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Abr - Sociedade Brasileira de Oftalmologia

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Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong>Normas EditoriaisA Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong> não endossa a opinião dos autores, eximindo-se <strong>de</strong> qualquer responsabilida<strong>de</strong> em relação às matériasassinadas. Os autores <strong>de</strong>vem assumir completa responsabilida<strong>de</strong> pelas suas contribuições e ter aprovado o manuscrito final. A Revista esperaque cada autor faça uma contribuição intelectual significativa ao projeto <strong>de</strong> pesquisa ou ao texto do manuscrito.Os trabalhos submetidos para publicação não <strong>de</strong>vem ter sido utilizados anteriormente em parte ou totalmente em outras publicações. Ostrabalhos po<strong>de</strong>rão ser apresentados em português, espanhol, francês e inglês, mas <strong>de</strong>verão sempre ter um ABSTRACT em inglês. Os trabalhos<strong>de</strong>vem ser encaminhados acompanhados <strong>de</strong> um documento <strong>de</strong> transferência dos direitos autorais assinados pelos autores.Serão aceitos, além dos trabalhos originais <strong>de</strong> pesquisa básica, experimentação clínica ou cirúrgica, divulgação e condutas em casos clínicos<strong>de</strong> relevante importância, as análises e revisões <strong>de</strong> temas específicos, cartas ao editor com comentários ou críticas dos artigos originais. Artigoscom objetivos comerciais serão recusados.Os trabalhos serão analisados pelo corpo editorial e encaminhados para dois ou mais revisores (“peer-review”) para a sua avaliação, quejulgarão a a<strong>de</strong>quação aos objetivos da revista, sendo o anonimato preservado em todo o processo <strong>de</strong> julgamento. As sugestões dos revisoresserão encaminhadas aos autores para as modificações ou justificações. Novas análises po<strong>de</strong>m ser realizadas após revisões, <strong>de</strong> acordo com ojulgamento do editor, se forem necessárias as modificações no manuscrito ou dos dados encaminhados. Aos redatores é assegurado o direito <strong>de</strong>corrigir erros gramaticais, <strong>de</strong> grafia, <strong>de</strong> datilografia do vernáculo.De acordo com o tipo <strong>de</strong> trabalho, os artigos enviados para publicação <strong>de</strong>verão seguir as recomendações internacionais <strong>de</strong>scritas abaixo:1 - textos <strong>de</strong> trabalhos originais <strong>de</strong> investigação clínica ou básica obe<strong>de</strong>cerão a seguinte seqüência <strong>de</strong> divisões no texto: introdução,métodos, resultados e discussão e/ou conclusões.2 - na apresentação <strong>de</strong> casos clínicos <strong>de</strong>verá constar: introdução, <strong>de</strong>scrição objetiva dos casos e discussão.A Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong> subenten<strong>de</strong>rá que os autores dos trabalhos <strong>de</strong> investigação clínica seguiram as normas da Declaração<strong>de</strong> Helsinque e quaisquer outras exigências legais vigentes.As referências bibliográficas serão verificadas pelos editores e <strong>de</strong>verão estar <strong>de</strong> acordo com as normas da Revista, sendo sua correção <strong>de</strong>exclusiva responsabilida<strong>de</strong> dos autores. Na discussão dos trabalhos apresentados <strong>de</strong>verá haver revisão da literatura recente, incluindo-se,obrigatoriamente, as publicações nacionais, principalmente aquelas contidas na Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong>.O resumo <strong>de</strong>verá conter os seguintes itens: Objetivo, método, resultado e conclusão.Os autores <strong>de</strong>verão enviar três palavras-chave para cada artigo.As inclusões <strong>de</strong> ilustrações e fotografias coloridas serão aceitas, mas representarão um custo adicional para a impressão, o que serárepassado aos autores.As ilustrações (fotografias, <strong>de</strong>senhos) virão fotografadas, <strong>de</strong> preferência medindo 10 × 15cm, com os nomes do autor principal e do trabalho escritosa lápis <strong>de</strong> grafite mole no reverso, com seta indicadora da direção correta da montagem. Os trabalhos submetidos para publicação na Revista <strong>Brasileira</strong><strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong> vir ão impressos em três cópias, assinado(s) pelo(s) autor(es). As figuras e/ou fotos também <strong>de</strong>verão vir em 3 cópias. Todos os trabalhos<strong>de</strong>verão ser acompanhados <strong>de</strong> versão digitalizada com o processador <strong>de</strong> texto Word e imagens em tiff e jpeg. Com resolução maior do que 300dpi.Fotografias <strong>de</strong> rosto inteiro exigem autorização do paciente para seu uso, caso contrário serão tarjadas, evitando-se sua i<strong>de</strong>ntificação.Legendas das fotografias serão breves, 50 palavras no máximo, datilografadas em folhas individuais. Fotografias <strong>de</strong> pacientes, peças anatômicas,cortes histológicos, instrumentos etc. terão indicação em números arábicos, enquanto as tabelas e gráficos usam números romanos. Quandoessas ilustrações forem únicas não terão numeração, mencionadas no texto como: a fotografia - o gráfico - a tabela. Fotografias <strong>de</strong> materialhistológico ou citológico indicarão o aumento microscópico e o tipo <strong>de</strong> coloração.O cabeçalho das tabelas e gráficos expressarão dados com clareza, inclusive as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> valores, nunca incluídas no corpo <strong>de</strong>ssasilustrações. As tabelas <strong>de</strong>verão ser abertas lateralmente.Quanto às referências bibliográficas ressaltamos que <strong>de</strong>vem ser numeradas consecutivamente com números arábicos, na mesma or<strong>de</strong>mque foram mencionadas no texto. A metodologia <strong>de</strong>ve ser a seguinte (obe<strong>de</strong>cer à or<strong>de</strong>m da pontuação conforme os exemplos apresentados):Autor(es) – Indica(m)-se o(s) autor(es) pelo último sobrenome iniciado em letra maiúscula, seguido <strong>de</strong> espaço e a(s) inicial(s) do(s) prenome(s).Os nomes <strong>de</strong>vem ser separados por vírgula, seguido <strong>de</strong> espaço.Artigos:Autor(es). Título. Período e ano da publicação; volume: página inicial e final.Melo Jr LAS, Moura CR, Carvalhaes MHMC, Galhardo RA, Mello PAA, Prata Jr JA. Correlação entre ida<strong>de</strong> e espessura da camada <strong>de</strong> fibrasnervosas obtidas com a polarimetria <strong>de</strong> varredura a laser. Rev Bras Oftal 2002; 61(1): 11-17.Livros:Autor(es). Título: (subtítulo se houver). Cida<strong>de</strong> da editora: Editora; edição (se houver), ano da publicação.Yamane R. Semiologia Ocular. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Cultura Médica; 2 ed, 2003.Capítulo <strong>de</strong> livro:Autor(es). Título: (subtítulo se houver). In: Autor(es) do livro. Título do livro: (subtítulo se houver). Cida<strong>de</strong> da editora: Editora; edição (sehouver), ano da publicação. p. (página) página inicial-página final.Oréfice F, Boratto LM. Biomicroscopia. In: Yamane R. Semiologia Ocular. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Cultura Médica; 2ed, 2003. p.103-153.Anais:Autor(es). Título do trabalho apresentado: subtítulo (se houver). In: Título do evento (em letra maiúscula); ano, local <strong>de</strong> realização do evento.Título do documento (anais, atas, tópico temático, etc.). Local: Editora, data <strong>de</strong> publicação. p. (página), página inicial-página final.Dantas AM, Sebba O, Ávila CA. Manifestações oftalmológicas das doenças vasculares encefálicas. In: XXII CONGRESSO BRASILEIRO DEOFTALMOLOGIA, 1983 jun 26-30, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Brasil. Anais. Rio <strong>de</strong> Janeiro: 1983. p. 43-82.Tese:Autor. Título: (subtítulo se houver) [tese]. Cida<strong>de</strong>: Universida<strong>de</strong>; ano.Cronemberger S. Contribuição para o estudo <strong>de</strong> alguns aspectos da aniridia. [tese <strong>de</strong> Livre Docência]. São Paulo: Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong>São Paulo; 1990.Documentos eletrônicos:Autor(es). Título: (subtítulo se houver). Nome do periódico [periódico on line]; referências do periódico (ano, volume, número). Disponívelem: . Data do acesso.Herzog Neto G, Curi RLN. Características anatômicas das vias lacrimais excretoras nos bloqueios funcionais ou síndrome <strong>de</strong> Mil<strong>de</strong>r.Rev Bras Oftalmol [periódico on line] 2003, 62(1). Disponível em: http://www.sboportal.org.br.214


<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong>Rua São Salvador, 107 - Laranjeiras - CEP 22231-170 - Rio <strong>de</strong> Janeiro - RJ - Tels. (0xx21) 2557-7298 / 2205-7728 - Fax (0xx21) 2205-2240 - e-mail: sbo@sboportal.org.br -www.sboportal.org.brPresi<strong>de</strong>nte:Paulo César FontesVice-Presi<strong>de</strong>nte:Yoshifumi YamaneVices-Presi<strong>de</strong>ntes:Fernando Trinda<strong>de</strong>Leonardo AkaishiPedro Paulo FabriTheophilo José <strong>de</strong> FreitasSecretário Geral:Acácio Muralha Neto1º Secretário:Renato Curi2º Secretário:Luiza Fernan<strong>de</strong>sTesoureiro:Samuel CukiermanDiretor <strong>de</strong> Cursos:Oswaldo Moura BrasilDiretor <strong>de</strong> Publicações:Paulo Augusto <strong>de</strong> Arruda MelloDiretor <strong>de</strong> Biblioteca:Luiz Carlos PortesConselho Consultivo:Carlos Fernando FerreiraCelso Marra PereiraFlávio Rezen<strong>de</strong>Miguel Ângelo PadilhaMorizot Leite FilhoSérgio Fernan<strong>de</strong>sConselho Fiscal:João Alberto Holanda <strong>de</strong> FreitasMarcus SafadyPaulo Fa<strong>de</strong>lSuplentes:Durval Moraes <strong>de</strong> CarvalhoMarcelo PalisPaulo NakamuraDIRETORIA 2003-2004Diretora <strong>de</strong> Patrimônio/RH:Mara FontesComissão Defesa ProfissionalPresi<strong>de</strong>nte:Marcos ÁvilaMembros:Elisabeto Ribeiro GonçalvesPedro CanedoSimone CastelluccioWalter JustaComissão RelacionamentoContratantes Serviços MédicosPresi<strong>de</strong>nte:Nelson LouzadaMembros:Carlos Heler DinizIslane VerçosaIvan UrbanoJosé Ricardo Reh<strong>de</strong>rRonald CavalcantiVirgílio CenturiónComissão Relacionamento <strong>Socieda<strong>de</strong></strong>sFiliadasPresi<strong>de</strong>nte:Sérgio Fernan<strong>de</strong>sMembros:Carlos Gabriel FigueiredoCleber GodinhoLuis Gonzaga NogueiraMarco Rey FariaComissão <strong>de</strong> ÉticaPresi<strong>de</strong>nte:Nassim CalixtoMembros:Afonso FatorelliCarlos Alexandre GarciaFernando OréficeHomero Gusmão <strong>de</strong> AlmeidaRoberto MarbackComissão <strong>de</strong> Formação <strong>de</strong> Especialistae Educação Médica ContinuadaCoor<strong>de</strong>nação:Luiz Carlos PortesMembros:Adalmir Morterá DantasArlindo PortesArmando CremaFlávio Rezen<strong>de</strong>Gilberto PassosGiovanni ColombiniJosé Fernando BarandasMário MottaPaiva Gonçalves NetoRenato CuriRiuitiro YamaneRogério NeurauterYoshifumi YamaneComissão CientíficaAdalmir Morterá DantasDenise <strong>de</strong> FreitasEduardo SoaresMárcio Bittar NehemyRemo Susanna Jr.Ta<strong>de</strong>u CvintalWalton NoséYoshifumi YamaneComissão SBO JovemCoor<strong>de</strong>nação:Arlindo Portes (RJ)Raul N. G. Vianna (RJ)Membros:Ana Luisa Pollo MendonçaAndré CuriAndré PortesAndréia Peltier UrbanoDurval Carvalho Jr.Flávia Gue<strong>de</strong>s Pinto DominguesFlávio Rezen<strong>de</strong> FilhoFre<strong>de</strong>rico PenaMaurício Bastos PereiraNelson Nogueira LouzadaNewton Kara José FilhoPaulo Augusto FilhoComissão <strong>de</strong> InformáticaCoor<strong>de</strong>nação:Edson CavalcantiFernando Kayat AvvadMembros:Bruno Fernan<strong>de</strong>sBruno Machado FontesMário César Moreira <strong>de</strong> AraújoRenato Ambrósio Jr.Assessor da Diretoria:João Diniz <strong>de</strong> Menezes Filho215


FILIADAS DA SBOAssociação <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Banco <strong>de</strong> Olhos eTransplante <strong>de</strong> CórneaPresi<strong>de</strong>nte: Dr. Paulo André PolisukAssociação Matogrossense <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong>Presi<strong>de</strong>nte: Dra. Maria Regina Vieira A. MarquesAssociação Pan-Americana <strong>de</strong> Banco <strong>de</strong> OlhosPresi<strong>de</strong>nte: Dr. Elcio Hi<strong>de</strong>o SatoAssociação Paranaense <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong>Presi<strong>de</strong>nte: Dra. Tania Mara SchaeferAssociação Sul Matogrossense <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong>Presi<strong>de</strong>nte: Dra. Lizabel Barbosa GemperliAssociação Sul-Mineira <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong>Presi<strong>de</strong>nte: Dr. Roberto Pinheiro Reis<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> Alagoana <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong>Presi<strong>de</strong>nte: Dr. Everaldo Lemos<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> Capixaba <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong>Presi<strong>de</strong>nte: Dr. José Geraldo Viana Moraes<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> Catarinense <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong>Presi<strong>de</strong>nte: Dr. Otávio Nesi<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> Goiana <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong>Presi<strong>de</strong>nte: Dr. Solimar Moisés <strong>de</strong> Souza<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> Maranhense <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong>Presi<strong>de</strong>nte: Dr. Mauro César Viana <strong>de</strong> Oliveira<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong> da BahiaPresi<strong>de</strong>nte: Dra. Fabiola Mansur <strong>de</strong> Carvalho<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong> do CearáPresi<strong>de</strong>nte: Dr. Aristófanes Canamary Ribeiro<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong> do Nor<strong>de</strong>ste MineiroPresi<strong>de</strong>nte: Dr. Mauro César Gobira Guimarães<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Administração em<strong>Oftalmologia</strong>Presi<strong>de</strong>nte: Dra. Edna Emilia G. da M. Almodin<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Catarata e ImplantesIntraocularesPresi<strong>de</strong>nte: Dr. Homero Gusmão<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Cirurgia Plástica OcularPresi<strong>de</strong>nte: Dra. Ana Estela Besteti P. P. Sant’Anna<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Cirurgia RefrativaPresi<strong>de</strong>nte: Dr. Carlos Heler Diniz<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Ecografia em <strong>Oftalmologia</strong>Presi<strong>de</strong>nte: Dr. Celso Klejnberg<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong> do AmazonasPresi<strong>de</strong>nte: Dr. Manuel Neuzimar Pinheiro Junior<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong> <strong>de</strong> PernambucoPresi<strong>de</strong>nte: Dr. Theophilo Freitas<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong> do Rio Gran<strong>de</strong>do NortePresi<strong>de</strong>nte: Dr. Israel Monte Nunes<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong> do Rio Gran<strong>de</strong> do SulPresi<strong>de</strong>nte: Dr. Afonso Reichel Pereira<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> Paraibana <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong>Presi<strong>de</strong>nte: Dra. Débora Pires<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> Paraense <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong>Presi<strong>de</strong>nte: Dr. Oscar Pereira Júnior<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> Sergipana <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong>Presi<strong>de</strong>nte: Dr. Joel Carvalhal Borges


Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong>Fundada em 01 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1942ISSN 0034-7280 - CODEN: RBOFA9In<strong>de</strong>xada no LILACSFundadores: Evaldo Campos, Jonas Arruda, Lincoln Caire e Oswaldo BarbosaEditor ChefePaulo Augusto <strong>de</strong> Arruda MelloAdalmir Morterá DantasAna Luisa Höfling-LimaAndré Castelo BrancoAntonio Augusto Velasco CruzArmando CremaCarlos Alberto Rodrigues AlvesCelso Marra PereiraEduardo MarbackFernando OréficeFlávio Rezen<strong>de</strong>Guilherme HerzogHamilton MoreiraHen<strong>de</strong>rson AlmeidaHomero Gusmão <strong>de</strong> AlmeidaJacó LavinskyJoão Orlando Ribeiro GonçalvesJoaquim Marinho <strong>de</strong> QueirozKeila MonteiroMarcelo VenturaMárcio Bittar NehemyMarco ReyMarco TanureCorpo Editorial NacionalEditores AssociadosAndré CuriArlindo PortesGiovanni ColombiniRiuitiro YamaneMarcos ÁvilaMaria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Veronese RodriguesMaria Rosa Bet <strong>de</strong> Moraes SilvaMiguel Ângelo PadilhaNassim CalixtoNewton Andra<strong>de</strong>Newton Kara JoséPatrícia ContariniPaulo Fa<strong>de</strong>lRemo Susanna Jr.Renato Ambrósio Jr.Renato CuriRubens Belfort <strong>de</strong> Mattos Jr.Sebastião CronembergerSérgio KwitkoSidney FariaValêncio PerezVirgílio CenturiónYoshifumi YamaneConsultoria EstatísticaDavid DorigoPrêmio VariluxRealizado anualmente pela SBO e dividido em 3 categorias:Master - <strong>de</strong>stinado aos concorrentes formados em medicina há <strong>de</strong>z anos ou mais.Senior - para concorrentes formados há menos <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos, inclusive para osco-autores.Incentivo à Pesquisa - sem limite <strong>de</strong> tempo <strong>de</strong> formado.A Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong> não é responsável por afirmações contidas emartigos assinados, cabendo aos autores total responsabilida<strong>de</strong> pelas mesmas. Domesmo modo a aceitação <strong>de</strong> anúncios em suas páginas não implica em qualquertipo <strong>de</strong> endosso aos produtos ou matérias veiculadas, apesar <strong>de</strong> que a RBO esperaque os mesmos estejam <strong>de</strong> acordo com padrões médicos e éticos.Prêmio SBO-Ciba Vision• Prêmio com o nome <strong>de</strong>um gran<strong>de</strong> vulto da<strong>Oftalmologia</strong> brasileiraConcedido ao melhortrabalho publicado na RBOnos anos ímpares (entregueno ano seguinte durante oCongresso Internacional daSBO).• Prêmio Joviano <strong>de</strong> Rezen<strong>de</strong>Concedido ao melhortrabalho publicado na RBOnos anos pares (entregue noano seguinte durante oCongresso Nacional daSBO).Redação:Rua São Salvador, 107Laranjeiras - CEP 22231-170Rio <strong>de</strong> Janeiro - RJTel.: (0xx21) 2557-7298Fax: (0xx21) 2205-2240Tiragem:5.000 exemplaresEdição:MensalProdução eEditoração Eletrônica<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong><strong>Oftalmologia</strong>Responsável: Marco A. PintoPublicida<strong>de</strong>:<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong><strong>Oftalmologia</strong>Responsável: João DinizRevisão:Eliana <strong>de</strong> SouzaAssinatura Anual:R$ 240,00 ou U$ 210,00


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Sumário - ContentsEditorialResultados do implante<strong>de</strong> Susanna em glaucoma refratárioEstudo do perfil <strong>de</strong> <strong>de</strong>mandae morbida<strong>de</strong> ocular em um serviço<strong>de</strong> emergência oftalmológicano período <strong>de</strong> 1999 à 2002Prova <strong>de</strong> sobrecarga hídricaem pacientes submetidosà trabeculoplastiaIsquemia do segmento anteriordo olho após <strong>de</strong>sinserção <strong>de</strong>dois músculos retos, em caso<strong>de</strong> fístula carótido-cavernosa tratadaPerimetria <strong>de</strong> Freqüência Dobrada(Frequency Doubling Technology - FDT)e o Campo Visual Computadorizado(Humphrey Field Analiser- HFA).EditorialOutcomes of the susanna valveimplant in refractory glaucomaInci<strong>de</strong>nce of oculardisease at anemergency ocularservice from 1999 to 2002Water-drinking provocativetest in pacients already treatedby laser trabeculoplasty.Anterior segment ischemiaafter <strong>de</strong>sinsertion of tworectus muscles in a caseof carotid cavernous fistulaComparison betweenFrequency DoublingTechnology (FDT) andHumphrey Field Analiser (HFA).Janethe D. O. Pena 220Fabiana Shinzato HigaLuiz Alberto S. Melo Jr.Ivan Maynart TavaresIsabelle Rodrigues TitoPaulo Augusto <strong>de</strong> Arruda Mello 223Débora Mayumi SuganoMariana Pereira <strong>de</strong> ÀvilaVagner Loduca LimaFlávio CarvalhoJosé Ricardo Carvalho Lima Reh<strong>de</strong>r 231Paulo Gelman Vai<strong>de</strong>rgornRemo Susanna JrCleriston Lucena <strong>de</strong> OliveiraLisandro SakataLeandro Cabral ZachariasJackson Barreto Jr 236Angelo Ferreira PassosAlessandra Soares Cardozo 241Roberto M.B. TeixeiraHomero Gusmão <strong>de</strong> AlmeidaDanielle C. S. Garcia 251Primeiros pacientes do Estado doRio <strong>de</strong> Janeiro tratados com aenzima recombinante AgalsidaseBeta (Fabrazime)Custo-benefício naimplantação do serviço <strong>de</strong>visão subnormal doInstituto <strong>de</strong> Olhos do ABCArtigo <strong>de</strong> RevisãoEpi<strong>de</strong>miologia para ooftalmologista (1ª parte)Fabry´s disease: First patientsof the state of rio treated withagalsidase beta.Cost of treatment by thelow-vision service at theophthalmology <strong>de</strong>partament,abc school of medicineDemócrito Jonathas AzevedoLuis Octávio D’AlmeidaRicardo Azevedo da SilveiraKaren SachsMarcelo Alexandrino 259David TayahJosé Ricardo Carvalho Lima Reh<strong>de</strong>r 265Marinho Jorge Scarpi* 274ERRATA:Edição <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2004• Nas páginas 170-175. On<strong>de</strong> se lê: Flora conjuntival aeróbia <strong>de</strong> HIV positivos, Leia-se: Flora ocular aeróbica <strong>de</strong> HIV positivos• No artigo Endoftalmite pós-facoemulsificação, página 167, on<strong>de</strong> se lê: • Vibr amicina: 10mg em 0,1ml; leia-se: Vancomicina: 10mg em 0,1ml;Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 219.219


EditorialBravo – Brazilian Research Associationin Vision and OphthalmologyÉ um fato incontestável o tremendo crescimento da pesquisa científica em nosso País. As agênciasfinanciadoras como CNPq, CAPES, FINEP têm tido aumento significativo na <strong>de</strong>manda por financiamentopara auxílio à pesquisa e bolsas <strong>de</strong> pós-graduação. O resultado do investimento público, que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>cada vez mais <strong>de</strong> exigências <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, é o fato <strong>de</strong> que estamos formando doutores e pós-doutoresem programas <strong>de</strong> pós-graduação com qualida<strong>de</strong> internacional (programas classificados com a nota 7da CAPES). As publicações <strong>de</strong> pesquisadores brasileiros têm crescido também em número e qualida<strong>de</strong>,esta última medida pelas publicações em periódicos internacionais in<strong>de</strong>xados na re<strong>de</strong> do ISI (Institutefor Scientific Information) e em alguns estados passamos a média <strong>de</strong> trabalhos publicados por habitante<strong>de</strong> “power houses” como a Coréia.Na área <strong>de</strong> visão e oftalmologia, há anos os cientistas clínicos se reúnem nos congressosregionais e nacionais <strong>de</strong> oftalmologia, enquanto que os pesquisadores das áreas básicas não dispunham<strong>de</strong> um fórum específico, apresentando seus trabalhos nos congressos das áreas relacionadas, comofísica, bioquímica, imunologia, fisiologia, psicologia e neurociências. Nos Estados Unidos existem doisgran<strong>de</strong>s congressos <strong>de</strong> visão e oftalmologia, o da American Aca<strong>de</strong>my of Ophthalmology (AAO),eminentemente clínico, e o da American Research Association in Vision and Opthalmology (ARVO), quereúnem não só a pesquisa clínica, mas também e, talvez, principalmente, a pesquisa básica em visãoe oftalmologia, já que 56% <strong>de</strong> seus 10.500 membros não são médicos. A participação <strong>de</strong> pesquisadoresbrasileiros na ARVO praticamente dobrou nos últimos dois anos, saltando <strong>de</strong> 66 trabalhos em 2002para 110 trabalhos em 2004. Cientistas brasileiros, principalmente da área <strong>de</strong> visão, têm encontrado naARVO um fórum ainda inexistente no Brasil para a apresentação <strong>de</strong> seus trabalhos, e sempre tínhamoscogitado da formação <strong>de</strong> uma associação semelhante no Brasil, que apelidávamos <strong>de</strong> “BRAVO”, queseria a “Brazilian ARVO”.No ano <strong>de</strong> 1999, quando fazia o doutorado no Departamento <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong> da UNIFESP,começamos a trocar idéias sobre a formação <strong>de</strong>ssa associação <strong>de</strong> pesquisa em visão e oftalmologianeste país, já que as socieda<strong>de</strong>s clínicas <strong>de</strong> oftalmologia não permitem a filiação <strong>de</strong> membros nãomédicos,excluindo diversos cientistas das áreas <strong>de</strong> física, psicologia, bioquímica, engenharia, fisiologia,etc. Seguindo o exemplo da ARVO, nosso objetivo era o <strong>de</strong> criar uma socieda<strong>de</strong> multidisciplinar, queenvolvesse as diversas áreas da ciência estudando o olho e os processos visuais.Hoje, se fizermos uma busca na base corrente dos Grupos <strong>de</strong> Pesquisa registrados no CNPq,vamos encontrar mais <strong>de</strong> 70 grupos com linhas <strong>de</strong> pesquisa na área <strong>de</strong> visão e oftalmologia. Destes,somente 17 estão na área principal <strong>de</strong> “medicina”, sendo os grupos restantes pertencentes a áreascomo morfologia, fisiologia, psicologia, educação física, engenharia biomédica, engenharia elétrica,física, medicina veterinária, ciência da computação, saú<strong>de</strong> coletiva, biofísica, bioquímica, farmácia eimunologia. Nada mais pertinente então que reunirmos esses pesquisadores para um encontro científicomultidisciplinar, que <strong>de</strong>verá ser extremamente enriquecedor para pesquisadores básicos e clínicos eseus pós-graduandos. Mais ainda, como todos os anos po<strong>de</strong>mos ver na ARVO, a procura <strong>de</strong> médicosclínicos pelos conhecimentos oriundos da pesquisa básica tem aumentado significativamente, pois adistância entre a bancada e a beira do leito têm diminuído rapidamente na última década e em breveserá impossível praticar a medicina mais mo<strong>de</strong>rna sem ter o entendimento <strong>de</strong> biologia molecular,bioquímica, imunologia e fisiologia <strong>de</strong> ponta.Um grupo encabeçado por alguns <strong>de</strong>stes pesquisadores, mais especificamente Dora Fix Ventura220Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 220-221.


e Luiz Vicente Rizzo (USP), Ricardo Gattass (UFRJ), Rubens Belfort <strong>de</strong> Mattos Jr. e Augusto ParanhosJr. (UNIFESP) e eu mesma (UFU), está se reunindo há mais ou menos um ano para a criação dasocieda<strong>de</strong> e a organização do seu primeiro congresso. A formação da socieda<strong>de</strong> como pessoa jurídicajá está quase concluída e <strong>de</strong>veremos inclusive ter um fórum <strong>de</strong> discussão sobre a formação da diretoriae o estatuto durante o I Congresso da Bravo, a nossa Brazilian Research Association in Vision andOphthalmology, que se realizará <strong>de</strong> 25 a 28 <strong>de</strong> Agosto próximos, em Águas <strong>de</strong> Lindóia, SP, comosocieda<strong>de</strong> participante da FeSBE. Associamo-nos à FeSBE, a Fe<strong>de</strong>ração das <strong>Socieda<strong>de</strong></strong>s <strong>de</strong> BiologiaExperimental, este ano em seu XIX congresso, com o intuito <strong>de</strong> estimular a interdisciplinarida<strong>de</strong> e ocontato entre cientistas clínicos e básicos. A FeSBE reúne atualmente as <strong>Socieda<strong>de</strong></strong>s <strong>Brasileira</strong>s <strong>de</strong>Biofísica, Fisiologia, Investigação Clínica, Neurociências e Comportamento, Biociências Nucleares,Bioquímica e Biologia Molecular, Farmacologia e Terapêutica Experimental e Imunologia. Neste primeirocongresso já contamos com a inscrição <strong>de</strong> 66 resumos e estamos organizando Simpósios, MódulosTemáticos e Conferências.Temos certeza <strong>de</strong> que a participação e a interação entre pesquisadoresserá bastante proveitosa. Para maiores informações sobre o congresso, acessar o site www.fesbe.org.br,link da Bravo.Esperamos vocês lá!Janethe D. O. PenaProfessora Adjunto <strong>de</strong> Imunologia/Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> UberlândiaPresi<strong>de</strong>nte do I Congresso da BravoRev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 220-221.221


222AlconViscoat


Resultados do implante <strong>de</strong>Susanna em glaucoma refratárioFabiana Shinzato Higa*, Luiz Alberto S. Melo Jr.*, Ivan Maynart Tavares**, Isabelle Rodrigues Tito*,Paulo Augusto <strong>de</strong> Arruda Mello***RESUMOObjetivo: Analisar os resultados do implante <strong>de</strong> Susanna em glaucomas emrelação a acuida<strong>de</strong> visual, pressão intra-ocular (Po), número <strong>de</strong> medicaçõesantiglaucomatosas, complicações e reintervenções cirúrgicas.Local: Departamento <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong> da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Paulo.Métodos: Estudo retrospectivo envolvendo 78 olhos (78 pacientes) portadores<strong>de</strong> glaucoma que foram submetidos a implante <strong>de</strong> Molteno modificado porSusanna. Foram analisadas a acuida<strong>de</strong> visual, Po, número <strong>de</strong> medicaçõesutilizadas no período pré e pós-operatórios, complicações e reintervençõescirúrgicas. Os tipos <strong>de</strong> glaucoma mais freqüentes submetidos à cirurgia foramo glaucoma neovascular, secundário a cirurgia ocular, glaucoma primário <strong>de</strong>ângulo aberto com falência <strong>de</strong> cirurgia filtrante prévia, glaucoma secundário atrauma e secundário à uveíte. A cirurgia foi consi<strong>de</strong>rada sucesso quando a Popós-operatória foi menor ou igual a 21 mmHg com ou sem medicação e maiorque 6 mmHg.Resultados: A Po pré-operatória média foi <strong>de</strong> 26,5 ± 10,7 mmHg. No 1° mês<strong>de</strong> pós-operatório a Po foi <strong>de</strong> 17,2 ± 6,4 mmHg, no 6° mês <strong>de</strong> 16,5 ± 7,4 mmHge no 12° mês <strong>de</strong> 15,4 ± 17,4 mmHg. Houve uma redução estatisticamentesignificante entre a Po pré e pós-operatória (p=0,0001). As porcentagens médias<strong>de</strong> redução da Po do 1°, 6°, 12° mês pós-operatório em relação ao pré-operatórioforam, respectivamente, <strong>de</strong> 23,7%, 28,9% e 25,6%. O tempo médio <strong>de</strong>seguimento foi <strong>de</strong> 11,5±7,8 meses (1-35meses). A proporção acumulada <strong>de</strong>sobrevida foi <strong>de</strong> 64,2% com 12 meses <strong>de</strong> pós-operatório. Houve uma diminuiçãoda acuida<strong>de</strong> visual estatisticamente significante entre os períodos pré-operatórioe 12° mês pós-operatório (p=0,0013). Houve uma redução estatisticamentesignificante entre os períodos pré e pós-operatórios (p


RESULTADOS DO IMPLANTE DE SUSANNA EM GLAUCOMA REFRATÁRIOABSTRACTOutcomes of the susanna valve implant in refractory glaucomaObjective: To assess clinical outcomes of the Susanna implant in glaucomaregarding visual acuity, intraocular pressure (IOP), number of glaucomamedication, postoperative complication and reoperation.Setting: Department of Ophthalmology – Fe<strong>de</strong>ral University of São PauloMethods: Retrospective chart review was performed on 78 eyes of 78 patientsthat un<strong>de</strong>rwent glaucoma drainage implant. The implant used was the Moltenomodified by Susanna. Visual acuity, IOP, number of glaucoma medications,complications and reoperation were recor<strong>de</strong>d. The most common diagnoseswere neovascular glaucoma, glaucoma associated with intraocular surgery, openangleglaucoma with prior failed trabeculectomy, traumatic glaucoma, uveiticglaucoma. Success was <strong>de</strong>fined as a postoperative IOP of 21mmHg or lowerand greater than 6mmHg.Results: The mean preoperative IOP was 26.5±10.7mmHg. The meanpostoperative IOP at 1, 6, and 12 month were 17.2±6.9mmHg, 16.5±7.4mmHgand 15.4±17.4mmHg, respectively. There was a statistically significant reductionin IOP between pre and postoperative periods (p=0.0001). There was a significant<strong>de</strong>crease in visual acuity between preoperative and 12 month after surgery(p=0.0013). The mean follow-up was 11.5±7.8 months (range 1-35). There wasa statistically significant reduction in the number of glaucoma medication betweenthe pre and postoperative periods (p


