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Revista - ABAS

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<strong>ABAS</strong> INFORMA<strong>ABAS</strong> PROMOVE II CIMASDepois do sucesso da primeira edição doCongresso Internacional de Meio AmbienteSubterrâneo (CIMAS), a Associação Brasileira deÁguas Subterrâneas (<strong>ABAS</strong>) já iniciou os preparativosda próxima edição.O II Congresso Internacional de Meio AmbienteSubterrâneo será realizado de 4 a 6 de outubro de2011, na sede da Fecomércio, em São Paulo, Capital.No momento estão sendo definidos os convidadosque participarão das conferências e mesas redondasdurante o evento.Segundo Rodrigo Cordeiro, diretor da AcquaConsultoria, responsável pela organização docongresso, a escolha dos convidados foi o fatordeterminante para o sucesso da edição anterior.Por isso, “temos como objetivo fazer novamenteum evento com foco abrangente e direcionado,mas direcionado ao meio ambiente subterrâneo,contando com as principais instituições públicase privadas do setor. Três patrocinadores já estãoconfirmados para este evento, são eles: Ag Solve,Soilution e Trionic. Assim como também já é certa, apresença da Doxor na FENÀGUA”, comenta Cordeiro.Outra novidade é que tanto o sistema derecebimento de trabalhos acadêmicos quanto ode inscrições já estão abertos desde o início dedezembro por meio do site: www.abas.org/cimas.“A primeira edição foi considerada um divisor deáguas no Brasil, portanto, é grande a responsabilidadede repetir o sucesso. Contamos com a participaçãode todos os leitores da <strong>Revista</strong> Água e Meio AmbienteSubterrâneo”, convida Cordeiro.O CIMAS é um congresso internacional técnicocientífico,realizado a cada dois anos pela <strong>ABAS</strong>,especializado e exclusivo no tema “Meio Ambiente<strong>ABAS</strong> LANÇA GUIA DE COMPRAS DIGITALSubterrâneo”.O Guia de Compras 2010/2011 acaba de ganharuma versão digital na web. Ele ficará hospedado, apartir de fevereiro de 2011 no endereço: www.abas.org/guiadecompras. Lá o usuário terá acesso a um sistemade busca completo às empresas que atuam no mercadode águas subterrâneas de forma simples e organizada.O guia, em versão online, tem como objetivo ser o grande“Google”, buscador de produtos e serviços em águassubterrâneas no Brasil. O projeto foi lançado durante oCongresso da <strong>ABAS</strong>, realizado em São Luís, no Maranhão.Ao longo dos anos, a associação busca trazernovidades para os associados e para que as empresasdo setor fiquem mais unidas e concentrem sua basede informações em um único local. O guia faz partedessas propostas.Cotações e solicitações de anúncios paraa versão impressa e digital podem ser feitasdiretamente na <strong>ABAS</strong> pelo telefone: (11) 3871-3626RESULTADOS DO CONVÊNIO ENTRE <strong>ABAS</strong> E ANAou pelo e-mail: comercial.abas@acquacon.com.brAcaba de se encerrar o convênio firmado entrea Associação Brasileira de Águas Subterrâneas(<strong>ABAS</strong>) e a Agência Nacional de Águas (ANA),vigente de 28 de agosto de 2008 a 30 de setembrode 2010. O principal objetivo desta parceria foidesenvolver ações visando à capacitação de órgãosgestores estaduais.Para isso, a agência apoiou a realização dedois eventos promovidos pela associação: o XVCongresso Brasileiro de Águas Subterrâneas,juntamente com o XVI Encontro Nacional dePerfuradores de Poços e a Feira Nacional da Água,em 2008, na cidade de Natal (RN) e o I CongressoÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEOOUTUBRO/NOVEMBRO de 20106


<strong>ABAS</strong> INFORMAInternacional de Meio Ambiente Subterrâneo, em junho de 2009, na cidade deSão Paulo (SP). “Vale destacar o ineditismo deste último evento, ao consideraruma abordagem ampla, holística das águas subterrâneas, contemplando o meiofísico como um todo, em especial os impactos do uso e ocupação do solo nacomponente subterrânea do ciclo hidrológico”, comenta Paulo Varella, diretor daANA.Além dos eventos, foram apoiados e realizados também nove cursos decapacitação em Águas Subterrâneas, com duração de 40 horas cada, específicossobre o tema. Eles envolveram os seguintes assuntos: arcabouço legal paraa gestão integrada de recursos hídricos subterrâneos e superficiais e osinstrumentos da Lei 9.433/97; sistemas de suporte a decisão (SSD) na gestão deáguas subterrâneas; hidrogeologia aplicada à gestão de águas subterrâneas;vulnerabilidade natural de aquíferos, áreas de proteção e perímetros de proteçãode poços tubulares e fontes; classificação, enquadramento e monitoramento deáguas subterrâneas; planejamento, construção de poços tubulares profundose testes de bombeamento. Cerca de 200 profissionais dos órgãos estaduaisgestores de recursos hídricos participaram desses treinamentos, representando aquase totalidade dos estados brasileiros.“A parceria entre a <strong>ABAS</strong> e a ANA trouxe uma grande inovação para o setorde recursos hídricos, ao proporcionar cursos de capacitação direcionados paraos profissionais tomadores de decisão na área de águas subterrâneas. Essainiciativa, singular no país, foi exitosa, ao ponto de outras instituições e associaçõespassarem a replicar esse tipo de treinamento. Naturalmente, com técnicos melhorpreparados haverá fortalecimento na capacidade de tomada de decisão dessesgestores, implicando em melhorias na gestão dos recursos hídricos subterrâneos e,claro refletindo para a sociedade como um todo, à medida que essas decisões têmfrancas implicações na sustentabilidade ambiental do uso desses recursos hídricos.Função similar também foi desempenhada pelos congressos, ao propiciarem aatualização de centenas de profissionais nas diversas áreas temáticas de águassubterrâneas”, comenta Varella. De acordo com ele, a ANA pretende continuarapoiando a <strong>ABAS</strong> nas iniciativas para fomentar o desenvolvimento de capacidades,com vistas à gestão integrada e sustentável dos recursos hídricos.O presidente da <strong>ABAS</strong>, Everton Souza, acredita que o convênio entre as instituições,cuja preocupação comum é a água, foi muito importante, pois contribuiu muito paraa disseminação do conhecimento sobre as águas subterrâneas. Foi uma parceriade sucesso principalmente no que se refere aos passos para a gestão integradados recursos hídricos”.<strong>ABAS</strong>TubulaçãoFlexívelpara PoçosFácil manuseio,Pequeno espaço dearmazenagem,Lances únicos de até 200m,Sem corrosão eGarantia de 5 anos.Mangueira PlanaMultipropósitoOroflex ®Aplicações:Bombas Flutuantes até 12”,Transporte de Esgoto,Água Bruta, Ar Comprimido,Derivados de Petróleo, etcEverton Souza (<strong>ABAS</strong>) e Paulo Varella (ANA), importante parceria para difusão do conhecimentoOUTUBRO/NOVEMBRO de 2010SAMPLA DO BRASILInd. e Com. de Correias Ltda.Fone: (11) 2144-4500 • Fax: (11) 2144-4550sampla@sampla.com.br • www.sampla.com.brÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO7


