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Monografia_Mara ARQ.pdf - Universidade Jean Piaget de Cabo Verde

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<strong>Mara</strong> Soalene Gomes LimaRevitalização UrbanaProposta Teatro Min<strong>de</strong>lo<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Jean</strong> <strong>Piaget</strong> <strong>de</strong> <strong>Cabo</strong> Ver<strong>de</strong>Campus Universitário da Cida<strong>de</strong> da PraiaCaixa Postal 775, Palmarejo Gran<strong>de</strong>Cida<strong>de</strong> da Praia, Santiago<strong>Cabo</strong> Ver<strong>de</strong>Novembro - 2012


<strong>Mara</strong> Soalene Gomes LimaRevitalização UrbanaProposta Teatro Min<strong>de</strong>lo<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Jean</strong> <strong>Piaget</strong> <strong>de</strong> <strong>Cabo</strong> Ver<strong>de</strong>Campus Universitário da Cida<strong>de</strong> da PraiaCaixa Postal 775, Palmarejo Gran<strong>de</strong>Cida<strong>de</strong> da Praia, Santiago<strong>Cabo</strong> Ver<strong>de</strong>Novembro - 2012


<strong>Mara</strong> Soalene Gomes Lima, autora damonografia intitulada Revitalização Urbana:Proposta Teatro Min<strong>de</strong>lo, <strong>de</strong>claro que, salvofontes <strong>de</strong>vidamente citadas e referidas, opresente documento é fruto do meu trabalhopessoal, individual e original.Cida<strong>de</strong> da Praia ao 30 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 2012<strong>Mara</strong> Soalene Gomes LimaMemória Monográfica apresentada à<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>Jean</strong> <strong>Piaget</strong> <strong>de</strong> <strong>Cabo</strong> Ver<strong>de</strong>como parte dos requisitos para a obtenção dograu <strong>de</strong> Licenciatura em Arquitectura.4


SumárioMin<strong>de</strong>lo a cida<strong>de</strong> cosmopolita <strong>de</strong> <strong>Cabo</strong> ver<strong>de</strong>, tem enfrentado vários <strong>de</strong>savios no queconcerne ao acompanhamento das suas infra-estruturas <strong>de</strong> base e tecido urbano as novas<strong>de</strong>mandas. Muito do seu património tem-se perdido pela inexistência <strong>de</strong> planos <strong>de</strong>conservação a<strong>de</strong>quados que sirvam <strong>de</strong> orientação nesta nova fase <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento,reflectindo-se directamente na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos resi<strong>de</strong>ntes e no património cultural dacida<strong>de</strong>.Dentro <strong>de</strong>ste contexto, preten<strong>de</strong>-se esboçar uma proposta <strong>de</strong> revitalização urbanapara a zona norte do centro <strong>de</strong> Min<strong>de</strong>lo, baseando-se no binómio Cultura – Habitação,utilizando-os como estratégia <strong>de</strong> recuperação e preservação do património urbano earquitectónico. O estudo evolui para uma proposta <strong>de</strong> um equipamento cultural com base noplano <strong>de</strong> revitalização proposto, que figura como o estudo <strong>de</strong> caso <strong>de</strong>ste trabalho, o TeatroMin<strong>de</strong>lo.Palavras-chaves: Revitalização urbana, Cultura – Habitação, Estratégia <strong>de</strong>preservação do património urbano e arquitectónico.5


6À minha filha Annah, pela alegria e amor,que fizeram os momentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sanimo ecansaço mais fáceis <strong>de</strong> superar.


Agra<strong>de</strong>cimentosAgra<strong>de</strong>ço primeiro a Deus que esteve sempre ao meu lado iluminado o meu caminhoe ajudando a superar todas as barreiras para chegar até aqui.Ao Professor Mestre Pedro Delgado, por ter aceitado orientar esta monografia, peloapoio e estimulo em todos os momentos, e sobretudo pela disponibilida<strong>de</strong> e paciência<strong>de</strong>monstrada do inicio até ao fim <strong>de</strong>ste estudo.A todos os meu professores, em particular ao Professor Mestre Francisco Duarte eProfessor Mestre Nicolau Carvalho, pelos conhecimentos transmitidos durante todos ossemestres e neste trabalho, pelas conversas e resposta sempre pronta e certeira, a todas asminhas questões.Aos meus colegas <strong>de</strong> batalha <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o inicio <strong>de</strong> curso até este momento, em especial,Patrick Santos, Isaac Sena e Andradina Tavares, sem vocês seria mais difícil chegar atéaqui.A toda a minha família pelo constante apoio mural e pela força que me <strong>de</strong>ram aolongo <strong>de</strong>sta caminhada. Pelas discussões e polémicas que cercaram o assunto <strong>de</strong>ste trabalhoe contribuíram para chegar a um porto.Aos min<strong>de</strong>lenses envolvidos, que nas muitas conversas e entrevistas informaisajudaram a ter uma visão mais ampla <strong>de</strong>ste Min<strong>de</strong>lo.Uma referencia e um agra<strong>de</strong>cimento especial ao meu companheiro Alexey Coimbra,a quem tive <strong>de</strong> roubar o tempo e a atenção que lhe <strong>de</strong>vo e que tanto merece, e a quemagra<strong>de</strong>ço toda a compreensão paciência e apoio que tive ao longo <strong>de</strong>stes anos, e pela certezaque criou em mim que chegaria ao fim <strong>de</strong>sta etapa tão importante.A todos, o meu muito obrigado.7


ÍNDICEINTRODUÇÃO……………………………………………………………………………121. Capitulo 1: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA………………………………………….......161.1. Conceitos inerentes a revitalização urbana…………………………………………...161.2. Centros Históricos……………………………………………………………………181.2.1. Centro Histórico – Definição……………………………………………….…....181.2.2. Centro Histórico e a sua evolução no tempo…….………………………………191.3. As cida<strong>de</strong>s e as suas frentes <strong>de</strong> água “Waterfront”……………………..…………....211.3.1. História da reabilitação <strong>de</strong> frentes <strong>de</strong> água………………………………………211.3.2. Um novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> intervenção espacial…….…………………………………221.4. Contribuição dos teóricos ao longo dos tempos……………………………………...241.4.1. Haussman e o Plano <strong>de</strong> Paris………………………………………………….…241.4.2. Cerdá e o Plano <strong>de</strong> Barcelona…………………………………………………....261.5. Caso <strong>de</strong> revitalização urbana a nível internacional – Porto <strong>Mara</strong>vilha, Brasil……….281.5.1. Objectivos………………………………………………………………………..342. Capitulo 2: MINDELO…………………………………………………………………..362.1. Localização Geográfica …………………………………………………………..….362.2. Demografia…………………………………………………………………………...382.3. História……………………………………………………………………………….412.3.1. Colonização Portuguesa………………………………………………………….412.3.2. Min<strong>de</strong>lo e os Ingleses…………………………………………………………….432.4. Momentos do assentamento urbano do Min<strong>de</strong>lo………………………………………..442.5. Caracterização Urbana da Cida<strong>de</strong> do Min<strong>de</strong>lo………………………………………….452.5.1. O Centro e a Periferia………………………………………………………….452.6. Cultura ……………………………………………………………………………….483. Capitulo 3: PLANO DE REVITALIZAÇÃO DA ZONA NORTE DO CENTRO DEMINDELO……………………………………………………………………………………..503.1. Enquadramento……………………………………………………………………….503.2. Analise SWOT…………………………………………………………………………..523.3. Objectivo Geral e Objectivos Específicos………………………………………………533.4. Projecto <strong>de</strong> Intervenção………………………………………………………………553.4.1. Re<strong>de</strong>finição do Sistema Viário ………………………………………………..563.4.2. Reabilitação da Marginal………………………………………………………583.4.3. Revitalização <strong>de</strong> Praças………………………………………………………..593.4.4. Recuperação <strong>de</strong> Edifícios Antigos…………………………………………….623.4.5. Tratamento <strong>de</strong> Vazios Urbanos………………………………………………..828


3.4.6. Elementos Morfológicos……………………………………………………….844. Capitulo 4: ESTUDO DE CASO “ TEATRO MINDELO”……………………………….854.1. Motivo <strong>de</strong> Escolha...……………………………………………………………………864.2. Fase <strong>de</strong> Conceito………………………………………………………………………..864.3. Estudo Preliminar………………………………………………………………………894.3.1. Conceito………………………………………………………………………..894.3.2. Proposta <strong>de</strong> intervenção………………………………………………………..90CONCLUSÃO………………………………………………………………………………..94BIBLIOGRAFIA…………………………………………………………………..……………97APÊNDICES……………………………………………………………………………………99I – MOMENTO DE ASSENTAMENTO URBANOII – LIMITE DA ÁREA DE INTERVENÇÃOIII - REDE VIARIO PROSTOIV- REVITALIZAÇÃO DE PRAÇASV – REDE DE SALASVI – EDIFICIOS RECUPERADOSVII – VAZIOS URBANOSVIII – CARTA SINTESE, PLANO DE REVITALIZAÇÃO URBANAIX – LOCALIZAÇÃO / ELEMENTOS MARCANTESX – LIMITE DE INTERVENÇÃO DO TEATRO MINDELOXI – PLANTA DE LOCALIZAÇÃOXII – PLANTA DE IMPLANTAÇÃOXIII – PLANTA PISO 0XIV – PLANTA PISO 1XV – PLANTA PISO 2XVI – PLANTA DE COBERTURAXVII – CORTES AA´ E BB´XVIII – ALÇADO FRONTAL E POSTERIORXIX – ALÇADO LATERAL ESQUERDO E DIREITOXX – IMPLANTAÇÃO 3D9


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loFigura 32:Casa Cohen – Katem, em esquina e em conjunto com a casa do Leão....................74Figura 33: Antigo Consulado Inglês, sobre a Marginal ..........................................................75Figura 34: Edificio da Banda Minicipal, e via da ligação com à Casa Wilson.........................76Figura 35: Casa Wilson na Rua 5 <strong>de</strong> Julho, antiga Rua Inglesa...............................................77Figura 36: Casa Miranda, esquina bloco a e esquina bloco b……..........................................78Figura 37: Lombo Macleod e Capela Anglicana (século XIX)...............................................80Figura 38: Fotografia aerea do Monte Fortim..........................................................................81Figura 39: Teatro Casto Alves……….....................................................................................87Figura 40: Bronks Youth Theatre…………………….. ..........................................................88Figura 41: Reina Victoria Teatro Cinema………….. ..............................................................88Figura 42: Teatro Ágora……………………………………...................................................88Figura 43: Teatro Min<strong>de</strong>lo vista 1………………………….....................................................91Figura 44: Teatro Min<strong>de</strong>lo vista 2………………………….....................................................91Figura 45: Teatro Min<strong>de</strong>lo vista 3………………………….....................................................92Figura 46: Teatro Min<strong>de</strong>lo vista 4………………………….....................................................92Figura 47: Teatro Min<strong>de</strong>lo vista 5………………………….....................................................9212


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loIntroduçãoOs Centros Históricos, estabelecem-se como elemento central do espaço urbano dasdiferentes vilas e cida<strong>de</strong>s.Os centros históricos <strong>de</strong> <strong>Cabo</strong> Ver<strong>de</strong> estão razoavelmente conservados e possuem umacerta vida urbana, não apresentando os sintomas <strong>de</strong> <strong>de</strong>terioração e <strong>de</strong> conflito socialcaracterísticos <strong>de</strong> muitos centros históricos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s áreas metropolitanas dos paísessub<strong>de</strong>senvolvidos e <strong>de</strong>senvolvidos. Esta situação po<strong>de</strong>rá alterar-se nas próximas décadas,<strong>de</strong>vido ao rápido crescimento <strong>de</strong> algumas cida<strong>de</strong>s, acelerado pelo processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização dopaís verificado <strong>de</strong>pois da In<strong>de</strong>pendência.A análise <strong>de</strong> diferentes realida<strong>de</strong>s, leva à constatação que os Centros Históricos, função<strong>de</strong> vária or<strong>de</strong>m, factores e problemas, nomeadamente enquanto espaço disputado por outrascentralida<strong>de</strong>s urbanas, foram com o passar do tempo, per<strong>de</strong>ndo a vitalida<strong>de</strong> e a importânciasuperior que <strong>de</strong>tinham na vivência e formação das populações e dos aglomerados, enquantoreferência cultural, histórica e <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> urbana.A preservação do carácter, da escala humana e da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>stes centros sópo<strong>de</strong>rá ser conseguida no quadro <strong>de</strong> uma planificação urbana e regional do país. Asintervenções programadas para estes espaços <strong>de</strong>verão visar em primeiro lugar a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vida dos habitantes e dos utilizadores, e a preservação dos valores históricos e culturais dopassado. A manutenção da função habitat a par das funções administrativas, comercial e13


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>locultural é um factor importante para a preservação física e social dos sectores centrais dascida<strong>de</strong>s. E é neste sentido que se propõe este trabalho, on<strong>de</strong> preten<strong>de</strong>-se com a revitalizaçãourbana da zona norte do centro e Min<strong>de</strong>lo resgatar a sua centralida<strong>de</strong> e dinamismo que se foiper<strong>de</strong>ndo com o passar do tempo, apostando numa linha cultural e habitacional para atingir estefeito.1. MotivaçãoConsi<strong>de</strong>rando um crescente interesse por parte das entida<strong>de</strong>s publicas e privadas pelaaposta num turismo vocacional que garanta um <strong>de</strong>senvolvimento equilibrado e sustentávelsurge a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estudos que ofereçam uma base para a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões e que sirvam<strong>de</strong> orientação para a intervenção nos vários espaços <strong>de</strong> actuação.Min<strong>de</strong>lo sempre caracterizou-se como a porta <strong>de</strong> entrada do país, e um centro quecontribui bastante para o <strong>de</strong>senvolvimento nacional, no entanto o seu património urbano earquitectónico tem sido, <strong>de</strong> certa forma, negligenciado caindo em <strong>de</strong>cadência.Desta forma, esta nova <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento baseado no turismo po<strong>de</strong>riaapresentar-se como uma estratégia <strong>de</strong> preservação do seu património. Um plano <strong>de</strong>revitalização urbana viria <strong>de</strong> encontro a estes objectivos. Assim, ainda que <strong>de</strong> forma académicae mo<strong>de</strong>sta, preten<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>senvolver um estudo <strong>de</strong> revitalização urbana utilizando a expressãocultural como argumento <strong>de</strong> preservação do património urbano e arquitectónico em que estetrabalho culmina em jeito <strong>de</strong> proposta para um equipamento cultural, um teatro, que é umanseio já antigo <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong> que é o pólo cultural <strong>de</strong> maior expressão em <strong>Cabo</strong> Ver<strong>de</strong>.2. ObjectivosGeral:Este trabalho tem por principal objectivo garantir maior qualida<strong>de</strong> urbana, e socioespacial,como condição para a revitalização/reabilitação integral e efectiva do centro.Específicos:ƒ Converter os edifícios antigos e com valor patrimonial em espaços comactivida<strong>de</strong>s multiusos essencialmente <strong>de</strong> carácter cultural, surgido uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> salas <strong>de</strong> cultura;14


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loƒ Criar infra-estruturas que preencham os vazios urbanos, assim como a criação <strong>de</strong>espaços públicos dinâmicos;ƒ Criar alternativas <strong>de</strong> alojamento para os visitantes o mais próximo, o quantopossível, da realida<strong>de</strong> local;ƒ Procurar dar carácter à topografia traduzindo numa a urbanida<strong>de</strong> atenta anatureza, fazendo emergir a paisagem.3. Metodologia do trabalhoEm termos <strong>de</strong> objectivos, o estudo é <strong>de</strong> carácter <strong>de</strong>scritivo cujo procedimento conduz àtipologia estudo <strong>de</strong> caso.A abordagem da pesquisa é essencialmente qualitativa em que a recolha <strong>de</strong> dadospassou necessariamente pela pesquisa bibliográfica, documental e levantamento fotográfico.4. Estrutura do TrabalhoO trabalho esta estruturado em quatro capítulos, em que no primeiro encontra-se arevisão bibliográfica dividida em cinco partes, on<strong>de</strong> se faz uma breve abordagem aos conceitosinerentes a revitalização urbana, alguns movimentos como o <strong>de</strong>spertar do interesse peloscentros históricos e o papel das frentes <strong>de</strong> água no urbanismo contemporâneo, a contribuição<strong>de</strong> teóricos nesta temática e um caso <strong>de</strong> revitalização urbana a nível internacional.O capítulo dois proporciona uma pequena viagem a área <strong>de</strong> intervenção em estudo, asua história e evolução, a sua expressão <strong>de</strong>mográfica e arquitectónica, enquadrando econtextualizando-a para os capítulos seguintes.No capítulo três apresenta-se a proposta <strong>de</strong> revitalização urbana, focalizando-se numaanálise e diagnostico da área <strong>de</strong> abrangência do plano, apontado os pontos <strong>de</strong> actuação e asformas <strong>de</strong> abordagem com orientações e sugestões traduzindo-se em algumas cartas.Na sequência do capítulo três, o capitulo quatro <strong>de</strong>senvolve o estudo <strong>de</strong> caso, intituladoTeatro Min<strong>de</strong>lo, com base nas orientações propostas pelo plano, dividindo-se em duas partes: aprimeira, a fase <strong>de</strong> conceito que consta da primeira abordagem a área <strong>de</strong> intervençãoespecifica; e a segunda o estudo preliminar suportado pelo conceito, a proposta <strong>de</strong> intervenção15


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loe as respectivas peças gráficas.5. Limitações do estudoA inércia <strong>de</strong>sconfiada e <strong>de</strong>fensiva das agências estatais e locais figuram-se como asprincipais dificulda<strong>de</strong>s encontradas na elaboração <strong>de</strong>ste trabalho.Ainda po<strong>de</strong>-se apontar a dificulda<strong>de</strong> em encontrar registo gráficos antigos da área <strong>de</strong>intervenção e mesmo bases gráficas actualizadas que obrigou a fazer algumas actualizaçõesdos edifícios no espaço <strong>de</strong> intervenção.16


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loculturais locais, visando a consequente melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida nessas áreas ouconjuntos urbanos <strong>de</strong>gradados. (Direcção – Geral 2000:153).Reabilitação Urbana, Direcção – Geral (2000:153), é entendido como um processo <strong>de</strong>transformação do espaço urbano, compreen<strong>de</strong>ndo a execução <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> conservação,recuperação e readaptação <strong>de</strong> edifícios e <strong>de</strong> espaços urbanos, com o objectivo <strong>de</strong> melhorar assuas condições <strong>de</strong> uso e habitabilida<strong>de</strong>, conservando, porém o seu carácter fundamental.Complementa-se ainda, que o conceito <strong>de</strong> reabilitação supõe o respeito pelo carácterarquitectónico dos edifícios, não <strong>de</strong>vendo, no entanto, ser confundido com o conceito maisestrito <strong>de</strong> restauro, o qual implica a reconstituição da traça primitiva <strong>de</strong> pelo menos fachadas ecoberturas.Requalificação Urbana segundo Moreira (2007), requalificação urbana <strong>de</strong>fine -secomo um processo social e politico <strong>de</strong> intervenção no território, que visa essencialmente (re)criar qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida urbana, através <strong>de</strong> uma maior equida<strong>de</strong> nas formas <strong>de</strong> produção(urbana), num acentuado equilíbrio no uso e ocupação dos espaços e na própria capacida<strong>de</strong>criativa e <strong>de</strong> inovação dos agentes envolvidos neste processo.Recuperação Urbana, segundo a Direcção – Geral (2000:154), consiste num conjunto<strong>de</strong> operações ten<strong>de</strong>ntes à reconstituição <strong>de</strong> um edifício ou conjunto <strong>de</strong>gradado, ou alterado porobras anteriores sem qualida<strong>de</strong>, sem que no entanto esse conjunto <strong>de</strong> operações assuma ascaracterísticas <strong>de</strong> um restauro. De um modo geral, a recuperação impõe-se na sequência <strong>de</strong>situações <strong>de</strong> ruptura do tecido urbano ou <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> intrusão visual resultantes <strong>de</strong> operaçõesindiscriminadas <strong>de</strong> renovação urbana. A recuperação urbana implica a requalificação dosedifícios ou conjuntos recuperados.Renovação Urbana correspon<strong>de</strong> segundo Direcção – Geral (2000:159), a um conjunto<strong>de</strong> operações urbanísticas que visam a reconstrução <strong>de</strong> áreas urbanas subocupadas ou<strong>de</strong>gradadas, às quais não se reconhece o seu valor como património arquitectónico ou conjuntourbano a preservar, com <strong>de</strong>ficientes condições <strong>de</strong> habitabilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> salubrida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> estética ou<strong>de</strong> segurança, implicando geralmente a substituição dos edifícios existentes.18


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loOutros conceitos, segundo Alves (2007):Conservação: assegurar a manutenção sem se modificar o aspecto;Preservação: acção preventiva, evitar a <strong>de</strong>gradação e a <strong>de</strong>struição;Reconstrução: construção conforme o original, restauro;Restauro: complemento <strong>de</strong> partes que faltam; engloba uma avaliação estética e visual;Reutilização: dar novo uso aos espaços que per<strong>de</strong>ram o seu tradicional.Neste trabalho, optou-se pelo termo Revitalização Urbana, conceito esse que mais seajusta aos objectivos preconizados. Esses objectivos centram essencialmente na melhoria daqualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos resi<strong>de</strong>ntes/utentes do Min<strong>de</strong>lo, preferindo actuações mais globais,relacionada com estruturas sociais culturais e económicas e que culmina em um projecto <strong>de</strong>arquitectura proposto pelo plano <strong>de</strong> revitalização urbana a <strong>de</strong>senvolvido.1.2. Centros HistóricosPelo facto da área <strong>de</strong> intervenção on<strong>de</strong> terá lugar o estudo <strong>de</strong> caso ser uma área sensíveldo ponto <strong>de</strong> vista patrimonial, parece interessante fazer uma breve passagem pelo conceito <strong>de</strong>Centro Histórico e a evolução do interesse por este. Assim, <strong>de</strong> forma resumida, propõe-se umarevisão sobre estes conteúdos.1.2.1. O Centro Histórico -DefiniçãoA <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Centro Histórico não é <strong>de</strong> todo fácil, uma vez que <strong>de</strong>têm um conceito <strong>de</strong>património que possui contornos extensos, que em muitas situações se assemelhamin<strong>de</strong>terminados. Para além do património erigido <strong>de</strong> arquitectura civil, encontra-se no CentroHistórico, arquitectura militar e religiosa, bem como estruturas afectas ao abastecimento <strong>de</strong>água e esgotos. Todavia, existe um património não menos importante, que apesar <strong>de</strong>perceptível, não é i<strong>de</strong>ntificável e/ou visualizável, “a memória”, que é na maior parte dassituações o elemento mais valioso do local, <strong>de</strong>corrente da própria história e sua evolução aolongo do tempo, das pessoas, costumes e hábitos das populações, hoje já caídos noesquecimento. (Câmara Municipal <strong>de</strong> Cascais, 2009)19


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loO conceito <strong>de</strong> Centro Histórico po<strong>de</strong>rá pois ser entendido, como um conjunto <strong>de</strong>reminiscências materiais e imateriais, as quais <strong>de</strong>têm um importante papel na i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e<strong>de</strong>finição cultural dos seus habitantes, que ao longo dos tempos e nos dias <strong>de</strong> hoje, contribuempara manter vivo, os legados do passado.Então para Peixoto (2003), “O Centro Histórico não obstante a existência <strong>de</strong> novosespaços urbanos, diz respeito a um lugar circunscrito e <strong>de</strong>limitado on<strong>de</strong> se localizam as fontes<strong>de</strong>ste ethos e as manifestações festivas, estéticas e emblemáticas da sua afirmação. (…) A<strong>de</strong>limitação <strong>de</strong>sse lugar é <strong>de</strong>vida à existência <strong>de</strong> fronteiras materiais ou simbólicas, maislegível nuns casos do que noutros.”1.2.2. Centros Históricos e sua Evolução no TempoA preservação e requalificação dos Centros Históricos, a par das antigas cida<strong>de</strong>s, é hojeum dado adquirido e inerente a qualquer filosofia <strong>de</strong> intervenção, todavia, o passado mostranosque este não foi <strong>de</strong> todo o princípio <strong>de</strong> intervenção inerente ao longo dos tempos até aosnossos dias. Segundo Lamas (1993), “um longo caminho foi percorrido <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os tempos emque se admitia <strong>de</strong>struir o casco antigo, os seus quarteirões e conjuntos arquitectónicos paraalargar ruas, sanear e arejar os bairros, e <strong>de</strong>safogar e isolar os monumentos.”Esta postura será claramente verificada com o exemplo <strong>de</strong> revitalização urbana, Plano<strong>de</strong> Paris, apresentada mais adiante.Nos meados do século XIX uma gran<strong>de</strong> transformação na vida e socieda<strong>de</strong>, verificou-se<strong>de</strong>vido ao fugaz <strong>de</strong>senvolvimento do sector industrial, acarretando uma melhoria nas condições<strong>de</strong> vida das populações e seus anseios, o que potenciou um rápido crescimento <strong>de</strong>mográfico.Tal transformação, implicou mudanças radicais na forma como se vivia e se estruturavam ascida<strong>de</strong>s e os seus centros em função das pessoas e suas necessida<strong>de</strong>s, até então <strong>de</strong> carácter maisbásico, advindo assim na socieda<strong>de</strong> novas exigências <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e bem-estar. Neste contexto,Caetano (1999) afirma “O centro histórico, outrora constituía o centro vital da urbe no seucomplexo social, meios urbanos <strong>de</strong> produção e <strong>de</strong> comércio, negócios e administração.Entretanto, a expansão física rompe este quadro, ao <strong>de</strong>slocalizar os sectores produtivos,administrativos e resi<strong>de</strong>nciais, dando lugar à <strong>de</strong>sertificação e envelhecimento da populaçãoresi<strong>de</strong>nte, à pobreza e à <strong>de</strong>gradação da activida<strong>de</strong> económica e dos edifícios.”20


