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Leia na integra o discurso de tomada de posse de José Manuel ...

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Hotel Altis Lisboa, 3 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 2013Intervenção <strong>de</strong> <strong>José</strong> <strong>Manuel</strong> Constantino <strong>na</strong> <strong>tomada</strong> <strong>de</strong> <strong>posse</strong> comoPresi<strong>de</strong>nte do Comité Olímpico <strong>de</strong> PortugalQuero agra<strong>de</strong>cer a vossa tão significativa presença e o estímulo e incentivo que constituempara o nosso trabalho.As instituições não vivem sem memória. E ela que transmite i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e sentido damissão.Ao assumir a Presidência do Comité Olimpico <strong>de</strong> Portugal é minha obrigação recordartodos quantos ao longo <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> cem anos o serviram, o engran<strong>de</strong>ceram e tor<strong>na</strong>rampossível aqui estarmos hoje imbuídos da nobre missão <strong>de</strong> servir Portugal, <strong>de</strong> servir omovimento olímpico, <strong>de</strong> servir o <strong>de</strong>sporto <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.Mas existe uma palavra especial que é preciso dar aos que nos antece<strong>de</strong>ram e <strong>de</strong> quemrecebemos o testemunho para continuarmos.Quero nesta ocasião prestar em meu nome e da equipa que me acompanha oreconhecimento ao Comandante <strong>José</strong> Vicente Moura pelo modo como diligentementedirigiu os <strong>de</strong>stinos do Comité Olimpico <strong>de</strong> Portugal e o serviço que prestou ao País.Teve <strong>de</strong> enfrentar momentos difíceis, teve <strong>de</strong> lidar, em certos períodos, com um elevadograu <strong>de</strong> instabilida<strong>de</strong> gover<strong>na</strong>tiva, que outros países não tiveram, bateu-se por um mo<strong>de</strong>lo<strong>de</strong> planeamento mais sustentado e que garantisse e maior sucesso <strong>de</strong>sportivo. É da maiselementar justiça reconhecer e valorizar publicamente o seu labor.E faço-o não por cedência a qualquer retórica <strong>de</strong> circunstância mas porque se lhe <strong>de</strong>ve a sie às suas equipas o facto <strong>de</strong> ter elevado o estatuto institucio<strong>na</strong>l do Comité Olimpico <strong>de</strong>Portugal valorizando o seu papel, o seu património e a sua ação <strong>de</strong>sportiva.Como já tive oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lho dizer em privado consi<strong>de</strong>ro um dos traços maisnegativos da nossa vida pública que pessoas que servem as instituições, quando termi<strong>na</strong>m1


os respetivos mandatos, não sejam aproveitado o conhecimento, a experiencia e o prestígioque acumularam. Que o país <strong>de</strong>spreze esse valor.É, por isso, nossa intenção propor ao Comandante <strong>José</strong> Vicente Moura e a todos os Ex-Presi<strong>de</strong>ntes da Comité Olímpico <strong>de</strong> Portugal ainda entre nós, que aceitem missões <strong>de</strong>representação institucio<strong>na</strong>l, no plano interno e externo, e possam <strong>de</strong>sse modo continuar acolocar o seu saber e experiência ao serviço do movimento olímpico.Quero também aproveitar a circunstância para manifestar publicamente ao Comandante<strong>José</strong> Vicente Moura o nosso reconhecimento pelo trabalho que <strong>de</strong>senvolveu em torno doato eleitoral, pela dignida<strong>de</strong> com que o mesmo <strong>de</strong>correu e <strong>de</strong>sejar-lhe sucesso no seu novo<strong>de</strong>safio num clube com assi<strong>na</strong>láveis pergaminhos <strong>de</strong>sportivos e olímpicos.Quero também cumprimentar e agra<strong>de</strong>cer o contributo e o empenho do Engª. <strong>Manuel</strong>Marques da Silva para valorizar esta disputa eleitoral e que teve, como momento <strong>de</strong> altosentido <strong>de</strong>mocrático, a a<strong>de</strong>são massiva às ur<strong>na</strong>s.Minhas Senhoras e meus senhoresNo passado dia 26 <strong>de</strong> Março o <strong>de</strong>sporto português transmitiu ao país, claramente e semequívocos, através da ple<strong>na</strong> participação <strong>de</strong> todo o colégio eleitoral do Comité Olímpico <strong>de</strong>Portugal, uma mensagem clara quanto ao seu futuro.Essa mensagem não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser valorizada.É uma mensagem <strong>de</strong> esperança e <strong>de</strong> mudança.Uma nova e reforçada ambição <strong>de</strong> que é possível vencer o <strong>de</strong>sânimo, a resig<strong>na</strong>ção e oconformismo, mesmo perante as maiores adversida<strong>de</strong>s, e lutar por um <strong>de</strong>sporto mais forte,mais competitivo e mais <strong>de</strong>senvolvido.Neste ato, e perante vós, é esta a responsabilida<strong>de</strong> que assumo.Sei bem que não estou só.2


