 5.4: Placa plana em corrente uniforme.Prandtl argumentou que, sendo y a coor<strong>de</strong>nada na direção localmente normal à superfíciesólida, e x a coor<strong>de</strong>nada na direção local do escoa mento, o termo ∂ 2 u/∂x 2 naequação <strong>de</strong> Navier- Stokes para a componente u <strong>de</strong> ⃗u (u = componente <strong>de</strong> ⃗ U na direçãox) é pequeno em comparação com ∂ 2 u/∂y 2 , <strong>de</strong> maneira que∂u∂t + u∂u ∂x + v ∂u∂y = −1 ρ∂p∂x + ν ∂2 u∂y , (5.29)2on<strong>de</strong> v é a componente <strong>de</strong> ⃗u na direção y, é uma aproximação “razoável” para Navier-Stokes. Como v é “pequeno”, a equação <strong>de</strong> Navier-Stokes na direção y é simplesmenteaproximado por∂p∂y= 0, (5.30)e, portanto, p = p(x) nesta aproximação.Assim, na Camada Limite, (5.29) e (5.30) são aproximações para as equações <strong>de</strong>Navier-Stokes, sendo <strong>de</strong>nominadas Equações <strong>de</strong> Prandtl para a Camada Limite.O PVC para o escoamento na meta<strong>de</strong> superior da região fluida da Fig. 5.4 fica sendoentãou ∂u∂x + v ∂u∂y = −1 ρ∂u∂x + ∂v∂y∂p∂x + ν ∂2 uem 0 ≤ y < δ, (5.31)∂y2 = 0, em 0 ≤ y < δ,u = v = 0 em y = 0; u = U ∞ , v = 0 em y −→ δ,on<strong>de</strong> δ é uma distância tal que u −→ U ∞ (x, t) quando y −→ δ.Para uma placa infinitamente longa, (5.31) tem solução exata (que não é válida “perto”<strong>dos</strong> bor<strong>dos</strong> da placa), conhecida como Solução <strong>de</strong> Blasius, válida para camadas limiteslaminares.Um estudo específio das camadas limites não se enquadra no escopo <strong>de</strong>ste curso, masas consequências que a existência <strong>de</strong>ssas regiões têm sobre o comportamento global <strong>de</strong>um escoamento são importantes. O fenômeno da Separação, por exemplo, é associado


61à camada limite junto a superfícies sólidas, mas seus efeitos não se restringem à regiãopróxima à superfície do corpo. Consi<strong>de</strong>re o escoamento bidimensional ao redor <strong>de</strong> umcilindro, por exemplo. Junto às pare<strong>de</strong>s do cilindro forma-se uma camada limite, que, porrazões que serão abordadas mais tar<strong>de</strong>, separam-se do corpo, e se exten<strong>de</strong>m ao longo daesteira do cilindro. Assim, a camada limite se forma junto ao corpo, mas po<strong>de</strong> se separardo mesmo, formando uma Camada <strong>de</strong> Cisalhamento Livre (a camada limite é uma camadaon<strong>de</strong> o cisalhamento é intenso, quando comparado às outras regiões do escoamento) queinfluencia o escoamento mesmo a “gran<strong>de</strong>s distâncias” do corpo.Assim, escoamentos a altos Re são constituí<strong>dos</strong> , geralmente, por extensas regiões on<strong>de</strong>o escoamento é praticamente irrotacional, e regiões limitadas formadas por Camadas <strong>de</strong>Cisalhamento Livre e/ou Camadas Limites. Nas Camadas <strong>de</strong> Cisalhamento Livre e nasCamadas Limites o escoamento é essencialmente rotacional. Nas regiões irrotacionais oescoamento tem proprieda<strong>de</strong>s interessantes.Escoamentos PotenciaisEm regiões <strong>de</strong> um escoamento incompressível on<strong>de</strong> o fluido escoa irrotacionalmente, ocampo <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>s satisfaz a relação∇ × ⃗u = 0. (5.32)Como ∇ × (∇φ) = 0, quando φ é um campo escalar, campos <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>s que satisfazem(5.32) po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>scritos pelo campo escalar φ, on<strong>de</strong>e para que ⃗u satisfaça a equação da continuida<strong>de</strong>,⃗u = ∇φ, (5.33)∇ 2 φ = 0. (5.34)Assim, estes escoamentos são <strong>de</strong>scritos por um Potencial <strong>de</strong> Velocida<strong>de</strong>, Θ, e sãochama<strong>dos</strong> Escoamentos I<strong>de</strong>ais ou Escoamentos Potenciais.Como∇ 2 ⃗u =∂2 u i∂x j ∂x j=∂ 3 φ∂x j ∂x j ∂x i= ∇(∇ 2 φ) = 0,então os efeitos da viscosida<strong>de</strong> são nulos em escoamentos irrotacionais.A equação do momento (5.27), neste caso, tem a forma[ 1∇2 (∇φ)2 + gz +ρ]p = ∂(∇φ) , (5.35)∂tque, uma vez integrada, fornece a equação da energiaon<strong>de</strong> f(t) é uma função somente <strong>de</strong> t.Para escoamentos em regime permanente,12 (∇φ)2 + gz + p ρ = ∂(∇φ) + f(t), (5.36)∂t


