12.07.2015 Views

Revista - ABAS

Revista - ABAS

Revista - ABAS

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

9 772238 088006 2 9SETEMBRO/OUTUBRO 2012ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 1


2 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO/OUTUBRO 2012


EDITORIALUMA EDIÇÃO PARA COMEMORARCaros leitores,Esta é uma edição muito especial, pois estamos comemorandoos cinco anos da nossa revista e a excelentenotícia sobre o Projeto Adutora do Sertão, que o colunistaCarlos Eduardo Quaglia Giampá, da seção Hidronotícias,nos traz. As águas subterrâneas são a grande fonte paramitigar a sede do Semiárido e de muitas regiões brasileiras,como o interior de Santa Catarina (ed. 22 – Maispoços, mais qualidade de vida) e o extremo sul do RioGrande do Sul, que sofrem com estresse hídrico. Emborapouco difundido pela mídia de massa, o abastecimentopor meio dessa fonte tem sido também a saídapara cidades como Recife e o Semiárido, como apontao presidente da <strong>ABAS</strong>, Humberto Albuquerque, em seuartigo nessa edição, Seca x Produção de Água. E é saídatambém para municípios com abundância de águassuperficiais, a exemplo de Manaus (ed. 18 – Águas Turbulentas).A Água e Meio Ambiente Subterrâneo temtrazido esses e outros temas como os da atual ediçãoque aborda o valor da água na matéria de capa e aquestão do seu sabor (afinal, água tem gosto) graçasà iniciativa da <strong>ABAS</strong> e dos nossos apoiadores. Únicarevista do mercado com foco em água e meio ambientesubterrâneo, queremos aproveitar a oportunidadepara fazer um agradecimento muito especial a todasCAPAÍNDICE08122214QUANTO VALE AÁGUA QUE VOCÊ USA?COBRANÇA DA ÁGUA TEM DIFEREN-TES VALORES, MAS TAXAS PAGAS PE-LOS USUÁRIOS AINDA SÃO CONSIDE-RADAS BAIXASXVII C<strong>ABAS</strong>BONITO RECEBE EM OUTUBRO O MAIS IMPORTANTE EVENTONACIONAL DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS E DE PERFURADORESSECA X CAMPOS DE PRODUÇÃO DE ÁGUACAMPOS DE PRODUÇÃO DE ÁGUA PODEM SER A SOLUÇÃO PARAAS ESTIAGENS CADA VEZ MAIS SEVERAS DA REGIÃO NORDESTEOS GOSTOS DA ÁGUAQUANTIDADE DE SAIS E GASES, TIPOS DE MINERAIS ECONTAMINANTES SÃO FATORES DETERMINANTES NA CLASSI-FICAÇÃO E NAS DIFERENTES PERCEPÇÕES DO SABORas empresas e às instituições que nos apoiaram e nosapoiam nessa jornada.Muitas delas – além de profissionais do setor – estarãopresentes no XVII Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas,XVIII Encontro de Perfuradores de Água e naVII FENÁGUA, que acontece de 23 a 26 de outubro, emBonito (MS). Um evento especial – e único no país – areunir num só local a ciência que estuda e pesquisa osmananciais subterrâneos; os profissionais que trabalhampara trazer, com qualidade, a água sob nossos pés embenefício da sociedade; e as empresas quecomercializam produtos e serviços para que os poçostubulares se tornem realidade. Para finalizar, queremostambém agradecer a você, leitor, que nos acompanhae nos prestigia a cada dois meses.Um forte abraço,Humberto José Tavares Rabelo AlbuquerquePresidente da <strong>ABAS</strong>Marlene Simarelli, editora4 Agenda5 Núcleos Regionais6 Opinião do Leitor8 <strong>ABAS</strong> Informa10 Hidronotícias28 Conexão Internacional30 Perfuração32 Remediação34 OpiniãoSETEMBRO/OUTUBRO 2012ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 3


AGENDAEVENTOS PROMOVIDOS PELA <strong>ABAS</strong>XVII CONGRESSO BRASILEIRO DE ÁGUASSUBTERRÂNEAS – XVIII ENCONTRO NACIONAL DEPERFURADORES DE POÇOS E VII FEIRANACIONAL DE ÁGUASData: 23 a 26 de outubro de 2012Local: Centro de Convenções de Bonito – MSInformações: Acqua ConsultoriaTelefone: (11) 3868-0726Email: xviicongressoabas@acquacon.com.brSite: www.abas.org/xviicongressoPromoção: <strong>ABAS</strong> – Associação Brasileirade Águas SubterrâneasEVENTOS APOIADOS PELA <strong>ABAS</strong>XIV FIMAI / SIMAI - XIV FEIRA E SEMINÁRIO IN-TERNACIONAL DE MEIO AMBIENTE INDUSTRIALE SUSTENTABILIDADEData: 06 a 08 de novembro de 2012Local: Expo Center Norte – Pavilhão AzulSão Paulo- SPInformações: 55 (11) 3917-2878Email: rmai@rmai.com.brSite: www.fimai.com.brXI SIMPÓSIO DE RECURSOS HÍDRICOS DO NOR-DESTEData: 27 a 30 de novembro de 2012Local: João Pessoa – PBInformações: Acqua Consultoria – (11) 3868-0726Email: xisrhn@acquacon.com.brSite:www.abrh.org.br/xisrhnINFORME <strong>ABAS</strong>Assinatura da revista Água eMeio Ambiente SubterrâneoA <strong>ABAS</strong> comercializa assinaturas da <strong>Revista</strong> Águae Meio Ambiente Subterrâneo, publicação bimestraldistribuída gratuitamente aos associados da <strong>ABAS</strong>e às instituições ligadas ao setor. A assinatura podeser feita pelo período de 6 ou 12 meses, renováveisa pedido do assinante. Os valores são de R$ 95para receber a revista durante 6 meses (3 edições)e de R$ 180 para receber durante 12 meses. O pagamentodeverá ser realizado via boleto bancário.As assinaturas deverão ser feitas no site:www.abas.org/revista_assina.php.DIRETORIAPresidente: Humberto José T. R. de Albuquerque1º Vice-Presidente: Mário Fracalossi Junior2º Vice-Presidente: Amin KatbehSecretária Geral: Maria Antonieta Alcântara MourãoSecretário Executivo: Everton de OliveiraTesoureiro: Álvaro Magalhães JuniorCONSELHO DELIBERATIVOHelena Magalhães Porto Lira, Zoltan Romero Cavalcante Rodrigues,Francisco de Assis M. De Abreu, Carlos Augusto de Azevedo, Carlos AlvinHeine, Francis Priscila Vargas Hager, Mário KondoCONSELHEIROS VITALÍCIOS/EX-PRESIDENTESAldo da Cunha Rebouças (in memorian), Antonio Tarcisio de Las Casas,Arnaldo Correa Ribeiro, Carlos Eduardo Q. Giampá, Ernani Francisco daRosa Filho, Euclydes Cavallari (in memorian), Everton de Oliveira, EvertonLuiz da Costa Souza, Itabaraci Nazareno Cavalcante, João Carlos Simankede Souza, Joel Felipe Soares, Marcílio Tavares Nicolau, Uriel Duarte, WaldirDuarte CostaCONSELHO FISCALTitulares: Arnoldo Giardin, João Manoel Filho, Egmont CapucciSuplentes: Nédio C. Pinheiro, Carlos A. Martins, Carlos José B. de AguiarNÚCLEOS <strong>ABAS</strong> – DIRETORESBahia: Zoltan Romero Cavalcante Rodrigues - zoltanr@gmail.com -(71) 9611-7222Ceará: Carlos Borromeu de Passos Vale - chapadinha222@bol.com.br - (98)3227-1069 / (98) 8896-3595Centro-Oeste: Nédio Carlos Pinheiro - abas.co@terra.com.br - (65) 9222-7374Minas Gerais: Carlos Alberto de Freitas - carlos.dfreitas@copasa.com.br -(31) 3250-1657 / (31) 3309-8000Paraná: Jurandir Boz Filho - jurandirfilho@suderhsa.pr.gov.br - (41) 3213-4744Pernambuco: Fernando Feitosa - fernando.feitosa@cprm.gov.br - (21) 9415.5727Rio de Janeiro: Gerson Cardoso da Silva Junior - gerson@acd.ufrj.br -(21) 2598-9481 / (21) 2590-8091Santa Catarina: Heloisa Helena Leal Gonçalves -abasscgestao20092010@abas.org - (47) 3341-7821/2103-5000Rio Grande do Sul: Mario Wrege – wrege.m@terra.com.br - (51) 3259-7642EXPEDIENTECONSELHO EDITORIALEverton de Oliveira, Gustavo Alves da Silva e Rodrigo CordeiroEDITORA E JORNALISTA RESPONSÁVELMarlene Simarelli (Mtb 13.593)DIREÇÃO E PRODUÇÃO EDITORIALArtCom Assessoria de Comunicação – Campinas/SP(19) 3237-2099 - artcom@artcomassessoria.com.brwww.artcomassessoria.com.brREDAÇÃOGabriela Padovani, Larissa Stracci e Marlene SimarelliCOLABORADORESCarlos Eduardo Q. Giampá, Juliana Freitas e Marcelo SousaSECRETARIA E PUBLICIDADEinfo@abas.org - (11) 3868-0723COMERCIALIZAÇÃO DE ANÚNCIOSSandra Neves e Bruno Amadeu - marketing@acquacon.com.brIMPRESSÃO E ACABAMENTOGráfica MundoCIRCULAÇÃOA revista Água e Meio Ambiente Subterrâneo é distribuída gratuitamente pelaAssociação Brasileira de Águas Subterrâneas (<strong>ABAS</strong>) a profissionais ligados ao setor.Distribuição: nacional e internacionalTiragem: 5 mil exemplaresOs artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem,necessariamente, a opinião da <strong>ABAS</strong>.Para a reprodução total ou parcial de artigos técnicos e de opinião énecessário solicitar autorização prévia dos autores. É permitida areprodução das demais matérias publicadas neste veículo, desde quecitados os autores, a fonte e a data da edição.4 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO/OUTUBRO 2012