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loSó mais tar<strong>de</strong> se <strong>de</strong>ixam para trás as gran<strong>de</strong>s transformações <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição e renovação,i<strong>de</strong>alizando-se e processando-se políticas ao nível <strong>de</strong> intervenções pontuais.Após a Segunda Gran<strong>de</strong> Guerra e à enorme <strong>de</strong>struição verificada em muitas cida<strong>de</strong>s eCentros Históricos por toda a Europa, o ângulo <strong>de</strong> visão sobre a forma e maneira <strong>de</strong> actuarperante o espaço público muda radicalmente, assistindo-se a uma intensa discussão acerca dosmodos <strong>de</strong> actuação futuros, em relação aos Centros Históricos.A filosofia <strong>de</strong> intervenção para a reconstrução dos Centros Históricos, assentoufundamentalmente em duas correntes:Uma, no sentido <strong>de</strong> uma reconstrução partindo do zero, servindo-se da <strong>de</strong>struição parauma concessão completamente inovadora e actual, aproveitando a oportunida<strong>de</strong> para criar apartir do nada;Uma outra, admitiu a reconstrução com os valores do passado, não <strong>de</strong>ixando cair noesquecimento a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> adquirida ao longo dos tempos, dando valor aos espaços urbanos eaos antigos edifícios. (Lamas, 1993)É já nas últimas décadas do século XX, que a questão dos Centros Históricos entra<strong>de</strong>finitivamente nas preocupações urbanísticas. Para Lôbo (1998), “a atitu<strong>de</strong> relativa à cida<strong>de</strong>existente altera-se para uma postura <strong>de</strong> protecção crítica, em que os tecidos urbanos antigos sãoconsi<strong>de</strong>rados não só como factores importantes <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> local, mas também comocatalisadores da invenção <strong>de</strong> novos espaços urbanos.”Na entrada do século XXI mantêm-se a actualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta problemática, havendo lugar aum profundo <strong>de</strong>bate, estudo, metodologias e correntes <strong>de</strong> trabalho no meio académico. ParaPeixoto (2003), “A política <strong>de</strong> requalificação aposta no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> lugares <strong>de</strong>urbanida<strong>de</strong> que propiciem a reflexivida<strong>de</strong>, a emergência <strong>de</strong> novos valores e sociabilida<strong>de</strong>s, acriação <strong>de</strong> um espaço cénico <strong>de</strong> fruição estética e sensível e a afirmação <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>caracterizada pelo espírito <strong>de</strong> lugar.”A principal mudança para os nossos dias, aponta ao facto da alteração <strong>de</strong>renovação/<strong>de</strong>struição pela reabilitação/requalificação, dando lugar a um entendimento doespaço público como portador <strong>de</strong> um herança física e material, tornando-se o Centro Histórico,21


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loedificado nestas frentes, passam a ser um factor positivo <strong>de</strong> maior importância para arenovação das margens urbanas, <strong>de</strong>volvendo à cida<strong>de</strong> parte dos seus “espaços públicos azuis”.A água tornou-se um elemento recorrente nos espaços <strong>de</strong> recreio e lazer, um papel <strong>de</strong> <strong>de</strong>staquena qualificação dos espaços urbanos. Como refere-se Joan Busquests a aproximação a águaesta a tornar-se num “mo<strong>de</strong>lo” <strong>de</strong> urbanização contemporâneo.MANN (1988) refere <strong>de</strong>z tendências que estão na origem do movimento <strong>de</strong> reabilitação<strong>de</strong> frentes ribeirinhas nos EUA:1. Oferta <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> usos;2. Forte procura do público <strong>de</strong> margens livres e acessíveis;3. Afastamento das infra-estruturas viárias e substituição por usos pedonais;4. Recuperação <strong>de</strong> margens <strong>de</strong> pequenos cursos <strong>de</strong> água e canais;5. Recuperação <strong>de</strong> património cultural e histórico;6. Criação <strong>de</strong> espaços públicos <strong>de</strong> carácter comercial;7. Sítios <strong>de</strong> exposições e eventos culturais;8. Locais <strong>de</strong> instalação <strong>de</strong> elementos artísticos;9. Oportunida<strong>de</strong> para realização <strong>de</strong> festivais e outros acontecimentos artísticos;10. Promoção <strong>de</strong> regulação urbanística.1.3.2. Um novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> intervenção espacialA re<strong>de</strong>scoberta do valor paisagístico e ambiental das frentes <strong>de</strong> água, associado àpossibilida<strong>de</strong> da aproximação da população à “água”, tem-se convertido num novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>urbanização contemporânea. Neste contexto, muitas têm sido as cida<strong>de</strong>s que nos últimos anostêm <strong>de</strong>senvolvido estratégias <strong>de</strong> or<strong>de</strong>namento territorial nestes espaços. Nesta perspectiva, háuma nova forma <strong>de</strong> “olhar” para o espaço existente, mais atenta à paisagem e aos processos <strong>de</strong>sustentabilida<strong>de</strong> do território.23


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loA implantação dos gran<strong>de</strong>s projectos <strong>de</strong> reabilitação teve origem nos Estados Unidos daAmérica no final dos anos 50, nas cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Baltimore e Boston. Seguidamente foi nascida<strong>de</strong>s canadianas <strong>de</strong> Toronto e Montreal e nos anos 80 foi em Londres.Operações como a renovação urbana do Inner Harbour, em Baltimore ou como assucessivas operações <strong>de</strong> renovação em Boston, como a Downtown Waterfront, ou como oHarbourfront Project, no início nos anos 70, em Toronto, são dos casos <strong>de</strong> estudo maisreferenciados e representam uma primeira geração <strong>de</strong> operações <strong>de</strong> frentes <strong>de</strong> água. Esteprocesso esten<strong>de</strong>-se à Europa através da operação <strong>de</strong> renovação urbana das LiverpoolDocoklands, terminado nos anos 80 com a operação paradigma da London DocklandsDevelopment Corporation (LDDC), a primeira <strong>de</strong> várias operações <strong>de</strong> reconversão dosextensos terrenos libertados pela indústria naval <strong>de</strong> Londres. O processo em curso na Américado Norte serviu <strong>de</strong> exemplo à gran<strong>de</strong> parte dos países europeus; cida<strong>de</strong>s como Roterdão,Barcelona, Génova, Amesterdão, Hamburgo, Antuérpia, Oslo, Helsinquia, Duisburgo, Lisboa,o Parque das Nações e no Porto, entre muitas outras, <strong>de</strong>senvolveram programas próprios <strong>de</strong>renovação <strong>de</strong> frentes <strong>de</strong> água com maior pon<strong>de</strong>ração e, principalmente, procurando uma maiorintegração urbana. Mas, para além dos casos, mencionados a revalorização das Frentes <strong>de</strong>Água acontece, actualmente, em cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> todo o mundo, po<strong>de</strong>ndo dizer-se que setransformou num paradigma das cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ste inicio do Século XXI.Nas últimas décadas, tem-se assistido, a uma forte intervenção na requalificação dasFrentes <strong>de</strong> Água na perspectiva da qualificação turística das cida<strong>de</strong>s com dois objectivos:manter a atractivida<strong>de</strong> do <strong>de</strong>stino; qualificar a procura através da qualificação da oferta,aten<strong>de</strong>ndo a novas motivações e a maiores exigências dos turistas.Esta procura <strong>de</strong> qualificação da oferta turística, que vai, muitas vezes, ao encontro dasexigências <strong>de</strong> novos modos <strong>de</strong> vida da socieda<strong>de</strong> actual, tem contribuído para a requalificação<strong>de</strong> muitas das frentes urbanas ribeirinhas existentes que associadas, ou não, a intervenções <strong>de</strong>regeneração <strong>de</strong> áreas portuárias e industriais, criam novos espaços <strong>de</strong> polarização da vidaquotidiana das cida<strong>de</strong>s.A pedonalização das Frentes <strong>de</strong> Água, associada a espaços públicos <strong>de</strong> estar, <strong>de</strong> recreio,lazer e restauração, tem constituído o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> intervenção que se tem generalizado em24


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>lomuitas cida<strong>de</strong>s. Alguns casos <strong>de</strong> estudo realizados, mostram a importância <strong>de</strong>ste mo<strong>de</strong>lo para avalorização <strong>de</strong> novas áreas urbanas e para a revitalização <strong>de</strong> partes da cida<strong>de</strong> em <strong>de</strong>cadência, ea sua efectiva capacida<strong>de</strong> para atraírem e concentrarem novas funções e activida<strong>de</strong>s(instituições públicas e privadas, escritórios, habitação, hoteis, etc).Neste sentido, mais importante que o mo<strong>de</strong>lo será o método <strong>de</strong> abordagem dastemáticas das Frentes <strong>de</strong> Água, o qual <strong>de</strong>ve consi<strong>de</strong>rar, para além do <strong>de</strong>senho dos espaçospúblicos:A componente histórica / cultural e a memória dos lugares; a articulação urbano /natural e a construção <strong>de</strong> espaços <strong>de</strong> interface Terra / Água on<strong>de</strong> se estabeleça uma novarelação (cultural) Homem / Natureza; a participação e envolvimento das comunida<strong>de</strong>sterritoriais na reconstrução dos modos <strong>de</strong> vida urbana ligados à Água; a partilha institucional epolítica <strong>de</strong> uma estratégia <strong>de</strong> intervenção nas Frentes <strong>de</strong> Água a diversas escalas territoriais(metropolitanas, inter-municipal, municipal e público / privado).1.4. Contribuição dos teóricos ao longo dos temposEste subcapítulo tentou-se encontrar urbanistas e seus feitos que contribuíssem nainterpretação e intervenção no estudo <strong>de</strong> caso tanto pela proximida<strong>de</strong> <strong>de</strong> época como pelamorfologia do tecido urbano. Nesta temática da revitalização urbana dois reformadoresurbanos <strong>de</strong>stacaram-se na história do urbanismo. Apesar <strong>de</strong> conterrâneos, têm perspectivasdiferentes na abordagem da cida<strong>de</strong> está-se a referir a Georges-Eugène Haussmann (1809-1891)em sua actuação na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paris e a Il<strong>de</strong>fonso Cerdá (1815-1876) na cida<strong>de</strong> da Barcelona.1.4.1. Haussmann e o plano <strong>de</strong> ParisEm 1859, na era <strong>de</strong> Napoleão III, Haussmann <strong>de</strong>u inicio a sua tentativa <strong>de</strong> tornar acida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paris mais salubre e funcional. A sua actuação é vista por Lamas da seguinte forma.“ As transformações <strong>de</strong> Haussmann em Paris inci<strong>de</strong>m fundamentalmente no casco velho dacida<strong>de</strong>. São renovações com novos traços, reestruturação fundiária, construção <strong>de</strong> infra - estruturas,equipamentos e espaços livres, obe<strong>de</strong>cendo a um triplo sentido: circulação fácil e cómoda <strong>de</strong>ntro dacida<strong>de</strong>, indo <strong>de</strong> gare em gare, ou <strong>de</strong> bairro em bairro; eliminação da insalubrida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>gradação dosbairros, «arejando» os <strong>de</strong>nsos interiores, estabelecendo uma imagem geral <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, criando25


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>louma cida<strong>de</strong> com luz, espaço e urbanização e uma nova arquitectura urbana; revalorização ereenquadramento dos monumentos, unindo-os através <strong>de</strong> eixos viários e perspectivas”. Lamas(2000:212).Haussmann usou uma serie <strong>de</strong> estratégias para dar um novo paradigma, na reforma <strong>de</strong>actuação urbanística na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paris, on<strong>de</strong> a re<strong>de</strong> viária se apresenta como a principalelemento.[…] o traçado em avenidas – o boulevard – que une os pontos da cida<strong>de</strong>; a praça como lugar <strong>de</strong>confluência <strong>de</strong> vias, e placa giratória das circulações, quase sempre em rotunda, que organiza ocruzamento <strong>de</strong> vários traços; o quarteirão, que é <strong>de</strong>terminado como produto «residual» <strong>de</strong> vários traços,e não como modulo <strong>de</strong> composição urbana. (Lamas 2000:214).Figura 1: O Boulevard-Haussmann, em ParisFonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Blv-haussmannlafayette.jpgPara além <strong>de</strong> tornar a cida<strong>de</strong> mais salubre, funcional e bela, plano <strong>de</strong> Haussmann emParis tinha uma intenção estratégica disfarçada. O real objectivo do mandante do plano,Napoleão III, realizado por Haussmann, foi <strong>de</strong> inviabilizar <strong>de</strong>finitivamente as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>revoltas populares e garantir a estabilida<strong>de</strong> social da cida<strong>de</strong>.“O núcleo medieval é cortado em todos os sentidos, <strong>de</strong>struindo muitos dos antigos bairros,especialmente aqueles perigosos situados no Leste, que eram o foco <strong>de</strong> todas as revoltas”. Na prática,Haussmann sobrepõe ao corpo da antiga cida<strong>de</strong> uma nova malha <strong>de</strong> ruas largas e rectilíneas […] eleevita <strong>de</strong>struir os monumentos mais importantes, mas faz com que fiquem isolados e adopta-os comopontos <strong>de</strong> fuga para as novas perspectivas viárias. (Benevolo 1998:98)26


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loFigura 2: Planta <strong>de</strong> Paris em 1853, antes dostrabalhos <strong>de</strong> HaussmannFonte: Benevolo 19 83:5 89Os intentos <strong>de</strong> Haussmann só foram possíveis graças a uma lei aprovada a 13 <strong>de</strong> Abril<strong>de</strong> 1850 que lhe permitia efectuar expropriações, por utilida<strong>de</strong> pública, não somente <strong>de</strong> áreaspara ruas, mas também <strong>de</strong> imóveis caso fosse necessário, <strong>de</strong> acordo com Benevolo (1998:100).1-linhas mais grossas,novas ruas2-tracejadonovos bairrosquadriculado,3-tracejado horizontal, osdois gran<strong>de</strong>s parquesperiféricos: o Bois <strong>de</strong>Boulogne (à esquerda) e oBois <strong>de</strong> Vincennes (àdireita)Figura 3: Esquema <strong>de</strong> trabalhos <strong>de</strong> Haussmann em ParisFonte: Benevolo1983:5921.4.2. Cerdá e o plano <strong>de</strong> BarcelonaCerda é consi<strong>de</strong>rado segundo Lamas (2000:216), como um dos “primeiros” urbanistasno sentido actual do termo, visto que, conseguiu coor<strong>de</strong>nar aspectos espaciais e físicos compreocupações funcionais, sociológicos, económicos e administrativos, e tratando, pela primeiravez a cida<strong>de</strong> como um organismo complexo e integrador <strong>de</strong> vários sistemas.A sua actuação na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Barcelona centra-se em duas or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> problemas na27


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loperspectiva <strong>de</strong> Lamas (2000:216): na organização <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> expansão – o «ensanche» – ena investigação sobre a quadrícula do quarteirão.É nítido que o plano <strong>de</strong> Cerdá em Barcelona não tem como fundamento principalremo<strong>de</strong>lar o existente, mas sim criar novos espaços e urbanizar a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma forma integralaté as fronteiras com outros municípios. Esta visão po<strong>de</strong> ser interpretada como uma medidapreventiva contra a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m futura da cida<strong>de</strong> com construções <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nadas,já que todas as áreas foram objectos <strong>de</strong> planificação.O plano <strong>de</strong>senha uma grelha ortogonal, com módulos ou quarteirão <strong>de</strong> 113 metros <strong>de</strong> lado evias <strong>de</strong> 20 metros <strong>de</strong> perfil, <strong>de</strong> tal modo que cada conjunto <strong>de</strong> nove quarteirões e vias correspon<strong>de</strong>ntesse inscrevem num quadrado <strong>de</strong> 400 m <strong>de</strong> lado. O sistema é cortado por diagonais que confluem numagran<strong>de</strong> praça. A quadrícula regular esten<strong>de</strong>-se até aos municípios vizinhos e envolve a velha cida<strong>de</strong>medieval, como se esta fosse um corpo distinto, rasgado por três artérias que dão continuida<strong>de</strong> aos eixosensanche. As diagonais são <strong>de</strong>senhadas sobrepondo-se ao plano quadriculado e fazendo surgirquarteirões irregulares e outros largos ou praças. (Lamas 2000:216)Figura 4: Plano <strong>de</strong> Barcelona CerdáFonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/7/72/Barcelona_plano.jpgComo já foi dito, agora reforçado, Haussmann e Cerdá interviriam <strong>de</strong> forma diferentena cida<strong>de</strong> cada um respon<strong>de</strong>ndo aos <strong>de</strong>safios que se lhes impunham. Po<strong>de</strong>-se vislumbrar essadiferença nos seguintes itens, como elucida Lamas (2000:218):28


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>lo[…] as visões <strong>de</strong> Haussmann e <strong>de</strong> Cerdá são diametralmente diferentes. Uma primeira distinçãoé evi<strong>de</strong>nte: num caso trata-se <strong>de</strong> reor<strong>de</strong>nar e adaptar a cida<strong>de</strong> existente; no outro, <strong>de</strong> organizar ocrescimento em expansão o ensanche. O interior do «quarteirão», que em Paris é espaço privado, ousemiprivado, em Barcelona po<strong>de</strong> tornar-se espaço público.Após essas constatações po<strong>de</strong>-se ainda individualizar mais duas possíveis interpretaçõesacerca dos dois reformadores urbanos. Enquanto em Paris o quarteirão surge como “resíduo”<strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> vários traços, em Barcelona o quarteirão faz parte do elemento <strong>de</strong>composição do plano, ou seja, um elemento mo<strong>de</strong>lador da malha urbana. Por outro ladoHaussmann faz o que po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rar revitalização urbana, corrigindo os males da cida<strong>de</strong>,enquanto, Cerdá actua na prevenção <strong>de</strong>sses males para o futuro com a expansão urbana.1.5.Caso <strong>de</strong> Revitalização urbana – Porto <strong>Mara</strong>vilha, Rio <strong>de</strong> Janeiro, BrasilNeste subcapítulo propõe-se apresentar a revitalização urbana que vem sendo levada acabo no Brasil <strong>de</strong> forma a tirar ilações das formas <strong>de</strong> abordagem, dos ganhos alcançados tantoem termos técnicos, no campo do urbanismo e or<strong>de</strong>namento territorial, no campo económicolocal e regional, assim como no campo social na melhoria do padrão da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dosresi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>sses bairros afectados por esta revitalização urbana.A escolha <strong>de</strong>ste exemplo resi<strong>de</strong> essencialmente na semelhança <strong>de</strong>ste com a área <strong>de</strong>intervenção do estudo <strong>de</strong> caso, zona norte do centro do Min<strong>de</strong>lo junto a área portuária, por seruma intervenção actual e ainda pela proximida<strong>de</strong> cultural das duas áreas.A Área Portuária do Rio <strong>de</strong> Janeiro, próxima ao centro histórico e empresarial mantémainda uma tipologia peculiar nos sobrados, casarões, e nos gran<strong>de</strong>s galpões do início daindustrialização, apresentando-se como uma área <strong>de</strong>gradada, em lastimável estado <strong>de</strong>conservação. A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> encontrar uma solução urbanística que integrasse essas áreasmarginalizadas à vida útil e económica da cida<strong>de</strong> – promovendo seu <strong>de</strong>senvolvimento semexpulsar os actuais habitantes, motivou o Projecto <strong>de</strong> Revitalização <strong>de</strong>nominada Porto<strong>Mara</strong>vilha.Conciliando teorias urbanas culturalistas e progressistas, o projecto preserva o tecidoantigo das áreas mais elevadas e anteriores a sucessivos aterros, <strong>de</strong>stinando-o basicamente ao29


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>louso resi<strong>de</strong>ncial com algum comércio nos pavimentos térreos. Paralelamente, tentou-seencontrar soluções viáveis para as áreas aterradas no início do século XX hoje em <strong>de</strong>suso pelamo<strong>de</strong>rnização das activida<strong>de</strong>s portuárias. Como geralmente ocorre quando uma área é utilizadapor indústrias que se <strong>de</strong>terioram, a área adjacente ao porto do Rio <strong>de</strong> Janeiro transformou-senum bairro <strong>de</strong> passagem, fato acentuado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que, nos anos 70, uma via expressa <strong>de</strong>nominadaElevado Juscelino Kubitschek (avenida Perimetral), eliminou a relação do tecido urbano com afrente marítima. Ocorre, entretanto, que além <strong>de</strong> apresentar uma paisagem privilegiada da baía<strong>de</strong> Guanabara, a região oferece gran<strong>de</strong>s possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> espaços públicos para a populaçãoresi<strong>de</strong>nte e para a cida<strong>de</strong> como um todo.Cultura e Habitação foi o binómio seleccionado como estratégia para os novos usos que<strong>de</strong>verão substituir o antigo uso industrial dos galpões abandonados, os vazios urbanos da re<strong>de</strong>ferroviária e os inúmeros sobrados ainda recuperáveis, muitos dos quais já invadidos. Existemestudos do governo municipal para acelerar a ocupação <strong>de</strong> imóveis ociosos com moradias nasáreas centrais do Rio <strong>de</strong> Janeiro, inclusive na área portuária. Contudo, é necessário transformarprojectos em realida<strong>de</strong> e, nesse sentido, fez-se propostas especificando quais os imóveis aserem reciclados. Ao lado do uso resi<strong>de</strong>ncial, o uso cultural alavancará o <strong>de</strong>senvolvimento daárea, pois prevê-se a ocupação dos antigos galpões fronteiros ao mar com restaurantes, teatros,antiquários, centros <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign e moda, escolas técnicas e universida<strong>de</strong>s.Após a investigação teórica sobre as possíveis metodologias <strong>de</strong> intervenção, e a AnáliseCrítica dos Planos Existentes para a Área, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1986, com base nos fundamentos <strong>de</strong> JaneJacobs, Kevin Lynch e Patrick Ged<strong>de</strong>s, foram efectuadas pesquisas que integram o diagnósticoda área <strong>de</strong> estudoI<strong>de</strong>ntificou-se a necessida<strong>de</strong> urgente <strong>de</strong> um plano <strong>de</strong> acção social quanto à populaçãosem recursos e uma total conivência dos proprietários da área, nem sempre moradores, paraque concor<strong>de</strong>m com as obras <strong>de</strong> restauro, reciclagem e renovação <strong>de</strong> uso. Além disto,acreditou-se ser fundamental que esses usos fossem multifuncionais, ou seja, é insuficientetransformar a área em centro <strong>de</strong> serviços sem que haja também residências, pequenoscomércios e incentivo ao artesanato mais característico da região. Nada mais ineficaz do queuma excelente infra-estrutura <strong>de</strong> transportes, esgoto, abastecimento <strong>de</strong> água, iluminaçãopública, colecta <strong>de</strong> lixo, escolas e hospitais, se a cida<strong>de</strong>, à noite, se torna fantasmagórica evazia, mero cenário para a exibição <strong>de</strong> um património iluminado.30


