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Gerenciamento de Estoques em Farmácia ... - Gelog - UFSC

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1 Introdução<br />

GRUPO DE ESTUDOS LOGÍSTICOS<br />

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA<br />

<strong>Gerenciamento</strong> <strong>de</strong> <strong>Estoques</strong> <strong>em</strong> <strong>Farmácia</strong> Hospitalar<br />

Naraiana Agapito naraagapito@yahoo.com.br<br />

Inicialmente, como os hospitais não visavam resultados econômicos as técnicas<br />

<strong>de</strong> gerenciamento <strong>de</strong> materiais foram primeiramente estudadas e <strong>de</strong>senvolvidas para o<br />

processo produtivo industrial e, além disso, as <strong>em</strong>presas são mais antigas que os<br />

hospitais. Entretanto, o consenso atual é o da busca da eficiente alocação econômica,<br />

qualquer que seja a ativida<strong>de</strong>, porém as <strong>em</strong>presas, incluindo as unida<strong>de</strong>s hospitalares e<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, ao organizar<strong>em</strong> seu processo produtivo, são levadas a estocar<strong>em</strong> insumos <strong>de</strong><br />

forma a garantir a não interrupção do processo <strong>de</strong> produção (PAULUS JÚNIOR, 2005).<br />

A preocupação com a logística hospitalar v<strong>em</strong> crescendo bastante, pois <strong>de</strong>la<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>, entre outros setores, o abastecimento <strong>de</strong> todos os pontos <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong><br />

medicamentos e materiais médico-hospitalares <strong>de</strong>ntro do hospital, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do<br />

valor. A logística é vital não só para o funcionamento dos hospitais, mas para todas as<br />

organizações, principalmente aquelas que são obrigadas a trabalhar com estoques altos<br />

(YUK; KNEIPP; MAEHLER, 2007). E o gerenciamento <strong>de</strong> estoques t<strong>em</strong> como objetivo<br />

principal a redução dos custos gerados pelo mesmo através <strong>de</strong> técnicas a<strong>de</strong>quadas ao<br />

invés da <strong>de</strong>terioração da qualida<strong>de</strong> do serviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

1.1 A situação atual dos hospitais<br />

Os avanços tecnológicos são fantásticos, porém os preços cobrados pelos<br />

hospitais brasileiros são cada vez mais altos. Tecnologia é um fator <strong>de</strong>terminante para o<br />

aumento dos custos da saú<strong>de</strong>. No caso dos hospitais brasileiros, no entanto, há um outro<br />

probl<strong>em</strong>a crucial: a administração. Somente 1% dos hospitais brasileiros possui<br />

administração profissional, que conta com administrador hospitalar graduado e que<br />

possui uma visão dinâmica e futurista (GUIMARÃES, 2005).<br />

De acordo com a CSC Consulting, a gestão <strong>de</strong> estoques <strong>em</strong> organizações <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> "ten<strong>de</strong> a ser direcionada pelo quadro <strong>de</strong> médicos - que <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> os medicamentos<br />

e exig<strong>em</strong> a manutenção <strong>de</strong> elevados níveis <strong>de</strong> estoque - num ambiente <strong>de</strong> fluxo <strong>de</strong><br />

produtos <strong>de</strong>scontínuo e <strong>de</strong> fluxo <strong>de</strong> informações baseado <strong>em</strong> papel, on<strong>de</strong> a tecnologia e<br />

os sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> suporte à <strong>de</strong>cisão adotados são incipientes, as práticas comerciais são<br />

ineficientes e os custos <strong>de</strong> administração <strong>de</strong> contratos são elevados" (WANKE, 2004).<br />

A gestão <strong>de</strong> estoques <strong>em</strong> organizações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> v<strong>em</strong> passando, nos últimos anos,<br />

por profundas transformações, principalmente nos Estados Unidos da América, União<br />

Européia e Su<strong>de</strong>ste Asiático. Nessas regiões, o custo total associado à gestão <strong>de</strong><br />

estoques <strong>de</strong> medicamentos po<strong>de</strong> representar entre 35 e 50% do custo operacional total<br />

numa organização privada <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e po<strong>de</strong> consumir entre 16 e 28% do orçamento<br />

anual <strong>de</strong> um hospital com mais <strong>de</strong> 50 leitos (WANKE, 2004).<br />

Estudos realizados - GELOG-<strong>UFSC</strong> 2005 1


GRUPO DE ESTUDOS LOGÍSTICOS<br />

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA<br />

No Brasil, estes gastos, <strong>em</strong> relação aos custos totais do hospital, representam um<br />

valor <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 5% a 20% dos orçamentos dos hospitais (YUK; KNEIPP;<br />

