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“Isso não Soa Bem”. A consciência fonológica do lado de lá - Exedra

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exedra • 9 • Março <strong>de</strong> 2010as diferentes posições da mesma unida<strong>de</strong>. No fun<strong>do</strong>, esta gradação pren<strong>de</strong>-se com onatural aumento da complexida<strong>de</strong> no ensino e possibilita a inexistência <strong>de</strong> frustraçãoperante um exercício <strong>de</strong>sa<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> ao ritmo e faixa etária ou o <strong>de</strong>sinteresse por outro<strong>de</strong>masia<strong>do</strong> simples.A sílaba é passível <strong>de</strong> ser dividida em elementos mais pequenos que ocupamposições fixas <strong>de</strong>ntro da unida<strong>de</strong>. Como é sabi<strong>do</strong>, os constituintes intrassi<strong>lá</strong>bicos sãounida<strong>de</strong>s menores <strong>de</strong>ntro da sílaba e a reflexão em seu torno constitui também um <strong>do</strong>spassos <strong>do</strong> treino efectivo da Consciência Fonológica. A sílaba é composta por Ataque,consoante antes <strong>do</strong> Núcleo; pelo Núcleo, a vogal mais forte, e pela Coda, consoantea seguir ao núcleo. Estas três unida<strong>de</strong>s têm concretizações diferentes no português.Assim, o Ataque po<strong>de</strong> ser simples, quan<strong>do</strong> é constituí<strong>do</strong> apenas por uma consoante,como na sílaba 7 [ka] <strong>de</strong> [kazɐ]; ramifica<strong>do</strong>, composto por uma consoante oclusiva euma líquida, como em [flɔ] <strong>de</strong> [flɔku] e [pɾa] <strong>de</strong> [pɾatu] ou vazio, quan<strong>do</strong> <strong>não</strong> temrepresentação como em [ɛɾvɐ]. O Núcleo, sempre representa<strong>do</strong> em português, po<strong>de</strong>ser simples, quan<strong>do</strong> constituí<strong>do</strong> por uma única vogal, como em [pa] <strong>de</strong> [patu] ouramifica<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> constituí<strong>do</strong> por um ditongo, como em [paw]. A coda correspon<strong>de</strong>em português às consoantes [ʃ] e [ɬ] como em [muʃgu] e [mɛl] e <strong>não</strong> é um constituinteobrigatório 8 .A Consciência intrassi<strong>lá</strong>bica <strong>de</strong>ve ser estimulada para que o aluno percepcione osformatos possíveis na sua língua materna, isto é, CV; VC; V; CVG; CCV; CVC 9 , paraque faça a divisão si<strong>lá</strong>bica respeitan<strong>do</strong> a existência e a indivisibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stes constituintes10 , para que articule com clareza e leia e escreva com correcção. As tarefaspropostas assentam na meto<strong>do</strong>logia geral <strong>do</strong> treino fonológico, ou seja, i<strong>de</strong>ntificação,segmentação, adição, supressão e manipulação.Por último, <strong>de</strong>ve-se <strong>de</strong>spertar a Consciência Fonémica <strong>do</strong> discente. Como o nomeindica, a unida<strong>de</strong> matricial <strong>não</strong> é a sílaba, mas sim as unida<strong>de</strong>s mínimas da língua.Esta capacida<strong>de</strong> requer um grau <strong>de</strong> abstracção maior pelo que <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>senvolvidanum estádio posterior ao da <strong>consciência</strong> si<strong>lá</strong>bica. Todavia, esta afirmação <strong>não</strong> supõeque no momento em que se inicie o treino das competências fonémicas, se aban<strong>do</strong>nea abordagem da sílaba. Ambos os elementos <strong>de</strong>vem ser continuamente treina<strong>do</strong>s paraque o estimulo seja eficaz e a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reflexão sobre a língua se <strong>de</strong>senvolva.A competência fundamental da Consciência Fonémica é a compreensão a relação arbitráriaentre fonema e grafema. A criança <strong>de</strong>ve compreen<strong>de</strong>r que a ortografia <strong>não</strong>tem uma relação directa com o plano fonológico na medida em que uma letra po<strong>de</strong>ter vários sons e um fonema po<strong>de</strong> ser representa<strong>do</strong> por diversos grafemas. Esta capacida<strong>de</strong>é fundamental para uma maior correcção na escrita, pois fornece à criançaelementos que a levam a reflectir no momento <strong>de</strong> grafar as palavras orais, bem comoconduz à autoavaliação <strong>de</strong> erros fonológicos.Pela breve <strong>de</strong>scrição das unida<strong>de</strong>s matriciais da Consciência Fonológica e da ConsciênciaFonémica, conclui-se que o treino fasea<strong>do</strong> e continua<strong>do</strong> <strong>de</strong>stes segmentoslinguísticos é importante para um conhecimento explícito da língua, proporcionan-122