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loFigura 5 e 6: Área <strong>de</strong> actuação do projecto Porto <strong>Mara</strong>vilhaFonte: \arquitextos 019_07 Cultura e habitação revitalizando a área portuária do Rio <strong>de</strong> Janeiro (1)vitruvius.mhtNo que tange às áreas on<strong>de</strong> o tecido é homogéneo, na parte alta e on<strong>de</strong> as antigasconstruções estão ainda em gran<strong>de</strong> parte vinculadas ao uso resi<strong>de</strong>ncial, o projecto prevê areabilitação das habitações existentes através <strong>de</strong> financiamentos especiais. Assim, os habitantesda área a ser revitalizada <strong>de</strong>vem permanecer em seus habitats, e as áreas elevadas po<strong>de</strong>rãopreservar a fisionomia que reflecte a antiga ocupação.O projecto incentiva a reabilitação e reestruturação dos espaços sub-utilizados que seencontram hoje em <strong>de</strong>terioração e, que, apesar <strong>de</strong> distantes poucos metros do mar, não têmqualquer ligação com a paisagem que se escon<strong>de</strong> atrás do extenso viaduto e dos antigosarmazéns <strong>de</strong>sactivados.A intervenção que vai sendo levada a cabo abrange três bairros (Santo Cristo, Gamboae Saú<strong>de</strong>) e três sectores <strong>de</strong> bairro (São Cristóvão, Centro e Cida<strong>de</strong> Nova), com uma área <strong>de</strong> 5milhões <strong>de</strong> metros quadrados equivalente a 500 hectares com uma população <strong>de</strong>aproximadamente 22 mil habitantes, com um dos menores índices <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humanodo Rio <strong>de</strong> Janeiro, IDH 0.775, ocupando o 24º lugar no ranking das 32 regiões administrativas<strong>de</strong>ste estado.O projecto <strong>de</strong>correrá em duas fases, em que a primeira a ser financiada por recursospúblicos e na segunda com recursos privados oriundos <strong>de</strong> uma operação urbana consorciada.Estas fases <strong>de</strong> trabalho abrangem campos sensíveis e estratégicos da região, em que a ocupaçãodo porto será periodizada através do reforço das vocações já existentes, assim temos: Infra estrutura; Habitação; Cultura e Entretenimento;31


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>lo Comercio e industria.Figura 7: Novas estruturação e ocupação do porto, uso vocacionalFonte: \arquitextos 019_07 Cultura e habitação revitalizando a área portuária do Rio <strong>de</strong> Janeiro (1)vitruvius.mhtNuma primeira fase, que está em andamento, <strong>de</strong>finiu-se uma serie <strong>de</strong> abordagens queservissem como suporte para a fase seguinte do projecto. Assim <strong>de</strong> forma geral, po<strong>de</strong>mosapontar as seguintes intervenções <strong>de</strong>senvolvidas nesta primeira fase:Urbanização do Píer Mauá;Revitalização da Praça Mauá;Calcetamento, iluminação pública, drenagem e arborização <strong>de</strong> alguns eixos;Implantação do trecho inicial do Binário do Porto;Reurbanização do Morro da Conceição;Demolição da alça <strong>de</strong> subida do viaduto da perimetral;Construção <strong>de</strong> garagem subterrânea na Praça Mauá.Figura 8 e 9: Área <strong>de</strong> intervenção da fase 1 do projecto, Edifícios e Infra-estrturasFonte: \arquitextos 019_07 Cultura e habitação revitalizando a área portuária do Rio <strong>de</strong> Janeiro (1)vitruvius.mht32


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loA área <strong>de</strong> intervenção da fase 1 do projecto, o bairro da Saú<strong>de</strong> e bairro da Conceição,está a ser implantada nova re<strong>de</strong> <strong>de</strong> infra estrutura. O projecto <strong>de</strong> reestruturação urbanamodificara profundamente o sistema viário da região portuária possibilitando uma maiorintegração com a baia, sua frente <strong>de</strong> água. Ainda serão recuperadas as vias secundárias,calçadas e implantada ciclóvias. A revitalização dos edifícios antigos e galpões juntamentecom a realização da primeira fase das re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> água, esgoto, electricida<strong>de</strong>, gás,telecomunicações e drenagem <strong>de</strong> águas pluviais são as acções que estão em andamento efiguram como os aspectos <strong>de</strong> mais interesse e louvados pelos resi<strong>de</strong>ntes.A fase 2 do Projecto <strong>de</strong> Revitalização Porto <strong>Mara</strong>vilha, financiada com recursosprivados oriundos <strong>de</strong> uma operação urbana consorciada, consolidará os trabalhos da fase 1esten<strong>de</strong>ndo as acções a restante área <strong>de</strong> intervenção e concluirá o projecto Porto <strong>Mara</strong>vilha.Nesta fase prevê-se as seguintes intervenções:Reurbanização <strong>de</strong> aproximadamente 40 kilometros <strong>de</strong> vias;Implantação <strong>de</strong> novas vias e trechos <strong>de</strong> ciclóvias;Implantação novas re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> esgoto, água, drenagem pluvial, eléctrica, telefónica e gás;Implantação <strong>de</strong> sistema <strong>de</strong> melhoria <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> das águas do Canal do Mangue;Implantação <strong>de</strong> mobiliário urbano.Figura 10 e 11: Área total <strong>de</strong> abran<strong>de</strong>cia do Projecto Porto <strong>Mara</strong>vilhaFonte: \arquitextos 019_07 Cultura e habitação revitalizando a área portuária do Rio <strong>de</strong> Janeiro (1)vitruvius.mhtEm síntese, a filosofia do projecto foi revitalizar a área portuária física, económica esocialmente, reintegrar a orla marítima ao tecido urbano da área portuária, reabilitar ereestruturar espaços sub-utilizados em processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>terioração, reduzir o impacto do viadutoexistente, aumentar a consciência ecológica dos habitantes e visitantes implantando parques epraças que serão oferecidos à população.33


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loA metodologia do trabalho constou da análise <strong>de</strong> todas as propostas já realizadas, da<strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> nova Área <strong>de</strong> Intervenção, <strong>de</strong> estudos diversos sobre novas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sistema viário com meios <strong>de</strong> transportes integrados, da i<strong>de</strong>ntificação das áreas a renovar, daspropostas preliminares e da elaboração <strong>de</strong> novos cenários urbanos. Na segunda etapa <strong>de</strong>finiu-seo aproveitamento <strong>de</strong> áreas e edificações a partir do perfil da população resi<strong>de</strong>nte e usuária,através <strong>de</strong> mecanismos que permitirão uma verda<strong>de</strong>ira revitalização do espaço.O maior <strong>de</strong>safio foi estabelecer uma proposta viável para retirar o tráfego da avenidaRodrigues Alves, artéria <strong>de</strong> intensa circulação <strong>de</strong> ônibus municipais e interestaduais que sedirigem à praça Mauá, no centro da cida<strong>de</strong>. Foram criados binários articulando-se os váriosmodais: ônibus, veículo sobre trilhos e barcas. A rodoviária será interligada com os <strong>de</strong>maisterminais <strong>de</strong> transportes da cida<strong>de</strong>. O elevado, reminiscência do período <strong>de</strong>senvolvimentista,receberá um tratamento a<strong>de</strong>quado, sobre a pista e sob a mesma, criando uma ambiência maisconvidativa ao transeunte.Figura 12 e 13: Re<strong>de</strong> Viária e Terminal <strong>de</strong> VLT respectivamenteFonte: \arquitextos 019_07 Cultura e habitação revitalizando a área portuária do Rio <strong>de</strong> Janeiro (1)vitruvius.mhtAlém <strong>de</strong>ste <strong>de</strong>safio a <strong>de</strong>limitação da área também teve que ser revista, esten<strong>de</strong>ndo-se dobairro da Saú<strong>de</strong> ao Santo Cristo, apresenta muitos imóveis abandonados, vazios urbanos eimóveis em ruína, motivo pelo qual a equipe <strong>de</strong>limitou uma área mais extensa para o projecto,extrapolando os limites da Área <strong>de</strong> Especial Interesse Urbanístico. Observou-se a urgentenecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervenção nos galpões sub-utilizados da companhia. Paralelamente, foramatribuídos aos terrenos a renovar parâmetros urbanísticos tais como: altura máxima dasedificações, uso do solo, taxa <strong>de</strong> ocupação. O projecto global manteve a meta da transformaçãoda área portuária em local aprazível tanto para residências quanto para comércios, indústrias34


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loleves e serviços, bem servido <strong>de</strong> áreas ver<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> atractivos.1.5.1. Objectivos e expectativas do Projecto Porto <strong>Mara</strong>vilhaA melhoria da infra-estrutura existente e a requalificação dos espaços públicosaumentarão os índices <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos habitantes da Saú<strong>de</strong>, Gamboa e do SantoCristo, permitindo a inserção <strong>de</strong> novos extractos sociais sem contudo expulsar a populaçãolocal.A expansão das activida<strong>de</strong>s económicas, no sentido <strong>de</strong> auto sustentabilida<strong>de</strong> da áreaprevê geração <strong>de</strong> empregos, em especial pela implantação <strong>de</strong> um pólo <strong>de</strong> produção <strong>de</strong>softwares. Os galpões tombados e reciclados acrescidos da gran<strong>de</strong> extensão <strong>de</strong> áreas ver<strong>de</strong>sprojectadas ao longo do antigo cais, transformarão a área pela implantação <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>sturísticas, alavancando o <strong>de</strong>senvolvimento económico da cida<strong>de</strong>, e permitindo a visibilida<strong>de</strong>para o mar.A reabilitação <strong>de</strong> conjuntos <strong>de</strong> valor cultural, reciclados com usos habitacionais,serviços ou comércio, nova proposta para a Praça Jornal do Comércio, a implantação o Centro<strong>de</strong> Convenções, a Marina e o Aquário Público, o re<strong>de</strong>senho da Praça Mauá, novos complexoshabitacionais, galpões com shoppings, cafés-concerto, casas <strong>de</strong> shows, teatros e centros <strong>de</strong>artes. A interligação <strong>de</strong> nodais inclui a reciclagem do Touring Club como Estação Turística <strong>de</strong>Passageiros, a implantação <strong>de</strong> Estação <strong>de</strong> catamarãs para Niterói, São Gonçalo e ilha doGovernador próximo à Rodoviária Novo Rio além <strong>de</strong> um mono-rail interligando a Rodoviária àEstação da Leopoldina. Completa a integração a construção <strong>de</strong> duas linhas <strong>de</strong> VLT – VeículoLeve sobre Trilhos, uma partindo da Rodoviária Novo Rio em direcção ao Aeroporto SantosDumont e outra em direcção à Central do Brasil.Após a análise <strong>de</strong>ste projecto o que salta a vista é a grandiosida<strong>de</strong> e abrangência <strong>de</strong>ste.Existe ainda um longo caminho a percorrer no entanto uma jornada <strong>de</strong> mil kilometros inicia-secom um passo.Este exemplo <strong>de</strong> projecto revelou-se uma mais-valia para a acção sobre o estudo <strong>de</strong>caso, entretanto tendo sempre em mente que as i<strong>de</strong>ias transplantadas po<strong>de</strong>m con<strong>de</strong>nar umplano ainda em estado embrionário. Em jeito <strong>de</strong> ganhos com esta experiencia passa-se a citar ai<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> um teórico <strong>de</strong> referência, “Não há conhecimento ou experiência local que perdure e35


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>lopossa ser validado sem confronto com experiências terceiras, o que é o mesmo que dizer quenão há conhecimento ou experiência internacional que possa ser cegamente transplantada <strong>de</strong>um lugar para outro, sem avaliação criteriosa da sua a<strong>de</strong>quação e da sua sustentabilida<strong>de</strong>. Acooperação com outros é tão <strong>de</strong>terminante para a busca <strong>de</strong> novas soluções possíveis como é amobilização da massa crítica e da criativida<strong>de</strong> locais.” Fortuna (2006).36


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loCapitulo 2: Min<strong>de</strong>loNeste capítulo propõe-se uma viagem no tempo e no espaço á cosmopolita cida<strong>de</strong> noMin<strong>de</strong>lo, on<strong>de</strong> tem lugar o estudo <strong>de</strong> caso <strong>de</strong>ste trabalho. Aqui aborda-se questões referentes alocalização geográfica, dados <strong>de</strong>mográficos, dados históricos tocantes papel dos portugueses edos ingleses na sua formação enquanto cida<strong>de</strong> e os seus momentos <strong>de</strong> assentamento urbano, e asua caracterização.As informações po<strong>de</strong>m estabelecer um cenário mais claro da situação actual da área emestudo servindo <strong>de</strong> suporte na tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões das soluções da proposta <strong>de</strong> revitalizaçãourbana e do próprio projecto do teatro.Esta cida<strong>de</strong> que tem sido sinonimo <strong>de</strong> um cenário místico e poético, resultante darelação indissociável entre a terra, a água e o céu. A tectónica dos seus elementos naturais,associada ao processo <strong>de</strong> ocupação urbana, correspon<strong>de</strong> ao que Norberg-Schulz <strong>de</strong>nominou“Espírito do Lugar”, conferindo a este território o seu sentido <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.2.1. Localização GeográficaA ilha <strong>de</strong> são Vicente é uma das 10 ilhas que constituem o arquipélago <strong>de</strong> <strong>Cabo</strong> Ver<strong>de</strong>.Um pais que localiza-se na costa oci<strong>de</strong>ntal da África, acima da linha do equador. São Vicente éa segunda ilha mais populosa do país.37


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loLocalizada á barlavento e posicionada a nor<strong>de</strong>ste do arquipélago, tem como vizinha ailha <strong>de</strong> Santo Antão, separada pelo canal <strong>de</strong> São Vicente.Em testemunha da sua origem vulcânica, os seus 227 km2 <strong>de</strong> extensão possui umaimagem árida e seca.Figura 14: Localização da cida<strong>de</strong> do Min<strong>de</strong>loFonte: http://visor.sit.gov.cv/Tem o seu maior comprimento na direcção Leste-Oeste entre a ponta Machado e aponta do Calhau com 24 km. A sua largura máxima situa-se na direcção Norte-Sul entre aponta João <strong>de</strong> Évora e a ponta Lombinho, com 16km <strong>de</strong> extensão.O Monte Ver<strong>de</strong>, com 774 metros <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>, constitui a gran<strong>de</strong> elevação. Conta aindacom o Monte Cara, cuja <strong>de</strong>signação se associa a uma face humana que, idilicamente, parececontemplar o céu.É consi<strong>de</strong>rada uma ilha semi plana em que a nor<strong>de</strong>ste e a leste predomina um litoralbaixo. A ilha é dominada por um clima tropical seco, marcado por duas estações: <strong>de</strong> Novembroa Julho correspon<strong>de</strong> á estação seca, pautada pelo sopro dos ventos alísios, e <strong>de</strong> Agosto aOutubro tem lugar a estação das chuvas, apesar da baixa precipitação.38


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loÁ nor<strong>de</strong>ste da ilha e inseparável do plano <strong>de</strong> água, encontramos a área urbana doMin<strong>de</strong>lo, transformada no porto a partir <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolveu a cida<strong>de</strong>.Figura 15: Vista sobre a Baia do Porto Gran<strong>de</strong> a partir do Monte GuteTudo dai se infere, explica o Min<strong>de</strong>lo como o pólo com o máximo <strong>de</strong> cosmopolitismopossível numa situação insular particularmente periférica e adversa. Tudo isso nos permiteenten<strong>de</strong>r sua centralida<strong>de</strong> cultural. Tudo isso nos leva a sentir <strong>de</strong> que forma aquilo que importano Min<strong>de</strong>lo não são os fragmentos, mas sim a fusão entre civilização e território, o todourbano: a cida<strong>de</strong>.2.2. DemografiaA ilha <strong>de</strong> São Vicente há alguns séculos posiciona-se com uma das ilhas maispopulosas <strong>de</strong> <strong>Cabo</strong> Ver<strong>de</strong>, sendo hoje o segundo maior foco populacional do país.Este elemento <strong>de</strong> avaliação é importante para o presente trabalho, pois possibilita umamaior e melhor interpretação da área em estudo.São Vicente conta hoje com uma população <strong>de</strong> 76107 habitantes, segundo o senso <strong>de</strong>2010 realizado pelo Instituto Nacional <strong>de</strong> Estatística, no seu IV Recenseamento Geral daPopulação. Possui, portanto, 15.5% da população total <strong>de</strong> <strong>Cabo</strong> Ver<strong>de</strong>. Assim, <strong>de</strong> seguida39


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loapresenta-se alguns dados da estrutura <strong>de</strong>mográfica que expressa essa população resi<strong>de</strong>nte.Em relação a distribuição por sexo conta-se com 38346 indivíduos do sexo masculino e37761 do sexo feminino, traduzido em percentagens tem-se 50.4% e 49.6% respectivamente.Esta distribuição correspon<strong>de</strong> a distribui-se por sexo verificada no conjunto do país.Quanto a ida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>-se dividir a ilha <strong>de</strong> São Vicente da seguinte forma: Pessoas com menos <strong>de</strong> 15 anos - 20367 Pessoas com ida<strong>de</strong>s compreendidas entre 15 e 25 anos – 17025Pessoas com ida<strong>de</strong>s compreendidas entre 25 e 45 anos – 22187, sendo o grupo <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>maioritário Pessoas com ida<strong>de</strong>s compreendidas entre 45 e 64 anos – 10816 Pessoas com mais <strong>de</strong> 64 anos – 5632Figura 16: População por Grupos <strong>de</strong> Ida<strong>de</strong>Fonte: INE, Cenco 2010Também torna-se pertinente fazer uma observação em relação a distribuição por ida<strong>de</strong> esexo. De acordo com os dados do mesmo senso apresenta-se a pirâmi<strong>de</strong> hierárquica a seguir.Figura 17: Pirâmi<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ida<strong>de</strong>s da população <strong>de</strong> São Vicente no ano 2010Fonte: INE, Cenco 201040


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loA análise que se po<strong>de</strong> fazer <strong>de</strong>sta pirâmi<strong>de</strong> <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>s é que correspon<strong>de</strong> a uma pirâmi<strong>de</strong><strong>de</strong> carácter estacionário e em fase <strong>de</strong> estabilização. A população é jovem com um predominoentre as ida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> 25 e 45 anos.Quanto a evolução da população e segundo os dados <strong>de</strong>mográficos disponíveis, po<strong>de</strong>-setirar as seguintes conclusões da figura seguinte.Figura 18: Evolução <strong>de</strong>mográfica <strong>de</strong> São Vicente entre 1940 e 2010Fonte: INE, Cenco 2010No período entre 1940 e 1960 verifica-se uma estabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mográfica em que aevolução é baixa, com um crescimento <strong>de</strong> 1.5% ao ano neste período.Entre 1960 e 2000 acontece uma explosão <strong>de</strong>mográfica explicada pela conjuntura <strong>de</strong>diversos factores socioeconómicos aumentando a população para 67500 habitantes.No período compreendido entre 2000 e 2010 o crescimento <strong>de</strong>mográfico assistido é <strong>de</strong>menor intensida<strong>de</strong> que o período anterior, no entanto a evolução é contínua.Um dos aspectos mais relevantes <strong>de</strong>sta análise <strong>de</strong>mográfica é a distribuição territorialda população. De forma geral, a ilha <strong>de</strong> São Vicente é predominantemente urbana, com umpeso expressivo na Cida<strong>de</strong> do Min<strong>de</strong>lo, tanto a nível <strong>de</strong>mográfico como social. O resto dospovoados reflecte características rurais.Povoamento segundo zonas urbanas e zonas rurais em São Vicente entre os anos 2000 e 2010Zonas 2000 2010Zonas Urbanas 93.74% 92.6%Zonas Rurais 6.26% 7.4%Tabela 1: Povoamento segundo zonas urbanas e zonas rurais em S. Vicente 2000-2010Fonte: INE, Cenco 201041


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loSegundo a tabela acima fica claro a diferença entre a ocupação do território urbano e dorural, com uma <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> populacional <strong>de</strong> 335hab/km2. São Vicente sempre teve este cenário,no entanto, neste período, <strong>de</strong> 2000-2010, verifica-se uma fuga do urbano para o rural, embora<strong>de</strong> forma tímida, mas po<strong>de</strong>rá ser um indicador do processo <strong>de</strong> abandono do meio urbano aprocura <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida no meio rural.2.3. HistoriaFoi o venezuelano Alavise da Cadamosto que na segunda viagem que realizou á costada Guiné, <strong>de</strong>scobriu quatro ilhas <strong>de</strong>ste arquipélago: Santiago, Maio, Boa Vista e Sal. Depois aexploração continuou com António da Noli e, em breve as restantes ilhas: Santo Antão, Fogo,São Nicolau, Brava, Santa Luzia e São Vicente, entravam no conhecimento <strong>de</strong> quem navegavaa sul do <strong>Cabo</strong> Branco.A data do <strong>de</strong>scobrimento da ilha <strong>de</strong> São Vicente por António da Noli remonta a 22 <strong>de</strong>Janeiro <strong>de</strong> 1462, e mais tar<strong>de</strong> foi doada ao Duque <strong>de</strong> Viseu, a título <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> SantoAntão. Quase três séculos após o <strong>de</strong>scobrimento da ilha, ela ainda encontrava-se <strong>de</strong>sabitada.2.3.1. Colonização PortuguesaNa ambição <strong>de</strong> consolidar o seu império colonial o Estado Português, no inicio doséculo XVIII, daria inicio a uma serie <strong>de</strong> tentativas com o intuito <strong>de</strong> povoar São Vicente.A ilha <strong>de</strong> São Vicente, com o seu porto natural amplo e protegido, constituiu umpotencial na colonização portuguesa enquanto ponto <strong>de</strong> escala nas navegações oceânicas.O Porto Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Vicente era frequentemente visitado por embarcaçõesFrancesas, diversas esquadras Holan<strong>de</strong>sas e também por baleeiros norte-americanos, comoescala e ponto <strong>de</strong> abastecimento. É exactamente contra o aumento significativo da passagem <strong>de</strong>embarcações que, em 1724, se instituiu a edificação <strong>de</strong> fortificações no Porto Gran<strong>de</strong>. Dez anosse passaram e surge a primeira proposta <strong>de</strong> povoamento e fortificação da ínsula por parte <strong>de</strong>um particular, todavia as autorida<strong>de</strong>s não autorizaram este pedido.Em 1781, sob o reinado <strong>de</strong> D. Maria I, a administração metropolitana tentou, pelaprimeira vez, o povoamento <strong>de</strong> São Vicente com população originária dos Açores e daMa<strong>de</strong>ira. Durante o primeiro terço do século XIX retomaram as tentativas <strong>de</strong> colonização doterritório insular: uma por iniciática particular e outra por iniciática do governador doarquipélago, António Pussich. A primeira falha sobretudo <strong>de</strong>vido a intensos períodos <strong>de</strong> seca,42


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loque, no entanto levou ao surgimento <strong>de</strong> um pequeno núcleo urbano, pautado pela Igreja <strong>de</strong>Nossa Senhora da Luz. Quanto a segunda tentativa, resultou da vonta<strong>de</strong> política da Metrópole,acompanhada pela elaboração <strong>de</strong> um plano <strong>de</strong> urbanização do Min<strong>de</strong>lo (1838), que preten<strong>de</strong>udinamizar a colonização <strong>de</strong> <strong>Cabo</strong> Ver<strong>de</strong>. Este plano <strong>de</strong> traçado ortogonal constituiu noprimeiro instrumento <strong>de</strong> assentamento urbano daquela que seria a nova capital do arquipélago.No entanto, por motivos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m financeira e organizacional aliados a impedimentos <strong>de</strong>or<strong>de</strong>m política que <strong>de</strong>saconselhavam a transferência da capital <strong>de</strong> Cida<strong>de</strong> da Praia paraMin<strong>de</strong>lo, levaram ao abandono do plano.Com a intensificação da navegação nas águas meridionais do oceano Atlântico, <strong>de</strong>vidoa in<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> alguns países da América Latina, com o aparecimento dos navios a vapor,surge uma circunstância nova. A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escala, <strong>de</strong> abastecimento e <strong>de</strong> portos amplos eprofundos colocava São Vicente em um novo patamar, seria um lugar que po<strong>de</strong>ria reunir todasessas condições. É com essa intenção que o governo autorizou, em 1850, o estabelecimento <strong>de</strong>um <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong> carvão á Royal Mail Steam Packet Co. Neste novo cenário viu-se a construção<strong>de</strong> uma serie <strong>de</strong> edifícios, forte e se<strong>de</strong> militar, <strong>de</strong> forma a acompanhar esta nova <strong>de</strong>manda.A 29 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1858 o Min<strong>de</strong>lo ganhou o estatuto <strong>de</strong> Vila. Durante os 21 anos queseparam este momento da data <strong>de</strong> elevação a cida<strong>de</strong>, 14 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1879, consistem numperíodo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> crescimento populacional e um extraordinário <strong>de</strong>senvolvimento económicopara a localida<strong>de</strong>.Nesta mesma sequência, no final do século XIX e na passagem para o século seguinte,assistiu-se a um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da área do porto do Min<strong>de</strong>lo.Até ao inicio da I Guerra Mundial, o Min<strong>de</strong>lo manteve-se com uma povoação emconstante crescimento e <strong>de</strong>senvolvimento. Todavia, neste período a cida<strong>de</strong> teve <strong>de</strong> <strong>de</strong>frontar-secom momentos <strong>de</strong> diminuição da navegação e das activida<strong>de</strong>s portuárias. Tudo agravouquando, acontece a mudança <strong>de</strong> combustível para fuel-oil e pela maior capacida<strong>de</strong> que osnavios podiam comportar.O futuro do Min<strong>de</strong>lo passava por uma fase diferente da do “boom” urbanístico doterceiro quartel do século XIX. A pouco e pouco, começava a perceber-se o impacto daconcorrência <strong>de</strong> outros portos.Após a guerra teve inicio uma nova tentativa <strong>de</strong> recuperação do prestígio do porto, comobras <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização. É exemplo <strong>de</strong>ste esforço a ponte-cais, <strong>de</strong> betão armado, inaugurada em1929 para garantir a ancoragem <strong>de</strong> navios mo<strong>de</strong>rnos.Após a última gran<strong>de</strong> guerra, a população continuava a crescer, atingindo os 3600043