A meu lado, e com a minha equipa, caminham não ape<strong>na</strong>s os que me elegeram, mastambém aqueles, que não o tendo feito, partilham a ambição <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sporto melhor para oseu país. Sou, portanto, o presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> todos. Com todos, sem exceção, pretendo trabalharnos próximos quatro anos para concretizar este <strong>de</strong>sígnio.Mas permitam-me que as minhas palavras se dirijam, antes <strong>de</strong> tudo, aos que são a razão <strong>de</strong>aqui estarmos.Àqueles a quem, em primeira instância, os nossos esforços <strong>de</strong>vem apontar.Àqueles que, com o apoio dos seus trei<strong>na</strong>dores, alimentam diariamente esta ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> valordo <strong>de</strong>sportoSem os quais não é possível almejar um ensejo <strong>de</strong> mudança. Refiro-me, como não po<strong>de</strong>ria<strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser, aos atletas.Coubertin quando i<strong>de</strong>alizou a renovação dos jogos olímpicos mo<strong>de</strong>rnos fê-lo a pensar <strong>na</strong>juventu<strong>de</strong> <strong>de</strong> todo o mundo. Na realização <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> festa <strong>de</strong>sportiva. Fê-lo a pensarnos atletas.É por vós, atletas, que nós aqui estamos. É o vosso talento, o vosso esforço e a vossasuperação que nos alimentam as esperanças e os sonhos.O <strong>de</strong>sporto é palco <strong>de</strong> múltiplos atores. Mas sem atletas não há <strong>de</strong>sporto. Não é condiçãosuficiente. Mas é necessária.Quero que esta vitória seja a vitória da vossa ambição e do vosso sucesso. E conto<strong>na</strong>turalmente com a vossa participação critica para conseguirmos ultrapassar as dificulda<strong>de</strong>se a ajudar a elevar o nível <strong>de</strong>sportivo do País.Estimadas Senhoras e senhores,3


