42Figura <strong>2.</strong> Radiografia <strong>de</strong> paciente com DD1,mostrando obliteração da polpa dos <strong>de</strong>ntesposteriores (Seow e Shusterman, 1994).Odontodisplasia Regional (O.R.)Segundo os autores Kahn (1991), Neuperte Wright (1989), O’Neil et al. (1990) e Pandis etal. (1991) a O. R. é uma rara anormalida<strong>de</strong> do<strong>de</strong>senvolvimento da formação do <strong>de</strong>nte na qualesmalte e <strong>de</strong>ntina são afetados. Afeta a <strong>de</strong>ntição<strong>de</strong>cídua e permanente, na maxila, mandíbula ouambos os ossos. A maxila é envolvida comfreqüência duas vezes maior que a mandíbula. Acondição é mais comum no sexo feminino e maisna região anterior em relação a posterior. Não hátendência para maior ocorrência em um grupoétnico ou raça (Neupert e Wright, 1989, Regezi eSciubba, 1991).Há relato na <strong>literatura</strong> (Guzman et al. 1990)<strong>de</strong> casos bilaterais ou multiquadrantes, alguns dosquais cruzam a linha média. Estes mais rarosexemplos <strong>de</strong>vem ser referidos comoodontodisplasia generalizada (Kahn, 1991).Vários outros termos po<strong>de</strong>m ser usados,como: suspensão do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ntáriolocalizado, displasia odontogênica, odontogêneseimperfeita, malformação <strong>de</strong>ntária unilateral,amelogênese imperfeita em segmento nãohereditária, <strong>de</strong>nte fantasma e odontodisplasiaregional (Kahn, 1991). Este último acredita-se sero termo mais apropriado (Kahn, 1991, Neupert eWright, 1989), <strong>de</strong>vido à condição ten<strong>de</strong>r a afetarvários <strong>de</strong>ntes adjacentes num segmento do osso(Neupert e Wright, 1989).Os casos <strong>de</strong> O.R. são diagnosticados pelacombinação <strong>de</strong> características clínicas,radiográficas e histológicas (Raez, 1990). Além dacoloração, vista clinicamente, o diagnóstico inicialpo<strong>de</strong> resultar <strong>de</strong> fratura da coroa ou pesquisaradiográfica rotineira (Kahn, 1991).Clinicamente, os <strong>de</strong>ntes aparecemmanchados, hipocalcificados e hipoplásicos(Neupert e Wright, 1989, Raez, 1990).Radiograficamente, os <strong>de</strong>ntes têm uma imagemR. Un. Alfenas, Alfenas 4:39-44, 1998A. C. <strong>de</strong> O. RUELA e R. K. P. L. SAMPAIOradiolúcida, com pouca <strong>de</strong>marcação entre esmaltee <strong>de</strong>ntina e têm largas câmaras pulpares com ápicesabertos (Kahn, 1991, Kerebel et al. 1989, Kinironset al. 1988, Lukinmaa et al. 1996, O’Neil et al.1990). Histologicamente, há marcada redução na<strong>de</strong>ntina, alargamento da camada <strong>de</strong> pré-<strong>de</strong>ntina,gran<strong>de</strong>s áreas <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntina interglobular e um padrãotubular irregular da <strong>de</strong>ntina. O epitélio reduzido doesmalte, ao redor dos <strong>de</strong>ntes não erupcionados,tem corpos calcificados irregulares (Kerebel etal. 1989, Kinirons et al. 1988).Devido ao <strong>de</strong>feito, camadas finas <strong>de</strong> esmaltee <strong>de</strong>ntina <strong>de</strong> radio<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> reduzida, o <strong>de</strong>nteapresenta-se com contorno tênue, flocoso, criandouma aparência <strong>de</strong> “fantasma”. As câmaras pulparese os canais são alargados, enquanto as raízesaparecem curtas e grossas com ápices abertos.Além disto, <strong>de</strong>ntículos falsos ou verda<strong>de</strong>iros sãoocasionalmente vistos na polpa (Kahn, 1991, O’Neilet al. 1990).Mais freqüentemente o incisivo central,incisivo lateral e canino estão envolvidos, masqualquer <strong>de</strong>nte, geralmente consecutivo, po<strong>de</strong> serafetado. A erupção dos <strong>de</strong>ntes po<strong>de</strong> estar diminuídaou não ocorrer. Se um <strong>de</strong>nte <strong>de</strong>cíduo está envolvido,o correspon<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>nte permanente é,invariavelmente, afetado. Geralmente, a queixainicial é um abcesso periapical e(ou) inchaçogeneralizado na vizinhança dos <strong>de</strong>ntes afetados(Kahn, 1991). Estes sintomas são atribuídos aoacesso bacteriano da polpa através <strong>de</strong> fendas noesmalte e <strong>de</strong>ntina, os quais são <strong>de</strong>feituosos ouepitélio odontogênico <strong>de</strong>scontínuo ao redor dofolículo <strong>de</strong>ntário (Pandis et al. 1991, Raez, 1990).Numerosas teorias são discutidas, incluindo<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns circulatórias locais, associação comnevus vascular, trauma, distúrbios metabólicos,transmissão genética, infecções locais e mutaçãosomática, vírus latente no germe <strong>de</strong>ntário (Kahn,1991, Kinirons et al. 1988, Pandis et al. 1991).Nenhuma teoria tem sido capaz <strong>de</strong> explicarcompletamente esta anormalida<strong>de</strong> (Neupert eWright, 1989). Parece lógico que o fator causal atuatanto na <strong>de</strong>ntição <strong>de</strong>cídua quanto na permanente(Kahn, 1991).O tratamento consiste na extração dos<strong>de</strong>ntes envolvidos (Kahn, 1991; Raez, 1990).Quando se trata <strong>de</strong> crianças, jovens, tantos <strong>de</strong>ntesafetados quanto possível <strong>de</strong>vem ser preservadospara reter o <strong>de</strong>senvolvimento normal dos ossos epara causar menos efeitos psicológicos. Emcrianças mais velhas, <strong>de</strong>ntes permanentes comabscesso <strong>de</strong>vem ser extraídos com manutençãodos outros retidos até que uma prótese permanentepossa ser construída (Kahn, 1991).
