Calidoscópio212Embora o primeiro artigo a propor a S<strong>em</strong>ântica<strong>de</strong> Frames tenha sido Frame s<strong>em</strong>antics and the nature <strong>of</strong>language (Fillmore, 1976), Fillmore já vinha trabalhandocom a idéia <strong>de</strong> papéis t<strong>em</strong>áticos na <strong>de</strong>scrição do significadoverbal <strong>de</strong>s<strong>de</strong> seu famoso artigo <strong>The</strong> case for case (1968).No entanto, a S<strong>em</strong>ântica <strong>de</strong> Frames só encontra terren<strong>of</strong>értil para o seu <strong>de</strong>senvolvimento no final da década <strong>de</strong>90, a partir da criação da base <strong>de</strong> dados lexicais FrameNet,que t<strong>em</strong> a S<strong>em</strong>ântica <strong>de</strong> Frames como sua base teórica.Levin e as classes verbais e alternânciasEm seu trabalho English Verb Classes and Alternations,Levin (1993, p. 1) parte da hipótese <strong>de</strong> queo comportamento do verbo, particularmente no que dizrespeito à expressão e interpretação <strong>de</strong> seus argumentos, é<strong>de</strong>terminado <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> parte pelo seu significado. Levinagrupa os <strong>verbos</strong> da língua inglesa <strong>em</strong> classes s<strong>em</strong>ânticas<strong>de</strong> acordo com as alternâncias sintáticas permitidas porcada classe.As alternâncias são divididas <strong>em</strong> três gran<strong>de</strong>sgrupos, <strong>de</strong> acordo com a estrutura sintática envolvida(Levin, 1993, p. 22): o primeiro grupo inclui alternânciasna transitivida<strong>de</strong> do verbo, o segundo grupo envolvealternâncias internas ao sintagma verbal que não afetama transitivida<strong>de</strong> do verbo e o terceiro grupo inclui umadiversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alternâncias que afetam a transitivida<strong>de</strong>do verbo diminuindo a sua valência sintática, como oalçamento do compl<strong>em</strong>ento oblíquo para sujeito, a reflexivizaçãoe a passivização.Levin (1993, p. 195) apresenta uma extensa lista<strong>de</strong> <strong>verbos</strong> <strong>de</strong> <strong>julgamento</strong>, divididos entre <strong>verbos</strong> positivose <strong>verbos</strong> negativos:Verbos Positivos: acclaim, applaud, bless, celebrate, commend,compensate, compliment, congratulate, eulogize, excuse, extol,felicitate, forgive, greet, hail, honor, laud, pardon, praise, recompense,r<strong>em</strong>unerate, repay, reward, salute, thank, toast, welcome.Verbos Negativos: abuse, backbite, calumniate, castigate,censure, chasten, chastise, chi<strong>de</strong>, con<strong>de</strong>mn, criticize, <strong>de</strong>cry,<strong>de</strong>fame, <strong>de</strong>nigrate, <strong>de</strong>nounce, <strong>de</strong>precate, <strong>de</strong>ri<strong>de</strong>, disparage,fault, fine, impeach, insult, lambaste, malign, mock, penalize,persecute, prosecute, punish, rebuke, reprimand, reproach,reprove, revile, ridicule, scold, scorn, shame, snub, upbraid,victimize, vilify.Segundo Levin (1993), essa classe verbal apresentaas seguintes proprieda<strong>de</strong>s:(1) Não permite a redução da transitivida<strong>de</strong> verbal,tornando o verbo intransitivo:(a) <strong>The</strong> director praised the volunteers.(b) *Volunteers praise easily.(2) Permite a expressão do possuído <strong>em</strong> sintagmapreposicional:(a) <strong>The</strong>y praised the volunteers’ <strong>de</strong>dication.(b) <strong>The</strong>y praised the volunteers for their <strong>de</strong>dication.