Canudos e o movimento dos trabalhadores rurais sem terra - Ebap
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10que têm. Nestas ocasiões sentem-se importantes e sujeitos da Luta pela reforma agrária.3 - Nem to<strong>dos</strong> os assenta<strong>dos</strong> passaram por um processo de formação política, mas o fato deterem se organiza<strong>dos</strong> para a ocupação, terem vivido no acampamento e participado das váriasações e mobilizações do Movimento, os envolveram num vívido processo de formaçãopolítica e de militância. Fazem questão de participar de reuniões e discussões sobre oassentamento e as ações do Movimento. Estas experiências os capacitaram a pensar no ideáriode uma sociedade socialista, apesar da maioria não saber bem o que significa isso. No entantoafirmam ser esta, uma sociedade mais justa e com uma maior participação de to<strong>dos</strong> nasdiscussões e decisões. Aliam a ideia de socialismo com a ideia de coletividade.4 – Existe uma cooperativa regional que já está pronta, inclusive com alguma infra-estrutura ecom um número pequeno de associa<strong>dos</strong>, mas devido os freqüentes ciclos de seca – e <strong>sem</strong> aprometida irrigação - não existe uma produção visível. Os assenta<strong>dos</strong> e assentadas, por suavez e de modo geral, percebem o papel que uma cooperativa pode de<strong>sem</strong>penhar noassentamento, tanto para organizar quanto para comercializar a produção, que acreditam quealcançarão no futuro irrigado. Por outro lado têm várias outras experiências coletivas na lidadiária e no âmbito de grupos de famílias, como por exemplo o rodízio de pastos e trabalhos emconjunto. Importa, no entanto, referir, que há uma busca constante por alternativas coletivaspara os problemas quotidianos.5 - A educação é <strong>sem</strong> dúvida uma prioridade do MST e é um projeto transformador. Ocomprometimento do grupo de educadores forma<strong>dos</strong> pelo próprio Movimento utilizando-sede pedagogias freireanas, em prol da alfabetização de jovens e adultos no Assentamento,constitui-se também num projeto de militância, pois desenvolvem ações permanente dealfabetização com ou <strong>sem</strong> recursos. Por outro lado as ações cruzadas e reivindicações nestecampo por parte <strong>dos</strong> coletivos de educação do Movimento têm trazido significativos avançosna escolarização <strong>dos</strong> Sem Terras.Concluindo, a experiência de uma pesquisa-participante, residindo com uma família deSem Terras, vivenciando e trabalhando entre os camponeses do assentamento Jacaré-Curitubano estado de Sergipe (antigo sítio de formação do grupo de seguidores de AntônioConselheiro), nos aponta no sentido de que a subjetividade da bandeira de luta do MST,associada à sua pedagogia de esclarecimento para a tomada de consciência, parece representaraquela afirmação da subjetividade perante a cidadania a qual se refere Boaventura de SousaSantos (1999).5. Singularidades e Nexos de Dois Movimentos Sociais BrasileirosMais de um século após a destruição de <strong>Canu<strong>dos</strong></strong> os <strong>trabalhadores</strong> <strong>rurais</strong> do Brasilainda enfrentam os mesmos problemas oriun<strong>dos</strong> da grande concentração de <strong>terra</strong>s, exclusãosocial e da forma espúria como, muitas vezes, a relação capital-trabalho se manifesta no país.Os mesmos vetores determinantes do projeto de transformação do campo intentado pelosseguidores de Antônio Conselheiro no seu Bello Monte de trágico destino.Se, por um lado, a estrutura agrária brasileira segue conservadora, poderosa e violentana defesa de seus interesses e do regime de latifúndios, e em boa medida apoiada pelo Estado,por outro, milhões de <strong>trabalhadores</strong> <strong>rurais</strong> continuam <strong>sem</strong> acesso à <strong>terra</strong> para viver e trabalhar,reproduzindo, assim, a mesma exclusão social do final do século XIX.Entre os possíveis nexos que esses dois <strong>movimento</strong>s sociais brasileiros podem manterentre si e que este breve ensaio pôde detectar, destacamos:FGV/EBAPE, Programa de Estu<strong>dos</strong> Administração Brasileira, Biblioteca Virtual de Administração Brasileira