6212 (∇φ)2 + gz + p ρ= H, (5.37)on<strong>de</strong> H é uma constante (o “Head”).Em regimes transientes, a função <strong>de</strong> integração f(t) po<strong>de</strong> ser absorvida por φ, umavez que f(t) é uma função unicamente <strong>de</strong> t (φ em (5.36) po<strong>de</strong> ser re<strong>de</strong>finido como sendoum φ ∗ = φ + F (t), tal que F ′ (t) = f(t)). Assim, o campo escalar φ que satisfaz∇ 2 φ = 0, (5.38)12 (∇φ2 ) + g + z + p ρ = ∂φ∂t ,representa o potencial <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> do escoamento <strong>de</strong> um fluido i<strong>de</strong>al (incompressível eirrotacional, e, consequentemente não viscoso).Deve-se lembrar que, como o termo viscoso da equação <strong>de</strong> Navier-Stokes é i<strong>de</strong>nticamentenulo nesses casos, as condições <strong>de</strong> contorno a serem utilizadas em interfacesfluido-sólido ou fluido-fluido <strong>de</strong>vem envolver somente as componentes normais da velocida<strong>de</strong>.Uma exceção à esta regra é a interface fluido irrotacional – fluido rotacional, on<strong>de</strong>a condição <strong>de</strong> não escorregamento po<strong>de</strong> ser exigida.A redução das equações do movimento às equações <strong>de</strong> Laplace e Bernoulli, (5.38), éuma simplificação que reduz significativamente a complexida<strong>de</strong> do problema. De maneirageral, bastam a equação <strong>de</strong> Laplace e as condições <strong>de</strong> contorno para φ para se <strong>de</strong>terminarunicamente o campo <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>s, e a equação <strong>de</strong> Bernoulli fornece o campo das pressõesem função do primeiro. Vários méto<strong>dos</strong> analíticos po<strong>de</strong>n ser utiliza<strong>dos</strong> na <strong>de</strong>terminaçãodas soluções da equação <strong>de</strong> Laplace, e teorias sobre a existência e unicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas soluçõessão assuntos clássicos no estudo das equações diferenciais. O estudo <strong>de</strong>sses méto<strong>dos</strong>,entretanto, não está no escopo <strong>de</strong>ste curso.Um exemplo <strong>de</strong> um Escoamento Potencial é o escoamento bidiemsional incompressívele irrotacional ao redor <strong>de</strong> um cilindro. O PVC para este escoamento teórico, em regimepermanente, é:∇ 2 φ = 0;12 (∇φ)2 + p φ = 1 2 U 2 ∞ + P ∞ , em r > r 0 , (5.39)DfDt =, em f = 0, on<strong>de</strong> f = r − r 0,∇φ → ⃗ U ∞ quando r → ∞,on<strong>de</strong> U ⃗ ∞ e P ∞ são a velocida<strong>de</strong> e a pressão longe do cilindro <strong>de</strong> raio r 0 , e (r, θ) sãocoor<strong>de</strong>nadas cilíndricas.Uma solução que satisfaz a Equação <strong>de</strong> Laplace e as condições <strong>de</strong> contorno para ocampo <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>s é:)φ(r, θ) = − U ∞(r + r2 0rcosθ, (5.40)


63cujo campo <strong>de</strong> pressões à ela associado é, através da Equação <strong>de</strong> Bernoulli,p(r, θ) = 1 [ ( ) ( ) 2 2 ]2 ρU ∞2 1− 1− r2 0cos 2 θ− 1− r2 ∞sen 2 θ = 1 []r 2 r 2 2 ρU ∞2 2 r2 0r 2 cos2 θ − r2 ∞r 2(5.41)on<strong>de</strong> P ∞ = 0.Esta solução é simétrica com relação à direção normal ao fluxo e, consequentemente,a força <strong>de</strong> arrasto obtida ao se integrar a pressão sobre a superfície do cilindro é nula. Talresultado é <strong>de</strong>nominado Paradoxo <strong>de</strong> D’Alembert.Uma outra solução para (5.39) é:φ(r, θ) = −U ∞(r + r2 0r)cosθ + Γθ2π , (5.42)on<strong>de</strong> Γ é uma constante. O potencial Γθ/2π correspon<strong>de</strong> a um escoamento circulatórioao redor do cilindro, como mostra a Fig. 5.5.Figura 5.5: Linhas <strong>de</strong> Corrente para o Potencial Γθ/2π.Como ∇ é um operador linear, o campo <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>s representado em (5.42) é asoma vetorial do campo <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> (5.40), e do campo <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>scrito por(Γθ/2Π). As linhas <strong>de</strong> corrente para ambos campos estão representadas na Fig. 5.6.O campo das pressões do escoamento apresentado por (5.42) é assimétrico com relaçãoà direção do escoamento, quando Γ ≠ 0, e, apesar da força <strong>de</strong> arraste ser nula tambémnestes casos,Γ ≠ 0 provoca o aparecimento <strong>de</strong> uma força transversal à direção principaldo escoamento, <strong>de</strong>nominada Força <strong>de</strong> Sustentação.O potencial (5.42) representa um escoamento on<strong>de</strong> a circulação em torno do cilindroé não-nula. A circulação em qualquer região fechada do plano (r, θ) que não contenha ocilindro, é nula, pois


64Figura 5.6: Linhas <strong>de</strong> Corrente para o Escoamento Potencial em Torno <strong>de</strong> um Cilindro:(a) com Circulação Nula, (b) com Circulação Negativa.e, pelo Teorema <strong>de</strong> Stokes (veja (1.20)),∫ ∫⃗u.⃗t dl = (∇ × ⃗u).⃗n dsl∫C(l) = ⃗u.⃗t dl (5.43)Son<strong>de</strong> S é a superfície <strong>de</strong>finida pela curva fechada l (veja fig. (5.7)). Regiões contendoo cilindro, contém, na verda<strong>de</strong>, uma singularida<strong>de</strong>, pois os potenciais (5.40) e (5.42) são<strong>de</strong>fini<strong>dos</strong> mesmo para r ≤ r o , exceto quando r −→ 0, pois Θ −→ ∞ quando r −→0. Assim, o escoamento <strong>de</strong>scrito pelo potencial (5.40), cujas linhas <strong>de</strong> corrente estãorepresentadas na Fig. 5.7, representa o escoamento ao redor do cilindro, por possuir umalinha <strong>de</strong> corrente fechada que coinci<strong>de</strong> geometricamente com a pare<strong>de</strong> do cilindro. Quandoa curva C em (5.43) <strong>de</strong>fine uma superfície S que contém a singularida<strong>de</strong>, a integral (5.43)não é mais nula, e a circulação da superfície S é Γ.lFigura 5.7: Linhas <strong>de</strong> Corrente para o Escoamento Representado pelo Potencial (5.40).A constante Γ em (5.42) é a própria circulação C, <strong>de</strong>finida em (5.43) e (5.42) representao escoamento em torno <strong>de</strong> um cilindro “gigante”. A rotação do cilindro induz ummovimento circulatório do fluido que o cerca, que po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrito pelo potencial Γθ/2π,na região irrotacional do escoamento.A força da sustentação em aerofólios tem origem circulatória, po<strong>de</strong>ndo ser estimadaatravés da anàlise do escoamento potencial em torno <strong>dos</strong> mesmos.


