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1. Penso, logo existo - Desidério Murcho

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Sete Ideias Filosóficas (que toda a gente devia conhecer)Desidério <strong>Murcho</strong>7teria surgido a própria ciência. São as perguntas a que ainda não sabemos responder quenos fazem desenvolver a ciência; não é a ciência, depois de constituída, que detém omonopólio das perguntas legítimas.Além disso, o próprio princípio nega a atitude científica, aproximando-se ironicamentedo mesmo género de obscurantismo de que foram vítimas cientistas como Galileu. A atitudecientífica é seguir a nossa curiosidade até onde nos levar e tentar saber, e voltar a tentar,e voltar a tentar. A esta atitude opõe-se o caricatural mestre-escola, que só permiteque os seus alunos façam perguntas a que ele sabe previamente responder, sabendo eleresponder apenas às perguntas cuja resposta esteja no manual escolar que ele seria incapazde escrever. Esta atitude é um formidável obstáculo à descoberta precisamente porqueparece defender a atitude científica, quando na realidade é incompatível com ela.Outra maneira de neutralizar as perguntas filosóficas é apoucar a importância das respostase cantar cantos líricos às maravilhas da interrogação interminável e da perguntapermanente. A sugestão é que as respostas não têm qualquer interesse: o que verdadeiramenteconta é a pergunta.Esta não é uma posição particularmente lúcida. Apesar de podermos estar moderadamenteconvictos de que não seremos bem-sucedidos ao tentar algo, temos de ter pelomenos alguma esperança, por fraca que seja, de que seremos bem-sucedidos — caso contrário,seria uma tolice não desistir. Assim, quem tiver a convicção céptica de que as respostasfilosóficas são inalcançáveis, tem de aceitar também a possibilidade, ainda queremota, de que não são inalcançáveis, para que a sua procura faça sentido. Ninguém noseu perfeito juízo desata a saltar para tentar chegar à Lua se não tiver a mais leve esperançade que é possível chegar à Lua aos saltos, só porque saltar para chegar à Lua, parecendoque não, tem a sua graça.Além disso, que é possível dar resposta às perguntas filosóficas é algo que está provadohistoricamente, pois abundam as respostas dadas por filósofos, ao longo da história dahumanidade. E se cremos que nenhuma dessas respostas tem valor, ou que são meramentesubjectivas, só porque não sabemos quais delas são verdadeiras, se é que algumas o são,teremos de mostrar tal coisa, ao invés de nos limitarmos a pressupô-lo. E a ironia é que aotentar mostrá-lo já estaremos a filosofar.O génio malignoMuito bem; aceitemos então que não é insensata a pergunta filosófica muito geral “Seráque sabemos realmente o que cremos saber?”. Mas o que está em causa?Quatro anos apenas depois da publicação do Discurso, Descartes publicou — em latim,desta vez — uma obra filosófica mais pormenorizada, cujo título completo é Meditações

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