“ Isso <strong>não</strong> <strong>Soa</strong> <strong>Bem”</strong>. A Consciência Fonológica <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>de</strong> LáReflexão em torno exercícios <strong>de</strong> Consciência Fonológica no Primeiro Ciclo.<strong>do</strong> igualmente um <strong>de</strong>sempenho com maior qualida<strong>de</strong> em tarefas <strong>de</strong> leitura e escrita.Contu<strong>do</strong>, convém acrescentar que a relação da Consciência Fonológica com a leituraé biunívoca. Como diversos estu<strong>do</strong>s evi<strong>de</strong>nciam 11 , o treino precoce da ConsciênciaFonológica é <strong>de</strong>terminante para a formação <strong>de</strong> melhores leitores, mas o aumento <strong>de</strong>competências leitoras também propicia um melhor <strong>de</strong>senvolvimento da ConsciênciaFonológica.Tratan<strong>do</strong>-se este artigo da aplicação <strong>do</strong> saber linguístico, no plano fonológico, naprática <strong>do</strong>cente <strong>do</strong> primeiro ciclo apresentamos em seguida uma reflexão sobre duasactivida<strong>de</strong>s 12 no âmbito da Consciência Fonológica e Fonémica aplicadas em sala <strong>de</strong>aula. Começaremos por apresentar o primeiro exercício <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> no segun<strong>do</strong> ano<strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>, que observámos 13 , procuran<strong>do</strong> relacionar o <strong>de</strong>sempenho <strong>do</strong>s alunosao nível da Consciência Fonológica. Semelhante procedimento teremos para a segundaactivida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>correu numa turma <strong>de</strong> quarto ano <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>. Como otítulo <strong>de</strong>ste trabalho já sugere, vamos procurar enten<strong>de</strong>r como as crianças percepcionama Consciência Fonológica procuran<strong>do</strong> perceber as estratégias que elas usam e asua justificação 14 .2- Corrida <strong>de</strong> SílabasEsta activida<strong>de</strong> contemplou várias tarefas no âmbito da Consciência Fonológica,a divisão si<strong>lá</strong>bica, o constituinte intrassi<strong>lá</strong>bico ataque ramifica<strong>do</strong> e, num último momento,a distinção ente translineação e segmentação <strong>de</strong> sílaba. Foi também observa<strong>do</strong>o comportamento <strong>do</strong>s alunos em relação a sílabas com coda ainda que tal unida<strong>de</strong><strong>não</strong> fosse o foco principal. Esta acção <strong>de</strong>correu numa aula <strong>de</strong> uma turma <strong>de</strong> segun<strong>do</strong>ano da zona urbana <strong>do</strong> Porto, composta por cerca <strong>de</strong> vinte crianças sem dificulda<strong>de</strong>s<strong>de</strong> aprendizagem, aliás, segun<strong>do</strong> a <strong>do</strong>cente, com um bom nível <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong> conhecimentos.O treino da Consciência Fonológica <strong>não</strong> era efectivo, ten<strong>do</strong> a <strong>do</strong>centecomeça<strong>do</strong> nesse ano lectivo a trabalhar conscientemente esse <strong>do</strong>mínio <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à formaçãono âmbito <strong>do</strong> PNEP.Tratou-se <strong>de</strong> um exercício que foi <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> no exterior e que consistianuma corrida semelhante à “corrida <strong>de</strong> sacos”. As crianças estavam dispostas em filae <strong>de</strong>veriam atingir uma meta <strong>de</strong>limitada no espaço <strong>do</strong> recreio. A <strong>do</strong>cente pedia a cadaaluno que tirasse <strong>de</strong> um saco uma tira <strong>de</strong> papel. Depois, o discente <strong>de</strong>via ler a palavraem voz alta e fazer a sua divisão si<strong>lá</strong>bica. A criança <strong>de</strong>via pular o número <strong>de</strong> vezes correspon<strong>de</strong>nteà quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sílabas <strong>do</strong> vocábulo, se errasse, ficava no mesmo lugar.Ganhava quem chegasse primeiro à meta. Os termos eram geralmente dissílabos etrissílabos, na sua maioria compostos por ataque e núcleo ramifica<strong>do</strong>s. Para potenciaruma maior significação <strong>do</strong> exercício às crianças, as palavras tinham relações semânticaspertencen<strong>do</strong> ao campo das profissões. Alguns exemplos <strong>de</strong> palavras usadas, pertinentespara esta nossa reflexão escrita, foram “professor”, “peixeiro”, “electricista”,“merceeiro”, “atleta”. Depois <strong>de</strong> concluí<strong>do</strong> o jogo, os alunos voltaram para a sala e123