nÚCLEO REGIONAIS<strong>ABAS</strong> NÚCLEO SUL PALESTRA NOXIII SEMINÁRIO NACIONAL DE GESTÃO E USO DA ÁGUA“Mananciais Subterrâneos: novas perspectivas” foio tema da palestra-debate ministrada por Mario LuizDame Wrege, geólogo e presidente da <strong>ABAS</strong> NúcleoSul, no XIII Seminário Nacional de Gestão e Uso daÁgua, que aconteceu em novembro, em Pelotas/RS. Oobjetivo do evento foi reunir grandes nomes do cenárionacional de recursos hídricos e do meio ambientee, através de debates, promover uma discussão emtorno das possibilidades e necessidades tecnológicasenvolvidas no uso e conservação da água no Brasil eindicar alternativas para o desenvolvimento sustentável.O evento, que aconteceu paralelamente à IV Reuniãode Estudos Ambientais e ao II Encontro Nacional deEngenharia Hídrica, organizados pelo grupo de pesquisaem “Recursos Hídricos e Meio Ambiente – RHIMA” e docurso de graduação em Engenharia Hídrica da UFPel,teve como temática central a oferta e demanda dosrecursos hídricos frente ao desenvolvimento sustentável.Logística para aceleração do crescimento: hidrovia doMERCOSUL; Manejo e Gestão de Bacias Hidrográficas,Hidroenergia e o desenvolvimento sustentável;Políticas públicas para recursos hídricos; MananciaisSubterrâneos e Ecossistemas Lacustres foram osprincipais temas abordados.<strong>ABAS</strong> NÚCLEO SUL INTEGRA COMITÊ DEGERENCIAMENTO DA BACIA DO RIO PARDOComo um dos representantes das Associaçõesde Profissionais, o Núcleo Sul da <strong>ABAS</strong> integra oComitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográficado Rio Pardo, com o objetivo de discutir e defenderos interesses da população desta Bacia, no que serefere à gestão das suas águas. Instalado em 23 demarço de 1999, o Comitê é um órgão deliberativocom força legal, apoiado nas leis 9.433/97 doGoverno Federal e pela Legislação Estadual deRecursos Hídricos, lei nº 10.350/94, responsávelpela gestão das águas nas Bacias Hidrográficas.Suas principais ações estão voltadas para aimplantação da Agência da Região Hidrográficado Guaíba, discussão da cobrança pelo uso dosrecursos hídricos, elaboração da Etapa C doPlano da Bacia do Pardo e educação ambiental.Os membros componentes do Comitê Pardosão divididos em três grupos e suas respectivascategorias: Usuários da Água, População da Baciae Órgãos Públicos Estaduais e Federais.Sobre a Bacia do Rio PardoLocalizada na região central do Estado do RioGrande do Sul, a Bacia Hidrográfica do Rio Pardoaflui no Rio Jacuí, sendo integrante da RegiãoHidrográfica do Guaíba. A área de drenagem daBacia do Pardo é de 3.636,79 Km², sua extensão éde 115 km e a largura de 35 km. Representa 1,3% daárea do Estado e 4,3% da Região Hidrográfica doGuaíba, abrangendo 13 municípios, com um totalde 212.531 habitantes (em 2003). A água dessaBacia é utilizada em atividades agropecuárias(pecuária extensiva, cultivo de arroz irrigado, fumo,milho, soja e feijão), além do consumo humano eindustrial (poços artesianos).<strong>ABAS</strong> NÚCLEO MINAS GERAIS ELEGE NOVA DIRETORIACom o principal objetivo de popularizar oconhecimento e a importância da água subterrâneae o seu uso, junto aos Comitês de Bacias e usuários,a nova diretoria do Núcleo <strong>ABAS</strong> Minas Gerais,gestão do biênio 2011/2012, foi eleita no dia 24de novembro, e assumirá em janeiro de 2011. Adiretoria está composta por: Carlos Alberto deFreitas (presidente); Danilo Carvalho de Almeida (1ºvice-presidente) e Décio Antônio Chaves Beato (2ºvice-presidente); Daniel Pérez Bertachini (SecretárioGeral); Francisca Maria Ribeiro Printes (SecretáriaExecutiva) e Fernando Alves Carneiro (Tesoureiro).Águas subterrâneas e mineração; águas subterrânease abastecimento público; uso de isótopos radioativosnos estudos de água subterrânea e aquíferosfraturados e ambientes cársticos são alguns dosÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEOOUTUBRO/NOVEMBRO de 20108


NÚCLEO REGIONAISprincipais temas que serão enfatizados nesta gestão.Além disso, a nova diretoria pretende também:realizar eventos técnicos para aperfeiçoar e capacitaros profissionais que atuam na área de hidrogeologia;realizar eventos que estimulem a conscientizaçãodos gestores ambientais e a comunidade sobre aimportância das águas subterrâneas; participar dosfóruns de deliberação normativa e de gestão daságuas subterrâneas em nível municipal, estaduale federal; fortalecer a imagem da <strong>ABAS</strong> comorepresentante dos profissionais de hidrogeologia eampliar e fortalecer o quadro de associados.<strong>ABAS</strong> E NÚCLEO MG PROMOVEM CURSO DEGESTÃO E CAPACITAÇÃO EM ÁGUAS SUBTERRÂNEASA <strong>ABAS</strong> - MG promoveu o Curso de Gestão deCapacitação em Águas Subterrâneas nos dias 25 e 26de novembro contando com 55 alunos. O consultorJoão Carlos Simanke de Souza abordou os temas:”Arcabouço legal para gestão integrada de recursoshídricos subterrâneos e superficiais e os instrumentosda Lei nº. 9.433/97”; “Planejamento, construçãode poços tubulares e testes de bombeamento”;“Proteção da qualidade da água subterrânea:guia para empresas de saneamento, autoridadesmunicipais e agências ambientais”; “Vulnerabilidadenatural de aqüíferos, áreas de proteção de aqüíferose perímetros de proteção de poços e fontes”; “Novastecnologias para captação de águas subterrâneas– poços coletores horizontais”; e “Hidrogeologia eplanejamento ambiental”.Simanke é doutor pela Universidade de SãoPaulo; ex-hidrogeólogo da SABESP, com grandeexperiência em hidrogeologia e saneamento básico;ex-presidente da <strong>ABAS</strong> e da Câmara Técnica deÁguas Subterrâneas do Conselho Nacional deRecursos Hídricos; relator da Associação Brasileirade Normas Técnicas para normas de projeto econstrução de poços tubulares.OUTUBRO/NOVEMBRO de 2010ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO9


hidronotíciasCarlos Eduardo Quaglia GiampáDiretor da DH Perfuração de PoçosDemanda por águana América Latinacresceu 76%em 15 anosRelatório do PNUMA destaca desafios ambientaispara a região, como o aumento da escassezde água; estudo cita exemplos positivos, como areciclagem no Brasil, uma indústria nacional queemprega 170 mil pessoas. O aumento da escassezde água, a rápida urbanização, a degradaçãode zonas costeiras e a perda de florestas são algunsdesafios ambientais destacados em relatóriodo Programa das Nações Unidas para o MeioAmbiente, PNUMA, para a América Latina e o Caribe.O estudo ressalta que só a demanda por água na regiãosubiu 76%, entre 1990 e 2004, como resultado docrescimento demográfico.PolíticasO PNUMA alerta que governos e sociedade civil precisamtrabalhar juntos para criar políticas e instituiçõespara combater a degradação ambiental nesses países.O relatório cita alguns exemplos, como o estímulo pelouso de fontes alternativas de combustível no Uruguai,práticas eficientes de energia no setor de turismo noCaribe e a liderança mundial do Brasil em reciclagem,uma indústria nacional que já emprega 170 mil pessoas.Segundo a agência, as diversas práticas inovadorasimplementadas na América Latina, e em outroslocais do mundo, mostram que medidas podemser tomadas para a sustentabilidade ambiental.ConsensoO PNUMA diz que a região é rica embiodiversidade e já existe um consensoentre vários setores sobre a necessidade desoluções para as ameaças ao meio ambiente.O estudo afirma, inclusive, que existem políticas quepodem ser alcançadas no período preparatório para areunião Rio + 20, que deve ser realizada no Brasil em 2012.De acordo com o Programa da ONU, o relatório “AméricaLatina e Caribe: Perspectivas para o Meio Ambiente” serálançado em breve, mas já está disponível na internet.(Envolverde/ Daniela Traldi, da Rádio ONU em Nova York.)Mundo dobra o uso de águasubterrânea em quatro décadasExploração é tanta que faz com que o líquido dolençol freático corresponda a 25% do aumento do níveldo mar. Reservas totais do globo não são conhecidas,mas estima-se que 30% da água doce da Terraprovenham do subsoloA humanidade se tornou uma usuária tão sedentadas águas subterrâneas do planeta que essaexploração pode ser responsável por um quarto doaumento anual do nível dos oceanos.O dado vem de um artigo aceito para publicaçãona revista científica “Geophysical Research Letters».Nele, uma equipe liderada por Marc Bierkens,da Universidade de Utrecht (Holanda), traça ummapa não muito animador do estado das reservassubterrâneas mundo afora.Usando estatísticas e simulações de computador sobrea entrada e saída de água dos lençóis freáticos, Bierkense companhia estimam que a exploração de água docesubterrânea mais do que dobrou dos anos 1960 para cá,passando de 126 km3 para 283 km3 por ano, em média.As questões, lembram os pesquisadores, é que aindanão dá para saber o preço exato da “brincadeira”,porque ninguém tem dados precisos sobre a quantidadede água subterrânea no mundo.BeberrõesAlgumas regiões são especialmente beberronas,mostra a pesquisa. Não por acaso, são centros deÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEOOUTUBRO/NOVEMBRO de 201010


