12.07.2015 Views

Imagens do Juízo Final no Conto "Vozes Ceifadas" de Júlio de ...

Imagens do Juízo Final no Conto "Vozes Ceifadas" de Júlio de ...

Imagens do Juízo Final no Conto "Vozes Ceifadas" de Júlio de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Revista Eletrônica <strong>do</strong> Núcleo <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s e Pesquisa <strong>do</strong> Protestantismo (NEPP) da Escola Superior <strong>de</strong> TeologiaVolume 13, mai.-ago. <strong>de</strong> 2007 – ISSN 1678 6408Diante da sua vasta produção literária, optei em analisar o conto cita<strong>do</strong>(“<strong>Vozes</strong> Ceifadas”), pois o mesmo interage com os relatos bíblicos, dan<strong>do</strong> vida e voza um personagem que geralmente fica à margem tanto <strong>do</strong> próprio relato bíblicoquanto da literatura e das expressões culturais; Hero<strong>de</strong>s que, <strong>no</strong> conto, expressa, <strong>de</strong>forma ficcional, suas <strong>do</strong>res e anseios diante <strong>do</strong> seu juízo final e morte. É importanteressaltar que esse conto se encontra <strong>no</strong> último livro <strong>de</strong> Queiroz, Perfume <strong>de</strong> Eternida<strong>de</strong>.O conto “<strong>Vozes</strong> Ceifadas” dialoga com o texto bíblico <strong>do</strong> Evangelho <strong>de</strong>Mateus, especificamente 2.16 1 , dan<strong>do</strong> voz a Hero<strong>de</strong>s:Sabia estar morren<strong>do</strong>. Isto não lhe era gran<strong>de</strong> preocupação, <strong>de</strong>s<strong>de</strong>que não <strong>do</strong>esse. Mas <strong>do</strong>ía terrivelmente... Morrer não o entristecia.Tinha vivi<strong>do</strong> muito. Assimilara, com adaptações aos interesses <strong>de</strong> suacarreira política... Estava na Galiléia para on<strong>de</strong> viera bani<strong>do</strong> porCésar. Não lhe <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong>smontar a trama tecida por seu sobrinho,Hero<strong>de</strong>s Agripa. 2Como vemos, o narra<strong>do</strong>r dá voz a Hero<strong>de</strong>s que, <strong>no</strong> conto, vai <strong>de</strong>screven<strong>do</strong>suas <strong>do</strong>res, por conta <strong>do</strong> câncer que foi <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> ao longo <strong>do</strong>s a<strong>no</strong>s em que lutoupelo po<strong>de</strong>r frente ao Império Roma<strong>no</strong> e, conseqüentemente, junto aos ju<strong>de</strong>us, ten<strong>do</strong>agora que se <strong>de</strong>frontar com o julgamento em vida.Conforme Rubem Alves 3 , “quan<strong>do</strong> chega a hora da morte, chega a hora <strong>de</strong> secontar estórias” e, neste contexto, a ficção toma contor<strong>no</strong>s <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>. A partir<strong>de</strong>stas histórias, o julgamento <strong>de</strong> Hero<strong>de</strong>s vai toman<strong>do</strong> forma através <strong>de</strong> elementosescatológicos e apocalípticos, “como um relâmpago inespera<strong>do</strong> numa tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> calorasfixiante, um espectro tomou forma. Sentou-se sobre um <strong>do</strong>s coxins. Com a mãodiáfama e <strong>de</strong>scarnada chamou-o” 4 .1 “Então Hero<strong>de</strong>s, ven<strong>do</strong>-se iludi<strong>do</strong> pelos magos, foi acometi<strong>do</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> fúria e man<strong>do</strong>u matar, emBelém e to<strong>do</strong> o seu território, to<strong>do</strong>s os meni<strong>no</strong>s <strong>de</strong> até <strong>do</strong>is a<strong>no</strong>s, segun<strong>do</strong> o tempo <strong>de</strong> que ele sehavia certifica<strong>do</strong> com os magos”.2 QUEIROZ, <strong>Júlio</strong> <strong>de</strong>. Perfume <strong>de</strong> Eternida<strong>de</strong>. Florianópolis: Insular, 2006. p. 33.3 ALVES, Rubem. Tempus Fugit. São Paulo: Paulinas, 1990. p. 92.4 ALVES, 1983, p. 34.Disponível na Internet: http://www3.est.edu.br/nepp 8