65Entretanto, por causa da separação da Camada Limite, escoamentos com os aspectosilustra<strong>dos</strong> na fig.(5.6) não são encontra<strong>dos</strong> na natureza.De maneira geral, as regiões <strong>dos</strong> escoamentos ao redor <strong>de</strong> corpos on<strong>de</strong> o fluido escoarotacionalmente são limitadas a camadas <strong>de</strong> “pequena espessura”, on<strong>de</strong> a principal consequênciada viscosida<strong>de</strong> não é a dissipação <strong>de</strong> energia mecânica, mas, simplesmente, a<strong>de</strong> induzir a formação <strong>de</strong>ssas camadas.Assim, Camadas <strong>de</strong> Cizalhamento Livre tem sido mo<strong>de</strong>ladas como regiões on<strong>de</strong> oescoamento é não-viscoso, mas rotacional. As análises das interações entre regiões rotacionaise regiões irrotacionais <strong>de</strong> um escoamento são geralmente realizadas com base emresulta<strong>dos</strong> clássicos obti<strong>dos</strong> no estudo da Dinâmica da Vorticida<strong>de</strong>.A Dinâmica da Vorticida<strong>de</strong>Para se compreen<strong>de</strong>r as interações entre regiões rotacionais e regiões irrotacionais <strong>de</strong>um escoamento (usualmente, escoamentos on<strong>de</strong> Re −→ ∞) é necessário se estudar adinâmica das regiões rotacionais do mesmo, i.e., a Dinâmica da Vorticida<strong>de</strong>.A Equação da Vorticida<strong>de</strong> é obtida ao se tomar o rotacional da equação do momento.Para flui<strong>dos</strong> Newtonianos,D ⃗ hDt = ⃗ h.∇u + ν∇ 2 ⃗ h. (5.44)Torna-se interessante observar que a Equação da Vorticida<strong>de</strong> não envolve o campo daspressões do escoamento.O termo D ⃗ h/Dt em (5.44) representa a <strong>de</strong>rivada material da vorticida<strong>de</strong>, i.e., a taxa<strong>de</strong> variação da vorticida<strong>de</strong> <strong>de</strong> elementos materiais infinitesimais <strong>de</strong> fluido, e o termo ν∇ 2 ⃗ hrepresenta a difusão molecular local da vorticida<strong>de</strong> no escoamento. Ambos termos sãosimilares aos termos D⃗u/Dt e ν∇ 2 ⃗u da equação do movimento.O termo ⃗ h.∇⃗u por outro lado, não tem similar na equação do movimento, e teminterpretação física interessante, que confere um caráter distinto às variações da vorticida<strong>de</strong>.Consi<strong>de</strong>re uma Linha <strong>de</strong> Vorticida<strong>de</strong> cuja representação paramétrica seja ⃗r = ⃗r(S),on<strong>de</strong> S é o comprimento <strong>de</strong> arco, medido a partir <strong>de</strong> um ponto arbitrário, ρ, da linha <strong>de</strong>vorticida<strong>de</strong>, conforme mostra a Fig. 5.8.Figura 5.8: Segmento <strong>de</strong> uma Linha <strong>de</strong> Vorticida<strong>de</strong>.Sendo δ⃗u a velocida<strong>de</strong> relativa no ponto Q, que dista S <strong>de</strong> P (δ⃗u = ⃗u q − ⃗u p ), o limite


66δ⃗ulims→0 S = lim δ⃗u|δ⃗r|→0 |δ⃗r| ,representa a taxa <strong>de</strong> variação local do vetor δ⃗r, que liga P a Q, on<strong>de</strong>, agora, P e Qsão pontos materiais sobre a linha material que coinci<strong>de</strong> instantaneamente com a linha<strong>de</strong> vorticida<strong>de</strong>. A componente tangencial <strong>de</strong> δ⃗u existe <strong>de</strong>vido ao “esticamento” local dalinha material, e a componente normal <strong>de</strong> δ⃗u é <strong>de</strong>vida à “rotação” local da linha material.Entretanto,lim|δ⃗r|→0on<strong>de</strong> ⃗t é um unitário tangente. Assim,δ⃗u|δ⃗r| = ⃗t.δ⃗u,⃗ h.∇⃗u = | ⃗ h| ⃗t.∇⃗u = | ⃗ δ⃗uh| limS→0 S .Portanto, a contribuição <strong>de</strong> ⃗ h.∇⃗u para D ⃗ h/Dt tem duas componentes: uma provenienteda rotação rígida do elemento linear (<strong>de</strong>vida à componente <strong>de</strong> δ⃗u normal a ⃗ h).Assim, as variações <strong>de</strong> ⃗ h provenientes <strong>de</strong>ste termo são similares às variações <strong>de</strong> δ⃗r (δ⃗r =vetor que liga P a Q, on<strong>de</strong> P e Q são pontos materiais sobre a linha <strong>de</strong> vorticida<strong>de</strong>), e avariação da vorticida<strong>de</strong> ⃗ h se relaciona à variação do elemento linear <strong>de</strong> fluido δ⃗r atravésda relação⃗ h(t)⃗ h(t0 ) = δ⃗r(t)δ⃗r(t 0 ) . (5.45)O resultado (5.45) <strong>de</strong>rivado primeiramemte por Cauchy, é <strong>de</strong> fundamental importânciapara escoamentos on<strong>de</strong> Re −→ ∞, pois, nesses casos, a difusão da vorticida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser<strong>de</strong>sprezada, e a Equação da Vorticida<strong>de</strong> se reduz aD ⃗ hDt = ⃗ h.∇⃗u. (5.46)Aqui, o escoamento é rotacional, mas não-viscoso. Nesses casos (5.45) é válida emtodo o escoamento (exceto on<strong>de</strong> a difusão <strong>de</strong> h é importante), e, portanto, a <strong>de</strong>rivadamaterial da vorticida<strong>de</strong> no ponto x = x 0 é <strong>de</strong>terminada pela taxa <strong>de</strong> variação do elementolinear <strong>de</strong> fluido paralelo à linha <strong>de</strong> vorticida<strong>de</strong> em ⃗x 0 .Quando o escoamento satisfaz (5.46), a vorticida<strong>de</strong> ⃗ h no ponto ⃗x 0 , no instante t 0 , on<strong>de</strong>⃗x 0 é a posição em t 0 , do ponto material que ocupa a posição ⃗x em t, através da relaçãoh i (⃗x, t) = h j (⃗x 0 , t 0 ) ∂x i∂x 0j. (5.47)Uma consequência importante <strong>de</strong> (5.45) é que, em flui<strong>dos</strong> não-viscosos, as linhas <strong>de</strong>vorticida<strong>de</strong> são linhas materiais. Isto acontece porque, nesses escoamentos, não existe adifusão molecular da vorticida<strong>de</strong>, que se constitui no único mecanismo através do qual avorticida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser transferida através das superfícies <strong>de</strong> contorno do elemento material<strong>de</strong> fluido.