RESULTADOS DO IMPLANTE DE SUSANNA EM GLAUCOMA REFRATÁRIOalteração da motilida<strong>de</strong> ocular e endoftalmite. 16-18O implante <strong>de</strong> Molteno modificado porSusanna (Tecprosil Ltda, Brasil), diferente domo<strong>de</strong>lo original <strong>de</strong> Molteno, é fabricado comsilicone médico, possui ainda forma circular, é umdispositivo não valvulado e em sua porção anteriorao prato existem dois prolongamentos para facilitarsua fixação. O diâmetro interno do tubo é <strong>de</strong> 0,30mm e o externo é <strong>de</strong> 0,63 mm. A área da porçãoposterior é <strong>de</strong> aproximadamente 172 mm 2 e a suaflexibilida<strong>de</strong> facilita sua inserção.O implante <strong>de</strong> Molteno modificado porSusanna, apesar <strong>de</strong> amplamente empregado emnosso meio, é motivo <strong>de</strong> poucas publicações naliteratura. Susanna et al. 19 reportaram que 16 olhos(76,2%), on<strong>de</strong> foram utilizados o implante <strong>de</strong>Susanna associado à mitomicina-C, apresentaramPo menor ou igual a 21 mmHg após um tempomédio <strong>de</strong> seguimento <strong>de</strong> 9 meses. Prata Jr et al. 12relataram que 58,8% dos olhos tratados com oimplante sem uso <strong>de</strong> mitomicina-C apresentaramníveis <strong>de</strong> Po menores que 22mmHg, após 17,3meses da cirurgia.Devido à escassez <strong>de</strong> dados na literaturareferentes ao implante <strong>de</strong> Susanna <strong>de</strong>cidimosanalisar retrospectivamente os resultados doimplante <strong>de</strong> Susanna em glaucoma.PACIENTES E MÉTODOSForam estudados retrospectivamente osprontuários médicos <strong>de</strong> pacientes comglaucoma, submetidos consecutivamente aimplante <strong>de</strong> Susanna, <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2000 anovembro <strong>de</strong> 2002, no Setor <strong>de</strong> Glaucoma daUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Paulo.Para os pacientes que tiveram os doisolhos submetidos à cirurgia <strong>de</strong> implante <strong>de</strong> tubo,um dos olhos foi selecionado aleatoriamente parao estudo. As informações colhidas <strong>de</strong> cadaprontuário foram: ida<strong>de</strong>, sexo, raça, tipo <strong>de</strong>glaucoma, número <strong>de</strong> cirurgias prévias ao implantedo tubo, tipo <strong>de</strong> cirurgia, localização do implante,acuida<strong>de</strong>s visuais (AV) pré e pós-operatórias, Popré e pós-operatórias, número <strong>de</strong> medicações,complicações pós-operatórias e reintervençõescirúrgicas. As informações relativas a AV, Po enúmero <strong>de</strong> medicação pré-operatórias foramcoletadas da última visita do paciente prévia àcirurgia. A acuida<strong>de</strong> visual foi medida com a tabela<strong>de</strong> Snellen a cinco metros <strong>de</strong> distância, on<strong>de</strong> opaciente usou buraco estenopeico ou óculos.A cirurgia foi consi<strong>de</strong>rada sucesso quandoa Po pós-operatória se manteve entre 6 e 21mmHgcom ou sem utilização <strong>de</strong> medicação hipotensoraocular. Foi consi<strong>de</strong>rado insucesso quando a Popersistiu acima <strong>de</strong> 21 mmHg apesar do uso <strong>de</strong>medicação hipotensora ocular, quando a Popermaneceu abaixo <strong>de</strong> 6mmHg ou ainda quandofoi necessária nova cirurgia para redução da Po.Para a análise estatística foram utilizadoso teste T pareado visando a avaliar a Po, e o teste<strong>de</strong> Wilcoxon para análise <strong>de</strong> alteração <strong>de</strong> AV enúmero <strong>de</strong> medicações. Para análise <strong>de</strong>sobrevivência foi utilizado o teste <strong>de</strong> Kaplan-Meier.O nível <strong>de</strong> significância estatística adotado foi <strong>de</strong>0,05.RESULTADOSForam analisados 78 olhos <strong>de</strong> 78 pacientescom ida<strong>de</strong> média <strong>de</strong> 57,2 ± 17,0 anos (20-92 anos);<strong>de</strong>stes, 30 pacientes (38%) eram do sexo femininoe 48 (62%) do sexo masculino; 3 (3,8%) eram daraça amarela, 36 (46,2%) brancos, 26 (33,3%)pardos e 13 (16,7%) pacientes eram negros.Em relação ao tipo <strong>de</strong> glaucoma, 17 olhos(22,1%) apresentavam glaucoma neovascular, 17(22,1%) glaucoma secundário a cirurgia ocular(pós ceratectomia penetrante, facectomia ouvitrectomia via pars plana), 15 (19,4%) glaucomaprimário <strong>de</strong> ângulo aberto com falência <strong>de</strong> cirurgiafiltrante prévia, 11 (14,3%) secundário a trauma,8 (10,4%) secundário a uveíte e 9 (11,7%) outrostipos <strong>de</strong> glaucoma.A média <strong>de</strong> cirurgias prévias foi <strong>de</strong> 1,7±1,2(mediana 2, amplitu<strong>de</strong> 0-5). Dos pacientes comglaucoma primário <strong>de</strong> ângulo aberto, 5 pacientesforam submetidos a uma cirurgia filtrante prévia,9 pacientes foram submetidos a duas cirurgiasfiltrantes prévias e um paciente foi submetido atrês cirurgias filtrantes prévias. Doze olhos (15,4%)receberam o implante como primeiro procedimentocirúrgico, <strong>de</strong>stes, 9 eram glaucoma neovascular,dois olhos tinham diagnóstico <strong>de</strong> glaucomasecundário a uveíte e um com diagnóstico <strong>de</strong>glaucoma secundário a aumento <strong>de</strong> pressão <strong>de</strong>veias episclerais. As cirurgias realizadas foramimplante <strong>de</strong> tubo isoladamente em 70 olhos(89,7%), facoemulsificação e implante <strong>de</strong> tuboRev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 223-229.225


RESULTADOS DO IMPLANTE DE SUSANNA EM GLAUCOMA REFRATÁRIOTabela 1Comparação entre acuida<strong>de</strong> visual, pressão intra-ocular (Po) e número <strong>de</strong> medicações utilizadas nos períodospré e pós-operatórios dos pacientes do Setor <strong>de</strong> Glaucoma da UNIFESP, entre janeiro <strong>de</strong> 2000 a novembro <strong>de</strong> 2002Variável Pré-operatório Pós-operatório1° mês 6° mês 12° mêsN 78 66 51 39Acuida<strong>de</strong> Visual Mediana cd 1m cd 1m cd 1m mm(máx-mín) (20/20-pl) (20/20-pl) (20/20-pl) (20/50-spl)Po (mmHg) média ± <strong>de</strong>svio-padrão 26,5 ± 10,7 17,2 ± 6,4 16,5 ± 7,4 15,4 ± 17,4(mín-máx) (10-52) (3-32) (1-38) (0-38)Número <strong>de</strong> medicações 2,9±0,8 1,3±1,2 1,7±1,2 1,6±1,2média ± <strong>de</strong>svio-padrão (1-4) (0-4) (0-4) (0-4)(mín-máx)n = número <strong>de</strong> olhos; mín = mínimo; máx = máximo; Po = pressão intra-ocular; cd = conta-<strong>de</strong>dos; pl = percepção luminosa; mm =movimento <strong>de</strong> mãos; spl = sem percepção luminosaTabela 2Complicações pós-operatórias dos pacientes do Setor <strong>de</strong>Glaucoma da UNIFESP submetidos ao implante <strong>de</strong>Susanna entre janeiro <strong>de</strong> 2000 a novembro <strong>de</strong> 2002.ComplicaçãoNúmero<strong>de</strong> olhos (%*)Figura 1 - Proporção acumulada <strong>de</strong> sobrevida em função do tempo<strong>de</strong> seguimento pós-operatóriosimultâneos em dois olhos (2,6%), implante <strong>de</strong> tuboe vitrectomia via pars plana concomitantes em 5olhos (6,4%), e trabeculectomia associado aimplante <strong>de</strong> tubo em um olho (1,3%). A localizaçãodo tubo foi em 68 olhos (87%) na câmara anteriore em 10 olhos (13%) na cavida<strong>de</strong> vítrea. Foiutilizada a região temporal superior comoquadrante para fixação do implante em 40 olhos(51%). O tempo médio <strong>de</strong> seguimento foi <strong>de</strong>11,5±7,8 meses (mediana 12, amplitu<strong>de</strong> 1-35meses).A Po pré-operatória média e dos 1°, 6°e 12°mês <strong>de</strong> pós-operatório encontram-se na Tabela 1.Descolamento <strong>de</strong> corói<strong>de</strong> 9 (11,5%)Atalamia 5 (6,4%)Toque do tubo no endotélio corneal 4 (5,1%)Exposição do tubo 4 (5,1%)Fibrina na câmara anterior 3 (3,8%)Câmara anterior rasa 3 (3,8%)Hifema 3 (3,8%)Sei<strong>de</strong>l 2 (2,6%)Glaucoma por bloqueio ciliar 2 (2,6%)Obstrução do tubo 2 (2,6%)Catarata total 1 (1,3%)Descolamento <strong>de</strong> retina 1 (1,3%)*porcentagem referente ao total <strong>de</strong> cirurgias realizadasAs porcentagens médias <strong>de</strong> redução da Po dos 1°,6°, 12° mês pós-operatório em relação ao préoperatórioforam, respectivamente, <strong>de</strong> 23,7%,28,9% e 25,6% com ou sem medicaçãohipotensora. Houve uma redução da Poestatisticamente significante entre as medidas dopré e pós-operatórios nos períodos <strong>de</strong>acompanhamento nos meses 1 (p


RESULTADOS DO IMPLANTE DE SUSANNA EM GLAUCOMA REFRATÁRIOimplante foi <strong>de</strong> 84,7% no 6° mês, 64,2% no 12°mês, e 46,2% no 24° mês <strong>de</strong> seguimento. Ao final<strong>de</strong> 22 meses, 50% dos pacientes apresentaram Pomaior que 21 mmHg com medicação máximatolerada ou foram submetidos à nova cirurgiaantiglaucomatosa. (Figura 1).Quanto ao número <strong>de</strong> medicaçõesutilizadas, também houve uma reduçãoestatisticamente significante entre os períodos prée pós-operatórios nos meses 1 (p


RESULTADOS DO IMPLANTE DE SUSANNA EM GLAUCOMA REFRATÁRIOTaxas <strong>de</strong> sucesso que variam <strong>de</strong> 57 a 100% têmsido mostradas por outros autores. 6-15,19-27 Aproporção acumulada <strong>de</strong> sucesso no presenteestudo após 12 meses do implante do tubo <strong>de</strong>Susanna foi <strong>de</strong> 64,2%. Nossos resultados foramsemelhantes a estudos realizados em pacientescom diversas formas <strong>de</strong> glaucoma refratáriotratados com outros tipos <strong>de</strong> implantes <strong>de</strong>drenagem. (Tabela 3)Neste estudo não houve diferençaestatisticamente significante quando se comparoua AV pré-operatória e pós-operatória nos meses1 e 6, porém houve um redução da AV em relaçãoao pré-operatório e 12° mês <strong>de</strong> pós-operatório.Em dois estudos que analisaram o implante <strong>de</strong>Ahmed, Huang et al. 24encontraram melhora naAV em 82% dos pacientes e Ayyala et al. 22relataram uma diminuição <strong>de</strong> duas ou mais linhasda tabela <strong>de</strong> Snellen em 23% dos pacientes, nãoencontrando diferença entre a AV pré e pósoperatóriano mês 6 e nem no mês 12 do pósoperatório.Houve também naquele estudo aperda da percepção <strong>de</strong> luz em 5,9% dos olhos.Quanto aos resultados dos implantes <strong>de</strong>Baerveldt, analisados por Krishna et al. 27 , nãohouve redução significativa da AV entre osperíodos pré e pós-operatórios dos pacientesnão-portadores <strong>de</strong> glaucoma neovascular, porémtodos os pacientes com glaucoma neovascularper<strong>de</strong>ram a percepção luminosa. Em uma série<strong>de</strong> casos publicados por Mills et al. 21 , envolvendopacientes submetidos ao implante <strong>de</strong> Molteno, 9%dos pacientes obtiveram melhora da AV em pelomenos duas linhas da tabela <strong>de</strong> Snellen, 59%pacientes não tiveram alteração da AV e 27%pioraram pelo menos duas linhas. No nossoestudo houve a perda da percepção luminosa emuma paciente com diagnóstico <strong>de</strong> glaucomaneovascular que teve que ser submetida àciclofotocoagulação transescleral com laser diodopelo não controle da Po e que evoluiu com atrofiabulbar.As complicações ocorreram em 59% dospacientes no presente estudo, sendo as mais comunso <strong>de</strong>scolamento <strong>de</strong> corói<strong>de</strong>, atalamia e toque do tubono endotélio corneal, também semelhante à literaturaem que a ocorrência das complicações varia <strong>de</strong> 19a 71%. 19,23-28Dificulda<strong>de</strong>s em comparar diferentes estudosexistem pela falta <strong>de</strong> uniformida<strong>de</strong> dos critérios <strong>de</strong>sucesso, diversida<strong>de</strong> dos tipos <strong>de</strong> implantes, incluindomaterial e área do prato, tempo variável <strong>de</strong> seguimento,tipos <strong>de</strong> glaucoma entre outros. As limitações <strong>de</strong>steestudo incluem entre outras, sua naturezaretrospectiva e falta <strong>de</strong> dados dos prontuários, perda<strong>de</strong> seguimento dos pacientes, cirurgias realizadas porcirurgiões em treinamento e as limitações <strong>de</strong>correntesdo fato dos pacientes terem sido avaliados por mais<strong>de</strong> um examinador.O presente estudo foi capaz <strong>de</strong> forneceruma estimativa dos resultados <strong>de</strong> pacientesportadores <strong>de</strong> glaucoma refratários submetidos àcirurgia para o implante <strong>de</strong> Susanna comseguimento a médio prazo. Outros estudos,preferencialmente prospectivos, são necessáriospara a avaliar a eficácia dos implantes <strong>de</strong> Susannaa longo prazo.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. Heijl A, Leske MC, Bengtsson B, Hyman L,Bengtsson B, Hussein M, Early. ManifestGlaucoma Trial Group. Reduction of intraocularpressure and glaucoma progression: resultsfrom the Early Manifest Glaucoma Trial. ArchOphthalmol 2002;120:1268-79.2. Lloyd MA, Sedlak T, Heuer DK, Minckler DS,Baerveldt G, Lee MB, Martone JF. Clinicalexperience with the single-plate Moltenoimplant in complicated glaucomas.Ophthalmology 1992;99:679-87.3. Prata Jr JA, Minckler DS, Baerveldt G, Lee PP,Heuer DK. Site of mitomycin-C applicationduring trabeculectomy. J Glaucoma1994;3:296-301.4. Prata Jr JA, Neves RA, Minckler DS, MermoudA, Heuer DK, Mello PAA, Baerveldt G, Lee PP,Lottemberg C, Lee, MB, Carvalho MJ, SalmonJF, Recal<strong>de</strong> ML, Belfort R. Trabeculectomy withmitomycin-C in glaucoma associated with uveitis.Ophthalmic Surg 1994;25:616-9.5. Prata Jr, JA, Seah SKL, Minckler DS, BaerveldtG, Lee PP, Heuer DK. Postoperativecomplications and short-term outcome after5-fluorouracil or mitomycin-C trabeculectomy.J Glaucoma 1995;4:25-31.6. Almeida GV, Omi CA, Mandia Jr C, Cohen R,Kwitko, S. Experiência inicial com o implante <strong>de</strong>Molteno em glaucomas refratários. Arq BrasOftalmol 1990;53:101-4.228Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 223-229.


RESULTADOS DO IMPLANTE DE SUSANNA EM GLAUCOMA REFRATÁRIO7. Cohen R, Almeida GV, Omi CA, Mandia Jr C,Kwitko S. Glaucoma e aniridia: experiênciainicial. Quatro olhos tratados cirurgicamentecom o implante <strong>de</strong> Schocket modificado. ArqBras Oftalmol 1990;53:141-4.8. Omi CA, Almeida GV, Kwitko S, Cohen R, MandiaJr C. Implante <strong>de</strong> Schocket modificado para ocontrole do glaucoma pós-ceratoplastiapenetrante. Arq Bras Oftalmol 1990; 53:155-61.9. Almeida GV, Omi CA, Cohen R, Mandia Jr C,Kwitko S. Resultados preliminares obtidos como implante <strong>de</strong> Schocket modificado em 12 olhosportadores <strong>de</strong> glaucoma neovascular. Arq BrasOftalmol 1990;53:189-92.10. Oliveira NM, Oliveira HM, Puzzi L. Avaliaçãoclínica <strong>de</strong> 17 casos <strong>de</strong> glaucoma tratados comimplante <strong>de</strong> Molteno placa única. Arq BrasOftalmol 1991;54:217-20.11. Omi CA, Almeida GV, Cohen R, Mandia Jr C,Kwitko S. Modified Schocket implant forrefractory glaucoma. Experience of 55 cases.Ophthalmology 1991;98:211-4.12. Prata Jr JA, Omi CA, Prata JA, Pereira AE.Mitomicina-C em implantes para glaucoma:estudo comparativo em glaucomas refratários.Arq Bras Oftalmol 1996;59:364.13. Pereira AE, Omi CA, Prata Jr JA. Tubo <strong>de</strong>drenagem em glaucoma congênito. Arq BrasOftalmol 1996;59:366.14. Dantas PE, Cohen R, Dantas MC, Mandia JrC, Almeida GV. Implante <strong>de</strong> Molteno etransplante penetrante <strong>de</strong> córnea. Arq BrasOftalmol 1999;62:16-21.15. Prata Jr JA, Pereira AE, Omi CA - Implante <strong>de</strong>schocket modificado em glaucomasrefratários: resultados a longo prazo. Arq BrasOftalmol 2000;63:439-43.16. Prata Jr JA, Minckler DS, Green RL. Pseudo-Brown’s syndrome as a complication ofglaucoma drainage implant surgery.Ophthalmic Surg 1993;24:608-11.17. Guerrero AH, Latina MA. Complications ofglaucoma drainage implant surgery. IntOphthalmol Clin 2000; 40:149-63.18. Ventura MP, Solari HP, Curi, RLNC. Síndrome<strong>de</strong> Brown secundária a implante <strong>de</strong> drenagempara glaucoma. Rev Bras Oftal 2003;62:65-8.19. Susanna Jr R, Nicolela MT, Takahashi WY.Mitomycin C as adjunctive therapy withglaucoma implant surgery. Ophthalmic Surg1994;25:458-62.20. Sherwood MB, Joseph NH, Hitchings RA.Surgery for refractory glaucoma: results andcomplications with a modified Schockettechnique. Arch Ophthalmol 1987;105:562-9.21. Mills RP, Reynolds A, Memond MJ, Barlow WE,Leen MM. Long-term survival of Moltenoglaucoma drainage <strong>de</strong>vices. Ophthalmology1996;103:299-305.22. Ayyala RS, Zurakowski D, Smith JA,Monshiza<strong>de</strong>h R, Netland PA, Richards DW,Lau<strong>de</strong>n WE. A clinical study of the Ahmedglaucoma valve implant in advancedglaucoma. Ophthalmology 1998;105:1968-76.23. Aung T, Seah SK. Glaucoma drainage implants inAsian eyes. Ophthalmology 1998; 105:2117-22.24. Huang MC, Netland PA, Coleman AL, SiegnerSW, Moster,MR, Hill RA. Intermediate-termclinical experience with the Ahmed glaucomavalve implant. Am J Ophthalmol1999;127:27-33.25. Topouzis F, Coleman AL, Choplin N, BethlemMM, Hill R, Yu F, Panek WC, Wilson MR. Followup of the original cohort with the Ahmedglaucoma valve implant. Am J Ophthalmol1999;128:198-204.26. Lai JMS, Poon ASY, Chua JKH, Tham CCY,Leung ATS, Lam DSC. Efficacy and safety ofthe Ahmed glaucoma valve implant in Chineseeyes with complicated glaucoma. Br JOphthalmol 2000;84:718-21.27. Krishna R, Godfrey DG, Bu<strong>de</strong>nz DL, Escalona-Camaaño E, Ged<strong>de</strong> SJ, Greenfield DS, ScottIU. Intermediate-term outcomes of 350-mm2Baerveldt glaucoma implants. Ophthalmology2001;108:621-6.28. Tsai JC, Johnson CC, Dietrich MS. The Ahmedshunt versus Baervelt shunt for refractoryglaucoma. Ophthalmology 2003;110:1814-21.Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 223-229.229


230MerckCosopt


Estudo do perfil <strong>de</strong> <strong>de</strong>mandae morbida<strong>de</strong> ocular em um serviço<strong>de</strong> emergência oftalmológicano período <strong>de</strong> 1999 a 2002Débora Mayumi Sugano*; Mariana Pereira <strong>de</strong> Ávila*; Vagner Loduca Lima**; Flávio Carvalho***;José Ricardo Carvalho Lima Reh<strong>de</strong>r****RESUMOObjetivo: Caracterizar o perfil da <strong>de</strong>manda e morbida<strong>de</strong> ocular no Serviço <strong>de</strong> EmergênciaOftalmológica do Centro Hospitalar <strong>de</strong> Santo André (CHSA) da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicinada Fundação do ABC (FMABC).Material e Métodos: Foram analisados os livros <strong>de</strong> atendimento do pronto socorro <strong>de</strong>oftalmologia nos anos <strong>de</strong> 1998, 1999 e 2001.Resultados: Foram atendidos 25.218 pacientes no período analisado. Do total <strong>de</strong>pacientes atendidos, 43,67% apresentavam doenças externas, 30,15% trauma e 26,18%outras doenças. Entre as doenças externas, a conjuntivite foi a mais freqüente (54,61%),principalmente nos meses <strong>de</strong> novembro, outubro e março; e entre os traumas, o corpoestranho extra-ocular teve maior incidência (52,06%). A faixa etária que mais procurouatendimento foi <strong>de</strong> 21 a 30 anos, sendo na maioria homens.Conclusão: Os autores <strong>de</strong>monstram que apesar do atendimento oftalmológico estarlocado em um hospital terciário, a maioria dos casos atendidos foi <strong>de</strong> simples resolução,o que po<strong>de</strong> ser reflexo <strong>de</strong> falhas na re<strong>de</strong> <strong>de</strong> atendimento primária e secundária.Palavras chaves: emergência ocular; trauma ocular; epi<strong>de</strong>miologia do trauma ocular.* Médica resi<strong>de</strong>nte do terceiro ano <strong>de</strong> oftalmologia da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina do ABC (FMABC);**Chefe do Pronto Atendimento Oftalmológico do Centro Hospitalar <strong>de</strong> Santo André (CHSA);*** Médico assistente da Disciplina <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong> da FMABC;****Professor Titular da Disciplina <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong> da FMABC.Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 231-235.231


ESTUDO DO PERFIL DE DEMANDA E MORBIDADE OCULAR EM UM SERVIÇO DE EMERGÊNCIA OFTALMOLÓGICA...Gráfico 1: Distribuição dos atendimentos por anoGráfico 2: Distribuição quanto ao sexo.e da esclera, constituindo 11.012 (43,67%) diagnósticos.Os traumas foram a segunda causa mais freqüentecom 7.604 (30,15%) do total <strong>de</strong> atendimentos (Tab.2).Entre as doenças externas a mais freqüentefoi a conjuntivite (54,61%), apresentando-se com maiorfreqüência nos meses <strong>de</strong> novembro, outubro e março.Entre os traumas oculares, a maior freqüência foi <strong>de</strong>corpo estranho extra-ocular com 3.959 (52,06%) casos,seguido das queimaduras e corrosões com 1.674(22,01%) e dos traumatismos do olho e da órbita com1.771 (23,29%) (Gráf. 3).DISCUSSÃOGráfico 3: Distribuição das doenças mais freqüentes, por mêsRESULTADOSForam atendidos 25.218 pacientes em todo operíodo analisado, sendo 7.397 (29,33%) em 1998,8.591 (34,06%) em 1999 e 9.230 (36,60%) em 2001.(Gráf.1).A faixa etária mais atendida foi <strong>de</strong> 21 a 30 anos,correspon<strong>de</strong>ndo a 5.924 (23,49%) atendimentos (Tab.1)e o sexo masculino foi o mais atendido, num total <strong>de</strong>16.257 consultas (64,46%) (Gráf.2).Quanto ao diagnóstico, houve o predomínio dasdoenças externas, on<strong>de</strong> foram incluídas as inflamaçõesda pálpebra e os transtornos da conjuntiva, da córneaOs resultados <strong>de</strong>ste estudo sugerem que po<strong>de</strong>estar ocorrendo falhas no encaminhamento eatendimento <strong>de</strong> pacientes com queixas oculares emnosso meio. Segundo Layaun e cols. (4) , a re<strong>de</strong> pública,não oferecendo condições humanas e materiais <strong>de</strong> suprira <strong>de</strong>manda, acaba por dirigir os pacientes aos serviçoscom plantão permanente, o que interfere com o bomfuncionamento dos serviços procurados. Neste estudo,observou-se o gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> pacientes atendidospelo setor <strong>de</strong> oftalmologia <strong>de</strong>ste hospital, que <strong>de</strong>veriamter sido encaminhados aos postos e unida<strong>de</strong>s básicasda re<strong>de</strong> primária <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, comprovando a necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> melhor conhecimento por parte dos pacientes emédicos que encaminham os pacientes ao serviço <strong>de</strong>urgência, <strong>de</strong> sua vocação para atendimento terciário, enão assistência primária a saú<strong>de</strong> .Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 231-235.233


ESTUDO DO PERFIL DE DEMANDA E MORBIDADE OCULAR EM UM SERVIÇO DE EMERGÊNCIA OFTALMOLÓGICA...Tabela 1Distribuição quanto à faixa etária1998 1999 2001 TOTAL< 10 anos 435 495 542 147210 – 20 anos 793 1014 1109 291621 – 30 anos 1784 2055 2085 592431 – 40 anos 1512 1698 1824 503441 – 50 anos 1114 1314 1590 401851 – 60 anos 569 642 857 206861 – 70 anos 519 501 624 164471 – 80 anos 397 364 361 112281 – 90 anos 78 88 116 282> 90 anos 12 11 15 38S/ ida<strong>de</strong> 184 409 107 701TOTAL 7397 8591 9230 25218Tabela 2Distribuição dos diagnósticos realizados por ano1998 1999 2001 TOTALD. Externas 2957 (39,97%) 4061 (47,27%) 3994 (43,27%) 11012(43,67%)Traumas 2536 (34,28%) 2511 (29,22%) 2557 (27,70%) 7604 (30,15%)Outros 1904 (25,75%) 2019 (23,51%) 2679 (29,03%) 6602 (26,18%)Observou-se aumento no número <strong>de</strong> pacientesatendidos nos últimos anos. Neste período <strong>de</strong> 4 anos,houve um crescimento <strong>de</strong> 6,28%.Em nossos resultados, encontramos opredomínio <strong>de</strong> atendimentos no sexo masculino, com64,46% dos pacientes, semelhante à literatura (3,4,6,8) .Araújo e cols. (6) relatam uma variação percentual parao sexo masculino <strong>de</strong> 51% a 70,9%, e para o sexofeminino cerca <strong>de</strong> 29,1% a 48,9%. Estes valores po<strong>de</strong>mindicar a maior exposição dos homens aos fatores <strong>de</strong>risco, principalmente no que se refere aos traumatismos<strong>de</strong> origem profissional. A maior freqüência <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntescom envolvimento do globo ocular e seus anexos empessoas na faixa etária economicamente ativa confirmaa necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> investir na prevenção <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes<strong>de</strong> trabalho. A terceira década apresentou a maiorincidência com 23,49% dos atendimentos.Quanto ao diagnóstico, as doenças externasforam as mais freqüentes com 43,67% dos casos. Nosestudos realizados por Schellini e cols. (5)em Botucatu- SP e por Jones e cols. (5) em Manchester, tambémforam encontrados o predomínio das doenças externas,principalmente as conjuntivites com 48,8% dos casos.Neste estudo, a conjuntivite apresentou-se em 54,61%dos casos, com maior freqüência nos meses quentes(outubro à março). As apresentações sazonal e epidêmica234 Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 231-235.


ESTUDO DO PERFIL DE DEMANDA E MORBIDADE OCULAR EM UM SERVIÇO DE EMERGÊNCIA OFTALMOLÓGICA...da conjuntivite po<strong>de</strong>m correspon<strong>de</strong>r às alterações doclima e da temperatura e ao uso <strong>de</strong> piscinas (11) . Noestudo realizado por Schellini e cols. (5) encontrou-se maiorpredomínio nos meses do outono/inverno, o que foiassociado com o aumento <strong>de</strong> doenças <strong>de</strong> vias aéreassuperiores nesta época.Os traumatismos oculares foram responsáveispor 30,15% dos nossos atendimentos, sendo a segundacausa mais freqüente. Na literatura, os traumas ocularessão encontrados ocupando o primeiro lugar em freqüência(4,5). No nosso caso, isto ocorreu provavelmente <strong>de</strong>vido aofato do pronto socorro <strong>de</strong> oftalmologia do CHSA - FMABCnão aten<strong>de</strong>r somente urgências, sendo também procuradopela população como um serviço <strong>de</strong> triagem e orientaçãopara as suas enfermida<strong>de</strong>s. Como principal causatraumática <strong>de</strong>ntre nossos atendimentos encontramos ocorpo estranho extra-ocular (52,06%), geralmente<strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho e que, em geral,não levam a conseqüências visuais maiores. É <strong>de</strong> se<strong>de</strong>stacar o fato do diagnóstico <strong>de</strong> corpo estranho extraocularser <strong>de</strong>ntre as causas traumáticas a mais freqüentehá décadas (3) , com índices na literatura que variam entre30,7% a 70,6% (3,4) . Este fato <strong>de</strong>monstra a necessida<strong>de</strong>da implantação <strong>de</strong> medidas preventivas <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes dotrabalho por parte <strong>de</strong> empregadores, autorida<strong>de</strong>s ecampanhas <strong>de</strong> conscientização do próprio trabalhador nouso dos equipamentos <strong>de</strong> proteção individual.CONCLUSÕES1. Houve aumento no número <strong>de</strong> atendimentosno pronto socorro <strong>de</strong> oftalmologia do CHSA - FMABCno período <strong>de</strong> 4 anos.2. A população que mais procurou o prontoatendimentooftalmológico foi a economicamente ativa.3. Houve predomínio do atendimento no sexomasculino.4. O diagnóstico mais freqüente faz parte dogrupo das doenças externas, com a conjuntivite emprimeiro lugar.5. Os traumas oculares ocupam o segundolugar em freqüência, <strong>de</strong>stacando-se o corpo estranhoextra-ocular.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. Zagelbaum BM, Tostanoski, JR, Kerner, DJ, HershPS. Urban eye trauma – a one-year prospectivestudy. Ophthalmology 1993; 100:851-6.2. Wong tY, Tielsch JM. A population-based study onthe inci<strong>de</strong>nce of severe ocular trauma in Singapore.Am J Ophthalmol 1999; 128:345-51.3. Dias JFP, Rezen<strong>de</strong> F. Epi<strong>de</strong>miologia do trauma ocularno adulto. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Biblioteca <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong><strong>Oftalmologia</strong> 1997, 12-23.4. Layaun SEED, Schor P, Rodrigues, MLV. Perfil da<strong>de</strong>manda <strong>de</strong> um serviço <strong>de</strong> oftalmologia em umaunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> emergência. Rev Bras Oftal 1992; 51:171-73.5. Schellini AS, Yasuoka ER, Itoda LK, Dutton Jr GA,Jorge EM, Silva MRBM. Morbida<strong>de</strong> ocular noserviço <strong>de</strong> emergência e triagem oftalmológica –UNESP – Botucatu. Rev Bras Oftal 1991; 50: 48-55.6. Araújo AAS, Almeida DV, Araújo VM, Góes MR.Urgência oftalmológica: corpo estranho ocularainda como principal causa. Arq Bras Oftalmol2002;65:223-7.7. Sheldrick JH, Vernon AS, Wilson A, Read SJ.Demand inci<strong>de</strong>nce and episo<strong>de</strong> rates of ophthalmicdisease in a <strong>de</strong>fined urban population. BJM1992;305:933-6.8. Umaña JC. Estudio <strong>de</strong> las emergenciasoftalmológicas em el hospital nacional <strong>de</strong> niños.Rev. Méd. Costa Rica 1995:532;103-6.9. Rubio-Lozornio RI, Carrasco RP. Trauma orbitario.Clasificación y tratamiento em el Hospital CentralMilitar. Inci<strong>de</strong>ncia y clasificación <strong>de</strong> lesionesoculares. Informe em 100 pacientes. Rev SanidMilit Mex 1998; 52:251-56.10. Classificação estatística internacional <strong>de</strong> doençase problemas relacionados à saú<strong>de</strong>. Décimarevisão. OPAS/OMS.11. Duane’s Clinical Ophthalmology. Phila<strong>de</strong>lphia.Corporate Technology Ventures 1994. CD ROM.En<strong>de</strong>reço para correspondênciaDébora Mayumi SuganoRua do Centro, 321 – CamilópolisSanto André – SP CEP 09230-590Fone: 9176-9338/4976-2011 Fax:4976-2011E-mail: Dsugano@ig.com.brFaculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina do ABCDepartamento: Trauma OcularSubespecialida<strong>de</strong>: Trauma OcularRev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 231-235.235


Prova <strong>de</strong> sobrecarga hídricaem pacientes submetidosà trabeculoplastiaPaulo Gelman Vai<strong>de</strong>rgorn*, Remo Susanna Jr**, Cleriston Lucena <strong>de</strong> Oliveira***, Lisandro Sakata***,Leandro Cabral Zacharias****, Jackson Barreto Jr****RESUMOObjetivo: Avaliar o comportamento pressórico ocular em pacientes portadores <strong>de</strong>glaucoma primário <strong>de</strong> ângulo aberto (GPAA) submetidos à prova <strong>de</strong> sobrecarga hídrica(PSH) e que haviam sido previamente (quatro a cinco anos antes) tratados comtrabeculoplastia a laser (TPL) em apenas um <strong>de</strong> seus olhos.Local: Clínica Oftalmológica do Hospital das Clínicas da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina daUniversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo.Método: Trabalho prospectivo. Trinta e dois pacientes (64 olhos) portadores <strong>de</strong> GPAAforam submetidos à PSH. Com base na pressão ocular basal e no pico pressóricoobtido calculou-se a variação <strong>de</strong> pressão ocular (Po) absoluta e percentual para cadaolho. Compararam-se, a seguir, os valores obtidos nos olhos submetidos à TPL com osdos olhos contralaterais, tratados apenas clinicamente.Resultados: Não foi encontrada diferença estatisticamente significante entre os olhossubmetidos à TPL e contralaterais quanto à Po máxima obtida (p = 0,448). Também nãofoi encontrada diferença estatisticamente significativa entre os olhos submetidos àTPL e contra-laterais quanto à variação absoluta da Po em relação ao valor basal (p =0,280) e quanto à variação percentual da Po em relação ao valor basal (p = 0,292).Conclusão: Em pacientes submetidos à trabeculoplastia a laser em apenas um olho ecom longo tempo <strong>de</strong> seguimento (quatro a cinco anos) não se constataram diferençasestatisticamente significativas no comportamento pressórico ocular obtido em prova<strong>de</strong> sobrecarga hídrica quando em comparação ao olho contralateral, não tratado comtrabeculoplastia.Palavras- chave: Glaucoma; trabeculoplastia; prova <strong>de</strong> sobrecarga hídrica.* Médico colaborador da Clínica Oftalmológica do Hospital das Clínicas da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong>São Paulo;** Chefe do Serviço <strong>de</strong> glaucoma da Clínica Oftalmológica do Hospital das Clínicas da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina daUniversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo;*** Médico estagiário da Clínica Oftalmológica do Hospital das Clínicas da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong>São Paulo.**** Médico resi<strong>de</strong>nte da Clínica Oftalmológica do Hospital das Clínicas da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong>São Paulo.236Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 236-240.