HIDRONOTÍCIASgrande produção agrícola em áreas naturalmente já não muito chuvosas: noroesteda Índia, nordeste da China e do Paquistão, Califórnia e Meio-Oeste americano.A exploração desenfreada afeta principalmente, como seria de esperar, osagricultores mais pobres. Segundo Bierkens, a água que sobrar “vai acabar ficandonum nível tão baixo que um fazendeiro comum, com sua tecnologia normal, não vaimais conseguir alcançá-la”.Ao trazer para a superfície quantidades portentosas do líquido, a exploração semmuito controle aumenta a evaporação e, conseqüentemente, a precipitação emforma de chuva, o que acaba favorecendo o aumento do nível dos mares ligado aouso dos aqüíferos do subsolo.Embora a pesquisa não aborde diretamente a situação brasileira, o país temrazões de sobra para se preocupar com a situação dos aqüíferos. O interior brasileiroabriga, por exemplo, a maior fração do aqüífero Guarani, gigantesca reserva com1,2 milhão de km2.Hoje, 75% dos municípios do interior paulista precisam usar as águas do aqüíferopara seu abastecimento. No caso de Ribeirão Preto, uma das principais cidades doEstado, essa dependência é total.Fonte: Folha de SPRECORDAR É VIVERVI Congresso Brasileiro de ÁguasSubterrâneas e InternationalSeminar of Pollution Protectionand Control of Ground Water,Porto Alegre (RS), de 16 a 19 denovembro de 1990IV Encontro Nacional dosPerfuradores de Poços, Araraquara(SP), de 5 a 7 de setembro de1985OUTUBRO/NOVEMBRO de 2010ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO11


PRODUÇÃO DE ÁGUAAnalytical TechnologyANÁLISE VITALSeja para uso industrial ou residencial, a análise da água subterrânea se aplica a qualquer finalidade, alterando-seapenas os parâmetros avaliados e a periodicidade em função do objetivo da análiseDaniela MattiasoO uso da água é essencial para todas as atividadeshumanas. No caso da água para consumo ouprodução de alimentos, o usuário precisa ter segurançasobre a qualidade para resguardar a saúde e omeio em que vive. Na utilização industrial, a análiseda qualidade é necessária para avaliar previamenteos impactos causados à água, permitindo a correçãode seus processos produtivos.Mas e se a água for subterrânea? Existe alguma necessidadeespecial para sua análise? Patrícia FerreiraSilvério, diretora técnica da Consultoria Paulista deEstudos Ambientais (CPEA), esclarece que as análisesde água subterrânea são similares às análisesde águas superficiais, podendo ocorrer alguma interferência,tais como efeito da salinidade, presençade material particulado em excesso, entre outros. “Éimportante que no momento da coleta da amostra deágua subterrânea, seja observada a presença de materialparticulado. No caso desta ocorrência ser umacaracterística intrínseca da amostra, deve-se avaliar anecessidade de filtração da amostra de água, com ointuito de eliminação desta interferência”, explica ela.NormasSegundo a diretora do CPEA, a legislação a seratendida dependerá do objetivo do estudo. “Se aanálise de água é realizada para avaliar a qualidadeda água para o consumo humano, a legislação a seratendida é a Portaria Nº 518 do Ministério da Saúde.Para o caso de um estudo de gerenciamento de áreascontaminadas, os resultados das análises laboratoriaisde água subterrânea devem ser comparadoscom os valores orientadores para a água subterrânea.Porém, devem ser seguidos todos os passosestabelecidos no Procedimento de Gerenciamentode Áreas Contaminadas, para o Estado de SãoPaulo; ou na Resolução CONAMA 420/08, ou aindaem outras resoluções estaduais para que uma áreaseja classificada como Área Contaminada (AC),bem como para que sejam tomadas as ações dereabilitação ambiental da área,caso necessário”, explica ela.Ainda com relação aoatendimento de normas legais,Patrícia ressalta que noEstado de São Paulo, desde31/08/2009, entrou em vigor aResolução SMA 37/2006, quedispõe sobre os requisitosdos laudos analíticos submetidosaos órgãos integrantesdo Sistema Estadual de MeioAmbiente (SEAQUA). “EstaCPEAPatrícia Ferreira Silvério, diretoratécnica da Consultoria Paulistade Estudos Ambientais (CPEA)ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEOOUTUBRO/NOVEMBRO de 201012


PRODUÇÃO DE ÁGUAamostra. Para análise bacteriológicae de endotoxinasdeve-se limpar o pontode amostragem comálcool etílico 70%, manterum fluxo baixo de água edeixar escoar por 3 minutosantes de fazer a colheita;abrir os frascos somenteno momento da colheitae fechá-los imediatamenteapós; não tocar nas partesinternas dos frascos e tampas;evitar poeiras e fumosAnálise das amostrasde qualquer natureza durantea colheita; evitar o transbordamento dos frascosque contenham conservantes, coibindo a perda dosmesmos; fazer a identificação corretamente dos frascose enviar as amostras em caixas isotérmicas comgelo reaproveitável para o IAL, respeitando o tempoentre a colheita e entrega da amostra nos laboratórios”,detalha ela. Ainda de acordo com o tipo deanálise, vale ressaltar, que existem outras instruçõesespecíficas de coleta.Com relação à periodicidade da coleta e de análise deágua subterrânea, o período é muito variável e dependede cada caso, afirma Patrícia. “Existem algumas regrasestabelecidas, por exemplo, no caso de monitoramentopara encerramento de um processo de gerenciamento deáreas contaminadas. A periodicidade estabelecida paraanálise é semestral, por um período de dois anos, sendorealizadas campanhas no período de maior e menor elevaçãodo nível d’água subterrânea. Em outras situações,podem ser necessárias campanhas trimestrais ou atémais frequentes, como para o acompanhamento de processosde remediação, por exemplo. Em alguns casosnão se justifica campanhas de monitoramento com periodicidadesinferiores às anuais. Portanto, a periodicidadedeve ser estabelecida caso a caso”, explica ela.Assim como as coletas, as análises laboratoriais tambémprecisam de muitos cuidados. Patrícia comentaque elas são iniciadas logo após a coleta das amostrasde água, por técnicos capacitados para esta atividade.“As amostras precisam ser acondicionadas e encaminhadaspara o laboratório responsável pelas análises,juntamente com a cadeia de custódia das amostras, deacordo com as normas e procedimentos relacionados àcoleta e acondicionamento de amostras para cada parâmetroa ser analisado. Elas são recebidas pelo técnicodo laboratório responsável pelas análises e mantidas emgeladeiras. A partir desta etapa inicia-se o processo depreparação da amostra (que pode envolver digestão,Analytical Technologyextração, concentração, etc) e determinação ou análise,sendo que a técnica analítica (colorimetria, espectroscopia,cromatografia, entre outros) a ser selecionadadependerá do parâmetro a ser analisado e do LQ a seratendido”, descreve a especialista.Mais segurançaPorém, como é possível garantir que no momento dacoleta não haja nenhum tipo de interferência no resultadoda amostra para a análise de água? Segundo aGerente Técnica Comercial da Analytical Technology,Luciane Freire Kutinskas, a acreditação da amostragempode garantir isto, além de ser uma tendência nestetrabalho. “Ela já tem sido exigida em muitos casos eem um futuro breve será um pré-requisito para empresasque queiram atuar na área. A empresa que possuiacreditação para amostragem segundo NBR ISO IEC17025, passa por rigorosa auditoria do INMETRO, oqual avalia toda a sistemática de amostragem, desdea definição do plano de amostragem até a entrega dasamostras ao laboratório responsável pela execuçãodas análises”, explica Luciane.Marco Fabiani, sócio diretor do Grupo Corplab, comentaque a equipe do INMETRO acompanha a campoa coleta, verificando se todos os procedimentos técnicosapropriados estão sendo realizados. “Muitos laboratórios,consultorias ambientais e empresas de amostragemjá estão certificados para a coleta. Com certeza, é umatendência que todos os prestadores desse tipo de serviçosejam certificados. Essa certificação vem por meioda ISO/IEC 17025 concedida pelo INMETRO”, explica ele.Luciane comenta ainda que equipamentos de últimageração para esses tipos de análises e a utilização desistemas informatizados de gerenciamento de dadospermitem a obtenção, em tempo real, de todas as informaçõessobre o controlede custódia das amostras,dados de qualidade e registrode comunicação entre asempresas. “Disponibilizamoso relatório final via web, proporcionandomaior agilidadee praticidade ao cliente. Opagamento do serviço é negociadodiretamente com aequipe comercial, que podefornecer qualquer tipo de informaçãoe orientação pré epós-venda, de acordo com anecessidade de cada cliente”,explica a técnica.Analytical TechnologyLuciane Freire Kutinskas, gerentetécnica comercial da AnalyticalTechnologyÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEOOUTUBRO/NOVEMBRO de 201014