Antes <strong>de</strong> aceitar o repto <strong>de</strong> candidatura que me lançaram, e que hoje aqui me coloca, fizquestão <strong>de</strong> clarificar que mais importante do que discutir a li<strong>de</strong>rança e os nomes seriadiscutir os objetivos, as estratégias, o planeamento e os critérios <strong>de</strong> constituição da equipa.Só após reflexão sobre as i<strong>de</strong>ias e orientações que publicamente apresentei po<strong>de</strong>ria assumiruma <strong>de</strong>cisão. Foi o que fiz.Tem sido esta a conduta que tem pautado a minha vida pública nos cargos que assumi.Definir uma doutri<strong>na</strong>, um pensamento que alimentem e justifiquem uma ação.É esta a conduta que pretendo manter <strong>na</strong>s funções em que hoje sou empossado.Sendo público, em dois documentos produzidos para o efeito, o nosso pensamento sobre asituação <strong>de</strong>sportiva <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l em diversos domínios <strong>de</strong> intervenção estratégica domovimento olímpico, bem como o programa <strong>de</strong> ação, sufragado <strong>na</strong>s ur<strong>na</strong>s, dispenso-me,nesta ocasião, <strong>de</strong> esgotar a vossa atenção sobre matérias que a qualquer momento po<strong>de</strong>mconsultar, e que espero aprofundar e atualizar ao longo <strong>de</strong>ste quatro anos nos mais diversosfóruns <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate, a começar por aqueles que o COP se propõe realizar no referidoprograma.Outrossim, quero falar-vos do futuro.Importa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já, situar as enormes expectativas geradas durantes este processo eleitoralem torno da dimensão daquilo que nos espera.De on<strong>de</strong> estamos. De on<strong>de</strong> viemos. Para on<strong>de</strong>, e como, queremos ir.Só assim po<strong>de</strong>remos capitalizar ambições, centrar energias, assumir a audácia e o risco paraassumir novos <strong>de</strong>safios, superando contrarieda<strong>de</strong>s e vendo recompensado o esforço e ossacrifícios que, não duvi<strong>de</strong>m, nestes tempos difíceis, serão cada vez mais exigentes.Só assim, não <strong>de</strong>scolando da realida<strong>de</strong> e com o vosso apoio e labor permanentes, o ComitéOlimpico po<strong>de</strong>rá ser uma instituição <strong>de</strong> referência para respon<strong>de</strong>r aos ensejos e ambições<strong>de</strong> mudança, que cimentaram este projeto e o conduziram até aqui.4


Uma instituição aberta, transparente e que assentará a sua ação <strong>na</strong>s fe<strong>de</strong>rações <strong>de</strong>sportivascomo estruturas <strong>de</strong> topo do associativismo <strong>de</strong>sportivo núcleo central do sistema <strong>de</strong>sportivoportuguês.O Comité Olímpico não é um sindicato <strong>de</strong> fe<strong>de</strong>rações, mas não daremos falsas expectativasa ninguém: preten<strong>de</strong>mos um COP ativo, reivindicativo, exigente e com valores <strong>de</strong>li<strong>de</strong>rança sobre o sistema <strong>de</strong>sportivo <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.Dando voz aos que não têm voz e ampliando a daqueles que têm alguma voz.O caminho inicia-se, pois, neste momento. Trata-se <strong>de</strong> uma jor<strong>na</strong>da longa, cujasadversida<strong>de</strong>s continuarão a exigir a perseverança, a solidarieda<strong>de</strong> e o empenho, animadospela vossa esperança num futuro diferente.Portugal, é sabido, vive um momento particularmente <strong>de</strong>licado da sua história. Politica,social e economicamente frágil, no panorama <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l e inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. Cerca-nos um clima<strong>de</strong> instabilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> insegurança quanto ao futuro.Portugal está a empobrecer. E com ele as famílias portuguesas O <strong>de</strong>sporto, <strong>na</strong>turalmente,não vive alheado <strong>de</strong>sta realida<strong>de</strong> e não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser por ela afetado.Praticar <strong>de</strong>sporto é cada vez mais oneroso e o tecido associativo disso se recente. E a<strong>de</strong>svitalização dos clubes e coletivida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sportivas um risco <strong>de</strong> incalculáveis dimensões.Com um po<strong>de</strong>r local fi<strong>na</strong>nceiramente exaurido receia-se que os apoios ao tecido associativolocal e que tão significativos foram no passado, escasseiem no presente.Os problemas da situação <strong>de</strong>sportiva <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l são, nestas circunstâncias, particularmentevulneráveis a um conjunto <strong>de</strong> ameaças que, <strong>de</strong> há longa data, enfermam o seu processo <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento, as quais, ape<strong>na</strong>s pontualmente, são atenuadas.5


