ininteligíveis − se bem que este público sempre as compreenda o bastante parasentir que elas querem dizer coisas que ele compreende bem mais. Para falar demaneira um tanto objetivista e determinista, o produtor em sua produção écomandado pela posição que ocupa no espaço da produção. Os produtoresproduzem produtos diversifica<strong>dos</strong> pela própria lógica das coisas e sem procurar adistinção (é claro que o que tentei mostrar opõe-se diametralmente a todas asteses sobre o consumo ostentatório que fazem da busca consciente da diferença oúnico princípio de mudança da produção e do consumo culturais).Há, portanto, uma lógica do espaço de produção que faz com que osprodutores, querendo ou não, produzam bens diferentes. As diferenças objetivaspodem, é claro, serem subjetivamente aumentadas e, há muito tempo, os artistasque são objetivamente distintos, procuram também objetivamente se distinguir −em particular no estilo, na forma, naquilo que propriamente Ihes pertence, emoposição ao tema, à função. Dizer, como eu fiz às vezes, que os intelectuais,assim como os fonemas, só existem pela diferença, não quer dizer que todadiferença tenha por princípio a procura da diferença: felizmente não basta procurara diferença para encontrá-la, e às vezes num universo onde a maioria procura adiferença, basta não procurá-la para ser muito diferente...Do lado <strong>dos</strong> consumidores, como as pessoas fazem suas escolhas? Emfunção de seu gosto, isto é, de uma maneira que em geral é negativa (pode-sesempre dizer o que não se quer, isto é, geralmente o gosto <strong>dos</strong> outros): gosto quese constitui na confrontação com os gostos já realiza<strong>dos</strong>, que ensina a si próprio oque ele é ao se reconhecer em objetos que são gostos objetiva<strong>dos</strong>.Compreender os gostos, fazer a sociologia <strong>dos</strong> gostos que as pessoas têm, desuas propriedades e suas práticas é, portanto, por um lado conhecer as condiçõesem que se produzem os produtos ofereci<strong>dos</strong> e por outro as condições em que osconsumidores são produzi<strong>dos</strong>. Assim, para compreender os esportes que aspessoas praticam, é preciso conhecer suas disposições e também a oferta que é oproduto de invenções históricas. O que significa que o mesmo gosto poderia, numoutro estado da oferta, se exprimir em práticas inteiramente diferentes do ponto devista fenomênico, e no entanto serem estruturalmente equivalentes. (É a intuiçãoprática destas equivalências estruturais entre objetos fenomenicamente diferentese, no entanto, praticamente substituíveis, que nos faz dizer que Robbe-Grillet épara o século XX o que Flaubert era para o século XIX; o que significa que quem2 N.T. - Le Figaro: jornal de direita.5