OUTUBRO/NOVEMBRO de 2010ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO15


CAPAApesar do elevado número de rios e igarapés comvazões expressivas, o que faz do Amazonas uma referênciaem abundância de recursos hídricos no Mundo,a maioria dos municípios do estado é abastecida exclusivamentepor águas subterrâneas, que de modogeral são pouco mineralizadas e ligeiramente ácidas.Os aquíferos explorados para abastecimento públicosão o Alter do Chão, na porção oriental; Içá, na porçãocentral, e os relacionados às coberturas aluvionares,em locais diversos.Com uma população de quase 1.8 milhão de habitantes,a capital do estado, Manaus, hoje uma dasmaiores capitais do país, é abastecida por águassuperficiais (75%) provenientes do Rio Negro e poráguas subterrâneas (25%) oriundas do Aquífero Alterdo Chão. Isto devido à localização da estação de tratamentoe das características da rede de distribuição,que não suportam maiores pressões, inviabilizando oalcance da água em todos os bairros, especialmentenas zonas Leste e Norte da cidade, segundo ogeólogo do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) doAmazonas, Carlos Aguiar.“É difícil entender como uma cidade que é banhadapelos dois rios mais volumosos do mundo (Rios Negroe Solimões, que juntos formam o Rio Amazonas, omaior rio da Terra), seja abastecida também por poçostubulares profundos. Mas, considerando o surgimentoda Zona Franca de Manaus, associado à dificuldadeda concessionária em atender às crescentesdemandas; e considerando que a construção de umpoço é muito mais rápida e barata do que um siste-ma convencional detratamento, isso tudose explica”, argumentaCarlos Augusto deAzevedo, presidentedo Núcleo <strong>ABAS</strong>Amazonas, geólogoe coordenador deperfurações da SPSaneamento e Poços(antiga Só Poços),empresa que perfuraem média de dois atrês poços profundospor mês.E quando o assuntoé a relação custo--benefício, o uso daságuas superficiais nãoé muito compensadorpara o usuário, umavez que as taxas cobradassão muito altasCarlos Augusto de Azevedo -Presidente do Núcleo <strong>ABAS</strong> Amazonase isso acaba dando origem às ligações clandestinas.“Desta forma, as águas subterrâneas, utilizadas principalmentepelas populações da periferia, se apresentamcomo um negócio vantajoso, à medida que são pagastaxas mínimas. Isto quando são pagas, pois muitos estãoacostumados a ganhar, por conta dos políticos queusam essa deficiência para gerir seus negócios eleitorais”,esclarece Azevedo.Arquivo PessoalOUTUBRO/NOVEMBRO de 2010ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO17


CAPAContexto do abastecimento:da má gestão à perfuraçãoindiscriminadaHá aproximadamente 10 anos, a qualidade daágua distribuída para a cidade apresentava inúmerosproblemas. “É notório entre a população as memóriasda coloração desta água, que tinha basicamentea mesma cor da água bruta captada do Rio Negro.Para ‘limpar’ a água, a população utilizava panos(de fraldas e outros materiais) para realizar a filtraçãoimprovisada em suas casas”, lembra o geólogoe gerente de Operações de Água e Esgoto da concessionáriaÁguas do Amazonas,Paulo Guimarães. De acordo comele, o problema da qualidade daágua somado ao crescimento desordenadode Manaus, que nestesúltimos dez anos contou coma entrada de cerca de 400 milpessoas, foram os principais responsáveisque fizeram com que apopulação residente nestas áreasde expansão da cidade (que seestabeleceu principalmente emocupações irregulares, denominadas ‘invasões’) buscassealternativa individualizada para suprir suas necessidadesde abastecimento através da construçãode poços artesianos domiciliares.Segundo a Agência Reguladora dos ServiçosPúblicos Concedidos no Amazonas (ARSAM), existemcerca de 10 mil poços artesianos emManaus, dos quais 70% (mais de 7mil) são clandestinos, isto é, não háqualquer tipo de fiscalização sobreArquivo Águas do AmazonasPaulo Guimarães, geólogo e gerentede Operações de Água e Esgoto daConcessionária Águas do Amazonasos mesmos, um fator bastante preocupante.“Os poços domiciliares,por não atenderem aos padrõesnecessários, podem estar instaladospróximos a qualquerfonte contaminante (comopostos de gasolina, cemitérios,fossas sépticas eoutros). Normalmentenão recebem aplicaçãode tubo deproteção sanitária(revestimento ouO uso inadequado das águassubterrâneas diz respeito,principalmente,à falta de investimentoem estações de captaçãosuperficial e na rede dedistribuição‘encamisamento’) enem cloro (que é o selode qualidade da água),além de possuírem profundidade inadequada, entre 50e 70 metros, em média – podendo gerar contaminaçãoda água e colocar em risco a saúde das famílias que aconsomem”, alerta Guimarães.De acordo com Antonio Henriques Bento, geólogoe engenheiro civil da Universidade Federal doAmazonas (UFAM), infelizmente não existe umalegislação disciplinando a construção de poçospara captação de água subterrânea no Estado doAmazonas. “Qualquer um fura poço aonde quer ecomo quiser. Poucas são as empresas devidamentehabilitadas para construção destas obras de captação.Além disso, não há uma fiscalização adequadada parte do CREA-AM com relação a este tipode obra”. Como já é sabido, oabastecimento da concessionárianão atende a toda a cidadede Manaus, e, para os que têmacesso ao abastecimento públicode água, que é taxado, ficamais acessível utilizar a águasubterrânea. “Além disso, comonão existe lei promulgada queestabeleça multa por uso indevidoe/ou consumo elevado deágua, esta prática se dissemina.Infelizmente, o amazonense não tem em sua culturaa importância do uso sustentável da água”, ponderaFabiola Tavares Bento, geóloga especialista emgeologia ambiental e em planejamento de águas,que realiza assessoria técnica para empresas nasáreas de Meio Ambiente e Hidrogeologia, dentreelas a Percol Perfurações, Construções e Serviços,empresa que, segundo ela, perfura mensalmente,em média, oito poços com profundidades variandode 80 a 200 metros.A concessionária Águas do Amazonas é responsávelpor administrar 150 poços tubulares profundos na cidadede Manaus, localizados nas zonas Norte e Lesteda cidade, que obedecem a diversos padrões paragarantir a qualidade da água. “Distribuímos hoje águaque seria suficiente para abastecer a uma populaçãocom o dobro de habitantes de Manaus. Produzimoságua tratada e de qualidade para uma cidade de aproximadamente3 milhões de habitantes. Nossa capacidadede produção é de 9 mil litros de água por segundo,somando-se as duas estações de tratamento doComplexo de Produção de Água da Ponta do Ismael, aestação de tratamento do Mauazinho e a produção dospoços tubulares profundos”, explica Paulo Guimarães.Segundo ele, o alto índice de furtos e fraudes cometidoscontra o sistema público de água tem sido o prin-ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEOOUTUBRO/NOVEMBRO de 201018


CAPAfalta de investimento em estações de captaçãosuperficial e na rede de distribuição”.Sobre isto, o geólogo da concessionáriaÁguas do Amazonas, Paulo Guimarães, explicaque, recentemente, a Concessionáriaconcluiu as obras de expansão e melhoriado sistema de abastecimento da cidade deManaus. Neste plano, foram construídos 21poços tubulares profundos, onde o abastecimentoera mais deficiente; foram instaladosmais de 650 km de rede de distribuiçãode água; construídos 11 novos reservatórios,além da ampliação e construçãode novas elevatórias de água. “Estamosna fase de ajustar os setores hidráulicos ecombater as perdas. Após esses ajustes,vários poços serão desativados”.CPRM AmazonasInsuficiência deconhecimento esuperexplotaçãoAo que tudo indica, em Manaus, assim como emoutras regiões do Brasil, não há estudos hidrogeológicosdetalhados que permitam uma exploraçãoadequada deste recurso, podendo comprometera qualidade e a disponibilidade do recurso hídricosubterrâneo na região, o que se mostra uma grandepreocupação para muitos especialistas. “Estamosexplorando algo que não conhecemos devidamentepodendo provocar a sua exaustão ou, inclusive,problemas geotécnicos de subsidência por captaçãoexcessiva, bem como a sua contaminaçãoem consequência da construção depoços sem obediência às normastécnicas pertinentes. O grande desafioé, portanto, investimento nasArquivo pessoalAntonio Henriques Bento,geólogo da Universidade Federaldo Amazonaspesquisas hidrogeológicas paraaprofundar os conhecimentos sobreo aquífero Alter do Chão e disciplinaras atividades relativas ao aproveitamentodas suas reservas”, destacaAntonio Henriques Bento.A geóloga Patrícia Tavares lembraainda que “para preservar olençol com características potáveis,é necessário monitoraros poços existentes, mesmoos regularizados e construídospor empresas que apresentamcertificação ISO14000, que sãoRede de Monitoramento de poço da CPRM-Manausobrigadas pela norma a apresentar relatórios demanutenção, limpeza periódica do poço e dadoshídricos dos níveis de água, para manter esta certificação”.Segundo ela, falta divulgação e acessoda população e dos perfuradores regionais a estesdados. “Mais uma vez reitero que o que falta é vontadepolítica, definir uma câmara técnica, avaliar asituação do uso das águas, como um todo, considerandoque é um recurso que pode ser exploradoem prol da sociedade”.A cidade de Manaus já foi contemplada com algunstrabalhos hidrogeológicos, como o zoneamentoeconômico e ecológico da sua porção norte- a avaliação da qualidade das águas do seu aterrosanitário. Em 2002, a CPRM escreveu a CartaHidrogeológica da Cidade de Manaus e, em 2004, aconcessionária Águas do Amazonas, por intermédioda Shaft Consultoria Ltda, realizou um trabalho paraavaliar, principalmente, a capacidade de produçãodo reservatório. “Esse trabalho comprovou as zonascríticas do anterior e foi mais além: concluiuque em 2015 o Aquífero Alter do Chão, de quase200 metros de espessura saturada, secará na zonaleste da cidade (bairro de Jorge Teixeira), devido àsuperexplotação, principalmente pelos poços daconcessionária, que vêm trabalhando com vazõessuperiores a 100 m 3 /hora, durante 24 h/dia”, expõe.Contudo, com relação à qualidade das águas,Carlos Aguiar cita o bairro de Educandos (sudoesteda cidade), onde o rebaixamento das águas atingiuvalores expressivos. Está hoje em cotas menores queÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEOOUTUBRO/NOVEMBRO de 201020