MAEHLER, 2007). Sabe-se que a taxa básica <strong>de</strong> juros fixada pelo governo e os juros <strong>de</strong><br />

mercado são significativos, fazendo com que os custos <strong>de</strong> manutenção dos estoques<br />

sejam mais elevados <strong>em</strong> relação aos países <strong>de</strong>senvolvidos. Observa-se também que<br />

variáveis como a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> medicamentos armazenados e o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> permanência<br />

nos estoques estão entre as responsáveis diretas pelo aumento do custo dos produtos<br />

abrigados nas farmácias hospitalares (NOVAES; GONÇALVES; SIMONETTI, 2006).<br />

Uma pesquisa conduzida <strong>em</strong> 117 hospitais dos Estados da Geórgia, do Alabama<br />

e da Flórida (EUA) é esclarecedora sobre o estágio atual da gestão <strong>de</strong> estoques <strong>em</strong><br />

organizações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e seu potencial <strong>de</strong> evolução futura. A gestão <strong>de</strong> estoques é citada<br />

pela maioria dos gerentes, analistas ou supervisores <strong>de</strong> materiais <strong>de</strong>sses 117 hospitais<br />

pesquisados como a principal função ou tarefa <strong>de</strong> seu cargo. Esses gerentes também<br />

apontaram que a gestão <strong>de</strong> estoques é a função com maior carência <strong>de</strong> informatização<br />

no âmbito das organizações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Na maior parte das vezes, o controle e a tomada<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão são feitos s<strong>em</strong> o uso <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as computacionais específicos <strong>de</strong> suporte à<br />

<strong>de</strong>cisão (planilhas EXCEL ® , softwares <strong>de</strong> administração <strong>de</strong> materiais hospitalares, etc.)<br />

(WANKE, 2004).<br />

Diante <strong>de</strong>ssa realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gastos crescentes na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e dada à crise fiscal<br />

do Estado, países <strong>de</strong>senvolvidos começam a buscar alternativas que permitam um maior<br />

controle <strong>de</strong> custos (GUIMARÃES, 2005).<br />

1.2 <strong>Farmácia</strong> hospitalar<br />

A instituição hospitalar abriga a farmácia hospitalar, cujo objetivo é garantir o<br />

uso seguro e racional dos r<strong>em</strong>édios prescritos pelo profissional médico, além <strong>de</strong><br />

respon<strong>de</strong>r à <strong>de</strong>manda das necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> medicamentos dos pacientes hospitalizados.<br />

Para tanto, a farmácia hospitalar mantém sob sua guarda os estoques <strong>de</strong>sses produtos<br />

que são caracterizados por ciclos <strong>de</strong> <strong>de</strong>mandas e <strong>de</strong> ressuprimentos, com flutuações<br />

significativas e altos graus <strong>de</strong> incerteza, fatores críticos diante da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manter<br />

medicamentos <strong>em</strong> disponibilida<strong>de</strong> na mesma proporção da sua utilização (NOVAES;<br />

GONÇALVES; SIMONETTI, 2006).<br />

Dentro <strong>de</strong> um hospital, as questões referentes ao gerenciamento dos<br />

medicamentos e à forma como estes são distribuídos entre seus vários setores (postos <strong>de</strong><br />

enfermag<strong>em</strong>, centro <strong>de</strong> tratamento intensivo, centro cirúrgico) nos diz<strong>em</strong> muito <strong>em</strong><br />

relação à qualida<strong>de</strong> da prestação <strong>de</strong>ste serviço pela farmácia (FREITAS, 2004).<br />

Planejar e controlar custos são mecanismos que po<strong>de</strong>m garantir a sobrevivência<br />

das instituições hospitalares uma vez que, os tratamentos médicos onerosos,<br />

inviabilizam o exercício profissional da medicina. Neste contexto, surge a importância<br />

do gerenciamento dos estoques <strong>de</strong> medicamentos. Diferentes técnicas <strong>de</strong> administração<br />

da produção e da gestão dos estoques foram <strong>de</strong>senvolvidas a fim <strong>de</strong> solucionar os<br />

probl<strong>em</strong>as originados no ambiente <strong>de</strong> manufatura, mostrando eficiência na gerência <strong>de</strong><br />

operações <strong>de</strong> uma indústria. Estas técnicas po<strong>de</strong>m ser adaptadas às novas necessida<strong>de</strong>s<br />

presentes na gestão <strong>de</strong> serviços, tendo aplicação nas farmácias das instituições<br />

hospitalares, buscando a otimização do controle dos itens dos estoques (NOVAES;<br />

GONÇALVES; SIMONETTI, 2006).<br />

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2 A gestão dos estoques da farmácia hospitalar<br />

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A administração <strong>de</strong> materiais <strong>em</strong> qualquer <strong>em</strong>presa é uma área especializada<br />

cuja finalida<strong>de</strong> é fazer chegar o material certo para a necessida<strong>de</strong> certa no exato<br />

momento <strong>em</strong> que ela for necessária. Para fazer com isto ocorra, torna-se fundamental<br />

gerar informações a<strong>de</strong>quadas. Para a obtenção <strong>de</strong>stas informações é importante<br />

planejar, controlar e organizar as necessida<strong>de</strong>s, pois <strong>em</strong> geral os materiais <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ficar<br />

disponíveis <strong>em</strong> níveis a<strong>de</strong>quados, evitar faltas e excessos que comprometam o capital <strong>de</strong><br />

giro e ainda resultar <strong>em</strong> medicamentos com prazos <strong>de</strong> valida<strong>de</strong> vencidos. Nos casos <strong>de</strong><br />

<strong>em</strong>presas voltadas para a área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> o cuidado <strong>de</strong>verá ser ainda maior, uma vez que a<br />

falta po<strong>de</strong>rá colocar <strong>em</strong> risco vidas humanas (FOGAÇA, 2006).<br />

O gerenciamento <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> itens <strong>em</strong> processos <strong>de</strong> produção<br />

distintos obriga as instituições a trabalhar<strong>em</strong> com estoques (PAULUS JÚNIOR, 2005).<br />

