12.07.2015 Views

Protestantismo e democracia no Brasil - Lusotopie

Protestantismo e democracia no Brasil - Lusotopie

Protestantismo e democracia no Brasil - Lusotopie

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>Protestantismo</strong> e <strong>democracia</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> 331das esferas diferenciadas » (1994 : 43). Todas as lutas contra a opressão <strong>no</strong>mundo moder<strong>no</strong> começaram por redefinir questões consideradas privadascomo sendo de foro público, não para eliminar a fronteira público-privadomas para reconhecer que ela está sempre aberta à contestação. Os liberaistendem a interpretar a desprivatização da religião como reação fundamentalistapor parte de instituições hierocráticas, ou como mobilizaçãoreacionária de grupos tradicionalistas. Ig<strong>no</strong>ram o caráter intrinsecamentereligioso do fenôme<strong>no</strong> e o desafio <strong>no</strong>rmativo que coloca para o que aindarestam de compreensões secularistas da modernidade (ibid. : 221 sq.) :« As intervenções públicas da religião [não são apenas] críticas antimodernasda modernidade. Representam <strong>no</strong>vos tipos de crítica imanente<strong>no</strong>rmativa de formas específicas de institucionalização da modernidade quepressupõem justamente a aceitação […] dos princípios da modernidade, ouseja, as liberdades individuais e as estruturas diferenciadas ».4) A concorrência religiosa acirrada não é necessariamente incompatível coma <strong>democracia</strong>. A idéia da incompatibilidade é uma versão da religião civil« republicana » (Casa<strong>no</strong>va) que procura emascular a religião. Nãoé impossível que as pessoas discordem fortemente a respeito de coisas queconsideram de suprema importância (como a necessidade da evangelização),e mesmo assim sejam bons democratas. Soares (1993) vai nessadireção quando comenta a « guerra santa » de alguns pentecostais contra asreligiões afro-brasileiras. « Há, em <strong>no</strong>ssa guerra santa, um diálogo, aindaque áspero, com as crenças criticadas e seus objetos são tidos como reais ».Isso contrasta com a « complacência tolerante e superior de boa parte doscatólicos e dos membros das Igrejas tradicionais ». Esta tolerância dos quenão sentem a própria superioridade ameaçada expressa uma ordemsociocultural hierárquica, enquanto a disputa palmo a palmo representaa emergência de uma configuração igualitária.« Não são os partidos, nem é a política ; é a experiência religiosa que faz <strong>no</strong>ssarevolução cultural […] A linguagem religiosa purificada do pentecostalismoguerreiro realiza a revolução modernizadora, infundindo princípios dominantementeigualitários […] As implicações políticas deste processo nãodevem ser subestimadas. Quando elites deixam de dirigir a cultura, correm orisco de ceder o comando político ».5) O <strong>no</strong>vo protestantismo de massas do terceiro mundo poderá criar uma quartaonda democratizante cristã. Witte (1993) fala de três ondas de impulsosdemocratizantes cristãos que acompanharam, e até anteciparam, as trêsondas de democratização propostas por Huntington (1991). A primeira ondafoi protestante, <strong>no</strong>s séculos XVII e XVIII. A segunda foi a onda missionária naÁfrica e na Ásia, acompanhada por uma onda política, tanto católica comoprotestante, na Europa e América latina em meados do século XX. A terceiraonda é católica, pós-Vatica<strong>no</strong> II. Nossa questão é se haverá uma quarta ondaassociada ao surgimento de um protestantismo de massas na Américalatina, África e Ásia. É importante lembrar que a segunda onda era deleigos. No <strong>Brasil</strong> como em outros países, o <strong>no</strong>vo protestantismo teráimplicações mais favoráveis para a <strong>democracia</strong> na medida em que, comodiria Weber, o « intelectualismo leigo » conseguir desafiar o controle« sacerdotal » da face pública.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!