12.07.2015 Views

Arte conceitual e fotografia - ArtCultura

Arte conceitual e fotografia - ArtCultura

Arte conceitual e fotografia - ArtCultura

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

14Cf. idem, ibidem, p. 266 e 267.15Também Philippe Duboisreporta a prática <strong>conceitual</strong> àlógica do índice, estabelecendouma relação intrínseca entreo produto artístico e o processodo qual é resultado. Cf.DUBOIS, Philippe. “La photographieet l’art contemporain”.In: LEMAGNY, Jean-Claude e ROUILLÉ, André(org.). Histoire de la photographie.Paris: Bordas, 1986, p.241.16Em La linea analitica dell’artemoderna (1975), Filiberto Mennadedica um item à <strong>fotografia</strong>analítica, no qual incluitanto as pesquisas que abolemo uso da câmara (schadografia,rayografia, fotograma)quanto as que usam técnicasde desvio da “ilusão”naturalista (fotomontagem,solarização, negativo, uso deobjetivas e lentes especiaisetc.). As pesquisas conceituaisse inserem nessa segundavertente; discutem a “naturalidade”do signo icônico,colocando-o no mesmo planoconvencional do signo lingüístico(Kosuth, Burgin) ouenfatizando seu aspecto sintático-pragmático(Burgin,Lamelas). O autor situa, numâmbito analítico análogo, asVerificações (1970), de UgoMulas, investigação sobre osdiferentes componentes do atofotográfico; o questionamentoda denotação feito por Josephson,na esteira de RenéMagritte; a decomposição/recomposição estrutural daimagem de Lee Friedlander; aproposta de uma denotaçãoimaginária de Duane Michals;as distorções conotativas deDibbets. No caso de Uma e trêscadeiras, Menna detecta a presençade um jogo inter-semiótico,graças ao qual Kosuthneutraliza qualquer possibilidademetafórica. A obraconsiste numa “espécie deenunciado, cujo juízo não dizrespeito à relação entre signose objeto, e sim à relação entreo plano metalingüístico e oplano da linguagem-objeto,ou seja, entre as definiçõesverbais e icônicas da cadeira ea própria cadeira”. MENNA,Filiberto. La linea analiticadell’arte moderna: le figure e leicone. Torino: Einaudi, 1977,p. 59, 89 e 90, prancha 36.to —, no qual se situam pesquisas voltadas para uma visualização darealidade entendida como seleção e combinação de fragmentos. Hueblere, sobretudo, o casal Becher se destacam nesse tipo de investigação, paraa qual a visualização da realidade desempenha uma dupla função: remeteao gesto de Duchamp e propugna eliminar a distância entre a experiênciavaga e confusa da realidade e sua redução à ordem e à clareza,num processo gradual que torna conscientes e analíticas as imagensperceptivas. Isso remete ao conceito de auto-reflexão sobre os própriosdados oferecidos pela percepção e às operações da intencionalidade. Otrabalho tríplice de Kosuth, que apresenta três diferentes modos de informaçãosobre um objeto, pode ser também examinado à luz desse par,que aprofunda a análise da percepção como fundamento do conhecimento.14Ao propor uma distinção entre um <strong>conceitual</strong> “analítico”, voltadopara um jogo infinito de averiguações e remissões internas à próprialinguagem, e um <strong>conceitual</strong> “mundano”, para o qual a idéia se configuracomo intervenção sobre o mundo, Claudio Marra apresenta a <strong>fotografia</strong>como um instrumento de dilatações mentais que abarcam o sonho,a memória, o espaço e o tempo, entre outros aspectos. À diferençade Rouillé, que não faz qualquer crítica a “Parágrafos sobre a arte<strong>conceitual</strong>”, o autor italiano chama a atenção para uma ambigüidadeque perpassaria o texto de LeWitt. Não é possível colocar, num mesmoplano, números, palavras e <strong>fotografia</strong>s: enquanto os dois primeiros sãosignos altamente codificados, que podem dispensar uma relaçãoreferencial com o mundo, a imagem pertence àquela categoria de signosque Charles S. Peirce denominou “índices”. 15 Uma e três cadeiras representaum exemplo fecundo do papel indicial reservado à <strong>fotografia</strong> nointerior da operação <strong>conceitual</strong>. Tomando como referência a análise propostapor Filiberto Menna 16 , Marra afirma, num primeiro momento, queo cerne do trabalho de Kosuth pode ser buscado na discussão do estatutode analogon do real, habitualmente atribuído ao signo icônico. Aointeragir no interior do triângulo constituído pelo objeto, pela definiçãolingüística e pela imagem, a <strong>fotografia</strong> demonstraria sua artificialidade,devendo ser entendida como linguagem entre as linguagens. O mecanismoengendrado pelo artista não dissipa, porém, as dúvidas sobre a naturezaindicial da <strong>fotografia</strong>; mesmo no interior de jogos analíticos, a imagemtécnica continua a afirmar explicitamente sua profunda inerênciaao mundo. Esse aspecto se torna mais evidente em Uma e três <strong>fotografia</strong>s(1966), integrado por duas imagens fotográficas e uma definição de dicionário.Longe de exasperar o caráter lingüístico pretendido por Kosuth,essa obra, caracterizada pela impossibilidade de estabelecer qualquerdistinção entre signo e objeto, demonstra que, no momento da fruição,imagem e real são intercambiáveis. 17Ao invés de mobilizar a idéia de documento, Marra demonstra,por intermédio de vários exemplos, o papel central da <strong>fotografia</strong> em diversasoperações conceituais. No caso de Ruscha, que realiza levantamentosfotográficos de ambientes e fenômenos, a imagem está integradana operação por sua capacidade de corporificar e materializar a idéia,em virtude da extensão que oferece ao processo mental. Para outro artista,Huebler, recorrer à <strong>fotografia</strong> significa buscar e evidenciar aqueleselementos que por si são capazes de sugerir fruições particulares do24<strong>ArtCultura</strong>, Uberlândia, v. 10, n. 16, p. 19-32, jan.-jun. 2008

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!