PROVA DE SOBRECARGA HÍDRICA EM PACIENTES SUBMETIDOS À TRABECULOPLASTIAABSTRACTWater-drinking provocative test in pacients already treated by laser trabeculoplasty.Purpose: Evaluate the intraocular pressure behavior of the water-drinking provocativetest done in primary open-angle glaucoma pacients already treated by lasertrabeculoplasty (four to five years earlier) in one eye only.Place: Ophthalmology Department, Hospital das Clínicas, University of São Paulo.Methods: Prospective study. Thirty-two open-angle glaucoma pacients (64 eyes)un<strong>de</strong>rwent the water-drinking provocative test. Based on the measured baseline andpeak intraocular pressure, the absolute and percentual ocular pressure fluctuationswere calculed for each eye. Values obtained at trabeculoplasty-treated eyes were thencompared with those of the contralateral ones, that had been treated clinically only.Results: No statistically significant differences were found when trabeculoplasty-treated andcontralateral eyes were compared regarding peak IOP (p = 0,448), absolute IOP fluctuationfrom baseline (p = 0,280) and percentual IOP fluctuation from baseline (p = 0,292).Conclusion: In primary open-angle glaucoma pacients already treated by lasertrabeculoplasty in one eye only and with a long follow-up period (four to five years), nostatistically significant differences in the IOP fluctuations obtained at the water-drinkingprovocative test were found when treated eyes were compared with the contralateral,non-treated eyes.Keywords: Glaucoma; trabeculoplasty; water-drinking provocative test.INTRODUÇÃONo âmbito da terapêutica antiglaucomatosa, atrabeculoplastia a laser (TPL) é umprocedimento que já vem sendo realizado<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 1970. Ela tem se mostrado eficienteno tratamento <strong>de</strong> algumas modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> glaucoma,sendo capaz <strong>de</strong> postergar ou mesmo evitar a realização<strong>de</strong> cirurgia filtrante em casos avançados <strong>de</strong> glaucoma.1Des<strong>de</strong> a proposta inovadora do Glaucoma Laser Trial, 2ela também tem sido empregada como modalida<strong>de</strong>terapêutica inicial, e outros autores a tem propostocomo forma <strong>de</strong> substituir medicamentos hipotensoresoculares já em uso pelos pacientes 3,4 .Greenidge et al. 5 realizaram curvas diárias <strong>de</strong>pressão em pacientes com glaucoma antes e <strong>de</strong>pois<strong>de</strong> serem submetidos à trabeculoplastia. Notaram que,oito semanas após o procedimento, houve uma redução<strong>de</strong> 25% no valor médio dos picos pressóricos intraoculares.Verificaram, também, haver uma menorvariabilida<strong>de</strong> nas flutuações pressóricas, o que foi poreles interpretado com um outro efeito positivo doprocedimento.Sabe-se, no entanto, que a trabeculoplastia alaser tem eficácia <strong>de</strong>crescente ao longo do tempo.Schwartz e colaboradores 6 realizaram atrabeculoplastia em portadores <strong>de</strong> glaucoma malcontrolados clinicamente, notando uma redução médianos níveis <strong>de</strong> Po <strong>de</strong> 9,7 mmHg aos dois meses <strong>de</strong>seguimento. Cinco anos após o procedimento, contudo,a redução média nos níveis <strong>de</strong> Po havia baixado para4,9 mmHg.Um estudo realizado em nosso meio 7 notouque, dois meses após a realização da TPL, 66% dospacientes foram consi<strong>de</strong>rados como sucesso, poishaviam obtido queda em seus níveis pressóricos, aqual se situou em patamar inferior a 22mmHg. Doisanos após, contudo, apenas 20% dos pacientessubmetidos ao procedimento ainda podiam serconsi<strong>de</strong>rados como sucesso.É conhecido, também, que a pressão intraocular(Po), mesmo em indivíduos normais, po<strong>de</strong>apresentar flutuações ao longo das 24 horas do dia, <strong>de</strong>acordo com o ritmo circadiano 8,9 . Em indivíduosportadores <strong>de</strong> glaucoma essas flutuações po<strong>de</strong>m sermaiores, tanto em números absolutos (pico pressórico),como em sua variabilida<strong>de</strong> 8-10 . Vários trabalhos têm<strong>de</strong>monstrado que, em pacientes que já exibemalterações glaucomatosas do nervo óptico e do campovisual, é <strong>de</strong>sejável que sejam mantidas Pos inferioresàs verificadas na população geral 3-5 . Desta forma, parao acompanhamento <strong>de</strong> portadores <strong>de</strong> glaucoma, tornaseimportante avaliar <strong>de</strong> forma precisa o comportamentopressórico ocular. Nesse sentido, a curva tensional diária(CTD) po<strong>de</strong> fornecer informações valiosas quanto aosvalores da Po, porém com a <strong>de</strong>svantagem <strong>de</strong> serconsi<strong>de</strong>rada incômoda pelo paciente e trabalhosa parao médico. Por outro lado, a prova <strong>de</strong> sobrecarga hídrica(PSH), por ser relativamente <strong>de</strong> fácil execução, temsido proposta como alternativa à CTD, tendo como baseRev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 236-240.237


PROVA DE SOBRECARGA HÍDRICA EM PACIENTES SUBMETIDOS À TRABECULOPLASTIAestudos que <strong>de</strong>monstraram serem estatisticamentesemelhantes os valores pressóricos oculares obtidosnestas duas provas 6,7 .No presente trabalho, realizou-se a prova <strong>de</strong>sobrecarga hídrica em portadores <strong>de</strong> glaucomaanteriormente submetidos à TPL em um olho apenas.O objetivo foi comparar a variação dos valorespressóricos obtidos nos dois olhos <strong>de</strong> cada paciente eestudar sua possível correlação com o procedimento alaser previamente realizado.CASUÍSTICA E MÉTODOSEstudo prospectivo, realizado entre maio ejunho <strong>de</strong> 2003, e que contou com 32 pacientes (64olhos). Todos os pacientes recrutados freqüentavam oServiço <strong>de</strong> glaucoma do Ambulatório da ClínicaOftalmológica do Hospital das Clínicas da Faculda<strong>de</strong><strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo.Os critérios <strong>de</strong> inclusão foram ser portador <strong>de</strong>glaucoma primário <strong>de</strong> ângulo aberto e já ter sidosubmetido à trabeculoplastia a laser em um olho apenase no período entre maio <strong>de</strong> 1998 e maio <strong>de</strong> 1999. Foramexcluídos os pacientes portadores <strong>de</strong> qualquer outraforma <strong>de</strong> glaucoma, bem como aqueles que tivessemsido submetidos a cirurgias oculares após a realizaçãoda TPL. Excluíram-se, também, os portadores <strong>de</strong>processos inflamatórios oculares em ativida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>irregularida<strong>de</strong>s corneanas que impedissem medidasprecisas da Po, assim como os pacientes que fossempouco colaborativos ao exame. O estudo foi aprovadopela Comissão <strong>de</strong> Ética do Hospital (protocolo nº 541 /2003).De cada paciente que participasse do estudoera anotado a data, e em que olho havia sidorealizada a trabeculoplastia, assim como amedicação hipotensora ocular <strong>de</strong> que estivessefazendo uso no momento do presente estudo.Realizava-se, então, a medida inicial da Po (Pobasal) e era-lhe fornecido, a seguir, um litro <strong>de</strong> água,que <strong>de</strong>veria ser ingerida no intervalo <strong>de</strong> cincominutos. Três medidas adicionais da Po eram, ainda,realizadas a intervalos <strong>de</strong> 15 minutos. Dentre estasúltimas três medidas, a mais elevada eraconsi<strong>de</strong>rada como sendo o pico pressórico. Destaforma, levando-se em conta a Po basal e o picopressórico, pu<strong>de</strong>ram ser calculadas a variaçãoabsoluta e percentual da Po.Todas as medidas <strong>de</strong> Po foram realizadas comtonômetro <strong>de</strong> Goldmann, no período matutino e por umdos autores (CLO ou LS).Ao ser realizada a PSH, cada pacienteparticipante <strong>de</strong>ste estudo encontrava-se em jejum <strong>de</strong>,pelo menos, quatro horas.As variáveis quantitativas foram representadaspor média, <strong>de</strong>svio-padrão (d.p.) valores mínimo emáximo e as qualitativas por freqüência absoluta erelativa.O po<strong>de</strong>r da amostra, para <strong>de</strong>tectar umadiferença <strong>de</strong> 2 mmHg entre os olhos tratados comtrabeculoplastia e os contralaterais foi <strong>de</strong> 95%.Foi utilizado o teste t <strong>de</strong> Stu<strong>de</strong>nt para amostrasrelacionadas para comparar os olhos submetidos à TPLe contra-laterais quanto à Po basal e máxima e àsvariações absoluta e percentual da Po máxima emrelação ao valor basal. Utilizou-se o teste <strong>de</strong> Wilcoxonpara estudar os olhos submetidos à TPL e contralateraisquanto ao número <strong>de</strong> medicamentoshipotensores utilizados.Adotou-se o nível <strong>de</strong> significância <strong>de</strong> 0,05 (a =5%) e níveis <strong>de</strong>scritivos (p) inferiores a esse valor foramconsi<strong>de</strong>rados significantes e representados por umasterisco.RESULTADOSForam incluídos no estudo 64 olhos <strong>de</strong> 32pacientes, dos quais 25 (78,1%) eram do sexo femininoe 7 (21,9%) eram do sexo masculino.Suas ida<strong>de</strong>s variaram entre 45 e 90 anos, commédia <strong>de</strong> 68,4 ± 10,3 anos.Quanto à raça, 18 (56,3%) eram brancos, 9(29,1%) eram mulatos, 4 (12,5%) eram negros, e 1(3,1%) pertencia à raça amarela.A trabeculoplastia havia sido realizada em 17(53,1 %) olhos direitos e 15 (46,9 %) olhos esquerdos.No momento <strong>de</strong>ste estudo, os pacientesfaziam uso <strong>de</strong>, em média, 2,22 ± 1,04 medicamentoshipotensores oculares para controle <strong>de</strong> seu glaucomano olho submetido à TPL e 2,25 ± 1,05 medicamentosno olho contralateral. O teste <strong>de</strong> Wilcoxon revelou nãohaver diferença estatisticamente significante entreestes dois grupos (p = 0,655).Os olhos submetidos à TPL e os contra-lateraisforam homogêneos em relação à Po basal (p = 0,714Tabela 1).Não foi encontrada diferença estatisticamentesignificativa entre os olhos submetidos à TPL econtralaterais quanto à variação absoluta da Po emrelação ao valor basal (p = 0,280 Tabela 2).Não foi encontrada diferença estatisticamentesignificante entre os olhos submetidos à TPL econtralaterais quanto à variação percentual da Po emrelação ao valor basal (p = 0,292 Tabela 3).Também não foi encontrada diferençaestatisticamente significante entre os olhos submetidosà TPL e contralaterais quanto à Po máxima obtida (p =0,448 Tabela 4).238Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 236-240.


PROVA DE SOBRECARGA HÍDRICA EM PACIENTES SUBMETIDOS À TRABECULOPLASTIATabela 1Po basal nos olhos submetidos àtrabeculoplastia e nos contralateraisTabela 2Variação absoluta da Po (em mmHg) nos olhossubmetidos à trabeculoplastia e nos contralateraisPo Basal (mmHg)Olho Média Desvio- Mínima MáximapadrãoSubmetido à TPL 16,4 3,1 11 22Contralateral 16,3 3,6 12 25Teste t <strong>de</strong> Stu<strong>de</strong>nt: p = 0,714Variação absoluta da Po (mmHg)Olho Média Desvio Mínimo Máximo-padrãoSubmetido à TPL 4,7 3,0 0 11Contralateral 5,2 3,3 -1 13Teste t <strong>de</strong> Stu<strong>de</strong>nt: p = 0,280Tabela 3Variação percentual da Po nos olhos submetidos àtrabeculoplastia e nos contralateraisTabela 4Po máxima nos olhos submetidos à trabeculoplastiae nos contralateraisVariação percentual da Po (%)Olho Média Desvio- Mínimo MáximopadrãoSubmetido à TPL 29,0 18,0 0 63,6Contralateral 32,7 19,7 -6,7 66,7Teste t <strong>de</strong> Stu<strong>de</strong>nt: p = 0,292Po máxima (mmHg)Olho Média Desvio- Mínimo MáximopadrãoSubmetido à TPL 21,1 4,7 14 33Contralateral 21,5 5,3 13 34Teste t <strong>de</strong> Stu<strong>de</strong>nt: p = 0,448DISCUSSÃOO controle pressórico ocular é consi<strong>de</strong>rado umapeça-chave no manejo <strong>de</strong> pacientes portadores <strong>de</strong>glaucoma, tendo o intuito <strong>de</strong> evitar a progressão dadoença e a conseqüente <strong>de</strong>terioração do quadro clínico.Dentre as opções atuais <strong>de</strong> que dispomos paraatingir este objetivo, situa-se a trabeculoplastia. Seumecanismo <strong>de</strong> ação parece se fundamentar numafacilitação ao escoamento do humor aquoso,contribuindo assim para reduzir os níveis pressóricosoculares. 15Ela tem sido proposta para o tratamento <strong>de</strong>pacientes em diferentes fases da doença, <strong>de</strong>s<strong>de</strong>aqueles em fase pré-cirúrgica, 1até como modoterapêutico inicial, em pacientes virgens <strong>de</strong> tratamento. 2A fim <strong>de</strong> se avaliar a eficácia <strong>de</strong> um métodoterapêutico no paciente glaucomatoso torna-seimportante saber o comportamento pressórico ocularexibido pelo mesmo ao longo do dia. Nesse sentido,trabalhos já realizados comprovaram a semelhançaentre os valores pressóricos obtidos na prova <strong>de</strong>sobrecarga hídrica e os da curva tensional diária. 13,14O presente estudo verificou o comportamentotardio da Po em pacientes tratados com trabeculoplastiaquatro a cinco anos antes, submetendo-os à PSH.Constatou não haver diferença estatisticamentesignificativa tanto na variação absoluta como navariação percentual do olho submetido à TPL quandocomparado com o olho contralateral.Outros autores já estudaram a resposta à PSHem pacientes previamente tratados com trabeculoplastia.Susanna e cols., 16 ao realizarem a prova <strong>de</strong>sobrecarga hídrica em um grupo <strong>de</strong> pacientes já tratadoscom trabeculoplastia, obtiveram uma elevaçãopressórica média <strong>de</strong> 4,3 ± 2,9 mmHg. A variaçãopressórica absoluta encontrada na presente pesquisa,embora próxima a por eles obtida, foi apenasdiscretamente inferior nos olhos tratados comtrabeculoplastia (4,7 ± 3,0 mmHg versus 5,2 ± 3,3mmHg nos olhos não tratados), não havendo diferençaestatisticamente significante entre elas. Tampouco,foram observadas, em nosso trabalho, diferençasestatisticamente significativas no que diz respeito àsvariações pressóricas relativas e Pos máximas nos doisgrupos <strong>de</strong> olhos.Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 236-240.239


PROVA DE SOBRECARGA HÍDRICA EM PACIENTES SUBMETIDOS À TRABECULOPLASTIACONCLUSÃOO que o estudo atual constatou é que, parapacientes portadores <strong>de</strong> glaucoma primário <strong>de</strong> ânguloaberto submetidos à trabeculoplastia em apenas um<strong>de</strong> seus olhos e há pelo menos quatro anos, ocomportamento pressórico foi semelhantebilateralmente. Isto parece indicar que, embora haja umefeito protetor da trabeculoplastia no sentido <strong>de</strong> reduzira flutuação pressórica ocular, este efeito já não pareceestar presente após este transcurso <strong>de</strong> tempo.En<strong>de</strong>reço para correspondência:Paulo Gelman Vai<strong>de</strong>rgornAv dr Eneas <strong>de</strong> Carvalho Aguiar 255,sala 6147 - CEP 05403-000 São Paulo SPTel (11) 3086-3725.pgelmann@yahoo.com.brREFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. Thomas JV, Simmons RJ, Belcher CD. Argon lasertrabeculoplasty in the pressurgical glaucomapatient. Ophthalmology 1992; 89: 187-97.2. The Glaucoma Laser Trial (GLT). Results of argonlaser trabeculoplasty versus topical medicines.Ophthalmology 1990; 97: 1403-12.3. Vai<strong>de</strong>rgorn PG: Estudo do efeito datrabeculoplastia na redução <strong>de</strong> medicamentoshipotensores oculares utilizados em pacientesglaucomatosos. São Paulo, 2003. Tese <strong>de</strong>doutorado - Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina daUniversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo.4. Horns DJ, Bellows AR, Hutchinson BT, Allen RC.Argon laser trabeculoplasty for open angleglaucoma. A retrospective study of 380 eyes. TransOphthalmol. Soc UK 1983; 103: 288-95.5. Greenidge KC, Spaeth GL, Fiol-Silva Z. Effect ofargon laser trabeculoplasty on the glaucomatousdiurnal curve. Ophthalmology 1983; 90: 800-3.6. Schwartz AL, Love DC, Schwartz MA. Long-termfollow-up of argon laser trabeculoplasty foruncontrolled open angle glaucoma. ArchOphthalmol 1985; 103:1482-7.7. Susanna Jr R, Nicolela MT. Trabeculectomia xTrabeculoplastia. Resultados a longo prazo. RevBras Oftalmol 1988; 47: 52- 4.8. Drance SM: The significance of the diurnal tensionvariation in normal and glaucomatous eyes. ArchOphthalmol. 1960; 64: 494-501.9. David R, Zangwill L, Briscoe D. Diurnal intraocularpressure variations: na analysis of 690 diurnalcurves. Brit J Ophthalmol. 1992; 76: 280-3.10. Zeimer RC, Wilensky JT, Gieser DK. Associationbetween intraocular pressure peaks andprogression of visual field loss. Ophthalmology1991; 98: 64-9.11. Susanna Jr R, Takahashi WI, Carvalho RC. Perda docampo visual em pacientes trabeculectomizados.Rev Bras Oftalmol 1995; 54: 261-4.12. Werner EB, Drance SM, Schulzer M. Trabeculectomyand progression of glaucomatous visual field loss.Arch Ophthalmol 1977; 95: 1374-7.13. Helal J. Contribuição ao estudo da pressão intraocular:picos <strong>de</strong> pressão intra-ocular na curvadiária <strong>de</strong> pressão e na prova <strong>de</strong> sobrecarga hídrica.Rev Bras Oftalmol 1988; 47: 7-12.14. Miller D. The relationship between diurnal tensionvariation and the water-drinking test. Am JOphthalmol 1964; 58: 243-7.15. Van Buskirk EM, Pond V, Rosenquist RC, Acott TS.Argon laser trabeculoplasty: studies of mechanismof action.Ophthalmology 1984; 91: 1005-9.16. Susanna Jr R, Betinjane AJ, Onclinx TM, Biral EL,Barbosa WL. Avaliação da pressão intra-ocular emolhos glaucomatosos com pressão intra-ocular“normalizada” pelo tratamento. Rev Bras Oftalmol1995; 54: 837-41.Visite nosso site:www.sboportal.org.br240Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 236-240.


Isquemia do segmento anteriordo olho após <strong>de</strong>sinserção <strong>de</strong> doismúsculos retos, em caso <strong>de</strong> fístulacarótido-cavernosa tratadaAngelo Ferreira Passos*, Alessandra Soares Cardozo**RESUMOObjetivo: ressaltar a importância do estudo da circulação carotí<strong>de</strong>a, emcandidatos à cirurgia <strong>de</strong> estrabismo, que apresentem fatores <strong>de</strong> risco para aocorrência <strong>de</strong> alterações isquêmicas oculares.Local: Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>raldo Espírito Santo.Paciente e métodos: um paciente do sexo masculino, com 52 anos, branco,apresentando fistula carótido-cavernosa direta, esquerda, traumática, tratadapor tamponamento com 2 balões <strong>de</strong>stacáveis, foi submetido à cirurgia <strong>de</strong>transposição aumentada dos retos verticais para o reto lateral – cirurgia <strong>de</strong>Foster.Resultados: vinte e quatro horas após a cirurgia observaram-se alteraçõestípicas <strong>de</strong> isquemia do segmento anterior do olho (ISA), com redução daacuida<strong>de</strong> visual, e<strong>de</strong>ma corneano e dispersão pigmentária no segmento anterior.Após tratamento com corticosterói<strong>de</strong> sistêmico e tópico mais cicloplegia, resultoucomo seqüela um quadro <strong>de</strong> atrofia do estroma e do epitélio pigmentário daíris, bem <strong>de</strong>finido nos setores súpero-temporal e ínfero-temporal. O resultadofuncional da cirurgia foi bom.Conclusão: fazendo uma correlação etiopatogênica da ISA com a síndromeocular isquêmica, os autores alertam para a necessida<strong>de</strong> do estudo da circulaçãocarotí<strong>de</strong>a e, se possível, do território da artéria oftálmica, pelos mo<strong>de</strong>rnosmétodos não invasivos, em todo candidato à cirurgia sobre os músculos retosoculares, quando houver fatores <strong>de</strong> risco para a ocorrência <strong>de</strong> problemascirculatórios, inclusive ida<strong>de</strong> avançada.Palavras-chave: Isquemia; segmento anterior; fístula carótido-cavernosa.*Angelo Ferreira Passos – Doutorado em <strong>Oftalmologia</strong> pela UFMG; pós-doutorado no Moorfields Eye Hospital, Londres; professoradjunto IV; chefe do serviço <strong>de</strong> oftalmologia do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (HUCAM), Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral doEspírito Santo (UFES);**Alessandra Soares Cardozo – Oftalmologista Voluntária do Serviço <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong> do HUCAM, UFES.Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 241-250.241


ISQUEMIA DO SEGMENTO ANTERIOR DO OLHO APÓS DESINSERÇÃO DE DOIS MÚSCULOS RETOS, EM CASO...ABSTRACTAnterior segment ischemia after <strong>de</strong>sinsertion of two rectusmuscles in a case of carotid cavernous fistulaPurpose: to emphasize the importance of studying the carotid circulation inpatients who are going to be operated on for strabismus.Place: Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>raldo Espírito Santo.Methods: a male, white patient, 52 years old, with direct traumatic left carotidcavernous fistula, treated by 2 balloons, un<strong>de</strong>rwent an augmented vertical rectimuscles transposition (Foster operation) for treating a lateral rectus paralysisResults: twenty four hours after the operation, typical signs and symptoms ofanterior segment ischemia were observed: reduced visual acuity, severe corneale<strong>de</strong>ma and pigment dispersion. After treatment with systemic and topicalcorticosteroid, the sequel was stromal and pigment epithelial iris atrophy, in thesuperotemporal and inferotemporal region. The motor result of the operationwas good.Conclusion: discussing the pathogenesis of the ocular ischemic syndrome and itscorrelation with anterior segment ischemia the authors call attention for theimportance of studying the carotid circulation and, if possible, the ophthalmic arteryand its branches, through the mo<strong>de</strong>rn, non-invasive methods, in all patients whoare going to be operated on for strabismus, when they are un<strong>de</strong>r especial risks ofcirculatory problems, including age.INTRODUÇÃOOsuprimento sangüíneo do segmentoanteriordo olho é efetuado pelas seteartérias ciliares anteriores (que chegampelos quatro músculos retos), pelas duas artériasciliares posteriores longas e por suas anastomoses,formando o gran<strong>de</strong> círculo arterial da íris. 1,2,3 Essas9 artérias ciliares provêm da artéria oftálmica, quese origina da carótida interna. Em caso <strong>de</strong> cirurgiasobre os músculos extra-oculares, a ocorrência daisquemia do segmento anterior (ISA) <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> daquantida<strong>de</strong> do fluxo anastomótico remanescentena íris, após a secção dos músculos. 1Estudosangiofluoresceinográficos da íris mostram que asecção dos retos verticais causa mais alteraçõescirculatórias que a dos retos horizontais, 4,5sendoo músculo reto inferior o mais importante <strong>de</strong> todos. 5As alterações iniciais da ISA, quecostumam ser observadas 24 horas após acirurgia, 1,2,6 são caracterizadas principalmente porredução da acuida<strong>de</strong> visual (AV), e<strong>de</strong>macorneano, hipotonia ocular e inflamação dosegmento anterior. Po<strong>de</strong>m regredir, <strong>de</strong>ixandoseqüelas sem maior significado, ou progredirpara complicações mais severas, comoimportante atrofia da íris, catarata,neovascularização corneana ou mesmo atrofiado globo ocular. 1,2,3,6A ISA é um quadrorelativamente raro, relacionado com cirurgia <strong>de</strong>estrabismo, sendo consi<strong>de</strong>rada mais provávelsua ocorrência após a <strong>de</strong>sinserção completa <strong>de</strong>mais <strong>de</strong> dois músculos retos oculares, nomesmo ato operatório. 1,3,4,6,7,8Não há consensoem relação à importância da ida<strong>de</strong>, 5 mas, paraa maioria, 2,3,6 ela é um fator <strong>de</strong> risco consi<strong>de</strong>rável,havendo todavia uma susceptibilida<strong>de</strong> individual,in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>la. 3Embora a ocorrência <strong>de</strong> ISA tenha sidorelatada após intervenção sobre apenas 2músculos retos, por exemplo, reto superior + retoinferior 9 ou reto medial + reto inferior 10 , na prática,a maioria dos autores não parece consi<strong>de</strong>rar esseprocedimento <strong>de</strong> risco, alguns fazendo distinçãose operam músculos retos opostos ou adjacentes,242Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 241-250.


ISQUEMIA DO SEGMENTO ANTERIOR DO OLHO APÓS DESINSERÇÃO DE DOIS MÚSCULOS RETOS, EM CASO...Figura 1 – Tomografia computadorizada do crânio: a imagem da esquerdamostra o projétil localizado na região petrosa do crânio; a da direitamostra as intensas alterações órbito-palpebrais e nos seios da face dolado direito, causadas pela passagem do projétil, que penetrou pelaregião do canto medial direitoFigura 4 – Angiografia digital cerebral, em LATERAL, mostrando oenchimento precoce do seio cavernoso e conseqüente enchimentosimultâneo dos sistemas arterial e venoso. VOS: veias oftálmicassuperiores direita e esquerda; FCC: fístula carótido-cavernosaFigura 2 – Tomografia computadorizada axial do crânio. A imagemda esquerda mostra o trajeto do projétil, através da órbita direita; aimagem da direita mostra o projétil <strong>de</strong> arma <strong>de</strong> fogo (seta), alojado naregião petrosa do lado esquerdo, com artefatos <strong>de</strong> imagemconsi<strong>de</strong>rando segura a <strong>de</strong>sinserção <strong>de</strong> 2 retosopostos. 1O objetivo <strong>de</strong>sse trabalho é relatar ediscutir a ocorrência <strong>de</strong> um caso <strong>de</strong> ISA, ocorridoapós a realização <strong>de</strong> uma cirurgia <strong>de</strong> estrabismo,com <strong>de</strong>sinserção apenas dos dois retos verticaise sua transposição para o reto lateral, paratratamento <strong>de</strong> paralisia traumática <strong>de</strong>sse músculo.Essa complicação ocorreu em um caso <strong>de</strong> fístulacarótido-cavernosa direta, traumática, que já haviasido tratada através <strong>de</strong> embolização com balões.Os autores procuram chamar a atenção para aimportância do estudo da circulação no territórioda artéria oftálmica, antes <strong>de</strong> qualquer cirurgia <strong>de</strong>estrabismo, em pacientes com maior potencial <strong>de</strong>risco <strong>de</strong> apresentarem alterações circulatórias.RELATO DO CASOFigura 3 – Angiografia digital cerebral, em PA, antes do tratamento,mostrando enchimento precoce do seio cavernoso. SC: seio cavernoso;P: projétilPaciente do sexo masculino, com 52 anos,sofreu trauma óculo-orbitário do lado direito, comprojétil <strong>de</strong> arma <strong>de</strong> fogo, em 20/04/02. O projétilpenetrou pela região do canto medial, acabandopor se alojar no seio cavernoso do lado esquerdo(figuras 1 e 2). Com o diagnóstico angiográfico <strong>de</strong>fístula carótido-cavernosa esquerda, em 23/04/02(figura 3 e 4), foi submetido a tratamentoendovascular, pela liberação <strong>de</strong> dois balões<strong>de</strong>stacáveis, em 25/06/02. A angiografia,imediatamente após a embolização, mostravaoclusão da fístula, com preservação da carótidaRev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 241-250.243


ISQUEMIA DO SEGMENTO ANTERIOR DO OLHO APÓS DESINSERÇÃO DE DOIS MÚSCULOS RETOS, EM CASO...Figura 5 – Angiografia cerebral digital, em PA (A) e lateral (B), após liberação <strong>de</strong> 2 balões, com oclusão da fístula e preservação da carótidainterna. AO: artéria oftálmica; P: projétilFigura 6 – congestão dos vasos conjuntivais e episclerais do olhodireitointerna, distalmente a ela (figura 5).O trauma resultou em extensa área <strong>de</strong>atrofia cório-retiniana nasal e atrofia total da papilado olho direito (OD), com visão zero. No mesmoolho, observava-se congestão mo<strong>de</strong>rada dosvasos conjuntivais e episclerais (figura 6), enquantoa motilida<strong>de</strong> ocular era praticamente normal.O olho esquerdo (OE), por outro lado,apresentava-se inteiramente normal àbiomicroscopia e à fundoscopia, com visão normal,mas com paralisia do músculo reto lateral.A pressão intra-ocular (Po) era <strong>de</strong>19mmHg no OD e <strong>de</strong> 11 no OE.O exame das rotações oculares mostrouFigura 7 – primeiro dia pós-operatório <strong>de</strong> transposição aumentadados retos verticais, mostrando intenso e<strong>de</strong>ma corneano, mais acentuadodo lado temporalacentuada limitação da abdução do OE, com retolateral esquerdo (RLE) –5, reto lateral direito (RLD)-1 e reto medial direito (RMD) +1. O teste <strong>de</strong>geração <strong>de</strong> forças mostrou aparente ausência total<strong>de</strong> força do RLE; e o teste <strong>de</strong> dução forçadapassiva, discreta contratura do reto medialesquerdo (RME). O paciente apresentava esotropia(ET) <strong>de</strong> ângulo variável, <strong>de</strong> mais ou menos 10 a50 dioptrias prismáticas, em posição primária, comdificulda<strong>de</strong> em manter uma posição compensatória<strong>de</strong> cabeça. Mostrava <strong>de</strong>sequilíbrio e dificulda<strong>de</strong> à<strong>de</strong>ambulação, que atribuía ao distúrbio da suamusculatura extrínseca.Com esse quadro mantido, sem sinais <strong>de</strong>244Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 241-250.


ISQUEMIA DO SEGMENTO ANTERIOR DO OLHO APÓS DESINSERÇÃO DE DOIS MÚSCULOS RETOS, EM CASO...melhora da função do RLE e com certa contraturado RME, foi submetido, quatro meses e <strong>de</strong>z diasapós o trauma, à cirurgia <strong>de</strong> transposiçãoaumentada <strong>de</strong> retos verticais para o reto lateral –cirurgia <strong>de</strong> Foster. 11Conforme recomenda esseautor, além da transposição, a porção inferior domúsculo reto superior e a superior do reto inferiorforam fixadas à esclera, imediatamente acima eabaixo das bordas superior e inferior do RLE,respectivamente. A fixação foi realizada a 16mmdo limbo, como numa fa<strong>de</strong>noperation, com fioinabsorvível. A cirurgia foi realizada sob anestesiatópica, por instilação <strong>de</strong> gotas <strong>de</strong> bupivacaína a0,5%, com adrenalina.Como se tratava <strong>de</strong> olho único, o pacientejá se levantou da mesa operatória queixando-se<strong>de</strong> visão bastante turva, “como se houvesse umplástico à frente do seu olho”.No dia seguinte à cirurgia, a acuida<strong>de</strong>visual (AV) era <strong>de</strong> 20/200. Nessa ocasião,observava-se intenso e<strong>de</strong>ma corneano, maisintenso do lado temporal, com microbolhosa,turvação e espessamento do estroma eacentuadas dobras na membrana <strong>de</strong> Descemet(figura 7). A Po, registrada com o tonômetro <strong>de</strong>Goldmann, era <strong>de</strong> 19mmHg. Nesse dia, a pupilatinha diâmetro aparentemente normal, comreflexos mantidos e a turvação corneana nãopermitia <strong>de</strong>finir bem a intensida<strong>de</strong> e o tipo do Tyndallno aquoso, mas se viam algumas marcasacastanhadas no endotélio, sugerindo fortementea presença <strong>de</strong> pigmento.O paciente foi medicado com corticói<strong>de</strong>sistêmico (prednisona 60mg/dia) e tópico(<strong>de</strong>xametasona a 0,1%, <strong>de</strong> 1/1 hora), além doantibiótico associado ao colírio <strong>de</strong> corticói<strong>de</strong>.No 3º dia pós-operatório, observou-seacentuada melhora do e<strong>de</strong>ma corneano,po<strong>de</strong>ndo-se perceber intenso Tyndallpigmentário, com acúmulos grosseiros <strong>de</strong>pigmento no endotélio, principalmente em suaporção central. Havia também miose, comdiscreta irregularida<strong>de</strong> da borda pupilartemporal, e pequena opacificação cristalinianasubcapsular anterior, paracentral - catarata tipoVogt. A AV já havia melhorado para 20/70. A Poera <strong>de</strong> 13mmHg. A partir <strong>de</strong> então foiacrescentada medicação cicloplégica.No 4º dia pós-operatório, a AV era <strong>de</strong> 20/50 e o e<strong>de</strong>ma da córnea estava praticamentelimitado à meta<strong>de</strong> temporal, já se po<strong>de</strong>ndoFigura 8 – atrofia iriana súpero-temporal e ínfero-temporal, comirregularida<strong>de</strong> da borda pupilar temporal e mobilização <strong>de</strong> pigmento(iluminação indireta)perceber atrofia do epitélio pigmentário iriano,súpero-temporal e ínfero-temporalmente, vista portransiluminação. Com o uso <strong>de</strong> colírio <strong>de</strong>ciclopentolato, havia discreta midríase. A Po era<strong>de</strong> 10mmHg.No 6º dia pós-operatório, a AV aindapersistia 20/50, embora não mais apresentassee<strong>de</strong>ma <strong>de</strong> córnea. Os acúmulos pigmentáriosendoteliais agora eram finos, homogeneamentedistribuídos na região central e paracentral doendotélio, observando-se o mesmo tipo <strong>de</strong>dispersão pigmentária na superfície anterior da íris.A Po encontrava-se em 10mmHg. Quanto aoestrabismo, o paciente já apresentava significativaexotropia, constante. Nessa ocasião, iniciou-seredução gradativa do corticói<strong>de</strong> sistêmico e tópico.Com 25 dias <strong>de</strong> pós-operatório, o pacientejá apresentava AV 20/20, que assim se mantinhaaté a última revisão, 3 meses após a cirurgia.Apresentava quadro <strong>de</strong> atrofia iriana, no estromae no epitélio pigmentário, nos quadrantes súperotemporale ínfero-temporal, com irregularida<strong>de</strong> daborda pupilar nesses quadrantes (figura 8).Quanto à motilida<strong>de</strong> ocular, na últimaavaliação, 3 meses após a cirurgia, o pacienteapresentava exotropia (XT) <strong>de</strong> 40 dioptriasprismáticas, gran<strong>de</strong> anisotropia em V, comgran<strong>de</strong> aumento da XT ao olhar para cima epequena redução ao olhar para baixo. Asrotações oculares encontravam-se praticamentenormais, em todas as posições, exceto nocampo do RLE, on<strong>de</strong> havia hipofunção <strong>de</strong> –2,com correção total da posição <strong>de</strong> cabeça (figuraRev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 241-250.245


ISQUEMIA DO SEGMENTO ANTERIOR DO OLHO APÓS DESINSERÇÃO DE DOIS MÚSCULOS RETOS, EM CASO...Figura 9 - gran<strong>de</strong> melhora pós-operatória da abdução do olho esquerdo, sem alteração significativa das rotações oculares, em todas as <strong>de</strong>maisposições9). Nessa ocasião, o paciente relatava sensação<strong>de</strong> que o olho direito estava “grosso” ou inchado,além <strong>de</strong> forte cefaléia temporal esquerda,irradiando para a nuca, e percepção do soproda fístula, razão pela qual foi encaminhado parao neuro-radiologista intervencionista, que,repetindo a angiografia, confirmou a recidiva dafístula.DISCUSSÃOA circulação do globo ocular <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> dapressão <strong>de</strong> perfusão nas artérias carótida interna,oftálmica, e, por fim, nas artérias ciliares (curtasposteriores, longas posteriores e anteriores) e naartéria central da retina. Assim, a Síndrome OcularIsquêmica (SOI) foi originalmente <strong>de</strong>finida como oconjunto <strong>de</strong> sinais e sintomas oculares relacionadoscom a estenose da carótida comum ou interna, 12que ocasiona alteração do fluxo na artériaoftálmica e em seus ramos que nutrem o globoocular, o que resulta em sua má perfusão. De fato,a SOI é mais comumente relacionada com aobstrução ateromatosa da carótida interna. Nessecaso, ten<strong>de</strong> a ocorrer quando o grau <strong>de</strong> obstrução<strong>de</strong>ssa artéria é total ou severo, em geral, maiorque 70%. 12,13,14,15,16,17,18,19,20Todavia, essa síndromepo<strong>de</strong> também ocorrer em casos <strong>de</strong> dissecção dacarótida interna 21e, teoricamente, po<strong>de</strong> estarrelacionada com qualquer outra patologia queimplique em redução do fluxo sanguíneo nessaimportante artéria. Sua ocorrência também érelatada em casos sem qualquer alteraçãoaparente nas carótidas, 22mas em que foiobservada alteração do fluxo na artéria oftálmicaou em seus ramos. 23As doenças mais freqüentementeassociadas com quadros <strong>de</strong> SOI são hipertensãoarterial, diabetes mellitus, doença arterialcoronariana, isquemia cerebral <strong>de</strong>finitiva outransitória, 19,24,25 tendo-se feito uma correlaçãomenos freqüente com arterite <strong>de</strong> células gigantes 26e Doença <strong>de</strong> Takayasu, 27entre outras.As alterações visuais da SOI vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong>episódios <strong>de</strong> redução temporária da visão, 13,18,28 atéquadros <strong>de</strong>finitivos <strong>de</strong> redução visual, que po<strong>de</strong>mocorrer <strong>de</strong> maneira gradativa ou súbita. 13,19,22Aredução da AV costuma ser muito acentuada,tendo sido igual ou menor que conta <strong>de</strong>dos em50% dos casos, em 12 olhos <strong>de</strong> 10 pacientesestudados por Chen et al., 19 e igual ou menor que20/400, em 64% dos 39 olhos <strong>de</strong> 32 pacientes,estudados por Mizener et al. 13 Dor ocular tem sidorelatada nos casos <strong>de</strong> obstrução ateromatosa, 22,25embora pareça bem mais comum nos casos <strong>de</strong>dissecção da carótida interna. 21Nessa últimacondição, a ocorrência <strong>de</strong> síndrome <strong>de</strong> Hornerdolorosa foi relatada em 44% <strong>de</strong> uma casuística<strong>de</strong> 146 casos. 21Os sinais oculares na SOI ocorrem <strong>de</strong>forma variada, tendo sido relatados:neovascularização iriana; glaucoma neovascular;congestão venosa, exsudatos algodonosos,hemorragia e neovascularização retiniana.Êmbolos retinianos assintomáticos e oclusão daartéria central da retina também po<strong>de</strong>m ser vistos,assim como pali<strong>de</strong>z e neovascularização papilar246 Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 241-250.