exedra • 9 • Março <strong>de</strong> 2010foi-lhes pedi<strong>do</strong> que escrevessem num papel a divisão si<strong>lá</strong>bica das palavras que lhestinham calha<strong>do</strong> durante a corrida.Todas as crianças reagiram com entusiasmo ao exercício pois o seu carácter lúdico,potencia<strong>do</strong> por se tratar <strong>de</strong> uma activida<strong>de</strong> no exterior, era bastante evi<strong>de</strong>nte. Osalunos fizeram, na generalida<strong>de</strong>, a divisão si<strong>lá</strong>bica correctamente, registan<strong>do</strong>-se apenastrês casos que merecem a nossa <strong>de</strong>tenção.O primeiro tem a ver com a divisão da palavra “atleta”. A criança dividiu a palavrada seguinte forma: [ɐ] [tə] [lɛ] [tɐ]. Vários colegas começaram a corrigi-la, porémsem verbalizarem a divisão, afirman<strong>do</strong> que o vocábulo tinha apenas três sílabas. Amenina, algo confusa, persistiu na sua contagem quan<strong>do</strong> questionada pela professora.Entretanto, um outro menino fez a divisão correcta da palavra, manten<strong>do</strong> o ataqueramifica<strong>do</strong>. Depois <strong>de</strong> uma explicação sucinta da <strong>do</strong>cente, a aluna pareceu ter compreendi<strong>do</strong>que tinha dito um som que na verda<strong>de</strong> <strong>não</strong> está na palavra.O segun<strong>do</strong> e terceiro exemplos relacionam-se com o núcleo ramifica<strong>do</strong>. No segun<strong>do</strong>caso, o aluno dividiu a palavra “peixeiro” i<strong>de</strong>ntifican<strong>do</strong> apenas um ditongo:[pɐ][i] [ʃɐj] [ɾu]. O discente afirmou que o termo tinha quatro sílabas. A maioria <strong>do</strong>salunos <strong>não</strong> se apercebeu <strong>do</strong> erro <strong>do</strong> colega, mas, quan<strong>do</strong> a professora verbalizou apalavra novamente, alguns fizeram a divisão si<strong>lá</strong>bica correcta.O terceiro caso <strong>não</strong> se relaciona directamente com o exercício, mas foi uma situaçãoque, <strong>de</strong> forma espontânea, a activida<strong>de</strong> proporcionou. Um menino dividiu silabicamenteo termo “merceeiro”. A divisão foi feita <strong>de</strong> forma correcta, mas a criançapronunciou a primeira sílaba como [mɐɾ] ao invés <strong>de</strong> [məɾ] que correspon<strong>de</strong> àpronúncia padrão culta. A professora disse o vocábulo em português padrão, <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong>a primeira sílaba, e um <strong>do</strong>s alunos acrescentou: “tem <strong>lá</strong> um é”. O discente quetinha pronuncia<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma menos esperável murmurou “ merceeiro <strong>não</strong> tem <strong>lá</strong> énenhum…”.A parte <strong>do</strong> exercício que <strong>de</strong>correu <strong>de</strong>ntro da sala foi bem conseguida haven<strong>do</strong> apenasa registar a seguinte forma gráfica para a divisão si<strong>lá</strong>bica <strong>de</strong> “professor”: *“profe-s-sor”.Cada um <strong>do</strong>s exemplos <strong>de</strong>scritos merece a nossa observação particular que conduziremosprocuran<strong>do</strong> <strong>não</strong> apenas comentar o erro, como também sugerir o <strong>do</strong>mínioda Consciência Fonológica em que se afigura relevante intervir.Assim, no primeiro caso, encontra-se um típico erro <strong>de</strong> regularização por sobregeneralização.A menina <strong>não</strong> i<strong>de</strong>ntificou uma sílaba complexa, CCV, eliminan<strong>do</strong> oataque ramifica<strong>do</strong> com o acrescento <strong>de</strong> um som intermédio. Esta situação é típica poiso padrão si<strong>lá</strong>bico <strong>do</strong> português mais recorrente é CV, logo, a estudante transformouum padrão irregular num regular. Tratan<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> uma turma, como a <strong>do</strong>cente referiu,bastante motivada em tarefas <strong>de</strong> escrita é natural que a <strong>consciência</strong> intrassi<strong>lá</strong>bica seja124


“ Isso <strong>não</strong> <strong>Soa</strong> <strong>Bem”</strong>. A Consciência Fonológica <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>de</strong> LáReflexão em torno exercícios <strong>de</strong> Consciência Fonológica no Primeiro Ciclo.ainda um <strong>do</strong>mínio necessário a incluir, com maior incisão, na sala <strong>de</strong> aula. È certoque em cerca <strong>de</strong> vinte alunos apenas se registou este erro, facto que terá ocorri<strong>do</strong><strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao gosto e treino da <strong>de</strong>cifração e compreensão leitoras que, como já referimos,potenciam o <strong>de</strong>senvolvimento da Consciência Fonológica. Contu<strong>do</strong>, ten<strong>do</strong> em contaa reacção positiva das crianças a este exercício, será profícuo que mais activida<strong>de</strong>sem torno da <strong>consciência</strong> <strong>do</strong>s constituintes internos da sílaba façam parte <strong>do</strong> contextolectivo. Desta forma, to<strong>do</strong>s ganham, melhoran<strong>do</strong> e sedimentan<strong>do</strong> competências. O<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> discriminação