Segundo Bowersox e Closs (2001) estoque é a acumulação estocada <strong>de</strong> recursos<br />

transformados <strong>de</strong> uma operação. Os gerentes <strong>de</strong> produção usualmente têm uma atitu<strong>de</strong><br />

ambivalente <strong>em</strong> relação a estoques. Por um lado, eles são custosos e representam riscos,<br />

mas por outro lado, proporcionam certo nível <strong>de</strong> segurança <strong>em</strong> ambientes complexos e<br />

incertos.<br />

A seguir, serão discutidos as técnicas mais utilizadas pelas farmácias<br />

hospitalares no gerenciamento <strong>de</strong> estoques e o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> compras <strong>de</strong> <strong>em</strong>ergência.<br />

2.1 O planejamento e controle dos custos <strong>de</strong> estoque<br />

Segundo Wanke (2004), o primeiro passo a ser observado no planejamento e<br />

controle dos custos relacionados à gestão <strong>de</strong> estoques é sua i<strong>de</strong>ntificação e<br />

quantificação. O custo total associado à gestão <strong>de</strong> estoques <strong>em</strong> organizações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> é<br />

o resultado da soma <strong>de</strong> diversos componentes como, por ex<strong>em</strong>plo, os (as):<br />

• gastos com a compra (a quantia que é efetivamente <strong>de</strong>s<strong>em</strong>bolsada na aquisição<br />

do medicamento);<br />

• gastos com o ressuprimento (frete e colocação do pedido via telefone, fax ou<br />

internet);<br />

• custos <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> do capital (valor do dinheiro no t<strong>em</strong>po, aplicado ao custo<br />

unitário <strong>de</strong> aquisição do medicamento);<br />

• custos <strong>de</strong> armazenag<strong>em</strong> (ou seja, o almoxarifado como centro <strong>de</strong> custos);<br />

• custos da falta do medicamento (vidas <strong>em</strong> risco, ações na justiça e<br />

in<strong>de</strong>nizações);<br />

• perdas por perecibilida<strong>de</strong> (prazo <strong>de</strong> valida<strong>de</strong>).<br />

O segundo passo é i<strong>de</strong>ntificar quais técnicas estão sendo prioritariamente<br />

adotadas, quais as circunstâncias <strong>de</strong> sua utilização, qual a sua a<strong>de</strong>rência aos serviços <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong>, quais os seus <strong>de</strong>safios e limitações e quais as reais oportunida<strong>de</strong>s para melhoria<br />

futuras, tomando por base a distância entre o estágio atual e as melhores práticas<br />

(benchmarks), não apenas do setor <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, mas da indústria como um todo (WANKE,<br />

2004).<br />

Na Tabela 1 é apresentado o grau <strong>de</strong> adoção, <strong>em</strong> termos percentuais, <strong>de</strong><br />

diferentes técnicas <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> estoques. Ponto <strong>de</strong> Pedido (PP), Classificação ABC e<br />

Lote Econômico <strong>de</strong> Compras (LEC) são as principais técnicas <strong>em</strong>pregadas <strong>em</strong> hospitais<br />

norte-americanos, com adoção, respectivamente, <strong>em</strong> 92,9%; 61,9% e 54,8% dos casos<br />

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pesquisados. As aplicações <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> programação <strong>de</strong> planejamento <strong>de</strong> materiais,<br />

como o MRP (Materials Requir<strong>em</strong>ents Planning), e <strong>de</strong> estoque zero, como o<br />

ressuprimento JIT (Just in Time), são adotadas por pouco menos <strong>de</strong> um terço dos casos<br />

pesquisados (WANKE, 2004).<br />

Tabela 1 - Técnicas <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> estoques mais adotadas <strong>em</strong> hospitais norte-americanos.<br />

Fonte: (WANKE, 2004).<br />

Consi<strong>de</strong>rando a natureza complexa dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, estes resultados<br />

apontam que não apenas diferentes técnicas <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> estoques po<strong>de</strong>m ser aplicadas<br />

simultaneamente neste setor (segmentação por tipo <strong>de</strong> medicamento ou it<strong>em</strong>), mas<br />

também que existe uma enorme oportunida<strong>de</strong> para a adoção <strong>de</strong> técnicas mais<br />

sofisticadas, seja na programação <strong>de</strong> compras, seja no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novas<br />

relações comerciais com a indústria farmacêutica <strong>de</strong> modo geral (laboratórios e<br />

distribuidores) (WANKE, 2004).<br />

2.2 Técnicas <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> estoques mais adotadas<br />

Exist<strong>em</strong> várias formas <strong>de</strong> controlar a quantida<strong>de</strong> <strong>em</strong> inventário <strong>de</strong> modo a<br />

aten<strong>de</strong>r os requisitos <strong>de</strong> nível <strong>de</strong> serviço e ao mesmo t<strong>em</strong>po minimizar o custo <strong>de</strong><br />

manutenção do estoque (BALLOU, 1993). As técnicas aqui discutidas são aquelas mais<br />

adotadas <strong>em</strong> hospitais conforme a Tabela 1.<br />

2.2.1 Classificação ABC<br />

Os estoques das farmácias hospitalares abrigam uma gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

produtos, dificultando o planejamento <strong>de</strong> seu ressuprimento. Como cada grupo <strong>de</strong><br />

medicamentos t<strong>em</strong> <strong>de</strong>terminadas peculiarida<strong>de</strong>s gerenciais (como giro, preço, consumo,<br />

prazos <strong>de</strong> entrega) e suas <strong>de</strong>mandas incorporam alta aleatorieda<strong>de</strong>, é interessante que o<br />