ISQUEMIA DO SEGMENTO ANTERIOR DO OLHO APÓS DESINSERÇÃO DE DOIS MÚSCULOS RETOS, EM CASO...e hipotonia ocular. 13,18,19,22Outras alterações dosegmento anterior, como inflamações, 12,28 midríasemédia e pupilas pouco reativas 12 também têm sidorelatadas, associadas com as alterações, maisfreqüentes, do segmento posterior. Embora setenha feito a correlação <strong>de</strong> alterações isoladas dosegmento anterior (sem acometimento dosegmento posterior), mais especificamente,pseudo-exfoliação capsular e transiluminaçãoiriana generalizada, com alterações da circulaçãocarotí<strong>de</strong>a, 24tem-se conhecimento do relato <strong>de</strong>apenas um caso, bem caracterizado, <strong>de</strong> isquemiaisolada do segmento anterior do olho, atribuído àSOI. 16Como as manifestações oculares da SOIfreqüentemente antece<strong>de</strong>m os sintomasneurológicos, diagnosticando-a precocemente, ooftalmologista po<strong>de</strong> exercer importante papel a naprevenção <strong>de</strong> quadros graves, irreversíveis, <strong>de</strong>isquemia cerebral. 13,19,29Nos casos <strong>de</strong> SOI <strong>de</strong>vidos à obstruçãoateromatosa da carótida, os pacientes po<strong>de</strong>m sertratados pela angioplastia ou endarterectomia,existindo também relato <strong>de</strong> tratamento com bypassda artéria temporal superficial para a artériacerebral média. 28 Tem sido relatado certo benefíciocom o tratamento, 17,18,19,22com melhora ouestabilização do quadro ocular, embora oprognóstico visual seja geralmente pobre nos casoscom perda visual já estabelecida.Embora na literatura não haja uma <strong>de</strong>finidacorrelação etiopatogênica da SOI com fístulacarótido-cavernosa, em 1969, San<strong>de</strong>rs e Hoyt 31 jáatribuíam gran<strong>de</strong> parte das alterações oculares,tanto no segmento anterior quanto no posterior afenômenos isquêmicos, originados pelasimportantes alterações hemodinâmicas, queocorrem nesse tipo <strong>de</strong> fístula. Segundo essesautores, essas complicações isquêmicas po<strong>de</strong>mocorrer espontaneamente, mas ten<strong>de</strong>m a ser maisfreqüentes e mais graves após o tratamento<strong>de</strong>ssas fístulas através <strong>de</strong> procedimentos <strong>de</strong>ligadura da carótida.Quanto ao caso relatado nesse trabalho,trata-se <strong>de</strong> um caso <strong>de</strong> SOI, manifesto como ISA,<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ado pela <strong>de</strong>sinserção <strong>de</strong> apenas doismúsculos retos, em um paciente com fístulacarótido-cavernosa. A complicação ocorreu em umpaciente <strong>de</strong> 52 anos, aparentemente hígido sobreoutros aspectos. A fístula, <strong>de</strong> origem traumática,havia sido tratada por um procedimento <strong>de</strong>embolização com dois balões, com a angiografiaimediata mostrando preservação da carótidainterna, distalmente à fístula, com perfusão daartéria oftálmica.Na ocasião da cirurgia, o paciente nãoapresentava sinais ou sintomas neurológicos quelevassem à suspeita <strong>de</strong> baixo fluxo na carótida.Demonstrava apenas certo <strong>de</strong>sequilíbrio edificulda<strong>de</strong> à <strong>de</strong>ambulação, que foi atribuída àparalisia do RLE, associada à discreta contraturado antagonista, com dificulda<strong>de</strong> em adotar umaposição compensatória, <strong>de</strong>finida, da cabeça. Deveseressaltar ainda o fato da fístula carótidocavernosaser do lado esquerdo, com o globoocular homolateral inteiramente normal, e <strong>de</strong> opaciente apresentar congestão venosa e visão zerono OD, contralateral à fístula. Esse quadro po<strong>de</strong>rialevar à falsa impressão <strong>de</strong> que não havia maiorprobabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> complicações circulatórias noglobo ocular esquerdo, <strong>de</strong> aspecto normal, e <strong>de</strong>que a fístula estava realmente tamponada. Alémdisso, tendo havido intenso trauma óculo-orbitáriodireito, a congestão venosa <strong>de</strong>sse olho po<strong>de</strong>ria serconsi<strong>de</strong>rada <strong>de</strong>vida ao trauma, inclusive comoclusão <strong>de</strong> veias orbitárias. Por outro lado,consi<strong>de</strong>rando que as manifestações oculares dasfístulas carótido-cavernosas po<strong>de</strong>m ocorrertambém no olho contralateral, 31 a congestão oculardo OD po<strong>de</strong>ria ser consi<strong>de</strong>rada seqüela da fístulado lado esquerdo ou sinal da sua persistência.A cirurgia foi realizada precocemente,quatro meses e 10 dias após o trauma, por não sedispor, na região, <strong>de</strong> estrutura para a injeção <strong>de</strong>toxina botulínica, com controle eletromiográfico, epelo fato <strong>de</strong>, na ocasião, não estarem os autoresrealizando a injeção com pinça, sem o referidocontrole. Além disso, tratava-se <strong>de</strong> um pacientecarente, com dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamento paraoutro estado, e ansioso pela melhora da suaqualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Também se levou em conta omau prognóstico quanto à recuperação da paralisiado VI nervo, por ser <strong>de</strong> etiologia traumática e porjá ter transcorrido o referido tempo, sem qualquersinal <strong>de</strong> melhora das rotações e com aparente totale persistente ausência <strong>de</strong> força no músculocorrespon<strong>de</strong>nte, ao teste <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> forças,não se <strong>de</strong>vendo, portanto, esperar pelarecuperação da função do músculo 3 . Deve-seressaltar o fato <strong>de</strong> que embora a ET variasse, isso,nesse caso específico, muito particular, nãosignificava que a condição da paralisia estavaRev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 241-250.247


ISQUEMIA DO SEGMENTO ANTERIOR DO OLHO APÓS DESINSERÇÃO DE DOIS MÚSCULOS RETOS, EM CASO...sofrendo variação, ou em fase <strong>de</strong> recuperação.Havia paralisia do reto lateral do olho vi<strong>de</strong>nte, OE,e não se sabe ao certo porque o paciente nãoconseguia adotar uma posição compensatória <strong>de</strong>cabeça, <strong>de</strong>finida. Talvez, pelo fato <strong>de</strong> não estarperfeitamente orientado. Aparentemente, por isso,realizava um gran<strong>de</strong> esforço, tentando centralizaresse olho, e fazia isso <strong>de</strong> maneira intermitente. Comisso, um forte estímulo intermitente era transmitidoao reto medial do olho contralateral, cego (OD),mas com a musculatura normal, provocando umacontração intermitente <strong>de</strong>sse músculo, sendo essemais um motivo, além da cegueira, para que o ODnão tivesse uma posição estável, sendo, portanto,a ET, variável, e po<strong>de</strong>ria assim continuar por tempoin<strong>de</strong>finido.É importante, todavia, ressaltar para osiniciantes na estrabologia, que, embora nasparalisias, segundo reconhecidos autores, ascirurgias compensadoras possam ser realizadastão precocemente como a partir do terceiro mês,quando o paciente, examinado cuidadosamente,com intervalos <strong>de</strong> 15 dias, não mostra qualquersinal <strong>de</strong> recuperação, 3essas cirurgias sãorealizadas pela maioria dos estrabólogos e peloautor principal <strong>de</strong>sse trabalho, quem realizou acirurgia em questão, não antes <strong>de</strong> aguardar pelarecuperação espontânea, por 6 a 12 meses. Comesse modo <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r, o mais pru<strong>de</strong>nte nessecaso teria sido a injeção <strong>de</strong> toxina botulínica nomúsculo RME, visando a evitar a progressão dasua contratura, enquanto se proporcionaria umtempo mais a<strong>de</strong>quado para uma possívelrecuperação espontânea da paralisia do RLE. Éimportante ainda ressaltar que a injeção <strong>de</strong> toxinabotulínica, no músculo reto lateral, po<strong>de</strong> serrealizada, além da maneira convencional, comcontrole eletromiográfico, também através daapreensão do músculo com pinça apropriada,conforme técnica sugerida por Tomás S. Mendonça(comunicação pessoal), ou, em casos especiais,até mesmo, a céu aberto, com visão direta domúsculo, após sua exposição cirúrgica.Teria sido também mais pru<strong>de</strong>nte que sefizesse uma nova e melhor avaliação dascondições da fístula e da circulação carotí<strong>de</strong>a eoftálmica. Três meses após a cirurgia <strong>de</strong>estrabismo, com sintomas <strong>de</strong> recidiva da fístula, opaciente foi novamente encaminhado ao neuroradiologistaintervencionista, tendo sido feita aconfirmação da recidiva. O paciente foi submetidoà nova tentativa <strong>de</strong> tratamento da fístula em 25/10/03, um ano e quatro meses após o primeiroprocedimento, tendo falecido cerca <strong>de</strong> 15 diasapós, em conseqüência <strong>de</strong> complicações doprocedimento.Quanto às alterações oculares observadasno caso <strong>de</strong> ISA em questão, o quadro foisemelhante ao relatado por outros autores, 2,3,6tendo ocorrido e<strong>de</strong>ma <strong>de</strong> córnea, commicrobolhosa, espessamento e turvação doestroma e acentuadas dobras na Descemet. O“Tyndall” obser vado apresentava gran<strong>de</strong>quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pigmento, ao contrário do relatadopor Uesugui, 1segundo o qual as “células”observadas na câmara anterior são nãopigmentadas. A mobilização <strong>de</strong> pigmento foi tãorápida e acentuada que, já no 4º dia pós-operatório,se observava transiluminação iriana, nas regiõessúpero-temporal e ínfero-temporal. Quanto à Po,ao contrário do esperado, 2,3não se observouhipotonia significativa, em nenhum momento. Noprimeiro dia pós-operatório, o valor encontrado foi<strong>de</strong> 19mmHg, provavelmente superdimensionadopelo acentuado espessamento corneano. No 10ºdia, já sem aparente espessamento corneano, foiem torno <strong>de</strong> 10mmHg, semelhante aos valorespré-operatórios, <strong>de</strong> 11mmHg. Quanto à AV, quese mostrou muito reduzida (20/200) no primeirodia, já se encontrava em 20/50 no 4º dia, e emníveis <strong>de</strong> normais, <strong>de</strong> 20/20, a partir do 25º dia.Quanto ao resultado funcional da cirurgia,ele po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado bom, com atransformação do –5 no campo do RLE, em –3imediatamente após a cirurgia, e em –2, cerca <strong>de</strong>três meses após, sem prejuízo das rotações emtodas as <strong>de</strong>mais posições, com isso, corrigindointeiramente a posição da cabeça do paciente emelhorando muito a sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Acirurgia <strong>de</strong> transposição aumentada <strong>de</strong> Foster 11éconsi<strong>de</strong>rada um bom procedimento paratratamento da paralisia do VI nervo, visto que ten<strong>de</strong>a resultar em gran<strong>de</strong> melhora da abdução, semcausar alteração significativa da adução e dasrotações em todas as <strong>de</strong>mais posições, inclusivecom boa eficácia nos casos em que já ocorreucerta contratura do reto medial, visto que ten<strong>de</strong> amelhorar a contratura. 32 Tem a vantagem <strong>de</strong> nãonecessitar e, até mesmo, <strong>de</strong> contra-indicar o recuodo reto medial ipsilateral, 32,33sendo, portanto,suficiente a intervenção sobre apenas doismúsculos, os retos verticais. Por esse motivo, foi248Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 241-250.


ISQUEMIA DO SEGMENTO ANTERIOR DO OLHO APÓS DESINSERÇÃO DE DOIS MÚSCULOS RETOS, EM CASO...utilizada no caso em questão.Quanto ao resultado estético, como era <strong>de</strong>se esperar, não foi bom, visto que, sendo o olhovi<strong>de</strong>nte o portador da paralisia do reto lateral eestando o cérebro enviando forte estímulo paraesse músculo, para tentar manter o olho na posiçãocentrada, principalmente consi<strong>de</strong>rando que opaciente não conseguia adotar uma posiçãocompensatória, <strong>de</strong>finida, da cabeça, havia tambémintenso estímulo para o RM do olho contralateral,cego, mantendo esse olho em ET. Ao se posicionaro olho vi<strong>de</strong>nte corretamente, <strong>de</strong> maneirapraticamente passiva, com a transposiçãoaumentada, o estímulo à contração do RM do olhocontralateral <strong>de</strong>ixaria <strong>de</strong> ocorrer e a XT <strong>de</strong>sse olhoseria o resultado esperado, o que <strong>de</strong> fato ocorreu enão <strong>de</strong>veria ocorrer se esse olho fosse vi<strong>de</strong>nte. Acorreção <strong>de</strong>ssa XT, no mesmo ato cirúrgico, seriamuito difícil, consi<strong>de</strong>rando que não se po<strong>de</strong>ria teridéia do seu montante, em médio e longo prazo. Opaciente estava bem consciente <strong>de</strong> que <strong>de</strong>veriatrocar sua ET por uma XT, cuja correção po<strong>de</strong>riaser tentada no futuro, e não <strong>de</strong>u nenhumaimportância ao fato.A ocorrência <strong>de</strong>sse quadro <strong>de</strong> SOImanifesto como ISA, induzido pela <strong>de</strong>sinserção <strong>de</strong>dois músculos retos, em caso <strong>de</strong> fístula carótidocavernosatratada, sugere a importância darealização <strong>de</strong> uma criteriosa avaliação dacirculação carotí<strong>de</strong>a e oftálmica, em todo pacientecandidato à cirurgia sobre os músculos retosoculares, quando houver os fatores <strong>de</strong> risco já bemconhecidos, para a ocorrência <strong>de</strong> problemascirculatórios, inclusive os relacionados à ida<strong>de</strong>. ASOI foi relatada em indivíduos <strong>de</strong> 35 a 70 anos,em uma série <strong>de</strong> 148 pacientes, por Kiseleva eal. 3Sob maior risco também po<strong>de</strong>riam estarpacientes com doenças menos freqüentes <strong>de</strong>pequenas artérias, arterite inflamatória, distúrbiosda coagulação, causas cardíacas <strong>de</strong> embolismo. 25Po<strong>de</strong>r-se-ia <strong>de</strong>preen<strong>de</strong>r do presente caso,que é possível que a simples observaçãoangiográfica <strong>de</strong> oclusão da fístula, compreservação da carótida interna distalmente a elae presença <strong>de</strong> fluxo na artéria oftálmica, não sejamdados suficientes para se ter segurança quantoàs condições circulatórias oculares. Por outro lado,é também possível que o caso tenha sido operado,já com a fístula recidivada, o que foi constatadosomente pouco mais <strong>de</strong> 3 meses após a cirurgia,pelo exame angiográfico.Atualmente, há exames não invasivos,como o eco doppler colorido e o ultra-som triplex,através dos quais po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>tectadasalterações <strong>de</strong> calibre e <strong>de</strong> fluxo das ar tériascarótida comum e interna, e, ainda, alterações navelocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fluxo sistólico e diastólico, no índice<strong>de</strong> resistência ao fluxo e no sentido do fluxo nasartérias oftálmica e, até mesmo, na artéria centralda retina e ciliares. 14,20,28,34,35,36 Obviamente, o i<strong>de</strong>alseria o estudo da circulação da artéria oftálmica e<strong>de</strong> seus ramos, mas, caso esse não seja possível,o estudo apenas das carótidas po<strong>de</strong> trazerimportantes informações. Embora haja relatos <strong>de</strong>alteração no fluxo da artéria oftálmica e <strong>de</strong> seusramos, acompanhados <strong>de</strong> quadros <strong>de</strong> SOI, sem apresença <strong>de</strong> problemas nas carótidas, 22,23asalterações <strong>de</strong> fluxo nas primeiras geralmente estãorelacionadas com avançadas lesões estenóticasou outras importantes alterações das carótidas.12,13,14,15,16,17,18,19,20En<strong>de</strong>reço para CorrespondênciaAngelo Ferreira PassosRua Ferreira Coelho, 304, Praia do SuáCep:29050- 280, Vitória - ESTels. Cons:(27)32277648 – fax: (27)33259427Res.(027)33275324 – Cel: (27)99825722e-mail: angelopassos@terra.com.brREFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. Uesugui CF. Complicações da Cirurgia <strong>de</strong>Estrabismo. In: Barbosa P H. Estrabismo. Rio <strong>de</strong>Janeiro: Cultura Médica; 1997.p. 306.2. Mein J, Trimble R. Diagnose and management ofocular motility disor<strong>de</strong>rs. Oxford: Blackwell; 2n<strong>de</strong>d, 1991. p. 192-3.3. Prieto-Diaz J, Souza-Dias C. Strabismus. Boston:Butterworth-Heinemann; 4th ed, 2000. p. 322-4.4. Hayre SS, Scott, WE. Fluorescein iris angiography.II Disturbances in iris circulation followingestrabismus operation on the various recti. Arch.Ophthalmol 1978; 96: 1390.5. Lee JP, Olver JM. Anterior segment ischemia. Eye1990; 4: 1-6.6. Von Noor<strong>de</strong>n GK. Binocular Vision and OcularMotility. St. Louis; Mosby; 4th ed, 1990. p.529.7. Krewson WE III. Ocular tendon transpositionindications, variations and technique. J Intern CollSurg 1957; 27: 731.Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 241-250.249


Perimetria <strong>de</strong> Freqüência Dobrada(Frequency Doubling Technology -FDT) e o Campo VisualComputadorizado (HumphreyField Analiser- HFA).Roberto M.B. Teixeira *, Homero Gusmão <strong>de</strong> Almeida **, Danielle C. S. Garcia***RESUMOObjetivo: Estudar a relação entre exames <strong>de</strong> campo visual realizados pelo aparelhoHumphrey Field Analiser (HFA) e pela Perimetria <strong>de</strong> Freqüência Dobrada (FrequencyDoubling Technology - FDT) em olhos suspeitos <strong>de</strong> glaucoma e glaucomatosos.Local: Serviço <strong>de</strong> Glaucoma do Instituto <strong>de</strong> Olhos <strong>de</strong> Belo Horizonte (IOBH).Método: Exames <strong>de</strong> campo visual (HFA) <strong>de</strong> olhos glaucomatosos e suspeitos <strong>de</strong>glaucoma foram classificados pelo Glaucoma Hemifield Test (GHT) como “Glaucoma”ou “Normal”, e comparados a exames <strong>de</strong> FDT. Foram analisados os índices MeanDefect (MD), Pattern Standard Deviation (PSD) e um novo índice chamado Grau <strong>de</strong>Intensida<strong>de</strong> (GI) das alterações encontradas em cada quadrante.Resultados: O MD e o PSD do FDT <strong>de</strong> exames <strong>de</strong> HFA classificados como “Glaucoma”foram estatisticamente diferentes <strong>de</strong> exames classificados como “Normal”. Em examesclassificados como “Glaucoma” houve forte correlação entre o PSD e o GI dosexames realizados pelo HFA e pelo FDT. Em exames classificados como “Normal”houve correlação fraca entre MD, PSD , e GI do FDT e do HFA. O FDT mostrou valores<strong>de</strong> PSD e GI maiores que o HFA, em exames classificados como “Glaucoma” ou como“Normal”.Conclusões: O FDT parece <strong>de</strong>tectar <strong>de</strong>feitos característicos <strong>de</strong> glaucoma tão bemquanto o HFA, e com vantagens em relação ao tempo <strong>de</strong> exame, facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>aprendizado e necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> correção para erros refrativos. Em exames classificadoscomo “Normal”, o FDT parece <strong>de</strong>tectar alterações que o HFA não <strong>de</strong>tecta. O significado<strong>de</strong>stas alterações no estudo do glaucoma ainda <strong>de</strong>ve ser estabelecido.Palavras-Chave: Glaucoma, Campo Visual, Permetria <strong>de</strong> Freqüência Dobrada.* Doutor em <strong>Oftalmologia</strong>, Preceptor do Serviço <strong>de</strong> Glaucoma da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong>Minas Gerais, Assistente do Serviço <strong>de</strong> Glaucoma do IOBH;** Doutor em <strong>Oftalmologia</strong>, Professor Adjunto do Departamento <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong> e Otorrinolaringologia da Faculda<strong>de</strong><strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais, Chefe do Serviço <strong>de</strong> Catarata e Glaucoma do IOBH;*** Assistente do Serviço <strong>de</strong> Glaucoma do IOBH.Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 251-257.251


PERIMETRIA DE FREQÜÊNCIA DOBRADA (FREQUENCY DOUBLING TECHNOLOGY - FDT) E O CAMPO VISUAL...SUMMARYComparison between Frequency Doubling Technology (FDT)and Humphrey Field Analiser (HFA).Objective: To study the relationship between visual field exams , Humphrey Field Analizer(HFA) and Frequency Doubling Technology (FDT), in glaucoma suspects and glaucomapatients.Local: Glaucoma Service of the Instituto <strong>de</strong> Olhos <strong>de</strong> Belo Horizonte (IOBH).Method: Visual fields exams (HFA) of glaucoma suspects and glaucoma patients wereclassified by Glaucoma Hemifield Test (GHT) in “Outsi<strong>de</strong> Normal Limits” or “WithinNormal Limits”. The in<strong>de</strong>xes Mean Defect (MD) and Pattern Standard Deviation (PSD)and a new in<strong>de</strong>x , called Intensity Degree (ID), were compared in HFA and FDTexams, as classified by the GHT .Results: MD and PSD of FDT exams classified as “Outsi<strong>de</strong> Normal Limits” by GHTwere estatistically different from exams classified as “ Within Normal Limits”. In examsclassified as “Outsi<strong>de</strong> Normal Limits” there were strong correlation among PSD and GIof the FDT and HFA exams. In exams classified as “ Within Normal Limits” there wereweak correlation among MD, PSD, and GI of FDT and of HFA exams. FDT showedhigher values of PSD and GI than HFA did, in “Outsi<strong>de</strong> Normal Limits” or “Within NormalLimits” exams.Conclusions: FDT seems to <strong>de</strong>tect characteristic <strong>de</strong>fects of glaucoma (GHT “Outsi<strong>de</strong>Normal Limits”) in similar way as HFA does . FDT has some advantages such as shortduration of the exam, learning easiness and no need of refractive correction . In examsclassified as “ Within Normal Limits “, FDT seems to <strong>de</strong>tect alterations that HFA doesnot <strong>de</strong>tect. The meaning of these alterations in the study of the glaucoma should still beestablished.Key Words : Glaucoma, Visual Fields, Frequency Doubling TechnologyINTRODUÇÃOAPerimetria <strong>de</strong> Freqüência Dobrada ou“Frequency Doubling Technology” (FDT) é umamaneira alternativa <strong>de</strong> se pesquisar aocorrência <strong>de</strong> alterações do campo visual em pacientescom glaucoma (1,2).O FDT se baseia no fenômeno <strong>de</strong> “FreqüênciaDobrada” que ocorre quando um padrão <strong>de</strong> barrasescuras e claras <strong>de</strong> freqüência espacial baixa é exibidaem uma freqüência temporal alta (3). Nestas condições,a freqüência espacial é percebida como meta<strong>de</strong> dafreqüência real. Em outras palavras, barras claroescurascom alta taxa <strong>de</strong> reversão (claro torna-seescuro e vice-versa) são percebidas como barras maisfinas, com meta<strong>de</strong> da largura original.Acredita-se que o fenômeno <strong>de</strong> FreqüênciaDobrada seja modulado pelas células ganglionaresespecificas do sistema Magno-Celular (3). Estas célulasseriam lesadas precocemente em pacientesglaucomatosos (4). Portanto, o FDT seria capaz <strong>de</strong><strong>de</strong>tectar alterações <strong>de</strong> campo visual antes dacampimetria visual computadorizada com estímuloacromático, que é o padrão usual <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong> campovisual mais utilizada atualmente.Um dos aparelhos <strong>de</strong> campimetriacomputadorizada existentes é o “Humphrey FieldAnaliser” (HFA), cuja estratégia “Full Threshold” 24-2utilizamos neste estudo. O HFA incorpora um método<strong>de</strong> diagnóstico <strong>de</strong>nominado “Glaucoma Hemifield Test”(GHT), que se baseia na análise <strong>de</strong> pontos do campovisual preferencialmente lesados em pacientesglaucomatosos. O GHT compara pontos simétricosdo hemicampo superior e do hemicampo inferior, poisa lesão glaucomatosa geralmente ocorre primeiro emum só hemicampo (5,6).Dentre as classificações geradas pelo GHT sãomais úteis a <strong>de</strong>finição “Within Normal Limits”(correspon<strong>de</strong>nte a um exame <strong>de</strong> campo visual normal) eGHT “Outsi<strong>de</strong> Normal Limits”(correspon<strong>de</strong>nte a um exame<strong>de</strong> campo visual alterado, ou sugestivo <strong>de</strong> glaucoma).252Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 251-257.


PERIMETRIA DE FREQÜÊNCIA DOBRADA (FREQUENCY DOUBLING TECHNOLOGY - FDT) E O CAMPO VISUAL...Além do GHT, o HFA produz os índices “MeanDefect” (MD), que me<strong>de</strong> a perda difusa <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong>retiniana do campo visual, e “Pattern StandardDeviation”, que me<strong>de</strong> a perda localizada <strong>de</strong>sensibilida<strong>de</strong> retiniana. O FDT produz índicessemelhantes.Neste estudo, procuramos estudar ocomportamento do FDT em relação ao HFA, em examesclassificados pelo como “Normal” (Within Normal Limits)ou “Glaucoma” (“Outsi<strong>de</strong> Normal Limits”) <strong>de</strong> olhosglaucomatosos e suspeitos <strong>de</strong> glaucoma. Comparamosos índices MD, PSD, e um novo índice chamado Grau<strong>de</strong> Intensida<strong>de</strong> (GI) das alterações encontradas nospontos pesquisados em cada quadrante do campovisual pesquisados pelos dois métodos.MÉTODOSForam avaliados exames <strong>de</strong> campo visualcomputadorizado realizados pelo aparelho “HumphreyField Analiser” (HFA), programa “Full Threshold” 24-2(Humphrey Inc., Doublin, CA, USA), <strong>de</strong> pacientessuspeitos <strong>de</strong> glaucoma (Disco Óptico suspeito aoexame biomicroscópico <strong>de</strong> fundo <strong>de</strong> olho, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nteda pressão intra-ocular) e glaucomatosos (Disco Ópticocom sinais característicos <strong>de</strong> glaucoma ), conformeavaliação <strong>de</strong> examinador experiente no diagnósticobiomicroscópico <strong>de</strong> glaucoma (HGA). Os examesconsi<strong>de</strong>rados não confiáveis pelos critérios do HFAforam retirados do estudo.Os pacientes que realizaram o exame <strong>de</strong>campo visual pelo HFA também foram submetidos aoexame <strong>de</strong> Perimetria <strong>de</strong> Freqüência Dobrada , ou“Frequency Doubling Technology” (FDT) (ZeissHumphrey Systems, Dublin, CA, USA), programa “FullThreshold” 20-5.Os exames do HFA foram classificados pelo“Glaucoma Hemifield Test”, incorporado ao programado aparelho. Os exames classificados como “Normal”(Within Normal Limits”) e “Glaucoma” (“Outsi<strong>de</strong> NormalLimits”) foram selecionados para este estudo. Osexames classificados pelos <strong>de</strong>mais resultadospossíveis do GHT (“Bor<strong>de</strong>rline”, “General Reduction ofSensitivity” e “High Abnormal Sensitivity”) foramexcluídos.Os exames <strong>de</strong> FDT correspon<strong>de</strong>ntes aosexames do HFA classificados como “Normal” e“Glaucoma” foram analisados pela comparação dosíndices “Mean Defect” (MD) e “Pattern StandardDeviation” <strong>de</strong> cada exame (HFA e FDT).Cada ponto do campo visual pesquisado peloHFA é graduado conforme a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estaralterado em relação a uma população normal em 5 %,2 %, 1 % ou 0,5 %. No programa 24-2 “Full Threshold”são pesquisados 52 pontos. O FDT também classificacada área pesquisada <strong>de</strong> forma semelhante, sendo queno programa 20-5 há 17 pontos <strong>de</strong> pesquisa (Uma áreacentral e 4 áreas em cada quadrante). Neste estudonão consi<strong>de</strong>ramos a área central do FDT por não seruma área específica <strong>de</strong> alteração glaucomatosa.A cada ponto (ou área) do campo visualpesquisado pelo HFA e pelo FDT foi atribuído um valorconforme a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estar alterado em relaçãoà população normal, conforme a seguinte relação : p


PERIMETRIA DE FREQÜÊNCIA DOBRADA (FREQUENCY DOUBLING TECHNOLOGY - FDT) E O CAMPO VISUAL...Tabela IComparação entre HFA e FDT em relação ao MD <strong>de</strong> exames classificados como “Normal”e como “Glaucoma” pelo “Glaucoma Hemifield Test” (GHT)GHT NormalGHT Glaucoma( N = 129 ) ( N = 61 )Média (d.p) Média (d.p.)MD HFA -0,52 (1,34) -8,28 (6,48) p* < 0,0001MD FDT -0,77 (2,70) -5, 69 (6,05) p* < 0,0001p** = 0,347 p** = 0,024p*= nível <strong>de</strong> significância para Teste “t” não pareado, p ** = nível <strong>de</strong> significância para teste “t”pareado.HFA = “Humphrey Field Analiser”, FDT = “Flicker Doubling Technology”, MD = “Mean Defect”,PSD = “Pattern Standard Deviation”, N = Número <strong>de</strong> olhos, , d.p = <strong>de</strong>svio-padrão.Tabela IIComparação entre HFA e FDT em relação ao PSD <strong>de</strong> exames classificados como“Normal” e como “Glaucoma” pelo “Glaucoma Hemifield Test” (GHT)GHT NormalGHT Glaucoma( N = 129 ) ( N = 61 )Média (d.p) Média (d.p.)PSD HFA 1,07 (0,84) 6,80 (4,15) p* < 0,0001PSD FDT 4,50 (2,26) 7,14 (3,23) p *< 0,0001p** < 0,0001 p** = 0,614p*= nível <strong>de</strong> significância para Teste “t” não pareado, p ** = nível <strong>de</strong> significância para teste “t”pareado.HFA = “Humphrey Field Analiser”, FDT = “Flicker Doubling Technology”, MD = “Mean Defect”,PSD = “Pattern Standard Deviation”, N = Número <strong>de</strong> exames , d.p = <strong>de</strong>svio-padrão.Tabela IIICorrelação entre HFA e FDT em relação ao MD e oPSD <strong>de</strong> exames <strong>de</strong> campo visual classificados como“Normais” pelo “Glaucoma Hemifield Test”Tabela IVCorrelação entre HFA e FDT em relação ao MD e oPSD <strong>de</strong> exames <strong>de</strong> campo visual classificados como“Glaucoma” pelo “Glaucoma Hemifield Test”FDT MDFDT PSDHFA MD r = 0,30 -- p = 0,000HFA PSD -- r = - 0,10 p = 0,238r = coeficiente <strong>de</strong> correlação, p = nível <strong>de</strong> significância paracorrelação <strong>de</strong> Pearson.HFA = “Humphrey Field Analiser”, FDT = “Flicker DoublingTechnology”, MD = “Mean Defect”,PSD = “Pattern Standard Deviation”.FDT MDFDT PSDHFA MD r = 0,47 -- p = 0,000HFA PSD -- r = 0,71 p = 0,000r = coeficiente <strong>de</strong> correlação, p = nível <strong>de</strong> significância paracorrelação <strong>de</strong> Pearson.HFA = “Humphrey Field Analiser”, FDT = “Flicker DoublingTechnology”, MD = “Mean Defect”,PSD = “Pattern Standard Deviation”.254Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 251-257.