auditiva, ten<strong>do</strong> como alvo a i<strong>de</strong>ntificação<strong>de</strong> ataques ramifica<strong>do</strong>s e a construção <strong>de</strong> exercícios <strong>de</strong> manipulação <strong>de</strong>stesconstituintes são, certamente, uma boa solução.O segun<strong>do</strong> erro incidiu também numa unida<strong>de</strong> intrassi<strong>lá</strong>bica, o núcleo ramifica<strong>do</strong>.O aluno <strong>de</strong>sfez o ditongo, pronuncian<strong>do</strong> como vogal integra a gli<strong>de</strong> [i]. Todavia, oestudante i<strong>de</strong>ntificou o segun<strong>do</strong> ditongo, idêntico ao primeiro. As razões <strong>de</strong>sta ocorrênciapo<strong>de</strong>m pren<strong>de</strong>r-se com a extensão da palavra, mas, também, com a pouca percepçãoda diferença entre vogal e gli<strong>de</strong>. Tal confusão é natural pois para além <strong>de</strong>se tratar <strong>de</strong> um fonema quase idêntico, mudan<strong>do</strong> apenas a intensida<strong>de</strong> com que seproduz, é frequente que a criança aprenda que um ditongo “é constituí<strong>do</strong> por duasvogais”. Mais uma vez, parte-se da imagem gráfica da palavra para explicar uma realida<strong>de</strong><strong>fonológica</strong> o que induz em erro. Desta forma, para além da promoção <strong>de</strong> exercíciosrelaciona<strong>do</strong>s com a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> ditongos, seria importante que as criançaspercebessem a diferença entre os <strong>do</strong>is fonemas que compõem o núcleo ramifica<strong>do</strong>. Aoinvés <strong>de</strong> se insistir na afirmação “das duas vogais” seria pertinente que se explicasseque, na escrita, a sua forma é a mesma, mas na oralida<strong>de</strong> há uma ténue diferença queas distingue, sen<strong>do</strong> uma “mais fraca” que a outra. No nosso enten<strong>de</strong>r, esta explicação<strong>não</strong> é complexa para as crianças po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> até clarificar a noção <strong>de</strong> ditongo, evitan<strong>do</strong> asua elisão na oralida<strong>de</strong> e até na escrita 15 .O terceiro exemplo apresenta<strong>do</strong> <strong>não</strong> se pren<strong>de</strong> com constituintes da sílaba, massim com diversos valores fonéticos <strong>do</strong> mesmo grafema. A pronuncia distinta <strong>do</strong> aluno<strong>não</strong> é inusitada, uma vez que a confusão entre os valores <strong>de</strong> e <strong>de</strong> , para além<strong>de</strong> ser secular 16 , é habitual em falares regionais diversos po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser manifestação <strong>do</strong>input linguístico 17 <strong>do</strong> estudante. A correcção <strong>do</strong> erro e o comentário daquele que erroué que parecem interessantes <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista da <strong>consciência</strong> fonémica.O aluno que corrigiu a pronúncia <strong>do</strong> colega, pouco habitual na turma, justificoua sua opinião com base na imagem visual que tem da escrita da palavra, pois afirmouque tinha um “é”. Já o estudante que errou, revela sensibilida<strong>de</strong> à varieda<strong>de</strong> fonética,uma vez que reconhece que essa palavra <strong>não</strong> tem, <strong>de</strong> facto, esse som. Seria interessanteconduzir os alunos a <strong>de</strong>scobrir, partin<strong>do</strong> em primeiro lugar <strong>do</strong> seu conhecimentoimplícito, que o mesmo grafema po<strong>de</strong> ter várias representações fonéticas. O treino<strong>de</strong>sta competência consolidaria, certamente, a expressão oral, o <strong>de</strong>sempenho em leituraem voz alta e a correcção ortográfica.Por último, o erro na divisão si<strong>lá</strong>bica da palavra “professor” ilustra uma confusão125


exedra • 9 • Março <strong>de</strong> 2010já antiga e comum entre translineação e separação <strong>de</strong> sílabas. O estudante apren<strong>de</strong>uque, na escrita, <strong>de</strong>veria separar as consoantes , assim, quan<strong>do</strong> lhe pediram que,por escrito, representasse as sílabas, fê-lo como se estivesse a obe<strong>de</strong>cer a uma convençãoortográfica, <strong>não</strong> prestan<strong>do</strong> atenção ao som. Parece fulcral clarificar a diferençaentre convencionalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> registo escrito e realida<strong>de</strong> fónica da palavra, promoven<strong>do</strong>exercícios comparatistas entre ambos os <strong>do</strong>mínios.Como se constata pela breve <strong>de</strong>scrição e análise das activida<strong>de</strong>s, os erros <strong>do</strong>s alunosencontram um <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong>r comum: <strong>de</strong> uma forma geral, o seu <strong>de</strong>sempenho écondiciona<strong>do</strong> pelas habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura e escrita. Os discentes <strong>não</strong> estão suficientemente<strong>de</strong>spertos para o plano fonológico, por isso, raciocinam em termos <strong>de</strong> representaçõesgráficas. Antes <strong>de</strong> partirmos para uma reflexão mais precisa, vejamos o outroexercício <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> numa turma <strong>de</strong> quarto ano.3- À procura da rima perfeitaEsta activida<strong>de</strong> foi <strong>de</strong>senvolvida e observada na mesma escola que a anterior, numaaula com cerca <strong>de</strong> vinte crianças. Esta turma <strong>do</strong> quarto ano <strong>não</strong> revelava, segun<strong>do</strong>a <strong>do</strong>cente, um <strong>de</strong>sempenho excelente, como a anterior <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> ano, mas também<strong>não</strong> evi<strong>de</strong>nciava nenhum problema preocupante ou dificulda<strong>de</strong> significativa.O exercício <strong>de</strong>correu na sala e os meninos foram <strong>de</strong>safia<strong>do</strong>s a fazer um pequenopoema, mas teriam <strong>de</strong> seguir algumas instruções. Depois <strong>de</strong> forma<strong>do</strong>s grupos <strong>de</strong> quatroelementos, a professora registou no quadro os seguintes vocábulos:atleta; chupeta; velha; ovelha; pó; champô; meta; sapo; pé; café; telha; corneta; azul; coelho;tule; estrela; bela; sonharamOs alunos <strong>de</strong>veriam escolher <strong>de</strong>stas palavras aquelas que rimassem, mas o som darima teria <strong>de</strong> ser idêntico. No final <strong>de</strong> terem, em grupo, construí<strong>do</strong> o poema, viriamto<strong>do</strong>s, ou um porta-voz, apresentá-lo à turma. Os colegas opinavam se as rimas eramperfeitas ou <strong>não</strong>. Depois <strong>de</strong> uma explicação sobre o que era um poema e que apresentaçãográfica se supunha ter, os estudantes redigiram os seus textos e os resulta<strong>do</strong>squer da redacção, quer <strong>do</strong>s comentários da turma foram bastante interessantes.Registaram-se os seguintes pares <strong>de</strong> palavras que, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com os autores, rimavam:velha/ovelha; pó/champô; chupeta/atleta; azul/tule. Um grupo registou ainda apalavra “sonharam” embora reconhecesse que <strong>não</strong> rimava com nada.Quan<strong>do</strong> o primeiro grupo leu a rima “ovelha/velha” um <strong>do</strong>s meninos da assistênciainterveio dizen<strong>do</strong>: “isso <strong>não</strong> soa bem!”. A <strong>do</strong>cente pediu-lhe que explicasse porquê,mas o aluno disse: “<strong>não</strong> sei. Só sei que <strong>não</strong> soa bem”. O discente teve também estecomentário para os pares chupeta/atleta e pó/champô. Em relação a este último, o126


“ Isso <strong>não</strong> <strong>Soa</strong> <strong>Bem”</strong>. A Consciência Fonológica <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>de</strong> LáReflexão em torno exercícios <strong>de</strong> Consciência Fonológica no Primeiro Ciclo.mesmo discente e outros colegas acrescentaram: “ o acento é diferente, lê-se diferente”.Um <strong>do</strong>s grupos retorquiu: “mas a letra é a mesma”.A leitura <strong>de</strong> outro grupo foi particularmente interessante <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista dasestratégias empregues para transformar algumas rimas que se sabia “<strong>não</strong> soarem bem”em palavras que rimassem <strong>de</strong> facto. Assim, uma das meninas leu os vocábulos “velha”e “telha” como [vɐλɐ] e [tɐλɐ] e <strong>não</strong> como [vɛλɐ] e [teλɐ], pronuncias esperáveisna cida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Porto 18 . O aluno que dissera anteriormente que as rimas <strong>do</strong>s colegas<strong>não</strong> soavam bem, afirmou: “isso <strong>não</strong> se diz assim!”. Outros discentes concordaram,dizen<strong>do</strong> que se <strong>de</strong>via pronunciar [vɛλɐ] e [teλɐ], “ que <strong>não</strong> rimam”.Várias consi<strong>de</strong>rações se po<strong>de</strong>m fazer da prestação <strong>do</strong>s alunos. Em primeiro lugar,a construção <strong>do</strong>s poemas evi<strong>de</strong>ncia que os estudantes estão muito condiciona<strong>do</strong>s pelaescrita uma vez que to<strong>do</strong>s colocaram as palavras “velha/telha” e “atleta/chupeta” emposição <strong>de</strong> rima. O caso <strong>de</strong> “pó/champô” como par rimático levanta várias hipóteses.Po<strong>de</strong>ria ter havi<strong>do</strong> alguma hesitação entre os sons das vogais finais, uma vezque apenas variam num parâmetro, o grau <strong>de</strong> abertura, que a acentuação gráfica <strong>não</strong><strong>de</strong>sambiguou. Outra possibilida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>ria ter si<strong>do</strong> o