CAPAas águas do igarapé do Quarenta. “Assim, as águascontaminadas do igarapé estão se infiltrando, processoinverso na cidade, e se espalhando em profundidadesegundo as novas direções de fluxo”. Ele apontaainda que uma explotação sustentável do recurso temque passar primeiramente por uma Lei de RecursosHídricos abrangente com relação à sua realidade,como também por uma equipe técnica qualificada epor trabalhos que retratem as principais característicasdos aquíferos, inclusive limites e previsões.“Sempre sugeri a reunião dos melhores especialistaspara que se pudesse realizar um estudo científicodo nosso aquífero e com isso poder tomar asmedidas corretas para preservar esse recurso nãorenovável. Basicamente, os governos estaduais ouda União devem patrocinar esse estudo, que deveser realizado principalmente por técnicos das universidades.Teoricamente este seria o caminho aseguir. Na prática, acho que essa decisão simplesesbarrará certamente em algum tipo de interesse,que não estará em sintonia com o do bem comum.Gostaria de pensar de uma maneira mais otimista,mas o nosso dia a dia me leva a concluir dessa forma”,argumenta Carlos Augusto de Azevedo.Impactos ambientais e odesafio do uso sustentávelA falta do uso de técnicas adequadas para a construçãoe a manutenção do poço, somadas à falta defiscalização e de controle dos órgãos gestores, bemcomo à superexplotação, compõem um quadro alarmante,com impactos visíveis já sentidos pela cidadee com possíveis e danosas consequências futuras.Na área do Distrito Industrial, já se sabe que nosúltimos 30 anos houve um rebaixamento expressivodos níveis de água, mas que ainda não são suficientespara decretar um estado de emergência. FabíolaTavares explica que no Distrito já se registrou níveis30 metros menores aos comparados há anos anteriores.Isso quer dizer que antes havia captaçãode água aos 60 metros, mas hoje no mesmo localsurge água a partir dos 90 metros de profundidade.“Isso obriga os perfuradores a explorarem mais fundoo aquífero existente. Como não há critério técnicopara a maioria dos perfuradores, se verifica umagrande possibilidade de contaminação ambientaldo aquífero”.OUTUBRO/NOVEMBRO de 2010ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO21


CAPAArquivo PessoalQuanto ao restante da cidade, Azevedo revela quenão há até o momento uma informação mais sólida.“Existe um estudo da CPRM (Projeto SIAGAS), masmuitas informações foram colhidas de perfuradoresque não usam os procedimentos corretos. Por essemotivo, a meu juízo, os dados nãosão confiáveis para mapear corretamenteos aquíferos”.Se a situação atual é preocupante,o futuro parece ser aindamais. A copa de 2014 alavancoua já crescente indústria da construçãocivil na capital amazonensee o número de poços deverá aumentar,principalmente os clandestinos. “O novo estádiode futebol em Manaus está orçado em R$ 500milhões, mas acha-se que chegará a R$ 1 bilhão. Omelhor time da região disputa a série D do futebolbrasileiro. Depois da copa quem vai lotar o estádiopara assistir a uma partida? Será que esse dinheironão poderia ser usado para um estudo hidrogeológicomais completo e definidor, para ter um dadocientífico acurado visando o correto gerenciamentodas águas subterrâneas?”, indaga e desabafa opresidente do Núcleo <strong>ABAS</strong> Amazonas.Diante deste contexto, são inúmeros os desafiospara preservação das águas amazônicas, o quedemanda ações concretas e eficientes dos órgãosgestores responsáveis. E a fiscalização é um dosgrandes desafios. De acordo com Azevedo, a Leide Recursos Hídricos estadual foi regulamentadarecentemente e o Instituto de Proteção Ambientaldo Estado do Amazonas (IPAAM) ficou com a missãode gerenciar o uso das águas subterrâneas.“Porém, os funcionários do IPAAM têm dificuldadede diferenciar um poço tubular profundode uma cacimba (nascente).Toda a papelada já foi escritapara preservar este recursovalioso, mas ainda vamoster muitas agressões ao meioambiente até que se possaefetivamente fiscalizar as obrasCarlos Aguiar, geólogo da CPRMdo AmazonasPara preservar o lençol comcaracterísticas potáveis, énecessário monitorar ospoços existentes, mesmo osregularizadosirregulares”, acredita.A falta de atuaçãodo poder público noAmazonas também éum problema apontadopor CarlosAguiar, já que “aLei de RecursosHídricos foi aprovada e regulamentada, faltandoapenas a sua normatização e também a formaçãode uma equipe por parte do órgão gestor comcondições para fiscalizar o gigantesco estado doAmazonas, promovendo a exploração adequadae eficiente dos recursos superficiaise intensificando o saneamentobásico”. Todavia, segundoele, é importante mencionarque Manaus é uma das cidadesque mais cresce no Brasil em termospopulacional, notadamentena direção norte. “Portanto, édifícil para o governo atender atodos de forma sustentável, assim a água subterrâneaserá a única solução, devido à distância cadavez maior dos rios Negro e Solimões”.Estudos da CPRM revelam que a cidade deManaus tem uma reserva de água subterrânea deaproximadamente 15 km 3 (Alter do Chão), renovadaconstantemente devido às grandes precipitaçõespluviométricas da região. Apesar da grande reservade água, a recuperação do aquífero diante dobombeamento atual não é eficiente, como se esperava.“Na cidade, já existem muitos locais ondeo rebaixamento supera 50 metros, para apenas 35anos de explotação. Assim, uma maior exploraçãodas águas superficiais seria mais indicada. Outrasolução poderia ser o sistema Aquífero Trombetas-Prosperança, que ocorre em maior profundidade,todavia pouco se sabe da sua hidrogeologia”, acreditaAguiar.Para Paulo Guimarães, seria inviável promover oabastecimento de água de uma cidade do porte deManaus por meio de água subterrânea apenas, poisseria preciso construir milhares de poços. E tanto apopulação como a qualidade da água ficariam vulneráveispor este modelo. “Por estar na maior baciahidrográfica do mundo, às margens de um dosmaiores rios do planeta, e por já possuir toda umaestrutura de captação e distribuição de água superficialjá implantada, a melhor solução para Manausé a água superficial”, acredita.Já quanto ao estado do Amazonas como um todo,Antônio Bento vê que o sistema misto de abastecimento,ou seja, a captação a partir de mananciais desuperfície e a partir de poços tubulares profundos, seriauma solução possível e viável, do ponto de vistaambiental e de suprimento das demandas públicasde água no estado de modo geral, para os que nãodispõem de rede de distribuição adequada.ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEOOUTUBRO/NOVEMBRO de 201022


