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Tratamento de Sementes - IAC

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1<strong>Tratamento</strong> <strong>de</strong> <strong>Sementes</strong>João José Dias ParisiPriscila Fratin MedinaInstituto Agronômico - <strong>IAC</strong>, Centro <strong>de</strong> Pesquisa e Desenvolvimento <strong>de</strong> Fitossanida<strong>de</strong>. Av. Barão <strong>de</strong> Itapura, 1481,13020-902, Campinas, SP; e-mail: jparisi@iac.sp.gov.br e pfmedina@iac.sp.gov.br.INTRODUÇÃOÉ sabido que 90 % das culturas <strong>de</strong>stinadas à produção <strong>de</strong> alimentos nomundo estão sujeitas ao ataque <strong>de</strong> doenças, cuja maioria dos agentes causais po<strong>de</strong>ser transmitida pelas sementes. A semente é o vetor mais eficiente <strong>de</strong> disseminação<strong>de</strong> patógenos <strong>de</strong>vido às suas características intrínsecas, uma vez que o patógenoveiculado por ela tem maior chance <strong>de</strong> provocar doença na planta oriunda <strong>de</strong>la e seespalhar para outras plantas sadias, iniciando assim uma epi<strong>de</strong>mia. A eficiência dasemente como vetor in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da distância, sendo que os patógenos po<strong>de</strong>mpermanecer viáveis por períodos <strong>de</strong> tempo mais longos, mantendo suapatogenicida<strong>de</strong> inalterada.O uso <strong>de</strong> sementes certificadas com boa qualida<strong>de</strong> física, fisiológica esanitária é uma das medidas mais eficientes <strong>de</strong> controle das doenças disseminadaspor sementes. Para tanto, é necessário que o produtor confira a qualida<strong>de</strong> dassementes antes da semeadura, através das análises <strong>de</strong> pureza, germinação e


2sanida<strong>de</strong> realizadas em Laboratórios cre<strong>de</strong>nciados pelo Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento (MAPA).Quando não se dispõe <strong>de</strong> sementes <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong> em quantida<strong>de</strong>suficiente ou se <strong>de</strong>seja introduzir materiais <strong>de</strong> procedências duvidosas, ou aindapara reduzir o potencial <strong>de</strong> inóculo primário, recomenda-se o tratamento dassementes.O tratamento, eliminando os patógenos das sementes, ou protegendo-ascontra ação <strong>de</strong> patógenos do ambiente (solo ou armazenamento), tem gran<strong>de</strong>importância no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> plantas vigorosas e sadias.<strong>Tratamento</strong> <strong>de</strong> sementes é, provavelmente, a medida mais antiga, barata e,às vezes, a mais segura e a que propicia os melhores êxitos no controle dasdoenças <strong>de</strong> plantas disseminadas pelas sementes.O mais antigo relato sobre tratamento <strong>de</strong> sementes encontrado é <strong>de</strong> 60 anos<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Cristo, quando Plínio o Antigo (militar, historiador, funcionário imperial ecientista romano) recomendava a imersão <strong>de</strong> sementes <strong>de</strong> trigo em vinho ou suco<strong>de</strong> folhas <strong>de</strong> cipreste da família das coníferas, rico em tanino, para controlar o“Míldio”. Outro relato refere-se a um fato ocorrido em meados <strong>de</strong> 1670, quandosementes <strong>de</strong> trigo, recolhidas <strong>de</strong> um barco oriundo da Austrália e que naufragou nocanal <strong>de</strong> Bristol, próximo à Inglaterra, foram recolhidas por agricultores e, porestarem salgadas (impróprias para alimentação), plantaram-nas e, como resultado,