(3) Não permite a expressão do possuidor <strong>em</strong>sintagma preposicional:a. <strong>The</strong>y praised the volunteers’ <strong>de</strong>dication.b. *<strong>The</strong>y praised the <strong>de</strong>dication in the volunteers.(4) Alguns <strong>verbos</strong> permit<strong>em</strong> a expressão do avaliadoapós preposição as:(a) <strong>The</strong>y praised th<strong>em</strong> as volunteers.(b) *<strong>The</strong>y praised th<strong>em</strong> volunteers.(5) Alguns <strong>verbos</strong> permit<strong>em</strong> diferentes formas <strong>de</strong>expressar a posse:the committee’s con<strong>de</strong>mnation <strong>of</strong> the policythe policy’s con<strong>de</strong>mnation by the committeethe con<strong>de</strong>mnation <strong>of</strong> the policy by the committeeA abordag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Levin (1993) está mais focada naestrutura dos <strong>verbos</strong> que no significado. As alternânciassintáticas não são capazes <strong>de</strong> explicar que o significado doverbo to praise (elogiar) está relacionado à comunicação<strong>de</strong> um <strong>julgamento</strong> pessoal e que o verbo to reprove (reprovar)está relacionado ao evento do <strong>julgamento</strong>, ou seja,a comunicação do <strong>julgamento</strong> não necessita ser expressa.As alternâncias verbais também não são capazes<strong>de</strong> explicar a natureza s<strong>em</strong>ântica das alternâncias noscompl<strong>em</strong>entos verbais. Também não explica que o sujeitodo verbo to praise é do tipo comunicador e que o sujeitodo verbo to reprove é do tipo avaliador. Se a abordag<strong>em</strong><strong>de</strong> classes verbais e alternâncias é capaz <strong>de</strong> elaborar umamplo inventário das características sintáticas <strong>de</strong> gruposs<strong>em</strong>ânticos <strong>de</strong> <strong>verbos</strong>, por outro lado ela consegue explicarmuito pouco sobre a s<strong>em</strong>ântica <strong>de</strong>sses grupos verbais.<strong>Os</strong> <strong>verbos</strong> <strong>de</strong> <strong>julgamento</strong>e a S<strong>em</strong>ântica <strong>de</strong> FramesEsta seção apresenta a S<strong>em</strong>ântica <strong>de</strong> Frames, aFrameNet e a forma como a FrameNet <strong>de</strong>screve os <strong>verbos</strong><strong>de</strong> <strong>julgamento</strong>. A S<strong>em</strong>ântica <strong>de</strong> Frames é a teoria que seestá aplicando ao estudo contrastivo, buscando, a partir<strong>de</strong>ssa teoria, parâmetros que possam auxiliar no <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> léxicos computacionais multilíngues. A<strong>de</strong>scrição dos <strong>verbos</strong> <strong>de</strong> <strong>julgamento</strong> na FrameNet será oponto <strong>de</strong> partida para o estudo contrastivo.A S<strong>em</strong>ântica <strong>de</strong> FramesA S<strong>em</strong>ântica <strong>de</strong> Frames é uma teoria pertencente aum mo<strong>de</strong>lo linguístico conhecido por Linguística Cognitiva.A Linguística Cognitiva é constituída por diferentesteorias. Segundo Silva (1997), a Linguística Cognitiva éuma abordag<strong>em</strong> que se opõe aos dois paradigmas linguísticosanteriores (o estruturalismo e o gerativismo) pelanegação da tese da autonomia da linguag<strong>em</strong>.Silva (1997) consi<strong>de</strong>ra a S<strong>em</strong>ântica <strong>de</strong> Framescomo um mo<strong>de</strong>lo cognitivo e cultural. Conforme Silva(1997), os mo<strong>de</strong>los cognitivos e culturais são estruturas <strong>de</strong>An<strong>de</strong>rson Bertoldi, Rove Luiza <strong>de</strong> Oliveira Chishman, Hans C. Boas