facto <strong>de</strong> os alunos estarem preocupa<strong>do</strong>sem colocar a par palavras semelhantes, que acabassem na mesma letra, ten<strong>do</strong>ignora<strong>do</strong> o acento gráfico. Além disso, ten<strong>do</strong> em conta que o grupo que incluiu estestermos, usou todas as palavras listadas, a formação <strong>de</strong>ste conjunto po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ver-se àpreocupação em utilizar a lista completa o que revela que o objectivo <strong>do</strong> exercício <strong>não</strong>foi totalmente compreendi<strong>do</strong>.O facto <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os grupos terem coloca<strong>do</strong> azul/tule em posição <strong>de</strong> rima <strong>não</strong> sepren<strong>de</strong>, a nosso ver, com a influência da escrita mas revela que, ao dizerem as duaspalavras, terão acrescenta<strong>do</strong> um som final, [ə], na palavra [ɐzuɬ], <strong>não</strong> i<strong>de</strong>ntifican<strong>do</strong> acoda e transforman<strong>do</strong> o padrão si<strong>lá</strong>bico irregular CVC no regular CV.A estratégia <strong>de</strong> leitura da menina <strong>de</strong>monstra que, provavelmente <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> aos comentáriosprévios em relação aos outros grupos, se apercebeu, já <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> teremfeito o poema, que as rimas <strong>não</strong> eram completas. Assim, usou uma pronúncia que <strong>não</strong>lhe era natural, mas que seria, certamente, conhecida para anular as dissemelhançasfonéticas.O que nos parece sobremaneira interessante é o tipo <strong>de</strong> intervenções <strong>do</strong> aluno que,constantemente, dizia que os poemas <strong>não</strong> “soavam bem”. Curiosamente, a produção<strong>do</strong> seu grupo continha o mesmo tipo <strong>de</strong> ocorrências <strong>do</strong>s outros, mas o menino foitambém autocrítico. Quan<strong>do</strong> a professora lhe perguntou se achava que o poema <strong>do</strong>seu grupo “soava bem”, respon<strong>de</strong>u: “<strong>não</strong>, mas tínhamos <strong>de</strong> pôr as letras juntas parafazer o poema”. Assim, o menino mostra ter sensibilida<strong>de</strong> às variações e diferençasentre o sons quan<strong>do</strong> está a ouvir e a reflectir sobre eles, mas <strong>não</strong> se abstrai da escritao suficiente para construir as rimas aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> apenas à imagem acústica das palavras.A criança i<strong>de</strong>ntifica as divergências das sílabas finais <strong>do</strong>s vocábulos no tocante à rima,mas <strong>não</strong> consegue manipular os sons <strong>de</strong> forma a que eles in<strong>de</strong>pendam da grafia.127


exedra • 9 • Março <strong>de</strong> 2010Como se verifica pela <strong>de</strong>scrição e análise <strong>de</strong>sta activida<strong>de</strong>, a <strong>consciência</strong><strong>fonológica</strong> <strong>de</strong>stas crianças necessita <strong>de</strong> um treino mais eficaz a diversos níveis. Sãopertinentes, sobretu<strong>do</strong>, exercícios em suporte oral <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a concretizar nas criançasalgo a que elas já são sensíveis: a diversida<strong>de</strong> sonora. Activida<strong>de</strong>s em que os alunostenham <strong>de</strong> encontrar sílabas que rimem, i<strong>de</strong>ntificar concordâncias fónicas, <strong>de</strong>scobrirdissemelhanças e compreen<strong>de</strong>r efectivamente que a relação entre fonema e grafema éarbitrária.Conclusões: a importância <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>lá</strong>Tanto a activida<strong>de</strong> aplicada ao segun<strong>do</strong> ano <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> como aquela <strong>de</strong>senvolvidano quarto ano <strong>de</strong>monstraram que, <strong>de</strong> uma forma geral, as crianças <strong>não</strong> tomamo plano fonológico da língua como ponto <strong>de</strong> partida. As turmas observadas evi<strong>de</strong>nciaramum forte condicionamento da ortografia na execução <strong>de</strong> tarefas que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m, emprimeiro lugar, <strong>do</strong>s sons linguísticos. No final <strong>do</strong> momento inicial <strong>de</strong> aprendizagens<strong>do</strong> primeiro ciclo, o segun<strong>do</strong> ano, os discentes <strong>não</strong> revelam, ainda, <strong>de</strong>streza suficientena segmentação <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s intrassi<strong>lá</strong>bicas e na conclusão <strong>de</strong>ste ciclo <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s,o quarto ano, <strong>não</strong> se <strong>de</strong>nota um conhecimento <strong>do</strong> sistema fonológico reflecti<strong>do</strong> quepropicie a distinção