De facto, houve um progresso, em diversos fatores <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, que não se refleteno crescimento sustentado dos indicadores <strong>de</strong>sportivos <strong>de</strong> referência. E isso <strong>de</strong>ve sermotivo <strong>de</strong> preocupação e reflexão.Sem uma atitu<strong>de</strong> intelectualmente humil<strong>de</strong> que diagnostique as <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>competitivida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sportiva <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, i<strong>de</strong>ntifique nichos e fatores críticos <strong>de</strong> sucesso, para, apartir daí, se <strong>de</strong>finirem, a vários ciclos olímpicos, metas e objetivos claramentemensuráveis, não é possível implementar uma terapêutica eficaz que vá para além daaplicação <strong>de</strong> paliativos.Não tem sido possível distinguir o que é urgente e prioritário, daquilo que é importante efundamental.Por outro lado, é conveniente dizer, que está con<strong>de</strong><strong>na</strong>da ao fracasso qualquer estratégia <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento do <strong>de</strong>sporto on<strong>de</strong> os seus protagonistas -políticos ou associativos - e assuas instituições, não o saibam valorizar socialmente, através das suas atitu<strong>de</strong>s, dos seuscomportamentos, dos seus <strong>discurso</strong>s, das suas práticas e dos exemplos que dão ao País .Sem que tal aconteça não é expectável a mobilização do país em torno do <strong>de</strong>sporto, paraalém <strong>de</strong> circunstâncias excecio<strong>na</strong>is, cujo exemplo acabado bem traduz o breve afãmediático <strong>na</strong> proximida<strong>de</strong> e durante os Jogos Olímpicos…Perante isto o que esperar do Comité Olimpico <strong>de</strong> Portugal?Numa economia global, o movimento olímpico enquanto repositório <strong>de</strong> um inestimávelpatrimónio cultural, educativo e cívico, que se expressa em diversas e novas áreas como o<strong>de</strong>senvolvimento sustentável, a paz, a integrida<strong>de</strong> das competições, o <strong>de</strong>sporto para todos,a diplomacia económica, a inclusão social ou a cidadania, assume um espectro <strong>de</strong>intervenção transversal no âmbito do <strong>de</strong>sporto, mas também um papel privilegiado <strong>de</strong>ligação e diálogo social, politico, económico e intercultural.Daqui resulta que o Comité Olimpico seja, <strong>na</strong>turalmente, a casa <strong>de</strong> todas as fe<strong>de</strong>rações<strong>de</strong>sportivas: as olímpicas e as não olímpicas. Uma casa on<strong>de</strong> todos <strong>de</strong>vem coabitarin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da expressão e dimensão das suas modalida<strong>de</strong>s6


Um elo com outros sectores <strong>de</strong> complementarida<strong>de</strong> com o <strong>de</strong>sporto, como é o caso doturismo, da cultura, da educação, do ambiente, da saú<strong>de</strong>, do trabalho e da solidarieda<strong>de</strong>social.Dissemo-lo antes: com recursos escassos e uma economia recessiva os ganhos só po<strong>de</strong>mvir do lado das poupanças. Limitando o que sendo oneroso não acrescenta valor.Maximizando as economias <strong>de</strong> escala que a colaboração sinérgica permite obter.Quem se encontra melhor situado que o Comité Olimpico para promover esta colaboraçãosinérgica?O Comité Olimpico tem <strong>de</strong> ser não só um elemento <strong>de</strong> valorização social do <strong>de</strong>sporto, mastambém um facilitador do trabalho e mobilizador <strong>de</strong> recursos para as fe<strong>de</strong>rações<strong>de</strong>sportivas.O movimento <strong>de</strong>sportivo <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l e com ele o Comité Olímpico <strong>de</strong> Portugal <strong>de</strong>vem porisso ser exemplares no modo como colocam à socieda<strong>de</strong> portuguesa o seu papel e ocontributo que preten<strong>de</strong>m dar ao País.Num momento em que está colocada <strong>na</strong> agenda politica a questão da reavaliação ou dare<strong>de</strong>finição do papel social Estado é a altura a<strong>de</strong>quada para que as autorida<strong>de</strong>s políticas<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is tornem claro aquilo que em matéria <strong>de</strong> políticas públicas <strong>de</strong>sportivas preten<strong>de</strong>m<strong>de</strong>dicar-se <strong>de</strong> modo exclusivo, as missões que enten<strong>de</strong>m <strong>de</strong>ver partilhar ou <strong>de</strong>legar emoutros corpos sociais e as tarefas que <strong>de</strong>vem ser do domínio exclusivo da iniciativaassociativa e privada.Um momento que <strong>de</strong>ve ser aproveitado da parte do movimento <strong>de</strong>sportivo <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l paratambém si<strong>na</strong>lizar, à luz das realida<strong>de</strong>s atuais, qual enten<strong>de</strong> <strong>de</strong>verem ser os papéis do Estadoe dos parceiros <strong>de</strong>sportivos, <strong>de</strong>sig<strong>na</strong>damente as fe<strong>de</strong>rações <strong>de</strong>sportivas clarificando-sedomínios <strong>de</strong> intervenção <strong>de</strong> ambos.7