PERIMETRIA DE FREQÜÊNCIA DOBRADA (FREQUENCY DOUBLING TECHNOLOGY - FDT) E O CAMPO VISUAL...Tabela VGrau <strong>de</strong> Intensida<strong>de</strong> (GI) das Alterações encontradas pelo HFA e pelo FDT em examesclassificados como “Normal” pelo “Glaucoma Hemifield Test (GHT)”Nasal Temporal Total Nasal Temporal TotalSuperior Superior Superior Inferior Inferior InferiorHFA 0,31 % 0,25 % 0,56 % 0,75 % 0,60 % 1,35 %FDT 2,56 % 3,63 % 6,19 % 3,31 % 3,75 % 7,06 %GI = Grau <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> das alterações = Número <strong>de</strong> pontos (HFA) ou áreas (FDT) alteradas multiplicado pela intensida<strong>de</strong> daalteração ( p < 5 % = 0, p < 2 % =1, p < 1 % = 2, p < 0,5 % = 3) dividido pelo número <strong>de</strong> pontos ( 52 no HFA) ou áreas (16 no FDT)X 100.Tabela VIGrau <strong>de</strong> Intensida<strong>de</strong> (GI) das alterações encontradas pelo HFA e pelo FDT em exames <strong>de</strong> campo visualclassificados como “Glaucoma” pelo “Glaucoma Hemifield Test (GHT)”Nasal Temporal Total Nasal Temporal TotalSuperior Superior Superior Inferior Inferior InferiorHFA 35,52 % 23,77 % 59,29 % 29,10 % 21,33 % 50,43 %FDT 35,50 % 26,94 % 62,44 % 27,13 % 24,25 % 51,38 %GI = Grau <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> das alterações = Número <strong>de</strong> pontos (HFA) ou áreas (FDT) alteradas multiplicado pela intensida<strong>de</strong> daalteração ( p < 5 % = 0, p < 2 % =1, p < 1 % = 2, p < 0,5 % = 3) dividido pelo número <strong>de</strong> pontos ( 52 no HFA) ou áreas (16 no FDT)X 100.HFA = “Humphrey Field Analiser”, FDT = “Frequency Doubling Technology”.Tabela VIICorrelação entre o Grau <strong>de</strong> Intensida<strong>de</strong> (GI) das alterações encontradas pelo HFA e FDT em exames<strong>de</strong> campo visual classificados como “Normal” pelo “Glaucoma Hemifield Test “ (GHT).QNS QTS HC Sup QNI QTI HC Inf pQNS r = 0,02 --- --- --- --- --- 0,76QTS --- r = 0,01 --- --- --- --- 0,87HC Sup. --- --- r = 0,11 --- --- --- 0,19QNI --- --- --- r = 0,16 --- --- 0,06QTI --- --- --- --- r = 0,28 --- 0,001HC Inf. --- --- --- --- --- r = 0,26 0,002HFA = “Humphrey Field Analiser”, FDT = “Frequency Doubling Technology”.QNS = Quadrante Nasal Superior, QTS = Quadrante Temporal Superior, HC Sup.= Hemicampo Superior, QNI = Quadrante NasalInferior, QTI = Quadrante Temporal Inferior, HC Inf.= Hemicampo Inferior.r = coeficiente <strong>de</strong> correlação, p = nível <strong>de</strong> significância para correlação <strong>de</strong> Pearson.Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 251-257.255


PERIMETRIA DE FREQÜÊNCIA DOBRADA (FREQUENCY DOUBLING TECHNOLOGY - FDT) E O CAMPO VISUAL...Tabela VIIICorrelação entre o Grau <strong>de</strong> Intensida<strong>de</strong> (GI) das alterações encontradas pelo HFA e FDT em exames <strong>de</strong>campo visual classificados como “Glaucoma” pelo “Glaucoma Hemifield Test “ (GHT).QNS QTS HC Sup QNI QTI HC Inf pQNS r = 0,74 - - - - - 0,000QTS - r = 0,51 - - - - 0,000HC Sup. - - r = 0,67 - - - 0,000QNI - - - r = 0,67 - - 0,000QTI - - - - r = 0,58 - 0,000HC Inf. - - - - - r = 0,65 0,000HFA = “Humphrey Field Analiser”, FDT = “Frequency Doubling Technology”.QNS = Quadrante Nasal Superior, QTS = Quadrante Temporal Superior, HC Sup.= Hemicampo Superior, QNI = Quadrante NasalInferior, QTI = Quadrante Temporal Inferior, HC Inf.= Hemicampo Inferior.r = coeficiente <strong>de</strong> correlação, p = nível <strong>de</strong> significância para correlação <strong>de</strong> Pearson.DISCUSSÃONo presente estudo, procuramos analisar o HFAe o FDT <strong>de</strong> acordo com os valores <strong>de</strong> MD (diminuiçãodifusa <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> do campo visual) e PSD(diminuição localizada <strong>de</strong> campo visual), evitandocritérios classificatórios do FDT, que ainda não sãouniversalmente aceitos. Observamos que o MD e o PSDdos exames classificados como “Normal” foramestatisticamente diferentes daqueles classificadoscomo “Glaucoma”, tanto para o HFA como para o FDT(Tabela I e II). Isto, sugere que o FDT é capaz <strong>de</strong>diferenciar exames <strong>de</strong> campo visual normais daquelesexames classificados como glaucoma pelo HFA,quando utilizamos os critérios do GHT. Embora o critérioutilizado para se <strong>de</strong>finir um exame <strong>de</strong> FDT comoalterado seja variável conforme o estudo consi<strong>de</strong>rado,são relatados altas taxas <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> eespecificida<strong>de</strong> para o FDT no diagnóstico <strong>de</strong> glaucoma(1,4,8,9,10).Analisando a correlação <strong>de</strong> Person para o MDe o PSD, observamos correlação fraca entre o HFA e oFDT no grupo classificado como “Normal” pelo GHT(Tabela III) , mas correlação mais forte no grupo“Glaucoma” (Tabela IV) , principalmente quanto ao PSD( r = 0,71).Consi<strong>de</strong>rando o aspecto <strong>de</strong> triagem <strong>de</strong> casossuspeitos <strong>de</strong> glaucoma, o FDT parece ser bastante útilem relação ao HFA. Esta parece ser a melhorcaracterística do FDT: Detectar casos <strong>de</strong> glaucoma <strong>de</strong>maneira mais rápida que a campimetriacomputadorizada e com a mesma eficiência. Diversosautores citam o FDT como método i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> triagem <strong>de</strong>pacientes suspeitos <strong>de</strong> glaucoma (7,8,9,10).O MD e PSD são índices globais <strong>de</strong> análise <strong>de</strong>campo visual, ou seja, não informam sobre a localizaçãotopográfica <strong>de</strong> possíveis alterações. Para esta análiseutilizamos neste estudo o índice chamado “Grau <strong>de</strong>Intensida<strong>de</strong>” (GI) das alterações, que me<strong>de</strong> o número<strong>de</strong> pontos (ou áreas) alterados em cada quadrante doexame <strong>de</strong> campo visual , seja o HFA ou o FDT, eexpressos em porcentagem.Observamos que, em exames classificadoscomo “Normal” pelo GHT, o FDT mostrou valores <strong>de</strong>GI maiores que o HFA , em todos os quadrantes (TabelaV) . Em exames classificados como “Glaucoma” (TabelaVI), esta diferença não foi tão marcante, inclusive houvevalores <strong>de</strong> GI menores no FDT que no HFA (quadrantenasal inferior).Quando analisamos o GI através da correlação<strong>de</strong> Person (Tabela VII e VIII) , observamos correlaçãofraca entre FDT e HFA em todos os quadrantes paraexames classificados como “Normal” pelo GHT, mascorrelações bem melhores em exames classificadoscomo “Glaucoma”.O MD e o PSD do FDT foram estatisticamentesemelhantes aos valores do MD e PSD do HFA <strong>de</strong>exames classificados como “Glaucoma” e “Normal”,exceto o PSD do FDT <strong>de</strong> exames classificados como“Normal” , cujo valor da média (4,5 dB) foi bem maiorque aquele encontrado no HFA (1,07 dB) (Tabela I e II).Ou seja, quando não houve semelhança estatísticaentre os grupos quanto ao MD e PSD, o FDT mostrouvalores <strong>de</strong> perda localizada <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> campos256Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 251-257.


PERIMETRIA DE FREQÜÊNCIA DOBRADA (FREQUENCY DOUBLING TECHNOLOGY - FDT) E O CAMPO VISUAL...visuais normais maiores que os valores encontradospelo HFA. Este aspecto será discutido mais<strong>de</strong>talhadamente nos parágrafos abaixo.Para exames classificados como “Normal”,observamos que o FDT produz resultados semelhantesao HFA em relação ao valor do MD e do PSD, masmostrando valores <strong>de</strong> PSD maiores (Tabela II e V) ecorrelações bastante fracas (Tabela III e VII). Ascorrelações fracas e os valores <strong>de</strong> PSD maiores noFDT po<strong>de</strong>m sugerir que, em exames classificadoscomo “Normal”, o HFA e o FDT po<strong>de</strong>m estar <strong>de</strong>tectandoalterações diferentes <strong>de</strong> campo visual, com o FDTmostrando mais alterações que o HFA. Lembramos queos casos classificados como “Normal” pelo GHT nopresente estudo correspon<strong>de</strong>m a discos ópticosclassificados como suspeitos <strong>de</strong> glaucoma <strong>de</strong>vido aoaspecto biomicroscópico.Este aspecto em relação a exames <strong>de</strong> campovisual classificados como “Normal” , mas <strong>de</strong> olhos comdiscos ópticos suspeitos leva à discussão <strong>de</strong> outrapossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uso do FDT, que é <strong>de</strong>tectar alteraçõesprecoces <strong>de</strong> glaucoma, provavelmente relacionadas aoSistema Magnocelular. Parece que o FDT po<strong>de</strong>evi<strong>de</strong>nciar alterações <strong>de</strong> campo visual que não seriam<strong>de</strong>tectadas pelo HFA. No presente estudo, isto é maisevi<strong>de</strong>nte na Tabela V, no qual o GI <strong>de</strong> examesclassificados como “Normal” foi maior no FDT do queno HFA em todos os quadrantes. Também foi observadoque o PSD do FDT foi estatisticamente maior que oPSD do HFA em exames classificados como “Normal”( Tabela II)Concluindo, o FDT parece discriminar exames<strong>de</strong> campo visual classificados (GHT) como “Glaucoma”<strong>de</strong> exames classificados como “Normal” <strong>de</strong> modosemelhante ao HFA. Em exames classificados como“Glaucoma”, o FDT mostrou valores <strong>de</strong> PSDsemelhantes aos encontrados no FDT, com fortecorrelação, e porcentagem <strong>de</strong> alterações (GI)semelhantes. Estes achados sugerem que o FDT po<strong>de</strong>ser consi<strong>de</strong>rado um método <strong>de</strong> triagem <strong>de</strong> campo visualsemelhante ao HFA, mas com vantagens como tempo<strong>de</strong> exame e facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizado.Em exames classificados como “Normal” peloGHT, o FDT mostrou valores <strong>de</strong> MD semelhantes, masvalores <strong>de</strong> PSD maiores que o HFA. Houve fracacorrelação entre o MD , PSD e GI entre os dois exames.Estes achados sugerem que o FDT po<strong>de</strong> ser capaz <strong>de</strong><strong>de</strong>tectar alterações em exames classificados como“Normal” pelo GHT que não seriam <strong>de</strong>tectados pelo HFA,em discos ópticos suspeitos <strong>de</strong> glaucoma.Estudos posteriores <strong>de</strong>vem ser realizados paraestabelecer a importância do FDT na <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong>alterações precoces <strong>de</strong> glaucoma, mas as evidênciasatuais sugerem que o FDT é tão capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>tectar examescaracterísticos <strong>de</strong> glaucoma quanto o HFA.REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. Quigley HA. I<strong>de</strong>ntification of glaucoma-related visualfield abnormality with the screening protocol offrequency doubling technology.Am J Ophthalmol.1998 Jun;125(6):819-292. 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258Opto


Primeiros pacientes do Estadodo Rio <strong>de</strong> Janeiro tratadoscom a enzima recombinanteAgalsidase Beta (Fabrazime)Demócrito Jonathas Azevedo*, Luis Octávio D’Almeida**, Ricardo Azevedo da Silveira***, Karen Sachs***,Marcelo Alexandrino****RESUMOObjetivo: Apresentar os dois primeiros casos da Doença <strong>de</strong> Fabry do Rio <strong>de</strong>Janeiro, tratados com a Agalsidase Beta (Alfa Gal Humana Recombinante-Fabrazime).Local: Clínica Santa Helena (Hospital Auxiliar <strong>de</strong> Ensino da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong>Medicina <strong>de</strong> Campos).Resultados: Pacientes com Doença <strong>de</strong> Fabry iniciaram tratamento com a enzimarecombinante (Agalsidase Beta), e apresentaram reversão <strong>de</strong> alguns sintomasapós seis meses.Conclusão: O uso da Agalsidase Beta parece promissor na reversão <strong>de</strong> algunssintomas (dor e parestesia dos membros inferiores) da doença <strong>de</strong> Fabry.ABSTRACTFabry´s disease: First patients of the state of rio treated with agalsidase beta.Purpose: To report two cases of Fabry’s Disease.Place: Santa Helena Clinical ( Auxiliary Instruction Hospital Medical School ofCampos).Results: Patients of Fabry’s disease, started treatment with alpha galactosidasereplacement, with satisfactory results.Conclusion: The patients treated with enzime replacent, showed reversion ofsome symptoms as pain and paresthesias in the limbs.* Professor Emérito da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong> Campos E. C. B. C., F. A. C. S. e F. I. C. S;** Membro Titular da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Clínica Médica e da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Reumatologia;*** Membro Titular da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Cardiologia;**** Fellow da American Aca<strong>de</strong>my of Dermatology;***** Médico Nefrologista da Clínica Santa Helena, Cabo Frio encarregado do setor <strong>de</strong> hemodiálise.Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 259-263.259


PRIMEIROS PACIENTES DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO TRATADOS COM A ENZIMA RECOMBINANTE ....INTRODUÇÃOAdoença <strong>de</strong> Fabry é uma doença <strong>de</strong> <strong>de</strong>pósitolissômico, estando ligada ao cromossomo Xcom efeitos multissistêmicos. Sua incidênciaé estimada em 1 para cada 40.000 nascimentos.É conhecida também como “AngioceratomaCorporis Diffusum Universale” e foi <strong>de</strong>scrita pela primeiravez há pouco mais <strong>de</strong> um século por dois<strong>de</strong>rmatologistas que trabalharam in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntementeJohannes Fabry, <strong>de</strong> Dortmund (Alemanha) e WilliamAn<strong>de</strong>rson, <strong>de</strong> Londres (Inglaterra).Em 1947, Pompen e colaboradores,i<strong>de</strong>ntificaram como causa da doença <strong>de</strong>pósitosgordurosos nos vasos sangüineos. Em 1963, SweeleyKlionsky “estabeleceram como base enzimática dadoença o lipídio globotriasilceramida (Gl-3). Kint, em1970, i<strong>de</strong>ntificou a Enzima “Alfa-galactosil Hidrolase”.Em 1979, Desnick e colaboradores realizaramestudos iniciais promissores <strong>de</strong> tratamento porreposição enzimática. A terapia não foi levada adiante<strong>de</strong>vido à dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> purificação <strong>de</strong> quantida<strong>de</strong>ssuficientes <strong>de</strong> Alfa-Gal a partir <strong>de</strong> tecido humano.A agalsidase beta foi avaliada em um mo<strong>de</strong>loanimal, (o camundongo <strong>de</strong> Fabry) o qual foi <strong>de</strong>senvolvidopara estudos pré-clínicos (Wang em 1996[7] eOshima[8] em 1997). Em 1999, houve sucesso emestudos pré-clínicos <strong>de</strong> fase I/II sobre reposiçãoenzimática com agalsidase Beta (Eng e colaboradores).Em 2001, houve êxito em estudos clínicos <strong>de</strong> fase IIIcom “Agalsidase Beta” prenunciando o início da era dareposição enzimática na Doença <strong>de</strong> Fabry.REVISÃO DA LITERATURASão inúmeros os casos <strong>de</strong>scritos da Doença<strong>de</strong> Fabry na literatura mundial; na literatura nacional sóencontramos dois trabalhos publicados em 1993 porPaiva e colaboradores na Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong><strong>Oftalmologia</strong>, e em 1994, por Martins e colaboradoresdo Departamento <strong>de</strong> Neurologia da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> SãoPaulo. No primeiro, Paiva <strong>de</strong>screve dois casos da doença<strong>de</strong> Fabry chamando atenção para a presença <strong>de</strong> córneaverticilata. O diagnóstico foi feito pela dosagem <strong>de</strong>glicolipí<strong>de</strong>os, através do sedimento urinário. No tocantea outras alterações, menciona apenas queixa <strong>de</strong>câimbras nas mãos e pés <strong>de</strong> um dos pacientes. Nãomenciona exame cardiológico, nem presença <strong>de</strong>angioceratoma. O trabalho é ilustrado por fotos quemostram a pigmentação em verticílio.O trabalho do Departamento <strong>de</strong> Neurologia daU.S.P., em inglês, não menciona o anterior <strong>de</strong> Paiva,nem apresenta fotos, apesar <strong>de</strong> citar córnea verticilatae o angioceratoma nos quatro casos <strong>de</strong>scritos.Manifestações Clínicas daDoença <strong>de</strong> Fabry ClássicaManifestações Precoces (da infânciaà adolescência)• Parestesia interminente e acroparestesia - dorcrônica, com formigamento, geralmente nasextremida<strong>de</strong>s, surgindo em geral no início da infância.• “Crises <strong>de</strong> Fabry” episódios dolorosos <strong>de</strong> duraçãovariável, po<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong>saparecer ou piorar na ida<strong>de</strong>adulta. Sentidos por 80 a 90% dos pacientes.• Febre recorrente - acompanhando a dor e associadacom taxa <strong>de</strong> sedimentação <strong>de</strong> eritrócitos alta.• Angioceratomas - (Ver Figura 3). Aparecem naadolescência e agravam-se na maturida<strong>de</strong>.• Pigmentação córneana e opacida<strong>de</strong> lenticular.• Hipo ou anidrose.• Intolerância ao calor ou ao frio.• Intolerância a exercícios físicos.• Proteinúria leve e sedimento urinário contendoglobotriasilceramida (Gl-3).• Problemas digestivos - dor abdominal, diarréia,náusea e vômito.Manifestações posteriores(da adolescência à ida<strong>de</strong> adulta)• Distúrbios renais que levam à uremia e a hipertensão,progredindo para doença renal terminal.• Alterações cardiovasculares - infarto do miocárdio,hipertrofia cardíaca, anormalida<strong>de</strong>s valvulares,arritmias.• Complicações cerebrovasculares – risco <strong>de</strong> AVCprematuro, hemiplegia, hemiparesia, ataquesisquêmicos transitórios.• Complicações pulmonares - obstrução respiratória edispnéia.Hereditarieda<strong>de</strong>Pelo fato <strong>de</strong> estar ligada ao cromossomo X, aDoença <strong>de</strong> Fabry afeta predominantemente os homens.Os homens com Doença <strong>de</strong> Fabry (Hemizigotos)passam o gene anômalo para todas as filhas, mas nãopara filho homem. As portadoras (Heterozigotos), que260Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 259-263.


PRIMEIROS PACIENTES DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO TRATADOS COM A ENZIMA RECOMBINANTE ....às vezes apresentam manifestações clínicas, têm 50%<strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transmitir o gene anômalo tantopara as filhas como para os filhos.Praticamente todos os indivíduos do sexomasculino que têm o gene anômalo e <strong>de</strong>senvolvem adoença, ao passo que as pessoas do sexo femininopo<strong>de</strong>m ter a doença atenuada <strong>de</strong>vido à produção parcialda enzima, ou não apresentar manifestação clínica. Aanomalia no gene da alfa-gal é muito heterogênica e amaioria das famílias têm mutações particulares <strong>de</strong>acordo com Ashton (1999)[12] e Brown[13] (1997).Krawczak[14], mais recentemente, <strong>de</strong>screveucerca <strong>de</strong> 160 mutações do gene da alfa-gal (locos Xq22.1).A linha extensa <strong>de</strong> mutações po<strong>de</strong> explicar asvariações que surgem na apresentação clínica, porémnem sempre as correlações entre fenótipo e genótiposão exatas (Ashton-Prolla e cols. 1999[12]; Knol e cols.1999 [15]).DiagnósticoA Doença <strong>de</strong> Fabry clássica apresenta-sehabitualmente na infância, com dor, febre, hipoidrose,fadiga e intolerância a exercícios físicos, manifestaçõesprecoces (infância à adolescência) e manifestaçõesposteriores ( adolescência à ida<strong>de</strong> adulta), porém muitasvezes passa <strong>de</strong>spercebida até a ida<strong>de</strong> adulta, quandoa patologia subjacente já está adiantada (Shelley e cols.1995 [16]; Menkes e cols;1997[17]).O diagnóstico da Doença <strong>de</strong> Fabryclássica baseia-se em alguns ou em todos os itensseguintes: histórico familiar, histórico <strong>de</strong> febre nainfância associada à dores nas extremida<strong>de</strong>s, lesõesda pele características (angioceratomas),pigmentações corneanas (cór nea verticilata) epresença <strong>de</strong> células carregadas <strong>de</strong> lipídios nosedimento urinário ou nos tecidos biopsiados. Odiagnóstico é confirmado bioquimicamente pela<strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> Alfa-Gal muito baixa ouin<strong>de</strong>tectável no plasma, soro, leucócitos, lágrima ouno tecido biopsiado, utilizando-se um teste com umsubstrato sintético <strong>de</strong> Alfa-Gal e com N-Acetilgalactosamina na mistura <strong>de</strong> reação, para inibira ativida<strong>de</strong> da Alfa-N-Acetilgalactosaminidase (alfa-Galactosidase B) ( Mayes e cols., 1981) [18].Diagnóstico Pré-NatalOs Hemizigotos po<strong>de</strong>m ser i<strong>de</strong>ntificadosantes <strong>de</strong> nascer, por meio <strong>de</strong> um teste <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminação<strong>de</strong> cariótipo XY e ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiente da Alfa-Gal nasvilosida<strong>de</strong>s coriônicas (teste esse feito entre a nona e adécima semana <strong>de</strong> gravi<strong>de</strong>z ) ou em células amnióticascultivadas extraídas por amniocentese (na décima-quintasemana <strong>de</strong> gravi<strong>de</strong>z). Se a mutação familiar é conhecida,os heterozigotos po<strong>de</strong>m ser i<strong>de</strong>ntificados antes <strong>de</strong>nascer (Ashton- Prola e cols. [12]).TratamentoAté o advento da terapia <strong>de</strong> reposiçãoenzimática, a Doença <strong>de</strong> Fabry só podia ser tratada commedidas paliativas e inespecíficas, tais como analgesia,profilaxia do AVC, intervenções cardíacas, diálise renale transplante do rim. Tais medidas têm uma eficácialimitada porque não encaram a <strong>de</strong>ficiência enzimática eo conseqüente acúmulo <strong>de</strong> Gl-3 intracelular, queconstituem a manifestação principal da doença.A disponibilida<strong>de</strong> da Agalsidase Beta, a Alfa-Gal humana recombinante oferece uma importante opçãoterapêutica para os pacientes com a Doença <strong>de</strong> Fabry.A agalsidase Beta foi avaliada em váriosestudos clínicos, os quais <strong>de</strong>monstraram que otratamento com a Alfa-Gal humana recombinanteresulta em <strong>de</strong>puração substancial da GL-3 do endotéliovascular ou <strong>de</strong> outros tipos <strong>de</strong> células relevantes queexistem no rim, coração e pele, ou seja, nos principaisórgãos alvos da Doença <strong>de</strong> Fabry.RELATO DE CASOSCaso 1 - paciente <strong>de</strong> 43 anos, sexo masculino,com queixa <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência visual para perto. A acuida<strong>de</strong>visual para longe <strong>de</strong> 6/6 na escala <strong>de</strong> Snellen, e <strong>de</strong> J.3para perto sem correção.Observamos que o paciente usando bermudasapresentava e<strong>de</strong>ma dos membros inferiores.Fundoscopia e tonometria normais. A Biomicroscopiarevelou pigmentação corneana superficial (córneaverticilata). Fig 1Na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estarmos diante <strong>de</strong> umcaso <strong>de</strong> Doença <strong>de</strong> Fabry, requisitamos o históricofamiliar e encontramos um irmão do paciente, quesegundo ele, apresentava lesões na pele, e duas irmãsaparentemente sadias. Pai falecido e mãe sem sinaisou sintomas da doença.O exame cardiológico revelou pressão arterial120/80mmHg, nos membros superiores direito eesquerdo, freqüência cardíaca 64 batimentos por minuto.Sopro sistólico típico <strong>de</strong> insuficiência mitral. Pulmõese pulsos arteriais sem alterações. E<strong>de</strong>ma nos membrosinferiores, discreto.Eletrocardiograma: bloqueio <strong>de</strong> ramo direitograu I, ritmo sinusal regular, sem sobrecarga cavitária.Ecocardiograma: insuficiência mitral leve.Insuficiência aórtica mo<strong>de</strong>rada.Diminuição da distensibilida<strong>de</strong> ventricular.Função sistólica normal.Teste ergométrico: boa aptidão cardiorespiratória. Sem resposta isquêmica. Resposta normalda pressão arterial e freqüência cardíaca ao esforço.Exames laboratoriais: creatinina sérica1.8mg%, clearance <strong>de</strong> creatinina 33ml/mn e proteinúriaRev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 259-263.261


PRIMEIROS PACIENTES DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO TRATADOS COM A ENZIMA RECOMBINANTE ....Figura 1 Figura 2<strong>de</strong> 24 horas= 2.64mg, evi<strong>de</strong>nciando um grau mo<strong>de</strong>rado<strong>de</strong> insuficiência renal crônica.Caso 2 - Paciente <strong>de</strong> 41 anos, sexo masculino,com déficit visual para perto <strong>de</strong> J3, e acuida<strong>de</strong> visualpara longe <strong>de</strong> 6/6 na escala <strong>de</strong> Snellen; blomicroscopianormal sem correção; tonometria <strong>de</strong> aplanação 17.5 mgem AO – fundoscopia normal; segmento anterior do olhocom tortuosida<strong>de</strong>s dos vasos conjuntivais. Fig 2Pele e Fâneros: o paciente apresentavaangioceratomas na região glútea e porção superior dascoxas (lesão em calção <strong>de</strong> banho).Fig 3O exame histopatológico da pele revelouhiperceratose, papilomatose e acantose irregular na áreacentral do corte. A <strong>de</strong>rme papilar exibe espaçoscapilares intensamente dilatados, preenchidos porhemácias. A <strong>de</strong>rme média apresenta infiltrado mo<strong>de</strong>radoFigura 3linfo-histiocitário. Diagnóstico: Angioceratoma.O exame cardiológico evi<strong>de</strong>nciou e<strong>de</strong>ma dosmembros inferiores. Eupneico, normocorado, acianótico.Nega dor precordial, dispnéia ou palpitações. Pressãoarterial 110/70mmHg, freqüência cardíaca 64 batimentospor minuto. Sopro sistólico característico <strong>de</strong>insuficiência mitral. Eletrocardiograma apresentandoalteração <strong>de</strong> repolarização ventricular na pare<strong>de</strong>anterolateral. Ondas R amplas em precordiaisesquerdas sugestivas <strong>de</strong> hipertrofia ventricular.DISCUSSÃOO tratamento dos primeiros pacientes doestado do Rio <strong>de</strong> Janeiro só foi possível graças aolaboratório Genzime do Brasil, que forneceugratuitamente o medicamento Fabrazyme através doseu representante no Rio <strong>de</strong> Janeiro.A agalsidase Beta foi avaliada inicialmenteem 1996, em mo<strong>de</strong>lo da Doença <strong>de</strong> Fabry(camundongo <strong>de</strong> Fabry) [7]. Seguiram-se estudos dasfases I/II e finalmente estudos da fase III comsucesso (1999) [9,12], prenunciando o início da era<strong>de</strong> reposição enzimática da Doença <strong>de</strong> Fabry. Estudoclínico internacional controlado com placebo,<strong>de</strong>monstrou a eliminação do Gl-3 no endotéliovascular do rim em 69% dos pacientes tratados comAlfa Gal Humana Recombinante (agalsidase Beta).O resultado imediato foi a liberação paracomercialização na Europa, E. E. U. U., e em breveno Brasil. A administração do medicamento é feita acada 2 semanas, através <strong>de</strong> infusão venosa contínua<strong>de</strong> 15mg/hora no período <strong>de</strong> 2 horas (Fig 4 e 5).O produto é bem tolerado, com efeitoscolaterais mo<strong>de</strong>rados tais como febre e calafrios. Essasreações são em geral controladas por redução davelocida<strong>de</strong> da infusão e medicamentos sintomáticos.262Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 259-263.


PRIMEIROS PACIENTES DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO TRATADOS COM A ENZIMA RECOMBINANTE ....Figura 4Figura 5Nos dois pacientes acima <strong>de</strong>scritos, já foipossível observar a regressão <strong>de</strong> alguns sintomas,como a hipoidrose, <strong>de</strong>saparecimento da dor (fadigamuscular) e parestesias dos membros inferiores.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. An<strong>de</strong>rson W. A case of “Angeio-Keratoma”.Brit.J. Dermatol 1898;10:113-7.2. Fabry J. Ein Beitrag Zur Kenntnis Der PurpuraHaemorrhagica Nodularis (purpura papulosahemorrhagica hebrae). Arch. Dermatol. Syphilis.1898;43:187-200.3. Pompen Awm, Ruiter M., Wyers,HJG.Angiokeratoma corporis diffusum (Universale)Fabry, as sign of an unknown internal disease;two autopsy reports. Acta Med. Scand1947;128:234-55.4. Sweeley CC,Klionsky, B. Fabry’s Disease:classification as sphingolipidosis and partialcharacterization of a novel glycolipid. J. BiolChem 1963;238:31-48-50.5. Kint JA. Fabry’s Disease: alpha-galactosidase<strong>de</strong>ficiency. Science. 1970;167 (922):1268-9.6. Desnick RJ, Dean KJ, Grabowsky G, Bishop OF,Sweely,CC. Enzime Therapy in Fabry’s Disease:Differential in vivo plasma clearance andmetabolic effetiveness of plasma and splenicalpha galactosidase A isoenzymes. Proc. Natl.Acad. Sci. USA 1979;76 (10):5326-30.7. Wang AM, Ioannou YA, Zeidner KM, Gotlib RW,Dikman S, Stewart CL, Desnick RJ. Fabry’sDisease: generation of a mouse mo<strong>de</strong>l withalpha-galactosidase A Deficiency. Am J HumGenet 1996;59:A208.8. Oshima T, Murray GJ, Swaim WD, LongeneckerG, Quirk J M. Cardarelli CO, Sugimoto Y, PastanI, Gottesman MM, Brady RO, Kulkarni AB.Alpha-Galactosidase A <strong>de</strong>ficiency mice: a mo<strong>de</strong>lof Fabry’s disease. Proc. Natl. Acad Sei USA1997;94 (6):2540-4.9. Eng CM, Guffon N, Wilcox WR, Germain DP, LeepP, Wal<strong>de</strong>k S, Caplan L, Lintharst GE, DesnickRJ. Safety and eficacy of recombinant HumanAlpha Galactosidase A Replacement Therapyin Fabry’s disease. N Engl J Med 2001b:9-16.10. Paiva C, Maia Vilma, Owen J. Córnea verticiladaassociada à Doença <strong>de</strong> Fabry. Rev Brás. Oftal.1973:32:471.3.11. Martins LHM, Monteiro MLR, Barbosa ER, ScaffMilberto, Canelas HM. Fabry’s Disease in aFemale Carrier With Bilateral Thalamic Infarcts:A Case Report and A Family study. São PauloMedical Journal/RPM 1994;112:649-653.12. Ashton-Prolla P, Ashley GA, Giugliani R, PiresRF, Desnick RJ, Eng CM. Fabry’s Disease:Comparison of enzimatic, linkage, and mutationanalysis for carrier <strong>de</strong>tection in a family with anovel mutation (30 Del G). Am. J. Med Genet1999;84(5);420-4.13. Brown LK, Miller A, Bhuptani A, Sloane MFZimmer. Man MI, Shilero G, Eng MC, DesnickRJ. Pulmonary Involvement in Fabry’s Disease.Am J. Respir 1997;155:1004-10.14. Krawczack M, Bail EV, Fenton I, Stenson PD,Abeysinches, Thomas N, Cooper DN. HumanGene Mutation database Biomedical Informationand Research Resource. Hum. Mutat2000;15(1):45-51.15. Knoll IE, Ausems MG, Lindhout D, Van DiggelenOP,Verwey H, Davies J, Ploos Van Amstel JK, Poll-The BT. Different Phenotypic Expression inRelatives With Fabry Disease Caused by a W 226XMutation. Am J Med Genet 1999;82(5):436-9.16. Shelley ED, Shelley WB, Kurczynski TW. Painfulfingers, heat in Intolerance, and telangiectasiaof the ear: easily ignored childhood signs ofFabry´s disease. Pediatric Dermatol 1995;12(3):215-9.17. Menkes D. L., O’neil TJ, Saenz KK. Fabry’sdisease presenting as syncope,angiokeratomas, and spokelike cataracts in ayoung man; discussion of the differentialdiagnosis. Mil. Me 1997;162(11)773-6.18. Mayes JS, Scheerer JB, Sifers RN, DonaldsonML. Differential Assay for Lyssomal Alpha-Galactosidase in Human Tissues and it’sapplication to Fabry’s Disease. Clin Chim acta1981;112:247-51.Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 259-263.263


264Med-serv


Custo-benefício naimplantação do serviço<strong>de</strong> visão subnormaldo Instituto <strong>de</strong> Olhos do ABCDavid Tayah*; José Ricardo Carvalho Lima Reh<strong>de</strong>r**RESUMOObjetivo: Implantar e aperfeiçoar o funcionamento do ambulatório <strong>de</strong> visão subnormalno Instituto <strong>de</strong> Olhos do ABC.Métodos: Atendimento, i<strong>de</strong>ntificação, histórico, exame oftalmológico, teste com auxílios,treinamentos, custos.Resultados: Equipe multidisciplinar, material especializado e estatística.Discussão: Observou-se que cada país apresenta suas particularida<strong>de</strong>s no que serefere aos dados relacionados à cegueira e à visão subnormal.Conclusão: Conclui-se com esse trabalho a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> implantar e aperfeiçoar oserviço <strong>de</strong> visão subnormal.Descritores: Custos: materiais ópticos e não ópticos.ABSTRACTCost of treatment by the low-vision service at the ophthalmology<strong>de</strong>partament, abc school of medicinePurpose: Both to implement and to improve operation of the Subnormal Vision Ward atthe ABC Eye Institute.Methods: Service, i<strong>de</strong>ntification, <strong>de</strong>scription, ophthalmic examination, help tests, trainingcosts.Results: Multidisciplinary staff, special materials and statistics.Discussion: It is noted that each country has its particularities as to data related bothto blindness and to subnormal vision.Conclusion: With this work, we find that it is necessary to both implement and improvethe subnormal vision service.Keywords: Costs, ophthalmic and non-ophthalmic materials.*Médico colaborador da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da FUABC;**Professor Titular da Disciplina <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong> da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da FUABC;Trabalho realizado no Setor <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong> da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da Fundação Universitária do ABCRev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 265-273.265


CUSTO-BENEFÍCIO NA IMPLANTAÇÃO DO SERVIÇO DE VISÃO SUBNORMAL DO INSTITUTO DE OLHOS DO ABCINTRODUÇÃOAs necessida<strong>de</strong>s visuais <strong>de</strong> um ser humanosofrem gran<strong>de</strong>s variações que po<strong>de</strong>m serdivididas em dois planos: individual einterpessoal. Individualmente, cada momento da vidaapresenta diferentes necessida<strong>de</strong>s visuais que variam<strong>de</strong> acordo com a ida<strong>de</strong>, com as ativida<strong>de</strong>s escolares,<strong>de</strong> lazer, <strong>de</strong> vida diária, etc. No plano interpessoal, quandose comparam indivíduos, mesmo aqueles com asmesmas características <strong>de</strong>mográficas, suasnecessida<strong>de</strong>s visuais diferem em função <strong>de</strong> fatores taiscomo a ativida<strong>de</strong> profissional, o grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> eo nível socioeconômico. O indivíduo, quando inicia osseus primeiros passos e ao tornar-se um universitário,ou ainda, o lavrador e o neurocirurgião seguramente nãosão iguais quanto à expectativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho visual (1) .Para alguns autores (1,2,3) a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> visãosubnormal não está associada a um <strong>de</strong>terminado valor<strong>de</strong> acuida<strong>de</strong> visual ou <strong>de</strong> extensão do campo visual;ao contrário, seu conceito está relacionado ao<strong>de</strong>sempenho funcional do paciente. Visão subnormalseria então uma condição em que há uma diminuiçãoda capacida<strong>de</strong> visual do indivíduo (4) ou visão ina<strong>de</strong>quadapara as suas necessida<strong>de</strong>s (3) . Consi<strong>de</strong>ra-se para tal ospadrões do próprio paciente ou aqueles impostos poruma ativida<strong>de</strong> profissional, escolar ou requisito legal (1) .Para Bailey (5) , VSN é a acuida<strong>de</strong> visual subnormal ou ocampo visual anormal resultante <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m nosistema visual que não po<strong>de</strong> ser corrigida com óculosconvencionais ou por intervenções clínicas oucirúrgicas.Não existe, internacionalmente, um consensono que se refere à <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> cegueira. A OrganizaçãoTabela 1Níveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência visualDenominaçãoAcuida<strong>de</strong> visualOMS CID-9 OMS#* CID#*Visão normalVisão subnormalCegueira em um ouambos os olhos>20/25Faixa <strong>de</strong> visão normal >5/6. 6/7.5>0.8>20/25Visão quase normal >5/6. 6/7.5>0.8Deficiência visual(DV mo<strong>de</strong>rada)