67Consi<strong>de</strong>re, agora, um elemento material infinitesimal <strong>de</strong> fluido <strong>de</strong>finido pelo vetor δ⃗r,paralelo à vorticida<strong>de</strong> local, e pelas superfícies infinitesimais d⃗s (δ⃗r e δ⃗s são paralelos),conforme mostra a Fig. 5.9.Figura 5.9: Elemento Material Orientado Segundo ⃗ h.Como o volume δ⃗r.δ⃗s do elemento é constante (fluido incompressível), então o produto⃗ h.δ⃗s para o elemento é também constante, tendo-se em vista (5.45). A consequência distoé que a circulação, C(t), em torno <strong>de</strong> qualquer curva fechada no escoamento, dada por∮ ∫ ∫C(t) = ⃗u.d⃗c = ⃗ h.δ⃗s, (5.48)on<strong>de</strong> S é uma superfície arbitrária que contém C, δ⃗c é o vetor elementar <strong>de</strong> comprimentotangente a C, e δ⃗s o vetor elementar <strong>de</strong> área normal a S, é constante.Assim, DC/Dt = 0, é a circulação conservada em elementos materiais quando adifusão molecular <strong>de</strong> ⃗ h é nula. Este é o Teorema da Circulação <strong>de</strong> Kelvin, <strong>de</strong>duzido porLord Kelvin em 1869.Da mesma forma que as linhas <strong>de</strong> corrente que passam por curvas fechadas arbitráriasno escoamento constituem tubos <strong>de</strong> corrente, linhas <strong>de</strong> vortici da<strong>de</strong> constituem linhas <strong>de</strong>vorticida<strong>de</strong>. Como as linhas <strong>de</strong> vorticida<strong>de</strong> contidas no tubo tem circulação δC constante,a circulação∫ ∫C = dcdo tubo também é constante (quando a difusão molecular <strong>de</strong> ⃗ h é <strong>de</strong>sprezível) e o tubo <strong>de</strong>vorticida<strong>de</strong> move-se com o fluido.Consi<strong>de</strong>re um escoamento on<strong>de</strong> toda a vorticida<strong>de</strong> esteja concentrada em um tubo<strong>de</strong> vorticida<strong>de</strong>, um vórtice tubo neste caso, e C é “esticado” pelo escoamento, <strong>de</strong> maneiraque a área <strong>de</strong> sua seção transversal seja reduzida a um infinitésimo; a vorticida<strong>de</strong>,supostamente constante sobre a superfície <strong>de</strong> área infinitesimal, cresce assintoticamente,pois a circulação do tubo permanece constante. A configuração limite <strong>de</strong>ste tubo, quandoσ ⃗ S −→ 0 e ⃗ h −→ 0 tal que ⃗ h.δ⃗s = C, é chamada Linha <strong>de</strong> Vórtice, cuja intensida<strong>de</strong> Γ, éa circulação C.sS


68É interessante observar que a intensida<strong>de</strong> Γ <strong>de</strong> um vórtice é uniforme ao longo domesmo, e que, portanto, eles não po<strong>de</strong>m se iniciar ou terminar no interior da regiãofluida. Vórtices sempre se iniciam e terminam no contorno da região fluida, ou formampercursos fecha<strong>dos</strong> <strong>de</strong>ntro da mesma.Torna-se interessante observar também que, como a circulação em torno <strong>de</strong> qualquercurva fechada da região fluida <strong>de</strong> um escoamento não-viscoso é constante, regiões irrotacionais<strong>dos</strong> mesmos permanecem irrotacionais.As proprieda<strong>de</strong>s da vorticida<strong>de</strong> representadas pelas equações (5.46) e (5.47) são <strong>de</strong>fundamental importância na simulação numérica <strong>de</strong> escoamentos a altos Re, on<strong>de</strong> asregiões on<strong>de</strong> existe cizalhamento são mo<strong>de</strong>ladas por escoamentos rotacionais <strong>de</strong> flui<strong>dos</strong>não-viscosos. A circulação é conservada nesses casos, e a “geração” <strong>de</strong> vorticida<strong>de</strong> sóexiste junto a contornos da região fluida. O fluxo <strong>de</strong> vorticida<strong>de</strong> através <strong>de</strong> uma pare<strong>de</strong>sólida (a “geração” <strong>de</strong> vorticida<strong>de</strong>) se relaciona ao campo <strong>de</strong> pressões da relação∂p∂s = ν ∂h∂n , (5.49)on<strong>de</strong> h = | ⃗ h|, s é uma coor<strong>de</strong>nada tangente à superfície e normal a ⃗ h, e n é a coor<strong>de</strong>nadanormal à superfície. A expressão (5.49) é obtida diretamente através das equações <strong>de</strong>Navier-Stokes.Em simulações numéricas <strong>de</strong> escoamentos bidimensionais a altos Re, tem se mo<strong>de</strong>ladoas regiões rotacionais do escoamento através <strong>de</strong> “nuvens” <strong>de</strong> vórtices pontuais, cujomovimento é <strong>de</strong>terminado através <strong>de</strong> méto<strong>dos</strong> Lagrangeanos, on<strong>de</strong> os vórtices são pontosmateriais do fluido.Regiões rotacionais <strong>de</strong>sses escoamentos, quando restritas unicamente a camadas <strong>de</strong>pouca espessura, po<strong>de</strong>m ainda ser mo<strong>de</strong>ladas como uma Lâmina <strong>de</strong> Vórtices, γ, é <strong>de</strong>finidacomo⃗γ = limδn→0δ ⃗ h δn δs,on<strong>de</strong> ⃗ h é o vetor vorticida<strong>de</strong>, δn é a espessura da lâmina e δs um comprimento infinitesimalunitário na direção normal a ⃗ h sobre a lâmina. Quando o limite δn −→ 0 é tomado,δ ⃗ h −→ ∞, <strong>de</strong> mo<strong>de</strong> que δ ⃗ h δn converge.Uma proprieda<strong>de</strong> interessante das lâminas <strong>de</strong> vórtices é que ⃗γ = ⃗u a − ⃗u b , on<strong>de</strong> ⃗u a e ⃗u bsão os vetores velocida<strong>de</strong> em cada lado da lâmina, junto à ela.5.2.2 As Simplificações para os Escoamentos BidimensionaisOs escoamentos bidimensionais são uma classe <strong>de</strong> escoamentos que permitem uma série<strong>de</strong> simplificações específicas nos PVCs que os <strong>de</strong>finem.A primeira <strong>de</strong>ssas simplificações diz respeito ao campo <strong>de</strong> vorticida<strong>de</strong>: nos escoamentosplanos, o vetor velocida<strong>de</strong> tem apenas duas componentes não nulas, ⃗u 1 na direção ⃗i nadireção ⃗i e ⃗u 2 na direção j, por exemplo, <strong>de</strong> modo que o vetor vorticida<strong>de</strong>)⃗(∂u 3 h = − ∂u 2⃗i+∂x 2 ∂x 3()∂u 1− ∂u 3⃗j+∂x 3 ∂x 1(∂u 2∂x 1− ∂u 1∂x 2)⃗ k,