Só <strong>de</strong>sse modo será possível evitar a assunção pelo Estado <strong>de</strong> funções que manifestamenteescapam à sua vocação e assumir as organizações <strong>de</strong>sportivas, atribuições e competênciaspara as quais estão mais aptas e com níveis <strong>de</strong> eficácia superiores.Um dos gran<strong>de</strong>s dramas dos tempos atuais é tendência para uniformizar o que é diferente,a tendência para criar dimensão em vez <strong>de</strong> reduzir, a tendência para padronizar em vez <strong>de</strong>respeitar as diferenças a ânsia em regulamentar em vez <strong>de</strong> responsabilizar.A saída para este dilema tem sido o Estado produzir legislação sobre legislação, procurandomo<strong>de</strong>rnizar por imposição normativa quando <strong>na</strong> realida<strong>de</strong> o que se consegue é, muitasvezes, complicar ainda mais a vida às organizaçõesA obsessão normativista que tem mo<strong>de</strong>lado o sistema <strong>de</strong>sportivo <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, a culturaadministrativista e o clima sufocante <strong>de</strong> diplomas criou mecanismos <strong>de</strong> relacio<strong>na</strong>mentoentre o Estado e os entes privados e associativos que são fi<strong>na</strong>nceiramente onerosas e quebloqueiam muita iniciativa.A cultura do Estado no modo como monitoriza os apoios que conce<strong>de</strong> estrangula ecomplica.Tor<strong>na</strong>-se, portanto, cada vez mais premente que as políticas <strong>de</strong>sportivas - quer as políticaspúblicas, quer as políticas associativas – <strong>de</strong>scompliquem, reduzam disfuncio<strong>na</strong>lida<strong>de</strong>s,eliminem redundâncias, concentrem recursos nos processos críticos para o sucesso<strong>de</strong>sportivo e evitem que estes se dispersem em tarefas laterais e burocráticas que nãoacrescentam valor.Tor<strong>na</strong>-se necessário que nos concentremos no essencial: a produção <strong>de</strong> resultados<strong>de</strong>sportivos.Mas sejamos ainda mais claros!Para elevar o nível e potenciar a competitivida<strong>de</strong> do <strong>de</strong>sporto <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l não basta amobilização <strong>de</strong> meios e vonta<strong>de</strong>s das fe<strong>de</strong>rações, dos po<strong>de</strong>res públicos e dos agentes<strong>de</strong>sportivos.8


