segundo, a atitude do garoto em dizer não e determinar que o grupo retorne a cidade. Para a realização dessapeça didática Brecht sugere que seja feita uma divisão de espaço determinando onde as personagens devemficar; ele os chama de plano 1 e plano 2.Duas palavras se fazem presente nesse texto e delas podemos fazer uma análise mais detalhada sobre oque é como são abordadas: “sim” e “acordo”. São elas que norteiam a peça e designam posturas a respeitodas personagens. A questão toda está em primeiro entender como diante de determinada circunstâncias,podemos dizer um sim sem estar plenamente de acordo. “Nenhuma moral pode decidir entre dois valorespositivos” (BORNHEIM, 1992; 187). O garoto não poderia dizer que está de acordo com o costume, nemdizer que não está de acordo com o costume; o que implica dizer que nessa versão o sentido não está emescolher, mas em por a prova o próprio costume e com isso a moral. A peça nos leva a uma problemática quediz respeito justamente à própria conservação do costume e que esse costume vem atrelado à moral. Como epor que essa relação de valores sociais pode ser discutida partindo da idéia de que a própria moral nesse casoestá fadada a falhar, porque não é suscetível à reflexão sobre sua própria conduta enquanto modo de procedernas relações do homem com o próprio homem. “Aquele que diz sim” traz como ponto de leitura o discursoenquanto elemento principal e apresenta a personagem de forma diluída, ou seja, é no discurso da moralproposto pela peça que a personagem se apresenta.3. MATERIAIS E MÉTODOSPara que as questões referentes à personagem nas peças didáticas pesquisadas fossem tratadas de formamais clara, a pesquisa se propôs a caminhar em dois momentos distintos que possibilitassem ampliar ocampo de visão, tanto no que se refere às questões de ordem teórica, estudando a dramaturgia através de seuspesquisadores e comentadores, como de ordem prática, nesse caso especificamente, a partir da peça didática“Aquele que diz sim”, experimentado com um grupo de atores exercícios que ajudassem a revelar apersonagem. Para o primeiro momento a pesquisa de detinha em entrar em contato com a dramaturgia eestudiosos que se detiveram sobre o estudo da obra de Bertolt Brecht; catalogando as personagens, bemcomo as primeiras impressões. Adiante a segunda parte se deteve em experimentar uma das peças didáticascolocando em prática as reflexões já encontradas ao longo das análises feitas. A segunda parte de dividiu emtrês momentos:1. Escolha e planejamento dos exercícios a serem realizados com o grupo;2. Execução dos exercícios com o grupo;3. Registro e análise das impressões dos atores e do pesquisador.4. <strong>RELATO</strong> DA PRÁTICA COM O TEATRO MÁQUINAO grupo TEATRO MAQUINA atua na cidade de Fortaleza desde de 2003, desenvolvendo processoscriativos em grupo. O grupo tem como linha de investigação o teatro épico de Bertolt Brecht, tentandopensar a cena a partir do conceito de estranhamento, jogo e repetição.Na tentativa de fomentar uma análise mais apurada sobre a personagem nas peças didáticas, foi realizado,um encontro prático com os membros do grupo a partir do texto didático “Aquele Que Diz Sim”. O encontroprático foi de 4 horas realizado em um único momento.A) Momento de preparação: exercícios de alongamento e aquecimentos físico;B) Momento de sensibilização: exercícios de aproximação e familiarização com o texto;
C) Momento de cena: preparação de uma cena curta do texto em grupo (a ser escolhida pelo grupo);Foi realizada uma seqüência de quatro exercícios teatrais práticos com o grupo a partir do texto didático“Aquele que diz sim” na tentativa de averiguar a personagem na cena. No primeiro exercício, denominado,“samurai” que consistia, em dupla, traçar uma linha na diagonal e no ponto de encontro travar umaseqüência de luta, com bastões, se atendo apenas para o comando de realizar os movimentos de luta. Desseexercício o que se percebeu foi que os atores envolvidos determinaram uma postura que revelava a figurafísica do samurai, mudando posturas de pés, mãos e quadril. Parecia que criavam uma personagem a partirapenas da informação pré-estabelecida pelo nome: samurai. Na repetição do exercício essa mesma figuracomeçou a ser diluída nos movimentos dos atores deixando entender que o que estava presente não era osamurai, mas uma representação da sua figura.Para esclarecer melhor essa relação entre como representar as personagens, primeiro numa idéia voltadapara a dramaturgia e em seguida para a cena prática, partimos para o segundo exercício que consistia emescolher determinadas frases e estabelecer trocas da última palavra. As trocas poderiam ser por um sinônimo,um antônimo e um sentido oposto ao que a frase revelava. Os atores entraram em um processo decompreensão do texto onde o que se percebia era que as frases escolhidas e em seguida repetidas de formaredirecionadas, se baseavam pelo discurso da obra como um todo, ou seja, as personagens contidas nasorações se tornavam discurso e não figuras concretas. Na proposta de revelar as personagens sob um olharmais dramatúrgico o que se verificava, dentro desse exercício, era que ela não poderia existir se não fossevista como uma ferramenta a favor de propagar um discurso maior e não a favor de revelar um possíveldrama pessoal.Era preciso entender o que a personagem representava enquanto idéia para se processar um esboço maisconcreto. Um dos atores diz: “eu preciso estudar a palavra, entende-la para que a troca seja coerente não coma personagem, mas com o sentido” (ator 2). Quando um dos atores diz a seguinte frase: “Agora continuem,não parem, porque vocês decidiram continuar” ( <strong>BRECHT</strong>, 1986: 223), o que estava apresentando não era apersonagem do “ professor” mas o discurso ao qual a figura do professor representava. E ao fazer isso o atortornava consciente que a personagem existia por meio do discurso e não o discurso existia por meio dapersonagem.Tornava-se mais delicado entender a personagem por meio de um processo onde a dramaturgia estavasendo o foco, por isso passou para a personagem de forma um pouco mais prática, onde foi pedido para queapresentassem uma das personagens trabalhadas nas frases por meio de uma ação. E em seguida criar maisduas outras ações que antecedesse e continuasse a primeira. Formando dessa forma uma seqüência deapresentação dessas personagens. Numa primeira observação o que parecia era que não a personagem dotexto apresentada por meio de ações não estava presente. Isso porque o foco estava nas ações e não napersonagem. Os atores apresentavam as figuras de um modo geral, ou seja, o professor, o menino, não aspersonagens do texto. A ação elaborada pelos atores estava a favor de uma ilustração de figuras e não daspersonagens que existiam no texto. Para que essas ações pudessem apresentar a personagem era preciso seatentar a um detalhe: o discurso. De que elas falavam e porque elas falavam. Passamos para a repetiçãodessas ações na tentativa de compreender melhor essa questão, e chegamos à idéia de que ao realizar asações se atentando apenas para a figura das personagens o que se tinha era apenas uma ilustração de umadeterminada figura geral de um professor ou menino e não necessariamente essa mesma figura poderia ser apersonagem do texto trabalhado. Não se podia negar a importância do discurso com a qual as personagensestavam atreladas no texto. A tentativa dos atores de separar a personagem do discurso, mesmo queinconscientemente, revelou que o entendimento de sua existência ou não na obra se dá pelo caminho dodiscurso, mesmo que se atentando para a cena. Para que ela, na peça didática “Aquele que diz sim” exista épreciso que se entenda primeiro o discurso e depois a personagem.Para esclarecer ainda mais esse ponto passamos agora para a montagem de uma das cenas escolhidaspelos atores. Era preciso investigar ainda mais profundamente como esses atores poderiam atuar com essas