69tem componente não nula unicamente na direção ⃗ k, uma vez que ⃗u in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> x 3 , eu 3 = 0. Portanto o vetor vorticida<strong>de</strong> é sempre ortogonal ao plano do escoamento, po<strong>de</strong>n<strong>dos</strong>er então caracterizado unicamente pelo seu módulo h = | ⃗ h|.A Função <strong>de</strong> CorrenteUma outra simplificação diz respeito à representação do campo <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>s doescoamento: as linhas <strong>de</strong> corrente <strong>de</strong> um escoamento plano são linhas que satisfazem<strong>de</strong>terminadas regras topológicas (por exemplo, essas linhas nunca se cruzam), <strong>de</strong> maneiraque existe um campo escalar Ψ = Ψ(x 1 , x 2 ) que satisfaz Ψ = constante, ao longo <strong>de</strong>uma linha <strong>de</strong> corrente, sendo Ψ uma função “bem comportada”. A função Ψ(x 1 , x 2 ) é<strong>de</strong>nominada Função <strong>de</strong> Corrente.Para que Ψ exista, é necessário quee que dΨ seja um diferencial exato, i.e.,ou ainda,dΨ = ∂Ψ∂x 1dx 1 + ∂Ψ∂x 2dx 2 , (5.50)( )∂ ∂Ψ= ∂ ( ) ∂Ψ,∂x 2 ∂x 1 ∂x 2 ∂x 2∂ 2 Ψ∂x 1 ∂x 2=∂2 Ψ∂x 1 ∂x 2.No caso <strong>dos</strong> escoamentos incompressíveis, po<strong>de</strong>-se relacionar Ψ diretamente ao campo<strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>s através das expressõesu 1 = ∂Ψ∂x 2,u 2 = − ∂Ψ∂x 1(5.51)uma vez que a equação da continuida<strong>de</strong> para ⃗u garante a existência <strong>de</strong> Ψ satisfazendo(5.51), uma vez que∂u 1∂x 1+ ∂u 2∂x 2= 0 ⇒∂ ( ) ∂Ψ+ ∂ (− ∂Ψ )= 0.∂x 1 ∂x 2 ∂x 2 ∂x 1Assim, escoamentos bidimensionais incompressíveis po<strong>de</strong>m ser analisa<strong>dos</strong> através <strong>de</strong>dois campos escalares, a função <strong>de</strong> corrente, Ψ, e a vorticida<strong>de</strong>, h. Os PVCs relativos àesses escoamentos po<strong>de</strong>m ser escritos em termos da Equação da Vorticida<strong>de</strong> e da Equação<strong>de</strong> Poisson para Ψ, em lugar <strong>de</strong> Navier-Stokes e continuida<strong>de</strong> envolvendo ⃗u. As equações<strong>de</strong> domínio para PVCs em termos <strong>de</strong> Ψ e h são:DhDt = ν∇2 h, ∇ 2 Ψ = −h. (5.52)Observe que o termo ⃗ h.∇⃗u na equação (5.46) é nulo em escoamentos planos (⃗u e⃗ h são ortogonais nesses casos), e que a Equação <strong>de</strong> Poisson para Ψ advém diretamenteda <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> vorticida<strong>de</strong>. Observe ainda que a velocida<strong>de</strong> ⃗u, presente em


70Dh/Dt (D ⃗ h/Dt = ∂ ⃗ h/∂t + ⃗u.∇ ⃗ h), po<strong>de</strong> ter suas componentes u 1 e u 2 substituídas por∂Ψ/∂x 2 e −∂Ψ/∂x 1 , respectivamente.As equações <strong>de</strong> domínio escalares para h e Ψ po<strong>de</strong>m ser então <strong>de</strong>senvolvidas nasformas:∂h∂t + ∂Ψ ∂h− ∂Ψ ( )∂h ∂ 2 h= ν + ∂2 h, (5.53)∂x 2 ∂x 1 ∂x 1 ∂x 2 ∂x 2 1 ∂x 2 2e∂ 2 Ψ∂x 2 1+ ∂2 Ψ∂x 2 2= −h.Muitas vezes é mais fácil se <strong>de</strong>terminar condições <strong>de</strong> contorno para h e Ψ, <strong>de</strong> maneiraque as simulações numéricas <strong>de</strong> escoamentos bidimensionais são usualmente realizadas emtermos das variáveis secundárias h e Ψ, em lugar das variáveis primárias ⃗u e p.É interessante observar que Ψ <strong>de</strong>finido como em (5.51) realmente constitui uma Função<strong>de</strong> Corrente, i.e., Ψ = constante ao longo das Linhas <strong>de</strong> Corrente, pois, <strong>de</strong> (5.50) e (5.51),dΨ = −u 2 dx 1 + u 1 dx 2 ,e, ao longo <strong>de</strong> curvas Ψ = constante, dΨ = 0,u 2= dx 2| Ψ = constante, (5.54)u 1 dx 1ou seja, o vetor velocida<strong>de</strong> é tangente às curvas Ψ = constante.Outro ponto interessante é o significado físico da diferença entre os valores numéricos<strong>de</strong> Ψ para duas linhas <strong>de</strong> correntes quaisquer: consi<strong>de</strong>re o ponto A da linha <strong>de</strong> correnteon<strong>de</strong> Ψ = Ψ A é dada por Ψ B − Ψ A = ∫ BdΨ = ∫ B(u A A 1dx 2 − u 2 dx 1 ), on<strong>de</strong> ∫ BrepresentaAa integral <strong>de</strong> linha A a B (note-se que a integral é in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do caminho, por ser Ψuma função <strong>de</strong> x 1 e x 2 ) ou, ainda,Ψ B − Ψ A =∫ BA(n x1 u 1 + n x2 u 2 ) ds, (5.55)on<strong>de</strong> n x1 e n x2 são as componentes do unitário normal ao caminho <strong>de</strong> integração, ⃗n, e dsum elemento <strong>de</strong> comprimento ao longo <strong>de</strong>sse caminho. Mas∫ BA(n x1 u 1 + n x2 u 2 ) ds =∫ BA⃗n ⃗u ds = Q AB ,on<strong>de</strong> Q AB é o Fluxo Volumétrico que atravessa o caminho <strong>de</strong> integração <strong>de</strong> A a B. Portanto,a diferença Ψ B − Ψ A representa o Fluxo Volumétrico do fluido que escoa entre aslinhas <strong>de</strong> corrente on<strong>de</strong> Ψ = Ψ B e Ψ = Ψ A .Os Escoamentos Potenciais e o Potencial ComplexoComo já foi visto na seção 5.1.3.3, escoamentos incompressíveis e irrotacionais são<strong>de</strong>nomina<strong>dos</strong> Escoamentos Potenciais, e são <strong>de</strong>scritos por um campo escalar, o Potencial<strong>de</strong> Velocida<strong>de</strong>, Φ, que satisfaz a equação <strong>de</strong> Laplace,


