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O Uso das Narrativas como Fonte de Conhecimento em Enfermagem

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O <strong>Uso</strong> <strong>das</strong><strong>Narrativas</strong><strong>como</strong> <strong>Fonte</strong> <strong>de</strong><strong>Conhecimento</strong> <strong>em</strong>Enfermag<strong>em</strong>daí resulta. A reflexão ética <strong>em</strong> contextos <strong>de</strong> cuidar é feita <strong>de</strong> forma narrativa. Os conceitoséticos abstractos <strong>de</strong> respeito e responsabilida<strong>de</strong> ganham corpo quando são relacionadoscom situações concretas entre colegas e pacientes e intersubjectivamente partilhadosatravés <strong>de</strong> estórias, criando-se uma reciprocida<strong>de</strong> entre narrativa e ética que é essencial,pelo que uma ‘ética narrativa’ implica uma interacção “We are intersubjective forms ofm<strong>em</strong>ory and action” (Skott, 2003, p.375).Dentro do contexto narrativo é possível compreen<strong>de</strong>r melhor porque pensamos eagimos <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada forma, aprimorando a nossa sensibilida<strong>de</strong> narrativa, dandolhecoerência e unida<strong>de</strong>. (Skott, 2003)Os enfermeiros apresentam-se nestes estudos <strong>como</strong> seres humanos comprometidoscom o alívio do sofrimento e moralmente responsáveis pela vulnerabilida<strong>de</strong> dos quenecessitam dos seus cuidados, reflectindo um nível <strong>de</strong> conhecimento específico docontexto, adquirido pela experiência clínica (Benner, 1995). Cabe à investigação encontrarnovas formas <strong>de</strong> manter e aperfeiçoar esta perícia.Por fim, o estudo <strong>de</strong> Nairm (2004) centra-se nos relatos dos enfermeiros sobresituações limite, <strong>em</strong> contexto <strong>de</strong> <strong>em</strong>ergência, dando voz a um conjunto <strong>de</strong> textospropositadamente recolhidos fora <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> investigação, <strong>em</strong> revistas profissionaise <strong>de</strong> divulgação. O objectivo <strong>de</strong>ste autor é discutir os sentidos sobre a experiência <strong>em</strong>cuidados <strong>de</strong> <strong>em</strong>ergência, <strong>de</strong>socultando um conhecimento que reconhece <strong>como</strong> marginal,<strong>de</strong>svalorizado face ao conhecimento académico, e que são estórias sobre as <strong>em</strong>oções dosenfermeiros. Estórias intensas que falam sobre situações extr<strong>em</strong>as <strong>de</strong> morte e sofrimento,<strong>de</strong> horror, <strong>de</strong> medo, <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong>, e que se constitu<strong>em</strong> <strong>como</strong> um meio particular <strong>de</strong>expressar essa vivência. Tais narrativas, que envolv<strong>em</strong> uma <strong>de</strong>scrição pormenorizada e porvezes brutal <strong>de</strong> acontecimentos, na sua maior parte situações <strong>de</strong> trauma, criam espaçopara a expressão <strong>de</strong> genuínos sentimentos, <strong>de</strong> tal forma que inva<strong>de</strong>m o discurso formal daracionalida<strong>de</strong> técnica que envolve habitualmente a enfermag<strong>em</strong> <strong>de</strong> cuidados intensivos.A distância e a objectivida<strong>de</strong>, implicitamente promovida pelos profissionais, assum<strong>em</strong>-se<strong>como</strong> discurso predominante que apaga outras linguagens que, na opinião do autor, têma mesma legitimida<strong>de</strong>.Este interesse <strong>em</strong> explorar outras formas <strong>de</strong> acesso aos sentidos e aos saberes,que o discurso dominante habitualmente <strong>de</strong>sperdiça, v<strong>em</strong> na linha da abordag<strong>em</strong>pós-mo<strong>de</strong>rnista que se preocupa <strong>em</strong> dar voz a discursos marginais e assim inquietar anormativida<strong>de</strong> do mundo social.Argumenta-se ainda, neste estudo, que as fontes para colher dados <strong>de</strong>v<strong>em</strong> irpara além <strong>das</strong> formalmente produzi<strong>das</strong> <strong>em</strong> contexto <strong>de</strong> pesquisa, utilizando escritospessoais ou estórias que nunca foram produzi<strong>das</strong> para fins <strong>de</strong> investigação. Ou seja, dadosproduzidos no seu setting natural. Estas narrativas têm a sua própria “verda<strong>de</strong>”. Contudo,não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> acompanhar o autor neste <strong>de</strong>sejo:“i did wish to engage creatively with th<strong>em</strong> as a source of knowledge that may at times have unsettlingthings to say about the current state of health care and aca<strong>de</strong>mic language that dominates our <strong>de</strong>scriptionsof it” (Nairn, 2004, p.65).De notar a preocupação ética referida <strong>em</strong> todos os estudos no sentido <strong>de</strong> respeitaras <strong>de</strong>cisões dos participantes, dando-lhes s<strong>em</strong>pre total liberda<strong>de</strong>, tanto para se expressar<strong>como</strong> para interromper a sua participação.84Pensar Enfermag<strong>em</strong> Vol. 15 N.º 1 1º S<strong>em</strong>estre <strong>de</strong> 2011

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