gestor dos estoques separe os produtos <strong>em</strong> grupos que possuam características<br />

gerenciais s<strong>em</strong>elhantes e faça a padronização dos medicamentos. A padronização <strong>de</strong><br />

medicamentos é uma das soluções mais viáveis, pois procura <strong>de</strong>finir o quê se <strong>de</strong>ve<br />

manter <strong>em</strong> estoques (NOVAES; GONÇALVES; SIMONETTI, 2006).<br />

Esta separação e padronização possibilitam ao administrador dos estoques<br />

individualizar a atenção para cada grupo <strong>de</strong> medicamentos, pois um tipo <strong>de</strong> controle<br />

eficaz para um produto po<strong>de</strong> não o ser para outro (NOVAES; GONÇALVES;<br />

SIMONETTI, 2006) sendo que estas po<strong>de</strong>m ser feitas segundo a importância econômica<br />

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(classificação ABC); e classificação segundo o grau <strong>de</strong> importância (sist<strong>em</strong>a XYZ)<br />

(GUIMARÃES, 2005).<br />

Contudo, <strong>de</strong>ve-se l<strong>em</strong>brar que preferências por um <strong>de</strong>terminado medicamento ou<br />

grupo <strong>de</strong> produtos, por parte dos médicos, e as pressões exercidas pela indústria<br />

farmacêutica sobre os responsáveis pelas aquisições <strong>de</strong> r<strong>em</strong>édios, são as maiores<br />

barreiras encontradas para a padronização <strong>de</strong> medicamentos <strong>em</strong> hospitais, ocasiões <strong>em</strong><br />

que, n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre, são respeitados os princípios éticos vigentes (NOVAES;<br />

GONÇALVES; SIMONETTI, 2006).<br />

Diferentes técnicas gerenciais facilitam o processo <strong>de</strong> padronização. Um <strong>de</strong>sses<br />

métodos seria a classificação ABC ou Curva <strong>de</strong> Pareto que é um procedimento criado<br />

pelo economista Vilfredo Pareto que visa separar os produtos <strong>em</strong> grupos com<br />

características s<strong>em</strong>elhantes, <strong>em</strong> função <strong>de</strong> seus valores e consumos, a fim <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r a<br />

um processo <strong>de</strong> gestão apropriado a cada grupo (PAULUS JÚNIOR, 2005; NOVAES;<br />

GONÇALVES; SIMONETTI, 2006).<br />

Segundo este procedimento, os materiais <strong>de</strong> consumo po<strong>de</strong>m ser divididos <strong>em</strong><br />

três classes:<br />

Classe A: abriga o grupo <strong>de</strong> itens mais importantes que correspon<strong>de</strong>m a um<br />

pequeno número <strong>de</strong> medicamentos, cerca <strong>de</strong> 20% dos itens, que representa cerca <strong>de</strong><br />

80% do valor total do estoque.<br />

Classe B: representa um grupo <strong>de</strong> itens <strong>em</strong> situação e valores intermediários<br />

entre as classes A e C.<br />

Classe C: agrupa cerca <strong>de</strong> 70% dos itens, cuja importância <strong>em</strong> valor é pequena,<br />

representando cerca <strong>de</strong> 20% do valor do estoque (NOVAES; GONÇALVES;<br />

SIMONETTI, 2006).<br />

Cabe ressaltar que o estabelecimento da divisão <strong>em</strong> três classes (A, B, C) é uma<br />

questão <strong>de</strong> conveniência. É possível estabelecer tantas classes quanto necessárias para<br />

os controles que se <strong>de</strong>seja alcançar (NOVAES; GONÇALVES; SIMONETTI, 2006).<br />

Na Figura 1, t<strong>em</strong>-se a Curva ABC.<br />

Figura 1 – Curva ABC.<br />

Outra análise possível, seguindo o mesmo princípio, mas agora tendo como<br />

parâmetro a importância do it<strong>em</strong> é a classificação XYZ on<strong>de</strong>: X = materiais que<br />

possu<strong>em</strong> similares, ex<strong>em</strong>plo: antibióticos; Y = t<strong>em</strong> similar, mas sua falta interfere na<br />

qualida<strong>de</strong> dos serviços, ex<strong>em</strong>plo: fio <strong>de</strong> sutura 3.0 e 6.0 e Z = não t<strong>em</strong> similar e sua falta<br />

será crítica, ex<strong>em</strong>plo: luva cirúrgica (PAULUS JÚNIOR, 2005).<br />

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2.2.2 Ponto <strong>de</strong> pedido (PP)<br />

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Conhecido também como método do estoque mínimo, objetiva manter<br />

investimento ótimo <strong>em</strong> estoques. A Figura 2 apresenta o gráfico <strong>de</strong>nte <strong>de</strong> serra que<br />

mostra a quantida<strong>de</strong> estocada do it<strong>em</strong> no t<strong>em</strong>po, com consumos e ressuprimentos. Note<br />

que, quando o nível <strong>de</strong> estoque cai a um valor conhecido como ponto <strong>de</strong> pedido, um<br />

pedido <strong>de</strong> ressuprimento é expedido para o fornecedor. A quantida<strong>de</strong> solicitada é<br />

conhecida como lote econômico <strong>de</strong> reposição e é incorporada ao estoque após a<br />

colocação do pedido e <strong>de</strong> sua chegada, transcorrido o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> ressuprimento<br />