Urge que todos, no âmbito da sua missão e no quadro das suas competências, seconcentrem mais no produto e menos nos processos, tendo presente que jamais osprocessos se justificam a si mesmos, mas que <strong>de</strong>vem concorrer para concretizar o mesmofim: a elevação, nos seus diversos níveis, da qualida<strong>de</strong> da prática <strong>de</strong>sportiva em Portugal.Precisamos que se concentrem esforços, energias e meios <strong>na</strong> produção <strong>de</strong> mais e melhoresresultados. Mais e melhores praticantes. Mais e melhores atletas!Está em causa - não nos cansamos <strong>de</strong> o afirmar -, por esta via, aumentar e qualificar aparticipação <strong>de</strong>sportiva <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a <strong>de</strong>teção <strong>de</strong> talentos à gestão pós-carreira. Impulsio<strong>na</strong>r aafirmação do país no espaço europeu e lusófono esbatendo as diferenças que nos separam<strong>de</strong> países com potencial semelhante. Generalizar a prática <strong>de</strong>sportiva nos diversossegmentos populacio<strong>na</strong>is, atraindo parceiros e envolvendo a socieda<strong>de</strong>. Valorizar o papel ea intervenção da mulher no <strong>de</strong>sporto. Preservar e divulgar os valores do Olimpismo.Estimular a educação para o <strong>de</strong>sporto e para o olimpismo.Trata-se <strong>de</strong> calibrar o sistema entre as responsabilida<strong>de</strong>s do Estado e os <strong>de</strong>veres dosagentes e organismos <strong>de</strong>sportivos, em torno <strong>de</strong> uma clara estratégia <strong>integra</strong>da para o<strong>de</strong>senvolvimento sustentado do <strong>de</strong>sporto português, a partir da qual, no respeito pelavocação e missão <strong>de</strong> cada um, se estabeleçam as respectivas políticas setoriais.Para isso, há que separar a gestão política e o controlo da legalida<strong>de</strong>, a cargo do Estado, dagestão, coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção e supervisão, técnica e estratégica, da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sportiva, a cargo dasentida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sportivas e do Comité Olímpico <strong>de</strong> Portugal.As organizações <strong>de</strong>sportivas não são empresas e as políticas <strong>de</strong>sportivas não po<strong>de</strong>m serprejudicadas por procedimentos contabilísticos <strong>de</strong> quem prefere “contas certinhas” do queresultados <strong>de</strong>sportivos.É incompreensível que as avaliações <strong>de</strong> auditoria incidam sempre sobre os processosadministrativos e contabilísticos tão ao gosto dos burocratas e não sobre o essencial: aprodução <strong>de</strong> resultados <strong>de</strong>sportivos.9


As organizações <strong>de</strong>sportivas são entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> direito privado não são prolongamentos doEstado on<strong>de</strong> o labiríntico direito público administrativo penetra e contami<strong>na</strong> todo osistema <strong>de</strong>sportivo <strong>de</strong>sviando o foco das organizações <strong>de</strong>sportivas do essencial e que são asua razão <strong>de</strong> ser :o <strong>de</strong>sporto.Como o Estado <strong>de</strong>lega fe<strong>de</strong>rações <strong>de</strong>sportivas funções <strong>de</strong> <strong>na</strong>tureza pública é óbvio quetudo <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>vidamente contratualizado e escruti<strong>na</strong>do como se exige quando está emcausa a boa gestão <strong>de</strong> recursos públicos, conferindo a necessária estabilida<strong>de</strong> e segurança aoenquadramento jurídico dos processos.Com bons senso, equilíbrio e sentido <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> não afastando as organizações<strong>de</strong>sportivas daquilo que é a sua missão e vocação fundamentais. Aquilo para que existem:organizar e <strong>de</strong>senvolver o <strong>de</strong>sporto.Estabilida<strong>de</strong> e segurança são valores fundamentais que, no âmbito da regulação pública, eno âmbito da regulação <strong>de</strong>sportiva, carecem <strong>de</strong> ser melhor preservados.Não se presta um bom serviço ao país quando as referências normativas sãorecorrentemente modificadas ou ignoradas, sem cuidar <strong>de</strong> avaliar e acautelar a sua boaaplicação.Não se presta um bom serviço ao país quando não se amadurecem, e se dissipam <strong>na</strong>espuma dos dias, as referências normativas que <strong>de</strong>vem consolidar a estrutura e a orgânicado sistema <strong>de</strong>sportivo, essenciais para orientar a programação e a ação dos agentes noterreno.No fundo, não se presta um bom serviço ao país quando a regulação se afigura mais comoum obstáculo e menos como um incentivo. Mais como uma dificulda<strong>de</strong> e menos como umestímulo. Contribui mais para nos distanciar do que para nos aproximar <strong>de</strong> garantir odireito <strong>de</strong> todos ao <strong>de</strong>sporto consagrado <strong>na</strong> nossa Constituição.10