DISPLASIA DENTINÁRIA E ODONTODISPLASIA REGIONAL - REVISÃO...Os objetivos do tratamento incluemcuidados com mastigação e erupção dos <strong>de</strong>ntesexpostos, aumento <strong>de</strong> função, melhora da estética,diminuição dos efeitos psicológicos e proteção dos<strong>de</strong>ntes erupcionados afetados(Kahn, 1991; Raez,1990).O tratamento envolve a fabricação <strong>de</strong>próteses parciais <strong>de</strong> acrílico, substituindo os <strong>de</strong>ntes“fantasmas”, para proporcionar função e aumentara dimensão vertical, acompanhando-se o pacienteperiodicamente para controlar o crescimento faciale a erupção dos <strong>de</strong>ntes “fantasmas”. No futuro<strong>de</strong>ve-se tomar <strong>de</strong>cisão com relação a estes <strong>de</strong>ntes“fantasmas” ainda não erupcionados para evitaras seqüelas da retenção <strong>de</strong> tecido epitelial (Kahn,1991, O’Neil et al. 1990).<strong>de</strong> áreas radiolúcidas periapicais, absorção radicular,fraturas radiculares (D.D.1). Nos casos <strong>de</strong> O.R.,o tratamento ortodôntico parece inviável.4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASBRENNEISE, C. V.; DWORNIK, R. M.,BRENNEISE, E. E. Clinical, radiographic, andhistological manifestations of <strong>de</strong>ntin dysplasia,type I: report of case. Am. J. Dent. Assoc.Chicago, v. 119, n. 6, p. 721-723, Dec. 1989.DIAMOND, O. Dentin dysplasia type II: report ofcase. ASCD J. Dent. Child. Chicago, v.56,n. 4, p. 310-312, Jul-Aug 1989.FLYNN, C. M.; HIGH, A. S. The diagnosis of<strong>de</strong>ntinal dysplasia type <strong>1.</strong> Dentomaxillofac.Radiol. Oxford, v. 22, n. 1, p. 43, Feb. 1993.GUZMAN, R.; ELLIOTT, M. A.; ROSSIE, K. M.Odontodysplasia in a pediatric patient: literaturereview and case report. Pediatric Dent.Chicago, v. 12, p. 45-48, 1990.43Figura 3. Aparência “fantasma” dos <strong>de</strong>ntescom O.R. (Kinirons et al. 1988).3. CONCLUSÕESConsi<strong>de</strong>rando-se os artigos consultadosa respeito dos <strong>de</strong>feitos do <strong>de</strong>senvolvimento daestrutura dos <strong>de</strong>ntes, conclui-se:a) a D.D. tipo I po<strong>de</strong> ser diferenciada daD.D. tipo II pelo fato da primeira apresentar raízescurtas ou ausentes com áreas radiolúcidasperiapicais e polpa geralmente obliterada. A D.D.2 apresenta câmara pulpar com extensão emdireção ao ápice radicular;b) o diagnóstico <strong>de</strong> O.R. é estabelecido,principalmente, pelo aspecto <strong>de</strong> “<strong>de</strong>ntes fantasmas”(câmara pulpar alargada, raízes espessas com ápiceaberto, camada fina <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntina e esmalte compouco contraste entre os dois);c) o tratamento <strong>de</strong>ve envolver umaassociação <strong>de</strong> especialida<strong>de</strong>s (estomatologia,patologia, endodontia, <strong>de</strong>ntística, prótese, ortodontiae, algumas vezes psicologia) com o intuito <strong>de</strong>fornecer estética, função, proteger e recuperar aestrutura <strong>de</strong>ntária, manter ou recuperar a dimensãovertical;d) em alguns casos <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>tratamento ortodôntico, <strong>de</strong>ve-se avaliar a presençaKAHN, M. A. Regional odontodysplasia: casereport with etiologic and treatmentconsi<strong>de</strong>rations. Oral Surg. Oral Med. OralPathol. St. Louis, v. 72, n. 4, p. 462-467, Oct.199<strong>1.</strong>KEREBEL, B.; KEREBEL, L. M.; HERON, D.,et al. Regional odontodysplasia: newhistopathological data. J. Biol. Buccale.Madrid, v. 17, n. 2, p. 121-128, Jun. 1989(Abstract).KINIRONS, M. J.; O’BRIEN, F. V.; GREGG, T.A. Regional odontodysplasia: an evaluation ofthree cases based on clinical,microradiographic and histopathologicalfindings. Br. Dent. J. London, v. 165, n. 4, p.136-139, Aug. 1988.LEVIN, L. S.; LEAF, S. H.; JELMINI, R. J.Dentinogenesis imperfecta in the brandywineisolate (DI type III): clinical, radiologic, andscanning electron microscopic studies of the<strong>de</strong>ntition. Oral Surg. Oral Med. Oral Pathol.St. Louis, v. 56, n. 3, p. 267-274, Sep. 1983.LOGAN, J.; BECKS, H.; SILVERMAN, S., et al.Dentinal dysplasia. Oral Surg. Oral Med. OralPathol. St. Louis, v. 15, p. 317-333, 198<strong>2.</strong>R. Un. Alfenas, Alfenas 4:39-44, 1998