(BALLOU, 1993). A fórmula para calcular o ponto <strong>de</strong> pedido é:<br />

PP = Dm x Ta + Es<br />

On<strong>de</strong>: PP= Ponto <strong>de</strong> pedido <strong>em</strong> unida<strong>de</strong>s; Dm= D<strong>em</strong>anda média diária; Ta= T<strong>em</strong>po <strong>de</strong> ressuprimento;<br />

Es= Estoque <strong>de</strong> segurança <strong>em</strong> unida<strong>de</strong>s.<br />

Figura 2 – Gráfico <strong>de</strong>nte <strong>de</strong> serra.<br />

Fonte: (SILVA; HEDLER; ANDRADE, 2005).<br />

Em que: t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> ressuprimento (Ta); estoque <strong>de</strong> segurança (Es); com o lote <strong>de</strong> reposição (Q); estoque<br />

máximo (Emáx); estoque médio (Em); intervalo <strong>de</strong> ressuprimento (IP); <strong>de</strong>manda(D).<br />

2.2.3 Lote econômico <strong>de</strong> compras (LEC)<br />

A abordag<strong>em</strong> mais comum para <strong>de</strong>cidir quanto <strong>de</strong> um particular it<strong>em</strong> pedir,<br />

quando o estoque precisa <strong>de</strong> reabastecimento é chamada <strong>de</strong> abordag<strong>em</strong> do lote<br />

econômico compras. Essencialmente, essa abordag<strong>em</strong> tenta encontrar o menor<br />

equilíbrio entre as vantagens e <strong>de</strong>svantagens <strong>de</strong> manter estoque (BOWERSOX; CLOSS,<br />

2001).<br />

Os lotes econômicos permit<strong>em</strong> o balanceamento entre os custos <strong>de</strong> manutenção<br />

<strong>de</strong> estoques, o pedido e <strong>de</strong> faltas, associados a um nível <strong>de</strong> serviço a<strong>de</strong>quado. O objetivo<br />

é encontrar um plano <strong>de</strong> suprimento que minimize o custo total, porém estes custos têm<br />

comportamentos conflitantes, conforme mostra a Figura 3, pois os custos <strong>de</strong><br />

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manutenção dos estoques aumentam à medida que são estocados lotes maiores, mas isso<br />

resulta <strong>em</strong> menor número <strong>de</strong> pedidos e, portanto, <strong>em</strong> menores custos <strong>de</strong> aquisição e<br />

faltas. Por isso, é feito o somatório dos custos, que t<strong>em</strong> forma <strong>de</strong> U, visando o equilíbrio<br />

entre os mesmos (SILVA; HEDLER; ANDRADE, 2005).<br />

A fórmula para calcular o lote econômico compras é:<br />

On<strong>de</strong>: D= <strong>de</strong>manda anual (unida<strong>de</strong>s); A= custo <strong>de</strong> aquisição por pedido; E= custo <strong>de</strong> manutenção anual<br />

do it<strong>em</strong> (%); C= custo do it<strong>em</strong>.<br />

2.3 Tendências <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> estoques<br />

Figura 3 – Gráfico do lote econômico <strong>de</strong> compras.<br />

Fonte: (SILVA; HEDLER; ANDRADE, 2005).<br />

2.3.1 MRP (Materials Requir<strong>em</strong>ents Planning)<br />

Recent<strong>em</strong>ente o North Carolina Baptist Hospital (NCBH) <strong>de</strong>cidiu substituir a<br />

sist<strong>em</strong>ática <strong>de</strong> Ponto <strong>de</strong> Pedido pelo MRP (Planejamento das Necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

Materiais) para os medicamentos <strong>de</strong> consumo intermitente ou irregular. São comuns os<br />

sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> estoque calcular<strong>em</strong> os pontos <strong>de</strong> pedido com base no consumo<br />

médio passado, o que po<strong>de</strong> causar gran<strong>de</strong>s distorções se o consumo variar muito<br />

(WANKE, 2004).<br />

O MRP é um software com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> calcular as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> materiais.<br />

Permite o cumprimento <strong>de</strong> prazos <strong>de</strong> entrega <strong>de</strong> pedidos com o mínimo possível <strong>de</strong><br />

estoques. T<strong>em</strong> também como função programar com <strong>de</strong>talhes a produção, a compra <strong>de</strong><br />

insumos nas quantida<strong>de</strong>s corretas e o momento certo (FOGAÇA, 2006).<br />

É sabido que o consumo <strong>de</strong> medicamentos num hospital varia <strong>em</strong> função do tipo<br />

e da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> procedimentos, dos meses do ano, do nível <strong>de</strong> acuida<strong>de</strong>, etc. O<br />

NCBH converteu esses el<strong>em</strong>entos na <strong>de</strong>manda in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do sist<strong>em</strong>a MRP. A lógica<br />

do Ponto <strong>de</strong> Pedido Baseado no t<strong>em</strong>po (Time Phased Or<strong>de</strong>r Point - TPOP) permite que<br />

o instante <strong>de</strong> colocação do pedido não seja resultado da reação à <strong>de</strong>manda real, mas sim<br />

da antecipação aos eventos futuros que muitas vezes são conhecidos, como a<br />

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programação <strong>de</strong> cirurgias e outros procedimentos marcados com antecedência<br />

