Núm. 31: 169-197Marzo 2011dos com os registros emitidos através dasconsultas executadas pela Coordenadoriade Saúde Rural, de frequencia mensal nacomunidade (Relatório Anual da SecretariaEstadual de Saúde do Mato Grosso, 2004).A mesma presta assistência à saúde atravésde serviços ambulatoriais da Fundação daSaúde de Cuiabá – Coordenadoria de SaúdeRural da Prefeitura Municipal de Cuiabá.A mata de galeriaBiodiversidade: conhecimentos e práticasde utilizaçãoA presença da mata de galeria, particularmenteno cerrado mato-grossense, reveste-sede grande importância na vida da populaçãoregional. De um lado, pela oferta de remédiose alimentos para a subsistência dasfamílias, de outro, por ser um dos vetoresque leva determinados moradores locais àconservação dos recursos nela existentese, através dela se identificam socialmente,enquanto membro da comunidade.A mata de galeria é considerada pela populaçãolocal um componente essencial e fundamentalà unidade paisagística que caracterizaa região. Nela encontram-se presentesos representantes da flora e da fauna localque são considerados símbolos vivos nãosó de uma geração, mas de várias gerações.Na região estudada as matas de galeria seestendem por toda a extensão no alto damicrobacia do rio Aricá-Açu e são drenadaspelos rios que nascem na serra da Chapadados Guimarães e correm em direção ao rioAricá-Açu. Tanto as matas de galeria quantoos rios presentes em cada propriedade lhesconfere o valor patrimonial dos recursosnaturais neles existentes, os quais são expressospelas seguintes afirmações:184“... das matas nós tira de tudo, a madeira,a comida, os remédios, tem comida pra nóse pros bichos também... no tempo da seca émais difícil os bichos saem prá buscá comida...no tempo das chuva tem mais fartura...na mata sempre tem água pros bichos ...”(Sra. D. A. A. da S, 69 anos. Comunidadede Conceição Açu, Cuiabá, MT).“... Se acabá com a mata, acaba a sombra,acaba a água, a comida, acaba a fartura detudo que se busca lá (na Mata)... o causo éque a gente e os bichos depende de tudo quetem na mata... é uma riqueza muito grandeque a gente tem na vida, a gente tem que dámuito valor pra ela (Mata) tem que zelá”.(Sr. D. S. R. da S. 64 anos, comunidade deConceição Açu, Cuiabá, MT).As pessoas que vivem em Conceição-Açutambém executam atividades como pesca,caça e coleta de frutos e produtos encontradosnas matas de sua propriedade rural. Sãoas matas de galeria e seus respectivos cursoshídricos locus importantíssimos para a vidados moradores que, ao utilizarem os recursosvegetais do meio ambiente, utilizando-sede diferentes formas de manejo tradicional,mantêm o ecossistema equilibrado, mesmointervindo cotidianamente.Quanto à coleta de produtos na mata de galeria,presenciou-se o processo de extração doóleo de copaíba, o qual é retirado do cerneda árvore (Copaifera langsdorffi i Desf.),muito utilizado com finalidades medicinais.Para Almeida & Albuquerque (2002) estaespécie obteve um dos mais altos índicesquanto ao valor de importância relativa (IR)das plantas conhecidas como medicinais naFeira de Caruaru, Agreste de Pernambuco.Em Conceição-Açu, a atividade de coletaacontece através de mutirão. Para execuçãoda coleta são observados itens considerados
Pasa, M.C.: Abordagem etnobotânica na comunidade de Conceição-açu. Mato Grosso, Brasilfundamentais como a idade da árvore, aaltura, o diâmetro do tronco, localização daárea a que pertencem às plantas selecionadase a localização espacial da espécie nacomunidade vegetal. Depois de identificadase marcadas as árvores escolhidas, a próximaetapa é o processo de extração.Durante o processo de extração os participantesnão olham para cima, não falam alto,não gritam, não riem ou fazem qualqueroutro tipo de manifestação efusiva “... nãopode pertubá o ambiente... ela (árvore) escondeo líquido da gente” (Sr. P. P. 66 anos.Comunidade de Conceição Açu. Cuiabá,MT). No entendimento desses moradoreslocais, essas atitudes estariam perturbandoa energia que conserva a natureza emequilíbrio, estariam desrespeitando a “forçamaior” das matas e assim promovendo adesconcentração espiritual e mental dosextratores, a diluição do óleo e a diminuiçãoda sua quantidade, conforme relato de ummorador: “Não pode estar ventando muitoporque o vento promove o “espalhamento”do óleo da árvore para os galhos e as folhase com isso provoca a redução na quantidadedo produto a ser coletado”. O materialusado para a extração do óleo compõe-se dotrado, mangueira de pequeno calibre, balde,frascos ou recipientes de vidro e cortiça.Conversam em voz baixa para definir aárea e a altura da perfuração no tronco daárvore. Dá-se o início, então, à perfuraçãodo tronco através do manivelar de um tradoque o perfura até atingir o cerne. O tempodispensado à etapa da coleta de óleo podevariar de árvore para árvore, conforme aquantidade de óleo existente, e demorar deduas até cinco ou seis horas.O óleo é extraído, geralmente, de uma ouduas árvores apenas e a extração é sazonal,preferencialmente no mês de agosto. Assimacontece porque esse período representa ofinal da época seca, significando que o óleoencontra-se mais concentrado, mais consistente.Apresenta aspecto viscoso, coloraçãoamarelada e um aroma agradável. O óleo éusado como antinflamatório, para gripes,tosses, resfriados, dores no corpo, para tratarde feridas abertas, fraturas e alergias.Outras espécies presentes nas matas da região,como Calophyllum brasiliensis Camb.,Hymenea stignocarpa Mart., Tabebuiaheptaphylla (Vell.) Toledo, Bixa orellanaL., Protium heptaphyllum (Aubl.) March.,Croton salutaris Muell. Arg., Carinianarubra Gardner. ex. Miers., Inga sp, são bastanteconhecidas e utilizadas pela populaçãolocal. São árvores de terra firme e de certoslugares úmidos e arenosos. Sua madeira éusada para confecção de móveis, prateleiras,bancos, cercas e mourões. Alguns frutossão comestíveis e usados como remédio namedicina caseira. Um estudo que aborda ouso dos recursos vegetais da Caatinga, noagreste de Pernambuco revela que entreos usuários das plantas locais Hymenaeastigonocarpa Mart. ex. Hayne (jatobá) éaltamente utilizado na região de Alagoinha(PE), demonstrando a importância da espéciecomo medicinal para a comunidade local(Albuquerque & Andrade, 2002).Para Vendruscolo et al., 2006 ao abordaremo uso das plantas na categoria medicinalressaltam a importância do valor de uso, aforma de coleta e o armazenamento das espéciesAchyrocline satureioides (“marcela”)e Cuphea carthagenensis (“sete-sangria”),entre outras espécies com maior índice deimportância para a comunidade local e quesão adquiridas com vizinhos e amigos queas cultivam.185
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