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>lohabitantes em 1975, data da in<strong>de</strong>pendência nacional. Neste período, foram levadas a cabovários panos, directores e parcelares, na tentativa <strong>de</strong> impedir a proliferação da edificação semplanos, o que não foi conseguida, no entanto foi mantida uma continuida<strong>de</strong> com o núcleoinicial que <strong>de</strong>spontou no século XIX.2.3.2. Min<strong>de</strong>lo e os InglesesOs ingleses sempre tiveram uma presença activa na história da cida<strong>de</strong> do Min<strong>de</strong>lo,variando <strong>de</strong> expressivida<strong>de</strong> neste percurso, no entanto sempre presentes.O Min<strong>de</strong>lo resulta da oportunida<strong>de</strong> da sua posição geográfica e das suas peculiarescaracterísticas maritimo-portuárias no momento em que a geo-estrategia mundial se reajustavaá queda dos impérios coloniais Português e Espanhol do Antigo regime e ao emergir dosimpérios industriais e financeiros actuais, dos quais o Inglês foi o arcaico pioneiro. Po<strong>de</strong>-sedizer então que Min<strong>de</strong>lo resulta da vitória da navegação industrial.Os inglese constituíram a presença dominante na ilha, apesar <strong>de</strong> outra terem surgido,como ju<strong>de</strong>us atraídos pela oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> negocio. Po<strong>de</strong>-se dizer que o futuro <strong>de</strong> São Vicentesó viria a ser traçado em 1838, quando uma companhia inglesa escolheu o Porto natural <strong>de</strong> SãoVicente para a instalação <strong>de</strong> um <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong> carvão para abastecimento dos navios a vapor emtrânsito, que navegavam pelo Oceano Atlântico.Em 1850 já se tinham estabelecido em Min<strong>de</strong>lo cinco companhias <strong>de</strong> carvão, estas,<strong>de</strong>pois, fundiram-se numa única, e a companhia Cory Brothers & Co, estabelecida em 1875,viria a incrementar o povoamento da ilha atraindo e empregando pessoas das ilhas vizinhas <strong>de</strong>Santo Antão e São Nicolau.A activida<strong>de</strong> do Porto viria alcançar seu ponto mais alto em 1889, ano em que seregistou a entrada <strong>de</strong> 1.927 navios mercantis <strong>de</strong> longo curso.O Min<strong>de</strong>lo tornou-se numa metrópole cuja arquitectura é reflexa da sua tendênciaurbana, espelhando a sua influência inglesa. O lazer passou a ser uma priorida<strong>de</strong> no quadrocultura, havendo lugar para activida<strong>de</strong>s como a música, a dança, repercutindo-se nas váriaspraças da cida<strong>de</strong>.Depois do auge, o <strong>de</strong>clínio da activida<strong>de</strong> tornou-se evi<strong>de</strong>nte, <strong>de</strong>vido a concorrência dosnovos portos. Toda a zona da marginal, com excepção da Praça D. Luís, foi ocupada pelascompanhias inglesas que aí construíram os seus estaleiros, armazéns <strong>de</strong> carvão e as pontes-cais,para abastecimento dos navios. Toda a baía ficou condicionada em benefício dos interesses44


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loingleses, interrompendo-se o contacto directo da cida<strong>de</strong> com o mar.A influência inglesa é, ate hoje, uma realida<strong>de</strong>, tanto no registo urbanístico como naarquitectura, como nos hábitos e costumes e na própria linguagem min<strong>de</strong>lense.2.4. Momentos <strong>de</strong> assentamento urbano do Min<strong>de</strong>loA caracterização das diferentes cida<strong>de</strong>s, não é in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da forma como se foramconstruindo as ruas, as praças, as casas e tudo aquilo que em conjunto dão um carácter especialà Cida<strong>de</strong> ou Vila. Por isso torna-se imprescindível para o conhecimento aprofundado docrescimento urbanístico <strong>de</strong> um aglomerado, a compreensão da sua história e a sua consequenteevolução ao longo dos tempos.O povoamento do Min<strong>de</strong>lo, que remonta há alguns séculos atrás, está inteiramenterelacionado com a sua posição geográfica, nomeadamente pela sua posição em relação as rotas<strong>de</strong> navegação.O caso do Min<strong>de</strong>lo, á semelhança <strong>de</strong> outros, correspon<strong>de</strong> a uma urbanística <strong>de</strong> matrizlusitana, cujo corpus teórico resulta da formação e do espírito <strong>de</strong> empreendimento dosprotagonistas dos vários tempos <strong>de</strong> construção da cida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> a diáspora constituiu umaconstante.Po<strong>de</strong>mos i<strong>de</strong>ntificar oito gran<strong>de</strong>s períodos do assentamento da Cida<strong>de</strong> do Min<strong>de</strong>lo, verem apêndice I, essa i<strong>de</strong>ntificação baseia-se na relação entre os <strong>de</strong>cisores e a expressão física doterritório daí resultante. Assim po<strong>de</strong>mos apontar:1790_1809, Primeiro Facto Urbano: <strong>de</strong> Nossa Senhora da Luz a D. Rodrigo;1810_1829, Segundo facto urbano: D. Leopoldina;1830_1850, O primeiro plano do Min<strong>de</strong>lo;1851_1879, Da Vila á Cida<strong>de</strong>: a Alfân<strong>de</strong>ga;1880_1914, O Plano <strong>de</strong> Melhoramento do Porto Gran<strong>de</strong>;1915_1951, A Implementação dos Melhoramentos;1952_1954, O Gabinete <strong>de</strong> Urbanização Colonial;1960_1975, Os planos da DGOPC-DSUM Ministério do Ultramar.45


2.5. Caracterização Urbana da Cida<strong>de</strong> do Min<strong>de</strong>loRevitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loEmbora o Min<strong>de</strong>lo não corresponda a uma sucessão <strong>de</strong> planos notáveis ou mesmo a umedificado abundante ao nível do valor patrimonial, o facto é que o sentido do lugar, numarelação indissociável entre a morfologia e a paisagem urbana, torna esta cida<strong>de</strong> um património<strong>de</strong>scodificavel através do recurso á Historia e ao Desenho Urbano, no processo <strong>de</strong> reconstruçãoda cida<strong>de</strong>.Min<strong>de</strong>lo, o porto principal <strong>de</strong> <strong>Cabo</strong> Ver<strong>de</strong>, é uma cida<strong>de</strong> relativamente nova. Em 1819não havia mais <strong>de</strong> 120 pessoas em toda a ilha <strong>de</strong> São Vicente, na maioria pastores. A povoaçãoteve vários nomes; Nossa Senhora da Luz, D. Rodrigo, D. Leopoldina, antes do actual. Em1838, o Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Sá e Ban<strong>de</strong>ira <strong>de</strong>cidiu fundar naquele lugar uma localida<strong>de</strong> com o nome<strong>de</strong> Min<strong>de</strong>lo, tendo a intenção <strong>de</strong> transferir para ali a capital do arquipélago.2.5.1. O Centro e a PeriferiaNo Min<strong>de</strong>lo não há arquitectura monumental, o que não quer dizer <strong>de</strong> forma algumaque não haja arquitectura <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> ou interessante.Para compreen<strong>de</strong>r Min<strong>de</strong>lo com um centro histórico é preciso enxerga-lo para além dosaspectos da estrutura urbana, associada ainda a conceitos como Conjuntos ArquitectónicosUrbanos. “A noção <strong>de</strong> monumento histórico compreen<strong>de</strong> a criação arquitectónica isolada,assim como o sítio urbano ou rural que dá testemunho <strong>de</strong> uma civilização particular, <strong>de</strong> umaevolução significativa ou <strong>de</strong> um acontecimento histórico. Esta noção esten<strong>de</strong>-se não apenas àsgran<strong>de</strong>s criações, mas também, às obras mo<strong>de</strong>stas que adquiriram com o tempo um significadocultural”, afirma a Carta <strong>de</strong> Veneza.Muito mais que o conjunto <strong>de</strong> monumentos arquitectónicos excepcionais, eles são umúnico monumento formado por um conjunto <strong>de</strong> arquitecturas nada excepcionais. Mas serãoestas arquitecturas, elementos fundamentais para a construção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do lugar.Mesmo nos casos em que a implantação dos prédios visa a assumir uma posição <strong>de</strong><strong>de</strong>staque na paisagem, estes possíveis monumentos têm sua força paisagística diluída noconjunto. Bom exemplo disto é a capitania dos portos, construída como uma curiosa tentativa<strong>de</strong> copiar a Torre <strong>de</strong> Belém, e cuja implantação inicial no mar visava <strong>de</strong>staca-la do frontispíciomarítimo; ou a relação entre os prédios do Tribunal e da Câmara Municipal com as ruas que<strong>de</strong>sembocam em suas fachadas principais estabelecendo eixos visuais <strong>de</strong> ligação <strong>de</strong>stas com omar.46


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loA sua arquitectura, da segunda meta<strong>de</strong> do século XIX e do princípio do actual, édiferente da <strong>de</strong> S. Filipe e da Praia, <strong>de</strong>notando uma influência mais cosmopolita, elacaracteriza-se pelo gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> “mansardas”, uma influência tardia da Lisboa Pombalina.Este tem no seu traçado a autonomia em relação a arquitectura, característica das cida<strong>de</strong>sprojectadas pelos portugueses na sua expansão oceânica.O padrão das ruas do projecto <strong>de</strong> implementação inicial da vila, paralelas ao mar, vaiser <strong>de</strong>terminante na sua caracterização como conjunto urbano e também factor <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminaçãopara a compreensão dos seus limites.A zona central <strong>de</strong> Min<strong>de</strong>lo po<strong>de</strong> ser dividida em três partes que comportam distinçõesnos padrões <strong>de</strong> ocupação e nas suas vocações funcionais, mas que se complementam naconstrução da imagem da cida<strong>de</strong>. Nesta lógica, o centro histórico estaria confinado á áreacentral, <strong>de</strong> ocupação mais antiga, on<strong>de</strong> é mais clara a permanência do tecido <strong>de</strong> ruas e travessasda implantação original da vila. Na zona norte a ocupação é caracterizada por sua função maiscosmopolita <strong>de</strong> hotéis e centros <strong>de</strong> lazer com padrão mais recentes em torno da Praça Nova, eno sul a ocupação divi<strong>de</strong>-se entre as estruturas mais fabris e a activida<strong>de</strong> do mercado em tornoda Praça Estrela.As três áreas contem o centro histórico do Min<strong>de</strong>lo, perfeitamente distinguível <strong>de</strong> toda aimensa periferia envoltório, seja no padrão do traçado, seja no <strong>de</strong>senho do loteamento, seja nopadrão <strong>de</strong> edificação. Este centro histórico não é, no entanto, facilmente conhecido como tal. Aorigem <strong>de</strong>sta confusão está numa prática que tem sempre privilegiado a pura e simplestransferência <strong>de</strong> conceitos e experiencias consolidados em contextos muito diferentes daqueleson<strong>de</strong> preten<strong>de</strong>-se actuar.No centro histórico do Min<strong>de</strong>lo as arquitecturas menores têm suas fachadas tratadascom a proporção tendo ao quadrado entre a altura da construção e a largura do lote.Po<strong>de</strong>-se afirmar apressadamente que a casa urbana antiga min<strong>de</strong>lense ten<strong>de</strong> a assumirum padrão volumétrico cúbico. Curiosamente a legislação da cida<strong>de</strong>, no inicio do século XX,propunha também uma relação entre a largura das ruas e a altura das edificações <strong>de</strong> proporçãoquadrada: para ruas <strong>de</strong> ate sete metros, o máximo <strong>de</strong> oito metros <strong>de</strong> altura; <strong>de</strong> sete a catorzemetros, quatro pisos, e <strong>de</strong> <strong>de</strong>zassete metros, cinco pisos. Esta relação <strong>de</strong> semelhança <strong>de</strong>proporções entre o espaço publico e as construções privadas terá sido uma invenção dolegislador do inicio do século XX, ou simplesmente a consolidação <strong>de</strong> uma modo <strong>de</strong> construir47


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loe <strong>de</strong> uma proporção? A resposta virá dos necessários estudos históricos e tipológicos acerca daarquitectura <strong>de</strong> <strong>Cabo</strong> Ver<strong>de</strong>.No tratamento cúbico das construções surgem mais dois notáveis elementosdiferenciadores, que são as construções com camarinhas e os sobrados com o balcão bastantesacado, fechado ou não por venezianas. As camarinhas e os balcões funcionam comovernáculos <strong>de</strong> uma linguagem i<strong>de</strong>ntificadora da paisagem urbana do centro histórico doMin<strong>de</strong>lo. Notável é que esta continua ainda a ser articulada na actualida<strong>de</strong>. Em toda a áreacentral novas construções são realizadas utilizando as camarinhas, que alem <strong>de</strong> tudo sãotambém uma boa solução para tornar habitáveis os sótãos.Mas Min<strong>de</strong>lo, numa perspectiva <strong>de</strong> caracterização, <strong>de</strong>ve ser entendida para além dazona central que se <strong>de</strong>senvolveu junto da antiga ponte-cais. Ela que fica entalada entre a baia eos relevos muito pronunciados que a envolvem e penetram, é composta também pela fortepresença da periferia. Ali, mesmo em <strong>de</strong>clives bastante acentuados, <strong>de</strong>senvolveram-se gruposhabitacionais dispostos ao sabor do relevo, em regra, habitações populares.Este processo inicia-se entre as décadas <strong>de</strong> 1940 e <strong>de</strong> 1970, quando acontece a expansãopara além do centro. O número <strong>de</strong> construções aumenta <strong>de</strong> forma expressiva, acompanhando ocrescimento da população.A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sfragmentou-se e tem sido vítima <strong>de</strong> um crescimento urbano malplanificado com <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> da malha inicial consolidada, na periferia, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>andoproblemas urbanísticos tais como a mobilida<strong>de</strong>, o escoamento da água das chuvas e infraestruturas<strong>de</strong> saneamento <strong>de</strong> águas e esgotos etc.De uma forma geral as construções tem padrões <strong>de</strong> construção e habitabilida<strong>de</strong> dignos esão dotados <strong>de</strong> uma harmonia interna que convoca uma gradual empatia estética.O que os <strong>de</strong>squalifica é a <strong>de</strong>surbanida<strong>de</strong> do espaço público, a escassa e caótica infraestruturação. Como já se tinha referido, falta-lhe uma “ re<strong>de</strong> e re<strong>de</strong>s” que os suportem e quelhes dêem consistência urbanística e paisagística. Na ausência <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho prévio, urge um<strong>de</strong>senho posterior.Dramático é que essa lógica <strong>de</strong> periferia esteja a invadir o centro, não nas formas,programas, escala, mas sim também no que diz respeito a ausência da “re<strong>de</strong> <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s”,<strong>de</strong>signadamente <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho e conceito, que suportem as intervenções transformadoras.A arquitectura existente é frágil, não apenas pela sua caducivida<strong>de</strong> física e funcional,mas também pela sua escala e pela sua enorme <strong>de</strong>pendência dos espaços vazios públicos e48


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loprivados, cada vez mais apetecíveis numa lógica <strong>de</strong> rentabilização do espaço pelo meroedificado. A voracida<strong>de</strong> é maior e o que se ocupa não é território virgem, mas tecido urbanoconsolidado.A cida<strong>de</strong> expandiu-se com a construção <strong>de</strong> novas habitações, enquanto o centropermaneceu reservado às funções administrativas, comerciais e culturais. Câmara, Mercado,Centro Cultural Português, Biblioteca, Centro Cultural, entre outros. Na zona intermédia, entreo centro e a periferia, surgiram alguns bairros resi<strong>de</strong>nciais, separados do centro antigo porgran<strong>de</strong>s infra-estruturas e equipamentos públicos, como o Hospital e o Estádio <strong>de</strong> Futebol.A cida<strong>de</strong> do Min<strong>de</strong>lo não é excepção <strong>de</strong> entre muitas que necessitam <strong>de</strong> umaintervenção urgente para a recuperação dos seus edifícios. A ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguns <strong>de</strong>les e o estado<strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação em que se encontram, mostram a precarieda<strong>de</strong> das intervenções anteriores e aurgência na elaboração <strong>de</strong> um plano <strong>de</strong> manutenção.Há edifícios <strong>de</strong> uma importância excepcional que <strong>de</strong>verão ser preservadosintegralmente, como testemunhos <strong>de</strong> formas tradicionais <strong>de</strong> vida, e que estão em risco <strong>de</strong><strong>de</strong>saparecer.2.6. CulturaO factor social/cultural em Min<strong>de</strong>lo é um elemento i<strong>de</strong>ntificador das suas gentes.Impossível será pensar Min<strong>de</strong>lo sem liga-lo a atmosfera festiva e mundana que genuinamentepossui.Min<strong>de</strong>lo foi consi<strong>de</strong>rado, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre, como capital cultural <strong>de</strong> <strong>Cabo</strong> Ver<strong>de</strong>, e hápoucos anos <strong>de</strong>signada <strong>de</strong> Capital Lusófona da Cultura. Assim, tem sido o expoente máximo<strong>de</strong> <strong>Cabo</strong> Ver<strong>de</strong> nos mais variados domínios culturais, da música à literatura, passando peloteatro e pela pintura, até às manifestações populares mais genuínas como Colá San Jon e oCarnaval.Nos últimos anos, tem-se registado uma intervenção <strong>de</strong>cidida dos po<strong>de</strong>res municipaisem apoio ao <strong>de</strong>senvolvimento da cultura, com a promoção das mais variadas iniciativas, e aconstrução <strong>de</strong> algumas infra-estruturas e fundações. Citam-se, entre outras, a criação daBiblioteca Municipal, e da Escola <strong>de</strong> Música do Min<strong>de</strong>lo, a reconstrução do MercadoMunicipal, a remo<strong>de</strong>lação da Praça Estrela, a recuperação das instalações do Ma<strong>de</strong>iral, arealização anual do Festival da Baía das Gatas, a atribuição <strong>de</strong> distinções às mais importantes49


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>lofigurais culturais da ilha e a construção <strong>de</strong> diversos jardins e pracetas.Neste sentido passa-se a transcrever as passagens <strong>de</strong>ixadas por um dos muitos amantesda cida<strong>de</strong> mais cantada e clamada do país, Walter Rossa.“Min<strong>de</strong>lo, quiçá a mais genuinamente alegre e mundana <strong>de</strong> <strong>Cabo</strong> Ver<strong>de</strong>.E faço esta afirmação, não por uma questão <strong>de</strong> retórica, mas porque a alegria e a mundanida<strong>de</strong>min<strong>de</strong>lenses são factores cruciais na sua urbanida<strong>de</strong> específica. Não há ali uma espectacularida<strong>de</strong>monumental ou uma paisagem natural que nos faça suster a respiração. Também não há comércio <strong>de</strong>referência a griffes ou <strong>de</strong> uma única e rica produção local (vulgo artesanato), muito menos contrabando.Em suma e para atalhar caminho: com relação ao universo cabo-verdiano, o que temos no Min<strong>de</strong>lo é alocalização mais refinada e concentrada da sua cultura, a qual sempre teve um peculiar registo urbano.A história da cida<strong>de</strong> explica bem isso.”O que se po<strong>de</strong> tirar <strong>de</strong>ssas passagens é a importância do elemento cultura comoi<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e estratégia <strong>de</strong> uma real revitalização para cida<strong>de</strong> do Min<strong>de</strong>lo, a Cultura como mote.50


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loCapitulo 3: Plano <strong>de</strong> Revitalização da Zona Norte doCentro <strong>de</strong> Min<strong>de</strong>lo3.1. EnquadramentoNeste capítulo, com base nas análises feitas in loco do estado actual da zona norte docentro <strong>de</strong> Min<strong>de</strong>lo e na revisão documental realizada, preten<strong>de</strong>-se apresentar uma proposta <strong>de</strong>revitalização urbana que vá <strong>de</strong> acordo com os objectivos preconizados, apostando navalorização do próprio património utilizando a cultura como estratégia, resultandoessencialmente na melhoria do padrão da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida urbana e que reflecte no capítuloseguinte com a apresentação do projecto <strong>de</strong> arquitectura <strong>de</strong> um equipamento cultural, o Teatro.A escolha <strong>de</strong>sta área para a proposta <strong>de</strong> intervenção a luz da revitalização urbana foibaseada nas suas características especiais que possui para um estudo <strong>de</strong>sta natureza.Com já foireferido anteriormente no capítulo II, on<strong>de</strong> o centro <strong>de</strong> Min<strong>de</strong>lo po<strong>de</strong>ria dividir-se em três áreasem que embora elas comportam distinções nos padrões <strong>de</strong> ocupação e nas suas vocaçõesfuncionais compartilham o centro histórico. Esta área em especial é caracterizada por suafunção mais cosmopolita <strong>de</strong> hotéis e centros <strong>de</strong> lazer com padrão mais recentes em torno daPraça Nova. Então, apresenta-se como um local estratégico on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rá emergir um plano <strong>de</strong>revitalização urbana <strong>de</strong>ste género e que po<strong>de</strong>rá esten<strong>de</strong>r-se, num passo seguinte, para asrestantes áreas.51


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loA sua posição estratégica torna este espaço merecedor <strong>de</strong> um projecto que possa trazer<strong>de</strong> volta o seu dinamismo e importância do passado. Sendo assim, a Cultura e a Habitação seráo binómio a utilizar nesta estratégia <strong>de</strong> revitalização urbana.A área intervenção fica no centro norte do Min<strong>de</strong>lo, ver em apêndice II, consta <strong>de</strong> umafaixa localizada no litoral, é <strong>de</strong>limitada em direcção ao interior pela Avenida Baltazar Lopes epela perpendicular ao litoral Avenida Doutor Alberto Leite e, possui uma área <strong>de</strong>aproximadamente cinquenta hectares.É constituída por uma plataforma que consiste na parte baixa da cida<strong>de</strong> resultado dacratera <strong>de</strong> origem e, por um relevo que comporta o Alto Fortim.A cida<strong>de</strong> do Min<strong>de</strong>lo não é excepção <strong>de</strong> entre muitas que necessitam <strong>de</strong> umaintervenção urgente para a recuperação dos seus edifícios. A ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguns <strong>de</strong>les e o estado<strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação em que se encontram, mostram a precarieda<strong>de</strong> das intervenções anteriores e aurgência na elaboração <strong>de</strong> um plano <strong>de</strong> manutenção. O resultado <strong>de</strong> um plano <strong>de</strong> recuperaçãodos edifícios rebaterá sobre o tecido urbano em geral e a dinâmica social do espaço.Figura 19: Localização da área <strong>de</strong> intervenção geralFonte: : http://visor.sit.gov.cv/, NATO52


