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metáfora, hipérbole e metamorfose em “a fila”

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Revista Mundo & Letras 58Apesar de muito presente <strong>em</strong> textos literários, de acordo com Moisés (2004), a<strong>metáfora</strong> não é exclusiva da linguag<strong>em</strong> literária. Também ocorre na linguag<strong>em</strong> falada,talvez com mais freqüência que <strong>em</strong> textos da literatura. A diferença é posta pelo teóricopelo caráter vulgar e cotidiano recebido na linguag<strong>em</strong> falada, enquanto é utilizada naliteratura com objetivos estéticos. Em geral, na fala são utilizadas <strong>metáfora</strong>s mortas,estereotipadas, clichês, vazias de sentido. Essas <strong>metáfora</strong>s não possu<strong>em</strong> mais umsentido ambíguo, já são <strong>em</strong>pregadas com um único sentido. A <strong>metáfora</strong> presente <strong>em</strong>textos literários é conotativa, procura traduzir <strong>em</strong> palavras pensamentos e sensações, porisso não pode ser traduzida.O <strong>em</strong>prego da <strong>metáfora</strong> no texto <strong>em</strong> prosa é diferente do poético. Seu <strong>em</strong>pregonão é na forma direta e imediata, e sim indireta e mediata. As <strong>metáfora</strong>s presentes notexto só se revelam quando a leitura chega ao fim, por meio da totalidade da narrativa.Elas permit<strong>em</strong> ao leitor uma nova compreensão da leitura realizada e a atribuição denovos sentidos e novas imagens, a partir da realidade conhecida.Boranelli (2008), estudioso dos contos de Murilo Rubião, mostra que a <strong>metáfora</strong>percorre toda a narrativa do escritor. Segundo ele, no gênero fantástico a <strong>metáfora</strong> seapresenta de modo sist<strong>em</strong>ático e original, é um dos el<strong>em</strong>entos geradores do fantástico edá novos sentidos à realidade presente na narrativa. A <strong>metáfora</strong> permite a aproximaçãode duas realidades afastadas por meio da criação de uma nova imag<strong>em</strong>. O efeito desurpresa, de acordo com Castro (1977), é fator peculiar da <strong>metáfora</strong> verdadeiramenteoriginal e viva, e intensifica o efeito do fantástico sobre o leitor, contribui com ouniverso absurdo do texto. Já Moisés (2004) afirma que a <strong>metáfora</strong> procura representarsimbolicamente a realidade e, mais uma vez, contribui com o el<strong>em</strong>ento fantástico.Os contos rubianos s<strong>em</strong>pre apresentam um fato sobrenatural com a intenção deenfatizar acontecimentos da sociedade que têm como centro o hom<strong>em</strong>, o hom<strong>em</strong>cont<strong>em</strong>porâneo. Em “A <strong>fila”</strong> (OC, 1988), a personag<strong>em</strong> protagonista, Pererico, sai desua cidade do interior e vai à cidade grande com o objetivo de conversar com o gerentede uma fábrica, porém, é encaminhado para uma fila composta de pessoas queaguardam para conversar com o gerente, fila que não t<strong>em</strong> fim, mesmo após dias e dias.A <strong>metáfora</strong> presente no conto é a fila como representação da burocracia e o hom<strong>em</strong>alienado e levado a aceitá-la, ou seja, o sist<strong>em</strong>a alienador existente na sociedade atual.Em “Teleco, o coelhinho” (OPZ, 1976), Teleco, envolvido pelo desejo de se tornar umser humano e ser aceito pela sociedade, visto que apenas as suas mudanças decomportamento não conduz<strong>em</strong> a sua aceitação, entra <strong>em</strong> crise ao final do contotransformando-se diversas vezes, mas só consegue atingir a forma de uma criançamorta. Aqui há uma <strong>metáfora</strong> da preocupação constante da aparência na sociedade atuale como a aparência faz com que uma pessoa seja mais facilmente aceita <strong>em</strong> algunsgrupos sociais. Há nos contos, portanto, como afirma Boranelli (2008), uma <strong>metáfora</strong>do comportamento social que procura alertar contra uma realidade alienante. Como a<strong>metáfora</strong> consegue unir a razão e a imaginação, dois mundos contrários e distantes, noscontos fantásticos aquilo que nos parece estranho no início torna-se familiar, mesmocom el<strong>em</strong>entos sobrenaturais. A ambiguidade ilimitada resultante da <strong>metáfora</strong> é traçoimportante para a existência do fantástico.Todos os contos rubianos, por meio da <strong>metáfora</strong>, pod<strong>em</strong> conduzir o leitor a umavisão mais crítica da sociedade. Com isso, ao término da leitura, o leitor pode conseguirentender o significado metafórico do conto.Hipérbole: a importância do exagero para o fantásticoA <strong>hipérbole</strong>, segundo Schwartz (1981), aparece nas obras de Murilo Rubiãocomo figura-chave que desvenda os mecanismos fantásticos da narrativa. Sendo assim,Mundo & Letras, José Bonifácio/SP, v. 2, Julho/2011

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