3as culturas <strong>de</strong>las originadas apresentaram-se livres do “carvão” (Tilletia foetida) emcomparação com aquelas das sementes normais, <strong>de</strong>vido à ação fungicida da águasalgada. Posteriormente em 1761, a mistura sal e cal foi usada para esta finalida<strong>de</strong>.Em 1807 foi <strong>de</strong>senvolvido o sulfato <strong>de</strong> cobre. Em 1889, <strong>de</strong>scobriu-se a eficiência datermoterapia no tratamento <strong>de</strong> sementes.Em 1917, foi introduzido o primeiro mercurial orgânico líquido. Em 1934surgiu o fungicida do grupo do ditiocarbamatos (thiram) e posteriormente, oheterocíclicos (captan). A partir <strong>de</strong> 1960 houve gran<strong>de</strong> avanço no tratamento químico<strong>de</strong> sementes, com o surgimento <strong>de</strong> diversos fungicidas dos grupos dosbenzimidazóis (carberdazim, thiabendazol, tiofanato metílico), triazóis (triadimenol,tolyfluanid, fludioxonil).O <strong>Tratamento</strong> <strong>de</strong> sementes, no sentido amplo, é a aplicação <strong>de</strong> processos esubstâncias que preservem ou aperfeiçoem o <strong>de</strong>sempenho das sementes,permitindo a expressão máxima do potencial genético das culturas. Inclui aaplicação <strong>de</strong> <strong>de</strong>fensivos (fungicidas, inseticidas e nematecidas), produtos biológicos(Tricho<strong>de</strong>rma), inoculantes (bactérias do gênero Rhizóbium fixadoras <strong>de</strong> nitrogênio),estimulantes (hormônios), micronutrientes (Cu, Zn), etc. ou a submissão atratamentos físicos (termoterapia). No sentido mais restrito, refere-se à aplicação <strong>de</strong>produtos químicos eficientes contra fitopatógenos.O tratamento químico <strong>de</strong> sementes além <strong>de</strong> ser econômico e <strong>de</strong> fácilexecução, é também consi<strong>de</strong>rado seguro ao homem e ao ambiente. Devido à


4pequena quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produtos adicionados às sementes e estes estarem emcontato direto com o sítio alvo, é um método pouco prejudicial ao ambiente, quandocomparado aos sistemas convencionais <strong>de</strong> tratamento <strong>de</strong> doenças, via aérea.Muitos autores consi<strong>de</strong>ram o tratamento químico <strong>de</strong> sementes como uma dasmedidas mais eficientes no controle <strong>de</strong> micro-organismos transportados e/outransmitidos pelas mesmas, porque além <strong>de</strong> eliminar ou reduzir o inóculo dopatógeno na semente, po<strong>de</strong> impedir a entrada <strong>de</strong> patógenos em áreas isentas,propiciar emergência uniforme <strong>de</strong> plantas, proteger as sementes e plântulas contramicro-organismos presentes no solo, além <strong>de</strong> evitar a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ressemeadura, com consequente economia <strong>de</strong> sementes. Esta prática representaapenas 0,5 a 1,0% do custo <strong>de</strong> produção das culturas. Cerca <strong>de</strong> 90% das sementes<strong>de</strong> soja brasileira são tratadas com fungicidas e 80% com Inseticidas. Em milhohíbrido, 100% das sementes são tratadas com fungicidas e 85% com inseticidas.O mercado <strong>de</strong> fungicidas para tratamento <strong>de</strong> sementes mais que duplicou nosúltimos 10 anos. Em 2011 foi <strong>de</strong> US$ 85 milhões (4,0% do mercado <strong>de</strong> fungicidas);sendo 59 % para soja, seguida pelo milho (13%), trigo, aveia, centeio e cevada(13%), algodão (4%), feijão (2%) e arroz (2%).O valor da comercialização <strong>de</strong> inseticidas para tratamento <strong>de</strong> sementes em2011 foi <strong>de</strong> US$ 512 milhões (18 % do mercado <strong>de</strong> inseticidas), ou seja, superior ao<strong>de</strong> fungicidas; nesse caso, 63 % do valor gasto com inseticidas para o tratamento <strong>de</strong>sementes foi direcionado à cultura da soja, 23% a do milho, 3% a do trigo, aveia,


