Protestantismo e democracia no Brasil - Lusotopie
Protestantismo e democracia no Brasil - Lusotopie
Protestantismo e democracia no Brasil - Lusotopie
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
332 Paul FRESTON<strong>Protestantismo</strong> e <strong>democracia</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> : história das análisesOs protestantes constituem uns 15 % da população brasileira, caracterizadapelo crescimento acelerado e forte presença entre as camadas maispobres e de me<strong>no</strong>r escolaridade. As Igrejas oriundas do exterior gozam deplena auto<strong>no</strong>mia, mas o campo é cada vez mais tomado por de<strong>no</strong>minaçõesbrasileiras.A análise da relação entre protestantismo e <strong>democracia</strong> já passou porvárias fases.1) Até os a<strong>no</strong>s 1950 : o protestantismo como parte da democratização dasociedade. Os primeiros estudos sociológicos, feitos <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1940 e 1950,apoiaram a idéia do protestantismo como favorável à <strong>democracia</strong>. ParaWillems (1967), o protestantismo ajudava a transição para uma sociedadedemocrática.2) A<strong>no</strong>s 1960 e 1970 : o protestantismo como baluarte da ditadura. Nessa fase,a sociologia do protestantismo é dominada por brasileiros de origem protestantemas rompidos com suas Igrejas. Escrevendo durante o regime militar,sua produção salientava a alienação protestante. « Era necessário excitaro "potencial revolucionário" do povo e delimitar os grupos que dificultavameste projeto » (Leonardos 1987 : 15). Teve influência o estudo de Lalived'Épinay (1970) sobre o Chile, o qual classificava o pentecostalismo comoreprodutor das relações autoritárias da zona rural. Enquanto a Igrejacatólica <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> se transformou em defensora da <strong>democracia</strong>, as Igrejasprotestantes passaram a ser vistas como baluartes do regime. No título deuma obra do período, a associação já não era protestantismo e <strong>democracia</strong>,mas <strong>Protestantismo</strong> e Repressão (Alves 1979).3) A<strong>no</strong>s 1980 : na queda do regime militar, o contraste entre os papéis docatolicismo e do protestantismo. Nas análises da queda da ditadura militar(1985), ressalta-se o contraste entre os papéis da Igreja católica e das Igrejasprotestantes. Há tendência semelhante na literatura sobre a África, na qualas Igrejas mainline (católica, anglicana, etc.) são vistas como importantes nastentativas de democratização <strong>no</strong> início dos a<strong>no</strong>s 1990, e as Igrejas pentecostaise independentes são vistas como baluartes dos regimes de partidoúnico. Tanto na África como na América latina, as análises se concentram <strong>no</strong>estabelecimento da <strong>democracia</strong> e não <strong>no</strong> seu fortalecimento e enraizamentoem práticas sociais, e ig<strong>no</strong>ram ou subestimam fatores ligados a posiçõesrelativas <strong>no</strong> campo religioso e aos contatos internacionais. Não por acaso, aúnica Igreja protestante a contestar oficialmente a repressão <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>(a luterana) é a única Igreja em sentido sociológico. Sua natureza multiclassistalhe deu a capacidade de sentir a realidade social e a condição deprotestar contra ela. Outras Igrejas careciam de base popular que provocassecrise pastoral em parte do clero, ou eram de pobres sem condições deprotestar sem ficarem expostas a todo o peso da repressão.Outros autores nuançam o quadro africa<strong>no</strong>. Para Ranger, a liderançacatólica foi devida à sua estrutura internacional, de maneira que uma Igrejanão democrática pôde ser mais eficaz num momento de crise moral e vaziopolítico do que as Igrejas mais democráticas que sofriam a « subversãolocal » (Ranger 1995 : 20. A Igreja luterana brasileira também precisou deum impulso internacional para que agisse). Além disso, « embora as jaulasde ferro eclesiásticas fossem necessárias para confrontar os regimes,