NÚCLEOS REGIONAISCT-AS prepara nova resoluçãopara perfurar poçosUma das principais frentes de atuação do Núcleo <strong>ABAS</strong>-RJ é a Câmara Técnica de Águas Subterrâneas (CT-AS)do Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERHI), cujocoordenador é o geólogo Aderson M. Martins, um dos diretoresdo Núcleo. Entre os temas atualmente tratadospela CT-AS destaca-se a elaboração de uma nova Resoluçãosobre Autorização para Perfuração de Poços de domíniodo Estado do Rio de Janeiro. O documento a ser produzidodeverá ser levado à apreciação do Conselho Estadualde Recursos Hídricos para tornar-se uma resoluçãodeste Conselho, a ser observada pelo INEA, órgão gestorde recursos hídricos estadual. O texto-base para discussãoé a Portaria 385, publicada em abril de 2005 pela extintaSuperintendência Estadual de Rios e Lagoas (SERLA),considerada desatualizada pelo próprio INEA, que tomoua inciativa de trazer o tema para apreciação na CT-AS. Outroassunto relevante que vem sendo tratado é o PlanoEstadual de Recursos Hídricos do Estado do Rio de Janeiro(PERHI-RJ), cuja parte relativa às águas subterrâneasvem sendo acompanhada pela CT-AS, por meio de umaapresentação periódica do andamento dos trabalhos pelaFundação COPPETEC, instituição encarregada da elaboração,ocasião em que se disponibilizam a receber críticase sugestões.Nova diretoria da <strong>ABAS</strong>Ceará toma posse e édestaque na mídiaA nova diretoria da <strong>ABAS</strong> Núcleo Ceará tomouposse no último dia 30 de agosto no auditório dasede da Companhia de Saneamento Ambientaldo Maranhão (CAEMA). Composta pelos estadosdo Ceará, Piauí e Maranhão, terá como presidentepelos próximos dois anos o geólogo CarlosBorromeu de Passos Vale.Destaque na mídia local, a cerimônia de posseda nova diretoria foi divulgada pelos principaisveículos de comunicação do Maranhão como osportais: CAEMA, Imirante (da Globo.com), JornalPequeno, Jus Brasil, entre outros, o que reflete aimportância da atuação do Núcleo em prol daságuas subterrâneas dos três estados.<strong>ABAS</strong> Núcleo Pernambucorenova diretoriaA <strong>ABAS</strong> Núcleo Pernambuco realizou no dia 3 deagosto, a eleição para sua nova diretoria. A chapa“<strong>ABAS</strong> para todos” foi eleita para o biênio 2012/2014 e tem como presidente, Fernando AntônioCarneiro Feitosa; 1º vice-presidente, Helena MagalhãesPorto Lira e 2º vice-presidente, AlaricoAntônio Frota Mont’Alverne.Águas subterrâneas foram temado ciclo de palestras do DRMO Serviço Geológico do Estado do Rio de Janeiro (DRM-RJ), como parte do ciclo de palestras que promove,abordou o tema Águas Subterrâneas no Estado do Riode Janeiro – Situação Atual e Perspectivas, no últimodia 30 de agosto, em Niterói.O evento foi realizado em parceria com a AssociaçãoBrasileira de Águas Subterrâneas – Núcleo Rio de Janeiroe teve a participação de representantes e pesquisadoresda Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) eUniversidade do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF).SETEMBRO/OUTUBRO 2012ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 5


SETEMBRO/OUTUBRO 2012ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 7


<strong>ABAS</strong> INFORMAMarcos KoaraBonito, cidade das águas, recebe o XVII C<strong>ABAS</strong>“Águas Subterrâneas para o desenvolvimento sustentável”é o tema do XVII Congresso Brasileiro de ÁguasSubterrâneas (XVII C<strong>ABAS</strong>), que acontece entre os dias23 e 26 de outubro de 2012, na cidade de Bonito (MS).Com atividade econômica principal focada no turismodas águas, Bonito recebe também o XVIII Encontro Nacionalde Perfuradores e a VII Feira Nacional da Água(FENÁGUA), eventos simultâneos ao congresso. A “Importânciada Água no Desenvolvimento de Mato Grossodo Sul” será a conferência de abertura do evento, quereunirá em um só local, pesquisadores, profissionais,estudantes, além das principais empresas dos setorespúblico e privado de águas subterrâneas do país.Esta edição do C<strong>ABAS</strong> debaterá temas importantescomo: restrições de uso das águas subterrâneas; o futurodo Sistema Nacional de Gestão de RecursosHídricos; empreendimentos Agropecuários e as relaçõescom a água; saneamento ambiental; formação de preçode poços tubulares; o papel do estado como indutordo manejo dos recursos hídricos subterrâneos; aquíferostransfronteiriços; valor econômico da água, entre outros.O evento contará com a presença de renomados especialistas,entre eles, Fernando Roberto de Oliveira, daAgência Nacional de Águas (ANA); Everton Souza, doInstituto Ambiental do Paraná (IAP), Patrícia Boson, doInstituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), Francisco deAssis, da Universidade Federal do Ceará (UFC), HiroshiIetsugu, da Associação dos Engenheiros da Sabesp(AESABESP) e João Manoel Filho, da Universidade Federalde Pernambuco (UFPE).A programação começará a partir das 14h e as sessõestécnicas, mesas redondas e conferências serãorealizadas até às 19h. A visitação à FENÁGUA seguiráaté às 21h. De acordo com a Rodrigo Cordeiro, diretorda Acqua Consultoria, empresa organizadora do evento,estão inscritos cerca de 400 participantes e são esperadospelo menos 800 visitantes.Outro destaque do evento será a apresentação dos trabalhostécnicos. Foram aprovados pela ComissãoOrganizadora, 239 estudos de alto nível técnico (na ediçãode 2010 foram 180). “Esse número demonstra umaevolução dos estudos do setor e dos profissionais da área,o que refletirá diretamente na qualidade do evento”, analisaGustavo Alves da Silva, da Hidroplan, um dos integrantesda comissão que selecionou os trabalhos.Durante o C<strong>ABAS</strong> ocorrerá a eleição da nova diretoriada <strong>ABAS</strong> Nacional. A “Chapa Sustentabilidade” foi registradacumprindo as regras previstas nos estatutos da<strong>ABAS</strong> e terá como candidatos: presidente, Waldir DuarteCosta Filho, da <strong>ABAS</strong> Núcleo Pernambuco, como 1º vicepresidenteCláudio Pereira Oliveira, da <strong>ABAS</strong> Núcleo RioGrande do Sul e como 2º vice-presidente, Maria AntonietaAlcântara Mourão, da <strong>ABAS</strong> Núcleo Minas Gerais.Mais informações e inscrições no site: www.abas.org/xviicongresso.PATROCINADORESAgência Nacional de Águas (ANA), AnalyticalTechnology, CAPES, Geosol, Governo do Estadode Mato Grosso do Sul, MMX, Perfuratriz DTH,SABESP, Serviço Geológico do Brasil - CPRM eVale S. A.EXPOSITORES DA FENÁGUAAçofiltro, Agência Nacional de Águas (ANA),Analytical Technology, Ar Brasil Compressores,Bombas Leão S. A., C.R.I Bombas Hidráulicas,Caimex Comércio Exterior, Chicago Pneumatic,Clean Environment, Corplab, CREA-MS, Dancor,Drill Center, Drillmine, Ebara, Franklin Electric,Geosol, Giuli Bombas, Governo do Estado deMato Grosso do Sul, Keller, Mojave, Prominas,Sampla do Brasil, Schulumberger Water Services,Serviço Geológico do Brasil – CPRM, Sidermetal,Sidrasul, System Mud e Perfuratriz DTH.APOIO INSTITUCIONALFundação de Turismo, Governo do Estado deMato Grosso do Sul, Hidroplan e SeproturGruta do Lago Azul- águas azuladascom profundidadeestimada de 90m8 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO/OUTUBRO 2012


<strong>ABAS</strong> INFORMA<strong>Revista</strong> Água e Meio Ambiente Subterrâneo completa cinco anos<strong>ABAS</strong> participa do HydrocarbonSummit 2012, em WaterlooProfessores, consultores, legisladores e profissionais demeio ambiente da indústria do petróleo participaram do8º. Encontro Anual sobre Transporte, Comportamento eRemediação de Hidrocarbonetos em Meio AmbienteSubterrâneo (8th Annual Hydrocarbon Summit Transport,Fateand Remediation of Hydrocarbons in the Subsurface),da Universidade de Waterloo, no Canadá. Segundo James(Jim) Barker, organizador do evento, “o encontro permitiuuma ótima interação entre os 60 participantes. As perspectivasinternacionais foram bem representadas, com apresença de Brasil, Estados Unidos (Bruce Bauman, CurtisStanley e outros), Itália (Massimo Marchesi), entre outrospaíses”. Everton de Oliveira representou o país pela <strong>ABAS</strong>e pela UNESP – Rio Claro, onde é professor. Na opiniãode Oliveira, que também é diretor da Hidroplan, ”foi umexcelente encontro técnico, pois mostra o nível das pesquisasno Canadá e garante que a pesquisa sobre o temaé relevante”.Bruce Baumam, da American Petroleum Institute (API)considera que “o evento é uma oportunidade para oaprendizado sobre novas tecnologias. Muitos dos trabalhosapresentados resultam de pesquisa entre consórciosde várias universidades, da API, de empresasde consultoria e das agências ambientais de Ontario”. Aindústria petrolífera tem mostrado interesse especial nouso das facilidades instaladas no campo de testes deBorden para experimentos com derrames controladospara entender o comportamento do etanol em meioambiente subterrâneo. Pesquisas futuras indicam focomaior na avaliação da efetividade de remediações insituinovadoras, como oxidação química e queima semchama (smouldering).A <strong>Revista</strong> Água e Meio Ambiente Subterrâneo, umadas mais importantes publicações técnicas sobreáguas subterrâneas do país, está completando cincoanos em outubro. A publicação bimensal, editada pelaAssociação Brasileira de Águas Subterrâneas, tem distribuiçãonacional e internacional. De acordo comHumberto de Albuquerque, presidente da <strong>ABAS</strong>, “apublicação é um marco nos setores de águas e meioambiente subterrâneo”.Entre os temas abordados nas últimas 28 edições,foram pautados assuntos como utilização das águassubterrâneas para atividades industriais, áreas contaminadas,riscos do gás metano para a contaminação daágua e meio ambiente subterrâneo, regularização depoços, gestão de recursos hídricos, construção de poçose qualidade das águas, restrição de perfurações,desafios na gestão de aquíferos, águas contaminadas,recuperação de passivos ambientais e Regulamentaçãoda Lei do Saneamento. Além de outros importantes temasretratados nos cadernos Produção de Água e MeioAmbiente. A sessão Núcleos divulga os principais acontecimentosdos Núcleos da <strong>ABAS</strong>, o que possibilita umamelhor comunicação e maior difusão de notícias paraos sócios e profissionais ligados à água. As seções Opinião,Perfuração, Remediação e Conexão Internacional,conta com a presença de renomados profissionais nacionaise internacionais.A revista faz a cobertura dos principais eventos da<strong>ABAS</strong>, como o Congresso Internacional de Meio AmbientaSubterrâneo (CIMAS) e o Congresso Brasileiro deÁguas Subterrâneas (C<strong>ABAS</strong>), realizado simultaneamenteao Encontro Nacional de Perfuradores de Poços e àFeira Nacional da Água (FENÁGUA). Everton de Oliveira,Gustavo Alves da Silva e Rodrigo Cordeiro integramo Conselho Editorial da publicação que tem como editorae jornalista responsável, Marlene Simarelli, daArtCom Assessoria de Comunicação, empresa responsávelpela direção e produção editorial da revista.SETEMBRO/OUTUBRO 2012ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 9