5centeio e cevada, 4%, a do algodão 2% a do feijão e 2% a do arroz.Esse crescente aumento <strong>de</strong> <strong>de</strong>manda no Brasil proporcionou a evoluçãotecnológica das indústrias <strong>de</strong> máquinas e equipamentos utilizados no tratamento dassementes, bem como o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong> alta qualida<strong>de</strong>, aqualificação <strong>de</strong> pessoas e o aperfeiçoamento <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> segurança, como ouso <strong>de</strong> equipamento <strong>de</strong> proteção individual (EPI).O tratamento <strong>de</strong> sementes, principalmente <strong>de</strong> milho híbrido e <strong>de</strong> hortaliças, érealizado por empresas produtoras <strong>de</strong> sementes, que as comercializam já tratadas.No caso <strong>de</strong> sementes <strong>de</strong> soja, atualmente o tratamento convencional é realizadopelo agricultor antes da semeadura através <strong>de</strong> máquinas pequenas. Outrapossibilida<strong>de</strong> é o TSI (tratamento <strong>de</strong> semente industrial). Dentre as vantagens dotratamento industrial da semente vale <strong>de</strong>stacar a qualida<strong>de</strong> superior <strong>de</strong>vido àprecisão da dose, cobertura e a<strong>de</strong>rência dos produtos aplicados, além da questãoda saú<strong>de</strong> dos operadores e da segurança na aplicação, que é muito maiscontrolada. Outra vantagem é a possibilida<strong>de</strong> da aplicação <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong>recobrimento (film coating) a base <strong>de</strong> polímeros sintéticos que protegem assementes e melhoram o <strong>de</strong>sempenho no campo. Entre as <strong>de</strong>svantagens vale<strong>de</strong>stacar o maior custo, pois o agricultor po<strong>de</strong>rá adquirir sementes com todos ostratamentos, ou seja, fungicidas, inseticidas e nematicidas para serem utilizadas emáreas sem necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> patógenos e/ou pragas, o que po<strong>de</strong>rá causarcontaminação do solo e do meio ambiente. É necessário um bom gerenciamento


6para assegurar a quantida<strong>de</strong> correta <strong>de</strong> sementes a serem tratadas, pois caso nãosejam utilizadas, essas não po<strong>de</strong>rão ser aproveitadas como grão.Primeiramente é necessário conhecer a qualida<strong>de</strong> sanitária das sementes, ouseja, i<strong>de</strong>ntificar os patógenos e as pragas presentes para posterior escolha <strong>de</strong>tratamentos fungicidas, inseticidas e nematicidas mais a<strong>de</strong>quados e <strong>de</strong>vidamenteregistrados no MAPA. No caso dos fungicidas há diferenças quanto à abrangência<strong>de</strong> ação ou especificida<strong>de</strong>. Assim, a ação combinada <strong>de</strong> fungicidas sistêmicos comprotetores tem sido estratégia das mais eficazes no controle <strong>de</strong> fungos presentesnas sementes e/ou no solo.REFERÊNCIASHENNING, A.A. <strong>Tratamento</strong> industrial <strong>de</strong> sementes mais prático e eficiente.Revista campo & negócio, ano x, n. 115, 2012.MACHADO, J.C. <strong>Tratamento</strong> <strong>de</strong> sementes no controle <strong>de</strong> doenças. Lavras,LAPS/FAEPE, 138 p., 2000.MENTEN, J.O.M. et al. Evolução dos produtos fitossanitários para tratamento <strong>de</strong>sementes no Brasil. In: ZAMBOLIM, L., ed. <strong>Sementes</strong>: qualida<strong>de</strong> fitossanitária.Viçosa, UFV, p. 333-374, 2005.MENTEN, J.O.; MORAES, M.H.D. Avanços no <strong>Tratamento</strong> e recobrimento <strong>de</strong>


7sementes. <strong>Tratamento</strong> <strong>de</strong> sementes: Históricos, Tipos, Características e Benefício.Informativo Abrates, v.20, n3, 2010.NEERGAARD, P. Seed Pathology. London: MacMillan Press, v.1, 839p.,1979.PARISI, J.J.D.; MENTEN, J.O.M.; MARTINS, M.C. Sensibilida<strong>de</strong> in vitro e in vivo<strong>de</strong> Phomopsis sojae e Phomopsis phaseoli f. sp. meridionalis. FitopatologiaBrasileira, v.24, n.1, p.25-30, 1999.PARISI, J.J.D.; SANTOS, A. F.; MENTEN, J.O. <strong>Tratamento</strong>s <strong>de</strong> sementes florestais.In: SANTOS, A.F.; PARISI, J.J.D.; MENTEN, J.O. Patologia <strong>de</strong> sementesflorestais, Colombo: Embrapa Florestas, cap. 4. 236p., 2011.SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA DE PRODUTOS PARA DEFESAAGRÍCOLA. SINDAG. Dados básicos. São Paulo: SINDAG, 2012.SOAVE, J.; MORAES, S.A. Medidas <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> doenças transmitidas porsementes. In: SOAVE, J.; WHETZEL, M.M.V.S. Patologia <strong>de</strong> sementes. Campinas:Fundação Cargil, cap.8. 480p.,1987.TAYLOR, A.G.; HARMAN, G.E. Concepts and technologies of selected seedtreatments. Annual Review of Phytopathology, v.28, p. 321-339, 1990.

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