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>lo3.2. Analise SWOTNa sequência da análise feita, preten<strong>de</strong>-se neste momento fazer uma abordagem maisincisiva sobre a área <strong>de</strong> intervenção em estudo. Desta forma, adoptou-se a ferramenta <strong>de</strong>análise SWOT <strong>de</strong> modo a optimizar a interpretação da área. Assim passamos a apontar:Pontos Fortes – StrengthsA localização apresenta-se como uma dos principais atributos da área <strong>de</strong> intervenção,tanto a nível local como regional, revelando a sua centralida<strong>de</strong>;O tecido urbano consolidado, com o seu conjunto <strong>de</strong> vias <strong>de</strong> acesso e quarteirões comum certo padrão;A relação com a sua envolvente, fluida e enquadrada, proporciona uma leitura e<strong>de</strong>scodificação da área em relação ao contexto da cida<strong>de</strong>;A paisagem combinada aos eixos visuais atribuem a área uma atmosfera um tantoquanto mística e poética;A relação habitante-cida<strong>de</strong> bastante fomentada e evi<strong>de</strong>nciada nas várias manifestaçõesculturais como a música e a poesia;Um conjunto arquitectónico apreciável, que conta a historia da cida<strong>de</strong> e das suas gentes;Um registo cultural enraizado no próprio quotidiano dos min<strong>de</strong>lenses, patenteada naforma mundana e “boémia” da cida<strong>de</strong>.Pontos Fracos – ThreatsA presença <strong>de</strong> vários vazios, que pela ausência <strong>de</strong> uma proposta que os resolvatornaram-se em zonas estranhas e fora do circuito habitual;A carência <strong>de</strong> soluções para as áreas na marginal que se tornaram obsoletas após aretirada dos ingleses, zonas com enorme potencial mas ainda por resolver;Barreiras visuais em alguns pontos que impe<strong>de</strong>m o contacto directo com a baia do PortoGran<strong>de</strong>;A ausência <strong>de</strong> mobiliários urbanos que qualifiquem as poucas áreas <strong>de</strong> repouso econtemplação que possui;Deficiência do sistema <strong>de</strong> re<strong>de</strong> viária, limitando a circulação pedonal e a ocupação <strong>de</strong>faixas <strong>de</strong> rodagem pela insuficiência <strong>de</strong> estacionamento;Inexistência <strong>de</strong> planos colocados em pratica para a resolução integral <strong>de</strong> vários aspectosda cida<strong>de</strong> como re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> água, electricida<strong>de</strong>, saneamento e drenagem <strong>de</strong> águas pluviais,53


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loacarretando uma serie <strong>de</strong> transtornos aquando das ampliações e consertos das re<strong>de</strong>s e daépoca das chuvas.Oportunida<strong>de</strong>s – Opportunities O potencial humano faz <strong>de</strong> Min<strong>de</strong>lo um local propenso a implementação <strong>de</strong> re<strong>de</strong>sadministrativos e empresariais <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> serviços; A cultura ou a culturalida<strong>de</strong> da cida<strong>de</strong> que posiciona Min<strong>de</strong>lo como a capital da culturapo<strong>de</strong> ser assumida como uma estratégia <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento social económico ehumano; A sua posição geo estratégica po<strong>de</strong>ria ser reassumida como um factor <strong>de</strong> peso,possibilitando a implementação <strong>de</strong> circuitos <strong>de</strong> telecomunicação e turismo <strong>de</strong> negócio; O carácter académico que a cida<strong>de</strong> sempre teve e a sua relação indissociável com o mar,po<strong>de</strong>ria servir <strong>de</strong> estimulador no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> centros <strong>de</strong> pesquisas relacionadasas ciências do mar e áreas afins como aquários e <strong>de</strong>sportos náuticos.Fraquezas – Weaknesses Vários edifício <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valor patrimonial testemunhos <strong>de</strong> formas tradicionais <strong>de</strong> vidaencontram-se em estado avançado <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação; A ausência <strong>de</strong> politicas que aconselhem ou orientem os particulares na preservação dospatrimónios em sua posse; Fraca aposta em publicida<strong>de</strong> e marketing que divulgue a cida<strong>de</strong> possibilitando umacaptação <strong>de</strong> interesses por parte do po<strong>de</strong>r privado nacional e internacional; A perda da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do centro com activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> (re)construção não orientadas efiscalizadas pelas entida<strong>de</strong>s responsáveis e competentes; O monofuncionalismo do centro, criando momentos <strong>de</strong> pico <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> movimentação emomentos em que a cida<strong>de</strong> fica <strong>de</strong>sértica e fantasmagórica; O centro está sob gran<strong>de</strong> pressão e a voracida<strong>de</strong> é maior e o que se ocupa não é territóriovirgem, mas tecido urbano consolidado.3.3. Objectivo Geral e EspecíficosCom o abandono dos ingleses e o momento após a in<strong>de</strong>pendência, a posição estratégica54


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>lodo porto per<strong>de</strong>u importância. Estes factores repercutiram na estrutura urbana do Min<strong>de</strong>lo,foram <strong>de</strong>smanteladas as companhias e estaleiros que marcaram presença em toda a baía <strong>de</strong>s<strong>de</strong>meados do século XIX, sendo os terminais transferidos para a nova zona portuária na base doMonte Fortim. Deste modo, os terrenos da Avenida Marginal passaram a estar disponíveis parauma re<strong>de</strong>finição da relação da cida<strong>de</strong> com a frente marítima, ainda hoje por resolver. Estesespaços ou vazios urbanos que potenciem a memória, e a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> colectiva, po<strong>de</strong>rão<strong>de</strong>sfrutar <strong>de</strong> um carácter unificador e não <strong>de</strong> ruptura da cida<strong>de</strong>.Deste modo os objectivos são, criar infra-estruturas que preencham os vazios urbanos,assim como a criação <strong>de</strong> espaços públicos dinâmicos. Converter os edifícios antigos e comvalor patrimonial em espaços com activida<strong>de</strong>s multiusos essencialmente <strong>de</strong> carácter culturalfomentando a veia artística dos min<strong>de</strong>lenses. Espaços que possibilitem activida<strong>de</strong>s nocturnascombatendo a <strong>de</strong>sertificação, <strong>de</strong>simpedir as barreiras urbanas, e revitalizar o comérciotradicional com uma nova imagem mais unificada na sua diversida<strong>de</strong>.Com base na análise SOWT realizada, assentado essencialmente nas potencialida<strong>de</strong>sque a cida<strong>de</strong> possui e nas vocações já presentes, foi <strong>de</strong>senvolvida uma estratégia <strong>de</strong>requalificação que valoriza o espaço público e as <strong>de</strong>slocações pedonais procurando abrangeruma série <strong>de</strong> objectivos específicos: Reorganização do Sistema <strong>de</strong> circulação automóvel, re<strong>de</strong>senhando as vias,condicionando-os no centro e à volta das praças, reduzindo a <strong>de</strong>pendência automóvel,concebendo espaços a<strong>de</strong>quados para estacionamento; Reformulação do perfil da marginal e da sua frente urbana, intervindo pontualmente nosedifícios obsoletos da marginal. Introduzir outra escala, em que a paisagem é a base elinha orientadora das soluções propostas no projecto; Reabilitar praças e largos, assumindo-os elementos centrais da proposta <strong>de</strong> intervenção,com pontos estratégicos do centro, valorizando-os como local <strong>de</strong> permanência econfluência <strong>de</strong> pessoas, utilizando a água como elemento, simbolizando locais on<strong>de</strong> omar entra na cida<strong>de</strong>; Adaptação <strong>de</strong> edifícios antigos e construção <strong>de</strong> outros novos <strong>de</strong>stinados a implantação <strong>de</strong>edifícios <strong>de</strong> habitação, comercio, escritórios, hotelaria, restauração e equipamentosculturais, etc.; Criação <strong>de</strong> zonas interditas a circulação automóvel favorecendo a mobilida<strong>de</strong> pedonal namarginal e no centro com novas formas <strong>de</strong> acessibilida<strong>de</strong>s, tais como a ciclovia;55


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>lo Procurar dar carácter à topografia traduzindo numa a urbanida<strong>de</strong> atenta a natureza,fazendo emergir a paisagem.Com estes objectivos ambiciona que a proposta <strong>de</strong> intervenção tenha uma sensibilida<strong>de</strong>social e <strong>de</strong> imagem urbana quer a nível <strong>de</strong> concepção quer a nível <strong>de</strong> uso.3.4. Projecto <strong>de</strong> Intervenção GeralNeste subcapítulo, com base em todas as análises acima efectuadas e consi<strong>de</strong>raçõesregistadas, preten<strong>de</strong>-se constituir uma proposta <strong>de</strong> revitalização urbana da zona norte do Centroda cida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> carácter geral, que sirva <strong>de</strong> base e orientação para intervenções mais incisivas,como é o caso do Teatro proposto.Embora o centro histórico estar confinado à área central, <strong>de</strong> ocupação mais antiga, on<strong>de</strong>é mais claro a permanência do tecido <strong>de</strong> ruas e travessas da implantação original da ilha, a zonanorte do centro é a que apresenta melhores características para um plano <strong>de</strong>sta natureza. Muitomais do que um conjunto <strong>de</strong> monumentos arquitectónicos excepcionais, são um únicomonumento formado por um conjunto <strong>de</strong> arquitecturas não excepcionais. Mas são elementosfundamentais, para a em construção da “i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> min<strong>de</strong>lense”.Ora a proposta, visa neste sentido preservar este património, condicionado o trânsitoautomóvel e favorecendo a mobilida<strong>de</strong> pedonal, levará em conta que visualmente a ligação docentro com o mar é pouco pronunciado, o objectivo é com a restauração <strong>de</strong> edifícios em estado<strong>de</strong>grado e tratamento <strong>de</strong> espaço público, salientar essa visualida<strong>de</strong> marítima, sempre com baseno binómio já proposto “ Habitação - Cultura”, articulando a nova proposta com a malha préexistente.Deste modo, propõem-se a abrangem campos sensíveis e estratégicos da região, em queserá focalizada no reforço das vocações já existentes, assim temos:Infra estrutura;Habitação;Cultura e Entretenimento;Comercio e Serviço.56


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loAssim, po<strong>de</strong>mos apontar as seis formas <strong>de</strong> intervenção adoptadas neste plano <strong>de</strong>revitalização: Re<strong>de</strong>finição do sistema viário, re<strong>de</strong>senhando o sistema, regulando a circulação <strong>de</strong>veículos pesados e favorecendo os percursos pedonais com recurso a ruas interditas acirculação automóvel e implementação <strong>de</strong> ciclovias; Reabilitação da Marginal, ampliação da área <strong>de</strong>stinada a peões com o emergir <strong>de</strong> áreas<strong>de</strong> repouso, contemplação e recriação; Revitalização <strong>de</strong> Praças, fomentando o seu carácter aglutinador favorecendo osintercâmbios sociais tão característica da cosmopolita cida<strong>de</strong>; Recuperação dos edifícios antigos atribuindo-os novos usos, criando re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> salas comespaços culturais, restaurantes, comercio e serviços, e residências temporárias; Tratamento dos vazios urbanos, dotando a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma nova linguagem unificadora e<strong>de</strong> consolidação, isso recorrendo a novos edifícios, como é o caso do Teatro, espaços <strong>de</strong>lazer e habitação; Implementação <strong>de</strong> elementos morfológicos essenciais a qualida<strong>de</strong> do plano como, omobiliário urbano, arruamento, pavimento, acessibilida<strong>de</strong> e espaço ver<strong>de</strong>.3.4.1. Re<strong>de</strong>finição do Sistema ViárioA viabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um projecto <strong>de</strong>sta natureza, passa inevitavelmente pela reflexão damalha viária que comporta, regulando a circulação automóvel, reestruturando sub zonas earticulando/interligando equipamentos <strong>de</strong> referência.Desta forma, a proposta se centra na consolidação da frente marítima e a sua articulaçãoatravés <strong>de</strong> três percursos transversais <strong>de</strong> atravessamento, com o interior e limitação da área <strong>de</strong>intervenção, o que se centrou na valorização e animação dos três eixos longitudinais queestruturam a globalida<strong>de</strong> da área central da cida<strong>de</strong> do Min<strong>de</strong>lo, conectando os seus espaços efunções urbanas <strong>de</strong> referência.Para além dos principais eixos viários já citados, uma gran<strong>de</strong> malha <strong>de</strong> vias secundáriaspermeia a área <strong>de</strong> intervenção. Aliados a estes, e como já se tinha referido, a mobilida<strong>de</strong>pedonal <strong>de</strong>sempenhará um papel <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque. A sua presença estará fortemente marcada avolta das praças e nas travessas que cruzam o centro, por exemplo a Rua Unida<strong>de</strong> Africana. A57


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loimplantação <strong>de</strong> eixos <strong>de</strong> ciclovias interligando vários pontos da área <strong>de</strong> intervenção, tambémseguem a mesma lógica das pedonais.M - Frente Marítima,Avenida Marginala - Percurso transversal limite sul,Avenida De Lisboab - Percurso transversal centro,Rua Angolac - Percurso transversal limite norte,Avenida Dr Alberto LeiteEixo longitudinal 1 – Avenida Baltazar LopesEixo longitudinal 2 – Rua Senador Vera CruzEixo longitudinal 3 – Avenida 5 <strong>de</strong> JulhoFigura 20: Novo Sistema Viário PropostoJunto <strong>de</strong>ste, um conjunto <strong>de</strong> estacionamentos estrategicamente localizados, visam<strong>de</strong>simpedir as vias e evitar o estacionamento a berma das estradas. Ao tudo serão quatroparques, em que três <strong>de</strong>les serão subterrâneos.A circulação <strong>de</strong> veículos pesados será interdita na faixa da marginal compreendida peloestudo, propondo um circuito alternativo que segue pela Avenida Doutor Alberto Leite, CruzJoão Évora, Vila Nova até chegar as zonas industriais da Ribeira <strong>de</strong> Vinha e Lazareto que ficana mesma via que liga o Aeroporto Internacional Cesária Évora em São Pedro.A eliminação da circulação automóvel na faixa da Marginal, que seria o mais indicado,não será possível, isso pren<strong>de</strong>-se com o facto da escala da cida<strong>de</strong> e áreas disponíveis para a<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> novas vias alternativa a esta.A malha secundária será adaptada um sistema <strong>de</strong> circulação com sentido único,resultante das dimensões <strong>de</strong>stas.A imagem unificadora <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>stes sistemas, vias e pedonais, será conseguidapela distinção na dimensão, mobiliário urbano, materiais, espaços ver<strong>de</strong>s e pavimentos, comose po<strong>de</strong>rá constar mais adiante na etapa <strong>de</strong> elementos morfológicos.Assim, o sistema viário proposto busca a humanização e criação <strong>de</strong> corredores ver<strong>de</strong>son<strong>de</strong> o veículo passa a ser elemento secundário na paisagem periodizando-se a convivência da58


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>lopopulação com a baia do Porto Gran<strong>de</strong> e seus atractivos naturais. Este conjunto <strong>de</strong> intervençõesna re<strong>de</strong> viária, que po<strong>de</strong>rá ser melhor entendida com a consulta do apêndice III, resultará numamaior vivencia da cida<strong>de</strong> em que os caminhos vão <strong>de</strong>saguar no mar conseguindo assim aintegração da marginal e reunir a cida<strong>de</strong> ao mar.3.4.2. Reabilitação da MarginalA cida<strong>de</strong> do Min<strong>de</strong>lo nasceu e cresceu voltada para o porto. Com o novo momento quese vive, resultante gran<strong>de</strong> parte da evolução que a própria cida<strong>de</strong> sofreu, chega a hora do portovoltar-se para a cida<strong>de</strong>.Numa cida<strong>de</strong> que a imagem central é o porto, uma intervenção neste local <strong>de</strong>ve cheirara porto. Neste sentido, impensável seria uma proposta que não leva-se em conta a sua marginale o indissociável plano <strong>de</strong> água.Figura 21: Vista da Marginal em foto aérea, e da entrada da MarinaFonte: Fotografias da Nato 2005 e arquivo pessoal respectivamenteDado o seu potencial paisagístico e a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transformação, é essencialproce<strong>de</strong>r à reestruturação da marginal. Ela apresenta condições naturais propícias à locomoçãopedonal. Contudo, existem uma série <strong>de</strong> factores que condicionam o comportamento dos peões,nomeadamente: a <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> da marginal; os estacionamentos; a ausência <strong>de</strong> uma ligaçãopedonal e <strong>de</strong> espaços qualificados que permite essa mobilida<strong>de</strong>; a falta <strong>de</strong> espaços públicosentre outros. A marginal carece <strong>de</strong> espaços lúdicos e <strong>de</strong> lazer, <strong>de</strong> espaços ver<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> espaçospúblicos que fomentem a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> urbana. Dadas as suas características <strong>de</strong> charneira, a i<strong>de</strong>iaé “<strong>de</strong>volver o mar à cida<strong>de</strong> e aos seus resi<strong>de</strong>ntes”.A Marginal <strong>de</strong>verá então, ser assumida como um novo passeio público, ao qualestariam associados alguns equipamentos públicos <strong>de</strong> lazer. A intervenção nesta faixa passariapela ampliação da sua dimensão actual, e criando algumas plataformas <strong>de</strong>sniveladas, em estilo59


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>lo<strong>de</strong> sacadas, que se assumissem como espaços <strong>de</strong> estar, aproximando-se e afastando-se do mar.Estes novos espaços po<strong>de</strong>riam ser usados <strong>de</strong> vários modos, permitindo, por exemplo, que aspessoas possam pescar, passear, estar ou apanhar sol.Os materiais aplicados <strong>de</strong>veriam ser resultantes <strong>de</strong> uma pesquisa cuidada <strong>de</strong> forma avalorizar e <strong>de</strong>limitar as activida<strong>de</strong>s que teriam lugar neste espaço.Observa-se que na frente urbana do Min<strong>de</strong>lo, se tem vindo a verificar uma perda <strong>de</strong>população. Essa diminuição da população teve início com o processo <strong>de</strong> suburbanização, que acrescente terciarização do centro da cida<strong>de</strong> veio reforçar, <strong>de</strong>slocando para a periferia a suafunção resi<strong>de</strong>ncial. Devido à migração, o centro foi per<strong>de</strong>ndo o seu dinamismo e o seuprotagonismo, entrando numa fase <strong>de</strong> <strong>de</strong>clínio. Então, aliada ao re<strong>de</strong>senho da faixa, preten<strong>de</strong>seintervir pontualmente sobre o edificado da marginal, <strong>de</strong> forma a conseguir um processo <strong>de</strong>revitalização interactiva e integral. No entanto, estas intervenções serão apresentadas maisadiante na parte <strong>de</strong> requalificação <strong>de</strong> edifícios.3.4.3. Revitalização <strong>de</strong> PraçasAs praças sempre <strong>de</strong>sempenharam um papel elementar na organização das cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>origem portuguesa. A sua importância po<strong>de</strong>rá ser entendida logo pela na gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>nomes que existem na língua portuguesa para caracterização <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> espaços públicos.Cada um <strong>de</strong>stes espaços – praças, largos, terreiros, rossios, adros, entre outros – tem atributosdistintos, no que se refere às suas origens, funções, tamanhos, características formais, relaçõescom a malha urbana e com os edifícios que nelas se localizam, mas todos partilham do fato <strong>de</strong>serem locais privilegiados <strong>de</strong> encontro, <strong>de</strong> troca e <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>sempenham um papelfulcral na organização urbana das cida<strong>de</strong>s.A revitalização da Praça Nova e da Pracinha da Doutora Maria Francisca procura<strong>de</strong>volver a estes espaços as suas características <strong>de</strong> organizador e aglutinador urbanos que elasvêm per<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong>vido as más condições em que se encontram, não estimulando a passagem e apermanência neles.Neste sentido, as propostas a seguir apresentadas, visam recuperar o tantoquanto possível o traçado original das praças e dota-los <strong>de</strong> novos elementos que as valorizesem no entanto mudar, como já se tinha referido, a sua linguagem original e que já é referêncianos seu utentes.60


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>lo3.4.3.1.Praça Amílcar Cabral: Praça NovaPraça Amílcar Cabral, ou mais conhecida como Praça Nova teve em 1895 o inicio dasua construção, oficializada na altura com o nome <strong>de</strong> Praça Serpa Pinto, nome do oficial quefoi governador em 1894.A praça surge <strong>de</strong>vido a conjuntura que se vivia na época, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> combater aconcorrência dos ouros portos, iniciou-se planos <strong>de</strong> melhoramento do Porto Gran<strong>de</strong> o quelevou a ocupação da Praça Dom Luís na Rua da Praia por uma companhia inglesa. Esta emcontrapartida teve <strong>de</strong> construir uma nova, que com razão foi consi<strong>de</strong>rada uma criação inglesa.Na década <strong>de</strong> vinte a praça foi alvo <strong>de</strong> uma restauração, reconstruiu-se o coreto, queexiste até, hoje no outro lado da praça reutilizando partes do antigo, a praça foi ajardinada <strong>de</strong>uma nova maneira, mais trabalhada. Mais tar<strong>de</strong>, por volta dos anos cinquenta, foi construída aesplanada. Inicialmente a localização da praça foi consi<strong>de</strong>rada um pouco fora da cida<strong>de</strong>, nãohavia edifícios <strong>de</strong> interesse a volta e era limitada em um dos lados pelo muro do Quintal doNorte.Figura 22: Vista da Praça A. Cabra em foto aérea, e da FonteFonte: Fotografias da Nato 2005 e arquivo pessoal respectivamenteHoje, e apesar <strong>de</strong> não <strong>de</strong>sfrutar <strong>de</strong> uma localização central na cida<strong>de</strong>, a Praça Nova éconsi<strong>de</strong>rada um ponto <strong>de</strong> encontro. Este espaço aberto é ro<strong>de</strong>ado por novas edificações com osprincipais hotéis da cida<strong>de</strong>. As principais atracões <strong>de</strong> lazer nocturna acontecem neste espaço oua volta <strong>de</strong>le. Este facto em si só já <strong>de</strong>monstra a importância <strong>de</strong>sta área para a revitalização dacida<strong>de</strong>.Com base no que já foi dito, propõem-se a revitalização <strong>de</strong>ste espaço que, embora reúnaum número consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> pessoas transformando-se num ponto aglutinador, apresenta váriosproblemas como o <strong>de</strong>snível acentuado em relação a cota da estrada, carência <strong>de</strong> mobiliáriourbano e problemas <strong>de</strong> segurança em relação ao tráfego automóvel.61


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loAssim propõe-se uma revitalização que leve a cabo obras <strong>de</strong> restauração como: Recuperação do antigo pavimento em pedra portuguesa em substituição ao pavimentoem cimento queimado actual; Reabilitação do coreto, melhorando as condições do compartimento inferior e adoptandoa sua antiga cobertura em ma<strong>de</strong>ira; Demolição das instalações sanitárias, com a construção <strong>de</strong> uma nova em cota negativacom acesso mais discreto assim permitindo a permeabilida<strong>de</strong> visual do espaço; Reabilitação da esplanada, embora não seja um elemento original da praça, ela já fazparte da memória colectiva; A fonte localizada no centro <strong>de</strong>verá manter-se, no entanto a estrutura ver<strong>de</strong> <strong>de</strong>verá serrepensada resultando na substituição das arvores que po<strong>de</strong>m representar algum perigoaos utentes e que não se apresentem como barreiras visuais; Restrição <strong>de</strong> circulação automóvel do lado Este que dá ao E<strong>de</strong>n Park e ao Hotel PortoGran<strong>de</strong> e do lado Sul que dá ao edifício dos Correios, fomentando a mobilida<strong>de</strong>pedonal e criando uma linguagem <strong>de</strong> contiguida<strong>de</strong> com os equipamentos alilocalizados.3.4.3.2. Pracinha da Doutora Maria FranciscaNa década <strong>de</strong> cinquenta, <strong>de</strong>corrente do Gabinete <strong>de</strong> Urbanização Colonial que tinha porresponsável o arquitecto João Aguiar e a relação directa com os Serviços Técnicos da CâmaraMunicipal do Min<strong>de</strong>lo, foi construída a Pracinha Doutora Maria Francisca.Esta pracinha, hoje mais conhecida por Pracinha dos Namorados, fica na adjacência daCasa do Doutora Maria Francisca no bairro <strong>de</strong> Alto São Nicolau, esta casa que já serviu comose<strong>de</strong> da PIDE e mais tar<strong>de</strong> como Sindicato encontra-se tão <strong>de</strong>gradada quanto a pracinha emfrente.Nesta Pracinha a intervenção alterará mais profundamente a sua estrutura do que a daPraça Nova, no entanto as sua características mais marcante irão manter-se. Ela é constituídapor um relevo que a Su<strong>de</strong>ste foi cortada por uma via e encontra-se a uma cota <strong>de</strong> pelo menoscinco metros abaixo a da praça em relação ao ponto mais alto. Consta <strong>de</strong> uma faixa <strong>de</strong> se<strong>de</strong>senvolve em plataformas <strong>de</strong>scontínuas e que <strong>de</strong>limita-se nas suas extremida<strong>de</strong>s pela rotundada Rua Angola e por um pequeno jardim com escadarias que vai dar a Avenida Marginal.62