Revista Eletrônica <strong>do</strong> Núcleo <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s e Pesquisa <strong>do</strong> Protestantismo (NEPP) da Escola Superior <strong>de</strong> TeologiaVolume 13, mai.-ago. <strong>de</strong> 2007 – ISSN 1678 6408Quan<strong>do</strong> falamos em juízo final ou julgamento final, precisamos <strong>no</strong>sapropriar <strong>do</strong> termo teológico <strong>de</strong><strong>no</strong>mina<strong>do</strong> escatologia. Segun<strong>do</strong> Roldàn,a expressão ‘escatologia’ vem <strong>de</strong> <strong>do</strong>is vocábulos gregos: éscahtos (=‘último’, ‘fim’) e logía (logos = palavra, discurso, trata<strong>do</strong>). Portanto,‘escatologia’ significa o discurso teológico que trata das coisas últimasou finais da história <strong>do</strong> ser huma<strong>no</strong> e <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. 11A escatologia sempre permeou a literatura lati<strong>no</strong>-americana através <strong>de</strong> sualinguagem apocalíptica. Segun<strong>do</strong> Russell,A palavra ‘apocalíptica’ <strong>de</strong>riva <strong>do</strong> substantivo grego apocalypsis, quesignifica ‘revelação’. Seu uso, <strong>no</strong> entanto, como referência a essegênero literário, se <strong>de</strong>ve, com toda probabilida<strong>de</strong>, não ao caráterrevelatório <strong>do</strong>s livros em questão, mas antes ao fato <strong>de</strong> que eles têmmuito em comum com o Apocalipse <strong>do</strong> Novo Testamento, com sualinguagem esotérica, seu estranho simbolismo e seuspronunciamentos relativos à consumação <strong>de</strong> todas as coisas emcumprimento das promessas <strong>de</strong> Deus. 12Assim, verificamos sinais escatológicos e apocalípticos <strong>no</strong> mexica<strong>no</strong> OtavioPaz, <strong>no</strong> perua<strong>no</strong> Mario Vargas Llosa, <strong>no</strong> brasileiro Eucli<strong>de</strong>s da Cunha e <strong>no</strong>sargenti<strong>no</strong>s Ernesto Sabato e Jorge Luis Borges, <strong>de</strong>ntre outros escritores lati<strong>no</strong>america<strong>no</strong>s.Na perspectiva bíblico-teológica, julgamento, segun<strong>do</strong> o DicionárioInternacional <strong>de</strong> Teologia, tem o seguinte entendimento:Para Paulo e a igreja primitiva, Jesus é o juiz <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, comotambém Deus, o Pai, é...O juiz é o Salva<strong>do</strong>r. O juízo já pesa sobre os<strong>de</strong>screntes porque recusam o Salva<strong>do</strong>r, enquanto os crentes escapamà con<strong>de</strong>nação (Jo 3:16 e segs.; 11:25-26). Tem confiança ao aguardaremo dia <strong>do</strong> juízo, e esta confiança se traduz em resulta<strong>do</strong>s éticos aqui eagora. A tensão escatológica nas <strong>de</strong>clarações acerca <strong>do</strong> juízo não se<strong>de</strong>sfaz, nem mediante a ênfase <strong>no</strong> Apocalipse quanto a ser ele futuro,embora os elementos apocalípticos figurem <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> diferente.Somente o evangelho revela plenamente a ira <strong>de</strong> Deus (Rm caps. 1-3),11 ROLDÀN, Alberto Fernan<strong>do</strong>. Do terror à esperança: paradigmas para uma escatologia integral.Londrina: Descoberta, 2001. p. 50.12 RUSSEL, 1978 apud ROLDÀN, 2001, p. 59.Disponível na Internet: http://www3.est.edu.br/nepp 10


