cecília meireles: intimismo, lirismo e tendência ao misticismo em ...
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Revista Mundo & Letras 49Meireles. No entanto, a ronda da morte, que já havia levado três irmãos, leva também opai, três meses antes do nascimento da escritora, e a mãe, três anos depois, sendoCecília cuidada pela avó materna.“À casa de minha avó chegavam continuamente malas, de gente da família queia faltando e eu, <strong>em</strong> vez de conhece-las <strong>em</strong> seus lugares, via-as saindo d<strong>em</strong>alas. L<strong>em</strong>bro b<strong>em</strong> de uma da qual saíram: uma capa de seda de mamãe, umafantasia de dominó, roupas de banho de mar listradas da época.” 3Essa infância terrível, porém, feliz moldou as bases do t<strong>em</strong>peramento poéticoque se desenvolveu. A morte viria a ser na poesia, o absoluto que o espírito anseia, masé incapaz de assumir. A solidão, o silencio e a consequente serenidade vivenciada porela seriam o ponto de partida para esse espírito criador que se conhece sobre a poeta.Além disso, a iniciação poética de Cecília foi <strong>em</strong>balada desde cedo pela a avómaterna e pela ama, ensinando-lhe os sentimentos mais puros da arte folclórica.Também desde a infância, desenvolvia seus escritos que acompanhariam a escritora portoda vida e <strong>em</strong> 1910, recebia das mãos de Olavo Bilac, uma medalha de ouro feitaespecialmente para homenageá-la.A poesia de Cecília Meireles apresenta várias <strong>tendência</strong>s de outras escolasliterárias que não apenas as do Modernismo e influências causadas pela vida pessoal daescritora que traz<strong>em</strong> enigmas, desafiando tanto leitores quanto críticos literários naanálise de suas obras.O Caminho da místicaTendo publicado, ainda jov<strong>em</strong>, o volume Espectros, Cecília Meireles começa atomar feição poética própria <strong>em</strong> sua obra de juventude. Herdeira de uma sólida criaçãocristã, a palavra que mais precisamente caracteriza a poesia ceciliana desta fase seriamística. Assim sendo, a t<strong>em</strong>ática de Nunca mais... - primeira parte do livro - é a morte eseus indícios. A abertura é a visão de serenidade idealizada <strong>em</strong> À hora <strong>em</strong> que os cisnescantam e o fecho é já a iniciação no mistério da Inominável:A InominávelLeve... - Pluma... Surdina... Aroma... Graça...Qualquer coisa infinita... Amor... Pureza...Cabelo <strong>em</strong> sombra, olhar ausente, passaComo a bruma que vai na arag<strong>em</strong> presa...Silenciosa. Imprecisa. Etérea taçaEm que adormece luar... Delicadeza...Não se diz... Não se exprime... Não se traça...Fluido... Poesia... Névoa... Flor... Beleza...ZAGURY (1973, p. 24)De uma atitude a outra, a longa série de exercícios de renúncia <strong>ao</strong>s bens e malesda terra e de percepção do indício e formulação da resposta intensa está expressa <strong>em</strong>seus po<strong>em</strong>as. A partir daí, inicia-se uma tentativa de escavação da m<strong>em</strong>ória e grandequantidade de novos indícios, criando uma forma sofisticada de exercício místico, rica<strong>em</strong> possibilidades de realização poética, pela pesquisa quanto <strong>ao</strong> próprio passadohistórico.3 Cecília Meireles <strong>em</strong> uma entrevista a Revista Manchete <strong>em</strong> 1964.Mundo e Letras, José Bonifácio/SP, v. 1, n. 1, Maio/2010