Nos afasta daquilo que dizia Coubertin:“Um país po<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar-se realmente <strong>de</strong>sportivo quando a maior parte <strong>de</strong> seus habitantes sente o <strong>de</strong>sportocomo uma necessida<strong>de</strong> pessoal”Minhas senhoras e meus senhores,Existem nesta altura para o movimento olímpico <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l um conjunto <strong>de</strong> dossiers e <strong>de</strong>matérias que importa discutir e <strong>de</strong>finir com o governo .Espero <strong>na</strong>turalmente que o governoas queira também a<strong>na</strong>lisar e discutir com o Comité Olímpico.E porque assim penso, nesta circunstância, a elas não me referirei. Não quero que qualquerexposição pública ou <strong>tomada</strong> <strong>de</strong> posição prejudique a consensualização ente a vonta<strong>de</strong> doGoverno e o Comité Olímpico. Existe um espaço próprio para o fazer: <strong>na</strong>s relações econversações bilaterais.Com frontalida<strong>de</strong>, com sentido <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> serviçopúblico.Não contem comigo para <strong>de</strong>ixar recados ou para aproveitar o palco publico para afrontarquem quer que seja. E por mais razões que tivesse no plano pessoal, aten<strong>de</strong>ndo ao que sedisse, ao que se fez e escreveu a meu respeito e dos que me acompanham, a minharesponsabilida<strong>de</strong> é agora <strong>de</strong> <strong>na</strong>tureza institucio<strong>na</strong>l. Saberei separar as águas. Sabereidistinguir os meus estados <strong>de</strong> alma das responsabilida<strong>de</strong>s institucio<strong>na</strong>is Não porque sofra<strong>de</strong> qualquer síndrome amnésico e esqueça com facilida<strong>de</strong>, mas porque o exige as funções<strong>de</strong> serviço público que passo agora a exercer.Caros amigos,O Comité Olimpico é uma instituição <strong>de</strong> referência. Mas <strong>na</strong>da o impe<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser umainstituição <strong>de</strong> irreverência. De ousadia. De insatisfação. De inquietu<strong>de</strong>. Uma instituiçãocapaz <strong>de</strong> traçar novas estratégias, novas leituras da realida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> impedir a cristalização dasi<strong>de</strong>ias, <strong>de</strong> ser capaz <strong>de</strong> evitar uma gestão cinzenta do quotidiano, <strong>de</strong> viver aniquilado pelacrise e pelo pós-crise.11