Revista Eletrônica <strong>do</strong> Núcleo <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s e Pesquisa <strong>do</strong> Protestantismo (NEPP) da Escola Superior <strong>de</strong> TeologiaVolume 13, mai.-ago. <strong>de</strong> 2007 – ISSN 1678 6408na medida em que é pregada a “a palavra da cruz”. Cristo “está<strong>de</strong>stina<strong>do</strong> tanto a para a ruína como para levantamento <strong>de</strong> muitos”(Lc 2:34). 13Diante <strong>de</strong>ssa conceituação e contextualização <strong>de</strong> escatologia e <strong>de</strong>apocalíptica, voltamos <strong>no</strong>ssos olhos para o evento <strong>do</strong> juízo final, apontan<strong>do</strong> para otexto <strong>de</strong> Queiroz, já que o mesmo é carrega<strong>do</strong> <strong>de</strong> elementos míticos e simbólicos.Assim, é importante verificar o texto bíblico <strong>de</strong> Apocalipse 14.14-16 14 . Nota-se <strong>no</strong>conto que, para dar colori<strong>do</strong> e forma ao julgamento, o autor utiliza elementos bíblicoteológicosque fazem alusão ao infer<strong>no</strong> tanto <strong>de</strong> forma direta como indireta. “Oinfer<strong>no</strong> é feito <strong>de</strong> mentiras. Vocês vieram <strong>do</strong> infer<strong>no</strong>” 15 .Ao que parece, o ha<strong>de</strong>s dá vida ao castigo <strong>do</strong> juízo final <strong>de</strong> formafantasmagórica e alegórica, com um simbolismo semelhante ao texto bíblico <strong>de</strong>Apocalipse. De alguma forma, Queiroz, como citamos acima, recorre ao ha<strong>de</strong>s emseu conto para narrar como Hero<strong>de</strong>s se relaciona com o punitivo, com o <strong>de</strong>mônico.Dessa forma, é importante para tal entendimento conceituar a expressão ha<strong>de</strong>steologicamente:A etimologia da palavra ha<strong>de</strong>s é incerta. Ou se <strong>de</strong>riva <strong>de</strong> i<strong>de</strong>in(“ver”), com o prefixo <strong>do</strong> negativo, a-, e, assim, significaria o“invisível”; ou se vincula com aianes, e teria o significa<strong>do</strong>,originalmente, “lúgubre”, “horripilante”. Ha<strong>de</strong>s ocorre em Homero(na forma <strong>de</strong> Ai<strong>de</strong>s) como <strong>no</strong>me próprio <strong>do</strong> <strong>de</strong>us <strong>do</strong> outro mun<strong>do</strong> (II,15, 188), enquanto, <strong>no</strong> restante da literatura gr., representa o outromun<strong>do</strong> como habitação <strong>do</strong>s mortos que ali existem como sombras (cf.Hesío<strong>do</strong>, Theog., 455; Homero, Od., 4, 834). Depois <strong>de</strong> Homero, po<strong>de</strong>significar o “sepulcro”, “morte”. Foi apenas paulatinamente que osgregos também ligaram a este conceito as idéias <strong>de</strong> – galardão e –castigo. Os bons e os justos recebiam recompensas <strong>no</strong> ha<strong>de</strong>s, <strong>no</strong>mesmo lugar on<strong>de</strong> os maus e os ímpios recebiam recompensas <strong>no</strong>13 COLIN; LOTRHAR, 2000, p. 1105.14 “E eu vi: Era uma nuvem branca e sobre a nuvem, sentava-se alguém semelhante a um como filho<strong>de</strong> homem. Ele tinha uma coroa <strong>de</strong> ouro na cabeça e uma foice afiada na mão. Nisso, outro anjosaiu <strong>do</strong> templo, e gritou com voz forte ao que estava senta<strong>do</strong> sobre a nuvem: Lança a tua foice eceifa. Chegou a hora <strong>de</strong> ceifar, pois a seara da terra está madura. Então, o que estava senta<strong>do</strong> sobrea nuvem lançou sua foice sobre a terra, e a terra foi ceifada”.15 QUEIROZ, 2006, p. 35.Disponível na Internet: http://www3.est.edu.br/nepp 11