71e se relaciona ao campo <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>s através da expressão∇ 2 Φ = 0, (5.56)∇Φ = ⃗u. (5.57)Quando um escoamento potencial é plano, existe também então uma Função <strong>de</strong> Correnteà ele associada, que também satisfaz a Equação <strong>de</strong> Laplace∇ 2 Ψ = 0, (5.58)pois h = 0 neste caso.Escoamentos planos po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>scritos através <strong>de</strong> funções complexas <strong>de</strong> Z (um complexo),ao se <strong>de</strong>finir o Potencial Complexo F = F (z) on<strong>de</strong>F (Z) = Φ(x 1 , x 2 ) + i Ψ(x 1 , x 2 ), (5.59)on<strong>de</strong> z = x 1 +ix 2 , em coor<strong>de</strong>nadas retangulares. Segundo a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> F (z), o potencial<strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> é a parte real <strong>de</strong> F (z), a função <strong>de</strong> corrente é a parte imaginária <strong>de</strong> F (z), ei = √ −1 (o imaginário unitário). A razão <strong>de</strong> se <strong>de</strong>finir F (z) como em (5.59) é que qualquerfunção analítica <strong>de</strong> uma variável complexa tem partes real e imaginária harmônicas, i.e.,que satisfazem a equação <strong>de</strong> Laplace. Além disso, a <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> F , <strong>de</strong>nominada Velocida<strong>de</strong>Complexa, W ,satisfaz a relaçãoW (z) ≡dF (z)dz , (5.60)W (z) = u 1 (z) − i u 2 (z), (5.61)on<strong>de</strong> u 1 e u 2 são as componentes <strong>de</strong> ⃗u nas direções x 1 e x 2 respectivamente.Assim, escrevendo-se ⃗u(x 1 , x 2 ) como uma função complexa U(z), o escoamento planopo<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrito através do Potencial Complexo F (z), cuja <strong>de</strong>rivada dF/dz é o conjugadocomplexo <strong>de</strong>poisU(z) = u 1 + iu 2 , (5.62)dF= W (z) = Ū(z). (5.63)dzTais proprieda<strong>de</strong>s <strong>dos</strong> escoamentos potenciais planos permitem uma análise <strong>dos</strong> mesmosatravés da Análise Complexa, que se constitui numa po<strong>de</strong>rosa ferramenta analíticapara a <strong>de</strong>terminação das soluções que <strong>de</strong>screvem esses escoamentos. Um estudo específicosobre <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong>ssas soluções, porém, não faz parte do escopo <strong>de</strong>ste curso.


725.3 A Linearização das Equações do MovimentoA não-linearida<strong>de</strong> da equação <strong>de</strong> Navier-Stokes é a principal fonte <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s na<strong>de</strong>terminação das soluções que <strong>de</strong>screvem escoamentos envolvendo flui<strong>dos</strong> newtonianos.A não-linearida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta equação está no termo convectivo ⃗u × ∇⃗u.A linearização da equação do momento é uma técnica que permite a <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong>soluções aproximadas para escoamentos em que o campo <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong> ser escritocomo a soma <strong>de</strong> um Escoamento Base, ⃗u b , e um Escoamento <strong>de</strong> Perturbação, ⃗u p , i.e.,⃗u = ⃗u b + ⃗u p , on<strong>de</strong> a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> magnitu<strong>de</strong> do campo ⃗u p é “pequena” em comparação coma or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> magnitu<strong>de</strong> do campo ⃗u b . Usualmente, utiliza-se a simbologia O(f) para sereferir à or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> magnitu<strong>de</strong> da função f. Utiliza-se também a simbologia g = O(f)para se indicar que a função g tem a mesma or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> magnitu<strong>de</strong> que a função f, e asimbologia h = o(f) para se indicar que a função h tem or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> magnitu<strong>de</strong> inferior a f,i.e., os valores assumi<strong>dos</strong> por h são “pequenos” em comparação com os valores assumi<strong>dos</strong>por f. Note-se ainda que g = O(f) não implica que g = f.Assim, quando os campos ⃗u b e ⃗u p satisfazem⃗u p = o (⃗u b ), (5.64)o termo convectivo (não-linear) u j ∂u i /∂x j da equação <strong>de</strong> Navier-Stokes fica:(u bj + u pj )∂∂x j(u bi + u pi ) = u bj∂u bi∂x j+ u bj∂u pi∂x j+ u pj∂u bi∂x j+ u pj∂u pi∂x j, (5.65)on<strong>de</strong>, assumindo-se que a operação <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivação não altera a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> magnitu<strong>de</strong> dafunção resultante,u pj∂u pi∂x j( )∂u bi ∂u bi= o u pi , u pj∂x j ∂x j( )∂u pi ∂u pi= O u bj , u bj∂x j ∂x j( )∂u bi= o u bj . (5.66)∂x jA substituição <strong>de</strong> (5.64) e (5.66) na equação do momento gera agora, uma equaçãoenvolvendo termos cujas or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> magnitu<strong>de</strong> são diferentes, e a equação <strong>de</strong>ve ser satisfeitaem cada or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> magnitu<strong>de</strong> separadamente.Adimensionalizando-se a equação <strong>de</strong> Navier-Stokes através <strong>de</strong> uma velocida<strong>de</strong> ca- racterísticaU, on<strong>de</strong>então<strong>de</strong> maneira quee∂u bi∂tU = o (⃗u b ), (5.67)⃗u b = 0(1) , ⃗u b .⃗u p = 0(⃗u p ), (5.68)+ u bi∂x bi∂x j= − 1 ( )∂p b ∂ 2 u bi+ ν , (5.69)ρ ∂x i ∂x j ∂x j