Uma instituição que não po<strong>de</strong> viver enclausurada num Olimpo i<strong>na</strong>cessível à socieda<strong>de</strong> e atodos os que gostam do <strong>de</strong>sporto.O Comité Olimpico tem <strong>de</strong> abrir as suas portas e as suas janelas à entrada da cultura, dosaber, do conhecimento e da ciência.Ensinou-nos o pai do olimpismo mo<strong>de</strong>rno, Pierre <strong>de</strong> Coubertin, que a cultura e o <strong>de</strong>sportonão são realida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sirma<strong>na</strong>das.O <strong>de</strong>sporto como fenómeno social total interessa à cultura, mas a cultura comosuplemento arguto que ajuda a ler e a compreen<strong>de</strong>r a realida<strong>de</strong> só po<strong>de</strong> interessar aoDesporto.A simplicida<strong>de</strong> é sempre mais atrativa que a complexida<strong>de</strong> e a fé mais confortante quedúvida.Mas o mundo não está para apreciações simplistas. E por isso não vale a pe<strong>na</strong> discutirsoluções antes <strong>de</strong> perceber os problemas.Deixemos que a história e a filosofia, a economia e a sociologia ou a antropologia nosinquietem <strong>na</strong>s nossas certezas. Sem <strong>de</strong>scurarmos as ciências do rendimento <strong>de</strong>sportivo quenos ajudam a otimizar o talento <strong>de</strong>sportivo.Enfrentar a dimensão dos <strong>de</strong>safios que se colocam no contexto em que hoje vivemos exigemais conhecimento e mais saber que nos posicionem numa rota <strong>de</strong> mudança duradoura enão ape<strong>na</strong>s circunstancial.Para tal são necessárias organizações mais competentes, mais exigentes, mais <strong>de</strong>mocráticas,mais transparentes, mais cultas, melhor organizadas e melhor gover<strong>na</strong>das. A começar pelaorganização a que presido a partir <strong>de</strong>sta data.Neste sentido, o COP carece <strong>de</strong> uma estrutura <strong>de</strong> gover<strong>na</strong>ção e <strong>de</strong> um regime estatutáriocompaginável com as disposições da Carta Olímpica, à altura das exigências <strong>de</strong> um<strong>de</strong>sporto mo<strong>de</strong>rno no quadro <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> globalizada e <strong>de</strong> uma economia <strong>de</strong>12


mercado. Ajustada à transversalida<strong>de</strong> da missão do movimento olímpico expressa nostextos <strong>de</strong> referência do Comité Olímpico Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. À altura dos <strong>de</strong>safios que nosesperam.Afirmei-o <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o princípio, repito-o agora. Não assumimos um projeto <strong>de</strong> rutura.Li<strong>de</strong>ramos um projeto <strong>de</strong> mudança disposto a trabalhar em prol <strong>de</strong> um futuro melhor. Umfuturo com mais pessoas a praticar. Mais atletas a competir. Mais trei<strong>na</strong>dores competentesa enquadrar. Mais dirigentes qualificados a gerir e a organizar. Melhores espetáculos<strong>de</strong>sportivos.Com mais espectadores.Trabalhando não para os dirigentes mas para todos: atletas, trei<strong>na</strong>dores, árbitros, pessoalmédico e paramédico.Tor<strong>na</strong>r possível tal futuro é a vonta<strong>de</strong> e o empenho daqueles que me acompanham e, <strong>de</strong>s<strong>de</strong>a primeira hora, tudo fizeram para que li<strong>de</strong>rasse a missão <strong>de</strong> serviço publico que hoje aquiassumo.Para elevar o valor <strong>de</strong>sportivo do país, este projeto orienta-se por um <strong>de</strong>sígnio mobilizador<strong>de</strong> maior envolvimento da socieda<strong>de</strong> portuguesa com o <strong>de</strong>sporto, contribuindo para umacidadania <strong>de</strong>sportiva mais exigente e informada, e para o escrutínio <strong>de</strong> uma opinião públicamais critica e conhecedora.Assumindo o risco e a audácia em direção a esse futuro e animados por este <strong>de</strong>sígnio.Para o concretizar, é chegado o momento em que precisamos <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sporto coeso econfiante, permanecendo firme e perseverante no empenho, no rigor e no trabalho que nosconduziu até aqui.Po<strong>de</strong>m contar connosco para ir mais longe, mais alto e mais forte e assim, confiantes,ajudar a valorizar socialmente este bem intemporal e <strong>de</strong> inestimável valor que é o <strong>de</strong>sporto,respeitando, em cada <strong>de</strong>cisão, e a cada momento, o legado que herdámos dos paisfundadores do olimpismo mo<strong>de</strong>rno.13


E é para o conseguirmos que conto convosco.Obrigado.Lisboa,3 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 2013<strong>José</strong> <strong>Manuel</strong> Constantino14

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