HIDRONOTÍCIASCarlos Eduardo Quaglia Giampá,Diretor da DH Perfuração de PoçosVALE DO GURGUEIA,ADUTORA DO SERTÃOO manifesto publicado pela Associação Brasileira deÁguas Subterrâneas (<strong>ABAS</strong>) no último número da revista(edição 28 – julho/agosto), cobrando uma ação efetivacontra o desperdício de água e a favor do abastecimentoem áreas do Semiárido, no Estado do Piauí, jáapresenta resposta prática.A empresa estadual Águas e Esgotos do Piauí(AGESPISA) está licitando o Projeto da Adutora do Sertão,que deverá propiciar o abastecimento para 42 municípiossituados na região Semiárida, atendendo a 600mil pessoas, que sofrem hoje com a falta de água, prin-cipalmente em períodos de longa estiagem como a queestá acontecendo este ano.O projeto está orçado em R$ 15 milhões e a obra daadutora em R$ 842 milhões. A adutora será alimentadapelas águas subterrâneas provenientes do Aquífero Cabeças,cujos pontos de captação deverão estar num raiode dez quilômetros do Poço Violeto, situado no municípiode Cristino Castro (PI). Segundo o presidente daAGESPISA, Raimundo Neto Nogueira, a adutora terá autonomiapara abastecimento por um período de 300 anos.Parabéns, essa é uma ótima noticia!ABES EMPOSSA NOVA DIRETORIAA Associação Brasileira de Engenharia Sanitária eAmbiental (ABES) empossou a nova diretoria para obiênio 2012/2014 em 30 de agosto de 2012,encabeçada pelos engenheiros civis, Dante RagazziPauli, da Companhia de Saneamento Básico do Estadode São Paulo (SABESP),como presidente; e ÁlvaroJosé Menezes da Costa, da Companhia de Saneamentode Alagoas (CASAL); como vice-presidente. Dante tambémpreside a seção da ABES-SP e a CâmaraAmbiental do Setor de Saneamento.PROJETO OBRIGA ANP A NOTIFICAR ANA SOBREAQUÍFEROS ENCONTRADOS EM PERFURAÇÕESA Câmara analisa o Projeto de Lei 3593/12, do Senado,que obriga a Agência Nacional do Petróleo (ANP) a notificara Agência Nacional de Águas (ANA) quando umconcessionário encontrar um poço em que seja viável aobtenção de água proveniente de aquíferos.A comunicação deverá ser feita durante ou ao final dafase de exploração, se o concessionário desistir e devolvera concessão dos poços perfurados em terras semvalor energético comercial, mas que podem ser utilizadaspara a obtenção de água. Essa obrigação será incluídana Lei do Petróleo (9.478/97).O projeto também altera a lei que criou a ANA (9.984/00)para obrigar a agência a regulamentar os critérios observadospara o aproveitamento desses poços.A autora, ex-senadora Rosalba Ciarlini (DEM-RN), argumentaque, durante as perfurações, as empresas exploradorasde petróleo e gás natural podem se depararcom reservas hídricas provenientes de aquíferos, quepoderiam ser utilizadas em benefício da comunidade.“Especialmente em regiões do semiárido nordestino,de notória carência de oferta hídrica, não constitui excessivaobrigação exigir que a ANP, de posse das informaçõesprestadas pelas empresas concessionárias,transmita essas informações à ANA”, defende.TRAMITAÇÃOA proposta tramita em caráter conclusivo e será analisadapelas comissões de Minas e Energia e de Constituiçãoe Justiça e de Cidadania.Fonte: Agência CâmaraA seção Hidronotícias/Recordar é Viver é de responsabilidade do autor.10 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO/OUTUBRO 2012


HIDRONOTÍCIASRECORDAR É VIVERSETEMBRO/OUTUBRO 2012ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 11


PRODUÇÃO DE ÁGUASECA X CAMPOS DEPRODUÇÃO DE ÁGUAA região Nordeste sofre com estiagens cada vez mais severas e asolução para o problema da seca está na criação de campos deprodução de águaPor Humberto Albuquerque, presidente da Associação Brasileira de Águas Subterrâneas (<strong>ABAS</strong>)ONordeste brasileiro enfrenta novo período de estiagense, mais uma vez, os jornais estampammanchetes informando que mais de 1200 municípiosestão em estado de emergência ou calamidade pública.Novamente constatamos que as obras estruturantesque permitiriam ao nordestino conviver com as secasnão foram implementadas ou ainda são insuficientes. Atransferência de água do Rio São Francisco para o NordesteSetentrional está com seu cronograma de execuçãobastante atrasado e as adutoras, a partir dosbarramentos existentes, ainda não conseguem atenderconvenientemente a população, os rebanhos, a agriculturae as indústrias existentes.Mais uma vez teremos a repetição das providênciasadotadas em secas anteriores: programas emergenciais,frentes de serviços, distribuição de cestas de alimentos,construção de barragens, perfuração e completação depoços tubulares, contratação de caminhões pipas, bolsasdiversas, perdão de dívidas, garantia de safra, desviode verbas, aproveitamento político etc.Há bastante tempo, a <strong>ABAS</strong> propõe um programa intensivode perfuração de poços tubulares para a produçãode água, insumo básico para minimizar os efeitosdas estiagens e, mais recentemente, defendeu a implantaçãode Campos de Produção de Água Subterrânea,semelhante a campos de produção de petróleo.É desalentador observarmos que 190 municípiospiauienses encontram-se em estado de emergência oucalamidade pública, quando é de conhecimento públicoa existência de enormes reservas de água subterrâneanaquele estado. Não sei se é por falta de vergonhaou de vontade política que o status quo é mantido.Adão Benvindo da Luz/UFRJ12 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO/OUTUBRO 2012


PRODUÇÃO DE ÁGUAGESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS E PRODUÇÃO DE POÇOS NO NORDESTEVejamos um exemplo do potencial hídrico nordestino: oDepartamento Nacional de Obras Contra as Secas(DNOCS) em 1972, contratou o consórcio OESA/TECNOSOLO/OTI/EPTISA para desenvolver estudos sistemáticosda potencialidade hídrica subterrânea do Valedo Gurgueia (PI). A interpretação dos dados obtidospermitiu concluir que naquela região o manancial hídricomais promissor era o Aquífero Cabeças. Em seguida, oDNOCS contratou os estudos de viabilidade técnica e oprojeto executivo para irrigar uma área de 2 mil hectares,serviços realizados entre junho de 1974 e junho de1976, por meio do consórcio COTEP. Nesta fase foramperfurados poços de pesquisa e poços piezométricos,sendo o mais famoso deles o Violeto, por jorrar cercade 1000 m 3 /h, A iniciativa permitiu projetar e construiruma bateria de 15 poços produtores espaçados a cada1 mil metros e alinhados paralelamente à rodovia BR-135.Para execução desses poços, o DNOCS contratou aCPRM - Serviço Geológico do Brasil, que entre 1976 e1978 os perfurou e neles instalou bombas de eixo prolongadopara produzir cerca de 500 m 3 /h cada um. Esta bateriade poços tinha capacidade para produzir 6.300 m 3 /he era suficiente para abastecer 840 mil pessoas.Seguiram-se nove anos de inatividade (1977-1986)quando então o Governo Federal criou o Programa deIrrigação do Nordeste (PROINE). Em agosto de 1986, oDNOCS – então subordinado ao Ministério de Irrigação– partiu para desenvolver o Projeto de Irrigação do Valedo Gurgueia. Este projeto previa a irrigação de 30 milhectares ao longo do vale (ou 400 quilômetros) e previaa construção e a instalação de 200 poços de grandevazão. Para a perfuração dos primeiros 28 poçosfoi novamente contratada a CPRM - Serviço Geológicodo Brasil, sendo que o acompanhamento técnicoe os estudos hidrogeológicos foram confiados ao Laboratóriode Hidrogeologia (LABHID) da UniversidadeFederal de Pernambuco (UFPE). Nesta etapa, entre1986 e 1989, foram perfurados 23 poços produtorese 16 piezômetros, quando o projeto foiintempestivamente encerrado.Estima-se que no período de 1972 a 1989 foram investidosmais de R$ 30 milhões, porém o mais grave éque até hoje, à exceção do avanço hidrogeológico, nãoresultou em quaisquer avanços no suprimento de águae no desenvolvimento econômico do Vale do Gurgueia,apesar da excepcional reserva de água subterrânea.SETEMBRO/OUTUBRO 2012ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 13


