Figura 5 - Visualização em rede metabólicaEsta figura aparece em Villas-Bôas et al. (2005c) e ilustra as diferenças nos níveis dos metabólitos do metabolismo central ebiosíntese de aminoácidos da levedura Saccharomyces cerevisiae, comparando uma linhagem mutante com o tipo selvagemcorrespondente. Os nomes dos metabólitos estão abreviados. Os que aparecem dentro de um círculo negro tiveram seus níveisaumentados no mutante em comparação ao tipo selvagem. Os em cinza tiveram seus nívels diminuídos. Os que não aparecemdentro de um círculo não foram detectados. Os números indicam o número de passos na via metabólica. Interessantemente, nesseestudo particular, a maioria dos metabólitos com seus níveis aumentados no mutante envolvem uma reação de transaminaçãoentre o glutamato e o 2-oxoglutarato (como indicado na figura). Reproduzido com permissão de Villas-Bôas et al. (2005).Biochemical Journal 388: 669 – 677. Ó Biochemical Society.tecido em resposta a alteraçõesambientais ou genéticas. A avaliaçãodos níveis de metabólitos é um complementofundamental na determinaçãoda função gênica em célulasou tecidos. Porém, o metabolomatem se destacado principalmente nacaracterização fenotípica de mutaçõessilenciosas. Mutações silenciosassão modificações genéticas quenão resultam em nenhuma alteraçãoóbvia de morfologia, rendimento, velocidadede crescimento, ou de qualqueroutro parâmetro observável,em relação ao fenótipo de linhagensparentais sob uma dada condiçãofisiológica (Thorneycroft et al. 2001).Esse fenômeno é ainda mais surpreendentequando se altera genes conhecidospor desempenhar um papelfundamental no funcionamentocelular. Acredita-se que o organismoalterado tem a capacidade de contornaros efeitos deletérios do genemutado através da ativação de genessilenciosos ou através da redundânciana família do gene mutato(Weckwerth et al. 2004). A formamais comum de redundância gênicaé a frequente expressão de enzimascom diversas isoformas e que estãoenvolvidas em várias vias metabólicas(Weckwerth et al. 2004). Namaioria das vezes, as isoformas dasenzimas não podem ser diferenciadascom base na sua atividadeenzimática. É nesse ponto que ametabolômica entra como ferramentafundamental na caracterização funcionalde genes redundantes e/ougenes silenciosos que são ativadossomente quando outros são deletadosou mutados. Como os metabólitosestão inseridos dentro de uma redemetabólica muito rígida, qualquer pequenaalteração no nível de um únicometabólito irá refletir na alteraçãodos níveis de diversos outrosmetabólitos, como uma reação emcadeia que resultará numa amplificaçãoda alteração genética ocorrida. Oconhecimento das redes metabólicasé essencial na interpretação dosdados metabolômicos, que quando<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento ano IX - nº 36 - janeiro/junho 2006 65
Figura 6: Visualização baseada no modelo de chip de DNA-arrayEsta figura aparece em Villas-Bôas et al. (2005c) e representa um modelo de chip deDNA-arrays, onde os nomes dos metabólitos (abreviados na figura) tomam o lugardos nomes dos genes e cada coluna representa duas variáveis que estão sendocomparadas (wt = tipo selvagem; mt = mutante; aer = cultivo aeróbico, ana = cultivoanaeróbico). As cores indicam se o nível daquele metabólito aumentou ou diminuiuna situação que está sendo comparada e a espessura do círculo em vermelho indicao nível de confiança estatística. Reproduzido com permissão de Villas-Bôas et al.(2005). Biochemical Journal 388: 669 – 677. Ó Biochemical Society.acoplados aos dados das outras“ômicas” (principalmente aproteômica) constitui uma excelenteferramenta na determinação dafunção gênica e ainda permite adescoberta de novas vias metabólicas,como exemplificado em Villas-Bôas et al. (2005e).b) Melhoramento de linhagenspor Engenharia Metabólica(EM)A EM é hoje uma área consagradadentro da <strong>Biotecnologia</strong>. Apesarde já ter sido praticada anteriormente,foi somente em 1991 que o termoapareceu oficialmente (Bailey,1991). Algumas definições de EMexistem na literatura, mas esta atividadepode ser definida de uma formabastante simples: a EM é o melhoramentodirigido das propriedadesde um organismo através daaplicação da tecnologia do DNArecombinante.A EM é uma área de trabalhoclaramente multidisciplinar, envolvendodiversas áreas do conhecimentoe diferentes atividades, asquais podem ser apresentadas naforma de um ciclo, conforme ilustradona Figura 7. Partindo-se de umdeterminado organismo / linhagem,as atividades têm início na etapa deanálise, na qual deve ser levantada amaior quantidade de informaçãopossível sobre o metabolismo doorganismo em estudo. Com estasinformações, na etapa seguinte, serápossível identificar os melhores alvospara modificações genéticas (asquais serão introduzidas na etapa desíntese), com o objetivo de melhoraras propriedades ou, em outras palavras,o fenótipo deste organismo.Nota-se, portanto, que as atividadesdentro do ciclo da EM dependemestritamente dos objetivos do trabalho,ou seja, das características quese deseja modificar no organismoem estudo, dada uma aplicaçãotecnológica específica.A informação a ser obtida naetapa de análise do ciclo de EM éobtida fazendo-se uso de um conjuntode ferramentas analíticas e matemáticas,as quais são em grande partecomuns àquelas empregadas emestudos de Genômica Funcional. Trata-sedas análises do genoma, dotranscriptoma, do proteoma e dometaboloma, entre outras, dando-sehoje preferência às ferramentas dealto processamento, ou highthroughput, como referido em inglês.Análises enzimáticasselecionadas e Análise de Redes Metabólicas(ARM) (Christensen &Nielsen, 2000), que têm como objetivoidentificar a rede metabólicaativa do organismo em estudo, assimcomo quantificar as velocidades dasreações do metabolismo (tambémdenominados fluxos metabólicos),complementam o espectro analítico-matemáticoda etapa de análise.É importante ressaltar que osobjetivos da EM raramente são atingidosapós somente um ciclo deatividades (Figura 7). Ainda que seobtenha uma linhagem melhoradaapós o primeiro ciclo, não há porquenão continuar as atividades, de formaa se obter linhagens com característicasainda melhores. Portanto, tãoimportante quanto a primeira etapade análise, a qual se refere ao organismoinicialmente escolhido para osestudos, são as etapas de análise dosciclos posteriores, ou seja, após uma,duas, ou mais etapas de modificaçõesgenéticas. Assim, o uso dasferramentas analítico-matemáticasindicadas acima, para analisar as linhagensgeradas após cada etapa demodificações genéticas, é fundamentalnão somente para verificar se asmesmas resultaram nas alteraçõesfenotípicas esperadas, mas tambémpara permitir o projeto de novasmodificações, que possam melhorarainda mais o metabolismo do organismoem questão.