Revista Eletrônica <strong>do</strong> Núcleo <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s e Pesquisa <strong>do</strong> Protestantismo (NEPP) da Escola Superior <strong>de</strong> TeologiaVolume 13, mai.-ago. <strong>de</strong> 2007 – ISSN 1678 6408ha<strong>de</strong>s, <strong>no</strong> mesmo lugar on<strong>de</strong> os maus e os ímpios recebiam umavarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> castigos. No Gr. Cl. Também é soletra<strong>do</strong> Ai<strong>de</strong>s (Iônico),Aidas (Dórioco). 16Vemos Hero<strong>de</strong>s sofrer por conta <strong>de</strong> suas atrocida<strong>de</strong>s narradas <strong>no</strong>sEvangelhos, em especial <strong>no</strong> texto <strong>de</strong> Mateus, que <strong>de</strong>screve a busca incansável porJesus (Mt 2:1-3) para lhe ceifar a vida e, em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> sua tentativa frustrada,manda matar to<strong>do</strong>s os meni<strong>no</strong>s <strong>de</strong> Belém (Mt 2:16). Neste estágio da narrativa <strong>do</strong>conto, Queiroz dá voz a estas vidas ceifadas que buscam a justiça, “-Nunca vinenhum <strong>de</strong> vocês! Como po<strong>de</strong>ria ter mata<strong>do</strong>? Há um enga<strong>no</strong> terrível! O infer<strong>no</strong> éfeito <strong>de</strong> mentiras. Vocês vieram <strong>do</strong> infer<strong>no</strong> para me mentir” 17 .“Com um tal infer<strong>no</strong> <strong>no</strong> peito, como é possível viver?”, interroga Ivan, em Osirmãos Karamazovi 18 . Hero<strong>de</strong>s sofria por conta <strong>de</strong> seu infer<strong>no</strong> que se instalava atravésda <strong>do</strong>ença, “forças malditas <strong>do</strong>s infer<strong>no</strong>s, por que se juntarem às <strong>do</strong>res <strong>do</strong> meucorpo?” 19 , assim, Hero<strong>de</strong>s vai perceben<strong>do</strong> que não podia exercer o papel que semprebuscou, o <strong>de</strong> Deus (At 12.20-23), se con<strong>de</strong>nan<strong>do</strong> em vida.Como <strong>no</strong>tamos, o conto <strong>de</strong> Queiroz recorre à escatologia e à apocalípticaseguin<strong>do</strong> a marca <strong>de</strong> outros escritores lati<strong>no</strong>-america<strong>no</strong>s. Ou seja, o religioso permeia<strong>no</strong>ssa cultura. Conforme Paul Tillich, “a linguagem é a criação cultural básica. Poroutro la<strong>do</strong>, não há criação cultural sem que se expresse nela uma preocupaçãoúltima” 20 . Assim, o bem e o mal sempre terão espaço na cultura <strong>do</strong> oci<strong>de</strong>nte que julgae leva o indivíduo constantemente ao juízo final, tanto por influência <strong>no</strong> âmbitoreligioso como <strong>no</strong> psicológico e <strong>no</strong> moral.16 BROWN, Colin; CONEN, Lothar (Orgs.). Dicionário Internacional <strong>de</strong> Teologia <strong>do</strong> Novo Testamento. 2.ed. São Paulo: Vida Nova, 2000. p. 1022.17 QUEIROZ, 2006, p. 35.18 GUARDINI, 1954 apud TORRES, Queiruga Andrés. O que queremos dizer quan<strong>do</strong> dizemos “infer<strong>no</strong>”?São Paulo: Paulus, 1996. p. 52.19 QUEIROZ, 2006, p. 35.20 TILLICH, Paul. Teologia <strong>de</strong> la cultura y otros ensayos. Bue<strong>no</strong>s Aires: Amorrortu editores, 1974. p. 46.Disponível na Internet: http://www3.est.edu.br/nepp 12


Revista Eletrônica <strong>do</strong> Núcleo <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s e Pesquisa <strong>do</strong> Protestantismo (NEPP) da Escola Superior <strong>de</strong> TeologiaVolume 13, mai.-ago. <strong>de</strong> 2007 – ISSN 1678 6408Com isso, o ser huma<strong>no</strong>, <strong>de</strong> alguma forma, tenta expressar sua insatisfaçãodiante <strong>do</strong> mal e <strong>do</strong>s <strong>de</strong>sígnios que o mesmo traz, e isso po<strong>de</strong> ser <strong>no</strong>ta<strong>do</strong> tanto naliteratura como <strong>no</strong>s câ<strong>no</strong>nes das escrituras Sagradas.As metáforas usadas pela literatura <strong>do</strong> Antigo Testamento e, porextensão, <strong>do</strong> Novo Testamento, para expressar a brutalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> mal,são rigorosamente a imagem <strong>do</strong> feio, <strong>do</strong> horrível, daquilo que incute<strong>no</strong> ser huma<strong>no</strong> o sentimento profun<strong>do</strong> <strong>de</strong> me<strong>do</strong> e da angústia. Este éum <strong>do</strong>s la<strong>do</strong>s da medalha, porque o mal sabe apresentar-se comelegância e consegue, neste seu jogo <strong>de</strong> duplicida<strong>de</strong>, atrair e afastar,como mostra a bela mulher <strong>do</strong> capítulo 17 <strong>do</strong> Apocalipse. Muitoalém, ou aquém das metáforas, o mal está presente na história dahumanida<strong>de</strong> e faz seu percurso junto com o ser huma<strong>no</strong>, mostran<strong>do</strong>surpreen<strong>de</strong>ntemente <strong>no</strong>vas e perigosas faces, às quais cabe opor-se,caso quisermos conquistar o espaço paradisíaco proposto por Deus esempre sonha<strong>do</strong> pelo homem. 21Por fim, vemos nesse conto um importante elemento <strong>de</strong> interação entre ateologia e a literatura, pois, através da literatura, é possível dar voz a um personagemmarginaliza<strong>do</strong> <strong>no</strong> universo cristão mostran<strong>do</strong> que o sofrimento e a <strong>do</strong>r fazem parteda vida cotidiana <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os seres huma<strong>no</strong>s, sem falar da busca incessante pelopo<strong>de</strong>r que também permeia o imaginário oci<strong>de</strong>ntal. Além disso, vemos também apossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>smistificar os símbolos “céu” e “infer<strong>no</strong>”, que são muito malinterpreta<strong>do</strong>s e usa<strong>do</strong>s <strong>no</strong> universo religioso e, conseqüentemente, cultural <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssassocieda<strong>de</strong>s, principalmente como elemento punitivo, trazen<strong>do</strong> seqüelas profundasem nível psicológico, social e cultural. Resta-<strong>no</strong>s, então, olhar para as palavras <strong>de</strong>Borges e pensar <strong>no</strong>s juízos finais que se levantam <strong>no</strong> <strong>no</strong>sso dia-a-dia.No cristal <strong>de</strong> um sonho eu vislumbreio Céu e o Infer<strong>no</strong> to<strong>do</strong> prometi<strong>do</strong>s:ao retumbar o <strong>Juízo</strong> nas trombetasúltimas e o planeta milenáriofor esqueci<strong>do</strong> e bruscas já cessaremÓ Tempo! Tuas efêmeras pirâmi<strong>de</strong>s,teu colori<strong>do</strong> e linhas <strong>do</strong> passa<strong>do</strong><strong>de</strong>finirão na treva um rosto imóvel,21 PINZETTA, Inácio. O mal e suas <strong>de</strong>terminações na História. Estu<strong>do</strong>s Bíblicos. Petrópolis, n. 74, 2002.p. 37-41.Disponível na Internet: http://www3.est.edu.br/nepp 13