PRODUÇÃO DE ÁGUAPoço P-13abandonadoAdão Benvindo da Luz/UFRJde 20 mil m 3 /h. Tal quantidade seria sustentável por300 anos e abasteceria uma população de cerca de2.7 milhões de pessoas.Infelizmente, o Ministério Público só questionou aexistência de poços jorrantes, exigindo seutamponamento – o que é correto – mas se esqueceude questionar a paralização do projeto que provocouprejuízo financeiro e econômico ao país e particularmenteao Piauí. Este poderia ser, entre tantos outros, oprimeiro grande Campo de Produção de Água Subterrâneaa ser implantado no Brasil.Em 2009, o Serviço Geológico contratou o LABHID-UFPE para fazer uma reavaliação do projeto Gurgueia,visando a implantação de um Campo de Produção deÁgua, para atender a população urbana e rural, os assentamentosdo INCRA, os quilombolas, os municípiosconstantes dos Territórios da Cidadania, os ConsórciosNacional de Segurança Alimentar e DesenvolvimentoLocal (CONSADs) e a agricultura familiar de vasta regiãono Estado do Piauí e suas fronteiras.O relatório entregue em junho de 2010 conclui,após várias simulações bastantes conservadoras,que a utilização da bateria de poços existentes depoisde reavaliada poderia produzir uma descargaCAMPOS NO MUNDO E DISTRIBUIÇÃONO NORDESTE BRASILEIROMuitos campos poderiam ser descobertos no Brasil, poiso potencial de seu recurso hídrico subterrâneo é imenso.Exemplos bem sucedidos encontram-se na Líbia, comoos Campos de Produção de Água de Wadi Ariz (73 poçosde produção), East Fezzan (127 poços de produção),Sarir (126 poços de produção) e Tazerbo (80 poços deprodução). A água produzida está sendo transferida atravésde dois aquedutos paralelos (tubulações de 4 metrosde diâmetro interno), desde a zona de produção no desertoaté a região costeira em Trípoli, perfazendo cerca14 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO/OUTUBRO 2012


Características dos Camposde Produção de ÁguaUm Campo de Produção de Água pode serconceituado como uma área de altapotencialidade em termos de produção deágua subterrânea, que detenha as seguintescaracterísticas:• existência de estudos hidrogeológicos de reconhecimento,de viabilidade e de detalhe, comconhecimento suficiente para permitir a modelagemdo(s) aquífero(s) com a consequentegeração de cenários de explotação;• possibilidade de produção de água suficientepara suprir as demandas locais e comexcedentes para transferência para outras regiões,sem comprometer seriamente as reservasde saturação;• possibilidade de viabilizar o transporte como uso de tubulações para grandes distâncias,sem sofrer efeitos de evaporação.de 1.200 quilômetros. A produção é de 3,4 milhões dem 3 /dia (representa praticamente um rio artificial).Em Pernambuco, a Companhia Pernambucana de Saneamento(COMPESA) transfere água subterrânea captadana bacia sedimentar de Jatobá para abastecer assedes municipais de Arcoverde, numa distância de 60quilômetros, e Sertânia. Também transfere água subterrâneada bacia sedimentar de Fátima para abastecer assedes municipais de Afogados da Ingazeira, Custódia,Fátima, Flores, Sítio dos Nunes e São José do Egito.No Piauí, a Água e Saneamento do Piauí S/A(AGESPISA), possui uma bateria de poços tubularescaptando água do Aquífero Cabeça e as transferindopara a sede do município de São Raimundo Nonato,localizado sobre terrenos de rochas cristalinas.A <strong>ABAS</strong>, na medida em que denuncia os fatos aqui relatados,propõe aos governos federal e estaduais aimplementação urgente de ações que possibilitem a utilizaçãode suas águas subterrâneas, por meio da descobertae da implantação de Campos de Produção de Água.Bibliografia consultada:Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil, Feitosa, Fernando A. C., Feitosa, Edilton Carneiro,Demétrio, José Geilson Alves. Zonas Estratégicas de Produção de Água Subterrânea: “Vale do Gurguéia/PI – Cenários deExplotação”. Rio de Janeiro, 2010.SETEMBRO/OUTUBRO 2012ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 15


CAPAConsiderada um bem econômico,a água tem diferentes valores emdiferentes locais, masQUANTOVALE AÁGUA QUEVOCÊ USA?Gabriela PadovaniPartindo do pressuposto de que a dificuldadeem obter um produto faz com que ele se valorize,a água pode ser encaixada nesse contexto.Em um deserto, uma única gota de água ésupervalorizada. Já em locais onde é abundante, essebem natural pode ser considerado sem valor, do pontode vista econômico.Antes da criação das políticas estaduais e da PolíticaNacional de Recursos Hídricos havia apenas oCódigo das Águas de 1934, que embora seja importante,possuía um direcionamento para o setor de barragens.Com políticas que o sucederam e com a gestãodescentralizada e participativa dos recursoshídricos surgiram os Conselhos de RecursosHídricos, Comitês de Bacias e entidades afins. “Apartir da criação dessas entidades, foi possível estabelecerum preço base de cobrança pelo uso daágua”, explica Francisco C. Castro Lahóz, secretárioExecutivo do Consórcio da Bacia dos Rios Piracicaba,Capivari e Jundiaí (Consórcio PCJ), pioneiro na realizaçãoda cobrança voluntária pelo uso da água,inciada em 1999. Já a cobrança oficial foi implantada,primeiro, nas Bacias do Paraíba do Sul, em 2003,e nas do PCJ, em 2006.16 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO/OUTUBRO 2012


CAPAA ECONOMIA DA ÁGUANASCEU NA ONUA água foi determinada como bemeconômico em 1992, pelas Organizaçõesdas Nações Unidas (ONU), queestabeleceu princípios para os paísesmembros seguirem. Segundo AntonioFélix Domingues, coordenador de Articulaçãoe Comunicação da AgênciaNacional de Águas (ANA), esses princípiosforam criados para que nenhumpaís usasse a água em excesso enquantoo recurso faltasse em outro. “Aágua é um bem público, que deve serconservado. As empresas não vãotomá-la, pois seu uso necessita deoutorga ou do governo estadual ou dogoverno federal”, explica Domingues.Em relação à cobrança, o papel daANA é fazer a regulação da água nanatureza. As autorizações de captaçãode água emitidas pela agênciaexigem análise quantitativa e qualitativae não de valor. Quem determinao valor pela captação da água é o própriocomitê de bacias.Com base no instrumento de gestão“Cobrança”, da Política Nacional deRecursos Hídricos (Lei n° 9433/97) éimportante ressaltar que existe uma diferençagrande entre calcular o real valorda água e poder cobrá-lo, sem correro risco de provocar oendividamento das concessionárias deserviços de água, prefeituras, setorprodutivo, agricultura e usuários emBanco de Imagens ANAAntônio FélizDomingues,coordenador deArticulação eComunicação da ANAgeral. “O valor da água deverá seraquele que a planilha de aplicação derecursos de um plano de bacias estabelecercomo possível. Pode ocorrerque os usuários dessa baciahidrográfica não tenham capacidadede endividamento para cumprir aplanilha completa, mas, se essa baciafor estratégica economicamente, o pagamentodo valor da água estabelecidodeverá ser subsidiado pelos governosenvolvidos, comunidades ou comempréstimos nacionais e internacionais”,esclarece Lahóz.UMA LONGA EQUAÇÃOPARA SER RESOLVIDAPOR GESTORESSegundo Lahóz, os fatores demandax disponibilidade são apenas componentesde uma equação com dezenasde variáveis reais, proativas e restritivas.Equação essa que não é para serresolvida por matemáticos, mas simpor gerenciadores dos recursoshídricos por meio de negociação.“Estamos falando de cobrança do usodos recursos hídricos por baciahidrográfica. Quando o assunto é tarifade concessionária de serviço deágua, os fatores envolvidos são maiscomplexos, incorporando captação etratamento da água, reservação daágua, manutenção e substituição deredes, capacitação e pagamento dosfuncionários, aquisição e manutençãode equipamentos, pagamento pelo usoda água aos comitês de bacia, modernizaçãodos sistemas, entre outros. Infelizmente,na prática, muitas vezes astarifas são políticas e não “reais” e ascobranças pelo uso da água no mundotodo começa com valores simbólicos,para se criar a cultura, com acréscimosgradativos posteriores”,complementa o secretáriodo PCJ. No caso da CompanhiaRiograndense deSaneamento (CORSAN),de Porto Alegre (RS), a cobrançada água baseia-seSETEMBRO/OUTUBRO 2012ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 17


○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○○ ○ ○ ○ ○○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○CAPACréditos Arquivo PCJem uma diretriz oriunda doDireito Ambiental: o Princípiodo Usuário Pagador, que exigea contribuição pela utilizaçãodos recursos ambientais,esclarece Júlio Quadros, diretorcomercial da Companhia.“Além disso, a prestaçãodo serviço de abastecimentode água demandauma cara e complexa estru-Francisco Lahóz, secretárioexecutivo do Consórcio PCJtura organizacional, em termos de operação, tratamento,manutenção, obras de ampliação, etc”.Domingues comenta que “por ser um recurso naturallimitado, é necessário pagar para consumir aágua. A contribuição é feita também paraconscientizar a população para um uso racional dobem, além de contribuir para a melhoria da bacia deonde essa água foi retirada”.Já na opinião de Everton de Oliveira, secretário executivoda Associação Brasileira de Águas Subterrâneas(<strong>ABAS</strong>) e diretor da Hidroplan, “ainda existe umcampo imenso a ser avançado pela sociedade comoum todo, e pela <strong>ABAS</strong> em particular, pela inclusãodo valor da água no valor dos bens e da riqueza deum país”.ECONOMIA DA ÁGUA EM NÚMEROSSeguindo as normatizações da ANA, ascompanhias praticam os preços baseadasem faixas de consumo e em categorias,como residencial, industrial, agricultura,etc. Já nas Bacias Federais, os principaispreços aplicados são pela captação e consumode água bruta.Com a análise das tabelas é possívelperceber que no Ceará, a água tem maisvalor que em São Paulo. Por exemplo, emuma faixa de consumo maior que 50 m³,o valor cobrado pelo metro cúbico emSão Paulo de R$ 3,88/m³ pode ser consideradobaixo, se comparado ao valor doCeará de 7,60/m³ – praticamente o dobroda taxa paulista. Veja ao lado algumastarifas residenciais de água praticadasem três Estados:São Paulo0 a 10 R$ 15,16 / mês11 a 20 R$ 2,12 / m³21 a 50 R$ 3,25 / m³Acima de 50 R$ 3,88 / m³Fonte: ARSESPRio Grande do SulPreço Base (m³) R$ 3,61Serviço Básico R$ 17,07Tarifa mín. s/ hidrômetro R$ 53,17Fonte: CORSANCeará0 a 10 R$ 1,85 / m³11 a 15 R$ 2,36 / m³16 a 20 R$ 2,53 / m³21 a 50 R$ 4,32 / m³Maior que 50 R$ 7,60 / m³Fonte: CAGECEPreços nas principais Bacias FederaisBaciaTIPO DE USOCaptação de água brutaConsumo de água brutaLançamento de carga orgânicaTransposição de baciaUNIDADER$/m 3R$/m 3R$/kgR$/m 3PCJR$0,010,020,101,015Paraíba do SulR$0,010,020,07-Rio São FranciscoR$0,010,020,07-Rio DoceR$0,018-0,1000,022Fonte: ANA18 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO/OUTUBRO 2012