precisa entre variações fonéticas e representações grafemáticas.Todavia, nos <strong>do</strong>is casos, as intervenções das crianças, motivadas pela existência<strong>de</strong>stes exercícios <strong>de</strong> Consciência Fonológica, mostram que o conhecimento implícitoda realida<strong>de</strong> fónica da sua língua materna lhes permite inferir que a relação fonema/grafema é opaca. Os exercícios foram significativos para os alunos pois no seu <strong>de</strong>cursoforam capazes <strong>de</strong> avaliar criticamente a sua prestação e a <strong>do</strong>s outros. Assim,é importante que o <strong>do</strong>cente aproveite a motivação da turma em realizar activida<strong>de</strong>sneste âmbito, crian<strong>do</strong> momentos na sala <strong>de</strong> aula que <strong>de</strong>senvolvam a sensibilida<strong>de</strong> aossons da língua, transforman<strong>do</strong>-a em conhecimento explícito. As crianças, <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>de</strong><strong>lá</strong>, precisam que o professor as conduza na <strong>de</strong>scoberta <strong>do</strong> plano fonológico da língua.Assim, os alunos po<strong>de</strong>m enten<strong>de</strong>r que as unida<strong>de</strong>s mínimas significativas <strong>do</strong> sistemalinguístico <strong>não</strong> são as letras, mas sim os fonemas. As crianças <strong>de</strong>vem perceber que ossegmentos fónicos po<strong>de</strong>m ter organizações diferentes, que o seu lugar na estrutura dapalavra gera significa<strong>do</strong>s distintos e origina padrões fónicos com graus <strong>de</strong> coincidênciadiferencia<strong>do</strong>s que <strong>não</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> realizações gráficas iguais.Se, como vimos, os alunos evi<strong>de</strong>nciam sensibilida<strong>de</strong> ao plano fonológico da língua,<strong>não</strong> é conveniente esquecer que o <strong>do</strong>cente também necessita que a prática lectivaem torno da realida<strong>de</strong> sonora se revista <strong>de</strong> significa<strong>do</strong> no contexto <strong>do</strong> ensino-aprendizagem<strong>do</strong> português. Para isso, contribuirá o PNEP enquanto formação que possibilitaa reflexão sobre meto<strong>do</strong>logias <strong>de</strong> ensino, propon<strong>do</strong> uma abordagem efectivana Consciência Fonológica. Desta forma, to<strong>do</strong>s, alunos e professores, compreen<strong>de</strong>rãoefectivamente que os recursos fonológicos servem <strong>não</strong> apenas para construir pala-128


“ Isso <strong>não</strong> <strong>Soa</strong> <strong>Bem”</strong>. A Consciência Fonológica <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>de</strong> LáReflexão em torno exercícios <strong>de</strong> Consciência Fonológica no Primeiro Ciclo.vras, frases e histórias, como também têm eles a sua própria história para contar. Essahistória, certamente, soará bem aos ouvi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s.(Endnotes)1 Conhecimento Implícito é o Conhecimento [intuitivo] da língua falada pelacomunida<strong>de</strong> linguística a que [se] pertence”. ( SIM-SIM, I; DUARTE,I; FERRAZ, M,1997, p.19).2 Para uma listagem mais <strong>de</strong>talhada das Competências atribuídas ao primeirociclo, consulte-se SIM_SIM, I, DUARTE, I & FERRAZ, M.J. , A Língua Materna naEducação Básica. Competências Nucleares e Níveis <strong>de</strong> Desempenho, Lisboa, Ministérioda Educação, 1997, p.53.3 Por Conhecimento Explícito entenda-se “progressiva consciencialização esistematização <strong>do</strong> conhecimento implícito no uso da língua (SIM-SIM, Inês, 1998,p12).4 A sílaba é o conjunto <strong>de</strong> um ou mais fonemas pronuncia<strong>do</strong>s numa únicaemissão <strong>de</strong> voz. Os fonemas que integram a sílaba constituem-se como unida<strong>de</strong>s.Fonema é a menor unida<strong>de</strong> sonora (fonética) <strong>de</strong> uma língua que estabelece contraste<strong>de</strong> significa<strong>do</strong> para diferenciar palavras. Por exemplo os fonemas /p/ e /b/ opõe-se poisdiferem no traço vozeamento crian<strong>do</strong> palavras diferentes como “pato” e “bato” graçasa essa diferença.5 Veja-se, por exemplo, GAIL (2007); GONZALEZ, J. &GONZALEZ, M.R(2001).6 Por opacida<strong>de</strong> da língua entenda-se a <strong>não</strong> correspondência entre fonema/grafema e vice-versa.7 Assinalamos a negrito o constituinte específico a que nos reportamos. A representaçãográfica <strong>do</strong>s exemplos transcritos foneticamente é: casa; flocos; prato; pato;pau;8 Para uma <strong>de</strong>scrição mais pormenorizada da estrutura si<strong>lá</strong>bica <strong>do</strong> portuguêsveja-se FRITEAS & SANTOS (2001).9 As siglas usadas correspon<strong>de</strong>m a Consoante/Vogal; Vogal; Consoante/Vogal; Consoante/Vogal/Gli<strong>de</strong>; Consoante/Consoante/Vogal