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loFigura 23: Vista Pracinha Doutora Maria FranciscaCom base nas características orográficas e seu valor paisagístico enquanto miradouro,preten<strong>de</strong>-se com a proposta seguinte, traze-la <strong>de</strong> volta ao circuito habitual da população eporque não um novo ponto <strong>de</strong> atracão turística da cida<strong>de</strong>.Assim propõe-se: A construção <strong>de</strong> um estacionamento que o acesso fica a cota da Rua Angola e mantém o<strong>de</strong>senho da elevação que a praça possui; A divisão da praça em três partes iguais no sentido longitudinal, dotando uma linguagemlongilinea dês da rotunda a meio da Rua Angola até a Avenida Marginal; Na faixa central nasce um espelho <strong>de</strong> água que vem <strong>de</strong>saguando em plataformas queacompanham o relevo, trazendo o mar para <strong>de</strong>ntro da cida<strong>de</strong>; Na faixa lateral que dá a Casa Doutora Maria Francisca a Noroeste ficaram os bancos e aestrutura arbórea, num jogo <strong>de</strong> plataformas que vai subindo até a zona mais plana dapraça; Na outra faixa lateral que dá para a Rua Angola e que se encontra a um nível bem maisalto que a rua, receberá um pavimento diferente em estilo <strong>de</strong>ck e servirá <strong>de</strong> Miradouro; No ponto mais alto on<strong>de</strong> inicia a cascata surge um novo percurso em forma <strong>de</strong> rampas eescadarias no sentido contrario que, se esten<strong>de</strong> ate ao pequeno jardim adjacente do ladoSudoeste e, vai dar a marginal e <strong>de</strong>sagua no mar; A partir da parte mais plana da pracinha, que fica no topo em direcção ao mar, nestaparcela <strong>de</strong> pouca inclinação, propõe-se a construção <strong>de</strong> um quiosque com estrutura leveque dá suporte á praça sem constituir-se numa barreira visual.63


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>lo3.4.4. Recuperação <strong>de</strong> Antigos EdifíciosA Historia mostrou que, dos monumentos da Antiguida<strong>de</strong> apenas aqueles quebeneficiaram <strong>de</strong> uma utilização social continua chegaram até nos. Mais vale o uso social queintervenções <strong>de</strong> restauro esporádicas. Não seria exagero afirmar que o mau uso <strong>de</strong> um edifícioé preferível ao seu abandono.Min<strong>de</strong>lo abarca um conjunto significativo <strong>de</strong> edifícios que são testemunhos donascimento e evolução da cida<strong>de</strong>. No entanto, a maioria <strong>de</strong>les apresentam-se num estadoavançado <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação <strong>de</strong>vido muito em parte do abandono.Deve-se ter em mente que a revitalização <strong>de</strong> um espaço urbano não <strong>de</strong>ve ser ancoradaapenas na recuperação dos edifícios, no entanto não é possível tal revitalização sem pensar naestrutura edificada. No caso dos imóveis/prédios urbanos, uma politica a seguir seria a <strong>de</strong>adquirir e instalar nos monumentos abandonados ou <strong>de</strong>teriorados equipamentos comunitários,especialmente <strong>de</strong> carácter cultural e/ou administrativo.Neste sentido, a proposta <strong>de</strong> revitalização urbana do centro norte da cida<strong>de</strong> abrangeuma serie <strong>de</strong> intervenções pontuais sobre o edificado que articulam-se entre si num processointegrado e <strong>de</strong> inter<strong>de</strong>pendência. Desta forma, segundo as potencialida<strong>de</strong>s que já foramanalisadas e com base nas suas vocações, preten<strong>de</strong>-se actuar numa serie <strong>de</strong> edifíciosrecuperando-os e requalificando-os.Esses novos fins vão pren<strong>de</strong>r-se a funções <strong>de</strong> carácter: Cultural, com a criação <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> salas agrupando edifícios como museus,restaurantes/gastronomia, teatro, escolas <strong>de</strong> musica, escolas <strong>de</strong> dança, centro <strong>de</strong>artesanato, etc.; Habitacional, com a requalificação <strong>de</strong> edifícios anteriormente com este uso no entantoagora com carácter mais sazonal, como pousada; Comercial e <strong>de</strong> serviços, com a relocalização <strong>de</strong> alguns serviços públicos, centros <strong>de</strong>venda e escritórios.Em conjunto com estes antigos edifícios, surgirão outros novos nos espaços vazios, quecomplementaram essa lógica. Estes po<strong>de</strong>rão ser vistos na parte seguinte em Tratamento dosVazios Urbanos.3.4.4.1. Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Salas - CulturaA veia artística é um dos elementos que caracterizam os min<strong>de</strong>lenses o que reflecte64


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>lodirectamente na forma como se relacionam com o meio. A <strong>de</strong>ficiente estrutura <strong>de</strong> suporte paraa pratica <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s ligadas a cultura dificulta a fomentação e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>stacaracterística tão genuína das suas gentes.Nesta óptica, propõe-se a actuação sobre a estrutura edificada com fim a colmatar estalacuna. A criação <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> salas que dote a área <strong>de</strong> intervenção uma maior atractivida<strong>de</strong>e recuperando a sua dinâmica vem neste sentido constituir as propostas que se apresentam aseguir.Deste modo, propõe-se:Museu do Homem <strong>Cabo</strong>verdiano; Museu do Mar e AquárioPublico; Centro Cultural; Centro Nacional <strong>de</strong> Artesanato com centro expositivo; Cinema;Teatro; Auditório; Restaurante; Casa <strong>de</strong> Chá; Escola <strong>de</strong> Musica; e Escola <strong>de</strong> Dança.Alguns dos espaços apontados acima, como o Teatro, o Museu do Mar e o Aquárioserão construções novas e <strong>de</strong>senvolvidas mais adiante em Tratamento dos Espaços Vazios.MuseusMuseu do Homem <strong>Cabo</strong>verdianoUm museu que seria interessante organizar é o Museu do Homem <strong>Cabo</strong>verdiano, nestemuseu <strong>de</strong> carácter etnográfico seriam reunidos os vestígios da evolução sócio-cultural danação.Sendo um tipo <strong>de</strong> museu que ainda não existe no país, revela-se como umaoportunida<strong>de</strong> para esta intervenção. Assim, propõe-se a criação <strong>de</strong>ste museu num dos edifíciosmais emblemático da cida<strong>de</strong>, o Edifício do Telégrafo.The New BuidingQuer dizer “Edifício Novo” é o mais impressionante dos edifícios do Telégrafo. Oedifício foi construído no inicio do século XX, mas só ficou concluída em 1910 e entra emfuncionamento como moradia dos empregados ingleses solteiros.Conta-se que ali nasceram e se conheceram os hábitos ingleses que tanto influenciarama vida da cida<strong>de</strong>.65


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loFigura 24: Edifícios do quarteirão do TelegrafoNa década <strong>de</strong> sessenta, quando já não havia empregados, funcionou como clube inglês,mais tar<strong>de</strong> com a in<strong>de</strong>pendência sérvio como Hospital Batista <strong>de</strong> Sousa, com isso fez-sealgumas obras que alteraram parcialmente o interior do edifício.Figura 25: Fotos do interior do quarteirão do TelégrafoHoje este edifício funciona como Correios, encontra-se <strong>de</strong> certa forma conservada, noentanto possui um potencial muito gran<strong>de</strong>, tanto em termos arquitectónicos, dimensionais e <strong>de</strong>localização, que se encontra mal explorado.Portanto, propõe-se a sua requalificação do edifício para a fixação <strong>de</strong> um museu: O museu ocupará todo o quarteirão, incluído o primeiro edifício do Telégrafo no ladoSudoeste do quarteirão. Possui muitos espaços livres em que parte será ocupado pelo estacionamento e asrestantes permanecerão livres; Os muros serão <strong>de</strong>molidos assim como outras edificações <strong>de</strong> pouco interesse permitindouma maior permeabilida<strong>de</strong> do espaço aumentando a integração <strong>de</strong>ste na estrutura66


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>lourbana e possibilitando um melhor acesso, e espaços passíveis <strong>de</strong> receberemactivida<strong>de</strong>s pontuais no exterior.Museu do Mar e Aquário PublicoNum país insular como <strong>Cabo</strong> Ver<strong>de</strong>, o mar é elemento predominante da sua paisagem euma condição que reflecte directamente na forma como as suas gentes vêem o mundo e serelacionam com ele. O mar para os caborverdianos é mais do que uma extensa massa <strong>de</strong> águaque ro<strong>de</strong>ia as suas ilhas, o mar é sauda<strong>de</strong>, é terra longe, é sobrevivência, é esperança e isolaçãoe, esta presente na memoria <strong>de</strong> todos inclusive dos que partiram a procura <strong>de</strong> novasoportunida<strong>de</strong>s em terras longínquas.Outro museu interessante <strong>de</strong> organizar seria então o Museu do Mar, em que este seriaum espaço on<strong>de</strong> articulava-se com um Aquário Municipal. Portanto, o que se propõe é umconjunto <strong>de</strong> equipamentos que possuem áreas comuns assim possuído um carácter <strong>de</strong>inter<strong>de</strong>pendência e continuida<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ológica <strong>de</strong> um para o outro.Desta forma o Museu do Mar e o Aquário compartilharam um mesmo quarteirão eestabelecem uma linguagem fluida e aberta umas com a outra, numa relação directa com o mar.Este quarteirão com um misto <strong>de</strong> equipamento só será possível com a relocalização daempresa Shell, na periferia da cida<strong>de</strong>, na já existente zona industrial, permitindo uma libertaçãodo solo, potenciando novas oportunida<strong>de</strong>s, tal como a expansão do tecido urbano na encosta doMonte Fortim.Figura 26: Localização do conjunto Shell e foto aéreaFonte: Fotografia da Nato 2005 e http://visor.sit.gov.cv respectivamenteEste conjunto que fica sobre a Marginal no pé do Monte Fortim consta <strong>de</strong> umaintervenção relativamente nova, o edifício da Shell e os <strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> combustível. Mais uma67


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>lovez a imagem urbana foi modificada em função das exigências do Porto Gran<strong>de</strong>. Embora tenhapouco mais <strong>de</strong> meio século <strong>de</strong> existência, numa posição urbanística privilegiada, faz parte daimagem da marginal e da memória colectiva enquanto ponto estratégico no Atlântico.Deste modo, a estratégia <strong>de</strong> projecto é a reconversão dos <strong>de</strong>pósitos, como um novosímbolo da cida<strong>de</strong>, e repor a imagem industrial.Trata-se <strong>de</strong> uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reconversão <strong>de</strong> construções que marcam a históriarecente do Min<strong>de</strong>lo, num novo impulso para o <strong>de</strong>senvolvimento garantindo o património damemória min<strong>de</strong>lense.Com a proposta <strong>de</strong> projecto, para os <strong>de</strong>pósitos, (cinco no total) preten<strong>de</strong>-se manter assuas formas, trabalhando somente os alçados, reabilitando-os, adoptando outras funções,Aquário e recepção, tornando assim num ponto <strong>de</strong> atracão para os habitantes e visitantes dacida<strong>de</strong>.O Museu do Mar será um edifício novo, construído no local do actual edifício da Shell,este num traçado mais contemporâneo e com materiais que a <strong>de</strong>staque na sua envolvente comoo vidro, <strong>de</strong>marcará um novo momento na imagem urbana <strong>de</strong> Min<strong>de</strong>lo. A altimetria do edifícioserá igual ao do actual, no entanto o ponto <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque <strong>de</strong>ste ficará por conta da sua coberturaondulada e acessível tanto da cota da Marginal como da estrada que corta o Monte Fortim,criando uma área <strong>de</strong> contemplação ao mesmo tempo que aproxima as pessoas ao plano <strong>de</strong>água.Centro CulturalEncruzilhada obrigatória <strong>de</strong> barcos <strong>de</strong> todas as nacionalida<strong>de</strong>s, a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Min<strong>de</strong>lotornou-se um ponto <strong>de</strong> encontro <strong>de</strong> marinheiros <strong>de</strong> todas as culturas, nos numerosos locais <strong>de</strong>lazer e <strong>de</strong> prazer que proliferavam na cida<strong>de</strong>. Ao longo dos tempos, Min<strong>de</strong>lo foi-se tornandoum centro cultural importante on<strong>de</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento artístico, nomeadamente a música, aintelectualida<strong>de</strong> e o <strong>de</strong>sporto acompanham, à sua escala, os gran<strong>de</strong>s centros culturais domundo.O Centro Cultural que se preten<strong>de</strong> apresentar, na verda<strong>de</strong> já existe, no entanto aproposta que se segue, busca um consi<strong>de</strong>rável melhoramento do <strong>de</strong>sempenho das suas funções.Dois edifícios que ficam mesmo em frente ao mar constituirão o novo Centro Cultural criandoas condições para atingir as melhorias <strong>de</strong>sejadas.68


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loHoje, o Centro Cultural do Min<strong>de</strong>lo é constituído pelo edifício da Velha Alfân<strong>de</strong>ga emais duas salas fora <strong>de</strong>ste edifício, uma no segundo piso do Mercado Municipal e outra emMonte Sossego na Sala Jota Monte. Este aspecto aponta claramente a incapacida<strong>de</strong> do edifícioda marginal em respon<strong>de</strong>r as <strong>de</strong>mandas que é suscitada. Assim surge a proposta <strong>de</strong> integrar oantigo armazém da alfân<strong>de</strong>ga, adjacente ao alçado norte da velha alfân<strong>de</strong>ga, ao novo centrocultural.A Velha Alfân<strong>de</strong>gaEste é um dos edifícios mais antigos da cida<strong>de</strong>, o corpo principal foi construído entre1858 e 1861 e foi ampliado mais tar<strong>de</strong> em 1880-82.O edifício surge, assim como quase todos os outros da cida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>vido a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>dar vazão as novas circunstancias que o porto colocou a cida<strong>de</strong>. Na época vindo a ser pela suagran<strong>de</strong>za, soli<strong>de</strong>z e elegância uma obra muito notável nas colónias portuguesas, consi<strong>de</strong>radauma Alfân<strong>de</strong>ga <strong>de</strong> Primeira Or<strong>de</strong>m.Ali funcionava não só a Alfân<strong>de</strong>ga mas dava periodicamente lugar a várias funçõespúblicas, por exemplo Correio, lugar para cobrar os impostos directos e <strong>de</strong>mais rendimentos doEstado e a Repartição da Fazenda. Após 115 anos <strong>de</strong> utilização para este fim, a velhaAlfân<strong>de</strong>ga foi convertida em Instituto dos Seguros e Notariado em 1976 e mais tar<strong>de</strong> em 1995abre as portas como Centro Cultural do Min<strong>de</strong>lo e logo em 1996 acolhe a maior associaçãoartística e cultural do país e quiçá da sub-região Africana, o Min<strong>de</strong>lact.Figura 27: Fotos do Conjunto Alfân<strong>de</strong>ga e Armazéns e Vista Principal Alfân<strong>de</strong>gaAté hoje conserva estes últimos usos, no entanto, o espaço torna-se insuficiente, bemvisível nos momentos <strong>de</strong> pico em Março e Setembro quando acontece o festival <strong>de</strong> teatro e ummaior número <strong>de</strong> exposições.69


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loOs Antigos Armazéns da Alfân<strong>de</strong>gaNo passado este edifício construído em 1875, surge na tentativa <strong>de</strong> colmatar asdificulda<strong>de</strong>s da velha Alfân<strong>de</strong>ga quanto a questões <strong>de</strong> espaço para armazenamento. Hojepreten<strong>de</strong>-se reintegrar estes armazéns para atingir uma maior qualida<strong>de</strong> dos serviços agoraligados a cultura. Po<strong>de</strong>ríamos <strong>de</strong>moli-la e criar uma extensão da Velha alfân<strong>de</strong>ga, mas tal actoseria quebrar com os princípios <strong>de</strong>ste trabalho. Este edifício possui um valor gran<strong>de</strong>, não sópela ida<strong>de</strong> que já tem, quase 150 anos, mas por constituir uma das arquitecturasverda<strong>de</strong>iramente antigas da cida<strong>de</strong>, provavelmente resultante <strong>de</strong> uma construção em váriasfases.Figura 28: Fotos dos Antigos Armazéns e da Marginal em frente ao conjuntoHoje funciona como um bar chamado Club Náutico o que <strong>de</strong>ixa muito a <strong>de</strong>sejar, vistoque po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>sempenhar um papel mais importante na frente <strong>de</strong> mar on<strong>de</strong> se encontra.Assim, para fins <strong>de</strong> Centro Cultural, propõe-se:A <strong>de</strong>molição da esplanada lanchonete entre a Alfân<strong>de</strong>ga e os Armazéns criando umespaço <strong>de</strong> transição livre e fluido entre os dois edifícios;A Alfân<strong>de</strong>ga passa a <strong>de</strong>sempenhar o papel <strong>de</strong> centro administrativo da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> salas, noentanto mantendo funções <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> espectáculo/conferencia, biblioteca e Centro <strong>de</strong>Documentação e Investigação Teatral do Min<strong>de</strong>lo;Os armazéns serão convertidos em uma galeria <strong>de</strong> exposição, libertando a Alfân<strong>de</strong>ga<strong>de</strong>ste uso e melhorando as condições das activida<strong>de</strong>s expositivas com áreas <strong>de</strong> recepção,café, sala <strong>de</strong> entrevista;O acesso a este centro cultural será feito pela Rua 5 <strong>de</strong> Julho, on<strong>de</strong> nos espaços livresadjacentes a fachada Este servirão <strong>de</strong> foyer do centro e estacionamento restrito;70


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loA se<strong>de</strong> da associação Min<strong>de</strong>lac será <strong>de</strong>slocada para um edifício próprio que po<strong>de</strong>rá serencontrada mais adiante em, Tratamento dos Espaços Vazios.Centro Nacional <strong>de</strong> ArtesanatoO artesanato min<strong>de</strong>lense, é uma das formas <strong>de</strong> manifestação cultural que precisa servista como um elemento que possa alavancar a economia local e melhorar consequentemente aqualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> muitas pessoas ligadas directa ou indirectamente a ele.São Vicente dispões <strong>de</strong> pessoas com um censo <strong>de</strong> criativida<strong>de</strong> notável, no entanto, sãopoucas as oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> divulgação e mesmo <strong>de</strong> aprendizagem ao dispor <strong>de</strong>stes. O facto <strong>de</strong>já existir o centro <strong>de</strong> artesanato não inviabiliza esta proposta, muito pelo contrário, ela vempara complementar e dar algumas sugestões na melhoria do uso <strong>de</strong>ste espaço.Rádio Voz <strong>de</strong> São VicenteEste edifício teve como primeiro dono o Senador Vera Cruz, que construiu a casa comosua residência na passagem para o século XX. O edifício serviu como liceu até a década <strong>de</strong>vinte, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter sido moradia da família do Senador Vera Cruz o prédio no fim da década<strong>de</strong> trinta passou a um grémio da “alta Socieda<strong>de</strong>” min<strong>de</strong>lense. Na década <strong>de</strong> cinquenta tambéma Rádio Barlavento começou a utilizar parte do edifício. Com a <strong>de</strong>rrocada do fascismo emPortugal e com as iniciativas da luta pela in<strong>de</strong>pendência culminou com a tomada da RádioBarlavento a 9 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 1974 e passou-se a chamar-se Rádio Voz <strong>de</strong> São Vicente “aoserviço do povo”.Figura 29: Foto do Centro Nacional <strong>de</strong> ArtesanatoActualmente, o edifício serve <strong>de</strong> centro <strong>de</strong> artesanato não possuindo no entanto mais do71


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loque um espaço expositivo e <strong>de</strong> documentação, é um centro sem alma simplesmente pelo facto<strong>de</strong> não haver oficinas nem artesões a criar.Consta <strong>de</strong> um edifício com um sentido estético muito interessante com uma certaimponência e uma localização adjacente a praça nova muito privilegiada. Alem disso, possuium terreno anexo com dimensão consi<strong>de</strong>rável no lado posterior. No entanto, tem sofrido peloabandono e vivendo gran<strong>de</strong>s períodos <strong>de</strong> encerramento que tem aumentado o grau <strong>de</strong><strong>de</strong>gradação do edifício. Assim propõe-se que: O edifício seja assumido como um centro <strong>de</strong> artesanato com espaços <strong>de</strong> criação eexposição; As salas junto a fachada principal <strong>de</strong>verão servir <strong>de</strong> espaço <strong>de</strong> exposição e recepção; Os compartimentos restantes <strong>de</strong>verão assumir papel <strong>de</strong> organizador do centro, com salas<strong>de</strong> reunião, tesouraria, sala <strong>de</strong> convívio, etc.; O pátio posterior <strong>de</strong>verá ser ocupado pelas oficinas <strong>de</strong> trabalho/ensino, não na suatotalida<strong>de</strong>, mantendo um canal entre o edifício antigo e as oficinas, criando um espaço<strong>de</strong> transição entre os dois para além <strong>de</strong> possibilitar activida<strong>de</strong>s no exterior e conservaçãoda imagem do antigo edifício.CinemaA sétima arte sempre teve um papel <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque na socieda<strong>de</strong> min<strong>de</strong>lense. Um íconedas “noites <strong>de</strong> morada”, é sem dúvida o Cineteatro E<strong>de</strong>n Park, um ponto <strong>de</strong> encontro <strong>de</strong>pessoas <strong>de</strong> todas as ida<strong>de</strong>s e estratos sociais. O edifício do cineteatro se encontra bastante<strong>de</strong>gradado, uma imagem triste daquele que já foi outrora um símbolo do cosmopolitismo dacida<strong>de</strong>.A proposta que aqui se apresenta preten<strong>de</strong> resgatar o importante papel que<strong>de</strong>sempenhava e a<strong>de</strong>qua-la aos novos tempos em que apesar <strong>de</strong> manter a sua função e traçosarquitectónicos originais ganhará novos espaços e outros usos.Cineteatro E<strong>de</strong>n ParkO cinema já fazia parte do quotidiano min<strong>de</strong>lense antes da existência do cineteatroE<strong>de</strong>n Park. O primeiro cinema em São Vicente abriu as portas em 1919 e localizava-se on<strong>de</strong>funciona hoje a Casa Albino dos Santos. Por iniciativa privada, foi apresentada a CâmaraMunicipal o projecto para a construção <strong>de</strong> um cineteatro no recinto do Jardim Dona Argélia,isso em 1921. Um ano <strong>de</strong>pois, em 1922, houve a inauguração do cinema E<strong>de</strong>n Park. Durante aSegunda Guerra Mundial o então dono, Marques da Silva, mandou elaborar um projecto <strong>de</strong> um72


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>locinema maior e mais mo<strong>de</strong>rno, <strong>de</strong> que resultou o actual cinema, e inicia as suas activida<strong>de</strong>s em1945.Figura 30: Cineteatro E<strong>de</strong>n ParkÈ a partir <strong>de</strong>ste projecto <strong>de</strong> remo<strong>de</strong>lação <strong>de</strong> 1939 que se preten<strong>de</strong> reabilitar o cinema.Assim o novo cinema caracteriza-se: O seu corpo principal mantêm-se intacto, tanto em forma como uso; O portão que vai dar ao antigo Consolado Português <strong>de</strong>verá abrir-se criar uma circulaçãopedonal e melhorando a permeabilida<strong>de</strong> do espaço; As zonas <strong>de</strong> bilheteira <strong>de</strong>veram ser divididas e parte convertida em zonas <strong>de</strong> apoio alanchonete no pátio dianteiro; A área <strong>de</strong> entrada principal <strong>de</strong>verá ser tratada em plano único, ficando a escadarialimitada ate as bilheteiras, possibilitando activida<strong>de</strong>s recreativas no exterior e zona <strong>de</strong>mesas da esplanada que fica a cota negativa; No terreno anexo ao cinema a Este <strong>de</strong>verá surgir um novo edifício, este será integrada aocorpo antigo, <strong>de</strong>verá formar-se por um volume simples <strong>de</strong> linhas firmes e claras em jeito<strong>de</strong> box; O tratamento da fachada do novo edifício <strong>de</strong>verá ser o mais neutro possível, servindoentão <strong>de</strong> pano <strong>de</strong> fundo do corpo principal do edifício, enfatizando e simulando umcartão postal <strong>de</strong>ste; O novo edifício <strong>de</strong>sempenhará funções afins do cinema, nomeadamente <strong>de</strong>administração e oficinas.O Cinema e o Centro Cultural figuram-se como os elementos estruturantes da re<strong>de</strong> <strong>de</strong>salas que se propõe. Neste sentido, a antiga sala do E<strong>de</strong>n Park volta a vida, com uma novaforça encerrando este triste período da sua existência marcado pelo abandono e <strong>de</strong>gradação.73