SETEMBRO/OUTUBRO 2012ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 19


ESPECIAL POÇOS CAPAArquivo CorsanJúlio Quadros, DiretorComercial da CorsanLUCRANDO COMUM BEM NATURALSegundo Domingues, o que ocorre não é asupervalorização da água ou o lucro por parte das empresasna prestação de serviços, mas, sim, uma práticadesaconselhável: vender a água muito barata.“Quando você vende a água muito barato, tanto para apessoa que tem muito dinheiro, tanto para a que nãotem, você faz com que os munícipes não tenham consciênciado uso da água, pois quando o preço é baixo,o consumo tende a ser maior”, completa o coordenador.Para Lahóz, do PCJ,são cobradas tarifassubsidiadas e não tarifas“reais”. “A PolíticaNacional de Saneamentoobriga a criação dasAgências de Regulaçãopara que estas calculemo valor real da água ou,no mínimo, o valor realsuportável pela concessionáriade água e esgoto e comunidade. Muitas vezesexistem acusações de superfaturamento nas tarifas deágua, mas na maioria dos casos o que ocorre é um equívoco,ou melhor dizendo, uma apropriação indébita dosrecursos tarifários, como por exemplo utilizando tais recursosde tarifa de água para outras finalidades”, opinao secretário.Quadros, da CORSAN, destaca que por ser uma empresapública de saneamento, não prioriza o lucro naprestação de seus serviços. “A Companhia aplica o subsídiosolidário, que consiste numa tarifa única cobradaaos usuários. Ou seja: os consumidores pagam a mesmatarifa tanto nos municípios de pequeno porte quantonos de grande porte. Com isso, o faturamento obtidonas grandes cidades garante a manutenção e o sucessodo sistema em todo o Estado gaúcho, numa políticade democratização do saneamento.”O lançamento de água tratada até o limite de lançamentoou sem tratamento é uma forma de transferênciado valor do tratamento para a sociedade como umtodo, explica Oliveira, da <strong>ABAS</strong>. “Quem deixa de tratarou trata parcialmente está deixando de pagar ovalor que passa a ser assumido pela sociedade. Estevalor pode ser incorporado ao produto daquela empresae quem o consome pagaria por isto. Este conceito,como é hoje, precisa ser revisto”, ressalta.20 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO/OUTUBRO 2012


“Não há necessidade de mudaro comportamento em relação àquantidade, somente em relaçãoà qualidade, um ponto muitoimportante a ser trabalhado”Everton de OliveiraMUDANÇA DE CULTURA:ABUNDÂNCIA NÃO É REALAs empresas têm opiniões semelhantes sobre aconscientização do usuário e a necessidade da mudançano comportamento do brasileiro, em relação à águacomo um bem inesgotável. A mudança é totalmenteimprescindível, acreditam.No caso da CORSAN, a empresa tem desenvolvido juntoàs comunidades atendidas diversas campanhas em proldo uso responsável da água, diz Quadros. Já MarceloMorgado, assessor de Meio Ambiente da Companhia deSaneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP),ressalta que é fundamental disseminar as informações viamídia; nas escolas e em campanhas para o público emgeral, como forma de mudar atitudes individuais para quecada um possa pensar globalmente e agir localmente, cuidandoda água e do seu pedaço do planeta.“A resposta poderá ser simplificada dizendo-se que asolução é a implementação plena dos “Instrumentos deGestão” contidos na Política Nacional de RecursosHídricos, que são: os planos de recursos hídricos; oenquadramento dos corpos de água em classes segundoos usos preponderantes da água; a outorga dos direitosde uso dos recursos hídricos; a cobrança pelo uso derecursos hídricos e o sistema de informações sobre recursoshídricos. Com certeza, o instrumento “Sistema deInformações” deveria ser o primeiro a ser aplicado e osdemais em conformidade com a realidade de cada regiãohidrográfica”, explica Lahóz, do Consórcio PCJ.“A cobrança pelo uso da água é a melhor medida paraconscientizar o brasileiro e fazê-lo poupar mais”, acrescentaDomingues, da ANA. A cobrança deveria serescalonada, cobrando diferentes taxas das empresasque captam água no rio e os consumidores que já recebema água tratada em suas residências.Porém, Oliveira segue outra linha de pensamento.“Não há necessidade de mudar o comportamentoem relação à quantidade, somente em relação àqualidade, um ponto muito importante a ser trabalhado”,opina.SETEMBRO/OUTUBRO 2012ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 21


MEIO AMBIENTEOS GOSTOS DAÁGUAQuantidade de sais e gases, tiposde minerais e contaminantes queentram em contato com a águasão fatores determinantes naclassificação e nas diferentespercepções do seu saborPor Larissa StracciAdefinição das características da água detalha queela é inodora, insípida e incolor. Porém a águatambém é considerada um solvente universal da naturezapor dissolver minerais e outros elementos com osquais entra em contato. Portanto, a afirmação de que aágua é um elemento puro, sem gosto, cheiro ou cor nãose sustenta, pois grande parte da água do planeta contémminerais, gases e até mesmo contaminantes, quealteram sensivelmente seu sabor. Para os diferentes especialistas,não existe na natureza água completamentepura, em sua fórmula conhecida como duas moléculasde hidrogênio e uma de oxigênio (H 2O).Conforme explicao professor do Instituto de Geociências da Universidadede São Paulo (USP), Uriel Duarte,”ela sempre iráconter determinados elementos químicos que são incorporadosem seu ciclo hidrológico. A evaporação daságuas para a atmosfera e formação de nuvens, posteriormenteas chuvas, não eliminam totalmente os sais dissolvidosem sua composição”, afirma. A água “sempreincorpora substâncias no seu ambiente de ocorrência,por menor que sejam as concentrações e graus desolubilidade”, acrescenta o hidrogeólogo do Departamentode Recursos Minerais do ServiçoGeológico do Estado do Rio de Janeiro (DRM-RJ) e diretordo Núcleo <strong>ABAS</strong>-RJ, Aderson Martins.Para o professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicasda Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IPH/UFRGS), Antonio Benetti, existem águas “puras” no sentidode não estarem contaminadas com substâncias tóxicasou microrganismos patogênicos. “Tanto as águas subterrâneascomo as superficiais podem conter compostosque causam gosto na água. Estes compostos podem sernaturais ou podem ser introduzidos por atividades humanas,podem vir da presença de sais ou não”. Duarte explicaque toda a água existente na natureza tem gosto ousabor. “A alteração do sabor depende da composição químicaque a água apresenta em seu trajeto no ciclohidrológico, precipitação, evaporação, infiltração (recarga)ou escoamento superficial. Neste ciclo, a água passa aagregar ou perder componentes dissolvidos, mudando desabor em cada uma das fases do percurso”.22 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO/OUTUBRO 2012


MEIO AMBIENTESAIS E GASES ALTERAMO SABOR FINALLúcio Carramillo, geólogo e professoradjunto do Departamento deGeociências da Universidade FederalRural do Rio de Janeiro (DEGEO-UFRRJ), observa que “a água podeapresentar determinados gostos provenientesda concentração de sais e gasesdissolvidos que irão acompanhá-lamesmo após seu tratamento. Quantomais sais encontrados na água, mais elasofrerá alteração de sabor em relaçãoàs águas potáveis comuns, a chamada“água sem sabor”. Outro fator que alterasensivelmente o sabor é a concentraçãode gases. Quando esses doisfatores ocorrem juntos, mais sabor diferenciadoessa água terá”,complementa. Segundo Carramillo, ossais mais comuns encontrados naságuas são: bicarbonatos, carbonatos,sulfatos, nitratos, cloretos, fluoretos,cálcio, magnésio, sódio, potássio eiodeto, que apesar de mais raro, alterasensivelmente o gosto da água. AntonioBenetti, diz que os sais que conferemgosto à água podem ser agradáveis.“É saudável a água potável ter umconteúdo de sais balanceado, nem excesso,nem déficit”, detalha.Na visão de Martins, a salinidade éuma das principais características queAderson Martins,hidrogeólogo doDRM-RJ e diretordo Núcleo<strong>ABAS</strong>-RJconferem gosto à água. “A salinidadeé determinada através da quantidadede sais dissolvidos, chamada de SólidosTotais Dissolvidos (STD)”. Ele observaque as águas de superfície (rios,lagos, etc.) podem apresentar um gostodesagradável causado pela presençade algas, bactérias, fungos, restosde vegetação em decomposição, alémde substâncias como gás sulfídrico, sulfatose cloretos, de origem natural ouartificial. “Em outros casos, as águaspodem ou não ter gosto dependendodos componentes iônicos em solução.Aqui se enquadram muito bemas águas subterrâneas, que podemconter uma concentração maior oumenor de sais minerais, podendo seráguas leves, praticamente sem gostoou conter concentrações de substânciasacima dos padrões depotabilidade”, complementa.Principais gostos da águaCloretos acima de 300 mg/litro salgadoSulfatos acima de 450 mg/litro salgado e amargoFerro acima de 0,5 mg/litro amargoÁGUA + GASESGás carbônico (CO2)picanteGás Sulfídricoovo podreÁGUA + SAISCloreto de Sódio (NaCl)sabor salgadoSulfato de Sódio (Na2So4)ligeiramente salgadoBicarbonato de Sódio (NaHcO3) ligeiramente salgado a doceCarbonato de Sódio (Na2CO3)amargo e salgadoCloreto de Cálcio (Ca Cl2)fortemente amargoCloreto de Magnésio (MgCl2)amargo e doceSETEMBRO/OUTUBRO 2012ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 23


