12.07.2015 Views

Texto de Filosofia

Texto de Filosofia

Texto de Filosofia

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

-as viagens marítimas, que permitiram aos gregos <strong>de</strong>scobrir que os locais que os mitos diziamhabitados por <strong>de</strong>uses, titãs e heróis eram, na verda<strong>de</strong>, habitados por outros seres humanos; e que as regiõesdos mares que os mitos diziam habitados por monstros e seres fabulosos não possuíam nem monstros nemseres fabulosos. As viagens produziram o <strong>de</strong>sencantamento ou a <strong>de</strong>smistificação do mundo, que passou,assim, a exigir uma explicação sobre sua origem, explicação que o mito já não podia oferecer;-a invenção do calendário, que é uma forma <strong>de</strong> calcular o tempo segundo as estações do ano, ashoras do dia, os fatos importantes que se repetem, revelando, com isso, uma capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> abstração nova,ou uma percepção do tempo como algo natural e não como um po<strong>de</strong>r divino incompreensível;-a invenção da moeda, que permitiu uma forma <strong>de</strong> troca que não se realiza através das coisasconcretas ou dos objetos concretos trocados por semelhança, mas uma troca abstrata, uma troca feita pelocálculo do valor semelhante das coisas diferentes, revelando, portanto, uma nova capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> abstração e<strong>de</strong> generalização;-o surgimento da vida urbana, com predomínio do comércio e do artesanato, dando<strong>de</strong>senvolvimento a técnicas <strong>de</strong> fabricação e <strong>de</strong> troca, e diminuindo o prestígio das famílias da aristocraciaproprietária <strong>de</strong> terras, por quem e para quem os mitos foram criados; além disso, o surgimento <strong>de</strong> umaclasse <strong>de</strong> comerciantes ricos, que precisava encontrar pontos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e <strong>de</strong> prestígio para suplantar o velhopo<strong>de</strong>rio da aristocracia <strong>de</strong> terras e <strong>de</strong> sangue (as linhagens constituídas pelas famílias), fez com que seprocurasse o prestígio pelo patrocínio e estímulo às artes, às técnicas e aos conhecimentos, favorecendo umambiente on<strong>de</strong> a <strong>Filosofia</strong> po<strong>de</strong>ria surgir;-a invenção da escrita alfabética, que, como a do calendário e a da moeda, revela o crescimentoda capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> abstração e <strong>de</strong> generalização, uma vez que a escrita alfabética ou fonética, diferentemente<strong>de</strong> outras escritas - como, por exemplo, os hieróglifos dos egípcios ou os i<strong>de</strong>ogramas dos chineses -, supõeque não se represente uma imagem da coisa que está sendo dita, mas a idéia <strong>de</strong>la, o que <strong>de</strong>la se pensa e setranscreve;-a invenção da política, que introduz três aspectos novos e <strong>de</strong>cisivos para o nascimento da<strong>Filosofia</strong>:1. A idéia da lei como expressão da vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma coletivida<strong>de</strong> humana que <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> por si mesmao que é melhor para si e como ela <strong>de</strong>finirá suas relações internas. O aspecto legislado e regulado da cida<strong>de</strong> -da polis - servirá <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo para a <strong>Filosofia</strong> propor o aspecto legislado, regulado e or<strong>de</strong>nado do mundocomo um mundo racional.2. O surgimento <strong>de</strong> um espaço público, que faz aparecer um novo tipo <strong>de</strong> palavra ou <strong>de</strong> discurso,diferente daquele que era proferido pelo mito. Neste, um poetavi<strong>de</strong>nte, que recebia das <strong>de</strong>usas ligadas àmemória (a <strong>de</strong>usa Mnemosyne, mãe das Musas, que guiavam o poeta) uma iluminação misteriosa ou umarevelação sobrenatural, dizia aos homens quais eram as <strong>de</strong>cisões dos <strong>de</strong>uses que eles <strong>de</strong>veriam obe<strong>de</strong>cer.Agora, com a polis, isto é, a cida<strong>de</strong> política, surge a palavra como direito <strong>de</strong> cada cidadão <strong>de</strong> emitirem público sua opinião, discuti-la com os outros, persuadi-los a tomar uma <strong>de</strong>cisão proposta por ele, <strong>de</strong> talmodo que surge o discurso político como a palavra humana compartilhada, como diálogo, discussão e<strong>de</strong>liberação humana, isto é, como <strong>de</strong>cisão racional e exposição dos motivos ou das razões para fazer ou nãofazer alguma coisa.A política, valorizando o humano, o pensamento, a discussão, a persuasão e a <strong>de</strong>cisão racional ,valorizou o pensamento racional e criou condições para que surgisse o discurso ou a palavra filosófica.3. A política estimula um pensamento e um discurso que não procuram ser formulados por seitassecretas dos iniciados em mistérios sagrados, mas que procuram, ao contrário, ser públicos, ensinados,transmitidos, comunicados e discutidos. A idéia <strong>de</strong> um pensamento que todos po<strong>de</strong>m compreen<strong>de</strong>r ediscutir, que todos po<strong>de</strong>m comunicar e transmitir, é fundamental para a <strong>Filosofia</strong>.Principais características da <strong>Filosofia</strong> nascenteO pensamento filosófico em seu nascimento tinha como traços principais:-tendência à racionalida<strong>de</strong>, isto é, a razão e somente a razão, com seus princípios e regras, é ocritério da explicação <strong>de</strong> alguma coisa;- tendência a oferecer respostas conclusivas para os problemas, isto é, colocado um problema, suasolução é submetida à análise, à crítica, à discussão e à <strong>de</strong>monstração, nunca sendo aceita como umaverda<strong>de</strong>, se não for provado racionalmente que é verda<strong>de</strong>ira;-exigência <strong>de</strong> que o pensamento apresente suas regras <strong>de</strong> funcionamento, isto é, o filósofo é aqueleque justifica suas idéias provando que segue regras universais do pensamento. Para os gregos, é uma leiuniversal do pensamento que a contradição indica erro ou falsida<strong>de</strong>. Uma contradição acontece quandoafirmo e nego a mesma coisa sobre uma mesma coisa (por exemplo: “Pedro é um menino e não ummenino”, “A noite é escura e clara”, “O infinito não tem limites e é limitado”). Assim, quando umacontradição aparecer numa exposição filosófica, ela <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada falsa;

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!