(WANKE, 2004).<br />

Pela lógica TPOP, o momento do ressuprimento <strong>de</strong> um it<strong>em</strong> é baseado na<br />

projeção do seu nível <strong>de</strong> estoque para as próximas s<strong>em</strong>anas. O ressuprimento <strong>de</strong>ve<br />

ocorrer quando a quantida<strong>de</strong> disponível <strong>em</strong> estoque cai abaixo do nível <strong>de</strong> estoque <strong>de</strong><br />

segurança do it<strong>em</strong>. O sist<strong>em</strong>a programa a liberação do pedido para trás com base no<br />

t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> resposta do fornecedor, sendo gerada uma or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> compra. A quantida<strong>de</strong><br />

comprada <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>terminada por regras específicas para a <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> tamanho<br />

<strong>de</strong> lote - como o LEC - que po<strong>de</strong>m ser facilmente incorporadas no sist<strong>em</strong>a. Através <strong>de</strong><br />

impl<strong>em</strong>entação <strong>em</strong> planilha MS-Excel do MRP e da lógica TPOP, o NCBH conseguiu<br />

reduzir os níveis <strong>de</strong> estoque <strong>em</strong> 27% (WANKE, 2004).<br />

Quando um it<strong>em</strong> t<strong>em</strong> uma <strong>de</strong>manda reconhecidamente não constante, os mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong><br />

Ponto <strong>de</strong> Reposição po<strong>de</strong>m ser usados com a revisão dos pontos <strong>de</strong> reposição <strong>em</strong> cada<br />

período. Já o método TPOP utiliza as previsões <strong>de</strong> <strong>de</strong>manda do it<strong>em</strong> para gestão <strong>de</strong> seu<br />

estoque (DIAS; CORRÊA, 1998). O TPOP permite:<br />

• a utilização da informação <strong>de</strong> previsão <strong>de</strong> <strong>de</strong>manda do it<strong>em</strong>;<br />

• a visibilida<strong>de</strong> futura <strong>de</strong> compras ou produção;<br />

• lidar com sazonalida<strong>de</strong>, tendência e variações bruscas na <strong>de</strong>manda.<br />

Entretanto, a utilização <strong>de</strong>sse método exige mais recursos computacionais e os<br />

registros dificilmente po<strong>de</strong>riam ser mantidos manualmente, ao contrário dos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong><br />

Lote Econômico e <strong>de</strong> Reposição (DIAS; CORRÊA, 1998).<br />

2.3.2 Ressuprimento JIT (Just in Time)<br />

O Just-In-Time surgido na Toyota Motor Company no Japão, é consi<strong>de</strong>rada uma<br />

filosofia que se baseia <strong>em</strong> produzir apenas as quantida<strong>de</strong>s necessárias no t<strong>em</strong>po<br />

necessário (FOGAÇA, 2006; SANTOS; MAÇADA, 1996).<br />

No setor <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, o ressuprimento JIT recebe popularmente a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong><br />

Stockless Materials Manag<strong>em</strong>ent (SMM), ou gerência <strong>de</strong> materiais s<strong>em</strong> estoque, na<br />

tradução literal do termo. A prática SMM <strong>em</strong>ergiu no setor <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> norte-americano<br />

nos anos 70, tornando-se extr<strong>em</strong>amente popular nos anos 90 (WANKE, 2004).<br />

Segundo a <strong>em</strong>presa <strong>de</strong> consultoria Arthur An<strong>de</strong>rsen, a <strong>de</strong>finição operacional<br />

mais precisa para a prática SMM é: um programa <strong>de</strong>senvolvido entre o hospital e o<br />

fornecedor, no qual o fornecedor assume a função <strong>de</strong> distribuição central do hospital, ou<br />

seja, as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> compras, separação e <strong>em</strong>balag<strong>em</strong>. Para tanto, o fornecedor entrega<br />

diariamente na área <strong>de</strong> recebimento do hospital os medicamentos necessários, préalocados<br />

<strong>em</strong> caixas específicas por cada unida<strong>de</strong>. Algumas pesquisas revelam que<br />

organizações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que <strong>de</strong>senvolveram esses tipos <strong>de</strong> programa progressivamente<br />

foram atribuindo menos importância a critérios como listas <strong>de</strong> preços, <strong>de</strong>scontos por<br />

quantida<strong>de</strong>, leilões reversos e maior importância à marca do fornecedor, aos contratos<br />

<strong>de</strong> longo prazo, à confiabilida<strong>de</strong> do produto, e ao t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> resposta dos fornecedores<br />

<strong>em</strong> situações rotineiras e <strong>em</strong>ergenciais (WANKE, 2004).<br />

Para a adoção <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> programa é necessário o estabelecimento <strong>de</strong> um<br />

fluxo <strong>de</strong> informação contínuo entre os pontos <strong>de</strong> consumo no hospital (almoxarifados,<br />

unida<strong>de</strong>s ou pacientes) e o fornecedor, <strong>de</strong> modo a gerar visibilida<strong>de</strong> do consumo do<br />

medicamento. Através <strong>de</strong>ssa visibilida<strong>de</strong> é possível sincronizar o ressuprimento do<br />

fornecedor com o consumo do medicamento (WANKE, 2004).<br />

Estudos realizados - GELOG-<strong>UFSC</strong> 2005 8


GRUPO DE ESTUDOS LOGÍSTICOS<br />

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA<br />

Na Tabela 2 são apresentadas as principais diferenças entre o ressuprimento<br />

convencional e a prática SMM. As vantagens da prática SMM estão relacionadas à<br />

redução <strong>de</strong> estoques, à racionalização das tarefas do staff <strong>de</strong> apoio e às melhorias nos<br />

níveis <strong>de</strong> serviço. Esses benefícios, entretanto, não foram obtidos <strong>de</strong> graça. Como<br />

contrapartida para participar <strong>de</strong>sses programas, os distribuidores <strong>de</strong> medicamentos<br />

ten<strong>de</strong>m a aumentar os preços entre 3 e 7%. Estudos mais recentes indicam que,<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do tipo <strong>de</strong> medicamento, o aumento <strong>de</strong> preços po<strong>de</strong> exce<strong>de</strong>r o patamar <strong>de</strong><br />