CAPACUIDAR PARA DESFRUTARAquífero Alter do Chão requer estudos aprofundados para viabilizar sua explotação adequadaA Formação Alter do Chão de idade cretácea está inseridana Bacia Sedimentar do Amazonas, ocorrendo deforma aflorante com uma área em torno de 436.000 Km²e, na Bacia Solimões em subsuperfície, com uma áreade 629.000 Km², conforme dados da CPRM-AM. Alémdisso, é constituída por uma sedimentação fluvial, compostaprincipalmente por arenitos e conglomerados(80%) e argilitos avermelhado-esbranquiçados caulínicos(aproximadamente 20% da formação). CarlosAguiar, geólogo da CPRM do Amazonas, explica queem Manaus o Aquífero Alter do Chão apresenta-secom transmissividade média de 110 m 2 /dia e capacidadeespecífica de 2,0 m 3 /h.m. Na porção aflorante,trata-se de um aquífero principalmente livre, entretantona Bacia do Solimões encontra-se confinado, sotopostoà Formação Solimões predominantemente argilosa, epouco se sabe de suas características hidrogeológicas.Contudo, verifica-se que o “o Alter do Chão representaum dos maiores reservatórios de água subterrânea doplaneta e, portanto, deve ser devidamente gerenciadopara evitar situações comprometedoras, como o rebaixamentode suas águas em vários locais da cidade deManaus. O bairro Jorge Teixeira, situado na zona lesteda capital, é um exemplo, onde o nível das águas já foirebaixado em mais de 100 metros, desde 1980 quandotudo começou”, elucida.Quanto às pesquisas sobre suas políticas de gestãoe preservação, ainda há muitos desafios e obstáculos,pois, de modo geral, o Aquífero Alter do Chãoé pouco conhecido, em relação às suas dimensões.“Ele ocorre em superfície com aproximadamente336 km de largura e 1.300 km de extensão, deManaus às proximidades de Belém”, revela Aguiar.Ainda de acordo com ele, atualmente um grupo depesquisadores da Universidade Federal do Pará(UFPA) está tentando financiamento para realizar umestudo mais abrangente desta unidade aquífera, portratar-se, provavelmente, do maior reservatório deágua subterrânea do planeta. “Segundo trabalhos detécnicos da Petrobrás, essa unidade ocorre inclusivenas bacias subandinas, com espessura de até 3 km.Entretanto, pouco vem sendo feito com relação àproteção de suas águas, praticamente não existempolíticas públicas com este objetivo”. Entre os municípiosdo estado do Amazonas abastecidos peloAlter do Chão estão: Manaus, Manacapuru, Rio Pretoda Eva, Silves, Itacoatiara, Urucará, São Sebastiãodo Uatumã, Nova Olinda do Norte, Autazes, Careiro,Careiro da Várzea, Manaquiri, Novo Airão, Iranduba,Itapiranga, Maués, Manicoré, Boa Vista do Ramos,Parintins e Nhamundá.+ 60 mBR 174 (km 98)NORTESEÇÃO GEOLÓGICA ESQUEMÁTICABACIA DO AMAZONASBR 174 (km 30)SUL- 340 m- 740 m-1140 m-1540 m-2140 mFormação Alter do chãoFormação Nova OlindaFormação ItaiatubaLEGENDAFormação Monte AlegreGrupo CuruáFormação MaecuruGrupo TrombetasFormação ProsperançaEmbasamento VulcânicoOUTUBRO/NOVEMBRO de 2010ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO23


Meio AmbienteMaxiáguaÁguas subterrâneaseFluidos de PerfuraçãoEssenciais na perfuração de poços, fluidos de perfuração contêm aditivos, dentre eles óleose graxas. É possível utilizá-los sem contaminar o meio ambiente?Daniela MattiasoTodo trabalho de perfuração de poços exige o usode fluido de perfuração. Uma mistura que tem comofunção resfriar e lubrificar a broca; limpar o fundo dopoço dos detritos de perfuração; estabilizar as pressõesde sub-superfície; permitir uma adequada avaliaçãoda formação geológica; reduzir o atrito entrehaste de perfuração e as paredes do poço; formar umfilme de baixa permeabilidade (reboco) nas paredesdo poço prevenindo processos de filtração, que é apassagem do fluido para o exterior do furo, e impediro inchamento de argilas hidratáveis da formação.Por conta de todas estas características, seu uso torna-seindispensável para o processo de perfuração rotativo,constituindo-se no elemento mais importante destaoperação. Joel Felipe Soares, ex-presidente da <strong>ABAS</strong> esócio-diretor das empresas System Mud e Trionic, explicaque perfurações para poços de água utilizam fluidosbase água ou com ar-comprimido, enquanto que perfuraçõespara poços de petróleo incluem os base óleoou emulsões. E são estes últimos, os que utilizam óleose compostos graxos para obter um fluido lubrificante einerte a reação com argilas e folhelhos hidratáveis, presentesnas formações geológicas. “No caso das perfuraçõespara água utiliza-se graxa nas roscas dos tubosde perfuração e não no fluido propriamente, o que nãoimpede a contaminação do último pela primeira. Oschamados óleos solúveis também são usados ocasionalmente,quando há necessidade de se aumentar a lubricidadedo fluido base água. No fluido a base de águautilizado para poços de produção de àgua, usam-se aditivoscomo bentonita (argila hidratável industrializada),polímeros Carboximetilcelulose (CMC), Poliacrilamida(PHP) e Goma Xantana que atuam como viscosificantes,ou seja, são capazes de ‘engrossar’ o fluido. Tambémse utilizam produtos para tamponar fraturas em caso defuga de lama, afinantes para lamas muito espessas, lubrificantese inibidores de hidratação de argilas, que énormalmente o principal entrave na execução das perfurações”,esclarece ele.O fluido de perfuração pode ser utilizado para a perfuraçãode qualquer tipo de poço, “até mesmo a perfuraçãode poços com percussoras, que fazem usoda bentonita para auxiliar na limpeza dos recortes.Os fluidos diferem de acordo com o tipo de formaçãogeológica. Ao se perfurar argilas e folhelhos, porexemplo, são necessários fluídos contendo produtospara evitar a hidratação destas. A expansão das argilaspode causar acidentes como prisões da coluna deperfuração ou enceramento das brocas. Já as perfuraçõescom ar-comprimido para rochas mais consolidadasaplicam uma espuma especial capaz de elevarsua performance, o que também não deixa de ser umfluido de perfuração”, afirma Joel.Preparação de fluído de perfuraçãoSystem Mud e TrionicÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEOOUTUBRO/NOVEMBRO de 201024


MEIO AMBIENTEArquivo PessoalFluidos base óleoA utilização de fluidos com base óleo já foi alvo deinvestigações ambientais, uma vez que a presençadestes poderia gerar contaminações ao atravessaremaquíferos para se atingir reservatórios de petróleo amaiores profundidades.Segundo o geólogo e consultorda Petrobrás, RicardoLuiz de Campos Vaqueiro, atéinício da década de 80, quandoa preocupação ambientalainda era incipiente, o óleodiesel era largamente utilizadona composição do fluido deperfuração base não aquosa.Com a crescente preocupaçãoambiental, “a indústria buscousubstitutos ambientalmente seguros,mas que mantenham obom desempenho característicodos fluidos não aquosos”, de acordo com ele.Vaqueiro comenta que os principais substitutos oferecidosatualmente no mercado brasileiro são as parafinas,ésteres e acetais, “os quais possuem teores desprezíveisde hidrocarbonetos aromáticos, reduzindoRicardo Luiz de Campos Vaqueiro,geólogo e consultor na Petrobrássensivelmente o potencial de risco, comparado com os25% de hidrocarbonetos aromáticos apresentados noóleo diesel”. No caso das parafinas, atualmente é utilizadaa n-parafina hidrogenada, cujo objetivo é reduzirainda mais traços de compostos indesejáveis quepossam permanecer no fluido.Segundo Joel, os compostos petroquímicosportadores de elementos comprovadamente cancerígenos,como o benzeno, poderiam ser substituídospor óleos e graxas de origem vegetal. “Taisaditivos possuem qualidade de desempenhosimilar ou superior aos minerais com custosaltamente competitivos. Outros ingredientesde características biodegradáveiscomo os polímeros naturais estão cadavez mais presentes nas obras. Tais aditivostêm impacto bastante reduzido porsua biodegradabilidade imediata e manuseioseguro”, garante ele. A proposta do especialista é autilização de um fluido de perfuração que possui somentematérias-primas atóxicas e biodegradáveis. “Estes produtosjá são comercializados. Eles são testados emlaboratórios especializados de renome internacionalpara averiguação de seu potencial toxicológico e contaminante,sendo liberados apenas em caso de resultadosnegativos”, destaca ele.<strong>ABAS</strong>Joel Felipe Soares, ex-presidenteda <strong>ABAS</strong> e sócio-diretor daSystem Mud e TrionicOUTUBRO/NOVEMBRO de 2010ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO25