73∂u pi∂t+ u bj∂u pi∂x j+ u pj∂u bi∂x j= − 1 ( )∂p p ∂ 2 u pi+ ν ,ρ ∂x 1 ∂x j ∂x jon<strong>de</strong> p b e p p são os campos <strong>de</strong> pressão associa<strong>dos</strong> a cada uma das equações acima.Conhecendo-se ⃗u b , po<strong>de</strong>-se então estabelecer o problema <strong>de</strong> valor <strong>de</strong> contorno para⃗u p , e uma aproximação para a solução do problema não-linear em ⃗u po<strong>de</strong> ser encontradaatravés das soluções <strong>de</strong> dois problemas lineares em ⃗u b e ⃗u p , <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que ⃗u p = o(⃗u b ).Como um exemplo da linearização da equação <strong>de</strong> Navier-Stokes, consi<strong>de</strong>re o escoamentobidimensional, viscoso, em torno <strong>de</strong> um cilindro. Escrevendo-se⃗u = ⃗ U + ⃗u p , (5.70)on<strong>de</strong> U ⃗ é a velocida<strong>de</strong> do escoamento “não-perturbado” pela presença do cilindro ( U ⃗ constante),a equação <strong>de</strong> Navier-Stokes po<strong>de</strong> ser substituída em duas equações lineares comoem (5.70), on<strong>de</strong> a solução da primeira <strong>de</strong>las é U, ⃗ e a segunda equação é∂u pi∂t+ U j∂u pi∂x j= − 1 ( )p p ∂ 2 u pi+ ν . (5.71)ρ ∂x 1 ∂x j ∂x jA solução <strong>de</strong> (5.72), ⃗u p (mais condições <strong>de</strong> contorno), quando somada a U, ⃗ forneceuma aproximação para a solução da equação não-linear.Torna-se interessante observar que, admitindo-se regime permanente, (5.72) é a aproximação<strong>de</strong> Oseen, discutida na seção 5.1.2.2. Em princípio, a solução <strong>de</strong> (5.72) forneceuma aproximação para ⃗u = U ⃗ + ⃗u p para qualquer número <strong>de</strong> Reynolds. Entretanto,quando Re −→ ∞, a formação da camada limite invalida a hipótese <strong>de</strong> que a <strong>de</strong>rivaçãonão afeta a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> magnitu<strong>de</strong> da função, e a aproximação (5.72) só é válida para Rebaixos.A técnica <strong>de</strong> se subdividir os PVCs que envolvem equações do movimento não-linearesem uma série problemas mais simples para cada uma das diferentes or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> magnitu<strong>de</strong>que advém <strong>de</strong> hipóteses como a (5.65) é chamada Análise <strong>de</strong> Perturbação, cujos <strong>de</strong>senvolvimentosse baseiam na Teoria <strong>dos</strong> Méto<strong>dos</strong> <strong>de</strong> Perturbação. Esta teoria se subdivi<strong>de</strong>em duas gran<strong>de</strong>s áreas: os Méto<strong>dos</strong> <strong>de</strong> Perturbação Regular, que envolvem problemason<strong>de</strong> hipóteses como (5.65) são uniformemte válidas em todo o domínio, e os Méto<strong>dos</strong> <strong>de</strong>Perturbação Singular, aplicáveis a problemas cujas aproximações como (5.72) não são uniformementeválidas ( a operação <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivação altera a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> magnitu<strong>de</strong> das funções em<strong>de</strong>terminadas regiões do domínio, nestes casos). O estudo <strong>de</strong>sta teoria é assunto extensoe profundo, que não está incluído no escopo <strong>de</strong>sse curso.


Capítulo 6Referências6.1 Bibliografia Básica1. Batchelor, G.K.; 1967, An Introduction to Fluid Dynamics, Cambridge UniversityPress.Texto avançado <strong>de</strong> mecânica <strong>dos</strong> flui<strong>dos</strong>, com muita autorida<strong>de</strong> na matéria. Escritocom clareza e cuidado meticuloso. Exercícios criativos mas difíceis. A<strong>de</strong>quado paragradua<strong>dos</strong> e pós-gradua<strong>dos</strong>.2. Bird, R.B., Stewart, W.E., Lightfoot, E.N.; 1978, Fenômenos <strong>de</strong> Transporte, EditorialReverté.Livro historicamente importante por apresentar <strong>de</strong> modo unificado os tratamentosteóricos para a análise <strong>de</strong> problemas <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimento,calor e massa. Com estrutura matricial, os interessa<strong>dos</strong> po<strong>de</strong>m avançar na matériacom ênfase no ente transportado ou no tipo <strong>de</strong> transporte. A<strong>de</strong>quado para gradua<strong>dos</strong>.3. Goldstein, S.; 1964, Mo<strong>de</strong>rn Development in Fluid Dynamic, Dover.Livro escrito sob iniciativa do “Aeronautical Research Committee (RAE)” e por sugestão<strong>de</strong> Sir H. Lamb. Texto direcionado para a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> escoamentos laminarese turbulentos, on<strong>de</strong> os efeitos da viscosida<strong>de</strong> se fazem importante. Particularmente,são aborda<strong>dos</strong> os escoamentos próximos a superfícies e em esteiras.4. Hinze, J.O.; 1959, Turbulence, McGraw-Hill.Texto clássico sobre to<strong>dos</strong> os <strong>de</strong>senvolvimentos teóricos e resulta<strong>dos</strong> experimentaisobti<strong>dos</strong> até sua data e publicação. Ainda um texto importantíssimo para estudantes<strong>de</strong> Mecânica <strong>dos</strong> Flui<strong>dos</strong>.5. Lamb, H.; 1932, Hydrodinamics, Cambridge University Press.Um tratado brilhante em mecânica <strong>dos</strong> flui<strong>dos</strong>. Até hoje extremamente útil emrelação a tópicos que já se encontravam bem <strong>de</strong>senvolvi<strong>dos</strong> para a época (exemplo:escoamento irrotacional). Indispensável fonte <strong>de</strong> consulta.74