MEIO AMBIENTEPARA CADA REGIÃO,UM GOSTO DE ÁGUAO gosto da água é considerado regionalizado, pois apresentauma quantidade de Sólidos Totais Dissolvidos conformeos tipos de rocha das regiões em que a água esteveem contato. De acordo com Uriel Duarte, da USP,“determinados tipos de solos são originados de determinadostipos de rochas que por sua vez são constituídasde diferentes minerais. Estes minerais, apóslixiviação de seus elementos pela água, vão a ela se incorporar,influenciando na qualidade local da água”.A rocha que armazena e transporta a água (aquífero)e o tempo de circulação nessa rocha são fatores importantesna determinação do gosto da água. “A rochapode alterar o gosto da água por causa de sua composiçãomineralógica. Já o tempo vai permitir uma maiorou menor reação entre a água e os minerais nela contidos,o que fornecerá um gosto mais intenso”, descreveLúcio Carramillo.Segundo Aderson Martins, o gosto da água retiradade aquíferos tem relação com a profundidade da captação.“Quanto maior a profundidade, maior será o graugeotérmico, propiciando maior interação água-rocha econsequente solubilização dos minerais. Portanto, atendência é que a profundidade tenha relação com amaior mineralização da água, embora isto não signifiquenecessariamente alteração no gosto, porque estedepende das substâncias solubilizadas, por sua vez determinadaspela constituição mineralógica das rochasformadoras dos aquíferos”.Outra característica que atribui gosto é a concentraçãode oxigênio dissolvido (OD) na água, observaBenetti. “A decomposição anaeróbica, realizada por microrganismosna ausência de oxigênio, em geral, geragases malcheirosos que ficam dissolvidos na água, conferindoodores característicos de ovo podre, peixes, terrae outros. Outra característica é o pH, que determina aforma com que o composto estará presente na água”.CONTAMINAÇÃO ALTERA O SABORApoluição carregada pelas águas de rios e mananciaisé mais um fator responsável por atribuirgosto à água. Estima-se que dois bilhões de toneladasde resíduos sejam jogadas anualmente nas águas detodo o mundo (dados Relatório Água Doente – ONU,2010) e dois milhões de pessoas morram todos os anos24 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO/OUTUBRO 2012


em decorrência das doenças causadas pela ingestãode água contaminada (dados Organização Mundial daSaúde – OMS, 2011).De acordo com Antonio Benetti, da UFRGS, “os compostosgeosmina e metilisoborneol, que conferem gostode mofo à água, são compostos orgânicos produzidospor cianobactérias (algas) presentes em mananciais fertilizadoscom nutrientes originados em esgotos domésticos,industriais ou da drenagem agrícola. Outro exemplosão os fenóis presentes em alguns efluentes industriaisque reagem com o cloro usado como desinfetanteno tratamento e formam um composto que conferegosto medicinal à água”. Lúcio Carramillo, da UFRRJ,explica que “a concentração de sais dissolvidos na águado manancial será o maior fatorde alteração do gosto antesde seu tratamento. Poroutro lado, a contaminaçãoapresentada pela água domanancial fará com que o tratamentopara transformar aLúcio Carramillo, geólogo eprofessor da DEGEO - UFRRJágua bruta em potável utilize uma quantidade elevadade produtos químicos. O mais comum é o hipocloritoque tem função bactericida e acaba deixando tanto odorquanto gosto de cloro”.Os aquíferos também estão sujeitos a receber poluiçãoe ter o gosto da água alterado, dependendo desua localização. “Isto tem a ver com a natureza litológicado aquífero e seu posicionamento relativo de camadasgeológicas. Um aquífero livre, constituído pela camadasuperficial em contato diretamente com a superfície,é mais vulnerável à poluição. Já um aquífero confinadoestá mais protegido da poluição por estarrecoberto por uma camada geológica constituída porum material impermeável, como por exemplo, umfolhelho ou outra rocha argilosa. A qualidade da águadepende de outros fatores como a naturezamineralógica do aquífero, sua vulnerabilidade e tambéma sua proximidade de fontes potencialmentepoluidoras”, detalha Aderson Martins.HÁ RELAÇÃO ENTREGOSTO E TRATAMENTOA água continuará com gosto, se os processos de tratamentoutilizados não forem capazes de remover os compostosoriginalmente presentes. “Por exemplo, osSETEMBRO/OUTUBRO 2012ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 25


MEIO AMBIENTEAntonio Benetti, professor doIPH/UFRGScompostos geosmina emetilisoborneol são parcialmenteremovidos por processos declarificação química, filtração edesinfecção, usualmente utilizadospara tratar a água no Brasil.Isto significa que poderão estarpresentes na água potável, causandodesconforto aos consumidores. Por outro lado,compostos odoríferos podem ser formados dentro daprópria estação de tratamento, através dos compostosquímicos adicionados, como o cloro. A própria rede dedistribuição pode originar gosto, pela corrosão de tubos”,explica o professor Benetti.O padrão de potabilidade estabelece um valor máximopermitido de intensidade de percepção de gosto eodor na água. O gosto se enquadra dentro do que édenominado “características organolépticas” da água,isto é, aquelas associadas aos sentidos – visão, sabor,odor. Benetti ressalta que “a água deve ser agradávelde ser ingerida. Uma água com gosto ruim ou com corcausa repugnância e imediata desconfiança do consumidorcom relação a sua qualidade, mesmo se a águafor livre de organismos patogênicos e compostos químicosperigosos”. Segundo ele, toda água usada paraconsumo humano deve ser livre de microrganismospatogênicos e de substâncias químicas que sejam prejudiciaisà saúde.O professor da USP, Uriel Duarte, diz que as águas“com gosto” podem ser consumidas sem tratamento,desde que saibamos sua proveniência. “Se esporádicas,as águas “com gosto” podem representareventos de contaminação e, então, termos riscos àsaúde do consumidor quando bebidas. Quando apresentaro mesmo “gosto” ao longo do tempo, casodas águas tidas como minerais, seu consumo diáriopode trazer benefícios e malefícios á saúde, dependendoda qualidade e quantidade de sais nela dissolvidos”,esclarece ele.Para Lúcio Carramillo, as águas minerais (sem tratamento)podem ser consumidas sem qualquer problema.“Dependendo da água mineral que se consuma,pode-se estar ingerindo uma água com gostodiferenciado das de abastecimento, que são tratadas.”Na visão de Aderson Martins, desde que a água26 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO/OUTUBRO 2012


seja potável, ou seja, sua composição química preenchaos critérios de potabilidade, ela pode serconsumida sem tratamento. “Existem muitas águasnestas condições, por exemplo, águas mineraiscarbogasosas, que possuem um gosto peculiar, saboragradável e são consumidas sem restrições”.Degustar para classificarIdentificar diferentes odores e sabores em amostrasde água tratada. Este é o trabalho de funcionáriosdo Laboratório de Degustação, departamentocriado pela Companhia de Saneamento Básicodo Estado de São Paulo (SABESP), na década de1990. Izabel Ernesto, supervisora do Laboratório,lembra que “a SABESP foi pioneira no Brasil (naimplantação da degustação de água), porém hojeexistem outras empresas de saneamento que jáexecutam este ensaio”.Um grupo de degustadores treinados analisa todasas semanas a água que chegará até as casas.Segundo Izabel, no treinamento realizado, “o analistairá adquirir conhecimentos sobre os fundamentosda análise sensorial, reconhecendo os váriosClassificação das águasSALINIDADEDoceSalobraSalinaHipersalinaSTD até 1.000 mg/litroSTD entre 1000 e 10.000 mg/litroSTD entre 10.000 e 35.000mg/litroacima de 35.000 mg/litrotipos de gostos e odores, bem como a interpretaçãoe a descrição destas sensações”. Os resultadosdas análises do degustador podem alterar oprocesso de tratamento da água em certas localidades.O ensaio sensorial é utilizado também comouma das ferramentas de controle da qualidade dotratamento da água, identificando algumas sensaçõesem sua intensidade limiar, prevenindo problemasnos mananciais e podendo provocar adequaçõesno processo de tratamento. Conforme explicaa supervisora, “atualmente a legislação determina“6” em uma escala até “12” como intensidade máximade percepção para qualquer característica degosto e odor, com exceção do cloro, que é uma característicadesejável em água tratada”.SETEMBRO/OUTUBRO 2012ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 27


