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AQUELE QUE DIZ SIM, DE BERTOLT BRECHT: UM BREVE RELATO

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personagem, existe por que assume para si a ação e através dela se projeta, transportando ao longo de toda ahistória as variações que essas ações promovem, permitindo que ela exista.2.1 As peças didáticasAo longo de sua vida Brecht desenvolveu uma dramaturgia própria que ressaltava suas idéias e serviade base para seu teatro. Uma extensa produção desde poemas, peças, musicadas, as chamadas peças épicasde espetáculo, as peças didáticas, fazem parte da obra de Bertolt Brecht. Escritas no período de 1930 a 1956,as peças didáticas se apresentam como uma possível ferramenta de modificação do teatro de mera diversãopara um teatro de aprendizagem proposto por Brecht, tendo, portanto, como principal função a de ensinar.BORNHEIM fala claramente do principal objetivo das peças didáticas: “Evidentemente as peças didáticas deBrecht são pedagogias, elas pretendem ensinar certos conteúdos” (BORNHEIM, 1992: 182).As peças didáticas são apresentadas até então como um teatro que está a serviço de um propósitopedagógico; no entanto, se partimos para a idéia geral de ensino veremos que o próprio teatro, como formaartística, está a serviço de um determinado aprendizado porque estabelece uma comunicação, seja direta ouindiretamente, com o público. Ingrid KOU<strong>DE</strong>LA, em seu livro “Brecht, um jogo de aprendizagem” fala darelação das peças didáticas com o ensino: “À medida que o termo didático na acepção tradicional, implica‘doar’ conteúdos através de uma relação autoritária entre aquele que ‘detém’ o conhecimento e aquele que é‘ignorante’. A peça didática de Brecht propõe o exercício de uma ‘didática não depositária’, pelo qual oaluno aprende por si próprio e verifica até onde caminhou com o conteúdo, em lugar de se ver confrontadode inicio com uma determinação do objetivo da aprendizagem” (KOU<strong>DE</strong>LA, 1991: 99-100). A teoria daspeças didáticas está ligada diretamente a uma idéia de ensino e aprendizagem. O teatro chamado burguês, ouseja, aquele com o qual os espectadores são submetidos a uma boa dose de fantasia e são embarcados emuma ou mais horas de diversão sem que se estabeleça aí uma possível mudança no processo de assimilaçãodas problemáticas da sociedade, não compactua, de uma forma direta, com objetivos principais propostospelas peças didáticas. Brecht intervém propondo certa racionalidade na cena, capaz de indicar comopoderíamos não anular qualquer relação de atuação entre o teatro já feito, mas como estabelecer uma novacena a partir do que já existe. Brecht observa que um dos meios de se pensar a transformação desse modelode atuação estaria ligado ao próprio espaço físico do teatro.“Toda a questão se concentra, portanto, na possibilidade de furar essa fortaleza que é o aparelho. O teatrodidático, por exemplo, seria um possível caminho para realizar tal proeza” (BORNHEIM, 1992: 191). Paraser mais claro o que Brecht propõe de forma direta é que esse espaço não separe espectadores e encenadores.Para Steinweg a regra básica para as peças didáticas seria “uma atuação sem espectadores”, o que poderiadessa forma garantir um a realização de um ato artístico coletivo. Pontua ainda a esse respeito a autoraFrancimara TEIXEIRA: “essa participação do espectador no jogo, destitui-lhe, na verdade, do caráter deespectador e da passividade normalmente a ele atribuída, porque também a relação palco-platéia desaparece.O espaço é o do jogo e dele devem participar jogadores” (TEIXEIRA, 2003:51). Portanto, as peçasdidáticas não só determinam um ponto importante na dramaturgia de Brecht como possibilitam releituras noprocesso de entendimento do teatro e da cena que esse teatro propõe.2.2 “Aquele que diz sim”Brecht escreveu a peça didática “Aquele que diz sim” a partir de uma fábula japonesa do teatro Nô,chamada “Taniko”. A peça descreve a seguinte história: uma epidemia ataca uma cidade e um grupo deestudantes acompanhados de seu professor decide ir á procura dos grandes médicos que moram além dasmontanhas, a fim de trazerem a cura. No caminho um garoto que havia acompanhado o grupo adoece. Ogrupo então faz valer o costume que diz que aquele que não consegue continuar a viagem deve ser deixadopara trás. O garoto pede que não seja deixado ali e solicita ao grupo que o joguem no penhasco. Ele é entãoarremessado penhasco abaixo depois de concordar com o costume. Na versão de “Aquele Que Diz Não”,contra-peça ou resposta à primeira, dois pontos são diferentes: primeiro o motivo da expedição não está embuscar remédios, mas a viagem tem como objetivo a busca pelo conhecimento junto aos grandes mestres;

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