CUSTO-BENEFÍCIO NA IMPLANTAÇÃO DO SERVIÇO DE VISÃO SUBNORMAL DO INSTITUTO DE OLHOS DO ABCMundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (OMS) tem compilado cerca <strong>de</strong> 65<strong>de</strong>finições <strong>de</strong> cegueira utilizadas por diversos países,com base em critérios diversos, tais como acuida<strong>de</strong>visual, campo visual, índices <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong>, capacida<strong>de</strong><strong>de</strong> realizar tarefas estabelecidas. A partir <strong>de</strong>stepanorama, a OMS padronizou os níveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiênciavisual, entre os quais se inclui a visão subnormal. Seuuso é recomendado para que possa haveruniformização em relação aos dados científicos. Outrasor<strong>de</strong>nações que possuem os mesmos princípiostambém foram criadas – po<strong>de</strong>ndo-se citar aclassificação Internacional <strong>de</strong> Doenças (CID) (9ª revisãoCID-9 e CID-9 CM, atualmente em uso). A Tabela 1compara as duas.Embora <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a época do segundo impériotenha havido preocupação com o paciente cego, osserviços voltados para a VSN no Brasil só se iniciarama partir <strong>de</strong> 1974, no Hospital Beneficência Portuguesa<strong>de</strong> São Paulo, SP e na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Minas Gerais(UFMG).Objetivando ampliar o atendimento a essapopulação, foi criado em 1995 um projeto piloto noHospital Universitário Clementino Fraga Filho(HUCFF), da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro(UFRJ). O atendimento, num primeiro momento, nãoabrangia pacientes até três anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, mas apartir <strong>de</strong> 1996 passou a ser oferecido também paraessa faixa etária.Em relação à cegueira no mundo, cada paísapresenta sua particularida<strong>de</strong>, mas, à luz do que foiproposto por Temporine (6) , a catarata é uma importantecausa da cegueira, uma vez que gera incapacida<strong>de</strong>,enquanto presente, mas se olhar sob outro aspecto,ela na realida<strong>de</strong> vem somente mascarar as reaiscausas da <strong>de</strong>ficiência que acomete essaspopulações.O interesse pelo atendimento no Brasil érecente, e é cada vez maior o número <strong>de</strong>oftalmologistas interessados no assunto. Vários são osartigos publicados sobre o treinamento e as estatísticasdos serviços já organizados (4,7,14) .Cerca <strong>de</strong> 85% dos 162,7 milhões <strong>de</strong> habitantes<strong>de</strong>ste país <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m do sistema público <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,em geral mal equipado e com <strong>de</strong>manda acima <strong>de</strong> suacapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atendimento.No caso <strong>de</strong> VSN, não existem estatísticasoficiais sobre essa condição.2. OBJETIVOSEste trabalho po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado umlevantamento analítico, <strong>de</strong>scritivo, exploratório,correlacional, não-comparativo, com abordagemquantitativa.3. MÉTODOS3.1 Obtenção <strong>de</strong> dados3.1.1 Salários da equipe multidisciplinarOs valores dos salários da equipemultidisciplinar foram obtidos junto ao Departamento<strong>de</strong> Recursos Humanos da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina doABC (FUABC).3.1.2 Custo dos equipamentosOs custos para aquisição dos equipamentosnecessários para implantação do serviço do VSN noInstituto <strong>de</strong> Olhos do ABC foram obtidos através dasprincipais empresas fornecedoras: Lighthouse,Helpmed, House of Vision, Oftalmotec.3.1.3 Custo dos insumosOs custos dos insumos necessários para aimplantação foram obtidos junto ao Departamento <strong>de</strong>Administração da FUABC.3.1.4 Custo <strong>de</strong> auxílios ópticosOs custos para aquisição dos equipamentosnecessários para implantação do serviço do VSN noInstituto <strong>de</strong> Olhos do ABC foram obtidos através dasprincipais empresas fornecedoras: Lighthouse,Helpmed, House of Vision, Oftalmotec.3.1.5 Local/FuncionáriosA sala necessária para montagem doconsultório para a implantação do serviço <strong>de</strong> visãosubnormal será obtida junto ao Instituto <strong>de</strong> Olhos doABC/FUABC, ao passo que o pessoal necessário paraas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> manutenção e limpeza será fornecidopelo Departamento <strong>de</strong> Administração da FUABC.3.1.6 Fonte <strong>de</strong> recursosOs recursos necessários para a manutençãodo serviço <strong>de</strong> visão subnormal do Instituto <strong>de</strong> Olhos doABC foram obtidos das seguintes formas:‣ Consultas particulares – referência: ValorMédio da Região‣ Consultas <strong>de</strong> pacientes do SUS – referência:Tabela <strong>de</strong> Procedimentos Médicos do Sistema Único<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (SUS) / Ministério da Saú<strong>de</strong> / 2002.‣ Consultas <strong>de</strong> pacientes conveniados:referência – Tabela da Associação Médica <strong>Brasileira</strong> /2002.3.1.7 EstatísticaForam analisados com metodologias <strong>de</strong>avaliação <strong>de</strong> projetos: ROI, ROA, Valor PresenteLíquido (VPL) e Taxa Interna <strong>de</strong> Retorno (TIR).4. RESULTADOS4.1 Custo da equipe multidisciplinarNota: O custo da equipe foi calculado com baseem 40 horas/semanais para a apuração <strong>de</strong> doze meses,Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 265-273.267


CUSTO-BENEFÍCIO NA IMPLANTAÇÃO DO SERVIÇO DE VISÃO SUBNORMAL DO INSTITUTO DE OLHOS DO ABCconsi<strong>de</strong>rando profissionais regularmente contratados eregidos pela CLTa) Médicos• 1.920 horas/ano (salário base <strong>de</strong>R$ 4.054,00 p/ mês...............................R$ 48.640,00• 13° salário......................................... R$ 4.054,00• Férias + 1/3 sobre férias ................... R$ 5.405,33• INSS (parte patronal) .........................R$ 16.734,91• FGTS................................................ R$ 4.648,59TOTAL CUSTO/ANO ...........................R$ 79.490,83b) Psicólogos• 1.920 hora/ano (salário base <strong>de</strong>R$ 2.185,00 p/ mês...............................R$ 26.220,00• 13° salário......................................... R$ 2.185,00• Férias + 1/3 sobre férias ................... R$ 2.913,00• INSS (parte patronal) ........................ R$ 9.019,58• FGTS................................................ R$ 2.505,44TOTAL CUSTO/ANO ...........................R$ 42.843,02c) Terapeuta ocupacional• 1.440 hora/ano (salário base <strong>de</strong>R$ 1.338,39 p/ mês...............................R$ 16.060,68• 13° salário......................................... R$ 1.338,38• Férias + 1/3 sobre férias ................... R$ 1.784,52• INSS (parte patronal) ........................ R$ 5.524,87• FGTS................................................ R$ 1.534,68TOTAL CUSTO/ANO ...........................R$ 26.243,13d) Pedagogo especializado em educação especial(psicopedagogo)• 1.440 horas/ano (salário base <strong>de</strong>R$ 1.338,39 p/ mês...............................R$ 16.060,68• 13° salário......................................... R$ 1.338,38• Férias + 1/3 sobre férias . ................. R$ 1.784,52• INSS (parte patronal) ........................ R$ 5.524,87• FGTS................................................ R$ 1.534,68TOTAL CUSTO/ANO ...........................R$ 20.243,13Custo total da equipe multidisciplinar,com base nos valores acima ............R$ 174.820,114.2 Custo do Material ÓpticoA Tabela 2 mostra o custo do material óptico.4.3 Fontes <strong>de</strong> Recursos• Consultas particulares – R$ 50,00• Consultas do SUS – R$ 2,55• Teste adaptação VSN – R$ 12,34. (Tabela doMinistério da Saú<strong>de</strong>)• Consultas <strong>de</strong> convênios – R$ 39,00 (Tabelada Associação Médica <strong>Brasileira</strong>).4.4 Investimento4.4.1 Investimento inicialHaverá um investimento inicial em equipamentono valor <strong>de</strong> R$ 101.897,00. Consi<strong>de</strong>rando a vida útil <strong>de</strong>cinco anos para estes materiais, a <strong>de</strong>preciação mensalé <strong>de</strong> R$ 1.401,83.4.4.2 Recursos humanosO Quadro 1 mostra os valores mensais e anuaisreferentes aos custos <strong>de</strong> recursos humanos.O Gráfico 1 mostra a <strong>de</strong>spesa anual <strong>de</strong> recursoshumanos.4.5 ReceitaO Quadro 2 mostra o número <strong>de</strong> consultas ereceitas mensal e anual.O Gráfico 2 mostra a distribuição percentualpor tipo <strong>de</strong> consulta.O Gráfico 3 mostra a distribuição da receitasegundo a fonte.4.6 Balanço AnualO quadro 4 mostra os valores financeiros anuais.No primeiro ano <strong>de</strong> existência <strong>de</strong>vem sercaptados recursos da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> R$ 101.897,00.O quadro 1 mostra o total do investimento anualinicial em recursos humanos no valor <strong>de</strong> R$ 174.820,00,e o quadro 4 mostra o investimento em materialpermanente no valor <strong>de</strong> R$ 101.897,00. Esteinvestimento inicial em material permanente,consi<strong>de</strong>rando uma vida útil <strong>de</strong> cinco anos, po<strong>de</strong>rá serrenovado se for reservado, mensalmente, um valorequivalente a R$ 1.698,28. Assim, no primeiro ano, estareserva <strong>de</strong>ve chegar a R$ 20.379,36.O quadro 2 e o gráfico 2 mostram o valor dareceita <strong>de</strong> um ano, consi<strong>de</strong>rando 20% <strong>de</strong> consultasparticulares, 20% por convênios e 60% pelo SUS. Appreço cobrado por consulta, a receita anual <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>R$ 38.496,96. A <strong>de</strong>spesa anual com recursos humanos<strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong> R$ 174.820,11, conforme indica o quadro 4.Portanto, no primeiro ano, haverá um déficit <strong>de</strong>R$ 136.323,15. Levando em conta os valores <strong>de</strong> receitaestabelecidos, <strong>de</strong>verá a FUABC conseguir recursosextras para viabilizar a implantação do Serviço <strong>de</strong> VisãoSubnormal.268Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 265-273.


CUSTO-BENEFÍCIO NA IMPLANTAÇÃO DO SERVIÇO DE VISÃO SUBNORMAL DO INSTITUTO DE OLHOS DO ABCTabela 2PRODUTOLiteratura, manuais, ví<strong>de</strong>os..................................Literatura, manuais, ví<strong>de</strong>os..................................TOTAL ...............................................................Lupa <strong>de</strong> encaixe – pequena – 3x / 4,5x / 9x ..........Lupa <strong>de</strong> encaixe – pequena – 3x / 6x ....................Lupa <strong>de</strong> encaixe – pequena – 10x ........................Lupa <strong>de</strong> encaixe – pequena – 8x ..........................Lupa estudante – 5x ............................................Lupa especial – relojoeiro – 10x ..........................Lupa especial – relojoeiro – 3x ............................Lupa especial – relojoeiro – 5x ............................Lupa especial – relojoeiro – 7x ............................Lupa especial com ventilação – 15x ....................Acessórios p/ lupas <strong>de</strong> precisão ..........................Escala para lupa <strong>de</strong> precisão ................................Lupa <strong>de</strong> apoio especial p/ relojoeiro – 8x ............Lupa da precisão com escala – 10x......................Lupa <strong>de</strong> precisão com escala – 7x ........................Lupa <strong>de</strong> mão – 6x ................................................Microscópio <strong>de</strong> precisão – 20x ...........................Microscópio <strong>de</strong> precisão – 40x ...........................Microlupa com iluminação ..................................Lupa <strong>de</strong> precisão – dobrável – 10x ......................Lupa <strong>de</strong> precisão – dobrável – 12x ......................Lupa <strong>de</strong> precisão – dobrável – 6x ........................Lupa <strong>de</strong> precisão – dobrável – 8x ........................Lupa <strong>de</strong> precisão – dobrável – 5x ........................Lupa <strong>de</strong> precisão – dobrável – 10x ......................Lupa <strong>de</strong> precisão – dobrável – 15x ......................Lupa <strong>de</strong> precisão – dobrável – 20x ......................Lupa <strong>de</strong> precisão – dobrável – 10x ......................Lupa <strong>de</strong> precisão – dobrável – 10x ......................Lupa <strong>de</strong> precisão – dobrável – 20x ......................Lupa <strong>de</strong> precisão – dobrável – 9x ........................Lupa <strong>de</strong> precisão – dobrável – 4x + 6x = 10x ......Lupa “Pedra” – diâmetro 6,5 cm – 1,8x ..............Makro-plus “Pedra” Aspheric – 1,8x .................Makro-plus “Pedra” Aspheric – 2,2x .................Display Mobilux – Led/far..................................Estojo para Mobilux ............................................Mobilux – 10x .....................................................Mobilux – 12,5x ..................................................Mobilux – 3x .......................................................Mobilux Far – 3,2x / 2,5x ....................................Mobilux – 3,5x ....................................................Mobilux – 4x .......................................................Mobilux – 5x .......................................................Mobilux – 7x .......................................................Mobilux – led – 7x...............................................Display Mobilux .................................................Bino-Lux – 10 dpt./3,5x ......................................Bino-Lux – 14 dpt./4,5x ......................................Bino-Lux – 6 dpt./2,5x ........................................Escala para System Vario ....................................System Vario Plus – 10x......................................System Vario Plus – 7x ........................................VALOR (R$)115,00192,00197,0055,0055,0084,0085,00149,0050,0038,0042,0045,0077,00100,0089,0071,00349,00313,00140,00379,00448,00241,00136,00144,00128,00132,00142,00132,00144,00148,00140,00231,00290,00262,00200,00200,00222,00259,001.594,0022,00110,00139,00110,00353,00149,00200,00132,0097,00156,001.275,00410,00449,00372,0024,00195,00189,00PRODUTOSystem Vario Plus – 6x ........................................System Vario Plus – 5x ........................................System Vario Plus – 4x ........................................Economy – apoio – 2,3x......................................System Vario Plus – 12,5x...................................System Vario Plus – 3x ........................................Economy/mão – 6x ..............................................Display – Economy (6 x 1571) – 6x ...................Economy/mão – 3,5x ...........................................Economy/mão – 2,5x / 5x ....................................Economy/mão – 2,5x ...........................................Economy/apoio – 2,5x .........................................System Vario Plus – 3x ........................................System Vario Plus – 2,8x .....................................Vario SL c/linha extra ilum. – 3,9x/220V..............Ma<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> apoio para leitura..............................Régua para ma<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> apoio ...............................Lente <strong>de</strong> encaixe para perto - 10 dpt ...................Lente <strong>de</strong> encaixe para perto – 12 dpt ..................Lente <strong>de</strong> encaixe para perto – 16 dpt ..................Lente <strong>de</strong> encaixe para perto – 3 dpt ....................Lente <strong>de</strong> encaixe para perto – 4 dpt ....................Lente <strong>de</strong> encaixe para perto – 5 dpt ....................Lente <strong>de</strong> encaixe para perto – 6 dpt ....................Lente <strong>de</strong> encaixe para perto – 8 dpt ....................Caixa <strong>de</strong> prova p/ Kepler-Galilei – 3x .................Tele-lupa – Galilei System – 3x...........................Tele-lupa – Galilei System – 4x...........................Tele-Med – 3x .....................................................Tele-Med – 4x .....................................................Tele-Med – 3x .....................................................Rido-Med – 2,5x .................................................Rido-Med – 3x ....................................................Rido-Med – 4x ....................................................Lente bino – 2x ....................................................Lente bino – 2,5x .................................................Lente bino – 3x ....................................................Lente mono – 4x ..................................................Lente bino – 1,7x .................................................Lente mono – 7x ..................................................Caixa Labo-Clip / Labo-Med...............................Labo-Comfort – 1,7x ...........................................Labo-Comfort – 2,0x ...........................................Labo-Comfort – 2,5x ...........................................Labo-Comfort – 3,0x ...........................................Caixa <strong>de</strong> prova – Aplanatic Comfort...................Aplanatic Comfort – 3x.......................................Aplanatic Comfort – 4x.......................................Aplanatic Comfort – 5x.......................................Aplanatic Comfort – 6x.......................................Aplanatic Comfort – 7x.......................................Aplanatic Comfort – 8x.......................................TV-Rea<strong>de</strong>r Elg-03 220V – 5x / 70x......................Vi<strong>de</strong>olupa aumento <strong>de</strong>p. tam. tela TV – 9x até 17,5xCaixa <strong>de</strong> prova / óculos <strong>de</strong> proteção ....................Óculos <strong>de</strong> proteção 450 amarelo .........................Óculos <strong>de</strong> proteção 511 âmbar ............................VALOR (R$)370,00343,00391,00253,00425,00386,0055,00330,0065,0088,00112,0095,00233,00299,00587,00200,0085,00191,00191,00191,00191,00191,00191,00191,00191,003.740,00575,00671,00935,001.124,00617,00876,001.071,001.125,00115,00115,00115,0092,00115,0092,001.028,00286,00286,00286,00286,005.101,001.276,001.276,001.276,001.276,001.276,001.276,004.496,001.347,001.970,00241,00344,00Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 265-273.269


CUSTO-BENEFÍCIO NA IMPLANTAÇÃO DO SERVIÇO DE VISÃO SUBNORMAL DO INSTITUTO DE OLHOS DO ABCTabela 2 (continuação)PRODUTO VALOR (R$) PRODUTO VALOR (R$)Óculos <strong>de</strong> proteção 527 laranja ...........................Telelupa Kepler – 3,1 x 9 ....................................Telelupa Kepler – 2,8 x 9 ....................................Telelupa Kepler – 4,2 x 10 ..................................Telelupa Kepler – 4,2 x 12 ..................................Telelupa Kepler – 6,0 x 17 ..................................Vario-Plus - 8x / 3x / 25x......................................Vario-Plus – 8x / 3x / 25x.....................................Óculos prismáticos..............................................Óculos prismáticos..............................................Óculos prismáticos..............................................Óculos prismáticos..............................................Estojo ..................................................................Armação (Titano) p/ tele-lupa Galilei .................Caixa <strong>de</strong> prova p/ VSN........................................Mobilent – vermelho – 4x ...................................Mobilent – antrazit – 7x......................................Mobilent – branco – 10x .....................................Designo – 5x........................................................Display Mobilent................................................Economy – ver<strong>de</strong> – 3,5x ......................................Economy – marrom – 3,5x ..................................Economy – vermelho – couro – 3,5x ...................Economy – preto – couro – 3,5x .........................Classic – vinho – couro – 6x................................Classic – vinho – couro – 3,5x.............................Classic – vinho – couro – 3,5x.............................Classic – ver<strong>de</strong> – couro – 3,5x .............................Classic – marrom – couro – 3,5x .........................Classic – preto – couro – 3,5x .............................Classic – vermelho – couro – 3,5x .......................Classic – preto – couro – 3,5x .............................Classsic – bronze – couro – 3,5x .........................Creation Royal – bordô – couro – 3,5x ...............Creation Royal – royal ver<strong>de</strong> – couro – 3,5x.......Creation Royal – preto – couro – 3,5x................Display Maxi Plus ..............................................Estojo para Combi Plus.......................................Estojo para Combi Plus.......................................Estojo para Combi Plus.......................................Combi Plus – 2,8x ...............................................Combi Plus – 2,8x ...............................................Combi Plus – 3,5x ...............................................Combi Plus – 2,8x ...............................................Viso Flex – 2,5x ...................................................Viso Lux com iluminação – 3,8x / 5,6x.................Viso Lux com iluminação – 2,8 x / 4,6x................Superlite set – 220V............................................Lupa para diminuir – 0,7x ...................................Lupa <strong>de</strong> mão <strong>de</strong>corativa – 2x ...............................Lupa <strong>de</strong> mão <strong>de</strong>corativa – 2,5x............................Aplanatic – 3,8x ..................................................Aplanatic – 2,9x ..................................................Aplanatic – 2,8x ..................................................Aplanatic – 2,4x ..................................................Aplanatic – 2,7x ..................................................241,001.115,001.115.001.212,001.115,001.212,001.115,001.308,00909,00773,00773,00909,00143,00531,0011.032,0059,0071,0083,0067,00639,0068,0068,0096,0096,0049,0060,0064,0060,0064,0060,0073,0074,0068,0089,0089,00890,00401,0056,0058,0061,00200,00282,00181,00200,0092,00673,00560,00326,00201,00191,00191,00191,00207,00236,00246,00303,00Estojo p/ 2605 ..................................................... 18,00Régua <strong>de</strong> leitura – 15,0 cm – 1,8x........................ 51,00Régua <strong>de</strong> leitura – 25,0 cm – 1,8x........................ 73,00Régua <strong>de</strong> leitura – 12,5 cm – 2x ........................... 119,00Régua <strong>de</strong> leitura – 25,0 cm – 1,8x........................ 192,00Display – lupas <strong>de</strong> mão....................................... 527,00Lupas <strong>de</strong> mão + lente <strong>de</strong> 5x – 6 pçs. – 3,25x....... 122,00Lupas <strong>de</strong> mão + lente <strong>de</strong> 5x – 6 pçs. – 2,5x......... 232,00Lupas <strong>de</strong> mão + lente <strong>de</strong> 5x – 6 pçs. – 2,25x....... 305,00Lupas <strong>de</strong> mão + lente <strong>de</strong> 5x – 6 pçs. – 1,5x......... 176,00Display Visomed ................................................. 1.115,00Visomed – 2x ....................................................... 112,00Visomed – 3x ....................................................... 69,00Visomed – 2,5x .................................................... 92,00Lupa redonda <strong>de</strong> apoio – 6x ................................ 132,00Lupa redonda <strong>de</strong> apoio – 10x .............................. 130,00Lupa redonda <strong>de</strong> apoio – 12,5x ........................... 140,00Bino Plus – 2,5x .................................................. 282,00Viso Lux sem iluminação – 3,8x / 5,6x ................. 362,00Viso Lux sem iluminação – 2,8x / 4,6x ................. 262,00Economic (com lente <strong>de</strong> 5x) – 2,5x ...................... 152,00Economic (com lente <strong>de</strong> 5x) – 2x ......................... 172,00Economic (com lente <strong>de</strong> 5x) – 3x ......................... 92,00Economic (com lente <strong>de</strong> 5x) – 2,5x ...................... 99,00Aspheric II – 3x................................................... 195,00Aspheric II – 2,8x................................................ 201,00Aspheric II – 6x................................................... 118,00Aspheric II – 5x................................................... 140,00Aspheric II – 3x................................................... 146,00Aspheric II – 4x................................................... 160,00Aspheric II – 3,5x................................................ 181,00Bino Comfort – 3,5x............................................ 181,00Bino Comfort – 4,5x............................................ 199,00Bino Comfort – 2,5x............................................ 138,00Display Mediplan ............................................... 1.601,00Mediplan – 4,5x .................................................. 166,00Mediplan – 3,8x .................................................. 154,00Mediplan – 2,8x .................................................. 181,00Mediplan – 2,7x .................................................. 199,00Economy – pescoço – 2x..................................... 99,00Maxi Plus – 2x / 4x .............................................. 200,00Lupa <strong>de</strong> mesa com pé – 3,8x ............................... 337,00Lupa <strong>de</strong> mesa com pé – 2,5x / 5x......................... 303,00Vario Max – 1,75x ............................................... 2.019,00Acessório para Vario Max ................................... 171,00Lente para Vario – 1,9x........................................ 282,00Proteção para lente <strong>de</strong> Vario................................ 88,00Vario – 1,9x.......................................................... 1.122,00Vario com lente adicional – 1,9x / 2,8x................. 1.345,00Lupa <strong>de</strong> mesa com pé – 2x .................................. 483,00Lente para Vario e Vario Maxi – 2x ..................... 212,00Caixa <strong>de</strong> prova – réguas <strong>de</strong> leitura, lupas, pedras 2.080,00Estojo para lupa (cód. 2855150) ......................... 32,00Display Mini Frame............................................ 634,00Monocular dobrável ............................................ 248,00TOTAL ............................................................... R$101.897,00270Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 265-273.


CUSTO-BENEFÍCIO NA IMPLANTAÇÃO DO SERVIÇO DE VISÃO SUBNORMAL DO INSTITUTO DE OLHOS DO ABCQuadro 1Custos mensais e anuais <strong>de</strong> recursos humanosGráfico 1Despesa anual com recursos humanosRecursos Despesa DespesaHumanos Mensal (R$) Anual (R$)Médico 6.624,23 79.490,83Psicólogo 3.570,29 42.843,83Terapeuta ocupacional 2.085,21 26.243,13Psicopedagogo 2.085,21 26.243,13TOTAL 14.364,94 174.820,11Quadro 2Consultas e ReceitasOrigem Valor % <strong>de</strong> Consultas Receita Receitaunitário (R$) atendim. por mês mensal (R$) anual (R$)Particular 50,00 20 24 1.200,00 14.400,00Convênio 39,00 20 24 936,00 11.232,00SUS + teste adaptação 14,89 60 72 1.072,08 12.864,96TOTAL 100 120 3.208,08 38.496,96Gráfico 2Distribuição porcentual por tipo <strong>de</strong> consultaGráfico 3Distribuição da receita segundo a fonteRev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 265-273.271


CUSTO-BENEFÍCIO NA IMPLANTAÇÃO DO SERVIÇO DE VISÃO SUBNORMAL DO INSTITUTO DE OLHOS DO ABC5. DISCUSSÃOQuadro 3Valores financeiros anuaisApuração (sintética) anual <strong>de</strong> resultadoRECEITAS ................................................ R$ 38.496,95DESPESAS OPERACIONAISDespesas com pessoal ......... R$127.792,49Encargos sociais ...................R$ 36.804,23FGTS .................................. R$ 10.223,39Depreciação ........................ R$ 16.821,96 R$ 191.642,07Déficit ........................................................ R$ 153.145,02Resultado (s/ <strong>de</strong>preciação) ......................... R$ 136.323,15Muitas têm sido as iniciativas para buscar amelhoria da condição visual das populações <strong>de</strong> paísesem <strong>de</strong>senvolvimento, seja atuando no nível primário<strong>de</strong> prevenção (melhorar as condições gerais <strong>de</strong> vidados indivíduos e comunida<strong>de</strong>s), seja prestandoatendimento oftalmológico específico. Nesse últimocaso, a principal ação tem sido voltada para otratamento em massa da catarata. Campanhas comequipes itinerantes ou hospitais <strong>de</strong> campo sãocomuns, no enten<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Alley (15) e Lim (16) . Entretanto,geram complicações cirúrgicas em níveis por vezesinaceitáveis, <strong>de</strong>vido a sua precarieda<strong>de</strong> e carátertemporário, além <strong>de</strong> nem sempre conseguirem motivarsatisfatoriamente a população para que se submetaao procedimento.É importante lembrar que as criançasrepresentam apenas cerca <strong>de</strong> 5% do total <strong>de</strong> pessoasportadoras com baixa visão em países <strong>de</strong>senvolvidos.Entretanto, se fossem avaliadas em função dos “anos<strong>de</strong> vida”, as crianças passariam a representar cerca <strong>de</strong>20% da população <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficientes visuais, segundo aOMS, em 1994.Em relação aos pacientes adultos, em paísescom maior expectativa <strong>de</strong> vida e baixas taxas <strong>de</strong>natalida<strong>de</strong>, as patologias relacionadas aoenvelhecimento assumem gran<strong>de</strong> importância, noenten<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Langlois (17) . As pesquisas <strong>de</strong> Swagerty (18)confirmam que a visão subnormal situa-se atrásapenas <strong>de</strong> artrite e das doenças cardíacas, comoetiologia <strong>de</strong> impotência funcional em indivíduos acima<strong>de</strong> 70 anos.No que se refere ao predomínio <strong>de</strong> homensaté os 60 anos, po<strong>de</strong>-se atribuir a maior pressão domercado <strong>de</strong> trabalho, fazendo com que pacientes dosexo masculino procurem o atendimento e assim sejafeito um diagnóstico. Ocorre, ainda, que estespacientes apresentam maior número <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>trabalho e <strong>de</strong> trânsito. Até os quatro anos, o pequenonúmero <strong>de</strong> registros po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>vido a não existência<strong>de</strong> serviços especializados ou <strong>de</strong> profissionaisqualificados para a avaliação e o diagnóstico dacondição visual. Associam-se a isto as múltiplas<strong>de</strong>ficiências que, num atendimento não-integrado<strong>de</strong>stes pacientes, sobrepujam a importância da<strong>de</strong>ficiência visual, segundo as conclusões <strong>de</strong>Carvalho (19) .Cerca <strong>de</strong> 85% da população brasileira <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>do sistema público <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, um sistema que, comose sabe, é mal equipado, com <strong>de</strong>manda acima <strong>de</strong> suacapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atendimento e com graves <strong>de</strong>fasagens<strong>de</strong> salário e <strong>de</strong> infra-estrutura. Já a parcela da socieda<strong>de</strong>que possui po<strong>de</strong>r aquisitivo para arcar integralmentecom o ônus dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> é muito pequena –cerca <strong>de</strong> 5% da população.Por isso, torna-se necessário o<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> pesquisas e projetos que busquemoferecer programas para um atendimento público, porém,<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, para pacientes <strong>de</strong> VSN, como são ospacientes do gran<strong>de</strong> ABC.Enten<strong>de</strong>-se, <strong>de</strong>sse modo, ser uma preocupaçãomundial o cuidado no atendimento e tratamento dospacientes portadores <strong>de</strong> VSN. Entretanto, enten<strong>de</strong>-setambém que cada região <strong>de</strong>verá conhecer seus própriosproblemas e, assim, atuar sobre eles a fim <strong>de</strong> solucionálos.Comparando-se a nossa realida<strong>de</strong> com arealida<strong>de</strong> <strong>de</strong> outros países, observa-se que é nossaresponsabilida<strong>de</strong> e obrigação estudar as causas da VSNe apresentar projetos <strong>de</strong> programas específicos <strong>de</strong>atendimento que venham a beneficiar efetivamenteesses pacientes.Consi<strong>de</strong>ra-se, portanto, que as gran<strong>de</strong>socorrências <strong>de</strong> pacientes portadores <strong>de</strong> VSN em regiõescomo as do gran<strong>de</strong> ABC seriam beneficiados com aimplantação <strong>de</strong> um serviço <strong>de</strong> atendimento parapacientes <strong>de</strong> VSN para pessoas <strong>de</strong> baixa renda, atuandocomo centro <strong>de</strong> referência para a região do ABCpaulista.Espera-se que este trabalho tenha contribuídopara a reflexão sobre a importância do incentivo àorganização e à implantação <strong>de</strong> programasespecíficos para o atendimento a pacientesportadores <strong>de</strong> VSN em hospitais e clínicas do setorpúblico.Observa-se, neste trabalho, que a FUABC/Instituto <strong>de</strong> Olhos terá que fazer um gran<strong>de</strong> investimentopara a implantação <strong>de</strong>sse serviço que, certamente, traráum benefício social bastante significativo para apopulação da região do gran<strong>de</strong> ABC.272Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 265-273.


CUSTO-BENEFÍCIO NA IMPLANTAÇÃO DO SERVIÇO DE VISÃO SUBNORMAL DO INSTITUTO DE OLHOS DO ABC6. RECOMENDAÇÕES• Com este trabalho, evi<strong>de</strong>nciou-se anecessida<strong>de</strong> da implantação e aperfeiçoamento dosserviços <strong>de</strong> visão subnormal.• Com este trabalho mostrou-se a necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> dimensionar a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> atendimento e <strong>de</strong> mobilizaçãodo gran<strong>de</strong> ABC.• É cada vez mais importante a divulgaçãodos resultados <strong>de</strong> estudos relacionados a VSN paraque novos serviços sejam implantados.• Campanhas <strong>de</strong> conscientização junto acrianças, jovens, adultos, pais e professores po<strong>de</strong>rãoi<strong>de</strong>ntificar mais precocemente problemas <strong>de</strong> visãosubnormal.• Palestras e exposições apresentadas porprofissionais habilitados complementam a ativida<strong>de</strong>preventiva com o objetivo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar problemas <strong>de</strong>visão subnormal.7. CONCLUSÃO• Este trabalho mostra que, para aimplantação do Serviço <strong>de</strong> Visão Subnormal naFaculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina do ABC, haverá necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> disponibilizar recursos da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> R$110.468,19.• Mostra também que, embora o montante aser disponibilizado para implantação do Serviço <strong>de</strong> VisãoSubnormal seja bastante alto, trará um benefício socialsignificativo à população da região do gran<strong>de</strong> ABC.• Mostra ainda que, embora o montante a serdisponibilizado para implantação do Serviço <strong>de</strong> VisãoSubnormal seja bastante alto, trará um benefício socialsignificativo à população da região do gran<strong>de</strong> ABC.• Termina mostrando que a implantação eaperfeiçoamento <strong>de</strong> um Serviço <strong>de</strong> Visão Subnormalna Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina do ABC só po<strong>de</strong>rá ocorrercom recursos obtidos através <strong>de</strong> parcerias com ogoverno e o empresariado.En<strong>de</strong>reço para correspondência:Dr. David TayahRua Diogo <strong>de</strong> Farias, 1201 - apartamento 181Vila Clementino - CEP 040034-00 – São Paulo – SPE-mail: davidtayah@ig.com.br8. 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Artigo <strong>de</strong> RevisãoEpi<strong>de</strong>miologia parao oftalmologista (1ª parte)Marinho Jorge Scarpi*Se 35 pacientes atendidos pelo Dr. Raimundocontraem ceratoconjuntivite epidêmica <strong>de</strong>ntroda semana seguinte a consulta, provavelmenteo consultório do Dr. Raimundo é a fonte <strong>de</strong> infecção. Noentanto, esta associação não é igual a causa e efeito.Durante este mês <strong>de</strong> verão estes pacientesprovavelmente freqüentaram a única piscina, do únicoclube, daquela pequena cida<strong>de</strong> do interior do Piauí eforam procurar o Dr. Raimundo porque é o únicooftalmologista num raio <strong>de</strong> 100 km. Para oepi<strong>de</strong>miologista acertar qual a provável fonte <strong>de</strong>infecção, ele <strong>de</strong>ve medir a força <strong>de</strong> associação entre o<strong>de</strong>senvolvimento da doença e as duas exposições:consultório do Dr. Raimundo e piscina do clube. Elefará uma observação <strong>de</strong> tudo que envolve a doença,fará um estudo observacional.Epi<strong>de</strong>miologia é o estudo da ocorrência, dadistribuição, dos <strong>de</strong>terminantes e do controle do estado dasaú<strong>de</strong> e da doença em populações humanas e da aplicação<strong>de</strong>ste estudo para o controle do problema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.Durante séculos, o termo epi<strong>de</strong>miologia referiaseapenas aos estudos das epi<strong>de</strong>mias <strong>de</strong> doençastransmissíveis. Há poucas décadas ela vem tomandoo caráter <strong>de</strong> uma disciplina muito abrangente, abarcandonão apenas as doenças infecciosas, mas também asenfermida<strong>de</strong>s carenciais, as crônico-<strong>de</strong>generativas;aspectos da administração dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>;questões ambientais, nutricionais, sociais e outras. Apesquisa epi<strong>de</strong>miológica mo<strong>de</strong>rna trata <strong>de</strong> problemascientíficos e administrativos em praticamente todas asáreas da Medicina.O trabalho do epi<strong>de</strong>miologista envolve aenumeração <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> doenças e <strong>de</strong> fenômenosrelacionados à saú<strong>de</strong>, o que torna a epi<strong>de</strong>miologia umadisciplina quantitativa.1. Instrumentos <strong>de</strong> medidasO dimensionamento do problema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,importante para o planejamento da intervenção nacomunida<strong>de</strong>, é atingido através do uso <strong>de</strong> instrumentos<strong>de</strong> medidas. Além do mais elevado grau <strong>de</strong> informaçãosobre a doença a ser pesquisada, para escolher oinstrumento que melhor se a<strong>de</strong>quará a um projeto <strong>de</strong>investigação é necessário, também, conhecer a suaevolução histórica, o que permitirá uma análise crítica,contribuindo para o <strong>de</strong>spertar da criativida<strong>de</strong> doinvestigador na sua utilização e no <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> novas ferramentas epi<strong>de</strong>miológicas.1.1. Definição do “caso”Um jovem pesquisador da área <strong>de</strong> glaucomaestabelece que o foco da sua investigação é agonioscopia. Ao tentar discutir os seus resultados comos <strong>de</strong> outros investigadores se <strong>de</strong>para com 3 métodosdiferentes:Uma das investigações usou a graduaçãoestabelecida por Scheie que diz:Grau IV – quando nenhuma estrutura posteriorà linha <strong>de</strong> Schwalbe é visível;Grau III – meta<strong>de</strong> posterior da malha trabecularestá escondida;Grau II – toda a malha trabecular está visível,mas é impossível ver a porção ciliar do ângulo;Grau I – a última ondulação da íris obscureceparte da porção ciliar e todo o ângulo está visível.A outra investigação usou a graduação <strong>de</strong>Schaffer para a gonioscopia, aon<strong>de</strong> os graus vão <strong>de</strong> 4a zero, sendo o “4” o com risco <strong>de</strong> fechamentoimpossível, e o “zero” aquele com ângulo fechado.* Professor Livre-docente e Adjunto do Departamento <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong> – UNIFESP/EPM274Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 274-288.