CONEXÃO INTERNACIONALNOVOS RUMOS PARA REMEDIAÇÃODE ÁREAS CONTAMINADASJuliana G. Freitas, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), BrasilMarcelo Sousa, Universidade de Waterloo, CanadáJason I. Gerhard, professor no Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidadede Western Ontario (London, Canada), lidera pesquisas na área de hidrogeologiaJason I. Gerhardde contaminantes, fluxo multifásico em meios porosos e engenharia para a sustentabilidade,indo da escala de poros até escala de campo. Seu grupo de pesquisa gerou resultados inovadores para contaminantesorgânicos em solos e rochas fraturadas. Com graduação em engenharia geológica, e mestrado e doutorado em engenhariacivil pela Queen’s University (Canadá), ele é co-inventor e pesquisador de uma nova tecnologia para remediação,baseada na combustão auto-sustentável de contaminantes. Jason estará no Brasil, em outubro, e será um dos palestrantesda “Darcy Lecture Series”, no dia 4. Mais informações no site: www.abas.org/darcylecture. Ele conversou com agente sobre o estado atual da remediação de áreas contaminadas e a sua percepção para onde estamos caminhando.Quais foram os principais avanços na remediação desolos e águas subterrâneas nas últimas décadas?Muitos avanços promissores aconteceram nas últimasdécadas. A pesquisa científica melhorou muito nossoconhecimento sobre fundamentos do comportamento decontaminantes em solos e rochas fraturadas. Nossa habilidadede simular o comportamento dos contaminantescom modelos matemáticos também levou a um melhorentendimento conceitual da contaminação em áreas contaminadas.Os modelos têm sido usados com sucessono projeto e otimização de sistemas de remediação. Avançosimpressionantes também foram feitos em diversastecnologias de remediação, principalmente aplicadas insitu,como oxidação química, tratamentos térmicos,surfactantes e biorremediação. As legislações ambientaistambém foram fortalecidas na maior parte dos países, oque resultou numa busca mais agressiva por soluçõesinovadoras pelos responsáveis. Além disso, financiamentotem sido disponibilizado para pesquisa, desenvolvimentoe teste piloto de novas tecnologias, que é um passofundamental antes que uma nova tecnologia possa seramplamente aceita num mercado conservador.Quais são os maiores desafios para a remediação desolos e águas subterrâneas? Quais são alguns mitoscomuns em relação à remediação?Muitos desafios ainda persistem. Muitos dos avanços naremediação foram feitos para contaminantes que são maisfáceis de tratar, como os contaminantes que não penetramo nível d’água, são muitos voláteis e facilmentedegradáveis, como a gasolina. No entanto, poucas opçõesexistem para os contaminantes mais tóxicos, mais estáveis,contaminantes densos que migram a grandes profundidades,resistentes a processos de transferência demassa para o ar ou água, e resistentes às reações biológicas– o que é um grande desafio para a pesquisa. Algunsexemplos são o creosoto, alguns hidrocarbonetos de petróleoe as bifenilaspolicloradas (PCBs). O segundo desafioé a complexidade do site, que frequentemente reduz aeficiência de uma técnica de remediação, tais comoheterogeneidade e a química de mistura de contaminantes.Um terceiro desafio são os contaminantes emergentes,como disruptores endócrinos, nanopartículas e compostosperfluorados. O quarto desafio é a transferência detecnologia e compartilhamento de conhecimento, de formaque a experiência e sucessos alcançados em lugaresdistantes sejam acessíveis e aplicáveis por todo o mundo.Um mito comum é que para uma área que apresente umageologia ou história complexa (como derramamento comvolume grande ou por longos períodos de tempo), umaúnica tecnologia será capaz de reduzir a contaminaçãoao ponto que a água se torne potável. A combinação detecnologias, ou “trem-de-tratamento”, e tecnologiasotimizadas para atuarem em conjunto com efeito máximoserão essenciais. Isso está sendo pesquisado por inúmerosgrupos ao redor do mundo. Por exemplo, eu e umgrupo de pesquisadores em Ontario, no Canadá, estamosdesenvolvendo um projeto de duração de seis anos, deUS$3 milhões, chamado INTEGRATE (InnovativeTechnologies for Groundwater Remediation), com foco nacombinação de tecnologias para a remediação de solose águas subterrâneas (http://integrate.utoronto.ca). Esseé também o foco de uma colaboração entre esse projetoe pesquisadores do Centro de Capacitação e Pesquisasem Meio Ambiente (CEPEMA) da Escola Politécnica daUniversidade de São Paulo (Poli-USP), chamado “SãoPaulo - Ontario: Soil and Water Remediation Consortium”.Quais são algumas tecnologias promissoras pararemediação?28 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO/OUTUBRO 2012


Antes do tratamentoDepois do tratamentoSondagens coletadas em área de estudo em escala piloto, emNew Jersey, com contaminação por alcatrãoUm dos desenvolvimentos mais excitantesé a nova tecnologia STAR (Self-SustainingTreatment for Active Remediation). STAR éuma técnica capaz de destruir completamentelíquidos orgânicos industriais altamenteresistentes, como creosoto e óleocru. A tecnologia se baseia no processode combustão latente auto-sustentável, queé a mesma reação que lentamente consomecarvão numa churrasqueira e gera calor.Os contaminantes oleosos no solo sãodestruídos e ao mesmo tempo geram aenergia para propagar a reação nasubsuperfície até que todos oscontaminantes sejam eliminados. Assim,tem um potencial de ser altamenteeficaz (destruição de mais de 99% damassa) e com custo relativamente baixo(já que somente uma pequena quantidadede energia é necessária para iniciaro processo). Atualmente, a tecnologiaSTAR está em estágio de testes piloto paraaplicações in-situ e ex-situ. Essa é uma daspoucas tecnologias completamente novasde pesquisas recentes. Mais informaçõesestão disponíveis no sitewww.siremlab.com/STAR.Quais serão as maiores mudanças nocampo da hidrogeologia no futuro?Certamente, nas próximas décadas, a avaliaçãoe a mitigação dos impactos dasmudanças climáticas nos recursos subterrâneosserão um dos principais focos. Amedida em que a água se torna mais escassa,a água subterrânea deve se tornarainda mais importante e a remediação, aconservação e a proteção serão mais importantes.Por outro lado, com a recessãoglobal, muitas nações devem reduzir osgastos e as empresas cortarão pesquisase desenvolvimento, criando novos desafiospara as pesquisas dos fundamentos científicose de novas tecnologias deremediação. É esperado que novas descobertase tecnologias surjam principalmentepor meio de uma forte colaboraçãointerdisciplinar entre áreas de conhecimentoaté então distantes; isso foi o queaconteceu para o desenvolvimento doSTAR, que surgiu de uma inesperadainteração entre a ciência de combustão ea hidrogeologia de contaminantes. Aintegração de estudos de contaminaçãoda subsuperfície, águas superficiais, mudançasclimáticas, modelos hidrológicosregionais e um melhor entendimento dasinterações entre águas superficiais e subterrâneascertamente nos permitirão entendermelhor as conexões dentro detodo o ciclo hidrológico.Você tem alguma sugestão para profissionaisno começo de carreira queatuam em águas subterrâneas?O mestrado está se tornando rapidamentea formação padrão nessa área. O escopoda área se expandiu tanto que umapós-graduação pode trazer muitas vantagens.É particularmente interessante desenvolverum trabalho de pós-graduação,pois desenvolve as habilidades de estabelecerhipóteses, testar com experimentosou modelos e elaborar artigos científicosque compartilhem suas descobertascom o mundo. Essa experiência e habilidadesnão necessariamente técnicas quesão desenvolvidas, como comunicaçãooral e escrita e capacidade de pensar criticamente,são fundamentais, mesmoque o seu futuro seja na indústria e nãona pesquisa. Além disso, procure umprograma acadêmico que seja amplo,que não se aprofunde somente emhidrogeologia. Muitos cenários deremediação envolvem um grande númerode disciplinas – como química,geografia, ciência do solo, física e muitasoutras – e, portanto, é vantajoso teralguma familiaridade com áreas fora dahidrogeologia. Alémdisso, também é vantajosocursar cursosfora das ciências puras,tais como direito,filosofia, ciências políticase letras. Tenhograduação em filosofia,que contribuiumuito para minha carreiraem engenharia,pois enfatiza a lógica,a ética e a habilidadede articular suasideias de uma formaconvincente.SETEMBRO/OUTUBRO 2012ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 29


PERFURAÇÃOAndréa Rebouças, RelaçõesPúblicas e GerenteAdministrativa da Ciclo BrocasDESCOLHENDO ABROCA CERTABrocas de Perfuraçãoa primitiva broca de arraste passando pelas brocasde cones rotativos e culminando com as brocasque utilizam diamante sintético em sua composição,os fabricantes de brocas de perfuração tem buscadoa vanguarda tecnológica para se adaptarem às exigênciasde projetos de poços cada vez mais elaborados,a fim de otimizar o desempenho destas ferramentasnas mais variadas formações geológicas.Em paralelo, é importante que o “perfurador” estejamunido de informações técnicas e empíricasdeterminantes no momento da escolha e utilização dabroca adequada. O grau de dureza e abrasividade dosolo, por exemplo, indicará se o mecanismo de ataquedeverá ser por acunhamento, raspagem e moagem, torção,percussão ou esmagamento e até mesmo pela erosãopor ação de jatos de fluido.Genericamente, as formações sedimentares classificam-seem mole, média, dura e extremamente dura. Estavariação litológica, aliada a outros fatores, acentua a dificuldadena escolha da broca correta. Além disso, existeuma diversidade enorme de tipos de brocas que, basicamente,podem ser classificadas como: brocas sempartes móveis, com partes móveis e híbridas.A perfuração com brocas sem partes móveis ocorredevido à percussão ou rotação da coluna de perfuração.Para o sistema rotativo, encontram-se as brocas dearraste (“rabo de peixe”), brocas de diamantes naturais,brocas TSP (diamante termicamente estável), PDC (compactode diamante policristalino) e as impregnadas (comcristais de diamante).Já as brocas com partes móveis são as que possuemcones, cuja estrutura de corte se modificou ao longo dotempo de acordo com as exigências do mercado. Varioudesde cortadores formados por dentes fresados nomesmo aço dos cones, em seguida por dentes de açorecobertos com metal duro até o desenvolvimento dosinsertos de carboneto de tungstênio (“botões”), indicadospara formações mais duras.Contudo, a mais recente invenção é a broca híbrida,que combina elementos de uma broca PDC e de umatricônica em sua estrutura cortante, beneficiando-se dosmelhores atributos que cada tecnologia oferece. Semdúvidas, esta é a broca mais completa para a perfuraçãode intercalações duras, possuindo uma baixa variaçãode torque, um melhor controle direcional e poucavibração com relação às demais.Entretanto, vale ressaltar que o fator econômico é maisum requisito a ser considerado na escolha de uma ferramenta,principalmente no caso das brocas de perfuração,que correspondem a uma pequena parcela do alto investimentoque esta atividade necessita. Exatamente por isso, operfurador de água tem adquirido equipamentos reutilizáveise recondicionados, a custos bem mais acessíveis.Neste contexto, são mais viáveis financeiramente asbrocas de arraste, porém apropriadas somente para formaçõesmoles; as brocas tricônicas, que abrangem todasas formações apresentando um rendimento muitosatisfatório; e as brocas de PDC, mais indicadas paraformações duras e que, atualmente, já se encontram disponíveisno mercado nacional na condição de usadas.Por fim, diante de tantas opções, modelos e atributos,para escolher a broca certa deve-se consultar o códigoIADC, garantindo uma fácil identificação das suas principaiscaracterísticas, como tipo, classe de formaçãopara qual foi projetada e funções mecânicas - para asbrocas com partes móveis - e forma dos cortadores,ângulos de inclinação lateral, tipo de proteção e cumprimentodo calibre - para as brocas sem partes móveis.30 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO/OUTUBRO 2012