756. Landau, L.D., Lifshitz, E.M.; 1987, Fluid Mechanics, Pergamon Press.A Mecânica <strong>dos</strong> Flui<strong>dos</strong> sob o ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> um físico teórico. Texto magistralsobre a física necessária a to<strong>dos</strong> os ramos da Mecânica <strong>dos</strong> Flui<strong>dos</strong>. Exemplosresolvi<strong>dos</strong>. A<strong>de</strong>quado para pós-gradua<strong>dos</strong>.7. Lighthill, J.; 1986, An Informal Introduction to Fluid Mechanics, Oxford UniversityPress.Livro recomendado para a graduação, embora li<strong>de</strong> com tópicos complexos. Mostragran<strong>de</strong> aprofundamento em termos físicos, em particular em dinâmica da vorticida<strong>de</strong>.8. Paterson, A.R.; 1983, A First Course in Fluid Dynamics, Cambridge UniversityPress.Livro texto que introduz a Mecânica <strong>dos</strong> Flui<strong>dos</strong> e sua mo<strong>de</strong>lagem <strong>de</strong> modo lúcido,através <strong>de</strong> exemplos e exercícios.9. Prandtl, L.; 1952, Essentials of Fluid Dynamics, London, Blackie.Brilhante resumo da Mecânica <strong>dos</strong> Flui<strong>dos</strong>, escrito por um <strong>dos</strong> sacerdotes no assunto.Ênfase em escoamentos <strong>de</strong> interesse prático.10. Schlichting, H.; 1955, Boundary Layer Theory, MacGraw Hill.Livro clássico e referência básica sobre o assunto. Excelente no que tange aos escoamentoslaminares. Parte turbulenta incompleta. Imprescindível.11. Temann, R.; 1984, Navier-Stokes Equations Theory and Numerical Analysis, North-Holland.A Mecânica <strong>dos</strong> Flui<strong>dos</strong> sob o ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> um analista matemático. Resulta<strong>dos</strong>importantes sobre unicida<strong>de</strong>, existência e regularida<strong>de</strong>.12. Tritton, D.J.; 1987, Physical Fluid Dynamics, Oxford University Press.Introdução atrativa e interessante sobre a física <strong>de</strong> sistemas flui<strong>dos</strong>. Excelente livropara gradua<strong>dos</strong> e iniciantes no assunto. Muitos exercícios.13. Van Dyke, M.; 1982, An Album of Fluid Motion, Parabolic Press.Uma coleção fascinante <strong>de</strong> fotografias <strong>de</strong> experimentos em Mecânica <strong>dos</strong> Flui<strong>dos</strong>.Instrutivo e estimulante.


766.2 Bibliografia Específica1. Courant, R., Friedrichs, K.O.; 1948, Supersonic Flow and Shock Waves, Interscience.Livro clássico sobre a teoria do escoamento <strong>de</strong> um fluido compressível não-viscoso.2. Drazin, P.G., Reid, W.H.; 1981, Hydrodynamic Stability, Cambridge UniversityPress.Mais abrangente livro no assunto disponível na literatura. Exercícios difíceis. A<strong>de</strong>quadopara pós-gradua<strong>dos</strong>.3. Gill, A.E.; 1982, Atmosphere-Ocean Dynamics, Aca<strong>de</strong>mic Press.Atrativo texto sobre dinâmica <strong>dos</strong> flui<strong>dos</strong> para escoamentos geofísicos, isto é, sobre ateoria do escoamento <strong>de</strong> um fluido movido por froças <strong>de</strong> empuxo e em um referencialque gira. Processos ondulatórios na atmosfera e nos oceanos são enfatizadas.4. Kaplun, S.; 1967, Fluid Mechanics and Singular Perturbations, Aca<strong>de</strong>mic Press.Trabalho extremamente influencial num assunto <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importânica para aMecânica <strong>dos</strong> Flui<strong>dos</strong>, os méto<strong>dos</strong> <strong>de</strong> perturbação singular. Conteúdo erudito e<strong>de</strong> difícil compreensão. Indicado para pesquisa.5. Liepmann, H.W., Rohsko, A.; 1957, Elements of Gas Dynamics, Wiley.O melhor e mais popular livro no assunto. Excelente conteúdo.6. Lighthill, J.; 1978, Waves in Fluids, Cambridge University Press.Livro sobre a teoria linear <strong>de</strong> ondas em flui<strong>dos</strong>. Alguns argumentos se aprofundamna física do fenômeno e por isto são difíceis <strong>de</strong> serem segui<strong>dos</strong>. Muitos exercícios.A<strong>de</strong>quado para graduação e pesquisa.7. Roberts, P.H.; 1967, An Introduction to Magneto-Hydrodynamics, Longmans.Livro sobre magneto-hidrodinâmica, a<strong>de</strong>quado para pós-graduação.8. Rosenhead, L.; 1963, Laminar Boundary Layers, Oxford University Press.Tratado memorável sobre o escoamento <strong>de</strong> flui<strong>dos</strong> viscosos. Excepcional livro sobre a<strong>de</strong>dução das equações <strong>de</strong> Navier-Stokes, suas soluções exatas, escoamento <strong>de</strong> Stokese a teoria clássica <strong>de</strong> camada limite.9. Tennekes, H., Lumley, J.L.; 1972, A First Course in Turbulence, M.I.T. PressExcelente introdução a um tópico complexo da Mecânica <strong>dos</strong> Flui<strong>dos</strong>. Referênciaimprescindível


7710. Townsend, A.A.; 1956, The Structure of Turbulent Shear Flow, Cambridge UniversityPress.Mais importante livro existente sobre a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> escoamentos cisalhantes. Umclássico, escrito por um <strong>dos</strong> pesquisadores mais criativos em fundamentos da teoriaestatística da turbulência. A<strong>de</strong>quado para referência e pesquisa.6.3 Bibliografia Complementar1. Abramowitz, M., Stegun, J.A.; 1964, Handbook of Mathmatical Functions, NationalBureau of Standards. Washington D.C.Sumário completo das proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> funções especiais.2. Ben<strong>de</strong>r, C.M., Orszag, S.A.; 1978, Advanced Mathematical Methods for Scientistsand Engineers, McGraw Hill.Livro indispensável a qualquer pessoa que em algum estágio <strong>de</strong> sua vida venha autilizar a matemática para <strong>de</strong>senvolver qualquer problema físico.3. Courant, R., Hilbert, D.; 1953 e 1962, Methods of Mathematical Physics, Vol. 1 &2, Interscience.Tratado clássico da teoria <strong>de</strong> EDO’s e EDP’s.4. Griffel, D.H.; 1981, Applied Functional Analysis, Elliot Horwood.Introdução à análise funcional através <strong>de</strong> exercícios para gradua<strong>dos</strong>.

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