EPIDEMIOLOGIA PARA O OFTALMOLOGISTAUtilizando a medida do ângulo da câmara anterior (<strong>de</strong>45° a 0°) como indicador <strong>de</strong>stes graus.No terceiro, o método usado foi a graduação<strong>de</strong> Spaeth, que gradua separadamente 3 aspectosanatômicos do ângulo, baseando-se no nível <strong>de</strong> inserçãoda íris (<strong>de</strong> “A” a “E”), na abertura angular e naconfiguração da íris (“s”, “r”, “q”).Apesar dos objetivos dos 3 esquemas <strong>de</strong>graduação usados pelos outros investigadores, para oexame gonioscópico, serem o mesmo, auxiliar nodiagnóstico, há pouca interação entre os indicadorespara a graduação entre estes sistemas. A interpretaçãodo jovem pesquisador para discutir os seus resultadosem relação a estes 3 outros po<strong>de</strong> ser ina<strong>de</strong>quada,prejudicando o estudo pela falta <strong>de</strong> padronizaçãouniversal.Outro exemplo para a falta <strong>de</strong> padronização,que po<strong>de</strong> prejudicar o estabelecimento da <strong>de</strong>finição <strong>de</strong>um caso em uma pesquisa epi<strong>de</strong>miológica, é a polêmicaexistente entre especialistas em <strong>Oftalmologia</strong> einvestigadores em Epi<strong>de</strong>miologia, quanto àconsi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> um indivíduo que não tem sinaisclínicos <strong>de</strong> tracoma, mas que tem a bactérialaboratorialmente i<strong>de</strong>ntificada no tecido conjuntival. Estapolêmica gira sempre em torno da temporalida<strong>de</strong>, istoé, do conhecimento sobre a evolução da doença emregião endêmica e a exposição do indivíduo ao agente,na comunida<strong>de</strong>, facilitando o processo <strong>de</strong> reinfecção ea conseqüente evolução mórbida, da fase inflamatóriaassintomática, à cegueira.Como gerir esta situação <strong>de</strong> portador do agenteetiológico sem a manifestação clínica da doença, pelomenos naquele momento do estudo?A racionalização <strong>de</strong>ste processo evolutivo dotracoma, e <strong>de</strong> outras afecções, po<strong>de</strong> ser gerenciadaatravés da subdivisão da história natural das doençasapresentada por Pereira (2000):Fase <strong>de</strong> suscetibilida<strong>de</strong>: nesta não há doença,mas existem condições que favorecem o seuaparecimento: presença do agente, condições dohospe<strong>de</strong>iro e fatores ambientais. Os indivíduos não têmas mesmas predisposições a ficarem doentes. Suascondições físicas, os hábitos, o meio ambiente, entreoutros, facilitam ou dificultam a ocorrência <strong>de</strong> prejuízosà saú<strong>de</strong>. São os chamados fatores <strong>de</strong> risco e <strong>de</strong>proteção para aquela doença. Note que esta fase nãoexclui a presença <strong>de</strong> microrganismos nos tecidos. Aquicabem as ações <strong>de</strong> atenção primária à saú<strong>de</strong> ocular eos processos <strong>de</strong> prevenção iniciais.Fase patológica pré-clínica: nesta fase, apesar <strong>de</strong>se encontrar sinais clínicos da doença, os indivíduos nãoapresentam sintomas. No caso do tracoma, incluiria oscasos <strong>de</strong> tracoma em ativida<strong>de</strong> inflamatória, <strong>de</strong>nominados<strong>de</strong> tracoma folicular, sem infecção secundária.No curso <strong>de</strong>sta fase, a doença po<strong>de</strong> sersubclínica e evoluir para a cura, ou evoluir para as fasesseguintes, no caso tracoma folicular intenso (TI) ecicatricial conjuntival (TS) (veja o capítulo “Instrumentos<strong>de</strong> Medidas”).Nesta fase é importante o conhecimento dasassociações existentes entre agente, hospe<strong>de</strong>iro e meioambiente, no processo <strong>de</strong> evolução do problema, obtidoatravés <strong>de</strong> estudos epi<strong>de</strong>miológicos, para que se possaatuar na prevenção secundária da doença. Orastreamento populacional, em busca <strong>de</strong> dados <strong>de</strong>prevalência das diversas fases da doença, é a estratégiautilizada para <strong>de</strong>terminar as ações em saú<strong>de</strong>. A açãosecundária, aqui aplicável, consiste no tratamentomedicamentoso individual, familiar ou em massa,<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da prevalência <strong>de</strong> tracoma ativo nascrianças da comunida<strong>de</strong> e da morbida<strong>de</strong> verificada noestudo observacional <strong>de</strong> todas as faixas etárias.Fase clínica: nesta há manifestação <strong>de</strong>sintomas, a doença já se encontra em estado adiantado,exigindo ação curativa. Consi<strong>de</strong>raríamos nesta fase oscasos <strong>de</strong> tracoma folicular intenso, como problemaindividual, e a hiperen<strong>de</strong>micida<strong>de</strong> do tracoma, comoproblema coletivo. Estariam, também, aqui os casos<strong>de</strong> triquíase tracomatosa (TT). As ações preventivassecundárias, aplicadas nesta fase, têm por objetivo aparalisação do processo evolutivo e a regressão daslesões, através <strong>de</strong> medicamentos e cirurgia corretivada triquíase.Fase <strong>de</strong> incapacida<strong>de</strong> residual: esta écaracterizada pela presença <strong>de</strong> seqüelas responsáveispor alterações anatômicas e funcionais: a opacida<strong>de</strong>corneal (CO). As ações <strong>de</strong> atenção terciária, aquiaplicadas, buscam restabelecer a capacida<strong>de</strong> funcionaldo olho, através do transplante <strong>de</strong> córnea.1.2. Reprodutibilida<strong>de</strong> das observaçõesO domínio do conhecimento sobre o problemaem questão é imprescindível para a <strong>de</strong>finição explícitado caso, evitando ambigüida<strong>de</strong>.É importante estabelecer <strong>de</strong>finiçõesoperacionais claras, tanto para a doença quanto paraoutras variáveis. Esta é uma tarefa longe <strong>de</strong> ser fácil,<strong>de</strong>vendo-se empregar regras diagnósticas rígidas quelevem a <strong>de</strong>finições claras, permitindo areprodutibilida<strong>de</strong>, base <strong>de</strong> uma boa pesquisa.Nem sempre estas regras são aceitas porunanimida<strong>de</strong>, questão que <strong>de</strong>vemos tentar minimizar,mas o que importa é que na apresentação dos dadosesteja explicado exatamente o que o “caso” significa.Definições e procedimentos idênticos garantema uniformida<strong>de</strong> e a reprodutibilida<strong>de</strong> dos dadosregistrados.Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 274-288.275


EPIDEMIOLOGIA PARA O OFTALMOLOGISTA1.2.1. DefiniçõesAs <strong>de</strong>finições das doenças utilizadas na práticaclínica ten<strong>de</strong>m a ser abrangentes o bastante parapermitir o diagnóstico pelos clínicos para o tratamento<strong>de</strong> seus pacientes. No entanto, po<strong>de</strong>m não sertotalmente satisfatórias para estudos epi<strong>de</strong>miológicos,on<strong>de</strong> se exige uma <strong>de</strong>finição padronizada que permitacomparações nacionais e internacionais sobre afreqüência das doenças e sua etiologia.Muitas vezes as doenças não têm a suapatogênese completamente conhecida, o que cria umproblema para a padronização <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>finiçãoepi<strong>de</strong>miológica. Foi o que aconteceu com o tracoma,que só após o conhecimento do agente etiológico, docomportamento da Chlamydia trachomatis comobactéria <strong>de</strong> vida intracelular infectante <strong>de</strong> váriasmucosas, da evolução da doença ocular, entre outros,foi possível excluir vários itens das classificações atéentão utilizadas, que dificultavam a universalização dalinguagem epi<strong>de</strong>miológica; simplificar a gradação e comisto trazer todos os benefícios inerentes a ela.Definições operacionais <strong>de</strong>sta espécie sãoformuladas em termos <strong>de</strong> critério diagnóstico; isto é, a<strong>de</strong>finição constitui um conjunto <strong>de</strong> regras para odiagnóstico da doença, baseado na presença ouausência <strong>de</strong> critério especificado (fatos objetivamenteobservados).1.2.2. Critério diagnósticoO critério diagnóstico da doença po<strong>de</strong> serescolhido a partir das manifestações e experiênciasrelativamente freqüentes entre as pessoas que sãodiagnosticadas pelos clínicos como sofredoras daqueladoença, através da comparação da freqüência <strong>de</strong>stasmanifestações e experiências entre as pessoas sadiasou sofredoras <strong>de</strong> outras doenças.Depen<strong>de</strong>ndo do objetivo do estudo, a <strong>de</strong>finiçãodo “caso” po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> maior ou menor especificida<strong>de</strong>.Se a proposta é i<strong>de</strong>ntificar pessoas que quasecertamente têm a doença, é exigida uma <strong>de</strong>finição <strong>de</strong>alta especificida<strong>de</strong>, usando critérios que po<strong>de</strong>m serinsuficientes para i<strong>de</strong>ntificar muitas pessoas que osmédicos diriam que têm a doença. Por outro lado, se aintenção é <strong>de</strong>tectar pessoas que têm a doença, mesmocorrendo o risco <strong>de</strong> incluir falsamente muitos que nãoa tenham, os critérios requeridos po<strong>de</strong>m ser menosprecisos.A escolha dos critérios a serem utilizados éaltamente influenciada pelo método através do qual osdados serão coletados. Critérios muito diferentes po<strong>de</strong>mser utilizados quando se coleta os dados baseando-seapenas em entrevista e execução <strong>de</strong> exame físico equando se usam métodos laboratoriais. O critério<strong>de</strong>finitivo para o diagnóstico <strong>de</strong> uma doença po<strong>de</strong> ser<strong>de</strong> aplicabilida<strong>de</strong> limitada em estudos epi<strong>de</strong>miológicos.<strong>Abr</strong>amson e <strong>Abr</strong>amson (1999) exemplificamcomo estes critérios po<strong>de</strong>m ser gerenciados para oestabelecimento do diagnóstico do “caso”:1. apenas quando todos os critérios estãopresentes, ou;2. apenas quando um número suficiente <strong>de</strong>lesestá presente, ou;3. apenas quando certos critérios específicos(ou combinação específica) estão presentes, e certascondições adicionais, outras, são encontradas (em geralum número suficiente <strong>de</strong> critérios <strong>de</strong> menor importânciapresentes), ou;4. apenas quando uma contagem, obtida pelasoma <strong>de</strong> valores alocados para cada critério, alcançaum nível especificado; tal sistema <strong>de</strong> pon<strong>de</strong>raçãopermite valorizar mais um critério do que outro para odiagnóstico, ou;5. apenas quando uma das condições acima éencontrada, acrescido <strong>de</strong> que a presença <strong>de</strong> certasoutras doenças <strong>de</strong>finidas po<strong>de</strong> ser excluída.“A escolha das medidas das variáveis<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá do conhecimento técnico que setenha das variações do objeto,da disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursostecnológicos para a mensuração e dahabilida<strong>de</strong> do observador para oreconhecimento das medidas.”(Pereira, 1999)Ao Esquema <strong>de</strong> Gradação do Tracoma criadopor Thylefors et al. (1987) aplicam-se estes critérios.Ele foi <strong>de</strong>senvolvido com o propósito <strong>de</strong> simplificar aavaliação epi<strong>de</strong>miológica do tracoma, através dafacilitação da exeqüibilida<strong>de</strong> e da reprodutibilida<strong>de</strong> doteste.A escala <strong>de</strong> medida <strong>de</strong>ste Esquema <strong>de</strong>Gradação do tracoma é categórica. O que também éverda<strong>de</strong> para os diferentes esquemas <strong>de</strong> graduação nagonioscopia citados anteriormente.As escalas <strong>de</strong> medida po<strong>de</strong>m ser categóricas,quando se referem a classes mutuamente exclusivas;ou não categóricas, quando se referem a intervalos e aescalas <strong>de</strong> razão.Na gradação do tracoma as categorias sãorepresentadas por letras: TF, TI, TT, TS, CO. Na gradaçãousada na gonioscopia as representações das categoriasna <strong>de</strong> Scheie são IV, III, II, I e zero; e na <strong>de</strong> Schaffersão 4, 3, 2, 1, fenda e zero.Para ser consi<strong>de</strong>rada uma escala <strong>de</strong> medidasatisfatória, ela <strong>de</strong>ve ser apropriada para o uso,276Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 274-288.


EPIDEMIOLOGIA PARA O OFTALMOLOGISTATabela IMédia do número <strong>de</strong> corpúsculos clamidianos fluorescentes em espécimes provenientes da conjuntiva com tracomainflamatório (TF) e sem tracoma, pré e pós-tratamento antimicrobiano, em habitantes <strong>de</strong> região endêmica <strong>de</strong> tracomapré-tratamentopós-tratamentoCiprofloxacina tetraciclina ciprofloxacina TetraciclinaTF 8,82 9,05 3,27 7,43sem tracoma 15,45 7,85 7,75 8,009,83 4,50praticável, eficaz para satisfazer os objetivos do estudo,ter seus componentes claramente <strong>de</strong>finidos, tercategorias em número suficiente para fornecer asinformações necessárias ao estudo e que sejammutuamente exclusivas e <strong>de</strong>ve ser compreensiva.Geralmente a <strong>de</strong>cisão sobre a utilização doscritérios, ou regras, é baseada apenas no grau para oqual eles são estabelecidos pelo julgamento clínico. A<strong>de</strong>speito da limitação evi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> um método, ele po<strong>de</strong>,freqüentemente, ser o único possível <strong>de</strong> se praticar.Muitas vezes as dificulda<strong>de</strong>s aparecem nãopela falta, mas pelo excesso <strong>de</strong> <strong>de</strong>finições operacionais,como vem ocorrendo no julgamento do “caso tracoma”.Diversos investigadores utilizando diferentes<strong>de</strong>finições resultam na dificulda<strong>de</strong> em se tecercomparações sobre a prevalência do tracoma. Bobo etal. (1991) criticaram a sensibilida<strong>de</strong> do diagnósticoclínico, dizendo que o teste PCR <strong>de</strong>tectava casos <strong>de</strong>infecção que não apareciam no exame clínico, sugerindoa superiorida<strong>de</strong> do critério laboratorial para o diagnóstico<strong>de</strong> tracoma.Aceitando o critério laboratorial como ferramentapara o diagnóstico do tracoma, da maneira em que foicolocado pelos autores Bobo et al. (1991) a respeito doPCR, mas usando outro teste laboratorial padronizadopara as pesquisas <strong>de</strong> campo, a imunofluorescênciadireta, diríamos que a prevalência do tracoma em préescolarese escolares no município <strong>de</strong> Dormentes,estado <strong>de</strong> Pernambuco, seria igual a 100%, já que todosos espécimes foram positivos tanto nos casos <strong>de</strong>tracoma folicular quanto nos casos que nãoapresentavam a forma clínica da doença (investigaçãoem andamento). Isto foge da realida<strong>de</strong> clínica, pois ovalor obtido através do exame clínico padronizado pelaOMS foi igual a 10,87% <strong>de</strong> prevalência <strong>de</strong> TF nestacomunida<strong>de</strong>.Em um estudo caso-controle baseado noindivíduo, para estudo da eficácia <strong>de</strong> um tratamentopara tracoma, realizado no vilarejo Barro Vermelho,município <strong>de</strong> Barbalha, estado do Ceará, os espécimesdas conjuntivas sem a doença clínica apresentaramum número <strong>de</strong> corpúsculos clamidianos maior do quea conjuntiva sem sinais da doença (Tabela 1), o que,além <strong>de</strong> alterar a prevalência do tracoma se usado ocritério laboratorial, implica em gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong>falso-positivos se usado o critério clínico (Scarpi,Guidugli, 1994).Baseado apenas em resultados laboratoriais,como classificaríamos, clinicamente, uma população<strong>de</strong> 30 indivíduos HIV positivos que apresentou 83% <strong>de</strong>positivida<strong>de</strong> na citologia ocular corada pelo anticorpomonoclonal fluorescente contra Chlamydia trachomatis,mas sem qualquer sinal <strong>de</strong> doença na conjuntiva?(Hayashi, Belfort Jr., Muccioli, Scarpi, 1993).A tabela 2 ilustra a ausência <strong>de</strong> associaçãoentre o valor da prevalência <strong>de</strong> tracoma inflamatórioem regiões endêmicas e a porcentagem <strong>de</strong> espécimespositivos no citodiagnóstico pela imunofluorescênciadireta, em algumas investigações.1.2.2.1. ExpressõesFerramentas para investigaçõesepi<strong>de</strong>miológicas necessitam <strong>de</strong> expressões diretas,bem estabelecidas na sua conceituação, semnecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> raciocínio para captação da informação.A respeito das expressões utilizadas eminvestigações científicas, é interessante o trabalho <strong>de</strong>Bryant e Norman (1980), on<strong>de</strong> mostram que asdiferenças <strong>de</strong> opiniões entre médicos, sobre a condutafrente a um problema, po<strong>de</strong>m ser reflexos <strong>de</strong>entendimentos diferentes das palavras usadas para<strong>de</strong>finir probabilida<strong>de</strong>.Esta investigação, entre médicos, estimou oentendimento, por eles, sobre a probabilida<strong>de</strong> dapresença da doença através das expressões maisRev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 274-288.277


EPIDEMIOLOGIA PARA O OFTALMOLOGISTATabela IIPorcentagem <strong>de</strong> espécimes positivos na citologia pelo anticorpo monoclonal fluorescente contra Chlamydia trachomatis,em amostras <strong>de</strong> conjuntivas tracomatosas, segundo a prevalência <strong>de</strong> tracoma inflamatório e as regiões endêmicasinvestigadas, em diferentes épocasLocal Característica da Prevalência <strong>de</strong> Porcentagem <strong>de</strong>amostra populacional tracoma inflamatório (%) espécimes positivos (%)Mocambo 1 povoado 22,22 69,23Palmares 2 bairro 7,40 66,66São Paulo 3 bairro 2,77 61,82Joinville 4 bairros 7,90 57,00Paraná 5 cida<strong>de</strong>s 13,16 78,86Duque <strong>de</strong> Caxias 6 bairros 8,78 71,43Dormentes 7 município 10,87 100,001. Scarpi, Plut, Arruda, 1989; 2. Scarpi, Silva, Barbosa, Plut, 1990; 3. Campos, Scarpi, Guidugli, 1991; 4. Nóbrega, Scarpi, 1991; 5.Moreira, Scarpi, Moreira Jr., Guidugli, Penteado, Oyama, Moreira, Monteiro, Uscocovich, 1993; 6. Couto Jr., Scarpi, Guidugli, 1997;7. Macedo, Scarpi, Romero, Mascaro, 2002 (em <strong>de</strong>senvolvimento)usadas com este propósito. Expressões como “nunca”,“efetivamente exclui” tiveram uma distribuição modal,quer dizer, indicavam uma interpretação equivocada dainstrução pretendida. Expressões como, “certo”, “altaprobabilida<strong>de</strong>”, “patognomônico”, “clássico”, “sempre”,<strong>de</strong>monstraram facilitar o entendimento correto dainformação. Dias <strong>de</strong>pois repetiram o teste para verificarse havia a mesma interpretação do termo pelo médico,a correlação do primeiro com o segundo teste foi <strong>de</strong>0,96. Portanto, o erro está na interpretação individualincorreta do termo pelo médico. Isto reforça a noção <strong>de</strong>que é preferível usar probabilida<strong>de</strong>s numéricas nacomunicação científica.E<strong>de</strong>rer (1983) mencionou problemasmetodológicos ocasionados pelo uso <strong>de</strong> termosimprecisos e, para isso, menciona o Estudo OcularFramingham que usou a expressão “na presença <strong>de</strong>”,enquanto que outro estudo semelhante, Hanes,realizado também nos Estados Unidos, usou, para omesmo propósito operacional a expressão “compatívelcom”, exigindo um julgamento subjetivo, muitas vezesdifícil, que resultou em erros para a survey mencionada.1.2.2.2. Padronização das habilida<strong>de</strong>sMuitas observações oftalmológicas sãoinerentemente subjetivas. Um item em particular dainformação po<strong>de</strong> ser influenciado pelo treinamento eexperiência do oftalmologista, pelas condições sob asquais a observação é feita e pela cooperação dopaciente.Revisar o protocolo com a intenção <strong>de</strong> melhoráloe elucidá-lo, em reuniões <strong>de</strong> treinamento no <strong>de</strong>correr<strong>de</strong> uma investigação, é importante para reduzir asvariações do observador e a variabilida<strong>de</strong>interobservadores. A subjetivida<strong>de</strong> das observações éa maior fonte <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>, requerendo o<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> medidas objetivas.Quando os critérios estabelecidos envolvemjulgamento clínico, exige-se treinamento da equipe <strong>de</strong>investigação, para que haja padronização na execuçãotécnica do exame físico, elevando o grau <strong>de</strong>concordância dos diagnósticos (Assaad, Maxwell-Lyons, 1967).Os estudos da prevalência <strong>de</strong> tracoma que têmum único examinador em todos eles, dispensa adiscussão em torno da concordância interobservadores,mas não <strong>de</strong>sobriga em <strong>de</strong>monstrar que o examinadorestá habilitado quanto a padronização na execuçãotécnica do exame físico. Esta participação <strong>de</strong> únicoexaminador elimina as <strong>de</strong>spesas com a padronizaçãodos examinadores para as possíveis diferentes equipes,com o intuito <strong>de</strong> habilitá-los para o rastreamento doscasos <strong>de</strong> tracoma. Tais <strong>de</strong>spesas incluem transporte,hospedagem, alimentação e diárias, tanto para osexaminadores quanto para os educadores; além <strong>de</strong>locações, equipamentos e insumos, entre outros itens.As <strong>de</strong>finições operacionais <strong>de</strong>vem garantir a278Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 274-288.


EPIDEMIOLOGIA PARA O OFTALMOLOGISTAreprodutibilida<strong>de</strong> (confiabilida<strong>de</strong>), isto é, garantir queinformações coletadas sejam similares quando umamedida é executada mais que uma vez. Areprodutibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um procedimento <strong>de</strong> medida éequivalente à capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um atirador certeiro atingira mesma marca cada vez que atira, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<strong>de</strong>sta marca ser ou não a “mosca” <strong>de</strong> um alvo. O exameda conjuntiva tarsal superior em busca dos sinais queevi<strong>de</strong>nciem as lesões tracomatosas, conforme constano Esquema <strong>de</strong> Gradação do Tracoma preconizadopela OMS, <strong>de</strong>ve selecionar os casos, quantitativa equalitativamente, <strong>de</strong> forma semelhante por qualquerexaminador treinado previamente que estejainvestigando a mesma população, isto é, não éaceitável discordância <strong>de</strong> diagnóstico entre osexaminadores.Alta reprodutibilida<strong>de</strong> (confiabilida<strong>de</strong>) nãosignifica necessariamente que o procedimento ésatisfatório; medidas que estão muito longe da “mosca”po<strong>de</strong>m não abastecer o investigador com informaçõesproveitosas. Por outro lado, é evi<strong>de</strong>nte que quantomenos reprodutível for o experimento menos útil eleserá.1.2.2.3. Variabilida<strong>de</strong> nas medidas e concordânciaentre observadoresO problema da reprodutibilida<strong>de</strong> éespecialmente mais crítico para os estudoslongitudinais. Nestes, um esforço é feito para estimaralterações, contribuindo para a ten<strong>de</strong>nciosida<strong>de</strong> <strong>de</strong>que os achados expressem uma variabilida<strong>de</strong> nasmedidas maior do que a alteração verda<strong>de</strong>ira, para oatributo que está sendo medido. Em um estudo<strong>de</strong>senhado para medir a taxa <strong>de</strong> incidência <strong>de</strong> casosnovos <strong>de</strong> uma doença crônica, executado pelarepetição <strong>de</strong> um procedimento diagnóstico após umperíodo <strong>de</strong> tempo, a não reprodutibilida<strong>de</strong> doprocedimento ten<strong>de</strong>rá a produzir uma estimativa daincidência in<strong>de</strong>vidamente elevada. Isto porqueaparecem pessoas que são diagnosticadasfalsamente como casos novos na segunda ocasião,e pessoas doentes falsamente diagnosticadas comosadias na primeira ocasião, exce<strong>de</strong>rão habitualmenteos casos novos perdidos. E, por outro lado, pessoassaudáveis po<strong>de</strong>m ter sido diagnosticadaserroneamente como doentes no primeiro exame,sendo excluídas da população em risco <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolver a doença, aumentando, <strong>de</strong>ste modo, ataxa <strong>de</strong> incidência.Medidas po<strong>de</strong>m sofrer variações, quando:1.o objeto a ser medido po<strong>de</strong> apresentarcaracterísticas próprias <strong>de</strong> variações (por exemplo, avariação na presença ou ausência <strong>de</strong> folículos naconjuntiva <strong>de</strong> pacientes tracomatosos em curto espaço<strong>de</strong> tempo);2.o instrumento usado para medida (aparelhos,questionários e outros procedimentos) po<strong>de</strong> nãoproduzir resultados <strong>de</strong> forma constante, ou diferentesinstrumentos po<strong>de</strong>m dar diferentes resultados (porexemplo: a porcentagem <strong>de</strong> espécimes positivos dasconjuntivas tracomatosas <strong>de</strong> regiões endêmicas não éum bom indicador da morbida<strong>de</strong> do tracoma nestasregiões pois não apresentam uma relação estável entreesta positivida<strong>de</strong> e a prevalência da doença, conformeobservado no quadro acima);3.as pessoas que coletam as informaçõespo<strong>de</strong>m variar no que eles percebem, nas suashabilida<strong>de</strong>s, honestida<strong>de</strong>, propensão para cometerenganos etc. Po<strong>de</strong>m ser influenciadas, consciente ouinconscientemente, por suas pré-concepções emotivações; num ensaio clínico, a ciência doinvestigador <strong>de</strong> estar frente ao indivíduo <strong>de</strong> experimentoou do controle po<strong>de</strong> levar a observações ten<strong>de</strong>nciosas.O observador ten<strong>de</strong> a achar o que ele espera achar, é ochamado efeito Rosenthal.Por isso, nos exames <strong>de</strong> espécimes coradospelo anticorpo monoclonal fluorescente contraChlamydia trachomatis, na investigação <strong>de</strong> prevalência<strong>de</strong> tracoma na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Barbalha, não era <strong>de</strong>conhecimento do laboratorista qual o caso em questão.Também o exame da conjuntiva foi realizado sem queo examinador soubesse qual o tratamento recebidoMo<strong>de</strong>lo para cálculo do KappaOBSERVADOR 2OBSERVADOR 1 Ausente Presente Total AAusente c 1p 1APresente c 2p 2ATotal Bp 1Bp 2B°ª = (p 1A. p 1B + p 2A . p 2B )°0 = (c 1 + c 2 )k = ( ° 0 – °ª ) / (1 – °ª ) = (c 1 + c 2 ) - (p 1A. p 1B + p 2A . p 2B ) / 1 - (p 1A. p 1B + p 2A . p 2B )(Adan, Scarpi, Guidugli, 1996).A concordância entre examinadores, medidapelo Kappa, foi avaliada por Brilliant et al. (1983) para16 variáveis usadas na investigação do tracoma everificaram que para 5 <strong>de</strong>las esta concordância erabaixa. Estas 16 variáveis foram: 2 relacionadas atriquíase, 2 a folículos, 2 a hiperplasia papilar, 2 acicatriz conjuntival, 2 a localização da opacida<strong>de</strong>Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 274-288.279


EPIDEMIOLOGIA PARA O OFTALMOLOGISTAcorneal, 2 a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> da opacida<strong>de</strong> corneal, 2 avascularização corneal e 1 a qual dos olhos e 1 a qualolho pior.Kappa é uma medida <strong>de</strong> concordânciapadronizada, que corrige a concordância observadaentre examinadores para aquela esperada pelacasualida<strong>de</strong>.Kappa (k) é <strong>de</strong>finido como: k =( ° 0 – ° ª) / (1 – ° ª)on<strong>de</strong> ° 0 = proporção <strong>de</strong> concordância observada e ° ª =proporção <strong>de</strong> concordância esperada somente pelacasualida<strong>de</strong>. Concordância completa tem o k = +1;valores entre zero e +1 indicam concordância maior doque aquela ocorrida ao acaso; valores inferiores a zeroindicam concordância menor do que aquela queocorreria ao acaso.O <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico para aavaliação do caso, além <strong>de</strong> aumentar a objetivida<strong>de</strong>,permite ao oftalmologista avaliar uma observaçãoregistrada pelo instrumento, através <strong>de</strong> um produtocomo, por exemplo, fotografias, imagens digitalizadas.Isto traz economia <strong>de</strong> tempo <strong>de</strong> trabalho e permiteacessar este registro a qualquer tempo e encaminharpara outros examinadores. Tais formas <strong>de</strong> registros,apesar <strong>de</strong> elevarem o custo das investigações, têmvalor incontestável nos estudos observacionais.West e Taylor (1990) estudaram a eficácia e aconfiabilida<strong>de</strong> do uso <strong>de</strong> registros fotográficos naavaliação <strong>de</strong> tracoma ativo e cicatricial e verificaramconcordância entre a gradação realizada em campo ea feita pelas fotografias do tarso superior; ressaltaram,ainda, a valida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> registro para estudolongitudinal da doença.1.3. Ferramentas para o critério <strong>de</strong> diagnóstico1.3.1. Acurácia e precisãoEm investigações epi<strong>de</strong>miológicas não se <strong>de</strong>ve<strong>de</strong>scuidar <strong>de</strong> interpretar qualquer representaçãoquantitativa <strong>de</strong> suas medidas em relação à qualida<strong>de</strong>do problema em questão.O envolvimento <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> um observador emuma investigação laboratorial aumenta a possibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> erros advindos do conhecimento técnico ina<strong>de</strong>quadodo(s) observador(es).O grau <strong>de</strong> confiabilida<strong>de</strong> das medidas feitaspor eles po<strong>de</strong> ser aferido através da avaliação daacurácia e da precisão das medidas.Acurácia é medida verificando-se aconcordância entre os valores obtidos com aquelesobtidos através <strong>de</strong> um método consagrado como padrãoouro para o diagnóstico do problema.Precisão é avaliada pela variação entre asmedidas, naquele método diagnóstico, para aquele problema.Mo<strong>de</strong>lo para cálculo da sensibilida<strong>de</strong>,especificida<strong>de</strong> e valores predictivosExame clínicoExame laboratorial + - total+ a b a+bDFA- c d c+dtotal a + c b + d a + b + c + dsensibilida<strong>de</strong> = a / a + cespecificida<strong>de</strong> = d / b + dvalor predictivo positivo = b / a + b + c + dvalor predictivo negativo = c / a + b + c + dPara o problema do citodiagnóstico do tracomapelo anticorpo monoclonal fluorescente, em que aacurácia está garantida pelo próprio método, tido comopadrão ouro para as investigações epi<strong>de</strong>miológicas dotracoma, <strong>de</strong>vemos nos preocupar com a precisão entreos observadores.1.3.2. Sensibilida<strong>de</strong> e especificida<strong>de</strong>“Probabilida<strong>de</strong> é uma representaçãoconveniente do diagnóstico duvidoso”.“O teste diagnóstico <strong>de</strong>veria ser aplicadoapenas quando eles tivessem força suficientepara alterar a conduta frente a um caso”.(Sox, 1986)Médicos estão constantemente tomando<strong>de</strong>cisões sem ter uma informação conclusiva. Algunsindicadores po<strong>de</strong>m auxiliar na gestão <strong>de</strong>stas <strong>de</strong>cisões,tais como: sensibilida<strong>de</strong>, especificida<strong>de</strong> e valorespredictivos, entre outros. Exemplificamos, a seguir, umadas formas para atingir os valores <strong>de</strong> tais indicadores.Tomemos por exemplo a sensibilida<strong>de</strong> do DFAcalculada para o diagnóstico <strong>de</strong> infecção clamidianano município <strong>de</strong> Dormentes, que foi igual a 100%, poistodos os espécimes colhidos <strong>de</strong> conjuntiva comtracoma inflamatório foram positivos. Neste município,toda a amostra proveniente <strong>de</strong> indivíduos sem adoença clínica também foi positiva (Macedo, Scarpi,Romero, Mascaro, 2002).Por <strong>de</strong>finição, 100% dos habitantes comtracoma apresentaram positivida<strong>de</strong> no teste (resultadoverda<strong>de</strong>iro positivo) e 0,00% dos habitantes comtracoma apresentaram negativida<strong>de</strong> no teste (resultadofalso negativo).280Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 274-288.


