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cecília meireles: intimismo, lirismo e tendência ao misticismo em ...

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Revista Mundo & Letras 53meus olhos secos como pedrase as minhas duas mãos quebradas.MEIRELES (2000, p.28)O po<strong>em</strong>a Canção apresenta uma recordação infantil: o sonho colocado <strong>em</strong> umnavio, o navio colocado no mar, o mar aberto com as mãos. A imag<strong>em</strong> é lentamenteformada, assim como um desenho que vai se definindo <strong>ao</strong>s poucos. Essa sequência decenas ligadas às rimas do segundo e terceiro verso de cada estrofe faz<strong>em</strong> com que opo<strong>em</strong>a adquira musicalidade e leveza. Contudo, o aparecimento do “eu” líricotransforma-se <strong>em</strong> reflexão: o sonho que naufraga, a desilusão provoca o choro econsequent<strong>em</strong>ente reflete na dura paciência perante o sofrimento diante da vida quandomenciona os “olhos secos com pedras” e as “minhas duas mãos quebradas”. Talvezpossa ter sido um sonho que Cecília Meireles teve com a família que perdeu, por isso,torna-se impossível de realizar e seja necessário esquecer jogando-o no mar doesquecimento, representando com isso os traços intimistas do po<strong>em</strong>a.Através das cont<strong>em</strong>plações humanas, a escritora critica o hom<strong>em</strong> e a sociedade,o que segundo Zambolli (2002, p.67), faz com que a restauração da vida <strong>em</strong>comunidade, pareça ser o objetivo principal de suas obras. Sabendo do seu papelhistórico, Cecília Meireles se opõe <strong>ao</strong>s valores padronizados fazendo dos homensmáquinas de trabalhar, expressando sua critica através do po<strong>em</strong>a Mulher <strong>ao</strong> Espelho,publicado <strong>em</strong> 1945 no volume Mar Absoluto e Outros Po<strong>em</strong>as:Mulher <strong>ao</strong> EspelhoHoje, que seja esta ou aquela,pouco me importa.Quero apenas parecer bela,pois, seja qual for, estou morta.Já fui loura, já fui morena,Já fui Margarida e Beatriz,Já fui Maria e Madalena.Só não pude ser o que quis.Que mal faz, esta cor fingidado meu cabelo, e do meu rosto,se tudo é tinta: o mundo, a vida,o contentamento, o desgosto?Por fora, serei com queira,a moda, que vai me matando.Que me lev<strong>em</strong> pele e caveira<strong>ao</strong> nada, não me importa quando.Mas qu<strong>em</strong> viu, tão dilacerados,olhos, braços e sonhos seus,e morreu pelos seus pecados,falará com Deus.Falará, coberta de luzes,do alto penteado <strong>ao</strong> rubro artelho.Porque uns expiram sobre cruzes,outros, buscando-se no espelho.Mundo e Letras, José Bonifácio/SP, v. 1, n. 1, Maio/2010

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