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Protestantismo e democracia no Brasil - Lusotopie

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<strong>Protestantismo</strong> e <strong>democracia</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> 339abraçado por Calvi<strong>no</strong> em continuidade com a era medieval. A Igreja está <strong>no</strong>centro da sociedade, fornecendo seu credo oficial. O governante piedosodeve promover a verdadeira religião e moral por meios políticos e legais.Posteriormente, o ideal da nação cristã fragmenta-se num arco que vai desdeos reconstrucionistas que vão além de Calvi<strong>no</strong>, defendendo uma teocraciabaseada na lei mosaica, até o liberalismo moder<strong>no</strong> das Igrejas territoriaiseuropéias que pede apenas privilégios para os valores cristãos. Na formasevera, a nação cristã implica perseguição ; na forma branda, somente discriminaçãona religião civil. A terceira posição básica também remonta aosprimórdios do protestantismo e floresceu entre alguns dos primeirosbatistas e os « niveladores » da Guerra civil inglesa, e posteriormente <strong>no</strong>neo-calvinismo holandês. É o pluralismo de princípio, a liberdade religiosanum Estado não confessional. A situação <strong>no</strong> Antigo Testamento é excepcional; hoje, o Estado deve limitar-se a funções civis. Os cristãos participam,mas sob o sig<strong>no</strong> do consenso e não do domínio, evitando que o cristianismose transforme em religião civil.No <strong>Brasil</strong>, a <strong>no</strong>va realidade pluralista exigirá, nas próximas décadas,ajustes na esfera pública, tornando-a mais genuinamente não-confessionale superando os resquícios, de um lado, da versão branda de « naçãocatólica » e, do outro lado, do projeto secularista (liberal e marxista) queexcluía a religião da vida pública. Neste sentido, algumas reclamaçõesprotestantes procedem. Mas outras vão além, em direção a uma « naçãoevangélica ». Por enquanto, são sonhos irrealizáveis. Mas o protestantismose insere num contexto formado historicamente, para usar a termi<strong>no</strong>logia deMartin (1978), não <strong>no</strong> padrão america<strong>no</strong> mas <strong>no</strong> padrão lati<strong>no</strong>. Nestecontexto, diferente do de<strong>no</strong>minacionalismo america<strong>no</strong> onde separação deIgreja e Estado faz parte do mito fundante e limita todos os atores políticos,não podemos ser tão otimistas. No <strong>Brasil</strong>, a lógica da religião voluntaristapode perder força <strong>no</strong> padrão híbrido que se forma, <strong>no</strong> qual a lógica de Igrejamo<strong>no</strong>lítica não desapareceu totalmente. O poder desequilibrador da IURDtalvez seja prenúncio do que poderá acontecer, nas águas desconhecidas nasquais a política protestante brasileira começa a navegar.Dezembro de 1997Paul FRESTONUniversidade federal de São Carlos (<strong>Brasil</strong>)BIBLIOGRAFIAALVES, R. 1979, <strong>Protestantismo</strong> e Repressão, São Paulo, Ática.BASTIAN, J.-P. 1992, « Introduction », Social Compass, XXXIX (3) : 323-326.–––– 1997, « Mi<strong>no</strong>rités religieuses et confessionnalisation de la politique en Amériquelatine », Archives des Sciences sociales des Religions, janeiro-março : 97-114.BURDICK, J. 1993, Looking for God in Brazil, Berkeley, University of California Press.CASANOVA, J. 1994, Public Religions in the Modern World, Chicago, University ofChicago Press.CLEARY, E. 1997, « Introduction : Pentecostals, Prominence and Politics », in CLEARY,E. & STEWART-GAMBINO, H., eds, Power, Politics and Pentecostals in Latin America,Boulder, Westview Press : 1-24.

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