15% (WANKE, 2004).<br />

Tabela 2 - Diferenças entre o ressuprimento convencional e a prática stockless materials<br />

manag<strong>em</strong>ent (SMM)<br />

Fonte: (WANKE, 2004).<br />

A redução <strong>de</strong> estoques é <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> uma maior freqüência <strong>de</strong> entregas, po<strong>de</strong>ndo<br />

levar <strong>em</strong> alguns casos à eliminação dos almoxarifados centrais. Em adição à tabela 2,<br />

<strong>de</strong>ve ser comentado o caso <strong>de</strong> dois hospitais no Reino Unido que, após a impl<strong>em</strong>entação<br />

da prática SMM, experimentaram redução nos níveis <strong>de</strong> estoque <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 70%. Numa<br />

escala equivalente, um hospital norte-americano com 427 leitos reduziu seus estoques<br />

<strong>em</strong> quase 80% ao longo <strong>de</strong> cinco anos, através <strong>de</strong> um plano gradual <strong>de</strong> impl<strong>em</strong>entação<br />

da prática SMM (WANKE, 2004).<br />

Deve ser comentado que, a partir <strong>de</strong> meados da década <strong>de</strong> 90, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

esten<strong>de</strong>r a prática SMM para todos os tipos <strong>de</strong> hospitais e medicamentos começou a ser<br />

fort<strong>em</strong>ente questionada. Alguns distribuidores questionam a prática SMM, já que o<br />

enfoque é unicamente a redução do custo <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manter estoques e não a<br />

redução dos custos totais relacionados à gestão <strong>de</strong> estoques. De acordo com alguns<br />

distribuidores, aumentos nos níveis <strong>de</strong> estoque po<strong>de</strong>m resultar <strong>em</strong> menores custos totais.<br />

Os casos <strong>de</strong> insucesso na aplicação da prática SMM estão relacionados aos<br />

hospitais localizados <strong>em</strong> zonas rurais ou distantes mais <strong>de</strong> 450 km do fornecedor. Outro<br />

el<strong>em</strong>ento crítico é o envolvimento do fabricante <strong>de</strong> medicamentos, já que a prática<br />

SMM é limitada ao elo distribuidor-hospital. Uma limitação brasileira à adoção da<br />

prática SMM por hospitais públicos é a compra por licitação, que implica longos t<strong>em</strong>pos<br />

<strong>de</strong> resposta e gran<strong>de</strong> incerteza (WANKE, 2004).<br />

Um ex<strong>em</strong>plo da aplicação do Ressuprimento JIT <strong>em</strong> farmácias hospitalares é o<br />

Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Distribuição <strong>de</strong> Medicamentos por Dose Unitária (SDMDU) que contribui<br />

para a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> produto na administração da prescrição médica, através da<br />

padronização <strong>de</strong> medicamentos (SANTOS; MAÇADA, 1998).<br />

Estudos realizados - GELOG-<strong>UFSC</strong> 2005 9


GRUPO DE ESTUDOS LOGÍSTICOS<br />

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA<br />

O SDMDU v<strong>em</strong> sendo aplicado com êxito nos países da América do Norte e<br />

Europa e visa melhorar a administração <strong>de</strong> medicamentos aos pacientes, evitando erros<br />

e <strong>de</strong>sperdícios através da simplificação e maior controle do processo. Neste sist<strong>em</strong>a a<br />

dose do medicamento a ser administrada é preparada, <strong>em</strong>balada, i<strong>de</strong>ntificada e<br />

dispensada pronta para ser utilizada no paciente. Outra característica <strong>de</strong>sse sist<strong>em</strong>a é<br />

que na unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> ficam somente as quantida<strong>de</strong>s unitárias necessárias para<br />

24 horas <strong>de</strong> tratamento do paciente, sendo renovadas ao fim <strong>de</strong>ste período seguindo as<br />

orientações médicas. O SDMDU po<strong>de</strong> ser informatizado, tornando os dados inerentes<br />

ao processo disponíveis para ser<strong>em</strong> utilizados <strong>em</strong> um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> informação (SANTOS;<br />

MAÇADA, 1998).<br />

Portanto, os sist<strong>em</strong>as JIT po<strong>de</strong>m ser transportados para as instituições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e<br />

po<strong>de</strong>m integrar-se a sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> informação gerando dados para ser<strong>em</strong> compartilhados<br />

por outros processos ou organismos gerenciais (SANTOS; MAÇADA, 1998).<br />

2.4 Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> compras <strong>de</strong> <strong>em</strong>ergência<br />

Um aspecto importante da gestão <strong>de</strong> estoques <strong>em</strong> organizações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> é o<br />

consumo <strong>em</strong> situações <strong>de</strong> <strong>em</strong>ergência ou situações <strong>de</strong> choque <strong>de</strong> consumo (WANKE,<br />