Revista Eletrônica <strong>do</strong> Núcleo <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s e Pesquisa <strong>do</strong> Protestantismo (NEPP) da Escola Superior <strong>de</strong> TeologiaVolume 13, mai.-ago. <strong>de</strong> 2007 – ISSN 1678 6408a<strong>do</strong>rmeci<strong>do</strong>, fiel, inalterável(o da amada talvez, quiçá o teu)e a contemplação <strong>de</strong>sse incorruptívelrosto contíguo, intacto incessantehá <strong>de</strong> se, para os réprobos, Infer<strong>no</strong>,porém para os eleitos, Paraíso. 22ReferênciasALVES, Rubem. Tempus Fugit. São Paulo: Paulinas, 1990.BORGES, Jorge Luis. “Do Infer<strong>no</strong> e <strong>do</strong> Céu”, poema escrito em 1942. Obras completas. SãoPaulo: Editora Globo, v. 2, 1999.BROWN, Colin; CONEN, Lothar (Orgs.). Dicionário Internacional <strong>de</strong> Teologia <strong>do</strong> NovoTestamento. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 2000.BÍBLIA SAGRADA. TEB. São Paulo: Loyola e Paulinas, 1995.QUEIROZ, <strong>Júlio</strong> <strong>de</strong>. Perfume <strong>de</strong> Eternida<strong>de</strong>. Florianópolis: Insular, 2006.KRISTEVA, Júlia. Introdução à semianálise. São Paulo: Perspectiva, 1974.MAY, Rollo. A Procura <strong>do</strong> mito. Trad. Anna Maria Dalle Luche. São Paulo: Ma<strong>no</strong>le, 1992.PINZETTA, Inácio. O mal e suas <strong>de</strong>terminações na História. Estu<strong>do</strong>s Bíblicos. Petrópolis, n. 74,2002.ROLDÀN, Alberto Fernan<strong>do</strong>. Do terror à esperança: paradigmas para uma escatologiaintegral. Londrina: Descoberta, 2001.TILLICH, Paul. Teologia <strong>de</strong> la cultura y otros ensayos. Bue<strong>no</strong>s Aires: Amorrortu editores, 1974.TORRES, Queiruga Andrés. O que queremos dizer quan<strong>do</strong> dizemos “infer<strong>no</strong>”? São Paulo: Paulus,1996.22 BORGES, Jorge Luis. “Do Infer<strong>no</strong> e <strong>do</strong> Céu”, poema escrito em 1942. Obras completas. São Paulo:Editora Globo, v. 2, 1999. p. 267.Disponível na Internet: http://www3.est.edu.br/nepp 14

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!