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loRestauranteColorida pelas influências africanas mas incorporando alguns hábitos da cozinhatradicional portuguesa a gastronomia cabover<strong>de</strong>ana é rica em cores e sabores. A base daalimentação tradicional são os alimentos produzidos localmente, quase sempre incorporando omilho. A activida<strong>de</strong> piscatória foi uma das primeiras a <strong>de</strong>senvolver-se e é um dos poucosrecursos naturais <strong>de</strong> <strong>Cabo</strong> Ver<strong>de</strong>. Não é portanto <strong>de</strong> estranhar que a sua gastronomia tenhauma oferta variada <strong>de</strong> peixe e marisco.Po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>finir a gastronomia <strong>de</strong> <strong>Cabo</strong> Ver<strong>de</strong> como rica, variada e saborosa e que <strong>de</strong>ilha para ilha ganha um toque e um sabor especial específico <strong>de</strong> cada lugar.Sendo ela uma forma <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural não po<strong>de</strong>ria ficar <strong>de</strong> fora, assim a oferta <strong>de</strong>espaços <strong>de</strong> restauração aliado aos café e bares ou mesmo os botequins <strong>de</strong>vem fazer parte <strong>de</strong>uma proposta <strong>de</strong> revitalização que se quer actual mas sempre enraizada a matriz.Serão apresentados dois edifícios que dotaram a área <strong>de</strong> intervenção <strong>de</strong> uma oferta rica<strong>de</strong> opções para viver Min<strong>de</strong>lo. Assim, esses restaurantes, aliados aos bares, botequins e cafés jáexistentes criarão uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> gastronomia que sirva <strong>de</strong> suporte a revitalização integral da área<strong>de</strong> intervenção.Casa do Doutor AníbalConstitui um dos edifícios mais imponente da zona da Praça Nova. Este edifíciocomeçou a ser construída na década <strong>de</strong> trinta, mas só em 1947 ficou concluída.Hoje parte da casa encontra-se abandonada, e outra parte como habitação.O que se propõe é a utilização <strong>de</strong> todo o edifício com fins gastronómicos, sendo aúnica entre as apresentadas com espaço para receber cursos <strong>de</strong> gastronomia.Figura 31: Fotos da Casa do Doutor Aníbal na Praça Amílcar Cabral74


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loPossui um terraço bastante amplo, que po<strong>de</strong>rá proporcionar um ambiente agradável aosseus utentes, mais uma vez tirando partido da relação interior exterior dos equipamentospropostos.Casa CohenNo local <strong>de</strong>ste edifício funcionaram antigamente, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século XIX, algumaspequenas oficinas, pertencentes aos ingleses. Mais tar<strong>de</strong>, foi reconstruída para escritórios daCasa do Leão. Por volta da década <strong>de</strong> trinta do século passado, a casa foi construída e ficouproprieda<strong>de</strong> da Casa Cohen.Hoje tem outro dono, que ai abriu um bar e boite e o edifico ficou mais conhecido porKatem.IFigura 32: Casa Cohen – Katem, em esquina e em conjunto com Casa do LeãoEste edifício já possui um carácter semelhante a aquele que se propõe, no entantoaconselha-se que a cor aplicada nas fachadas seja repensada <strong>de</strong> forma a reintegra-lo noconjunto e, que o restaurante proposto continue a beneficiar da boa música que este espaçooferece.Casa <strong>de</strong> CháOs vários hábitos e costumes que os ingleses trouxeram com o Porto Gran<strong>de</strong> foramaculturados por este povo mestiço que constitui São Vicente. O chá das cinco é sem dúvida umdos costumes mais marcantes, em que até hoje muitas famílias min<strong>de</strong>lenses cultivam. Verda<strong>de</strong>que a hora não é tão rígida como a dos ingleses, num modo mais caboverdiano <strong>de</strong> ser, todas astardinhas se oferece um chá com bolacha ou bolos em muitas residências, apreciados no pátio,na saleta ou na soleira da porta compartilhando com os vizinhos mais próximos.75


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loÉ nesta óptica que se propõe uma casa <strong>de</strong> chá, e nenhum lugar mais apropriado do queo antigo Consulado Inglês.Consulado InglêsEste edifício <strong>de</strong>ve ser um dos mais antigos da cida<strong>de</strong>. Ele pertencia a John Miller, queera representante da companhia Visger & Miller. John Miller foi cônsul inglês varias vezes,entre 1870-75, 1877-80 e 1885-94. O núcleo principal do edifício foi provavelmente construídodurante o primeiro período, em que o proprietário exercia a função <strong>de</strong> cônsul, portanto entre1870 e 1875. A primeira vez que aparece referenciado um edifício consular no Boletim Oficialfoi em 1874 num artigo que fala da praia do Porto Gran<strong>de</strong>.Sendo sempre proprieda<strong>de</strong> da companhia Millers, só há poucos anos foi vendida aoestado para servir <strong>de</strong> escola <strong>de</strong> artesanato, primeiro chamada <strong>de</strong> Cooperativa Resistência e<strong>de</strong>pois Centro Nacional <strong>de</strong> Artesanato.Até hoje, conserva esta mesma função, no entanto preten<strong>de</strong>-se transferir esta funçãopara o novo Centro Nacional <strong>de</strong> Artesanato sito na Praça Nova e converter este espaço em umaCasa <strong>de</strong> Chá.Figura 33: Antigo Consulado Inglês, sobre a MarginalO edifício apresenta-se muito arruinado, sobretudo a gran<strong>de</strong> varanda <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira on<strong>de</strong>hoje se vé mais cimento que o material original.É um edifício bonito que está localizado em cima <strong>de</strong> um monte e que tira partido <strong>de</strong>uma vista magnífica sobre a baia do Porto Gran<strong>de</strong>.É neste sentido, que se preten<strong>de</strong> requalificar este edifício, abrindo as suas portas paratodos e que um dos costumes mais enraizados na socieda<strong>de</strong> min<strong>de</strong>lense, o Tea Time, sejapreservado e divulgado.76


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loEscola <strong>de</strong> MusicaA música é consi<strong>de</strong>rada a arte mais antiga e mais primitivas <strong>de</strong> todas. Em <strong>Cabo</strong> Ver<strong>de</strong> éum dos elementos <strong>de</strong> caracterização das suas gentes. Sempre esteve presente, e sofreu a suaevolução e adaptou-se com o tempo. A Morna, o Batuque, a Cola<strong>de</strong>ira e o Funana po<strong>de</strong>m serconsi<strong>de</strong>radas as expressões musicais mais tradicionais <strong>de</strong> <strong>Cabo</strong> Ver<strong>de</strong>.Em São Vicente, um povo festivo <strong>de</strong> natureza, a música tem um papel muito importanteinclusive em aspectos <strong>de</strong> interacção humana. A Morna, uma das mais expressivas na ilha temsido alvo <strong>de</strong> vários estudos e artigos. A música tem <strong>de</strong>sempenhado um papel <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>importância no que se refere a divulgação da cultura caboverdiana, já se ouviu falar até que<strong>Cabo</strong> Ver<strong>de</strong> é colocado no mapa no momento em que se fala <strong>de</strong> Cesária Évora, esta cantoraque foi homenageada com a atribuição do seu nome ao Aeroporto Internacional <strong>de</strong> SãoVicente.Neste sentido, preten<strong>de</strong>-se apresentar uma proposta <strong>de</strong> uma escola <strong>de</strong> música na nossaárea <strong>de</strong> intervenção que se articulara com a já existente, melhorando a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> oferta <strong>de</strong>espaço e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviços prestados.Edifício da Banda MunicipalA primeira vez que uma banda municipal toca numa praça <strong>de</strong> Min<strong>de</strong>lo, Praça DomLuiz, foi em 1877. A tradição manteve-se por muito tempo, em que nos domingos e dias <strong>de</strong>festa se tocava na praça principal e outros lugares. No ano <strong>de</strong> 1929 a construção <strong>de</strong> um salãopara ensaio da Banda Municipal foi finalmente aprovado, e as obras iniciadas prolongaram-seaté 1930.Figura 34: Edifício da Banda Municipal e Via <strong>de</strong> ligação á Casa WilsonHoje são mais raras as apresentações da banda na praça, no entanto tem-se feito umesforço para alterar este cenário. Como prova disso, são as obras realizadas neste edifico no77


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loinicio do século, que se apresentava já num estado bastante <strong>de</strong>gradado. Actualmente funcionacomo uma escola <strong>de</strong> música, contudo não consegue respon<strong>de</strong>r a <strong>de</strong>manda que tem sido alvo.Deste modo, propõe-se a recuperação total do traçado original que foi perdida em partecom a reabilitação realizada, nomeadamente o piso em ma<strong>de</strong>ira e a conservação da sua funçãono entanto reforçada agora por uma nova escola <strong>de</strong> música a menos <strong>de</strong> 500 metros <strong>de</strong>sta.Casa WilsonEste edifício serviu <strong>de</strong> escritório e moradia do director da companhia carvoeira inglesaWilson, Sons & Co, no ano <strong>de</strong> 1885. Há registos que a casa contava com apenas dois pisos, eadquiriu o aspecto actual, com três pisos, já no final do século XIX inicio do século XX. Nadécada <strong>de</strong> vinte do século passado foi feita uma ampliação, compreen<strong>de</strong>ndo uma continuaçãoda parte traseira já existente no lado Sul do pátio.Este edifício no século passado funcionou durante algumas décadas comoConservatória dos Registos. Hoje encontra-se completamente abandonada em ponto <strong>de</strong> ruína.O que se preten<strong>de</strong> com este edifício é recupera e atribuir-lhe um novo uso. Estemagnifico exemplar da arquitectura antiga influenciada pelos ingleses será adaptado etransformado em uma Escola <strong>de</strong> Musica.Figura 35: Casa Wilson na Rua 5 <strong>de</strong> Julho antiga Rua InglesaAs acções que compõem esta proposta são:Recuperação <strong>de</strong> todo o edifício, procurando a reconstrução do traçado inicial sobretudoda sacada;No pátio anexo, será <strong>de</strong>molida a ampliação feita na década <strong>de</strong> vinte recuperando adimensão original <strong>de</strong>ste e ganhando mais um acesso lateral que dá a Rua Unida<strong>de</strong>Africana;O piso térreo funcionara como sala <strong>de</strong> aula aberta ao público, que se esten<strong>de</strong>rá ate ao78


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>lopátio rematado em jeito <strong>de</strong> auditório;Os dois pisos superiores comportarão as restantes salas <strong>de</strong> aula, incluindo um estúdio <strong>de</strong>gravação e respectivas instalações sanitárias;O sótão será recuperado para fins administrativos.Escola <strong>de</strong> DançaAssim como a música, a dança faz parte do universo das manifestações folclores <strong>de</strong><strong>Cabo</strong> Ver<strong>de</strong>. A dança com raízes mais fortes nas expressões africanas fazem parte <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong>cosmopolita. Embora existem alguns espaços para “dançar” não existem espaços para a práticae aprendizagem <strong>de</strong>sta arte que também constitui uma forma <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.É neste sentido que se propõe uma escola <strong>de</strong> dança, <strong>de</strong> forma a colmatar esta lacuna e<strong>de</strong>spertar o interesse para as danças mais tradicionais do país.Casa MirandaEste prédio que é composto por duas partes, segundo a época <strong>de</strong> construção e é um dosmais bonitos exemplares da arquitectura antiga da cida<strong>de</strong>.A parte mais antiga <strong>de</strong>ste edifício data <strong>de</strong> 1901-02, que num Boletim Oficial <strong>de</strong> 1903fala-se <strong>de</strong>ste edifício “valoroso” <strong>de</strong> 10000$00 réis, que Alfredo Miranda mandara construir,consta da parte a.A parte mais alta, parte b, localiza-se on<strong>de</strong> era antigamente o quintal do “prédio <strong>de</strong>andar nobre”. Foi construída em 1926 e era <strong>de</strong>stinada exclusivamente a armazém.Figura 36: Fotos Casa Miranda, esquina bloco a e esquina bloco b, respectivamenteActualmente somente a parte mais antiga, parte a, no piso térreo funciona como loja, orestante do edifício, bem mais <strong>de</strong>teriorado encontra-se em abandono.79


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loPreten<strong>de</strong>-se fixar neste prédio a escola <strong>de</strong> dança, que além das danças tradicionais,aulas <strong>de</strong> dança mais contemporânea terá espaço no local até mesmo para que a evolução sejaconstante e atemporal.O que se propõe é a abertura do edifico para a rua com as sua enormes portadas, no pisotérreo da parte antiga on<strong>de</strong> funcionará uma dancetaria aberta ao publico em simultâneo com asaulas <strong>de</strong> dança. Nos restantes compartimento terão lugar as salas <strong>de</strong> aulas <strong>de</strong> dança e a parteadministrativa, e por fim do último piso da parte b do edifício receberá um salão <strong>de</strong> festas.apêndice IV.Esta re<strong>de</strong> <strong>de</strong> salas proposta po<strong>de</strong>rá ser melhor compreendida com a consulta do3.4.4.2. Habitação, Posada e HotelÉ evi<strong>de</strong>nte que requalificando os espaços públicos, como ruas, avenidas, largos epraças, melhorando a infra-estrutura e iluminando locais <strong>de</strong> encontro dos resi<strong>de</strong>ntes, já se iniciaum processo <strong>de</strong> valorização da área. Mas o perigo maior ocorre quando esta mesmavalorização causa o aumento imediato das rendas e dos impostos, expulsando a populaçãoresi<strong>de</strong>nte, muitas vezes constituída <strong>de</strong> famílias tradicionais.Esse problema po<strong>de</strong> ser contornado com a adopção <strong>de</strong> políticas que criem condiçõespara os proprietários manterem-se nos edifícios ou mesmo em alguns casos apoiem arecuperação <strong>de</strong>stes, e ainda a ocupação dos espaços vazios por edifícios resi<strong>de</strong>nciais. Outrapossibilida<strong>de</strong> passaria pela transformação dos edifícios abandonados ou parcialmente me<strong>de</strong>suso em residências temporárias como pousadas e hotéis.Desta forma, na área <strong>de</strong> intervenção <strong>de</strong>vem criar-se condições para fixar a população ecriar uma pousada e um hotel na encosta do Monte Fortim.PousadaUma pousada seria uma opção interessante para os edifícios genuinamente resi<strong>de</strong>nciaisque conseguiram preservar o seu traçado original, transformando-se em mais um ponto <strong>de</strong>interesse, transportando os seus utentes para o passado, a forma <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> viver em Min<strong>de</strong>lo.80


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loLombo MacLeodCom uma área <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> quinhentos metros quadrados, este edifício é um dos maisfiéis a influência inglesa na arquitectura em Min<strong>de</strong>lo. A sua construção remonta a 1858 quandofoi cedida esta parte <strong>de</strong> terreno a uma companhia inglesa chamada MacLeod and Martin. Nolocal havia uma serie <strong>de</strong> moradias para trabalhadores e cavalariças. Pela <strong>de</strong>cadência dacompanhia MacLeod o quarteirão foi tomado por outra companhia inglesa a Millers & Nephewem 1870.Figura 37: Lombo MacLeord e Capela Anglicana (século XIX) respectivamenteActualmente o edifício é utilizado só em parte e é ocupada por uma família. Apresentasecom um gran<strong>de</strong> potencial para fins <strong>de</strong> residência temporária, Pousada, pois além <strong>de</strong>localizar-se em uma área privilegiada a sua composição apresenta-se bastante propícia para oestabelecimento <strong>de</strong> um equipamento <strong>de</strong>sta natureza.O que se propõe efectivamente é que sejam <strong>de</strong>molidas os anexos construídos muitoposteriormente, recuperando a sua composição original, e tirar partido da Capela Anglicanaque fica adjacente a sua fachada sul, mais uma vez recuperando os edifícios que são marcos nahistória do nascimento e <strong>de</strong>senvolvimento da cida<strong>de</strong>. De resto parece bastante acessível aconversão <strong>de</strong>ste edifício para o novo fim, inclusive a permanência da família no complexo.HotelO hotel que se propões ocupará a vertente sul do Monte Fortim. Aqui prevê-se aconstrução <strong>de</strong> um novo hotel com características especiais que ao mesmo tempo que aumenta aoferta <strong>de</strong> números <strong>de</strong> camas na cida<strong>de</strong> ainda servirá <strong>de</strong> instrumento da reabilitação <strong>de</strong>staencosta.81


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loEste novo elemento urbano <strong>de</strong>verá ser feita <strong>de</strong> modo cuidado <strong>de</strong> forma a impor limites<strong>de</strong> construção, que permitisse regulamentar o seu <strong>de</strong>senvolvimento. Este conjunto <strong>de</strong>verá serdiferente do da marginal, <strong>de</strong>senvolvendo-se na horizontal, e constituído por pequenas casasindividuais <strong>de</strong>stinadas a este fim turístico. Deve-se ainda ter o cuidado que este complexohoteleiro não aproxima-se muito do topo, mantendo a linguagem <strong>de</strong> isolação e <strong>de</strong> fortaleza doFortim d´El Rei.Figura 38: Fotografia aérea do Monte FortimFonte: Fotografias da Nato 2005O edifício <strong>de</strong> Fortim d´El Rei que constitui a construção mais antiga existente emMin<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>verá ser tomada como um símbolo. Apesar <strong>de</strong> ter sofrido várias ampliações ereparações ao longo da sua história o edifício que já serviu <strong>de</strong> fortaleza, <strong>de</strong> estação <strong>de</strong> sinais,quartel militar e até mesmo prisão conserva a sua imponência e esta ávida <strong>de</strong> um projecto <strong>de</strong> oretire do estado <strong>de</strong> ruína que se encontra e o traga <strong>de</strong> novo para a vida. Desfrutando <strong>de</strong> umavista <strong>de</strong>slumbrante propõe-se neste edifício, formado por um conjunto <strong>de</strong> construções, umaárea <strong>de</strong> apoio ao hotel e aberta ao publico em geral com restaurante, sala <strong>de</strong> jogos e bar.Ainda no Monte Fortim, na vertente norte, mais agradável climaticamente e com umabonita vista sobre a praia da Laginha e a ilha <strong>de</strong> Santo Antão propõe-se uma ocupação maisleve e predominantemente publico num jogo <strong>de</strong> escadas e rampas intercalas por áreas <strong>de</strong> apoioque se abrem e fecham na encosta fomentando a pratica <strong>de</strong> exercício físico e integrandofinalmente o monte a cida<strong>de</strong>.82


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>lo3.4.4.3. Comercio e ServiçosCabe mencionar que os espaços públicos <strong>de</strong>vem ter a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> evoluir com otempo, tendo em mente as aspirações da comunida<strong>de</strong>, para que se torne um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>stino.Uma forma <strong>de</strong> dotar esta capacida<strong>de</strong> a estes espaços é criar zonas <strong>de</strong> apoio <strong>de</strong> formaque se tornem multi funcionais adquirindo uma dinâmica constate. Estas zonas po<strong>de</strong>m serpontos <strong>de</strong> comércio e prestação <strong>de</strong> serviços.Po<strong>de</strong>-se dizer que os espaços públicos em Min<strong>de</strong>lo, possuem <strong>de</strong> forma razoável estespontos <strong>de</strong> comércio e serviços, portanto a recomendação que se <strong>de</strong>ixa é a reformulação doshorários <strong>de</strong> funcionamento permitindo uma oferta constate e que se crie uma política <strong>de</strong>recuperação e preservação do traçado original dos edifícios que estão ocupadas ou po<strong>de</strong>rão vira ser ocupadas para estes fins.Alem <strong>de</strong>stes, propõe-se a construção <strong>de</strong> um centro comercial <strong>de</strong> raiz em um dos espaçosvazios apontados. Esta proposta po<strong>de</strong>rá ser melhor entendida mais adiante em tratamento <strong>de</strong>espaços vazios.Todos os edifícios abrangidos pelo plano para recuperação encontram-se <strong>de</strong>vidamenteassinalados em planta no apêndice V.3.4.5. Espaços VaziosOs espaços vazios já muito estudados por vários teóricos, são uma realida<strong>de</strong> em muitascida<strong>de</strong>s, essencialmente as que num certo período sofreram os efeitos da industrialização,como é o caso do Min<strong>de</strong>lo.Na área <strong>de</strong> intervenção foram i<strong>de</strong>ntificados seis vazios urbanos, ver em apêndice VII,dois juntos a marginal e outros quatro em direcção ao interior. A aposta nestes espaços tem emvista colmatar a malha urbana através da formação dos respectivos quarteirões constituindo osseus limites físicos. As intervenções <strong>de</strong>vem resultar em soluções volumétricas que procura odiálogo entre a escala e o ritmo da maioria dos edifícios que compõe a envolvente e colmate asreais necessida<strong>de</strong>s da área em estudo.Deste modo, propõe-se para essas seis áreas um conjunto <strong>de</strong> equipamentos e blocoshabitacionais. No lado sul, junto ao centro cultural, encontra-se o primeiro espaço vazio on<strong>de</strong>terá lugar o Anfiteatro. Mais acima, também junto a marginal o segundo vazio urbano, aquion<strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolverá o estudo <strong>de</strong> caso se propõe o Teatro. No vazio urbano no extremo norteda área <strong>de</strong> intervenção nascerá o Centro Comercial. Os outros três vazios urbanos na área mais83


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>locentral da zona <strong>de</strong> estudo serão constituídos pelos blocos habitacionais.3.4.5.1. TeatroNo vazio urbano que fica praticamente sobre a marginal e numa posição central a área<strong>de</strong> intervenção nascerá um novo equipamento. Este equipamento fará o remate do eixo culturalproposto neste plano <strong>de</strong> revitalização urbana. A criação <strong>de</strong> um Teatro nesta zona, procura, nãosó acentuar o seu carácter cultural, mas também para dar resposta á falta <strong>de</strong> espaçosqualificados para a prática teatral, nomeadamente durante o festival <strong>de</strong> teatro min<strong>de</strong>lense, oMin<strong>de</strong>lAct. Ainda a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste trabalhar em articulação com os outros como o Cinemae o Centro Cultural.O Teatro que se propõe para esta área apresenta-se como o estudo <strong>de</strong> caso <strong>de</strong>stetrabalho, assim encontra-se mais <strong>de</strong>senvolvida no respectivo capítulo.O que se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> antemão é o facto <strong>de</strong> este edifício representar um ponto <strong>de</strong>virada, portanto um ponto <strong>de</strong> quebra, entre a escala e o <strong>de</strong>senho da frente marítima.3.4.5.2. AnfiteatroO segundo vazio urbano sobre a marginal também se propõe um equipamento <strong>de</strong>carácter cultural que vem rematar a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> salas que se apresentou neste projecto <strong>de</strong>revitalização urbana. Este equipamento surge na continuação do Centro Cultural que se figuracomo um dos elementos estruturadores <strong>de</strong>sta re<strong>de</strong>.O novo edifício seguirá quase que na mesma linguagem do teatro, uma arquitecturacontemporânea e que consiga permitir a continuida<strong>de</strong> visual com a baia. O ponto <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque<strong>de</strong>sta proposta <strong>de</strong> edifício pren<strong>de</strong>-se com o facto <strong>de</strong> o equipamento continuar a permitir estecontacto visual com a baia, portanto se propõe um edifício suspenso. O espaço no piso térreo<strong>de</strong>verá ser público, ate mesmo para enfatizar a separação do Anfiteatro e o Estacionamentosubterrâneo.3.4.5.3. HabitaçãoTrês dos seis vazios urbanos serão <strong>de</strong>stinados a fins habitacionais. Esta opção resultouna análise da área envolvente <strong>de</strong>stes vazios on<strong>de</strong> os usos predominantes são o habitacional e ocomercial com edifícios mistos, a altematria media fica nos três pisos. Outro factor queinfluenciou esta escolha foi exactamente pelo facto do plano <strong>de</strong> revitalização aqui presente<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r que a fixação da população é um meio para atingir uma revitalização que se querdinâmica e integral.84