Meio AmbienteMaxiáguaJosé Paulo G. M. Netto, diretor executivo daMaxiágua, acredita em outra alternativa, sem ser autilização da base de polímeros inorgânicos da classedas poliacrilamidas para perfuração de poços.“Sempre trabalhei bastante com fluidos 100%orgânicos (CMC - carboximetilcelulose), masna prática, no Brasil, o usual é a bentonita. Aminha receita para melhorar sua utilização, éaditivar esta na razão de 0,5 a 1,0 Kg /m³ delama produzida, assim obtém-se um fluidomais equilibrado, com maior controle defiltrados. Quando falamos em fluidosorgânicos, a base de CMC, o custose torna visível e, assim, existe umaresistência para sua aplicação”, comentaele.Ainda segundo José Paulo, “todofluído de perfuração causará um danomomentâneo ao aquífero, pois uma parte entra no aquífero,colmata as paredes do furo e muda as condiçõesde permeabilidade e fluxo. Desta forma, é de extremaimportância que se aplique um correto processo de desenvolvimento,que permita a correção destas condiçõesgeradas durante a perfuração”. Para isso, ele recomendao uso, durante o desenvolvimento do poço, de produto àbase de ortofosfatos, “que tem obtido excelentes resultados,inclusive, em casos onde outros produtos não tiverama ação esperada”, segundo ele.José Paulo G. M. Netto, diretorexecutivo da MaxiáguaSegurançaPara garantir a correta construção do poço paraprodução de água e evitar as contaminações noslençóis freáticos, é importante também a solicitaçãodo processo de outorga, seguindo as normasda Associação Brasileira de Normas Técnicas- ABNT. “Isto garantirá que profissionais habilitadosanalisem o projeto de construção, no qual osprodutos utilizados estarão especificados”, afirmao hidrogeólogo e consultor da área, João CarlosSimanke de Souza.Ele alerta ainda que usos excessivos de componentesdanificam a construção do poço, pois diminuema vazão e tornam ineficazes acaptação dos filtros, devido a suaobstrução, podendo causar atémesmo a perda total da perfuração.“A melhor forma de evitar esta situaçãoé construir o poço usandoas normas ABNT, contratandoempresas idôneas,que sejam credenciadaspela <strong>ABAS</strong>, sobresponsabilidade deum profissional habilitado”,indica ele.<strong>ABAS</strong>João Carlos Simanke de Souza,hidrogeólogo e consultorEmbora a contaminação pelo fluido seja de interesseambiental, poucos têm sido os estudos sistemáticossobre a utilização de diferentes compostos e seucomportamento nas águas subterrâneas.O geólogo Ricardo Luiz de Campos Vaqueiro realizourecentemente uma pesquisa sobre o assunto parasua dissertação de mestrado. Ela foi apresentada naUniversidade de São Paulo (USP) e intitulada como“Avaliação do potencial de contaminação de aquíferosporosos a partir da perfuração de poços de petróleoutilizando fluído n-parafina”.No trabalho, ele avaliou o comportamento do fluidode perfuração com n-parafina, na Bacia do Recôncavo,situada no Estado da Bahia, onde foram perfuradospoços atravessando aquíferos da Formação SãoSebastião. A análise foi baseada em simulações matemáticasdo transporte dos compostos encontradosno fluido n-parafina e em amostras coletadas a partirde testes de formação a cabo durante a perfuraçãoESTUDOS NA ÁREAdos poços. Segundo Vaqueiro, a partir da simulaçãodestes valores reais, pôde-se concluir que, num piorcenário simulado, a menos de 50 cm da parede dospoços todas as concentrações encontram-se perfeitamentedentro dos padrões de potabilidade para todosos compostos analisados. Além disso, de acordo coma metodologia utilizada na pesquisa, a utilização defluidos não aquosos (n-parafina), foi ambientalmenteinofensiva como fluido de perfuração para este tipo decenário hidrogeológico.“As simulações matemáticas de transporte de solutoforam realizadas e os resultados mostraram que as concentraçõesde benzeno apresentaram valores inferiores5 µg/L a menos de 20 cm da parede do poço, sendo quepara as simulações foram utilizados valores muito elevados,bem superiores aos do fluido. Hoje a utilização den-parafina hidrogenada, patenteada pela Petrobras, praticamenteeliminou essa discussão. E o preço final aindaé imbatível frente às opções do mercado.”, explicou ele.ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEOOUTUBRO/NOVEMBRO de 201026


emediação<strong>ABAS</strong>John CherryUniversidade de GuelphOntario, Canadá“Liners” impermeáveis eflexíveis na investigaçãode contaminação emrochas fraturadas.Um grupo de pesquisadores da Universidade deGuelph, liderados pela Dra. Beth Parker, tem desenvolvidouma ampla abordagem para investigações de locaiscontaminados em rochas fraturadas, cujas aplicaçõesestão em grande expansão na América do Norte.Taisinvestigações objetivam delinear a distribuição de contaminantese entender o transporte e destino destes tantono conjunto de fraturas como nos blocos da rocha matrizentre elas. Esta abordagem é conhecida como DiscreteFracture Network (DFN) Approach (Abordagem porConjunto de Fraturas Discretas, numa tradução livre) einclui novos métodos importantes, muitos dos quais envolvemo uso de “liners” flexíveis, denominados tecnologiaFLUTe, desenvolvida por Carl Keller, fundador da empresa“Flexible Liner Underground Tecnologies Ltda.”,em Santa Fé, Novo México, produzida em colaboraçãoentre o grupo de Guelph desde 1997. Um “liner” é um cilindroflexível e impermeável que forma um bom selantena parede do furo, como um obturador (packer) continuamenteinflado. Ele evita conexões hidráulicas causadaspor água que flui para seu interior por algumas fraturas,movendo-se para cima ou para baixo para depois deixaro interior do furo por outras fraturas, o que facilita muito acontaminação cruzada, em geral piorando o cenário. Osistema FLUTe é, hoje, o único método prático disponívelpara selar rápida e temporariamente um furo. É utilizadopara se adquirir dados da formação antes da instalaçãode um poço simples ou multinível, dos tipos da WestbayMP, Waterloo-Solinst ou WaterFLUTe. Após 2005, duasoutras grandes vantagens emergiram da instalação do“liner”: perfilagem da condutividade hidráulica durantea sua instalação (foto) e perfilagem de alta resolução datemperatura da água estática no seu interior, através deum equipamento desenvolvido por Peeter Pehme, dogrupo de Guelph, que permite a identificação de fraturasativas. Os estudos mostram um nível de detalhe em muitosuperior a uma perfilagem sem a presença do “liner”,pois sem ele, a evidência termal da maioria das fraturasativas fica mascarada pela conexão hidráulica no interiordo furo. Várias outras perfilagens geofísica também podemser realizadas no seu interior. A remoção posteriorpermite a instalação do sistema mutinível ou do poçode monitoramento, que pode ser projetado com baseem seus resultados já interpretados. A forma comoo “liner” é inserido no furo tem a particularidade depermitir a instalação de vários tipos de equipamentosde medição e monitoramento em várias profundidadesdistintas em cada furo, como bombas para amostragemde água subterrânea, transdutores de pressão e inúmerosoutros produtos atualmente disponíveis e em desenvolvimento.As metodologias baseadas no sistemaFLUTe estão sendo intensivamente aplicadas pelogrupo de Guelph em seis áreas de rochas fraturadascontaminadas nos Estados Unidos e no Canadá, aomesmo tempo em que a metodologia também estásendo utilizada comercialmente em muitas outrasáreas da América do Norte e outros países. Estesmétodos servem às necessidades de vários profissionaisna investigação de contaminação, da mesmaforma que outras tecnologias recentes, mas sempreé necessário entender-se as particularidades decada local para se definir a melhor tecnologia e seestas necessitam de melhorias e adaptações para sevencer as dificuldades impostas por condições extremasou pouco usuais em cada furo. Este tem sidoo foco de grande parte das pesquisas do grupo daUniversidade de Guelph junto com a FLUTe.Perfilagem da condutividade hidráulica durante ainstalação é uma das vantagens do “liner”<strong>ABAS</strong>OUTUBRO/NOVEMBRO de 2010ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO27


CONEXÃO INTERNACIONALDavid MajorEnfrentando aContaminaçãopor SolventesCloradosA remediação de áreas contaminadas por solventes clorados é um grande desafio. Compostos orgânicos como o PCEe o TCE (tetra e tricloroeteno) são mais densos do que a água subterrânea, podendo formar DNAPLs. Nesses casos, asfontes de contaminação são altamente heterogêneas e difíceis de serem caracterizadas e remediadas.Marcelo Sousa e Juliana FreitasDavid Major conhece muito sobre o assunto e é o nossoentrevistado dessa edição. Dave trabalha na empresaGeosyntec Consultants Inc. desde 1998, gerenciandoo desenvolvimento e aplicação de tecnologias deremediação para áreas com alta complexidade.Dave também é professor nas Universidades deToronto e Waterloo (Canadá). Ele é um especialista nabiodegradação in-situ de solventes clorados, sendo umpioneiro no desenvolvimento, demonstração e aplicaçãode atenuação natural monitorada e biorremediaçãoacelerada. Seu trabalho com tecnologias de remediaçãotambém fez com que fosse incluído no Space Hall ofFame da NASA em 2007.A.M.A.S.: Quais são algumas das opções para aremediação de áreas contaminadas por solventesclorados?DM: O primeiro passo na seleção de uma tecnologiaé definir claramente os objetivos da remediação e seesses objetivos podem ser atingidos considerando ainfraestrutura e limitações hidrogeólogicas específicasda área. Exemplos de objetivos da remediação podemser: (1) atingir o padrão de potabilidade; (2) prevenira exposição aos vapores; (3) proteção de um receptorcomo um poço de abastecimento ou rio; (4) prevenir amigração de contaminantes para fora da propriedade;(5) reduzir o fluxo de contaminantes para menos que acapacidade de assimilação do aquífero. Os objetivos daremediação, combinados com as limitações específicasde cada área tem um grande impacto na escolha detecnologias. Por exemplo, o que você pode fazer seestiver lidando com uma grande área, com uma grandequantidade de produtos químicos em subsuperfíciee esses compostos estão prestes a atingir o limite dapropriedade? Realisticamente, você não pode removertodos os compostos, então talvez você só tenha quegarantir que esses compostos não vão migrar parafora da propriedade. Você pode escolher diferentestecnologias ou uma combinação de tecnologias eabordagens (i.e. a alternativa de remediação) paraatingir o seu objetivo. Algumas possibilidades sãoo bombeamento da água subterrânea no limite dapropriedade ou a criação de biobarreiras para tratar oscontaminantes, quando cruzam o limite da área. Outroexemplo: podem haver casos em que os contaminantesestão adsorvidos ou foram transportados por difusãopara camadas com menor condutividade hidráulica.Esses compostos vão gradualmente sendo liberados,mantendo as concentrações sempre acima dolimite de potabilidade, independente da tecnologiautilizada. Nesse caso, o objetivo da remediaçãoÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEOOUTUBRO/NOVEMBRO de 201028