e Consoante/Vogal/Consoante. Empregamos o termo gli<strong>de</strong> para <strong>de</strong>signar a semivogal, isto é, o elementosonoro vocálico <strong>de</strong> duração e intensida<strong>de</strong> menores que faz parte <strong>do</strong> ditongo.10 É comum que as crianças omitam ataques ramifica<strong>do</strong>s, dizen<strong>do</strong>, muitas vezes[patu] por [pɾatu] ou que acrescentem um som intermédio [pəratu]. Semelhantesprocedimentos se observam para o constituinte coda e também para o ditongo <strong>de</strong> quese omite a gli<strong>de</strong>.11 Consulte-se, por exemplo, MARTINS ( 2000); SILVA (2003); VIANA(2002)12 As activida<strong>de</strong>s foram concebidas por Rita Gonzalez e pela autora <strong>de</strong>ste artigo,Isabel Correia.13 Agra<strong>de</strong>cemos às professoras Rita Gonzalez, Helena Ferreira e Maria Emília129


exedra • 9 • Março <strong>de</strong> 2010Barbosa a gentileza <strong>de</strong> terem aplica<strong>do</strong> esta activida<strong>de</strong> e nos terem permiti<strong>do</strong> a suaobservação. Um agra<strong>de</strong>cimento especial a to<strong>do</strong>s os meninos e meninas que tornaramesta reflexão possível.14 Convém acrescentar que estas activida<strong>de</strong>s foram aplicadas e observadasquan<strong>do</strong> o PNEP estava ainda em implementação, sen<strong>do</strong>, por isso, esperável, que no<strong>de</strong>correr <strong>de</strong>ste programa o treino da Consciência Fonológica seja mais efectivo.15 Como sabemos, é frequente que as crianças <strong>não</strong> representem a semivogal<strong>do</strong> ditongo na escrita, provavelmente <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao facto <strong>de</strong> esta ser menos audível, acaban<strong>do</strong>por involuntariamente ser assimilada pela outra. Porém, factores como a poucaexistência <strong>de</strong> vogais gráficas contíguas no português, para além das <strong>do</strong>s ditongos,po<strong>de</strong> também motivar esse erro ortográfico.16 È muito comum em textos <strong>do</strong> português medieval 8séculos XIV-XV) a mesmapalavra ser grafada com a letra ou , facto que também se observa em narrativasfrancesas <strong>do</strong> século XIII,. Assim, esta confusão gráfica po<strong>de</strong> sugerir que haviana fala diversas pronuncias.17 Entenda-se por input linguístico, a língua a que a criança é exposta no seioda comunida<strong>de</strong> restrita, familiar, em contexto <strong>não</strong> formal.18 Todavia, por contaminação <strong>do</strong> resto <strong>do</strong> país seria possível que o vocábulo“telha” fosse pronuncia<strong>do</strong> [tɐλɐ]BibliografiaAdams, M., Foorman, B., Lundberg, I. & Beeler, T. (2006). Consciência <strong>fonológica</strong>em crianças pequenas. Porto Alegre: Artmed.Castro, S. L. & Gomes, I. (2000). Dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem da língua materna.Lisboa: Universida<strong>de</strong> Aberta.Martins, M. R. (1992). Ouvir falar: introdução à fonética <strong>do</strong> português. Lisboa:Caminho.Duarte, I. (2000). Língua portuguesa. Instrumentos <strong>de</strong> análise. Lisboa: Universida<strong>de</strong>Aberta.Freitas, M. J. & Santos, A. L. (2001). Contar (histórias <strong>de</strong>) sílabas. Lisboa: Colibri.Gillon, G. (2007). Phonological awareness. From research to practice. Lon<strong>do</strong>n: GilfordPress.Gonzalez, J. & Gonzalez, M. R. (2001). Conciencia <strong>fonológica</strong> y aprendizaje <strong>de</strong> lalectura. Teoría, evaluación e intervención. Madrid: Sintesis.Martins, M. A. (2000). Pré-história da aprendizagem da leitura. Lisboa: ISPA.130


“ Isso <strong>não</strong> <strong>Soa</strong> <strong>Bem”</strong>. A Consciência Fonológica <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>de</strong> LáReflexão em torno exercícios <strong>de</strong> Consciência Fonológica no Primeiro Ciclo.Silva, A. C. (2003). Até à <strong>de</strong>scoberta <strong>do</strong> princípio alfabético. Lisboa: FundaçãoCalouste Gulbenkian e Fundação para Ciência e Tecnologia.Sim-Sim, I., Duarte, I. & Ferraz, M. J. (1997). A língua materna na educação básica.Lisboa: Colibri.Sim-Sim, I. (2006). Avaliação da linguagem oral: um contributo para o conhecimento<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento linguístico das crianças portuguesas. Lisboa: FundaçãoCalouste Gulbenkian.Sim-Sim, I. (1998). Desenvolvimento da linguagem. Lisboa: Universida<strong>de</strong> Aberta.Viana, F. L. (2002). Da linguagem oral à leitura: construção e validação <strong>do</strong> teste <strong>de</strong>i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> competências linguísticas. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,Fundação para a Ciência e Tecnologia.131


exedra • 9 • Março <strong>de</strong> 2010132

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