SETEMBRO/OUTUBRO 2012ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 31


REMEDIAÇÃOUSO DOS BIOMARCADORES PARA IDENTIFICAR A ORIGEM DACONTAMINAÇÃO POR PETRÓLEOGil Oudijk - Triassic Technology, Inc. - goudijk@triassictechnology.comNos Estados Unidos, mais de 200 milhões de carrosconsomem mais de 1,2 milhão de litros degasolina por dia e os americanos dirigem mais de 12milhões de quilômetros por dia (EIA, 1991). E há maisde 2 milhões de tanques subterrâneos de petróleo nopaís (Oudijk, 2009). Quando há vazamento de combustível,o custo de limpeza pode ficar muito elevado e ninguémquer pagar para a limpeza do meio ambiente. Poreste motivo, são comuns casos de disputa acerca daautoria da contaminação para decisão sobre quem arcacom os custos da remediação. O uso dos biomarcadoresé um caminho para solucionar esse problema.O QUE ACONTECE QUANDO DIFERENTESÓLEOS ENTRAM NO AMBIENTE?Quando expostos ao ambiente, os hidrocarbonetos sealteram. Geralmente, há três tipos de degradação:biodegradação, evaporação e dissolução. Cadahidrocarboneto pode ser um pouco ou muito diferentequanto aos tipos de degradação. Um exame decromotogramas pode determinar o que aconteceu como petróleo, como:• se o derramamento foi subterrâneo ou acima da superfícieterrestre (os hidrocarbonetos voláteis irão paraa atmosfera mais facilmente);• magnitude de degradação (os hidrocarbonetos maisfracos, como os n-alcanos e olefinas, irão embora), e• o tipo de degradação: biodegradação, evaporaçãoou dissolução.USANDO ISOPRENÓIDES PARAENTENDER A DEGRADAÇÃOPodemos usar a proporção de n-heptadecano (n-C 17alcano)e pristano (n-C 17/pr) para entender e estimar a idade do óleo(tempo desde o derramento - Christensen & Larsen, 1993),ainda que por vezes haja muitos problemas com estes métodos(Oudijk, 2009). Também a proporção de n-octadecano(n-C 18alcano) e phytano (n-C 18/ph) será útil. Proporçõesmaiores indicam menor degradação e que, talvez, o petróleoseja mais jovem. Proporções menores sinalizam maiordegradação e que, talvez, o petróleo seja mais velho.BIOMARCADORESUm biomarcador é um composto orgânico, normalmenteencontrado em oleo cru, cuja origem foi matéria vegetal(Philp, 1985). Os biomarcadores são frequentementemuito resistentes à degradação. Óleos crus têm umaproporção de pr/ph (pristano/phitano) distintas. Essaproporção não é alterada pela refinaria. O diesel tambémguarda essa proporção. Por isso, às vezes, podesedefinir a origem desse diesel: se é óleo cru da Nigéria,do Texas, de Angola ou de outro lugar do mundo.No óleo cru, há muitos biomarcadores como terpanos,esteranos e hopanos. Mas esses compostos químicossão mais pesados; podemos usá-los somente em óleocru. Para diesel, precisamos de biomarcadores mais leves,como sesquiterpanosbicíclicos, dibenzotiofenas oualquilciclohexanos. Para diferenciar gasolinas, hábiomarcadores ainda mais leves, como diamondoidese adamantanes.Querosenes e diesel que tiverem sido refinados deum óleo cru específico terão a mesma assinatura debiomarcadores. Entretanto, óleos crus distintos podemter assinaturas muito diferentes de biomarcadores. Então,podemos usar as assinaturas como uma impressãodigital e diferenciar se as origens são distintas. Para derramamentoscatastróficos, podemos fazer uma impressãodigital mais facilmente.Com os biomarcadores podemos saber se o derramamentode óleo foi catastrófico ou crônico. Se as proporçõesde pristano e phytano (ou outrosbiomarcadores) são iguais ou semelhantes nas amostras,o derramento foi catastrófico. Caso contrário, oderramento foi crônico. Podemos diferenciá-los porquea química do óleo cru que entra numa refinaria podemudar a cada dia. Então, o derivado de petróleo que vaisair da refinaria pode ser diferente a cada dia. Seria umfato raro, se a química do petróleo permanecesse semelhantedurante muitos meses ou anos, ao passoque um vazamento pode permanecer por muitos anos.ReferênciasEnergy Information Administration (EIA - EUA / 1991). Motor gasolineindustry: Past, present, and future. Washington, D. C., EUA” U. S.Department of Energy. DOE/EIA-0539.Oudijk, G.2009.Age dating heating-oil releases, Part 1: Heating-oilcomposition and subsurface weathering. Environmental Forensics 10(2): 107-119.Oudijk, G. 2009. Age dating heating-oil releases, Part 2: Assessingweathering and release time frames through chemistry, geology andsite history. Environmental Forensics 10 (2): 120-131.Pearson, G. &Oudijk, G. 1993. Investigation and remediation ofpetroleum product releases from residential storage tanks. Ground-Water Monitoring and Remediation 8 (3) 124-128.Philp, R. P., 1985, Fossil Fuel Biomarkers: Elsevier, New York, NY, USA.32 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO/OUTUBRO 2012


SETEMBRO/OUTUBRO 2012ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 33


OPINIÃORodrigo Cordeiro é Diretor da AcquaConsultoria, Diretor da R3 Viagens eDiretor da Associação Brasileira deEmpresas de Eventos – RegionalSão Paulo (ABEOC – SP)NÃO HÁ MAISTEMPO A PERDER!Diferente das demais edições, este artigo opinião nãoé redigido por um técnico, pesquisador ou especialista,mas também por um apaixonado. Iniciei minha relaçãocom o setor de águas subterrâneas quando ingresseina Acqua Consultoria, empresa organizadora de eventosdo setor em 1996, que hoje dirijo e é responsável pelasecretaria da <strong>ABAS</strong>. Tornei-me leitor assíduo dos informativosda entidade, ainda no formato de boletim, acompanhandotodas as evoluções, até que em 2007 me torneimembro do Conselho Editorial desta revista, em parceriacom o Dr. Everton de Oliveira.Acredito que o desenvolvimento de um país está intimamenteligado à importância que a sua sociedade dá para osaneamento ambiental, no tripé: água, esgoto e lixo.A partir dos anos 90, temas ambientais entraram naspreocupações da sociedade. Ouvimos falar desustentabilidade, da possível falta de água para as próximasgerações, de mudanças climáticas; passamos anos comover com os impactos dos eventos extremose nos indignamos quando nos deparamos com pessoasque vivem no e do lixo ou sem acesso à água. Porémsão temas complexos e enquanto alguns especialistasafirmam que vivemos o aquecimento global, outrosafirmam que é resfriamento e questionam aindase pode ser global, diante da área de ocupação dasatividades humanas no planeta. São poucas as verdadesabsolutas!Fato é que a informação dinâmica, através de todosos seus meios, tornou a sociedade mais informada emais disposta a entender e opinar sobre este assunto.Aldo Rebouças dizia que “o problema das águas subterrâneasé que não são fotogênicas”. Permito-me estenderesse raciocínio para o saneamento ambiental deforma geral. Comumente as promessas são esquecidaslogo após as eleições. Este setor carece e merece atençãoe investimentos. E, quando falamos em investimento,falamos em bastante dinheiro e de forma contínua,só assim poder-se-á garantir a universalização do saneamento,de que tanto ouvimos.Levar água de qualidade significa gerar o mínimode qualidade de vida e subsistência. Coletar e trataro esgoto significa saúde e responsabilidade com aspróximas gerações.Agregar valor ao lixo etransformá-lo em produto é a única alternativa paraa questão de resíduos.O tempo de resposta do poder público precisa mudar.É necessário fomentar políticas públicas integradas,leis convergentes, fortalecer, valorizar e renovar os quadrosde órgãos gestores e ambientais.Não há mais tempoa perder!Estamos em ano eleitoral quando elegeremos prefeitose vereadores em todo o Brasil. Aí, sim, poderemosmensurar se continuamos votando nos políticostradicionais ou se a população passará a votar naquelesque se propõem a estudar, conhecer e agir nos entravesdo desenvolvimento sustentável. Será quandopoderemos pensar em um novo país, onde a sociedadeé respeitada pelos políticos por exercer corretamentea única forma de pressão que os move: o voto comdiscernimento.O Brasil ainda é muito desigual e essa jornada só começou.A condição promissora de estados mais desenvolvidosnão reflete a realidade nacional. Não é maisadmissível que dois terços da população ainda viva emcondições sub-humanas de higiene e qualidade de vida.Depois de 16 anos organizando os maiores congressose feiras do setor de infraestrutura e meio ambientepara diversas associações e sociedades e convivendocom seus diretores e associados diariamente, compostaspor pessoas brilhantes, afirmo que a comunidadetécnica e científica quando consultada, será a agenteda maior transformação nas corretas tomadas de decisãosobre os temas estruturais e ambientais. E o reflexodisso se dará na melhor qualidade de vida da populaçãoque finalmente terá o tão sonhado desenvolvimentosustentável.34 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO/OUTUBRO 2012


SETEMBRO/OUTUBRO 2012ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 35


36 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO/OUTUBRO 2012

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!