13.07.2015 Views

A psicanálise entre o senso comum, a ideologia e a ciência

A psicanálise entre o senso comum, a ideologia e a ciência

A psicanálise entre o senso comum, a ideologia e a ciência

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Nisso fica implícito que Jung não explica, Skinner não explica, Heidegger não explica,enfim, só Freud e a Psicanálise é que possuiriam os recursos necessários para dar contade se entender determinado fenômeno.Iremos aqui usar o pensamento de Geertz novamente, uma vez que lida com talassunto de maneira original. Em seu texto intitulado “A Ideologia como SistemaCultural” (2008) o autor chama a atenção para o fato de ser uma pequena ironia dahistória intelectual moderna o fato de o próprio termo “<strong>ideologia</strong>” ter se tornado elemesmo ideológico.Mas o que é <strong>ideologia</strong>? Existem várias definições possíveis para o termo. Osentido marxista talvez seja ainda um dos mais utilizados e se refere fundamentalmentea uma falsa consciência de classe. Exemplos disso são um capitalista afirmar o mercadocomo realmente competitivo ou os salários dos trabalhadores como sendo justos. Outroconceito de <strong>ideologia</strong>, o do dicionário Houaiss, se refere a “um conjunto de ideias,crenças e atitudes que representam entendimentos sobre o mundo social e político”.Vamos, no entanto, entender o termo seguindo o raciocínio de Geertz em seutexto. Num primeiro sentido trata-se de uma visão política normalmente dualista queopõe um “nós” aos “eles”, esses últimos encarados como uns perversos. Nessa visãofica subentendida a ideia de: quem não está com “nós” está contra nós. O exemploclássico aqui é o de fascismo, comunismo e capitalismo.Isso também pode ser pensado dentro do universo da psicanálise como, porexemplo, lacanianos e psicologia do ego, bionianos e kleinianos, Sociedade dePsicanálise e os que se encontram fora dela, etc. Sabemos da existência de questõespolíticas nesses embates, de forma a podermos aplicar o conceito de <strong>ideologia</strong> nessecontexto. A criação política de um “nós” e um “eles” aparece com frequência nahistória da psicanálise pós-Freud, começando talvez pela rixa <strong>entre</strong> Melanie Klein eAnna Freud.Geertz (2008) aponta para o fato de tal concepção dualista ser alienante, nosentido de quem a adota desconfiar, atacar e trabalhar para destruir instituições políticasestabelecidas. Esse processo fica claro com a tentativa de regulamentação da profissãode psicanalista, por exemplo, no sentido de algumas instituições buscarem serem asúnicas válidas para o ensino da prática (e isso consequentemente implicaria a destruiçãodas demais).4

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!