12.07.2015 Views

metáfora, hipérbole e metamorfose em “a fila”

metáfora, hipérbole e metamorfose em “a fila”

metáfora, hipérbole e metamorfose em “a fila”

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Revista Mundo & Letras 60ironicamente, apenas quando morre consegue adquirir a forma tão desejada: umacriança.Assim, a <strong>metamorfose</strong> é mais um artifício <strong>em</strong>pregado pelo escritor para criticar ohom<strong>em</strong> moderno. “Seus contos não se propõ<strong>em</strong> a responder ou resolver as questões domundo, ao contrário, são enigmas que conduz<strong>em</strong> à reflexão do real” (SANTOS, 2006).A <strong>metamorfose</strong>, nessas narrativas, t<strong>em</strong> o sentido de degradação, de impotência diante domundo, revela um hom<strong>em</strong> que não se compreende e não consegue fugir de sua condiçãode vida. O absurdo, portanto, não resulta do sobrenatural presente no texto, mas daprópria condição humana.Considerações finaisA análise da <strong>metáfora</strong>, da <strong>hipérbole</strong> e da <strong>metamorfose</strong> nos contos “A <strong>fila”</strong> (OC,1988) e “Teleco, o coelhinho” (OPZ, 1976) serve como uma ex<strong>em</strong>plificação de como oescritor Murilo Rubião trabalhava a linguag<strong>em</strong> para discutir sobre t<strong>em</strong>as sociais. Asituação do ser humano moderno é s<strong>em</strong>pre questionada, nos mais diversos locais e dediferentes formas, falando sobre a preocupação com a aparência, a burocracia, asrelações artificiais, a corrupção, entre outros.Preocupado d<strong>em</strong>asiadamente com a clareza de seus textos, o escritor, mesmoapós a publicação, reescrevia seus contos para uma nova publicação. Publicou oitolivros com oitenta e nove contos, contudo, dos contos citados, apenas trinta e dois eramoriginais. Os outros são republicações que o autor fez, chegando a existir livros somentecom contos republicados. Quando questionado sobre o assunto, o autor disse:“Reelaboro a minha linguag<strong>em</strong> até a exaustão, numa busca desesperada pela clareza,para tornar o conto o mais real possível. Com a linguag<strong>em</strong> mais depurada, a intriga fluinaturalmente 3 ”. O escritor, a cada nova publicação, alterava os contos, às vezesmodificando-os muito.Talvez por isso o modo como Murilo Rubião <strong>em</strong>prega o fantástico <strong>em</strong> seuscontos causa perplexidade nos leitores, além de impressionar a aceitação dos fenômenossobrenaturais no decorrer da leitura, como se foss<strong>em</strong> reais, mesmo com o <strong>em</strong>prego da<strong>metáfora</strong>, da <strong>hipérbole</strong> e da <strong>metamorfose</strong>. O real e o irreal se misturam a todo omomento e a hesitação permanece até o final da narrativa, como se não houvessesolução para o ser humano moderno.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASARISTÓTELES. Poética. Porto Alegre: Editora Globo, 1966.BORANELLI, V. O fantástico nos contos de Murilo Rubião e de Júlio Cortázar:entre o mito literário e a poli<strong>metáfora</strong>. São Paulo: PUC, 2008. Tese (Doutorado) –Programa de Pós-Graduação <strong>em</strong> Literatura e Crítica Literária, Pontifícia UniversidadeCatólica de São Paulo, São Paulo, 2008.CANDIDO, A. A literatura e a formação do hom<strong>em</strong>. Ciência e cultura. São Paulo, v.24, n. 9, p. 803-809, set. 1972.CASTRO, W. Metáforas machadianas: estruturas e funções. Rio de Janeiro: Aolivro técnico, 1977.COSSON, R. Letramento literário na escola. São Paulo: Contexto, 2006.FONSECA, P. C. L. O fantástico no conto brasileiro cont<strong>em</strong>porâneo. Estudos deliteratura luso-brasileira. Ribeirão Preto, SP: Editora Coc., 1987. p. 165-199.3 Relato de entrevistas feitas a Murilo Rubião presente na obra Murilo Rubião (1982), organizada porJorge Schwartz para a coleção Literatura Comentada.Mundo & Letras, José Bonifácio/SP, v. 2, Julho/2011

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!