Resumo Summary - Sociedade Portuguesa de Cirurgia Cardio ...

REVISTA PORTUGUESA DE CIRURGIA CARDIO-TORáCICA E VASCULAR
Figura 1
Figura 2
Figura 3
84 Volume XIV - N.º 2
Amplatzer Septal Occluder (ASO)
Controlo fluoroscópico após implantação de ASO
Migração do dispositivo ASO para
a artéria pulmonar direita
em circulação extracorporal foi removido o dispositivo da
artéria pulmonar direita através de uma arteriotomia do
tronco pulmonar. Procedeu-se em seguida ao encerramento
da CIA com patch de pericárdio autólogo. A cirurgia decorreu
sem intercorrências e confirmou-se a presença da CIA do tipo
ostium secundum, com diâmetro aproximado de 22 mm,
bordos íntegros e com margem superior a 5mm da válvula
tricúspide, veia cava superior, seio coronário e veias
pulmonares direitas (critérios de selecção para o uso do ASO).
O dispositivo não apresentava nenhuma alteração estrutural,
nomeadamente fractura ou deformação da estrutura
metálica.
A paciente foi extubada 6 horas após a cirurgia, sem
complicações pós-operatórias. O ecocardiograma transtorácico
realizado no 2º dia pós-operatório demonstrou encerramento
da CIA, sem fluxos anormais e com função ventricular
conservada. No 4º dia pós-operatório a paciente teve alta
clínica, assintomática.
DISCUSSÃO
O encerramento percutâneo da CIA do tipo ostium
secundum tornou-se o tratamento de eleição em muitos
centros. A sua escolha depende das características da CIA, do
cumprimento dos critérios de selecção, da disponibilidade da
4,5,6
técnica e da preferência do paciente. A abordagem
percutânea além de evitar uma cirurgia aberta com circulação
extracorporal, apresenta melhor resultado estético, tem
menor comorbilidade e tempo de internamento, e menos
4,7,8
custos. É um procedimento seguro e amplamente aceite,
com uma taxa de mortalidade inferior a 1% e de morbilidade
8,9,10
entre 6,5% e 8,6%. Estão descritas complicações major
associadas a esta técnica, como a perfuração cardíaca com
tamponamento, migração do dispositivo, CIA residual,
traumatismo vascular, formação de trombo no dispositivo,
insuficiência valvular traumática, arritmias, endocardite
4,10
infecciosa e morte súbita.
A incidência de migração precoce do ASO é aproxima-
damente 0,5%, sendo a migração tardia uma complicação
10,11
muito rara. No cenário clínico de migração precoce do
ASO, a remoção percutânea é uma técnica aceitável desde
que o paciente apresente estabilidade hemodinâmica e a
11
localização do dispositivo permita uma remoção segura.
Quando a remoção percutânea do dispositivo não é possível,
11,10
a remoção cirúrgica está indicada.
Este caso ilustra uma complicação rara, mas potencialmente
grave do encerramento percutâneo da CIA com o
ASO, que ocorreu apesar de cumpridos todos os critérios
3,10
necessários para o uso da técnica percutânea. O reconhecimento
precoce de complicações associadas a esta técnica e a
referenciação para um centro cirúrgico quando indicada, são
atitudes fundamentais para o uso com segurança deste tipo
de abordagem.
O volume crescente de pacientes submetidos a tratamentos
percutâneos associa-se a um maior número e
variedade de complicações. Algumas delas com necessidade
de correcção cirúrgica emergente, obrigando as novas
gerações de cirurgiões a familiarizarem-se com estas técnicas
e a prepararem-se para um novo tipo de cirurgias.