12.07.2015 Views

Texto de Filosofia

Texto de Filosofia

Texto de Filosofia

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

acreditamos que nossa visão po<strong>de</strong> ver as coisas diferentemente do que elas são, mas nem por isso diremosque estamos sonhando ou que ficamos malucos.Na briga, quando alguém chama o outro <strong>de</strong> mentiroso porque não estaria dizendo os fatosexatamente como aconteceram, está presente a nossa crença <strong>de</strong> que há diferença entre verda<strong>de</strong> e mentira. Aprimeira diz as coisas tais como são, enquanto a segunda faz exatamente o contrário, distorcendo arealida<strong>de</strong>.No entanto, consi<strong>de</strong>ramos a mentira diferente do sonho, da loucura e do erro porque o sonhador, olouco e o que erra se ilu<strong>de</strong>m involuntariamente, enquanto o mentiroso <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> voluntariamente <strong>de</strong>formar arealida<strong>de</strong> e os fatos.Com isso, acreditamos que o erro e a mentira são falsida<strong>de</strong>s, mas diferentes porque somente namentira há a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> falsear.Ao diferenciarmos erro <strong>de</strong> mentira, consi<strong>de</strong>rando o primeiro uma ilusão ou um enganoinvoluntários e a segunda uma <strong>de</strong>cisão voluntária, manifestamos silenciosamente a crença <strong>de</strong> que somosseres dotados <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> e que <strong>de</strong>la <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> dizer a verda<strong>de</strong> ou a mentira.Ao mesmo tempo, porém, nem sempre avaliamos a mentira como alguma coisa ruim: não gostamostanto <strong>de</strong> ler romances, ver novelas, assistir a filmes? E não são mentira? É que também acreditamos quequando alguém nos avisa que está mentindo, a mentira é aceitável, não seria uma mentira “no duro”, “pravaler”.Quando distinguimos entre verda<strong>de</strong> e mentira e distinguimos mentiras inaceitáveis <strong>de</strong> mentirasaceitáveis, não estamos apenas nos referindo ao conhecimento ou <strong>de</strong>sconhecimento da realida<strong>de</strong>, mastambém ao caráter da pessoa, à sua moral. Acreditamos, portanto, que as pessoas, porque possuem vonta<strong>de</strong>,po<strong>de</strong>m ser morais ou imorais, pois cremos que a vonta<strong>de</strong> é livre para o bem ou para o mal.Na briga, quando uma terceira pessoa pe<strong>de</strong> às outras duas para que sejam “objetivas” ou quandofalamos dos namorados como sendo “muito subjetivos”, também estamos cheios <strong>de</strong> crenças silenciosas.Acreditamos que quando alguém quer <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r muito intensamente um ponto <strong>de</strong> vista, uma preferência,uma opinião, até brigando por isso, ou quando sente um gran<strong>de</strong> afeto por outra pessoa, esse alguém “per<strong>de</strong>”a objetivida<strong>de</strong>, ficando “muito subjetivo”.Com isso, acreditamos que a objetivida<strong>de</strong> é uma atitu<strong>de</strong> imparcial que alcança as coisas tais comosão verda<strong>de</strong>iramente, enquanto a subjetivida<strong>de</strong> é uma atitu<strong>de</strong> parcial, pessoal, ditada por sentimentosvariados (amor, ódio, medo, <strong>de</strong>sejo).Assim, não só acreditamos que a objetivida<strong>de</strong> e a subjetivida<strong>de</strong> existem, como ainda acreditamosque são diferentes e que a primeira não <strong>de</strong>forma a realida<strong>de</strong>, enquanto a segunda, voluntária ouinvoluntariamente, a <strong>de</strong>forma.Ao dizermos que alguém “é legal ” porque tem os mesmos gostos, as mesmas idéias, respeita ou<strong>de</strong>spreza as mesmas coisas que nós e tem atitu<strong>de</strong>s, hábitos e costumes muito parecidos com os nossos,estamos, silenciosamente, acreditando que a vida com as outras pessoas - família, amigos, escola, trabalho,socieda<strong>de</strong>, política - nos faz semelhantes ou diferentes em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> normas e valores morais,políticos, religiosos e artísticos, regras <strong>de</strong> conduta, finalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida.Achando óbvio que todos os seres humanos seguem regras e normas <strong>de</strong> conduta, possuem valoresmorais, religiosos, políticos, artísticos, vivem na companhia <strong>de</strong> seus semelhantes e procuram distanciar-sedos diferentes dos quais discordam e com os quais entram em conflito, acreditamos que somos seressociais, morais e racionais, pois regras, normas, valores, finalida<strong>de</strong>s só po<strong>de</strong>m ser estabelecidos por seresconscientes e dotados <strong>de</strong> raciocínio.Como se po<strong>de</strong> notar, nossa vida cotidiana é toda feita <strong>de</strong> crenças silenciosas, da aceitação tácita <strong>de</strong>evidências que nunca questionamos porque nos parecem naturais, óbvias. Cremos no espaço, no tempo, narealida<strong>de</strong>, na qualida<strong>de</strong>, na quantida<strong>de</strong>, na verda<strong>de</strong>, na diferença entre realida<strong>de</strong> e sonho ou loucura, entreverda<strong>de</strong> e mentira; cremos também na objetivida<strong>de</strong> e na diferença entre ela e a subjetivida<strong>de</strong>, na existênciada vonta<strong>de</strong>, da liberda<strong>de</strong>, do bem e do mal, da moral, da socieda<strong>de</strong>.A atitu<strong>de</strong> filosóficaImaginemos, agora, alguém que tomasse uma <strong>de</strong>cisão muito estranha e começasse a fazerperguntas inesperadas. Em vez <strong>de</strong> “que horas são?” ou “que dia é hoje?”, perguntasse: O que é o tempo?Em vez <strong>de</strong> dizer “está sonhando” ou “ficou maluca”, quisesse saber: O que é o sonho? A loucura? A razão?Se essa pessoa fosse substituindo sucessivamente suas perguntas, suas afirmações por outras: “On<strong>de</strong> háfumaça, há fogo”, ou “não saia na chuva para não ficar resfriado”, por: O que é causa? O que é efeito?;“seja objetivo ”, ou “eles são muito subjetivos”, por: O que é a objetivida<strong>de</strong>? O que é a subjetivida<strong>de</strong>?;“Esta casa é mais bonita do que a outra”, por: O que é “mais”? O que é “menos”? O que é o belo? Em vez<strong>de</strong> gritar “mentiroso!”, questionasse: O que é a verda<strong>de</strong>? O que é o falso? O que é o erro? O que é a

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!