EPIDEMIOLOGIA PARA O OFTALMOLOGISTACom respeito à especificida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste teste,neste povoado, que foi igual a zero, po<strong>de</strong>mos dizer que0,00% dos indivíduos que não tinha tracoma apresentounegativida<strong>de</strong> no teste (resultado negativo verda<strong>de</strong>iro=0,00) e 100% dos que não tinham tracomaapresentaram positivida<strong>de</strong> no teste (resultado falsopositivo = 1,00).1.3.3. Interpretação dos resultadosPortanto, frente à positivida<strong>de</strong> do testediagnóstico, o clínico não estará seguro para afirmarque o indivíduo realmente tem a doença, visto que apositivida<strong>de</strong> ocorre em quem tem e em quem não temtracoma. Da mesma maneira, a negativida<strong>de</strong> no teste<strong>de</strong> imunofluorescência direta para Chlamydiatrachomatis não leva à certeza do clínico que oindivíduo não tenha tracoma.Esta incerteza sobre a situação verda<strong>de</strong>ira doindivíduo po<strong>de</strong>, portanto, ser expressa como aprobabilida<strong>de</strong> que o paciente tenha tracoma. Estaquantificação da qualida<strong>de</strong> “provavelmente” ou“possivelmente” evita uma interpretação incerta daquantida<strong>de</strong> e favorece a clareza <strong>de</strong>sta interpretação.O estabelecimento <strong>de</strong> uma estratégia <strong>de</strong>conduta é que evi<strong>de</strong>nciará a importância <strong>de</strong> um testediagnóstico frente ao caso.O teste diagnóstico para tracoma pelaimunofluorescência direta no que modificaria a conduta<strong>de</strong> um programa <strong>de</strong> controle do tracoma, em uma regiãoon<strong>de</strong> o valor da prevalência <strong>de</strong> tracoma folicular seriaum indicador <strong>de</strong> tratamento em massa?Teste diagnóstico estaria indicado quando o seuresultado:· exercesse efeito sobre a probabilida<strong>de</strong> dadoença;· fosse o limiar da <strong>de</strong>cisão;· tivesse importância sobre os resultadosclínicos;· trouxesse benefício que justificasse aelevação do custo da investigação.Quando o clínico já está totalmente certo dodiagnóstico, o resultado do teste complementar teráefeito mínimo sobre a probabilida<strong>de</strong> da doença. Por outrolado, quando existe pouca evidência clínica, ou quandoo clínico apresenta dúvida quanto ao diagnóstico, tornaseindispensável aplicar um teste diagnóstico <strong>de</strong> altaespecificida<strong>de</strong>.Havendo necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se excluir umadoença fortemente suspeita, ou para confirmar que umadoença não está presente, este diagnóstico diferencial<strong>de</strong>ve ser obtido através <strong>de</strong> um teste diagnóstico <strong>de</strong>alta sensibilida<strong>de</strong>.Portanto, em virtu<strong>de</strong> da força do diagnósticoclínico, já bem estabelecido para as regiões endêmicas<strong>de</strong> tracoma, testes diagnósticos laboratoriais sãodispensáveis nos estudos observacionais <strong>de</strong>stadoença.A Secretaria <strong>de</strong> Estado da Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulopreconiza a realização <strong>de</strong> teste laboratorial para otracoma com o intuito <strong>de</strong> confirmar a existência <strong>de</strong> focoda doença em locais on<strong>de</strong> não existam casosanteriormente relatados (Medina et al., 1996).1.4. Análise dos dadosUm Olho ou ambos os olhos?As investigações oftalmológicas apresentamum problema incomum às <strong>de</strong>mais investigaçõesepi<strong>de</strong>miológicas: o fato <strong>de</strong> os dados po<strong>de</strong>rem sercoletados para ambos os olhos.A origem <strong>de</strong>ste problema resi<strong>de</strong> no fato <strong>de</strong> queas observações pareadas, feitas nos dois olhos damesma pessoa, geralmente não são in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes,mas correlacionadas positivamente e, freqüentemente,altamente correlacionadas.Os métodos estatísticos <strong>de</strong> inferênciacomumente utilizados aplicam-se apenas àsobservações in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes (não correlacionadas). Osestudos observacionais nos quais as análises dosresultados geralmente se referem à soma ou média <strong>de</strong>medidas pareadas, contribuem com menor número <strong>de</strong>informações do que as medidas não correlacionadas.Em estudos experimentais on<strong>de</strong> se comparamos tratamentos <strong>de</strong> dois locais diferentes, nos quaisinteressa o estudo estatístico da diferença entre asduas medidas, as medidas correlacionadas positivasfornecem mais informações que as nãocorrelacionadas.No caso extremo <strong>de</strong> correlação positiva perfeita(r = 1), o segundo olho não contribui em nada para umestudo observacional. É o que acontece no Esquema<strong>de</strong> Gradação do Tracoma, on<strong>de</strong> a presença do sinalinvestigado em apenas um dos olhos leva à classificaçãodo indivíduo para aquela categoria, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do outroolho ser consi<strong>de</strong>rado normal, ou apresentar um sinal queo i<strong>de</strong>ntifique em uma categoria <strong>de</strong> menor morbida<strong>de</strong>.E quando o indivíduo tem apenas um olho? Nocaso do tracoma, isto não constituiria um problema se oolho presente tivesse opacida<strong>de</strong> corneal, categorizandoo indivíduo no grau máximo da morbida<strong>de</strong> da doença.Mas se este olho presente tivesse triquíase (TT) etivéssemos a informação <strong>de</strong> que o olho contra-lateralfora enucleado há poucos dias e tinha a visãocomprometida, como <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>que se tratava <strong>de</strong> um caso <strong>de</strong> opacida<strong>de</strong> corneal (CO)?Consi<strong>de</strong>raríamos a informação coletada como um caso<strong>de</strong> TT? Provavelmente sim, pois, <strong>de</strong>vemos nos ater àRev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 274-288.281


EPIDEMIOLOGIA PARA O OFTALMOLOGISTA<strong>de</strong>finição do estudo <strong>de</strong> corte transversal realizadonaquela investigação, caso contrário <strong>de</strong>veríamos estarpreocupados também com os casos <strong>de</strong> tracoma folicular(TF) que po<strong>de</strong>m não estar presentes em indivíduos <strong>de</strong>uma comunida<strong>de</strong> endêmica em certas ocasiões.Para estudos observacionais aplicam-semétodos <strong>de</strong> ajustes para testes estatísticos, quandose têm na população indivíduos que contribuem comdados referentes a ambos os olhos e, outros, comapenas um dos dois olhos. Nestas situações estesajustes levam à apresentação separada dos resultadospara grupos <strong>de</strong> cada um dos dois olhos, ou limitam osresultados para apenas um grupo <strong>de</strong> olhos escolhido:olhos direitos, ou olhos esquerdos; “pior olho”, ou “melhorolho”. O esquema <strong>de</strong> gradação do tracoma, por exemplo,ao consi<strong>de</strong>rar o olho <strong>de</strong> maior morbida<strong>de</strong>, não requereste tipo <strong>de</strong> ajuste.Tipos <strong>de</strong> estudos epi<strong>de</strong>miológicos1. Estudos observacionais1.1. Surveys <strong>de</strong>scritivas1.1.1. Corte-transversal1.1.2. Longitudinal1.2. Surveys analíticas1.2.1. Baseada em grupo1.2.2. Baseada no indivíduo1.2.2.1. Corte-transversal1.2.2.2. Cohort (longitudinal)1.2.2.3. Caso-controle2. Experimentos e quase-experimentos2.1. Baseado em grupo2.2. Baseado no indivíduo2. Tipos <strong>de</strong> estudos epi<strong>de</strong>miológicosAs investigações epi<strong>de</strong>miológicas têm 3 usosprincipais:· proposta diagnóstica;· elucidação etiológica, fatores prognósticos ehistória natural da doença, crescimento e<strong>de</strong>senvolvimento;· contribuição para a avaliação da atenção àSaú<strong>de</strong>.Os fenômenos relacionados à saú<strong>de</strong> sãoinvestigados através <strong>de</strong> metodologia peculiar que éconstituída pelos vários tipos <strong>de</strong> estudosepi<strong>de</strong>miológicos:2.1. Classificação dos estudos epi<strong>de</strong>miológicosA variabilida<strong>de</strong> das características inerentes aosobjetos, invariavelmente expõe as tentativas <strong>de</strong>classificação das populações <strong>de</strong>stes objetos, atravésdo que eles têm em comum, a críticas e a imobilizaçãoda capacida<strong>de</strong> analítica dos indivíduos. Contudo, asclassificações permitem a or<strong>de</strong>nação das idéias e afacilitação da comunicação entre estes indivíduos. Destaforma, acreditamos que a proposta <strong>de</strong> se ter um facilitadorda linguagem entre profissionais da área da saú<strong>de</strong>, parao entendimento da epi<strong>de</strong>miologia, é atingida se iniciarmosa classificação dos estudos epi<strong>de</strong>miológicos separandoo que é objeto <strong>de</strong> observação (estudos observacionais)do que é objeto <strong>de</strong> intervenção pelo pesquisador(experimentos e quase-experimentos).2.2. Estudos transversais e longitudinaisTanto os estudos <strong>de</strong>scritivos quanto osanalíticos po<strong>de</strong>m ser transversais ou longitudinais,<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do tempo <strong>de</strong> cobertura das observações.Estudo TRANSVERSAL (instantâneo,simultâneo, prevalência) fornece informação sobre asituação que existe em um tempo curto.Estudo LONGITUDINAL (tempo contínuo)fornece dados sobre eventos ou alterações durante umperíodo <strong>de</strong> tempo.Para melhor compreensão, tomemos comoexemplo as seguintes situações: medir a prevalência<strong>de</strong> tracoma inflamatório no primeiro dia <strong>de</strong> aula dascrianças <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> é um estudo transversal,não necessariamente as medidas <strong>de</strong>verão serrealizadas no mesmo dia (escolas po<strong>de</strong>m iniciar asaulas em dias diferentes); medir esta prevalência noprimeiro, quadragésimo e octogésimo dia <strong>de</strong> aula dosalunos <strong>de</strong>stas mesmas escolas é estudo longitudinal.Se a influência do tipo <strong>de</strong> higiene da face sobre aprevalência do tracoma inflamatório é investigadanestes alunos, em qualquer dos tempos acima, oestudo é analítico.Muitos experimentos são estudos longitudinaisque acompanham grupos diferentes para medir eventosou alterações; outros apenas comparam o padrão dosgrupos após a exposição experimental (trials <strong>de</strong> “pósmedidaapenas”), sem medir os seus padrões iniciais.Uma survey longitudinal na qual um grupo (oucohort) <strong>de</strong> indivíduos (embora selecionados) é seguidopor algum tempo po<strong>de</strong> ser chamado <strong>de</strong> COHORT(seguimento); mas o termo estudo cohort é geralmenteusado mais restritamente, referindo-se a um estudoanalítico longitudinal, evitando-se usá-lo para as Surveys<strong>de</strong>scritivas longitudinais. O estudo da ocorrência <strong>de</strong> novoscasos <strong>de</strong> uma doença é um estudo <strong>de</strong> incidência.Note que a distinção entre os estudos <strong>de</strong>corte-transversal e longitudinal <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> apenas se ainformação coletada refere-se a um tempo emparticular. A regulação do tempo <strong>de</strong> estudo – quando282Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 274-288.


EPIDEMIOLOGIA PARA O OFTALMOLOGISTAele é conduzido, isto é, ao mesmo tempo em que oevento é estudado (estudo concomitante) ou <strong>de</strong>pois(estudo histórico) – não é relevante. Não importa se oestudo usa dados registrados previamente, ou dadoscoletados após o início do estudo; estas duas formas<strong>de</strong> dados são preferivelmente <strong>de</strong>nominadasretrolectiva e prolectiva, respectivamente, melhor doque retrospectivo e prospectivo, para evitar confusãocom outros significados <strong>de</strong>stes termos (<strong>Abr</strong>amson,<strong>Abr</strong>amson,1999).Os estudos epi<strong>de</strong>miológicos po<strong>de</strong>m serprospectivos e retrospectivos (Hatch,1998).Prospectivo é aquele em que o pesquisadorcoleta dados ao longo do tempo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentodo estudo. Nos estudos prospectivos o pesquisadorpo<strong>de</strong> efetuar medidas mais exatas e precisamente eusar mascaramento para evitar ten<strong>de</strong>nciosida<strong>de</strong>s porparte do examinador ou do paciente.Retrospectivo é aquele no qual os eventos jáocorreram. Tipicamente, as medidas já foram registradase o estudo foi <strong>de</strong>senhado posteriormente. Para<strong>de</strong>terminadas propostas, os estudos retrospectivos sãoFigura INúmero <strong>de</strong> respostas dadas por usuários doCERESO-UNIFESP/EPM à questão “Por queusa este Serviço?”, em 1998a- Proximida<strong>de</strong> do local da residência;b - Atendimento no mesmo dia;c - Gostar da UNIFESP;d - Ser paciente <strong>de</strong> outro Departamento da UNIFESP;e - Ser indicado por alguém;f - Outros.mais eficientes do que estudos prospectivos, istoporque os eventos já ocorreram. A precisão e a exatidãodas medidas, entretanto, não po<strong>de</strong>m ser controladaspelo examinador.2.3. Estudos <strong>de</strong>scritivos e analíticos2.3.1. “Surveys”SURVEY, ou estudo observacional, é umainvestigação na qual as informações sãosistematicamente coletadas, mas o métodoexperimental não é usado, isto é, não há intervençãoativa do investigador. <strong>Abr</strong>amson, <strong>Abr</strong>amson (1999)usam survey <strong>de</strong> uma forma ampla, envolvendoestudos não-experimentais <strong>de</strong> qualquer espécie, enão o significado restrito do termo, como pesquisa<strong>de</strong> opinião pública, inquérito, estudo <strong>de</strong>scritivo <strong>de</strong>características <strong>de</strong> uma população, investigação <strong>de</strong>campo ou domiciliar. Survey nem sempre se constituiem uma operação rápida, mas sim num trabalho <strong>de</strong>vigilância.No ramo da mercadologia da saú<strong>de</strong>, que é aprópria epi<strong>de</strong>miologia, muitos preferem restringir ouso do termo survey apenas para os processos <strong>de</strong>inquéritos, censo, questionários, aplicados a umapessoa ou pessoas para se conseguir alguma forma<strong>de</strong> resposta. O objetivo <strong>de</strong>sta survey comsignificado restrito é obter fatos, na forma <strong>de</strong> dados,diretamente <strong>de</strong> uma amostra humana sem realizarmedidas físicas. Exemplo <strong>de</strong>sta aplicação encontrasena figura 1, quando estudou-se o grau <strong>de</strong>satisfação da clientela do Centro <strong>de</strong> ReferênciaSecundária em <strong>Oftalmologia</strong>, do Departamento <strong>de</strong><strong>Oftalmologia</strong> da UNIFESP/EPM (Gentil, Scarpi,Leal, 2003).Nos dicionários, survey é <strong>de</strong>finida como umexame ou inspeção através da apuração <strong>de</strong> fatos, e oestudo <strong>de</strong> uma área, ou agregado <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s, para<strong>de</strong>terminar a prevalência ou outras medidaspopulacionais.Survey é par te integrante da práticaoftalmológica e pesquisa. Profissionais ligados naatenção à saú<strong>de</strong> ocular estão realizando Surveysinformais, com o propósito <strong>de</strong> indicação e verificaçãoda qualida<strong>de</strong> do tratamento, ao questionar seuspacientes sobre as condições da doença e da respostaao tratamento.Survey é também empregada para avaliarcuidados com o paciente, mercadologia, estudos<strong>de</strong>mográficos e política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública. Sãoconstantemente referidas no dia-a-dia, na literaturapopular, nos jornais, nos programas <strong>de</strong> televisão, nosanúncios, entre outras situações. Dizer que 2 em cada10 preferem tal técnica, é um resultado <strong>de</strong> survey.Po<strong>de</strong> parecer simples, mas pesquisa emsurvey é um processo realmente científico e rigoroso.Como todos os métodos <strong>de</strong> investigação ela obe<strong>de</strong>cea protocolos para realização e análise.Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 274-288.283


EPIDEMIOLOGIA PARA O OFTALMOLOGISTA2.3.1.1. Surveys <strong>de</strong>scritivasSurveys <strong>de</strong>scritivas são utilizadas para exporminuciosamente uma situação. Fornecem dadosquantitativos sobre a distribuição da doença em umapopulação. Em geral estes dados são apresentados emrelação às variáveis <strong>de</strong>scritivas relativas às pessoas,ao lugar e ao tempo.Estas variáveis referentes às questões daepi<strong>de</strong>miologia <strong>de</strong>scritiva sobre “quem”, “on<strong>de</strong>” e “quando”são listadas por Pereira (2000) <strong>de</strong> forma abrangente:A. relativas às pessoas: sexo, ida<strong>de</strong>, estadocivil, grupo étnico, religião, renda, ocupação, educação,classe social, parida<strong>de</strong>, história familiar, composiçãofamiliar, or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> nascimento, peso, altura, gruposangüíneo, tipo <strong>de</strong> comportamento, estilo <strong>de</strong> vida ehábito <strong>de</strong> fumar;B. relativas ao lugar: país, região, estado,município, distrito, bairro, instituição, edifício, rua,urbano-rural, código postal (CEP) e tamanho dacomunida<strong>de</strong>;C. relativas ao tempo: década, ano, semestre,trimestre, mês, semana, dia e hora.Fig. 2 - Posto <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> na Al<strong>de</strong>ia Djauarum, no Parque do Xingu2.3.1.2. Surveys analíticasSurveys analíticas (ou explanatórias) tentamencontrar explicações e examinar processos causais,por exemplo: por que tracoma está ocorrendo nestapopulação? Po<strong>de</strong> o <strong>de</strong>créscimo da prevalência <strong>de</strong>tracoma em uma comunida<strong>de</strong> ser atribuído à melhorado padrão sócio-econômico?Elas obtêm conhecimentos sobre “hipóteses”relacionadas à “exposição” com a “doença”. Isto é feitoatravés da formulação e teste <strong>de</strong> hipótese, que po<strong>de</strong>ter várias fontes, incluindo os achados <strong>de</strong> estudos<strong>de</strong>scritivos anteriores. Exemplificando: supor que adiminuição da prevalência do tracoma total, em 8 anos,se <strong>de</strong>ve à exposição dos Índios do Parque do Xinguàs ações sócio-políticas, dirigidas à educação e àsaú<strong>de</strong>, <strong>de</strong>senvolvidas pelo Governo brasileiro, que seiniciaram nos anos noventa, é uma hipótesefundamentada no fato <strong>de</strong> ser o único acontecimentoencontrado entre 1991 e 1999, capaz <strong>de</strong> explicar o<strong>de</strong>senvolvimento sócioeconômico observado, um fator<strong>de</strong> proteção contra a doença (Scarpi, et al. 2000). Asfiguras 2 e 3 evi<strong>de</strong>nciam tal suspeita.Todos os estudos <strong>de</strong>scritivos são Surveys, masSurveys po<strong>de</strong>m ser estudos analíticos; experimentossão, obviamente, estudos analíticos. Nem sempre épossível separar uma survey em puramente analítica eou <strong>de</strong>scritiva, às vezes ela combina os dois tipos <strong>de</strong>estudos. Ao realizar uma survey <strong>de</strong>scritiva <strong>de</strong> cortetransversal na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ipu, no estado do Ceará,Fig. 3 - Antena parabólica <strong>de</strong> TV ao lado e uma oca, no Parque do Xinguverificou-se que as prevalências <strong>de</strong> tracoma total ecicatricial, entre escolares, variaram <strong>de</strong> acordo com opadrão <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sócioeconômico das áreasda cida<strong>de</strong>. Estudantes da escola Theresa O<strong>de</strong>te,localizada na área mais pobre da cida<strong>de</strong>, semabastecimento <strong>de</strong> água, apresentavam a prevalência <strong>de</strong>284Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 274-288.


EPIDEMIOLOGIA PARA O OFTALMOLOGISTATabela IIIPrevalência <strong>de</strong> tracoma folicular (TF) e cicatricial (TS) em estudantes <strong>de</strong> escolas situadas em diferentespontos car<strong>de</strong>ais, na região urbana do Município <strong>de</strong> Ipu, estado do Ceará, entre 1988 e 1989.Escolas TF TS TotalN % N % N %Mons. Gonçalo Lima 79 13,78 10 1,74 573 100,00Delmiro Gouveia 55 15,10 12 3,29 364 100,00Theresa O<strong>de</strong>te 18 11,84 32 21,05 152 100,00Cel. José Lourenço 51 12,21 6 1,42 421 100,00Total 203 13,44 60 3,97 1510 100,00tracoma cicatricial 6 a 14 vezes mais elevada que osestudantes das outras áreas, conforme se observa natabela 3 seguir (Scarpi, et al., 1990). Trata-se, portanto,<strong>de</strong> uma combinação <strong>de</strong> estudos <strong>de</strong>scritivo e analítico.Assim, enten<strong>de</strong>-se que para estabelecer umarelação entre um fator <strong>de</strong> risco ou um agente etiológicoe a presença ou ausência <strong>de</strong> uma doença em umacomunida<strong>de</strong>, é necessário aplicar um estudo analítico,através <strong>de</strong> estudo caso-controle (o investigadorcompara indivíduos expostos ao fator, previamente,com indivíduos não expostos a ele), ou coorte(longitudinal – os indivíduos são agrupados conformeo padrão <strong>de</strong> exposição, em expostos e não expostos,e então é feita a medida da freqüência do aparecimentoda doença após a exposição); po<strong>de</strong>ndo ser retrospectivoou prospectivo.2.3.1.2.1. Delineação da survey analíticaHatch (1998) discute <strong>de</strong> forma interessantecomo <strong>de</strong>linear uma investigação que utilize estesmétodos e mostra o seguinte exemplo, o qual vale apena ser aqui transcrito:Durante anos, médicos e pacientes <strong>de</strong>bateramos benefícios do controle intenso da glicemia parapacientes com diabetes. Se este tipo <strong>de</strong> controle reduzos riscos <strong>de</strong> retinopatia diabética e outras complicações,então justifica a insistência <strong>de</strong> seu uso com o pacientes.Este tipo <strong>de</strong> controle implica na redução da qualida<strong>de</strong><strong>de</strong> vida do doente, pois inclui: várias medidas diárias daglicemia, dieta repleta <strong>de</strong> restrições, injeção <strong>de</strong> insulina6 vezes por dia e manter a glicemia pré-prandial entre70 e 120 e a pós-prandial abaixo <strong>de</strong> 180. Estudosretrospectivos haviam mostrado benefícios, mas osprospectivos não, <strong>de</strong>ixando os pesquisadores confusose os pacientes <strong>de</strong>sapontados. Nos anos 90, esteFigura IVTratamento diabetes: convencional x intensivoOs números abaixo do eixo X referem-se ao número <strong>de</strong> pacientesnos anos 3,5,7 e 9. (Figura modificada)Fonte: Hatch SW. What’s it all about. In Hatch SW. Ophthalmicresearch epi<strong>de</strong>miology. England: Butterworth-Heinemann; 1998, p.3.Apresentação adaptada Fonte: The effect of intensive treatmentof diabetes on the <strong>de</strong>velopment and progression of long-termcomplications in insulin-<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt diabetes mellitus. TheDiabetes Control and Complications Trial Research Group. NEngl J Med 1993;329:977-86.problema foi esclarecido, quando um estudo realizadodurante 9 anos <strong>de</strong> acompanhamento mostrou querealmente havia benefício.O que estava acontecendo é que nos primeirosestudos prospectivos fazia-se o acompanhamento por umperíodo muito curto para esta doença. Um estudo melhor<strong>de</strong>lineado selecionou um grupo experimental (que recebiatratamento intenso) que tinha a mesma proporção <strong>de</strong>complicações que o grupo controle (que recebia tratamentoconvencional), durante os 3 primeiros anos <strong>de</strong> estudo.Observando a figura 4, se aplicarmos um teste estatísticoaos 18 primeiros meses, não encontraremos diferençasRev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 274-288.285


EPIDEMIOLOGIA PARA O OFTALMOLOGISTATabela IVPresença <strong>de</strong> Chlamydia trachomatis em via genito-urinária <strong>de</strong> pais (uretra) e mães (cérvice)<strong>de</strong> crianças com tracoma inflamatório, em regiões endêmicas <strong>de</strong> tracomaLocalida<strong>de</strong> Pais Mãespresente ausente presente ausenteIpu – CE N 20 0 24 2% 100,00 0 92,30 7,70Mocambo – CE N 10 3 4 1% 76,02 23,98 80,00 20,00Palmares – PE N 4 0 5 2% 100,00 0 71,42 28,58Total N 31 3 33 5% 91,17 8,82 86,84 13,16estatisticamente significantes e, certamente, nãoaconselharíamos os pacientes a se sacrificarem tanto. Foio que aconteceu nos estudos anteriores. Após 4 anos ascurvas se divergem, mas até o 5º ano os testes estatísticosnão mostram superiorida<strong>de</strong> do tratamento intenso. Após o5º ano passamos a ter certeza <strong>de</strong> que estas curvas nãomais se encontrarão e neste ponto vemos que a chance<strong>de</strong> isto ser verda<strong>de</strong> é <strong>de</strong> 1 caso em 1.000 diabéticos tratadospelo método intensivo, ou seja, p é menor do que 0,001.Neste ponto po<strong>de</strong>mos dizer que o tratamento intensivo dadoença diabetes reduz a freqüência <strong>de</strong> aparecimento daretinopatia para 25% a 40%.2.3.1.2.2. Surveys analíticas baseadas em grupoSurveys analíticas baseadas em grupocomparam grupos ou populações. Algumas vezes sãochamadas ecológicas ou correlacionais. Servem para<strong>de</strong>spertar a atenção para diferenças e ten<strong>de</strong>nciosida<strong>de</strong>smerecedoras <strong>de</strong> investigação posterior. Po<strong>de</strong>mosexemplificar: “A forte correlação positiva entre a altaprevalência <strong>de</strong> infecções urogenitais clamidianas,conforme aparece na tabela 4, nos pais <strong>de</strong> crianças comtracoma folicular e a alta prevalência <strong>de</strong> tracoma folicularentre estas crianças, verificado em região endêmica doCeará (Scarpi et al., 1989) e em bairro do município <strong>de</strong>Palmares, Pernambuco (Scarpi et al., 1990 ; Silva, Scarpi,bLuz, Guidugli, 1991) não significa necessariamente queuma ou outra mucosa seja a fonte do microrganismo,mas levanta questões importantes, mesmo que estacorrelação seja um reflexo <strong>de</strong> outros fatores<strong>de</strong>sconhecidos para os quais não há dados disponíveis,Fig. 5: População indígena do Parque do Xingu em ativida<strong>de</strong> à beira do rioou que venha provar-se, futuramente, não ser verda<strong>de</strong>”.Os achados para um estudo baseado em gruponão são aplicáveis a um indivíduo sozinho. O fato <strong>de</strong>uma população indígena ter uma morbida<strong>de</strong> baixa dotracoma, apesar da prevalência alta, provavelmente<strong>de</strong>vido à maior exposição às águas do rio (figura 5)(Scarpi et al., 1992 a), não significa necessariamenteque indivíduos que não tomem banho <strong>de</strong> rio estejampropensos a <strong>de</strong>senvolver o tracoma; isto <strong>de</strong>ve sertestado em uma survey baseada no indivíduo ou, melhorainda, em um experimento completo.Estudos baseados em grupos são algumasvezes o único <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> estudo apropriado, porexemplo, nas comparações <strong>de</strong> grupos expostos adiferentes influências ambientais ou diferenciação comrespeito a processos <strong>de</strong> transmissão ou interaçãointragrupo, e algumas vezes eles facilitam o estudodas relações com exposições ao meio ambiente quesão difíceis <strong>de</strong> medir individualmente.286Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 274-288.


EPIDEMIOLOGIA PARA O OFTALMOLOGISTA2.3.1.2.3. Surveys analíticas baseadas no indivíduoSurveys analíticas baseadas no indivíduo sãoevi<strong>de</strong>ntemente estudos <strong>de</strong> grupos, mas utilizam-seinformações sobre cada indivíduo no grupo. Sãorealizadas para testar uma hipótese <strong>de</strong> que um fatorcausal específico é um <strong>de</strong>terminante <strong>de</strong> uma doençaespecífica, através da medida da exposição <strong>de</strong> cadaindivíduo ao fator causal postulado e a presença dadoença em cada indivíduo. Po<strong>de</strong>m ser categorizadascomo <strong>de</strong> corte-transversal, cohort ou caso-controle, ouuma combinação <strong>de</strong>stes três (<strong>de</strong>senhos híbridos).Figura 6Prevalência <strong>de</strong> TF – 91/992.3.1.2.3.1. Estudos <strong>de</strong> corte-transversal e cohort emsurveys analíticas baseadas no indivíduoUm estudo <strong>de</strong> corte-transversal analíticoexamina a associação que existe em um grupo oupopulação (ou uma amostra <strong>de</strong>stes) em um dadomomento. O estudo po<strong>de</strong> ser baseado em dadosretrolectivos (previamente registrados) ou prolectivos.Um estudo cohort analítico é um estudo <strong>de</strong>seguimento, ou prospectivo, no qual pessoas que são,respectivamente, expostas e não expostas ao(s)fator(es) causal(is) postulado(s), ou que tenhamdiferentes graus <strong>de</strong> exposição, são comparadas comrelação ao <strong>de</strong>senvolvimento subseqüente da doença(ou outro evento que está sendo estudado); as pessoasque são acompanhadas são referidas como sendo ocohort. Se a doença é uma que não po<strong>de</strong> ser contraídaduas vezes, as pessoas que a tenham no início dainvestigação, isto é, antes do seguimento, sãoexcluídas da comparação. Estudo <strong>de</strong>ste tipo po<strong>de</strong> serutilizado para casos <strong>de</strong> tracoma inflamatório, pois,indivíduos po<strong>de</strong>m ter TF (tracoma folicular) no iníciodo estudo, os folículos <strong>de</strong>saparecerem após algunsdias e retornarem ainda durante o período <strong>de</strong>investigação da incidência.Observemos 2 fontes <strong>de</strong> possível confusãoterminológica: o termo “estudo cohort” é, como já ditoanteriormente, algumas vezes usado para um estudo<strong>de</strong> seguimento <strong>de</strong>scritivo (não-analítico), e o termo“prospectivo” é freqüentemente usado para indicar acoleta <strong>de</strong> dados realizada após o início do estudo (dadosprolectivos), ao invés <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> estudo cohort.Um estudo cohort assemelha-se a umexperimento, exceto que a exposição ou a não-exposiçãonão é controlada pelo investigador. Indivíduos específicospo<strong>de</strong>m ser escolhidos para o seguimento por causa dasua exposição ou não-exposição ao fator causal, ou umcohort po<strong>de</strong> ser selecionado <strong>de</strong> alguma outra maneira(por exemplo: por residir numa vizinhança específica),caracterizada com respeito ao padrão <strong>de</strong> exposição eacompanhada. Escolheu-se, especificamente, os recémnascidos<strong>de</strong> um bairro <strong>de</strong> Palmares, estado <strong>de</strong>Pernambuco, para investigar a incidência <strong>de</strong> oftalmianeonatal clamidiana (Silva, Scarpi, Luz, Guidugli ,1991),<strong>de</strong>vido ao conhecimento da presença da bactéria naquelacomunida<strong>de</strong>, pela já sabida prevalência <strong>de</strong> infecçõesoculares clamidianas nas crianças, 7,40% <strong>de</strong> tracomainflamatório, e a presença <strong>de</strong> tracoma cicatricial em1,88% da população entre 6 e 74 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> (Scarpiet al., 1990), caracterizando um padrão da exposição aomicrorganismo (apesar <strong>de</strong> se estar consciente dasdiferenças epi<strong>de</strong>miológicas entre transmissão olho-a-olhoe sexualmente transmissível) e encontrou-se estaincidência igual a 23,81%.Dados previamente coletados (retrolectivos)e dados históricos são freqüentemente utilizados emestudos cohort. Exemplo disto, foi um estudorealizado em 1999 (Scarpi et al., 2000) quandocomparou-se a prevalência encontrada nesta datacom dados sobre a prevalência <strong>de</strong> tracoma entreÍndios do Parque do Xingu em 1991 (Scarpi et al,1992 a ; Scarpi et a.l., 1992 b ) (Figura 6). Destacomparação <strong>de</strong> dados <strong>de</strong> duas épocas constatou-seque houve uma gran<strong>de</strong> redução na prevalência dotracoma total, passando do valor mínimo <strong>de</strong> 15,38%e máximo <strong>de</strong> 33,33%, em 1991, para os valores 4,16%e 13,43%, em 1999. A população dos KrenAkaroreque apresentou 74,09% <strong>de</strong> tracoma total em1991, não foi examinada em 1999 <strong>de</strong>vido ao retorno<strong>de</strong>stes Índios as suas terras fora do Parque.Tal tipo <strong>de</strong> estudo po<strong>de</strong> ser chamado <strong>de</strong> estudoprospectivo histórico, ou estudo prospectivo nãoconcomitante, ou estudo cohort retrospectivo, ou estudoprospectivo em retrospecto, ou um <strong>de</strong>senhoretrospectivo com direcionamento dianteiro.Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 274-288.287


EPIDEMIOLOGIA PARA O OFTALMOLOGISTA2.3.1.2.3.2. Estudo <strong>de</strong> caso-controle em surveysanalíticas baseadas no indivíduoEm estudo típico <strong>de</strong> caso-controle para examinarrelação entre um fator causal suspeito e uma doença (ououtro evento), pessoas com a doença são comparadascom controles livres da doença, para <strong>de</strong>terminar se elasdiferem em suas exposições ao fator causal.Os controles <strong>de</strong>vem ser representativos dapopulação-base da qual os casos originam; i<strong>de</strong>almente,são pessoas que se tornariam casos no estudo se elastivessem <strong>de</strong>senvolvido a doença. Esta situação é maisfacilmente encontrada num estudo <strong>de</strong> caso-controlerealizado <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma população <strong>de</strong>finida, on<strong>de</strong> oscasos po<strong>de</strong>m ser comparados com todos os não-casos(ou uma amostra representativa).Uma comparação <strong>de</strong> casos e controles que estábaseada nas associações existentes em um temposingular, por questões práticas, <strong>de</strong>veria ser classificadacomo um estudo <strong>de</strong> caso-controle ao invés <strong>de</strong> estudo<strong>de</strong> corte transversal, uma vez que se leva em conta asmesmas consi<strong>de</strong>rações para o estudo caso-controlena seleção dos indivíduos e como eles interferem naanálise e interpretação dos resultados.Estudos <strong>de</strong> caso-controle geralmente requeremmenos tempo do que estudos cohort e são relativamentesimples <strong>de</strong> executar, uma vez que eles não utilizam adifícil tarefa <strong>de</strong> acompanhar os indivíduos, e geralmenterequerem poucos indivíduos. Eles, algumas vezes,oferecem soluções imediatas para o problema, em geralem estudos <strong>de</strong> epi<strong>de</strong>mias, on<strong>de</strong> os casos estudadossão muitos constituindo o problema. Mas a informaçãosobre a exposição para a “causa” é geralmente obtidaquando a doença já está presente e isto po<strong>de</strong> produzirvárias formas <strong>de</strong> ten<strong>de</strong>nciosida<strong>de</strong>s. Por exemplo: casospo<strong>de</strong>m parecer mais <strong>de</strong>stacados quanto à exposição doque os controles, ou vice-versa (viés <strong>de</strong> revocação); ouo conhecimento do investigador <strong>de</strong> que a doença estápresente po<strong>de</strong> estimular uma busca especialmenteintensa para evi<strong>de</strong>nciar a exposição (viés <strong>de</strong> exposiçãosuspeita).Um estudo cohort po<strong>de</strong> ser impraticável se adoença é rara ou se ela <strong>de</strong>senvolve muito tempo apósa exposição. Exemplo <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> doença é a catarataque aparece por exposição à luz solar.2.3.1.3.Experimento naturalVeja no capítulo sobre “Experimentos e quaseexperimento”,na próxima edição.288Rev. Bras. Oftal. 2004; 63 (4): 274-288.

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