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>lo3.4.5.4. Centro ComercialO último vazio urbano i<strong>de</strong>ntificado nesta área <strong>de</strong> intervenção será convertido numCentro Comercial. Este terreno com cerca <strong>de</strong> quatro mil metros quadrados será constituído porum conjunto <strong>de</strong> lojas incluído hipermercado e parque <strong>de</strong> diversões. Distribuídos por quatropisos, sem contar com o estacionamento subterrâneo.Esta proposta vem no sentido <strong>de</strong> colmatar um défice muito gran<strong>de</strong> no campo <strong>de</strong>equipamentos <strong>de</strong>sta natureza, surgindo então um novo ponto <strong>de</strong> entretenimento para oshabitantes e visitantes.3.4.6. Elementos MorfológicosA qualida<strong>de</strong> e funcionalida<strong>de</strong> do espaço público, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> sobremaneira, do cunhoimprimido pelo <strong>de</strong>senho arquitectónico do edificado envolvente, fortemente e quase que emexclusivo, relacionado com as formas e características das suas fachadas, bem como, o modocomo os edifícios se relacionam funcionalmente com a formação e usos adstritos. Todavia,existem outros aspectos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m morfológica que se consi<strong>de</strong>ram fundamentais na qualida<strong>de</strong>do espaço público.Os elementos morfológicos i<strong>de</strong>ntificadores do espaço público entre os quais se expõem,o arruamento, o pavimento, a acessibilida<strong>de</strong>, os espaços ver<strong>de</strong>s e mobiliário urbano, sãofundamentais na forma como se estruturam e se organizam, pois é <strong>de</strong>sta simbiose que provem acomunicação estética e funcional do espaço urbano.Assim sendo, estes elementos <strong>de</strong>vem ser levados em consi<strong>de</strong>ração no momento em que<strong>de</strong>senvolver os vários campos <strong>de</strong> actuação que o plano prevê, dotado os espaços <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>funcional e estética, utilizando-os como elementos informação e orientação.85


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loCapitulo 4: Estudo <strong>de</strong> caso “Teatro Min<strong>de</strong>lo”Como já foi dito, um dos objectivos específicos <strong>de</strong>ste trabalho é estudar a possibilida<strong>de</strong>da criação <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> da salas <strong>de</strong> cultura como estratégia <strong>de</strong> revitalização urbana. Nestesentido, este capítulo <strong>de</strong>senvolve uma proposta do projecto <strong>de</strong> arquitectura do Teatro Min<strong>de</strong>lo,que vem complementar a re<strong>de</strong> já proposta no capítulo anterior.Portanto, este capítulo vem na sequência do anterior mas com uma escala, grau <strong>de</strong>intervenção e <strong>de</strong> representação diferente. Assim, no capítulo anterior apresentou-se asestratégias <strong>de</strong> abordagem da área <strong>de</strong> intervenção no geral para atingir a revitalização <strong>de</strong>sta áreaurbana com as respectivas indicações sobre os campos <strong>de</strong> trabalho, directrizes sugestões eorientações, agora neste capitulo e com base no plano <strong>de</strong> revitalização urbana <strong>de</strong>senvolvidapassa-se para um estágio seguinte <strong>de</strong> maturação on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolve um dos projectos <strong>de</strong>arquitectura propostos no plano.O projecto que se preten<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver, consta do Teatro Min<strong>de</strong>lo, ainda que sejam asfases iniciais <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> projecto, respectivamente Fase <strong>de</strong> Conceito e Estudo Preliminar,permitirá compreen<strong>de</strong>r a transição do geral para o particular num plano <strong>de</strong> revitalizaçãourbana. Permitirá ainda, perceber como um plano <strong>de</strong> revitalização actua sobre a área <strong>de</strong>intervenção, primeiro no contexto geral com respectivas indicações, <strong>de</strong>pois em pontosespecíficos com base nas indicações apresentadas.86


4.1. Motivo <strong>de</strong> escolhaRevitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loO plano <strong>de</strong> revitalização urbana apresentado permite duas formas <strong>de</strong> actuação noprojecto, uma sobre o tecido e edifícios já existentes e outra sobre os vazios urbanosassinalados.Optou-se por actuar sobre um dos vazios urbanos i<strong>de</strong>ntificados, com a proposta <strong>de</strong> umequipamento <strong>de</strong> carácter cultural que colmatará a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> salas <strong>de</strong> cultura proposto, o TeatroMin<strong>de</strong>lo.No vazio urbano que fica praticamente sobre a marginal e numa posição central a área<strong>de</strong> intervenção é on<strong>de</strong> nascerá o novo equipamento. A criação <strong>de</strong> um Teatro nesta zona,procura, não só acentuar o seu carácter cultural, mas também para dar resposta á falta <strong>de</strong>espaços qualificados para a prática teatral, nomeadamente durante o festival <strong>de</strong> teatromin<strong>de</strong>lense, o Min<strong>de</strong>lAct. Portanto, estes se posicionam como os principais motivos para aescolha <strong>de</strong> propor um Teatro, outro motivo pren<strong>de</strong>-se com o facto do tecido urbano trabalhadomostrar uma necessida<strong>de</strong> urgente resolução dos espaços vazios, conduzindo finalmente a umaconsolidação urbana.Assim, este capítulo estrutura-se em duas partes, em que na primeira, Fase <strong>de</strong> Conceitoaborda-se questões <strong>de</strong> âmbito espacial como: localização, enquadramento, limite <strong>de</strong>intervenção, programa proposto e exemplos <strong>de</strong> referência. Na parte dois, o Estudo Preliminarserá composto: pelo conjunto <strong>de</strong> peças escritas nomeadamente a memória <strong>de</strong>scritiva; e as peças<strong>de</strong>senhadas, as plantas, vistas, cortes e perspectivas.4.2. Fase <strong>de</strong> ConceitoO Teatro é um dos ramos da arte cénica ou performativa que tem uma capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>renovação e divulgação constate da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um povo.Em Min<strong>de</strong>lo, esta arte possui uma expressão muito forte, no entanto a falta <strong>de</strong> espaçosapropriados para a sua prática é uma realida<strong>de</strong> e que dificulta muito o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>staexpressão cultural.Neste sentido, e com base no plano <strong>de</strong> revitalização urbana proposto, se <strong>de</strong>senvolve oprojecto do Teatro Min<strong>de</strong>lo e esta é a primeira fase da elaboração <strong>de</strong>ste projecto. Consiste87


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>lonuma apresentação breve da área <strong>de</strong> intervenção específica, <strong>de</strong> acordo com as impressões queficaram do primeiro contacto, portanto um estudo <strong>de</strong> campo. Estas impressões estão expressasessencialmente em peças <strong>de</strong>senhadas esquemáticas, abordando os seguintes pontos:Localização no contexto geral do plano <strong>de</strong> Revitalização (apêndice IX);Localização da área <strong>de</strong> intervenção com seus respectivos limites (apêndice X);Programa proposto;Exemplos internacionais <strong>de</strong> referência.A área <strong>de</strong> intervenção do Teatro fica num quarteirão, localizada quase que no centro daárea <strong>de</strong> intervenção do Plano <strong>de</strong> Revitalização, ver apêndice IX. A sua posição privilegiadapermite uma articulação legível com as restantes salas <strong>de</strong> cultura e a baia.No apêndice X, é possível perceber os limites do quarteirão e da área <strong>de</strong> intervenção doTeatro, como se posiciona na marginal e as áreas que se preten<strong>de</strong>m como publica e <strong>de</strong>implantação do Teatro.O programa que se apresenta nesta fase <strong>de</strong> trabalho é bastante simplificada mas <strong>de</strong>forma geral é o que se preten<strong>de</strong> propor para o Teatro, assim temos:Pisos/Espaços Piso 0 Piso1 Piso 2FoyerPlateia sala a e sala bPalcoOficinasCargaBilheteira/BengaleiroSalas VIPSalas <strong>de</strong> conferênciaSalas <strong>de</strong> EnsaioSecretariaInst. SanitáriasArrumosBar/CafetariaPlateia sala a e sala bPalcoCamarinsRegierDirecçãoSala <strong>de</strong> ReuniõesInst. SanitáriasTeia e AcessosCenáriosAdministraçãoSala <strong>de</strong> ReuniõesInst. SanitáriasTabela 2: Programa Proposto88


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loApós o primeiro contacto com a área <strong>de</strong> intervenção, realizou-se algumas pesquisas daíresultou alguns dados interessantes como esquemas <strong>de</strong> programas, como o apontado a cima eexemplos <strong>de</strong> projectos <strong>de</strong> referência que se passa a apresentar:Exemplos <strong>de</strong> Referência:Figura 39: Teatro Castro AlvesBahia, Brasil – Estúdio AméricaFonte: ArchdailyFigura 40: Bronks Youth TheatreBruxelas, Belgica – Team ProjectFonte: ArchdailyFigura 41: Reina Victoria Teatro-CinemaNerva, Espanha – Enrique Garcia AbascalFonte: ArchdailyFigura 42: Teatro ÁgoraLelystad, Holanda – UNStudioFonte: Archdaily89


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>lo4.3.Estudo PreliminarEste subcapítulo consiste no estudo preliminar do projecto <strong>de</strong> arquitectura do TeatroMin<strong>de</strong>lo, sito na Avenida Marginal. A referida área <strong>de</strong> intervenção tem uma área total <strong>de</strong>,aproximadamente, 4500m2, formando genericamente um rectângulo trapezoidal, entre a Av.Marginal a poente, pela Rua Angola e os edifícios pré-existentes que <strong>de</strong>finem o limite doquarteirão a norte e a sul, apresentando uma inclinação <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 13%.Da análise preliminar feita ao quarteirão e ao seu relacionamento com a envolvente e oespaço necessário para o Teatro, a área a construir consi<strong>de</strong>rado no estudo que agora apresentasecinge a 2300m2, carecendo actualização durante o aprofundamento do projecto em <strong>de</strong>talhe.A área em estudo localiza-se junto á Baia do Porto Gran<strong>de</strong>, beneficiando por isso <strong>de</strong>uma forte relação com esta.A resposta ao <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> criação do Teatro Min<strong>de</strong>lo num espaço tão contido para umequipamento <strong>de</strong>sta natureza, resulta da necessida<strong>de</strong> e na aposta do <strong>de</strong>senvolvimento cultural erecreativo da cida<strong>de</strong>, tendo-se tornado no âmbito do Plano <strong>de</strong> Revitalização Urbana da zonanorte do centro <strong>de</strong> Min<strong>de</strong>lo, um <strong>de</strong>safio estimulante, <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s acrescidas, mas que nempor isso <strong>de</strong>ixaram, na nossa perspectiva, <strong>de</strong> ser resolvidas da melhor forma possível.Aborda-se aqui aspectos <strong>de</strong> diferentes categorias, a diferentes níveis <strong>de</strong> elaboração.Tentou-se <strong>de</strong>screver as opções, as propostas <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões, justificando-as sempre e, na medidado possível, fazendo o cruzamento entre problemas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m funcional, técnica e estética.De qualquer forma, a consulta atenta das peças gráficas, que se encontram em apêndice,elucidará bem o conceito que se sugere para a solução.4.3.1. ConceitoUm dos princípios orientadores da proposta urbanística e arquitectónica apresentadapren<strong>de</strong>-se com o facto <strong>de</strong> localizar-se no litoral da cida<strong>de</strong> e com a relação especial que a área<strong>de</strong> intervenção tem com ele, indutores da solução.Por outro lado, a morfologia do terreno e os afastamentos directos com os edifícios daenvolvente, também representam elementos <strong>de</strong> importância para o <strong>de</strong>senvolvimento doprojecto, a sua integração e continuida<strong>de</strong> urbanística.Preten<strong>de</strong>-se com este estudo, estabelecer o mo<strong>de</strong>lo conceptual e os critérios <strong>de</strong>intervenção urbana e arquitectónica e, fundamentalmente, no que concerne á <strong>de</strong>finição edistribuição <strong>de</strong> funções no novo equipamento proposto.90


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loComo premissa, e uma vez que a forma do terreno <strong>de</strong> implantação apresenta-seirregular, tornou-se necessário que o equipamento se implantasse no centro do vazio urbano,criando na envolvente uma sucessão <strong>de</strong> espaços <strong>de</strong> estar, fluido espacialmente e visualmente.O programa específico para um equipamento <strong>de</strong>sta natureza revela-se rígido, não sópela forma como os espaços têm <strong>de</strong> funcional entre si, como também pelas dimensõesnecessárias, reflectindo-se na sua volumetria e forma. Portanto, o edifício <strong>de</strong>verá ser pensado apartir <strong>de</strong> um projecto capaz <strong>de</strong> fornecer um nível máximo <strong>de</strong> uso, combinando váriasactivida<strong>de</strong>s e torna-los compatíveis, recolher e separar os vários usos, oferecendo um recipientemultidisciplinar.Como já se tinha indicado no Plano <strong>de</strong> Revitalização Urbana, este edifício <strong>de</strong>veráapresentar-se como um edifício marcante no território e distinto dos <strong>de</strong>mais. As suasproporções, usos, relações coma envolvente aliada a sua localização junto á frente marítima,serão as aliadas para alcançar este objectivo, e fará <strong>de</strong>le o pólo cultural e artístico da cida<strong>de</strong>.A proposta preten<strong>de</strong> fazer emergir o edifício do terreno, abrindo em direcção ao marcomo se quisesse alcança-lo, dividindo o terreno em várias partes, atribuindo-lhes várias zonas<strong>de</strong> lazer distintas sem nunca <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser uma única praça.4.3.2. Proposta <strong>de</strong> intervençãoO teatro estrutura-se em dois volumes, encastrados entre si e ao terreno. Um <strong>de</strong>les, omaior, <strong>de</strong>stina-se as activida<strong>de</strong>s correntes <strong>de</strong> espectáculos e apresentações, embora os dois<strong>de</strong>sempenhem esta função. O outro caracteriza-se pelo seu perfil mais multiuso.O acesso a todos os volumes e pisos que compõe o teatro po<strong>de</strong> ser feito por meio <strong>de</strong>rampas garantindo a mobilida<strong>de</strong>.O piso térreo, apêndice XIII, á cota da Avenida Marginal, caracteriza-se como umespaço <strong>de</strong> entrada e acesso, tanto para o público como para os funcionários. Ali, existemespaços <strong>de</strong>stinados ao público como foyer, bilheteira, oficinas, instalações sanitárias e asescadas <strong>de</strong> acesso á plateia que se prolongam até ao foyer superior. Os espaços <strong>de</strong>stinados aosfuncionários, situam-se os acessos aos outros pisos, as oficinas, os camarins, o palco e oprolongamento do palco.Ao nível do segundo piso, tem-se o foyer superior ocupado por zonas <strong>de</strong> mesas doBar/Cafetaria, a plateia, secretária. Da parte dos funcionários, a régie, as arrecadações, osgabinetes <strong>de</strong> direcção e administração e sala <strong>de</strong> reuniões. Ver apêndice XIV.Um ponto <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque do equipamento fica por conta do seu terraço acessível pelo lado91


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loposterior, on<strong>de</strong> as pessoas são convidadas a percorrer <strong>de</strong>sfrutando da vista sobre a baia, esteespaço que possui também a caixa <strong>de</strong> palco, possibilita o acontecimento <strong>de</strong> varias activida<strong>de</strong>sculturais e recreativas durante todo o ano como nas festivida<strong>de</strong>s do fim <strong>de</strong> ano on<strong>de</strong> as pessoascostumam <strong>de</strong>slocar-se a este espaço para assistir ao espectáculo <strong>de</strong> fogos <strong>de</strong> artificio e musical.Ver apêndice XV.Figura 43: Teatro Min<strong>de</strong>lo vista 1Figura 44: Teatro Min<strong>de</strong>lo vista 292


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loFigura 45: Teatro Min<strong>de</strong>lo vista 3Figura 46: Teatro Min<strong>de</strong>lo vista 4Figura 47: Teatro Min<strong>de</strong>lo vista 593


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loConclusãoNo momento em que assuntos como qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentohumano são motivos <strong>de</strong> acesas discussões, a qualida<strong>de</strong> do contexto urbano <strong>de</strong>ve ser tomadacomo um objectivo primário no acto <strong>de</strong> intervir no espaço habitado. Assim, planos <strong>de</strong>revitalização urbana como o que se propôs neste trabalho torna-se um instrumentoimprescindível <strong>de</strong> actuação, capaz <strong>de</strong> dar resposta aos problemas <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação física <strong>de</strong> umespaço, e também a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contribuir para políticas <strong>de</strong> habitação, coesão social,ambiente, planeamento urbano, etc.Os espaços urbanos <strong>de</strong>gradados têm interferência negativa tanto na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vidadas pessoas como na qualida<strong>de</strong> da paisagem natural do referido espaço. Assim, em termos <strong>de</strong>sustentabilida<strong>de</strong>, e da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resposta face as exigências da vida contemporânea sãomuitas as questões que se levantam sobre a forma <strong>de</strong> intervir nas cida<strong>de</strong>s.A proposta <strong>de</strong> intervenção apresentada para a zona norte do centro <strong>de</strong> Min<strong>de</strong>lo é umaimportante oportunida<strong>de</strong> que a cida<strong>de</strong> terá, em melhorar as condições urbanas, <strong>de</strong> valorizar einovar os espaços públicos, restabelecer a relação com o mar, e também po<strong>de</strong>r usufruir dapaisagem.A implementação da proposta <strong>de</strong> intervenção po<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>sse modo ser uma possibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> valorização e regeneração <strong>de</strong> áreas urbanas. Uma revitalização em termos económicos,94


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loambiental e social, numa lógica <strong>de</strong> uma intervenção para os min<strong>de</strong>lenses e para turistas, mas <strong>de</strong>modo sustentável.No entanto, <strong>de</strong>ve-se ter em conta que a transformação não ocorre pelo <strong>de</strong>sígnioindividual ou <strong>de</strong> um pequeno grupo, mas sempre por consensos cordatos ou árduos no ceio dacomunida<strong>de</strong>.Assim a integração social <strong>de</strong>ve ser levada em conta nesta proposta <strong>de</strong> reconversão,assim como a activida<strong>de</strong> turística e as questões <strong>de</strong> impacto ambiental. É importante umatransformação espacial da cida<strong>de</strong> sem criar conflitos, conciliando os interesses tanto dossectores privados como dos públicos.Com repercussões em termos <strong>de</strong> cultura e da criação <strong>de</strong>emprego, na mudança social dos habitantes, e na própria imagem da cida<strong>de</strong>.É útil portanto para a cida<strong>de</strong> uma intervenção integrada que <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia uma dinâmica<strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> e que trará novos <strong>de</strong>safios a cida<strong>de</strong> do Min<strong>de</strong>lo.No <strong>de</strong>correr do trabalho, houve a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> frisar a importância em utilizar osedifícios como forma <strong>de</strong> preservação, como diz Coelho (1992) “ é o uso que a conserva”, e nomomento em que a escassez <strong>de</strong> recursos é uma realida<strong>de</strong>, enten<strong>de</strong>-se que, é preferívelestabilizar um maior número <strong>de</strong> monumentos relativamente pouco danificados e reintegra-losno uso social do que realizar o restauro <strong>de</strong> uma ou dois gran<strong>de</strong>s monumentos.Outra conclusão que se tira nesta fase <strong>de</strong> trabalho é que a salvaguarda do património <strong>de</strong>uma nação exige uma organização mínima, capaz <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar, <strong>de</strong> catalogar, e <strong>de</strong> classificaros monumentos, <strong>de</strong> os conservar e restaurar. Assim, apesar <strong>de</strong> já existirem gabinetes e<strong>de</strong>partamentos que cuidam das questões patrimoniais, enten<strong>de</strong>-se necessário repensar a forma<strong>de</strong> organização e estruturação <strong>de</strong>stas entida<strong>de</strong>s responsáveis, <strong>de</strong> forma a capacita-los comequipas multidisciplinares traduzindo-se na maximização dos ganhos á cada intervençãorealizada. Estas intervenções <strong>de</strong>vem ser assumidas como uma parte <strong>de</strong> um projecto global queexige a compreensão <strong>de</strong> que a cida<strong>de</strong> é sempre um projecto colectivo.Sendo que o plano só abrange uma parte da cida<strong>de</strong>, enten<strong>de</strong>-se que se faz sentir aurgente necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um plano <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento urbanístico que cubra todo o território dailha, que <strong>de</strong>fina claramente o melhor uso possível para o solo disponível e ultrapasse ospequenos interesses locais e do momento. Desta forma, o plano <strong>de</strong> revitalização urbana vem95


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loser assumir um papel <strong>de</strong> ponto <strong>de</strong> partida para um <strong>de</strong>senvolvimento equilibrado e integral <strong>de</strong>toda a ilha.Este primeiro passo po<strong>de</strong>ria ser iniciado adoptando uma estratégia <strong>de</strong> acção dinâmicaque fosse capaz <strong>de</strong> envolver um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> pessoas e entida<strong>de</strong>s, que se resumiria, emjeito <strong>de</strong> recomendação, da seguinte forma: atrair a cooperação internacional e bilateral nosector dos bens culturais; procurar utilizar uma parte dos recursos <strong>de</strong>stinados á construção <strong>de</strong>novos edifícios na recuperação dos monumentos e na sua conversão em novas funções; eainda, realizar campanhas populares para a recuperação dos monumentos comunitários eadaptação <strong>de</strong> incentivos para motivar os proprietários privados a conservar os seusmonumentos.96


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loBibliografiaALVES, Fernando M. Brandão, Avaliação da qualida<strong>de</strong> do espaço público urbano. PropostaMetodológica, Coimbra, Fundação Calouste Gulbenkian e Fundação para a Ciência e aTecnologia, 2003.BENEVOLO, Leonardo, História da arquitetura mo<strong>de</strong>rna, São Paulo, Editora Perspectiva,1998.BENEVOLO, Leonardo, História da Cida<strong>de</strong>, São Paulo, Editora Perspectiva, 1983.BENEVOLO, Leonardo, Histoire <strong>de</strong> l’architecture mo<strong>de</strong>rne – La révolution industrielle,Paris, Dunod, 1980.BORJA, Jordi, “Espaços públicos, condição da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocrática – A criação <strong>de</strong> um lugar<strong>de</strong> intercâmbio” (in) Portal VITRUVIUS – Arquitexto 072.03 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 2012, [consultado a10/04/09] disponível em < http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq072/arq072_03.asp>COSTA, Riceles Araújo, Fengshui: Em busca do Genius Loci (in) Portal VITRUVIUS –arquitextos 093.06 <strong>de</strong> Fevereiro 2008, [consultado a 04/06/09] disponível emCRUZ, Antero Ulisses - Três tempos, três portos três portas…1 mar urbano. Coimbra: [s. n.], 2001. 103 p. Prova Final <strong>de</strong> Licenciatura apresentada ao Departamento <strong>de</strong>Arquitectura.DECRETO –LEI n.º 26/2006, publicado no B.O n.º 10 <strong>de</strong> 6 Março <strong>de</strong> 2006, p. 291DIRECÇÃO – GERAL, do Or<strong>de</strong>namento do Território e Desenvolvimento Urbano,Vocabulário do Or<strong>de</strong>namento do Território, Lisboa, Direcção-Geral do Or<strong>de</strong>namento doTerritório e Desenvolvimento Urbano, 2000.HALL, Peter, Cida<strong>de</strong>s do amanhã : uma história do planejamento e do projecto urbano no97


Revitalização Urbana: Proposta Teatro Min<strong>de</strong>loséculo XX, São Paulo, Perspectiva, 2007.LAMAS, Estela P.R. et al., Contributos para Uma Metodologia Científica mais Cuidada,Lisboa, Instituto <strong>Piaget</strong>, 2002.LAMAS, José M. Ressano Garcia, Morfologia Urbana e Desenho da Cida<strong>de</strong>, 2ª Ed., Lisboa,Fundação Calouste Gulbenkian e Fundação para a Ciência e a Tecnologia, 2000.LINHAS GERAIS DA HISTÓRIA DE DESENVOLVIMENTO DA CIDADE DO MINDELO.Praia : Ministério da economia e finanças , Fundo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento nacional, 1984.LINCH, Kevin, A imagem da cida<strong>de</strong>, Lisboa, Edições 70, 2009MORAIS, João Sousa, Min<strong>de</strong>lo: Património Urbano e Arquitectónico // Assentamento Urbanoe os seus protagonistas. Lisboa, Caleidoscopio, 2010.MORAIS, João Sousa, (Re)construção <strong>de</strong> uma disciplina em arquitectura. Lisboa : LivrosHorizonte, 2007.84 p. ISBN 9789722414197.PARDAL, Sidónio et al, Normas Urbanísticas-Volume II - Desenho Urbano, PerímetrosUrbanos, e Apreciação <strong>de</strong> Planos, Lisboa, Direcção Geral do Or<strong>de</strong>namento do Território –<strong>Universida<strong>de</strong></strong> Técnica <strong>de</strong> Lisboa, 1991.PORTAS, Nuno, DOMINGUES, Álvaro e CABRAL, João, Politicas Urbanas – Tendências,estratégias e oportunida<strong>de</strong>s, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2003.98

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