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A psicanálise entre o senso comum, a ideologia e a ciência

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aplicável em inúmeras situações, cujo efeito reassegura a confiabilidade de sua visão demundo. Se conseguirmos explicar as razões ocultas dos fenômenos, então podemosviver com um pouco mais de certezas e confiança. O interessante é o fato de esse ladooculto ser sempre explicado da mesma forma, nesse caso, feitiço.Um dos efeitos do saber de <strong>senso</strong> <strong>comum</strong>, portanto, é tornar o mundo maisprevisível e menos ameaçador. Há uma tentativa de controle sobre aquilo passível defalhar em nossas apreensões da realidade. Em nossa sociedade percebe-se issoclaramente com as diferentes formas de superstição existentes. Diversos tipos deproteção contra o mau olhado, uso de certas roupas quando o time preferido vai jogarou não passar por baixo da escada são exemplos disso. Dessa forma, seja nosprotegendo de antemão com saberes ou buscando explicar algo ocorrido, as ideias do<strong>senso</strong> <strong>comum</strong> se fazem presente também por nossa busca de controle da natureza.A psicanálise, bem como diversas áreas do conhecimento, afetou os conceitosdo <strong>senso</strong> <strong>comum</strong> ocidental. Porém, o homem <strong>comum</strong> não vê tais conceitos como partede uma teoria científica articulada, mas sim como o próprio bom <strong>senso</strong> (Geertz, 2006,p. 132). Questões edípicas, portanto, são <strong>comum</strong>ente consideradas como algo naturaldo ser humano, bem como as intenções inconscientes num sonho. Sonhou que sua mãeestava com você numa cama? Freud explica. Cometeu um lapso de linguagem? Freudexplica. Há uma explicação dada de antemão, de forma que o fenômeno não nossurpreende.Dentro da comunidade psicanalítica isso também ocorre, e muitas vezes <strong>comum</strong>a profundidade maior. Por exemplo, se um clínico fez algo excêntrico durante asessão, pode ser acusado de ter atuado com o paciente, de forma que provavelmenteestava sentindo uma forte contratransferência. Se o analista negar isso frente aosdemais, buscando explicar o fato de outro modo, de outra perspectiva, provavelmenteserá acusado de estar tendo resistências (uma vez que a explicação se confunde <strong>comum</strong>a realidade). Neste ponto começa-se a entrar num outro domínio abordado a seguir.Psicanálise como IdeologiaO segundo sentido que pode ser atribuído à afirmação “Freud explica” se referea uma questão ideológica. “Freud explica” é passível de ser entendido como “Só Freudexplica” e ninguém mais, ou então “Só a psicanálise explica” e nenhuma outra teoria.3

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