CONEXÃO INTERNACIONALpode ser prevenir a exposição dos compostos. A suaopção pode ser instituir o gerenciamento da área ouestabelecer controles que controlem o uso de águade uma área impactada. Existem muitas tecnologiasque podem ser usadas sozinhas ou em conjunto paraatingir o seu objetivo de remediação. As opções deprocessos de remediação são: isolamento (físico ouhidráulico), remoção (como escavação, surfactantes,extração com injeção de água ou álcoois) e destruição(biológica, térmica, oxidação química).A.M.A.S.: Em quais condições a biodegradação in-situde solventes clorados é uma opção viável?DM: Em geral, as melhores condições (fácilimplementação e resultados rápidos) para abiorremediação são: fase residual de solventesclorados; condutividade hidráulica elevada como emareias; baixa heterogeneidade e anisotropia; ambienteanaeróbio (baixo potencial de oxi-redução, condiçõessulfato redutoras ou metanogênicas); mistura simplesde solventes clorados (por exemplo, derramamentode PCE ou TCE). No entanto, a biorremediaçãotambém tem sido utilizada para tratar concentraçõeselevadas de solventes clorados (perto ou no limite dasolubilidade), em áreas fontes onde DNAPLs (densenon aqueous phase liquids) estão presente em faselivre/móvel, onde a condutividade hidráulica é baixa(ambientes com mais siltes e argilas), condiçõesaeróbias iniciais e onde existem misturas complexasde solventes clorados (mistura de etenos, etanos emetano clorados)A.M.A.S.: Qual a diferença entre bioaumentação ebiorremediação acelerada?DM: Biorremediação acelerada é a adição de fontes decomida ou de nutrientes para estimular o crescimento eatividade dos microorganismos que tenham o potencialde degradar os solventes clorados. Bioaumentação éadicionar no ambiente microorganismos que possuama capacidade metabólica desejada. Um exemplo simplesé que nós “bioaumentamos“ leite com bactéria quefermentam os açúcares e transformam o leite em iogurte.Para biorremediação, um exemplo são as Dehalococcoidesque são necessárias para completar os estágios finais dedeclorinação de PCE/TCE para eteno. Nem todas as áreastêm os microorganismos certos ou às vezes a densidadedessas populações é muito baixa para ser efetiva. Nessasáreas, esses microorganismos podem ser adicionadospor direct push ou em poços de injeção.A.M.A.S.: Existe um receio em relação à adição demicroorganismos que não são originados da área a serremediada. O que acha? Existe motivo para preocupação?DM: Tomar cuidado é sempre uma boa prática. Noentanto, muitos dos microorganismos que são utilizadospara bioaumentação já estão naturalmente distribuídosno ambiente, mas não necessariamente em todas asáreas. Por exemplo, espécies de Dehalococcoides foramencontradas em todo o mundo. Uma cultura chamadaKB-1, da SiREM (www.siremlab.com) passou poruma investigação detalhada da Environment Canadae Health and Welfare Canada e é considerada segurapara ser utilizada. A KB-1 já foi injetada em mais de200 áreas nos Estados Unidos, Canadá, Hungria, Suécia,Dinamarca, Alemanha, Inglaterra e África do Sul comaprovação dos órgãos reguladores.A.M.A.S.: Na sua opinião, quais são os maiores desafiosque enfrentamos hoje em relação à contaminação deágua subterrânea?DM: Acho que um dos grandes desafios é definir comolidar com os problemas persistentes de contaminaçãocausados por solventes clorados, que são lentamenteliberados por argilas e rochas sedimentares após terem sidoexpostas à contaminação. Outros desafios são entender emdetalhe a migração e distribuição de DNAPLs e a migraçãodas plumas. É comum nossas investigações usaremgrandes intervalos de amostragem que nos levam a formarmodelos conceituais incompletos e podem impactarsignificativamente a nossa interpretação dos dados, seleçãoe monitoramento da performance da remediação.A.M.A.S.: Quais serão as maiores mudanças no campoda hidrogeologia no futuro?DM: Acredito que as maiores mudanças para o futuroserão a expansão no uso de trens de tratamento (diferentestecnologias sendo utilizadas sequencialmente) e aintegração nas estratégias de remediação de áreas fontespara atingir os objetivos com menor custo.A.M.A.S.: Quais são sugestões ou recomendações parahidrogeólogos no começo da carreira?DM: Leia muito e fora do seu campo de conhecimento,pois você nunca sabe de onde a próxima grandeideia pode vir. Alguns dos melhores insights edesenvolvimentos vêm da interface entre disciplinas.Por fim, um bom mentor sempre ajuda!OUTUBRO/NOVEMBRO de 2010ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO29


OPINIÃOABRELPECOM A POLÍTICA NACIONALDE RESÍDUOS SÓLIDOSO SETOR PASSA A SERALIADO DAS ÁGUASCarlos Roberto Vieira da SilvaFilho é diretor executivo daABRELPE – Associação Brasileiradas Empresas de Limpeza Públicae Resíduos Especiais.A atenção para os assuntos relacionados com o meioambiente cresce a cada dia, com destaque para os temas quetenham relação com as águas, nossa principal fonte de vidae, segundo alguns especialistas, o ouro do próximo século.Muito já se falou sobre a preservação de nascentes ede mananciais, proteção dos aquíferos e uso racionaldesse recurso, porém pouco tem sido falado a respeito dadegradação desse bem pela atuação indireta do ser humano.Na sociedade atual, o crescimento econômico é a tônicaem muitos países. Ano após ano, índices cada vez maioresde desenvolvimento e produção são perseguidos comafinco. Esse direcionamento traz impactos em diversossetores da economia e resulta, no final, em aumento nageração de resíduos.No Brasil foram geradas 57 milhões de toneladas deresíduos sólidos urbanos no ano de 2009, das quaissomente 50 milhões de toneladas foram coletadas. Temosassim que 7 milhões de toneladas de resíduos urbanosacabaram “abandonadas” no meio ambiente, indo pararem rios, mares, corpos d´água e terrenos baldios.Sem uma adequada gestão de resíduos, os danos àsaúde pública e ao meio ambiente são enormes e muitasvezes, irreversíveis. Um dos principais problemas do setorestá relacionado à destinação final.Atualmente 43% dos resíduos coletados não têmdestinação apropriada, sendo dispostos em lixões, aterroscontrolados e outras unidades inadequadas, que não contamcom as medidas de proteção ambiental exigidas pelosórgãos competentes, o que contamina o solo e as águassubterrâneas e é foco de disseminação de inúmeros vetores.A chegada da Política Nacional de Resíduos Sólidos noordenamento jurídico brasileiro, e sua integração à Políticade Meio Ambiente e à Política de Saneamento Básico,completará o regramento necessário para propiciaravanços concretos na gestão de resíduos sólidos, porémimplicará necessariamente em mudanças nos sistemasadotados atualmente.Segundo o que dispõe a Lei 12.305/2010, é imperativoque as autoridades competentes adotem práticaspreventivas na gestão de resíduos e não apenas direcionemesforços para solucionar o problema no fim da linha, emcumprimento ao prazo de quatro anos concedido pelaLei para adequação total da destinação final de resíduossólidos no país.Para tanto, é premente a necessidade de aumento novolume de recursos destinados ao setor, que deverãoser suficientes para fazer frente aos investimentos que sefarão indispensáveis a essa transição, pois é fundamentalque a totalidade dos resíduos tenha um destino finalambientalmente correto.Na gestão de resíduos sólidos não existe solução única,isolada. É imprescindível que haja uma integração entre assoluções disponíveis. O caminho para se atingir os objetivosdelineados pela Política Nacional de Resíduos Sólidosterá que obrigatoriamente passar pelo planejamento econscientização, que são os meios para se possibilitar umefetivo desenvolvimento do setor de resíduos sólidos quetambém é essencial à qualidade de vida de todos nós. Sóassim teremos garantias de que, pelo menos desse mal,nossos recursos hídricos não sofrerão.ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEOOUTUBRO/NOVEMBRO de 201030


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