2004).<br />

Quando ocorre a ruptura <strong>de</strong> estoque por aumento <strong>de</strong> consumo, falha na entrega<br />

ou mesmo equívocos <strong>de</strong> dimensionamento é comum cada supervisor <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> ten<strong>de</strong>r<br />

a criar seu próprio estoque <strong>de</strong> segurança, fora dos controles institucionais. Estes<br />

subestoques, pela falta <strong>de</strong> controle, n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre serão usados nas finalida<strong>de</strong>s da<br />

unida<strong>de</strong>. Por isso, a existência <strong>de</strong> um profissional <strong>de</strong> compras com a especial tarefa <strong>de</strong><br />

cuidar das rupturas <strong>de</strong> estoques e <strong>de</strong> outras compras <strong>de</strong> urgência po<strong>de</strong>rá eliminar parte<br />

dos subestoques po<strong>de</strong>ndo até influir para a redução dos estoques <strong>de</strong> segurança do<br />

sist<strong>em</strong>a oficial (PAULUS JÚNIOR, 2005).<br />

O gerente <strong>de</strong> materiais <strong>de</strong> um hospital <strong>de</strong>ve não apenas estabelecer políticas <strong>de</strong><br />

estoque para condições normais <strong>de</strong> operação, mas também assegurar a capacida<strong>de</strong> do<br />

mesmo <strong>em</strong> aten<strong>de</strong>r a <strong>de</strong>manda <strong>em</strong>ergencial. Diversos estudos mostram que algumas<br />

pr<strong>em</strong>issas relacionadas à gestão <strong>de</strong> estoque <strong>em</strong> situações <strong>em</strong>ergenciais po<strong>de</strong>m se<br />

mostrar equivocadas, sobretudo se o choque <strong>de</strong> consumo implicar aumento <strong>de</strong> mais <strong>de</strong><br />

300% do consumo médio <strong>em</strong> condições normais (WANKE, 2004). São três as<br />

principais armadilhas:<br />

• Supor que elevados níveis <strong>de</strong> estoque, dimensionados para condições normais <strong>de</strong><br />

operação, aumentam a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r o consumo <strong>em</strong> situações <strong>de</strong> choque;<br />

• Achar que reduções nos níveis <strong>de</strong> estoque do almoxarifado central aumentam<br />

necessariamente a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> falta no ponto <strong>de</strong> uso (paciente/unida<strong>de</strong>);<br />

• Consi<strong>de</strong>rar que aumentos na freqüência <strong>de</strong> revisão dos estoques no ponto <strong>de</strong> uso<br />

reduz<strong>em</strong> a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> faltas (WANKE, 2004).<br />

Quando essas pr<strong>em</strong>issas não val<strong>em</strong> <strong>em</strong> situações <strong>de</strong> choque <strong>de</strong> consumo, o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novas relações comerciais com fornecedores, como a prática SMM,<br />

parece ser mais efetivo do ponto <strong>de</strong> vista do custo total que o aumento dos níveis <strong>de</strong><br />

estoque e/ou sua pulverização pelos almoxarifados centrais e pelos pontos <strong>de</strong> uso.<br />

Estudos adicionais ainda serão necessários para refinar o conhecimento atual sobre<br />

como lidar com choques <strong>de</strong> consumo <strong>em</strong> organizações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (WANKE, 2004).<br />

Estudos realizados - GELOG-<strong>UFSC</strong> 2005 10


3 Conclusões<br />

GRUPO DE ESTUDOS LOGÍSTICOS<br />

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA<br />

De maneira geral, as farmácias hospitalares são obrigadas a trabalhar com<br />

estoques altos que abrigam uma gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produtos que dificultam o<br />

planejamento <strong>de</strong> seu ressuprimento. Por conseqüência, o custo total associado aos<br />

medicamentos ainda po<strong>de</strong> representar um valor significativo nos orçamentos dos<br />

hospitais. E aliado a isso, t<strong>em</strong>-se os seguintes probl<strong>em</strong>as: a maioria dos profissionais<br />

responsáveis por gerenciar estes estoques não possui qualificação a<strong>de</strong>quada e muitas<br />

vezes o controle e a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão são feitos s<strong>em</strong> o uso <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as computacionais<br />

específicos <strong>de</strong> suporte à <strong>de</strong>cisão.<br />

No entanto, a gestão <strong>de</strong> estoques <strong>em</strong> farmácias hospitalares v<strong>em</strong> passando, nos<br />

últimos anos, por profundas transformações. Sabe-se que, planejar e controlar custos são<br />

mecanismos que po<strong>de</strong>m garantir a sobrevivência das instituições hospitalares. Para isso,<br />

exist<strong>em</strong> diferentes técnicas <strong>de</strong> planejamento e controle <strong>de</strong> estoques que po<strong>de</strong>m ser<br />

adaptadas às novas necessida<strong>de</strong>s presentes na gestão <strong>de</strong> serviços, tendo aplicação nas<br />

farmácias das instituições hospitalares, buscando a otimização do controle dos itens dos<br />

estoques. E ainda, a informatização traz consigo o benefício <strong>de</strong> organizar e disciplinar o<br />

sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> materiais.<br />

4 Referências<br />

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Estudos realizados - GELOG-<strong>UFSC</strong> 2005 11


GRUPO DE ESTUDOS LOGÍSTICOS<br />

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Estudos realizados - GELOG-<strong>UFSC</strong> 2005 12

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